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sábado, 1 de agosto de 2015

Sala de Aulas - Capítulo 4 - A Histórica Sala de Aulas da Rua Castro Alves - Por Luiz Domingues

Mudei-me para esse sobrado da Rua Castro Alves (o da fachada com pedras avermelhadas), no dia 16 de setembro de 1991. 

Já no dia seguinte da minha mudança, eu recebi os meus primeiros alunos no novo endereço, da Rua Castro Alves. Para quem conhece o bairro da Aclimação, na zona sul de São Paulo, digo que morava no último quarteirão, entre os cruzamentos com as Ruas Safira e Armando Ferrentini, o último quarteirão da Castro Alves. 

Nessa época, a Av. Aclimação que se coloca como paralela, era ainda 99% residencial, mas já dava mostras de mudanças a vista, com várias residências a serem adaptadas para o comércio e hoje em dia é o contrário, com 1% (ou nem isso), de habitações a servirem para as famílias ali residirem, em um universo dominado por restaurantes, lojas, agências bancárias etc. 

Já de imediato, o conforto para as aulas e a privacidade da minha família, ficaram garantidos. A minha sala de aulas ficava no compartimento térreo de um sobrado construído nos anos quarenta, dividido em três partes. Portanto, não havia contato entre os alunos e o restante da minha residência.

A questão do barulho também foi bem equacionada, primeiro que eu nunca permiti o som alto e segundo, por que a sala era fechada. Havia uma pequena área anexa, com banheiro privativo, um mini hall e a seguir, a comunicação com a garagem. Em princípio, mantive uma decoração austera em seu interior.

Poltronas para os alunos que chegavam antes (e eu já estava acostumado com esse fenômeno deles estabelecerem amizade mútua, e assim, chegarem horas antes, só para encontrarem), e a cadeira do aluno em frente à minha. 

Outros objetos foram: um "criado mudo" improvisado como o meu arquivo, o amplificador, e o baixo Tajima, que todo aluno meu, tem saudade, certamente e que foi o instrumento oficial das minhas aulas, desde 1989, quando saí da casa do vocalista Beto Cruz, onde ministrei aulas entre 1987 e 1989. 

Como decoração, apenas um relógio de parede onde eu controlava o tempo das aulas. No futuro, mudei radicalmente tal cenário, mas falo sobre isso no momento certo.

Não demorou nada para que um membro da numerosa família que residia ao lado esquerdo da minha habitação, abordasse-me. Ao verificar a movimentação de cabeludos e o ruído de um instrumento amplificado (ainda que sob um volume baixíssimo, pois eu detesto volume alto e nunca permiti excessos no amplificador em minhas aulas), um dos filhos dessa família, se tratara de um sujeito que era bem expansivo e assim, ele abordou-me ao forjar uma conversa sobre música, ao afirmar ser um apreciador de Rock, para angariar a minha simpatia.

Mas na verdade o sujeito gostava mesmo de duplas sertanejas e por conta dessa sua predileção natural, usava um corte de cabelo ao estilo "Mullet", algo bem típico daqueles artistas, no início da década de noventa. 

Em 1992, sob uma coincidência inacreditável, eu fui tocar com o Pitbulls on Crack em uma casa noturna e surpreendi-me com a sua presença ali, pois ele foi o "promoter" do estabelecimento. Ele nem desconfiava que eu fosse membro da banda que apresentar-se-ia naquela noite e eu, vice-versa, surpreendi-me ao vê-lo naquele lugar, e a trabalho. 

Já comentei sobre esse show no capítulo específico sobre o "Pitbulls On Crack". A casa chamava-se,"Arkhan Club", e o show foi medonho, com apenas quatro "testemunhas" em um salão vazio e com o som estridente a reverberar de forma triste pelo ambiente. 

De volta ao ponto, do outro lado da rua, morava um artista plástico, bem em frente à minha residência. Ele também abordou-me, por deduzir que eu teria algo a ver com arte, certamente.

                           A saudosa atriz, Ruth Escobar

O rapaz era filho da atriz Ruth Escobar e infelizmente ele veio a falecer poucos anos depois. E os seus filhos, que eram crianças nessa época, tornaram-se meus amigos posteriormente, ambos também envolvidos com teatro e música (Demian e Luana Escobar). 

Em outra residência, alguns metros abaixo, vivia um senhor idoso que houvera sido músico de orquestras de música popular, durante toda a vida. Ele tocava diversos instrumentos de sopro, e mesmo bem idoso, ainda ministrava as suas aulas. Esse foi o panorama inicial do meu quarteirão, assim que mudei-me, em setembro de 1991.


A dinâmica que eu tinha em relação às aulas, prosseguiu com normalidade. A logística mudou um pouco para os alunos, com certa facilidade, eu acho, pois a nova casa apesar de ficar a pouquíssimos quarteirões de onde eu estava naquele apartamento anterior, se colocava mais estrategicamente perto da estação Vergueiro do Metrô, do que a estação Ana Rosa, onde eu estava anteriormente. Para quem conhece o traçado da linha 1/azul, do Metrô de São Paulo, sabe que após a estação Ana Rosa, no sentido Tucuruvi, as próximas estações estabelecem uma curvatura na rota. 

Portanto, a estação Vergueiro fica quase no cruzamento das ruas Vergueiro e Castro Alves. A desvantagem foi que ali naquele quarteirão em que eu residia, era/é o início da Rua Castro Alves e eu morava no último quarteirão, um Km adiante, mas como a maioria esmagadora dos alunos era formada por adolescentes e jovens, sem problemas quanto a isso. 

Da esquerda para a direita: Wagner Guerra, Marcos Mesquita e eu, Luiz Domingues, a segurar enigmaticamente a capa do caderno Ilustrada, da Folha de São Paulo. A falta de foco da foto, impede-me de saber o que eu queria exaltar com isso, em pleno final de 1991... 

O conforto de fato, foi muito maior para todos os envolvidos com essa minha atividade. Para os alunos, tanto a aula em si, quanto a sala de espera que tornara-se um verdadeiro "QG", para a minha família que resguardava-se dessa bagunça e vivia tranquilamente, sem nenhuma ocorrência invasiva no seu cotidiano e para eu próprio, que mantinha a tranquilidade para trabalhar. 

Do meio de setembro até o final do ano, nenhuma ocorrência extraordinária surge em minha memória para destacar-se. Talvez a visita do pessoal da banda "Aura", às vésperas do Ano Novo, eufóricos com o recém fechamento de contrato com um selo independente que os lançaria em LP no ano de 1992.

Falei bastante sobre o "Aura" no capítulo dos "Trabalhos Avulsos". Fora a banda de meu ex-aluno, Marcelo "Carioca" Dias. 

E também digno de nota, em dezembro de 1991, eu recebi a visita de um grande amigo, Eduardo Russomano, ex-roadie d'A Chave do Sol, nos anos oitenta. Foi a última vez que o vi, pois dali em diante ele mudar-se-ia para a cidade de Santos-SP e doravante nós só trocaríamos algumas cartas e telefonemas, até eu tomar conhecimento em 1995, de seu falecimento, através de sua namorada. 

Estava a chegar o ano de 1992 e com ele, a fase mais brilhante das minhas aulas, conforme eu começarei a relatar a seguir.

Continua...

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