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quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Crônicas da Autobiografia: Sobre a Guitarra Gibson Firebird, Johnny Winter e o Eterno Loki - Por Luiz Domingues

Luiz Domingues & José Luiz Dinola em ação com A Chave do Sol, no início de 1983, no Victória Pub de São Paulo. Foto: Seiji Ogawa
Aconteceu no tempo d'A Chave do Sol, entre fevereiro e abril de 1983

Sem dúvida alguma, a temporada que A Chave do Sol fez na badalada casa de espetáculos, “Victoria Pub”, entre fevereiro e abril de 1983, marcou o primeiro ponto de ascensão na trajetória da nossa banda, ao ter sido o pico dessa primeira fase de onde saímos da inércia absoluta, em setembro de 1982, quando do nosso primeiro show. 

E no texto da minha autobiografia, eu relato com detalhes como tudo ocorreu para a nossa banda nesse instante, a contar alguns casos pitorescos ali ocorridos, mas muitas histórias ficaram de fora do livro, primeiro por uma questão de espaço, a visar não alongar mais do que já ficou expresso no decorrer do texto final e segundo, também para eu poder contar agora tais ocorrências, separadamente.

E ali no Victória Pub, dada a badalação que acontecia a cada noite, por múltiplos fatores, foi comum a presença de pessoas proeminentes do mundo artístico em geral, de atores famosos do mundo do Teatro, Cinema & TV a personalidades do mundo esportivo, dos playboys da dita “High Society” a jornalistas, empresários & empreendedores culturais dos mais diversos ramos e pasmem, até políticos, que enxergavam ali a oportunidade para expandirem os seus conchavos com empresários e a jovem burguesia paulistana.
Era essa a formação do Tutti Frutti que atuava como atração fixa do Victória Pub em 1983, e com a qual interagimos muitas vezes

Em uma dessas tantas noitadas em que ali vivemos, a nossa missão nessa noite fora abrir o show do "Tutti Frutti" (revezámos toda noite, a abrirmos o Tutti-Frutti ou o "Fickle Pickle"), e mesmo ao nunca termos sido a atração principal, para efeito de espetáculo, tocávamos em igualdade de condições, com o mesmo equipamento e sem diferenciação na potência sonora e uso da iluminação, uma prática comum no mundo do show business, portanto, independente do óbvio maior status e currículo do velho Tutti-Frutti, quando tocávamos, a pista estava sempre cheia de gente a dançar e o som e iluminação foram de primeira qualidade.
Nessa noite em específico, a que refiro-me, tivemos uma surpresa especial, quando vimos uma pessoa famosa, mas muito mais próxima da nossa relação afetiva Rocker, do que os atores de novelas e jogadores de futebol, que ali costumavam surgirem.

Ainda a convalescer do grave acidente que sofrera em 1981, eis que apareceu à nossa frente, a figura de Arnaldo Baptista, instalado em uma cadeira de rodas e amparado por pessoas de seu apoio pessoal. 

A sua aparência denotara claramente que ainda estava a se recuperar e inspirava cuidados, mas por outro lado, como foi prazeroso para nós, tocarmos e verificarmos a sua alegria por estar diante de uma banda de Rock a tocar ao vivo ali e a cada música que encerrávamos, a sua demonstração de carinho a aplaudir e sorrir para nós, foi um bálsamo para todos os envolvidos nessa comoção que a sua presença gerou, mesmo porque nem todo mundo (é claro), mas os Rockers ali presentes ligaram-se nessa situação e vibraram por verem o Arnaldo em processo de franca recuperação.

Ainda naquela noite, eu fui testemunha de um momento bonito nos bastidores, quando o grande Luiz Carlini fez questão de mostrar a sua recém adquirida nova guitarra, uma bela Gibson, modelo “Firebird” e ao exibi-la para o Arnaldo, nunca esqueço-me dele a afirmar com ênfase

: - "Olha Arnaldo, a minha nova guitarra, igualzinha à do Johnny Winter”... 

E ainda mais esfuziante, Arnaldo abriu um sorriso largo, como costumava dizer o Guilherme Arantes e com a guitarra em seu colo, ele fez ali a sua reinserção afetiva ao mundo do Rock, um fato que todos ao seu redor torciam muito para ocorrer, desde a notícia de seu acidente, dois anos antes. 

Foi um momento maravilhoso ocorrido ali em uma daquelas câmaras labirínticas do Victória Pub, ao dar-nos a certeza de que o grande "Loki" do Rock brasileiro estava a voltar.
E não deu outra, durante o show do Tutti Frutti, Carlini tocou: “Bonie Morony”, a evocar o som e a aura do genial albino texano, Johnny Winter, ao jogar fagulhas de fogo ao público, através dos solos a bordo de uma Gibson Firebird!

E convenhamos, para a alegria dos Rockers ali presentes, incluso nós d'A Chave do Sol e Arnaldo Baptista.

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