Apesar de tocar divinamente, era uma lenda, contudo, apenas no métier da noite, pois nunca houvera despontado com um trabalho autoral significativo, embora acalentasse tal esse sonho, desde o final dos anos sessenta.
O próprio, Sérgio Henriques, disse-nos que se o Mu entrasse para a nossa banda, nós deixaríamos de ser um grupo para atuar em bares, para tornarmo-nos uma banda de verdade, pois ele sabia muito bem de sua excelência musical.
A
ideia primordial do Paulo Eugênio seria deixar o Wilson na banda, pois os seus backings vocals
eram muito bons, e eventualmente ele tocaria violão, e assim a deixar as guitarras
para Mu e Gereba, os dois "demônios".
O que aconteceu, foi que o Sérgio Henriques detinha um nível muito alto como tecladista, e a sorte por ter uma esposa que possuía contatos. A sua esposa se chamava: Celina Silva, e ela era filha do radialista, Walter Silva, vulgo "Pica-Pau". Esse profissional foi muito famoso no meio radiofônico paulistano nas décadas de 1950 a 1970, principalmente, e este comunicador conhecia a nata da MPB, fossem artistas, fossem empresários ou executivos de gravadoras.
Assim, ao fazer os seus contatos, ele indicou o Sérgio para ser segundo tecladista da banda de uma diva da MPB: uma certa, Elis Regina!
Dessa maneira, estávamos
a começar a ensaiar em uma terça-feira tórrida de janeiro de 1980, quando
eu vi entrar no ambiente do Bar Opção, dois senhores a trajar terno & gravata.
Não reparei na fisionomia deles, e continuei a tocar. Nunca esqueço-me,
tocávamos "Michelle", dos Beatles, quando eu olhei para trás e reconheci
um dos senhores: era Cesar Camargo Mariano, marido e tecladista da
Elis Regina.
Senti-me muito constrangido, pois ele era um músico de nível altíssimo a fitar-me ali a tocar, e eu com a minha técnica simplória, apenas.
O Sérgio conversou com
eles, e cerca de quinze minutos depois, comunicou-nos que estava a desligar-se da nossa banda, pois acabara de assinar contrato para ser o segundo
tecladista da banda da Elis Regina, em meio à sua nova turnê.
Desejamos boa sorte,
é claro, ficamos eufóricos com essa oportunidade surgida para ele, e assim ele
desmontou o seu piano elétrico e partiu, ao acompanhar o Cesar, e o
outro sujeito, que deve ter sido um advogado.
Acompanhamos de longe a rápida ascensão dele com a Elis. Tratava-se da turnê do LP "Saudade do Brasil" onde o Cesar Camargo Mariano montou uma banda enorme, com baixo, bateria, guitarra, percussão, dois tecladistas e um naipe de sopros.
Por isso ele planejou contar com um segundo tecladista, para poder ficar mais tranquilo nos solos, enquanto o Sérgio apoiaria com a parte harmônica das canções. E assim, recebemos várias notícias dele, doravante. Não perdemos o contato, muito pelo contrário, pois ao final de 1980, ele teve férias da turnê da Elis Regina, e voltou a atuar com a nossa banda, que vivia uma outra formação, quando somou muito, naturalmente, mediante a sua técnica refinada.
Nesse mesmo dia em que o Sergio deixou a nossa banda, conhecemos o Fernando "Mu". Ele era um sujeito muito estranho. Parecia um pistoleiro soturno de filmes ao estilo dos Westerns, com poucas palavras. Algo a ver com os personagens interpretados pelos atores, Clint Eastwood ou Lee Van Cleef em seus filmes, ao chegarem em uma cidade do velho oeste norte-americano.
Ao demonstrar muita arrogância, mal entrou no recinto e com cachimbo na boca, pôs-se a distribuir ordens para os demais. O Sérgio e o Paulo Eugênio já o conheciam, e não espantaram-se com o seu gênio altivo, no entanto, eu (Luiz), Cido Trindade e Wilson, ficamos atônitos.
O Mu quis ver o Wilson tocar, e não gostou de seus poucos recursos à época. O Gereba não estava presente,
pois pegara o seu cachê recebido, referente da festa na empresa de engenharia onde tocáramos ao final de dezembro, e fora para o
nordeste, Rio Grande do Norte, para ser específico, para visitar os seus
familiares.
Foto
de um show da turnê de Elis Regina, com o Sérgio ao fundo, a tocar em um
piano Yamaha, enquanto Elis Regina e Cesar Camargo Mariano cumprimentam o
público.
E com a perda repentina de Sérgio Henriques, aquela promissora banda de dias atrás, estava a esfarelar-se!
Entretanto, o Mu estava ali decidido a assumir o emprego, pois conhecia o Paulo Eugênio, e sabia que ele tinha muitos contatos na noite paulistana, e ao estar a precisar de dinheiro, pois estava apenas a tocar com uma banda que pretendia fazer som autoral (acompanhado do baixista, Roatã Duprat, filho do maestro, Rogério Duprat, e Luis "Bola", um baterista).
A banda citada tinha um tremendo som, influenciado pelo King Crimson, mas não estava a ganhar nada naquele momento, infelizmente.
Então, Mu disse ao Wilson que o ajudaria, ao passar-lhe a harmonia das músicas, mas no primeiro show marcado, ele não tocaria por não confiar nele (o Wilson ficou muito indignado com essa franqueza gélida, e saiu do bar, muito bravo, mas voltou a seguir, ao aceitar a "ordem", depois de ponderar).
E no meu caso, ele escreveu
rapidamente a harmonia de cerca de vinte músicas, e além das letras para o Paulo
Eugênio, ao dizer-nos que tocaríamos aquele repertório no show, sem maiores explicações.
Ele era arrogante, mas muito competente, pois sabia tudo de cor, como um maestro. E
não dava para queixar-se do repertório que ele determina tocar com músicas dos "Beatles", "Traffic", "Ten Years
After", "Elton John", "Santana", "Jimi Hendrix", "Led Zeppelin", "Deep Purple",
"James Taylor"... e o melhor de tudo: o sujeito tocava muito!
Eis acima uma foto de uma guitarra Gibson Les Paul, modelo "Junior", idêntica à que o Mu possuía, e da qual tocou Jimi Hendrix, a fazer uso do feed back, mas sem alavanca...
Os seus solos eram infernais! O mercado de covers era fortíssimo já naquela época em São Paulo. Essa tradição com bandas cover era forte desde muito tempo. No âmbito do Rock, eu diria que desde o final dos anos cinquenta, pois havia uma enorme tradição forjada por conjuntos de bailes, festas em apresentações pelos clubes da cidade, boites, casas noturnas, festas particulares, festas colegiais etc. Então, nesse ambiente de final dos anos setenta & início dos oitenta, o mercado de covers era muito forte, com dúzias de bandas a disputar espaço para tocar, principalmente em bares.
A diferença brutal,
foi que naquela época, isso não atrapalhava em nada os artistas de
música autoral, pois haviam espaços para eles.
A música autoral era apresentada em teatros, casas de shows, ginásios de esportes de clubes etc.
Nesse circuito de bares, só tocavam bandas covers, e nenhum artista autoral interessava-se em tocar nesses espaços.
De volta
ao assunto primordial, os primeiros ensaios aconteceram de uma maneira normal, mesmo sem a presença do Gereba que estava a viajar, mas nessa
específica terça-feira, tudo mudou repentinamente, pois perdemos Sérgio
Henriques, e o Mu entrou na banda, a impingir-nos ordens e de certa forma, a assustar-nos um pouco com seu gênio irascível. Gereba estava a viajar, mas voltaria, e Wilson ficou bem chateado, mas tudo contornou-se adiante, para ele.
Realmente, com esse temperamento petulante que o Mu possuía, teve tudo para dar errado, todavia, ele realmente culminou em sair logo da nossa banda, mas por outro motivo, parecido com o que tirou o Sérgio Henriques da nossa formação inicial. Conto a seguir, no momento oportuno.
E assim, fizemos uma nova apresentação no dia 13 de janeiro de 1980, no Bar Opção. Desfalcados de Gereba e
Sérgio Henriques, e a estrear o Mu como novo "lead guitar", tocamos como
um quarteto, visto que o Wilson ficou em suspensão nessa noite, a aguardar
uma nova oportunidade.
"Lay Lady Lay", do Bob Dylan, foi uma das canções que tocamos no primeiro show com a nova formação, a apresentar o Fernando "Mu", como "Lead Guitar"
Tocamos aquele repertório que o Mu estipulara, e foi muito bom. Mesmo ao atuarmos como um quarteto, apenas, a apresentação correu muito bem, pois o Mu era excepcional, mesmo.
A sua base harmônica era extremamente sólida, os solos, contra-solos e desenhos rítmicos, eram executados sob um altíssimo nível. E ele cantava bem, igualmente. Dividiu bem com o Paulo Eugênio, os vocais, e cantou solo, músicas do Elton John, Traffic, e Bob Dylan, por exemplo.
Cerca de trinta pessoas apareceram nessa apresentação.
Claro que houveram muitos
amigos ali presentes, mas foi um bom público, se considerarmos que aquele bar ficava
em um buraco escondido, quase debaixo de um viaduto e longe da rua agitada
da boêmia no bairro, que era a Rua 13 de maio.
Nesse ínterim, com maior convívio, aprendemos a entender melhor o temperamento do Mu. Ele era altivo, mas após esse tempo de convivência, percebemos que era mais uma espécie de proteção que ele carregava por suas inseguranças particulares.
No fundo, era um rapaz bom e mais a vontade conosco a posteriori, ele contou-nos histórias sobre como entrara na música etc. Ele era da geração Woodstock. Enlouquecera lá por 1969-1970 e passou a estudar teoria musical e guitarra de uma maneira compulsiva, com o propósito firme de vir a se tornar um grande músico e artista.
Havia tido problemas com os pais por conta dessa obsessão, mas seguiu em frente. Tentou engatar trabalhos autorais na década de setenta, mas nada frutificou a contento. Tornou-se uma lenda na noite paulistana, exatamente por tocar demais, mas também por ostentar um temperamento difícil.
O seu último trabalho próprio, fora com Roatã Duprat e Luis Bola, como já comentei antes.
Além do trabalho autoral, tal banda costumava tocar o repertório do King Crimson, com perfeição.
De sua metodologia de ensaio, no entanto, creio que não aproveitei muita coisa, pois admito que não gosto de trabalhar em ambiente tenso. Ele tocava muito, mas por ser temperamental, não suportava erros alheios. Não chegava a destratar os colegas em público, mas fulminava com os seus olhos quando alguém errava.
No tocante ao repertório, eu que nunca fui um entusiasta para tocar covers, ficava até emocionado com as suas interpretações não só à guitarra, mas ao cantar também. Ao cantar músicas do "Traffic", "Elton John" e "Bob Dylan", era demais a sua atuação.
Mesmo sendo arredio em relação a tocar covers, eu encarei essa fase do Terra no Asfalto como uma autêntica escola. E o foi mesmo decisiva, pois terminada a minha atuação nela, na metade de 1982, senti-me apto para enfrentar doravante um trabalho autoral, com a qualidade técnica vertiginosamente maior do que apresentava à época do Boca do Céu, a minha primeira banda.
Uma particularidade que revelara o seu drama pessoal em termos de precariedade, o Mu, como vivia em dificuldade financeira, carregava a sua guitarra enrolada com um cobertor velho, pois não possuía um case adequado (estojo).
Essa foto é de uma guitarra Gibson Les Paul, modelo "Junior", idêntica à que o Mu possuía
Tratava-se de uma Gibson Les Paul, modelo
"Junior", ano 1958. Era uma guitarra rara e valiosa já naquela época, e
hoje em dia, se consultarmos os sites de colecionadores, verificaremos
que deve ter um valor estratosférico.
Muito tempo depois, acho
que em 1983, mais ou menos, eu soube que ele houvera sido assaltado e
agredido em uma rua do bairro do Brooklin, na zona sul de São Paulo, na saída
de um bar onde tocara nessa determinada madrugada.
Ele foi encontrado caído com um ferimento na cabeça, e a sua guitarra Gibson, nunca mais foi encontrada... uma enorme pena.
A maldade sempre nos ronda, no entanto, outras histórias trágicas desse nível com o Terra no Asfalto, só lembro-me de uma, mas que ocorreria bem depois, na segunda fase da banda, mais ou menos em fevereiro de 1981. Contarei na devida cronologia.
E quanto ao Mu, esse assalto e agressão foi um telegrama premonitório do que acontecer-lhe-ia alguns anos depois. Soube que mais ou menos
em 1997, ele morreu assassinado em uma mesa de bar. O motivo teria sido um acerto
de contas por conta de dívida com traficantes.
Mas de volta à cronologia, eu preciso mencionar que o Mu tocava violino, também. Ele fazia os solos do Jerry Goodman e do Jean Luc Ponty (nas respectivas épocas de ambos na formação da "Mahavishnu Orchestra"), com perfeição, além de diversas demonstrações de virtuosismo ao estilo da Country Music, norte-americana.
Esteve nos planos da nossa banda usar-se esse expediente, e de fato, assim que Gereba e Wilsinho incorporaram-se novamente ao conjunto, chegamos a tocar a canção: "Hurricane" do Bob Dylan, com o Mu a pilotar o violino.
A próxima apresentação foi no dia 20 de janeiro de 1980, no mesmo Bar Opção.
A
Rua 13 de Maio no Bairro do Bixiga, no início dos anos oitenta, época
em que era extremamente agitada, com muitas casas noturnas a apresentar música ao vivo, de todos os estilos, lado a lado.
Desta vez, conseguimos atrair cinquenta pessoas, quase o dobro da primeira apresentação.
Isso fora uma proeza,
primeiro, pelo fato da banda ainda nem ter um nome próprio definido, e
segundo pela localização do bar, no agitado bairro do Bexiga, mas longe
do foco do grande agito popular, que ocorria na Rua 13 de maio.
Foi aí que o nosso primeiro voo maior, ocorreu, quando fomos tocar enfim em uma casa mais sofisticada. Tratava-se de um bar localizado na Alameda Lorena, no bairro Cerqueira César (na região da Av. Paulista), e chamado: Le Café.
O Mu deu muitas informações para o Wilson, que cresceu como músico, a melhorar muito. Ele, Wilson, era extremamente dedicado, e sonhava em tocar bem.
Uma particularidade dele, dava-se pelo fato de que o seu pai fora o alfaiate do Pelé, na cidade de Santos, nas décadas de 1960 e 1970. O Wilson que era santista de nascimento e também torcedor do Santos FC, passou a infância a ter esse contato com o "Rei" do futebol, e vários outros jogadores do Santos FC.
Ainda a repercutir o mau gênio do Mu, esperávamos um clima hostil dele, Mu, em relação ao Gereba, mas pelo contrário, eles deram-se tão bem, que isso surpreendeu-nos.
Mas hoje eu enxergo tal fato aparentemente improvável, com precisão: o Mu respeitou o talento nato e bruto do Gereba.
Ele não sabia nada de teoria musical, mas o seu ouvido era extraordinário.
O Mu que era um músico
com sólida formação teórica, percebeu isso. Além do mais, o Mu ficou
fascinado com a escola brasileira do Gereba, via Pepeu Gomes, e quis
absorver essa técnica.
Geralmente bandas com dois guitarristas na formação, só vão bem, se estes forem muito amigos, e sabem, por conseguinte, controlar muito bem os seus respectivos instintos egóicos.
O Paulo Eugênio conhecia bem a personalidade dos dois.
Convivera com o Mu em uma banda cover no ano de 1978, e conhecia o Gereba desde a adolescência.
Com o Gereba não haveria problemas, pois ele era "bonachão" por natureza, sempre a brincar, mas o Mu tinha aquela pose de estrela.
Todavia, para a surpresa geral, eles deram-se muito bem. A sorte, foi que o Gereba o cativou pela sua humildade. Como mostrou-se disposto a colocar-se como o
segundo guitarrista, o Mu aprovou essa postura da parte dele.
Além do mais, o Mu ficou muito fascinado pela técnica instintiva do Gereba, principalmente no estilo brasileiro. Como o Mu não tinha muito esse traquejo com a MPB, ele quis absorver essa influência, e na contrapartida, o Gereba aprendeu muita coisa de Rock internacional, que era a especialidade do Mu, além da teoria, a estabelecer-se assim, um intercâmbio sadio entre os dois.
De fato, logo o Mu receberia uma proposta de trabalho irrecusável, e precisava ter essa bagagem brasileira mais na ponta da língua. Falarei sobre isso na cronologia dos fatos.
Dessa forma, sobre Gereba e Mu, ocorreu que um adaptou-se ao estilo tão dispare outro.
Era
difícil não ficar amigo do Gereba, logo de início, pois ele era um sujeito
muito simples, mas extremamente comunicativo e brincalhão. Não lembro-me
de tê-lo visto carrancudo, nenhuma vez. Ele não era um Rocker, certamente. A sua cultura musical era bem estreita. Mal sabia o nome de muitas bandas clássicas, quiçá as obscuras. O seu
talento era enorme para tirar de ouvido peças musicais complexas, e
reproduzir fielmente, nota por nota, sem entender nada de teoria
musical, e nada de técnica de guitarra ou violão.
Já o Mu, foi o inverso. Ele sabia campo harmônico e escalas na ponta da língua, tinha uma excelente leitura de partitura, e conhecia a história do Rock de cor e salteado.
Aproveito para mencionar que havia uma turma que gravitava em torno da banda. Eram amigos do Paulo Eugênio, Gereba e Wilson, principalmente.
Neste
casarão, funcionava a pensão onde moravam Gereba e Wilson, e que serviu
de QG do Terra no Asfalto, nos primeiros tempos da banda, como ponto de
encontro. Não existe mais tal casarão, pois foi demolido para dar lugar a um edifício residencial nos dias atuais. Ficava localizado na Travessa São Geraldo, uma minúscula via da rua Turiaçú, sentido centro, antes de chegar-se no cruzamento com a Rua Cardoso de Almeida, no bairro das Perdizes, na zona oeste de São Paulo.
O Paulo Eugênio morava
na Rua Traipu, e Wilson e Gereba dividiam um quarto de pensão em uma rua
estreita, chamada: São Geraldo, travessa da Rua Turiaçú, ambos os
endereços a fazerem parte do bairro das Perdizes, na zona oeste de São Paulo.
Ali foi o ponto de encontro dessa turma toda.
A pensão em que moravam,
também chamava-se "São Geraldo", e os outros moradores desse estabelecimento espantavam-se com a
movimentação de cabeludos a carregarem instrumentos para lá e para cá. Wilson e Gereba apelidaram a pensão onde habitavam, como "Sãope".
Lembro-me que o baixista, Ney Haddad, foi um desses amigos. Ele era um adolescente nessa época e alguns anos depois, abriria o estúdio "Quorum", no mesmo bairro das Perdizes, além de que tornar-se-ia baixista da banda : "Neanderthal", com a qual tanto o Pitbulls on Crack (a minha banda nessa ocasião futura), teria contato em bastidores de shows e TV, nos anos noventa.
Outro rapaz dessa turma, chamava-se: Sérgio, e ele era irmão de um dos músicos da banda experimental, "Uakti" (que dava os seus primeiros passos naquela época). Ele chegou a contar-me que seu irmão idolatrava o Gentle Giant na década de setenta, e tocava bateria.
Mais um músico que eu conheci bem no início de 1980, foi um rapaz muito magro e elétrico, que respondia pelo apelido de: "Catalau". Ele morava em uma rua próxima (Rua Ministro Godoy), e mesmo por ser muito jovem nessa ocasião, informaram-me que ele havia sido parceiro de composições do "Casa das Máquinas", nos anos setenta.
A namorada do Mu tocava flauta. Chegamos a cogitar ter a sua participação como convidada, quando possivelmente tocaríamos então canções de bandas como: Jethro Tull, Focus, Genesis, Moody Blues etc. Chamava-se: Virginia, e acabara de voltar de Londres, quando informou-nos uma novidade esfuziante: ela tinha visto um show recente do King Crimson... eu e Cido Trindade ficamos pasmos, pois nem sabíamos que o velho Rei Escarlate havia voltado à cena.
O King Crimson na sua formação dos anos oitenta, que é bem interessante, mas causava muita estranheza aos fãs que acompanhavam o trabalho da banda entre os anos sessenta e setenta. E não nego, também prefiro o trabalho 1960 & 1970
E empolgada, dizia que o baixista usava um instrumento exótico, que tinha som de baixo, mas não era baixo (o tal do "Stick"). Bill Bruford não usava uma bateria convencional, e os músicos tocavam trajados com terno & gravata, e usavam cabelos curtos, na intenção parecida com o visual ultra "nerd" dos componentes da banda Techno, alemã, Kraftwerk... cáspite, os anos oitenta estavam a chegar... socorro!
Em relação às pessoas que eu citei nos parágrafos anteriores, eu só tornei-me conhecido delas, praticamente, sem aprofundar-me na amizade com nenhum deles em princípio, a não ser o Ney Haddad, mas este por outras circunstâncias no futuro, como já citei.
No caso do Ney Haddad,
tive notícias dele, anos depois, a dar conta que estava a morar no interior de São Paulo, em
Ribeirão Preto, a tocar em uma banda de bailes. Já no início dos anos noventa, soube que havia voltado para São Paulo, quando montara um estúdio.
Já entre 1992 e 1994, nos encontramo muitas vezes pelos bastidores de emissoras de TV, Rádio e camarins de shows, por ele ser baixista do "Neanderthal", banda que estaria também presente na coletânea em que o Pitbulls on Crack gravaria, pelo selo Eldorado.
No caso do Catalau, mais adiante, eu vou contar um pormenor sobre uma quase entrada dele, para o Terra no Asfalto. Foi em um período onde o Mu já havia deixado-nos e o Paulo Eugênio Lima esforçou-se para promover uma reformulação da formação, e a ideia seria contar com três guitarristas: Wilson, Gereba e possivelmente o Catalau, mas não passou das conversas preliminares e alguns ensaios informais.
No início de 1983, eu (Luiz) e Catalau ficamos mais próximos quando A Chave do Sol fechou um contrato no Victoria Pub, para dividir a noite, ou com o Tutti-Frutti, ou com o "Fickle Pickle" (a depender da noite), banda na qual ele era o vocalista.
Essa história eu já contei com detalhes nos capítulos d'A Chave do Sol. O outro rapaz que era irmão de um dos componentes do "Uakti", e cujo nome não recordo-me mais, infelizmente, nunca mais o vi. Morava em um prédio de
apartamentos, também nas imediações, e continha uma particularidade: quando
ficava com o estado mental alterado, digamos assim, ele apresentava uma gargalhada descomunal.
Muitas vezes ele provocou
epidemia de risadas entre nós, nem tanto pelo motivo da graça em si, mas
pelo efeito avassalador de sua gargalhada, que causaria inveja ao
Coringa, o inimigo do Batman...
Um outro rapaz, que cujo nome
esqueci, mas que era apelidado como: "Catito", era completamente maluco, e tinha
aquele comportamento típico de freak setentista.
Lembrava o personagem, "Lingote", do Chico Anysio, pois praticamente só comunicava-se por monossílabos. Era fanático pelo John Lennon, e na sua Kombi (que muitas vezes transportou a nossa banda para apresentações), só ouvia discos solos do Lennon, e enlouquecia ao cantar enquanto dirigia, ao berrar a melodia de músicas como: "Isolation", por exemplo, uma canção forte do álbum do John Lennon, de 1970, "Plastic Ono Band".
Além do Edmundo Gusso, que
eu citei logo nos primeiros capítulos, e mais um ou outro não tão marcante
que tivesse-me marcado na memória, creio que o núcleo básico de amigos da
banda, nessa fase inicial, foi esse.
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