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terça-feira, 1 de setembro de 2015

A Chave/The Key - Capítulo 4 - Reconhecimento, Consideração & Respeito - Por Luiz Domingues

Eu já estava em outra sintonia há meses, por envolver-me em vários projetos musicais novos e simultâneos, principalmente a partir do segundo semestre de 1990 (tudo contado com detalhes nos capítulos dos "Trabalhos Avulsos"), quando no início de outubro de 1990, recebi um telefonema do Beto Cruz. Ele queria comunicar-me que finalmente o Chicão, da loja/selo Devils Discos, sinalizara que o disco, "A New Revolution", do "The Key", havia chegado da fábrica, e que ele começaria a trabalhar em sua divulgação, distribuição e que a banda poderia empreender os seus esforços de divulgação e produzir shows de lançamento.

 -"Ótimo, que bom, muito grato por avisar-me, parabéns e guarde minhas cópias de recordação, que eu pego assim que possível"... respondi-lhe. 

No entanto ele teve algo a pedir-me além desse comunicado. Segundo contou-me, quando soube que o disco ficaria pronto para a venda ao consumidor, tratou de marcar dois shows em uma casa noturna chamada: "Woodstock"(localizada na Rua da Consolação, perto da Avenida Paulista), para serem então os shows oficiais de lançamento e que a nova banda que havia montado, estava preparada mediante ensaios prévios, mas em cima da hora, o baixista que entrara em meu lugar, um rapaz chamado: Hermes (este houvera sido baixista de uma banda de Heavy-Metal oitentista chamada, "Sabotagem", e que havia aberto shows d'A Chave do Sol no Teatro Lira Paulistana, no ano de 1985), havia abandonado a banda, seduzido por um convite de última hora que sinalizara um cachê melhor para receber em um outro compromisso no mesmo dia. 

Ora, com tudo marcado, mesmo ao saber que eu já estava em outra sintonia há meses e que não gostava daquela sonoridade, o fato foi que o Beto não teve como pensar em recorrer a um outro baixista com o pouquíssimo tempo de antecedência que tinha para cumprir tais datas. 

Ele nem precisou pedir duas vezes, pela questão da amizade e total consideração ao fato de que ele fora o responsável por ter mantido a chama acesa, desde a dissolução abrupta e sofrida da nossa, A Chave do Sol. Portanto, claro que comprometi-me a colaborar. Apesar de ter me esquecido daquele material, bastou uma audição para eu retomar tudo e não seria por falta de um baixista que a sua nova e renovada banda deixaria de apresentar-se dignamente, a realizar o lançamento do disco. 

Então, foi uma das situações mais bizarras da minha carreira, pois eu fui tocar como convidado de uma banda da qual eu não pertencia, mas que houvera sido membro de sua, digamos, "encarnação anterior" e que reformulara-se inteiramente e até um novo nome possuía e que por sua vez, em sua origem mais remota, fora uma banda montada emergencialmente para suprir as necessidades inadiáveis de uma banda recém dissolvida, chamada, A Chave do Sol... em suma: foi algo para dar um nó na cabeça de qualquer um.

Bem, a nova formação dessa "The Key", na verdade rebatizada pela terceira vez, como: "A Chhave" (assim mesmo, com dois "H"s), consistia de Beto Cruz, como único remanescente original d'A Chave/The Key de 1988. Pedro Loureiro (que pouco tempo mais tarde ficaria conhecido no mundo do Heavy-Metal, como "Kiko" Loureiro, guitarrista do "Angra" e hoje em dia, membro da banda norte-americana, "Megadeth"), Gustavo Winkelmann, baterista (ex-aluno e roadie de Ivan Busic) e Marcelo Castilha, aos teclados.

Eu já tinha compromisso no Rio de Janeiro para tais datas, mas o Beto ofereceu-me um arranjo no qual não perdi o meu apontamento, ao viajar pela ponte-aérea após o segundo show, quando normalmente faria o trajeto a usar ônibus.

Rara foto desse show, de outubro de 1990, de autoria desconhecida, mas que uma amiga minha da época, Índia Dias, que era amiga da namorada do Edu Ardanuy, disponibilizou-me, via Facebook

Bem, eu toquei com a banda nos dias 5 e 6 de outubro de 1990 (com público respectivo de setenta e cento e cinquenta pessoas, presentes), para ajudar o meu amigo Beto e seus novos colegas e certamente a confundir a cabeça de muitos fãs ali presentes com minha inesperada presença naquele palco. Foi bastante estranho estar ali a atuar naquelas circunstâncias, por tudo o que já expus, naturalmente.

O jovem e então desconhecido, guitarrista, Pedro "Kiko" Loureiro", outro menino prodígio que o Beto descobriu e projetou para o Rock brasileiro, mais detidamente pertencente ao mundo do Heavy-Metal 

Mas também foi prazeroso poder ajudar o Beto e seus novos companheiros, sem dúvida alguma. Sobre essa turma, eu não tenho grandes lembranças por ter sido um convívio tão curto. Eu só conhecia muito superficialmente o baterista, Gustavo, por vê-lo em algumas ocasiões a acompanhar o Ivan Busic, com quem estudara e trabalhara, mas nunca havíamos conversado. Pareceu-me na hora que ele detinha uma boa técnica e poderia crescer como músico. 

Sobre o tecladista, Marcelo Castilha, no pouco tempo em que conversamos, ele disse-me que aquele som não era de sua predileção, e que a sua formação era mais jazzistica, em princípio.

E a respeito do Pedro "Kiko" Loureiro, este pareceu-me muito determinado do que aspirava na vida e por ser ainda mais jovem que o Eduardo Ardanuy, quando este entrou naquela "A Chave/The Key", de 1988, demonstrava também uma técnica impressionante e totalmente calcada em guitarristas virtuoses da seara de Yngwie Malmsteen, Steve Vai e congêneres. 

Na sua performance, ele demonstrou uma postura de palco frenética, a assemelhar-se ao Eddie Van Halen, por correr e pular o tempo todo, ao demonstrar condição atlética, diferente do Edu que era bem comedido nesse aspecto, por tocar parado, focado no instrumento. 

Bem, para os propósitos da banda e no intuito de dar continuidade àquele trabalho, que foi o projeto do Beto, creio que mais uma vez ele descobrira um garoto prodígio para suprir tal necessidade, sob um alto grau de excelência técnica. 

Outro fato, o Beto havia mudado o seu nome artístico pessoal, aliás já saíra grafado assim no LP "A New Revolution", cuja capa eu só fui conhecer ali nos bastidores da casa de shows, "Woodstock". 

Naquele instante, ele assinava como Roberto Malltauro, ao suprimir o Cruz, sobrenome do pai. Malltauro, segundo contou-me, era sobrenome da avó materna e a troca de nome atendera a orientação de uma numeróloga, que ele consultara. 

Aliás, a banda também não se denominava mais como "The Key", mas "A Chhave", assim com dois "H"s, também por obra da orientação dessa estudiosa. 

Um poster dessa nova fase da banda, com tais membros e seu nome renovado, chegou a ser publicado na revista "Rock Brigade", em 1990, mas logo de início, o baixista já havia saído, sem ao menos ter feito um show sequer.

O poster citado acima, a mostrar a derradeira tentativa do Beto em manter a banda na ativa, com a sua formação inteiramente renovada e até com mudança ortográfica no seu nome, publicado na Revista "Rock Brigade", em 1990. Da esquerda para a direita em pé: Hermes, Pedro "Kiko" Loureiro, Marcelo Castilha e Gustavo Winkelmann. Sentado: Beto Malltauro (Cruz) 

Tais agruras não diziam-me mais respeito, é claro, mas eu torcia para o Beto obter sucesso, pois sabia de sua luta que eu achava extraordinária e certamente que ele merecia ter chegado em algum lugar melhor. 

Não sei dizer o que aconteceu-lhes, detalhadamente, após esses dois shows em que cumpri sob o título de ajuda fraternal. Sei apenas que logo após esses shows de lançamento do LP "A New Revolution", ainda ao final de 1990, o Beto recrutou um novo baixista para ser membro definitivo, um rapaz chamado: Carlos Zara Filho, que era conhecido como "Zarinha", e era filho do famoso e já falecido ator, Carlos Zara. Mas logo a seguir, essa banda dissolveu-se definitivamente e ele, Beto, mudou-se para os Estados Unidos, em 1991, onde passou a viver desde então.

No meu caso, o fim havia sido ainda em 1989, com a minha saída após a gravação do LP "A New Revolution" e essa participação em 1990, fora meramente ocasional, sem vínculos profissionais e apenas por um sinal de amizade. 
 
Portanto, dou por encerrada a história dessa banda surgida nos primeiros dias de 1988, e que em sua curta trajetória, obteve poucos momentos bons, mas que apesar das diferenças e incômodos inerentes, fica na minha memória como um exercício de luta pela sobrevivência e respeito pelas pessoas que dispuseram-se a tentar manter uma chama acesa. Eis o link para ouvir tal álbum, "A New Revolution", em sua versão integral, no YouTube:
 

https://www.youtube.com/watch?v=ZWpSUkxbthY

A seguir, faço as últimas considerações...
 

Como foi amplamente explicado, desde o início deste específico capítulo, "A Chave"/"The Key"/"A Chhave", uma banda com três mudanças de nome em sua curta trajetória, nunca foi a continuação natural d'A Chave do Sol como muitos acreditam.

Ela nasceu sim, das cinzas d'A Chave do Sol, mas por uma pura necessidade proveniente da situação dramática, onde por um lado, a súbita e triste dissolução da velha, A Chave do Sol, mostrou-se implacavelmente incontrolável para os seus membros remanescentes (eu, Luiz Domingues, Rubens Gióia e Beto Cruz) e por outro lado, houve o lançamento do disco, "The Key" para ser trabalhado enquanto divulgação, mas bem pior que isso, por conta das dívidas pesadas para administrarem-se, contraídas pela produção do disco e com a qual não tivemos apoio externo, algum para saná-las.

Portanto, ante tal cenário dramático, não haveria outra solução a não ser montar uma banda sob caráter de emergência para suprir compromissos inadiáveis que A Chave do Sol já mantinha firmados, e a duras penas, fazer a divulgação do disco que fora lançado poucos dias antes da discussão que fulminou essa banda, de uma forma triste. 

O ideal, reitero, teria sido nós, os membros, conversarmos dias depois dessa fatídica reunião tensa e com os ânimos menos acirrados, termos colocado as diferenças pessoais de lado e dado prosseguimento à carreira d'A Chave do Sol, normalmente. 

Muito provavelmente teríamos inclusive a volta do nosso baterista original, José Luiz Dinola, que havia anunciado a sua saída da banda, ao início do segundo semestre de 1987, mas que no fim desse mesmo ano, ele já havia desistido da ideia de estudar odontologia e abandonar a música. Essa teria sido a melhor das soluções para a crise que nossa banda atravessou no final de 1987, mas infelizmente não foi o que ocorreu.

Rompidos com o nosso cofundador, Rubens Gióia, sem nenhuma possibilidade de cogitar não cumprir os compromissos firmados e na extrema obrigação no sentido de sermos obrigados a divulgar e vender desesperadamente o LP The Key dessa banda extinta abruptamente, eu e Beto não tivemos alternativa. 

Quando eu comecei a escrever a minha autobiografia, em junho de 2011, ainda a usar a plataforma da saudosa, Rede Social Orkut (sob uma comunidade chamada, "Luiz Domingues", aberta pelo meu amigo, Luiz Albano), a minha proposta foi escrever tal relato focado em capítulos exclusivos, dedicados a cada trabalho que eu fiz na minha carreira. 

E no caso específico d'A Chave do Sol, eu soube desde o início, que essa etapa final, em que eu teria que descrever sobre o seu final súbito e triste (e consequente a abordar também o início de atividades forçadas de uma outra banda com outro nome, mas a gravitar em sua órbita, então denominada: "A Chave"), eu teria que ser muito claro na narrativa e tomar muitos cuidados para não magoar ninguém. 

Isso por que é óbvio que o Rubens Gióia, eu (Luiz Domingues) e Beto Cruz, saímos muito magoados dessa história e mesmo ao termos resgatado a nossa amizade anos depois, ele, Rubens, ainda considera que a formação dessa nova banda foi um ato de traição de minha parte, e do Beto. 

E da parte do Beto (e a estender aos três componentes que fizeram parte dessa nova banda formada em 1988), poderia ficar a impressão de que eu desprezo essa banda chamada: "A Chave". 

Portanto, eu tomei todos os cuidados para deixar claro os motivos pelos quais essa banda tenha sido formada, para que os fãs do trabalho da antiga, A Chave do Sol e principalmente, o Rubens Gióia, saibam que eu jamais quis que ele fosse substituído por outro guitarrista e ao ir além, jamais desejei que A Chave do Sol terminasse um dia, aliás, pior ainda, do jeito que aconteceu. 

E para o Beto, Ardanuy, Ribeiro e Rapolli, que a minha contrariedade com o trabalho dessa nova banda formada em 1988, fora meramente estética e que jamais conteve algo de ordem pessoal, com qualquer um deles.

No caso do Beto, muito pelo contrário, sou-lhe eternamente grato pela sua luta, determinação e forte poder de iniciativa, quando a deparar-se com um cenário de hecatombe nuclear, saíra a buscar a salvação, ao termos em vista que a reação normal da maioria das pessoas nessa situação, seria a de apenas resmungar pelos cantos, lamuriar e chorar pelas perdas inerentes. 

Portanto, eu realço a força de vontade e energia do Beto Cruz, que reputo ser o grande artífice da criação desse trabalho, ao fazê-lo conter vida, visibilidade, notoriedade e também credito-lhe o descobrimento de três talentos jovens, que após essa passagem pela banda, cresceram uma enormidade nas suas carreiras, individualmente a destacarem-se: Eduardo Ardanuy, Fábio Ribeiro e Pedro "Kiko" Loureiro, sendo que este último citado, sob uma etapa em que eu nem estava mais presente na formação da banda. 

De fato, o Beto tinha (tem) talento como "garimpeiro de talentos", e poderia até ter colocado-se no mercado musical como um executivo de gravadora, ou mesmo um "manager", para ganhar dinheiro nessa específica função, que requer um talento quase extra-sensorial para ser exercida, eu diria. 

Sobre a banda, acho que ela cumpriu a sua função inicial que seria suprir necessidades prementes.

Posteriormente, quando assumiu-se como um novo trabalho e buscou a sua identidade, pecou por vários motivos e escolhas ao meu ver.

Faço a minha mea culpa, é claro, pois eu nada fiz para exercer a minha influência para coibir aspectos que desagradavam-me, mas ao não querer justificar, mas apenas a constatar, não fora o momento para eu forçar mudanças que aproximassem-me do que eu realmente gostaria de fazer, como estética artística. 

Não havia clima algum para propor uma guinada a apontar para sonoridades sessenta-setentistas, em 1988 e apesar de eu estar a começar a ter vontade forte de voltar às minhas raízes, naquela época em específico, isso ainda não foi forte o suficiente dentro da minha realidade possível e principalmente pelo ambiente externo que mostrara-se totalmente avesso, é claro. Tirante isso tudo, os meus novos colegas jamais aceitariam tais ideias, pois a sua mentalidade esteve em outra esfera, pura e simplesmente. 

E por fim, a "situação financeira da época, versus dívidas", não permitir-nos-iam devaneios estéticos. O negócio foi tocar o máximo possível, promover o novo trabalho e vender o disco The Key, que nem pertencia diretamente à essa banda, mas foi a única forma para livrar-nos de dívidas contraídas para que ele, o próprio LP, pudesse ter sido lançado. Portanto, foi uma condição estranha e muito incômoda. 

Pelo aspecto da exposição pública, esse novo trabalho gerou inúmeras confusões, é claro. Para muitos fãs e jornalistas, tal banda se constituiu da continuação simples d'A Chave do Sol, mas isso não foi correto. Tal confusão também só serviu para acirrar melindres e isso entristece-me até hoje, é claro.

Portanto, quando eu comecei a escrever a autobiografia, tomei a decisão de separar os respectivos capítulos, para firmar na história a clara divisão que existe entre uma banda, A Chave do Sol e a outra, A Chave/The Key. 

Para efeito biográfico, lamento ter poucas fotos desse trabalho, por isso a escassez de opções para ilustrar os capítulos, no âmbito dos blogs, bem entendido. Foram poucos shows entre 1988 e 1989 e também não muitas peças de portfólio. 

Conforme eu descrevi através dos capítulos, também foram poucos os momentos felizes que obtive com esse trabalho ou ocorrências amenas e divertidas para guardar na memória, pois além de eu não ter afeiçoado-me à sua resolução estética e sonora, o clima nesses meses foi mais marcado pela apreensão em face às dívidas contraídas, portanto, a minha visão desse trabalho é mais taciturna, aliás, foi o trabalho mais sombrio sob esse aspecto, da minha carreira. 

Isento, certamente, os companheiros dessa jornada de qualquer culpa nesse processo!

É bastante controverso o resultado sonoro do LP "A New Revolution", não só pela estética adotada, mas pelo áudio que foi bastante prejudicado pela mixagem, que achatou os instrumentos, para privilegiar deliberadamente os solos de guitarra. 

De minha parte, eu não posso queixar-me, pois tão aborrecido que estive por não gravar da forma que desejava, ao fazer as minhas linhas de baixo livremente, não acompanhei as sessões e assim, moralmente a falar, não adquiri o direito para reclamar a posteriori, contudo, o resultado é decepcionante, ao meu ver. Todavia, ao ver pelo lado heroico com o qual o Beto Cruz tanto lutou para isso ser alcançado, é uma conquista, é claro. 

Não tenho absolutamente nada pessoal contra os companheiros dessa jornada e pelo contrário, agradeço-lhes muito por terem aceitado a proposta insalubre que o Beto fez-lhes para segurar um explosivo nas mãos, naquele início de 1988. Agradeço-lhe também pelo esforço em dar dignidade para essa banda, nascida sob condições tão inóspitas e inadequadas pelas circunstâncias. 

Apesar de tudo, acho que o esforço de todos valeu a pena e assim, fico contente por verificar que eles demonstrem carinho por esse momento de suas carreiras, em entrevistas que concedem através da mídia e que de certa forma, foi o estopim de suas carreiras, caso dos mais jovens na ocasião, Edu e Fábio e mesmo em uma situação posterior até à minha participação, de Kiko Loureiro, igualmente. E ao Beto, principalmente, por ter sido a força motriz dessa banda.

É a hora para falar de seus membros e de agregados que gravitaram na sua órbita.

Ao falar sobre quem apoiou essa banda:

Claro que por ter nascido das cinzas d'A Chave do Sol, infelizmente e diga-se de passagem, muitas pessoas que eram apoiadoras da antiga banda extinta, deram seu apoio à essa nova banda criada. Sou grato portanto ao Carlos Muniz Ventura, que entendeu perfeitamente as circunstâncias com as quais ela foi criada e ao continuar normalmente a sua amizade com Rubens Gióia, soube entender e separar as divergências que separaram-nos e assim, acompanhou a trajetória curta desta nova banda e participou, ao clicar fotos promocionais e até catálogo para patrocinador, caso do poster para a Revista "Rock Brigade", com propaganda da luthieria "Tajima" (cujo set fotográfico foi a sua própria residência, no bairro da Vila Pompeia, na zona oeste de São Paulo).

Eduardo Russomano, que muito ajudou-nos nos momentos iniciais e dramáticos, e que por ter sido roadie e colaborador d'A Chave do Sol, compreendeu bem a situação que precipitou a criação dessa nova banda. 

Ricardo C. Aszmann, o nosso colaborador e amigo no Rio de Janeiro, que comprou essa luta, igualmente e muito apoiou-nos. Grato por tudo, incluso as tentativas feitas em 1989, quando eu mesmo já estava praticamente de saída, mas ele foi muito gentil ao acompanhar-me pessoalmente a fazer contatos no Rio e Niterói, ao visarmos shows e entrevistas (até no escritório da "Artplan", a agência de publicidade que arquitetara o Festival Rock in Rio de 1985, ele levou-me).

Chicão, o dono da loja/selo Devil Discos, que acreditou nesse trabalho e foi muito prestativo na produção do LP "A New Revolution". Ele era inexperiente na ocasião como produtor, mas foi de um entusiasmo e força de vontade exemplar, por não medir esforços para colocar nas prateleiras, o melhor produto possível e dele, eu não tenho queixa alguma, e pelo contrário, só tenho elogios; Aliás, eu guardo um pequeno constrangimento pessoal, pois acho que ele conheceu-me em um momento ruim de minha trajetória pessoal e deve ter ficado com a impressão de que eu desprezei tal produção e na verdade, a minha contrariedade com esse trabalho foi outra e as suas razões estão bem explicadas nos capítulos anteriores. Portanto, deixo claro que minha impressão sobre o seu papel na história dessa banda é o melhor possível.

César Cardoso, meu aluno, que foi roadie e muito entusiasmado por essa banda, guarde o meu muito obrigado por tudo! 

Marcinha, cantora, e aluna do Beto, pela força ao fazer backing vocals em um show realizado na casa de espetáculos, Dama Xoc, em novembro de 1988. 

Paulo Toledo e Fernando Costa, ex-membros do "Inox", que foram os donos do Bar Black Jack e tal espaço abriu as suas portas para muitos shows nossos.

João Cucci Neto, que tentou ajudar, ao intermediar-nos alguns contatos internacionais.

Antonio Carlos Monteiro, Sérgio Martorelli, André "Pomba" Cagni e Fabian Chacur (mais que isso, Fabian deu-me muitas dicas nessa fase, sobre a mídia), que assinaram várias resenhas e matérias em suas respectivas publicações através da imprensa escrita.

Os irmãos do Beto Cruz, principalmente, Claudio e Marcos Cruz, por inúmeras manifestações de ajuda em shows e nos bastidores. E não posso esquecer-me de Mario Sodré, sócio do Claudio na ocasião, que também foi solícito conosco. 

Irmãos Fazano: José e Carlos Alberto, pelo apoio à banda.

Letícia, Yara e demais meninas, pelos muitos almoços preparados gentilmente e com direito a sobremesas caprichadas nos dias de ensaios de 1988. 

Tibério Correa, que também ajudou-nos em várias indicações para shows. E também pela filmagem de um trecho de nosso show na estação Brás do metrô, em abril de 1988. 

Toda a equipe do estúdio Big Bang pela gentileza, hospitalidade e profissionalismo.

Os irmãos do José Luiz Rapolli: Fernando, que também é um ótimo baterista e Sueli Rapolli.

Os pais do Fábio Ribeiro, pessoas amabilíssimas e cuja bondade e solidariedade, até mereceu uma menção específica, na história desta banda.

Os irmãos e primos do Eduardo Ardanuy, que também ajudaram bastante. 

Em meio aos meus familiares, destaco: tio Sérgio Barretto, titia Edy e meus primos, pelo apoio em Ribeirão Preto-SP. Tio Paulo Barretto, titia Yone e meus primos, pela força em Franca-SP, além de Emmanuel Barreto. 

E as namoradas de todos na época, que foram presentes, também.  No meu caso em específico, sou muito grato à minha namorada nesse período, Sandra Regina Soares Arôca, que acompanhou toda a transição entre o fim da velha, A Chave do Sol e toda a saga da formação da banda dissidente, A Chave/The Key, ao apoiar-me muito nos momentos difíceis e ajudar, inclusive ao fazer de seu apartamento no bairro de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, uma hospedaria para a banda, por ocasião de um show realizado naquela cidade, em 1988. Lembro-me de que a namorada do Rapolli ficou grávida em 1988, portanto, a sua filha Rebeca Rapolli, hoje uma mulher madura, foi concebida durante a existência dessa banda. Agradecimento estendido aos meus ex-sogros, Sérgio e Regina Arôca.

Hora de falar sobre os componentes...


Theo Godinho

Theo Godinho foi guitarrista da banda Hard-Rock oitentista, "Jaguar", ao lado do baterista, José Luiz Rapolli. Ótimo guitarrista, ele detinha uma orientação pesada, mas certamente que viera da escola setentista do Hard-Rock. 

A sua participação na banda foi curtíssima, apenas pelo fato de que em comum acordo, verificamos que um sexteto seria inviável, pela massa sonora envolvida. Ele poderia ter permanecido tranquilamente se não houvesse também a presença do Edu Ardanuy. 

Pessoa de ótima índole, apesar de sua super curta participação, a impressão que deixou-me foi a melhor possível. Depois dessa breve participação em nosso conjunto, Theo foi membro de muitas bandas nos anos posteriores e também envolveu-se com produção de audiovisuais. 

Infelizmente ele deixou-nos em 2012, muito precocemente por sinal, e a deixar uma lacuna. Atualmente, a sua filha, Thais Godinho, que é jornalista, está a realizar pesquisa de campo, para reunir elementos, com o intuito de produzir uma biografia de seu pai e quem sabe, até produzir um documentário para resgatar a sua história e legado artístico. Acho tal atitude dela, belíssima como filha e jornalista e certamente merecida por parte do Theo.

José Luiz Rapolli 

Eu o conhecia superficialmente desde 1985, mais ou menos, por conta de ter visto a sua banda, "Jaguar" a atuar, mas só cumprimentávamo-nos nessa época, sem estabelecer amizade.

Quando o Beto anunciou que ele seria o baterista da nova banda, eu fiquei contente com a escolha e por sua aceitação e não desapontei-me, posteriormente. 

Rapolli não tinha a mesma técnica de José Luiz Dinola, com o qual trabalhei por cinco anos n'A Chave do Sol, mas era (é) um ótimo baterista. Por outro lado, ao contrário do Dinola que era muito fechado no conceito do Jazz-Rock, Rapolli era muito mais próximo de minha formação, no quesito das preferências musicais, ao demonstrar grande apreço pelo som das décadas de sessenta e setenta, itens proibitivos em tempos xiitas de pregação niilista, naquela década de oitenta. 

Dessa forma, nos tornamos rapidamente amigos e sem dúvida, as conversas que tivemos, principalmente através das morosas viagens de ônibus onde ocupamos os assentos próximos, representaram os poucos momentos agradáveis que eu guardo na memória sobre o período dessa banda. 

Tal impressão favorável, motivou-me a procurá-lo, cerca de nove anos depois, em 1997, para integrar o projeto de uma nova banda que eu estava a criar, chamada: Sidharta (história inteiramente contada em capítulo específico, nesta minha autobiografia), mas não deu certo, pois eu interpretara mal essa situação de 1988 e anos depois, não fez sentido algum, conforme está explicado na história daquela outra banda. 

Independente disso, Rapolli é um rapaz calmo, gentil e solícito, com o qual gostei de ter contado nesse período difícil que foi esse de 1988/1989, na trajetória curta d'A Chave/The Key. 

Anos depois, eu soube que ele estava a tocar em bandas cover pela noite paulistana, e que firmara-se com um "Pink Floyd Cover", que tornou-se uma dessas bandas tributo que primava pela perfeição em executar o repertório da banda homenageada etc. e tal. E também foi membro do "Big Balls", banda do guitarrista, Xando Zupo, e este com o qual eu tocaria no "Pedra", a partir de 2004.

Fábio Ribeiro

Desde meados de 1986, eu ouvia menções elogiosas sobre um jovem tecladista que despontava no cenário do Rock underground, chamado: Fábio Ribeiro. 

Tais comentários, inicialmente vinham da parte do meu amigo e roadie d'A Chave do Sol, Eduardo Russomano, hoje saudoso e que o conhecia e admirava. Ao final de 1987, Fábio foi convidado pelo Beto Cruz e fez uma participação especial com A Chave do Sol, no Teatro Mambembe e caprichosamente, se configurou como o último show dessa banda, que dissolver-se-ia poucos dias depois graças a um desentendimento entre os seus membros remanescentes: eu (Luiz Domingues), Rubens Gióia e Beto Cruz. 

Quando uma nova banda foi criada emergencialmente para suprir a agenda d'A Chave do Sol, recém implodida, Beto não teve dúvidas e convidou Fábio Ribeiro para fazer parte. 

Tecladista com sólida formação teórica, gostava, e isso era raro naquela época, do Rock Progressivo setentista, apesar de estar bem antenado nas sonoridades modernas e oitentistas, também. Muito técnico, era (é) um solista virtuose e piloto de vários sintetizadores, à moda antiga dos tecladistas setentistas clássicos. 

Como pessoa, ele é um rapaz muito educado, simples e isso foi naturalmente o fruto de ter sido criado por pais extremamente bondosos, que inclusive eu já citei bastante na história desta banda. 

Muito jovem, a se provar precoce como músico, versátil, muito técnico, com vasta bagagem teórica e virtuose como solista, foi inevitável que chamasse muito a atenção e como consequência, recebesse muitos convites. Portanto, ainda ao fazer parte de nossa banda, estava também envolvido com muitas outras bandas de orientação Hard-Rock e Heavy-Metal, em gravou discos, tocou ao vivo com tais artistas, na qualidade de um super solicitado side-man e manteve sempre uma banda autoral e sob orientação progressiva e setentista, chamada: "Desequilíbrios", além de um projeto solo e experimental, "Blezki Zatsaz". 

Nos anos 1990 e 2000, ele foi membro de bandas como "Angra" e "Shaman" do mundo do Heavy Metal e do "Violeta de Outono", além de abrir o seu estúdio particular. 

Ele toca com muita gente hoje em dia, é representante de várias marcas de teclados internacionais no Brasil, além de ser um experiente professor de música e programação de teclados/tecnologia. 

Em 2003, eu acompanhei as gravações de bateria do Rolando Castello Junior, como membro da Patrulha do Espaço, ao fazer a respectiva guia para ele gravar em duas faixas, nas quais a nossa banda participou do disco solo do guitarrista, Xando Zupo, "Z-Sides", no estúdio do Fábio Ribeiro. 

Falamo-nos pelas redes sociais da internet e devo-lhe uma visita, eu confesso, para um café no qual ele convida-me, há anos.

Eduardo Ardanuy

Descoberto pelo Beto Cruz, Edu Ardanuy, chegou para essa nova banda, com fama de virtuose e de fato ele o era. 

Tocava com uma técnica absurda e era obcecado por tocar muito mais ainda, ao estudar com muito afinco. Circunspecto e muito reservado, passou-me a impressão inicial de que era muito resoluto pela busca da técnica e se essa não fora a minha visão da música e nunca será, ao menos eu o respeitava em sua determinação e o admirava por ser focado no seu objetivo, fator raro para um menino de vinte anos de idade, que geralmente detém dificuldade para focar em uma meta. 

Foi por sua mentalidade que a banda pautou-se, doravante, e assim construiu a sua curta carreira e isso não foi o que eu desejaria, certamente. 

Mas claro que eu lhe sou grato pela sua participação e se não foi a minha predileção aquela sonoridade, isso não fora nem de longe por sua culpa, mas apenas a se denotar um arranjo do acaso que uniu-nos ali naquela situação. 

Não comunicávamo-nos muito nesse período em que trabalhamos juntos. O seu diálogo mais direto era com o Beto e o Fábio, musical e socialmente a falar. Mas sempre houve respeito mútuo e eu lhe agradeço por ter socorrido-nos naquele momento inicial muito difícil e pela persistência, também. 

Dentro do mundo do Rock pesado e em específico das vertentes do Hard e Heavy oitentistas-noventistas e sob a orientação virtuose, Edu é referência e certamente é considerado um dos maiores guitarristas do mundo e isso é extraordinário, é claro. 

Ele é reverenciado em publicações especializadas internacionais, citado por guitarristas do nível de Steve Vai e tudo isso é muito merecido, logicamente. Tocou por muitos anos no super-trio: "Dr. Sin", uma das mais significativas bandas brasileiras do mundo pesado e ultra técnico, além de muitos trabalhos solo. 

Tornou-se um dos maiores professores do Brasil e recentemente abriu com os seus irmãos, uma escola de música que é referência nesse mundo dos apreciadores do Rock pesado e do virtuosismo, chamada: "Clã Ardanuy". 

Apesar de na época não termos ficado muito próximos, sei que ele tem boa índole e em muitas ocasiões em que encontramo-nos em bastidores de shows, nos anos 1990 e 2000 em diante, Ardanuy sempre foi muito cordial e simpático comigo.

Beto Cruz

Considero o Beto Cruz como a força motriz dessa banda chamada: A Chave/The Key. A sua determinação para achar uma solução quase mágica que pareceu impossível de ser encontrada, a salvar-nos, foi extraordinária no início desse processo. 

Por agir como um verdadeiro produtor executivo, ele não mediu esforços para criar uma banda instantânea e fazer com que ela se tornasse apta a competir no difícil mercado da música, em tempo recorde. 

Sou-lhe muito grato por todo o esforço empreendido, pela solidariedade, pela garra, pela luta, pelos sacrifícios pessoais que teve, pela mão na massa e tudo mais que eu puder elencar em termos de trabalho árduo e obstinado. 

Peço-lhe desculpas se de minha parte, não correspondi na mesma intensidade, mas creio que está bem explicado neste relato, o motivo das minhas contrariedades e acentuada perda de energia no decorrer do processo, que esvaíra-me as forças. 

O seu prêmio por esse esforço hercúleo é o disco que registrou tal momento e a descoberta de valores artísticos que muito brilharam, brilham e brilharão ainda, graças ao seu olhar arguto. 

Sobre a sua personalidade, o que fez depois dessa banda e faz atualmente em termos artísticos, eu já descrevi ao final do capítulo sobre, A Chave do Sol, portanto, é só consultar ali. 

Está encerrada essa etapa da minha trajetória na música.

Agradeço aos companheiros dessa jornada e mais uma vez peço-lhes desculpas por ter sido excessivamente franco em relação às minhas impressões sobre o trabalho em si, na minha ótica e gosto pessoal e reitero, nenhuma contrariedade de minha parte tem caráter pessoal contra quem quer que seja, e pelo contrário, sou grato a todos pelo companheirismo, em uma etapa que foi muito difícil particularmente na minha carreira. 

De todos os capítulos que eu escrevi para compor a minha autobiografia na música, este foi sem dúvida o mais difícil, pela complexidade de escrever e não deixar margem de dúvida a alimentar melindres para ninguém envolvido, seja o Beto Cruz, os membros dessa banda nova que se formou e tampouco em relação ao Rubens Gióia, no tocante à dissolução d'A Chave do Sol. 

Espero sinceramente que todos entendam as colocações com a máxima clareza. E agradeço também aos fãs do trabalho, que não são muitos, devido às circunstâncias que essa banda enfrentou e pela maneira pela qual expressou-se, artisticamente. 

Para efeito de cronologia desta minha autobiografia, daqui em diante, vem a história do Pitbulls on Crack, iniciada em janeiro de 1992, contudo, do período em que saí desta banda, 1989, até o início da minha história com o Pitbulls on Crack, há muitas histórias a respeito de projetos e tentativas de formação de bandas autorais, além de trabalhos alternativos em que eu participei e que estão relatados nos capítulos dos "Trabalhos Avulsos". Basta consultar ou reler, por ali. 

Deixo, um agradecimento ao saudoso, Theo Godinho, pela força inicial nos dois primeiros shows emergenciais de 1988! 

Muito obrigado aos amigos Fábio Ribeiro, Eduardo Ardanuy e José Luiz Rapolli

Muito obrigado, Beto Cruz, por absolutamente tudo o que envolveu essa banda! 

Grato, A Chave/The Key, pelo esforço de tentar manter uma chama viva! 

Muito obrigado, amigo leitor, por ter acompanhado esta etapa da minha autobiografia na música!

2 comentários:

  1. Excelente resenha!!!

    Lembro do JOSÉ LUIS RAPOLLI em 1989, passeando com a sua esposa (ou namorada, não sei), pela Rua Augusta em SP (acho que ele devia morar por ali), empurrando um carrinho de bebê, com uma bebezinha pequenininha (recém-nascida). Eu trabalhava numa loja de móveis na Rua Augusta perto da Av. Paulista e o via quase todos os dias na hora do almoço por ali.

    Grande banda foi a A Chave do Sol e A Chave!!!

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    1. Exatamente, Sandro !

      O Rapolli morava ali perto, nas imediações da Rua Frei Caneca, portanto passear ali na região da Rua Augusta com a filhinha recém nascida deve ter sido sua rotina na época que que você o via ali, certamente.

      Maravilha que esteja lendo com atenção os capítulos !

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