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quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Pitbulls on Crack - Capítulo 7 - Ainda a Sonhar - Por Luiz Domingues

E chegou o ano de 1997. Cinco anos de atividades do Pitbulls on Crack e um balanço precisava ser feito. Após cerca de sessenta shows, bastante material acumulado no portfólio, dois vídeoclips oficiais, muitas aparições na TV, execução maciça em uma FM competitiva de São Paulo, uma participação com duas músicas em uma coletânea feita por uma gravadora de médio porte e um CD lançado por outra, igualmente de médio porte, ou seja, a conclusão fora de que a carreira da banda estava bem, se analisarmos por parâmetros do patamar underground, logicamente, pois tais números refletem cerca de dois meses de trabalho de uma dupla sertaneja com um forte aparato de apoio por trás
Muito bem, o Brasil era (é) assim, e dessa forma, acostumamo-nos a lidar com um mercado fechado em monopólios vergonhosos, a deixar as migalhas a serem compartilhadas por centenas de desafortunados (e dos anos 2000 em diante, creio que nem mesmo as migalhas mais são passíveis de serem encontradas por quem não tem dinheiro e influência).

Bem, dentro dessa realidade, o Pitbulls on Crack angariou números interessantes, apesar de ter formatado a sua carreira a cantar em inglês, ou seja, um erro estratégico, se a intenção fora buscar um mínimo de competitividade no mercado nacional. 

Mesmo assim, o esforço empreendido ao longo desses cinco anos, nem foi tão sacrificante assim, visto por outro aspecto, porque o Pitbulls on Crack sempre foi uma banda a operar em um esquema de baixo esforço, a beirar o relaxo até, na forma que realizou a sua autogestão (no bom sentido do termo, que não se ofendam os demais membros da banda, por favor!). Dessa forma, por considerar o tipo de cuidado pessoal que a banda mantinha, esses números foram até surpreendentes.

O "Canto do Cisne" passara para a banda, mas nós não tínhamos essa percepção e em janeiro de 1997, a luta continuou como uma determinação de nossa parte, ao menos logo no começo.

E a primeira atividade desse novo ano, foi a entrevista/show ao vivo, realizada nos estúdios da Rádio Brasil 2000 FM. Essa emissora era uma Rádio Rock, concorrente da 89 FM, mas com bem menos poder de fogo. Apesar disso, o entusiasmo de seu mais prestigiado locutor/produtor, chamado, Osmar Santos Jr. (nada a ver com o locutor esportivo, homônimo), fazia com que a emissora sempre prestigiasse o Rock Nacional, ao programar bandas underground para tocar ao vivo em seu estúdio.
 

As duas únicas fotos disponíveis dessa entrevista/show ocorrido na emissora Brasil 2000 FM. Na primeira acima, eu (Luiz Domingues), Deca e Toni Peres Rodrigues, nosso roadie na ocasião. No canto direito, só em detalhe: Zé Reis. Na foto abaixo, entre Chris Skepis e eu (Luiz Domingues), a presença da fotógrafa, Myrna Zapata, que assistiu-nos no estúdio daquela simpática emissora. As fotos são do acervo pessoal de Myrna Zapata. Click: desconhecido

Desta vez, tocamos no dia 27 de janeiro de 1997, com cerca de vinte pessoas a assistir-nos, sendo alguns amigos e outras pessoas que foram sorteadas pela emissora, para assistir ao vivo a nossa performance e que ganharam discos como brinde. 

Concedemos entrevistas também para algumas revistas do meio musical (Rock Brigade, Cover Guitarra), e jornais menores, incluso um da cidade de Jundiaí-SP, que deslocou um repórter para entrevistar-nos na sede da gravadora em São Paulo. 

Ainda em janeiro, houve uma outra grande oportunidade no campo da mídia, ao concedermos entrevista para o ótimo programa cultural, "Metrópolis", da TV Cultura de São Paulo. 

A equipe de reportagem marcou o apontamento conosco na sede da gravadora, e com a "montanha" de latas, como cenário, o repórter, Cunha Junior, foi muito simpático conosco. 

O problema interno da banda, foi que eu tentava falar sério em entrevistas e os demais insistiam nas brincadeiras e assim, muito do esforço que eu fiz para implementar um conceito com o aparato, foi diluído completamente por tais pilhérias, sob uma espécie de auto-sabotagem.

O Deca insistira em demolir o conceito Hippie, ao brincar com clichês surrados e depreciativos como: -"eu sou Hippie, porque não tomo banho" e o Chris se portou sempre a alfinetar-me por eu não gostar da "revolução Punk de 1977"... 

Claro que eram brincadeiras da parte deles, mas tal atitude aniquilara a minha tentativa para fazer a banda e sobretudo o conceito do resgate 1960 & 1970, ser levado a sério na mídia. Eis abaixo a entrevista para o programa "Metrópolis" da TV Cultura de São Paulo:

Eis o link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=q9SnbIBkmkY

Bem, ao se pensar por outros termos, aquilo fora tudo uma farsa de fato e o Pitbulls on Crack nunca teve nada a ver com tal conceito e só eu estive a delirar com esse sonho de promover um resgate estético. Tanto que meses depois, eu saí da banda para fundar o "Sidharta", farto por lutar em vão com uma banda onde tal conceito não tinha mesmo nada a ver com os meus propósitos. 

E a primeira apresentação do ano deu-se com um show coletivo, um daqueles festivais sem sentido, típicos dos anos noventa, com muitas bandas escaladas e mais músicos no camarim, do que público no recinto do auditório.

Uma vista geral do Ginásio da Portuguesa de Desportos, no Canindé, em São Paulo, em foto de outro evento, nada a ver com esta narrativa

Graças a um convite do pessoal do grupo "Velhas Virgens", um festival desses, realizado no Ginásio da Portuguesa de Desportos, seguiu essa cartilha noventista, pela qual o Pitbulls on Crack passara por tantas vezes. 

Foi mais uma noite desoladora e com muita reverberação sonora, dentro de um ginásio vazio e com uma porção de bandas oriundas de vertentes agressivas tais como o Hard-Core, Punk-Rock, Heavy-Metal, e que tais (ou seja, uma turba formada por garotos trajados com bermudas e a repetir à exaustão o bordão típico da época: -"é ducaraio, véio"...). De fato, foi isso mesmo, mas com a conotação às avessas, em minha opinião, no pior sentido da metáfora. 

Bem, desta vez, foi um show beneficente, que ocorreu em 22 de março de 1997, a movimentar duzentas pessoas, em um ginásio que abrigava de sete a oito mil pessoas, tranquilamente. O meu único prazer nessa noite, foi subir ao palco e ficar a mirar para aquelas arquibancadas vazias e relembrar os incríveis shows de Rock, MPB e Jazz que eu ali assistira nos anos setenta. 

De Rick Wakeman a Joe Cocker, de Mutantes a Gilberto Gil, Hermeto Pascoal, Novos Baianos, Chick Corea, John Mclaughlin, O Terço, Jards Macalé e tantos e tantos outros.

Bem, foi um momento muito particular meu ao relembrar tais fatos ocorridos entre 1975 e 1978 e em 1997 eu estava ali, em cima do palco a tocar, como sonhara naqueles anos setenta. 

Porém, foi uma reminiscência fugaz, pois a realidade ali naquele momento, não foi a ideal. Gostaria de tocar no ginásio da Portuguesa de Desportos, em outras circunstâncias, e não em meio àquela deprimente companhia, daqueles garotos incautos e postura anti-Rocker. 

Enfim, foi mais um prenúncio de que o ano de 1997 não traria grandes avanços para o Pitbulls on Crack, e pelo contrário, apontaria a decadência do que construíramos nos cinco anos de existência da banda. Fram os últimos estertores, o tal "canto do cisne"...

Sobre a nota publicada em jornal, vista acima, eu não posso deixar de comentar... em qual release o jornalista baseou-se para afirmar que o fundador de nossa banda foi o VJ da MTV, Gastão Moreira?  Absolutamente insólito...

O próximo compromisso foi em um bar pequeno e de certa forma a trazer um pouco da atmosfera do começo da banda, em 1992. Mas houve uma diferença, gritante: o que fora algo normal e estimulante naquela fase primordial, agora, soara como um sinal decadente.

Entrevista concedida ao jornalista, Régis Tadeu, para a Revista "Cover Guitarra", no início de 1997

Uma situação foi tocar em diversas pocilgas bem no início das atividades da banda, sem disco, vídeoclip e portfólio e muito diferente foi a sensação de estarmos de novo a tocarmos em uma casa pequena, depois de tantas oportunidades perdidas e diante de um reduzido público. 

Reduzido, aliás, é um conceito relativo, pois nessa noite de 12 de abril de 1997, cerca de cem pessoas estiveram presentes no Black Jack Bar. Para os padrões daquela pequena casa, localizada no bairro do Alto da Boa Vista, na zona sul de São Paulo, fora na verdade, um bom público. Mas nessa altura dos acontecimentos para o Pitbulls on Crack não representou nenhum alento.

O dado positivo desse evento, foi a presença de duas bandas de alunos meus, na abertura do show. Uma delas foi o "Eternal Diamonds", do meu aluno, Alexandre "Leco" Peres Rodrigues e de Rodrigo Hid e Fernando Minchillo, com o seu som que mesclava a psicodelia sessentista, mais toques de Prog-Rock setentista e uma dose generosa de Heavy-Metal noventista. 

E o "Essex", banda do meu aluno, Ricardo Schevano, com o seu irmão Marcello, e também com Toni Peres Rodrigues (irmão do Alexandre, meu aluno, e baixista do Eternal Diamonds), e Marcelo Burani, sobrinho do baterista, Diógenes Burani, ex-baterista da Gal Costa e do Moto Perpétuo, banda onde Guilherme Arantes, fora tecladista. 

O Essex era bem Heavy-Metal, mesmo, apesar do meu aluno Ricardo, e seu irmão Marcello, gostarem bastante de sonoridades 1960 & 1970, também.

Não nego, muito do sucesso desse evento, veio do esforço conjunto e decorrente da presença das bandas de meus alunos e neste caso, do meu "exército Neo-Hippie" a prestigiar a noitada, naturalmente. 

O Pitbulls on Crack tocou relaxado como sempre, sem reclamações entre os seus membros, sobre o momento que atravessava, aliás, como foi a praxe dessa banda, em seus bastidores. 

Animou-nos um fato extraordinário que estava fechado como perspectiva e lembrou muito o começo da banda, mas por outro aspecto: oportunidades oriundas dos contatos do baterista, Juan Pastor, graças a sua posição dentro da Rádio 89 FM. 

Nesse aspecto, estávamos escalados para participarmos de um evento de médio para grande porte, com o apoio daquela estação. Portanto, lembrou-me bastante o período 1992-1994, quando tivemos muitas chances dessa monta.

Antes de prosseguir na cronologia dos fatos, abro um parêntese para falar do encarte do CD e do livro denominado, "Pitzine", que foi incorporado à lata correspondente ao lançamento do disco. 

Sobre o encarte, as fotos dos membros da banda, foram obtidas em uma sessão realizada em um estúdio no bairro do Bexiga, zona central de São Paulo, chamado: Pugliesi Privato Comunicações e ocorreu em um domingo, de outubro de 1996.  

O fotógrafo em questão, foi uma indicação minha, ao tratar-se de um velho amigo dos anos oitenta, chamado, Carlos Muniz Ventura, que acompanhou a carreira d'A Chave do Sol e além da amizade pessoal conosco, fez muitas fotos promocionais dessa banda, desde 1984, além de fotos dos encartes do EP de 1985 e do LP The Key, em 1987.

Nessa sessão, quase nenhuma foto foi aproveitada posteriormente, porque os companheiros vetaram a maioria dos clicks, ao alegarem que havíamos ficado muito caricatos com o uso e abuso de uma suposta indumentária hippie sessentista. 

Bem, houveram algumas que ficaram um pouco exageradas mesmo, e de fato, uma caracterização pesada assim requeria uma produção extra. Não foi port culpa nossa exatamente e muito menos do Carlão, fotógrafo. 

Uma perspectiva seria uma sessão de fotos de uma banda como o "Black Crowes", com os seus componentes caracterizados como Rockers sessenta-setentistas, com uma naturalidade incrível e bom gosto garantido, visto ser muito bem direcionada a sessão em termos de produção, mas outra, seria arrumarmos roupas supostamente a ver com essa vibração e sem um olhar mais avalizado de uma pessoa entendida de moda (e sob rígida compreensão da época, em questão), ao irmos de peito aberto para uma sessão e a corrermos o risco da caricatura, do mau gosto kistch, exagero etc.

Lembro-me que a própria arte-finalista da capa do disco, Marina Yoshie providenciou-nos o patrocínio de um brechó renomado na Vila Madalena e nessa loja, nós reforçamos o figurino ao apanharmos algumas peças para nós. 

Mas não havia nada "100% hippie sessentista" disponível, portanto, abastecemo-nos com peças que lembravam vagamente tal intenção. A única peça marcante que achamos, ficou com o Chris e tratou-se de um colete de pele de carneiro, impossível para ser usado no calor tropical do Brasil, mas realmente chamativo. Quando o Chris o vestia, lembrava muito o Graham Nash em seus mais gloriosos tempos como freak das montanhas. 

Nesses termos, eu também concordei que cometemos erros nessa sessão, por absoluta falta de noção estilística, sem portanto, capacidade de discernimento para distinguir o estilo "Hippie Chic" que ambicionávamos, em detrimento de uma caracterização infeliz que remeteu-nos ao uso de fantasias mal arrumadas para festas temáticas sem noção. 

Infelizmente, não tenho nenhuma cópia sequer dessas fotos promocionais, para publicar aqui. Os negativos ficaram com a gravadora. 

No caso do encarte, as fotos foram aproveitadas, justamente porque foram closes dos rostos, com alto contraste de luz e sombra, sob uma proposta do Carlão, ao visar buscar inspiração explícita no álbum, "With the Beatles", um clássico referencial nessa concepção de rostos obscurecidos por sombras. 

Sobre o cão pitbull que aparece na capa principal, vestido como astronauta e no encarte interno ao natural, na verdade esse animal se tratava de uma fêmea da espécie. Tal cadela, era chamada como: "Miss Bull Orioli". Não recordo-me ao certo, mas creio que as fotos da cadela foram fruto da produção de campo da própria Marina Yoshie, que conhecia o dono do animal.

Todo o texto do encarte foi escrito por eu mesmo e traduzido para o inglês, pelo Deca. Eu também tive crédito por ter sido o responsável pela inspiração toda da atmosfera sessentista que norteou o lay-out e por ter acompanhado a sessão de masterização do álbum. 

O meu "exército Neo-Hippie" também ganhou menção na lista de agradecimentos, creditados como: "time de adolescentes do Luiz". 

Sobre a masterização, eu realmente fui o único representante da banda, no estúdio do Egídio Conde, em uma manhã de outubro de 1996.

Mas em nada contribuí para o processo, pois por ser um procedimento técnico e cujo caráter digital era inteiramente novo para a minha compreensão na ocasião, a minha ajuda foi a de manter-me quieto o máximo que pude, para não atrapalha-lo. 

Nos poucos momentos em que conversamos, disse-lhe que o acompanhara nos anos setenta, ao prestigia-lo a tocar com bandas de alto calibre artístico como o "Moto Perpétuo" e "Som Nosso de Cada Dia", e de fato, o Egídio fora um ótimo guitarrista para essas duas bandas. 

Ele ficou muito surpreendido por eu saber dessas particularidades de sua carreira e respeitá-lo por isso. Ora, certamente que ele não conhecia-me e não poderia supor que eu mantivesse essa minha vivência Rocker setentista, mas chega a ser irônico de certa forma, para quem está a ler a minha autobiografia, pela obviedade da informação.

Outra ideia que eu tive e foi aprovada por todos, foi a da inclusão de uma citação a um "guru" indiano. A minha intenção não foi fazer pilhéria, mas sim homenagear as bandas sessenta-setentistas, das quais muitas, detinham um "guru" indiano que seguiam, admiravam etc.

Mas claro, foi o ambiente padrão do Pitbulls on Crack e o Chris Skepis sugeriu de imediato um nome indiano com duplo sentido, que foi aprovado pelos demais em aclamação!

Teve que vencer a opção pela galhofa, como marca registrada da verve humorística dos três e assim, foi grafado (em inglês): "Toda a glória para o nosso Guru Indiano, Batumahapa Grandhi". Acho que explicar o sentido malicioso desse nome fantasia, não é necessário.

E também concordamos em dedicar o disco ao Arnaldo Baptista e por sugestão do Chris, o designamos pela grafia brincalhona com a qual, ele mesmo, Arnaldo, costumava usar, para ser lida com a fonética em inglês: "R Now Do".

Cabe acrescentar que o Arnaldo foi convidado para participar da festa de lançamento do CD, mas recusou o convite por motivos particulares. 

Mesmo assim, ele foi simpático ao receber um Kit da lata, como um presente de nossa parte e retribuiu, ao dar-nos quatro camisetas com pinturas suas, feitas a mão. Usei a minha no show e em muitos outros shows de outras bandas por onde passei, doravante. 

Ao finalizar, todo o lay-out seguiu o padrão do aparato de lançamento (na verdade, o contrário), com bastante motivação psicodélica, citações à Pop-Art e foguetes espaciais ao estilo Apolo 11, além é claro, da presença da cadelinha pitbull. Crédito total e mérito de Marina Yoshie, por isso tudo.

Eu ainda usava aquele apelido que fazia menção à minha origem lusitana, portanto nas fotos, estou assim designado. Sobre o livro inserido dentro da lata, falo a seguir.
Sobre o livro que acompanhou o aparato da lata, claro que seguiu toda a temática inspirada nessa ode aos anos sessenta. Creio que foi o maior ponto de apoio que eu, particularmente, tive para tentar manter um mínimo de seriedade ao conceito todo, pois além da disparidade musical entre a proposta e o som da banda (incluso, letras, também), a inclusão de um monte de bugigangas dentro da lata, mais chamava a atenção pelo inusitado, mas não necessariamente houve uma ligação entre si e principalmente à célula mater, que fora o conceito.

É discutível, portanto, nesse sentido a inclusão de um pacote de sopa, e um chaveirinho da Coca-Cola, supostamente a insinuar a Pop-Art sessentista. Bolinhas de gude, poderiam remeter à infância vivida naquela década, com a sugestão desse tipo de brincadeira prosaica, mas foi algo muito vago e certamente sem conexão com a contracultura, flower power, ou movimentos correlatos de ordem estéticos ou sociopolíticos daquela década. 

O mesmo raciocínio para a mola, que foi chamada como "psicodélica" na propaganda, mas na verdade, mesmo sendo bem colorida, não caracterizava tal atributo, por ser apenas um brinquedo infantil sem apelo algum com o mote. Deu para entender a inclusão de um pacote de ração para cães, por conta do nome da banda citar a raça canina, Pitbull, mas outros itens, nada tiveram ver com o conceito sessentista, necessariamente.

Diante dessa panaceia e tirante a inclusão de um pacote de incensos indianos e uma vela, onde sugerir-se-ia que fosse acendida durante o show de lançamento, acredito que o livro, pelo seu teor das temáticas abordadas, foi mesmo o item incisivo nesse aspecto. 

A tal "carteirinha de Hippie-Mor" não agradou-me, pois eu sabia de antemão que tornar-se-ia um alvo fácil para os detratores de plantão, sendo possivelmente alvo para piadas prontas. A inclusão de um ingresso para o show de lançamento do CD, nas latas vendidas até a data, foi uma boa medida de marketing, mas em termos de conceito, foi neutro, acredito. 

Portanto, na força do texto desse livro, residira o único elo de seriedade para tratar a temática e mais uma vez, eu contribuí bastante, tanto no direcionamento editorial, quanto através da elaboração de textos, propriamente ditos. 

O editorial oficial, no entanto, foi escrito pelo diretor do selo Primal, subordinado da gravadora Velas. Foi ideia de Rodrigo P. Martins, filho de um dos donos da Velas, o poeta/letrista, Victor Martins, parceiro de Ivan Lins em muitas composições famosas na MPB, e Ivan era um dos sócios da Velas, também. Eis a transcrição literal do que ele escreveu:

A comentar as colocações feitas em forma de editorial por parte do Rodrigo Martins, digo que gostei de seu raciocínio. A síntese do que achei mais significativo em sua explanação, veio no final do texto, quando ele afirmou que tínhamos uma transição de milênio alvissareira, justificada pela própria capacidade da Pop-Art para recriar-se, portanto, ele afirmou enxergar nesse projeto, algo além da homenagem, saudosismo retrô, ou lágrimas derramadas por um passado que não volta mais. 

Era exatamente o que eu pensava e buscava, pessoalmente, mas que só fui aproximar-me mesmo, através do projeto Sidharta, que aconteceu depois que saí do Pitbulls on Crack em 1997 e posteriormente alcancei através da fusão do Sidharta com a Patrulha do Espaço (leia tudo a respeito, detalhadamente, nos respectivos capítulos dessas duas bandas por onde atuei). 

Curioso apenas, o fato de que ele, Rodrigo, nunca verbalizou-me tal pensamento seu. Só ao ler seu editorial, tomei conhecimento de sua visão sobre o conceito todo.

Por outro lado, as suas atitudes no cotidiano ao contratar bandas orientadas por estéticas antagônicas, demonstrara que o ideal não foi algo vital para ele, artisticamente a falar e que o lado comercial em ter que gerir um selo com pressões por resultados financeiros imediatos, norteara os seus esforços. Não cabe nenhuma crítica pessoal nisto que afirmei acima, mas apenas uma constatação concreta.  

O segundo item do livro, foi a descrição sumária dos produtos que constavam na lata. Tal elaboração do texto foi feita pelo marqueteiro da gravadora e justiça a ser feita, o grande viabilizador do aparato ter materializado-se, o senhor, Alexandre Madeira.

Neste caso eu não tenho nada a comentar, pois foi uma descrição meramente em formato de bula, como sugeriu o subtítulo. 

A seguir, eis que um micro histórico da banda foi sugerido-me para ser publicado, e eu senti-me muito incomodado, eticamente a falar, em ter que assinar tal texto. Portanto, o assinei sob o pseudônimo de: "Zeca Flocos", para homenagear um dos jornalistas/críticos de Rock mais divertidos que eu conheci, chamado: Ezequiel Neves, que também usava a alcunha de: "Zeca Jagger".

A despeito do pseudônimo engraçado, a citar Ezequiel Neves de uma forma subliminar, esse super resumo da carreira da banda até então, cumpriu a sua função, sem nenhuma intenção de fazer graça, como certamente, Zeca Jagger o faria. 

O próximo texto também foi de minha autoria, e o pseudônimo que usei, diferente do anterior citado, foi o de Tony Bauducco. Ao contrário de "Zeca Flocos", que eu usei somente para esse trabalho, Tony Bauducco já existia como uma opção de pseudônimo, desde 1994, quando o criei para assinar três resenhas em um fanzine chamado: "In Rock Signo Vinces", como convidado de seu editor. 

Existe uma longa explicação sobre a criação desse pseudônimo e que encontra-se disponível nesta autobiografia, no capítulo: "Sala de Aulas". Vale a pena ler, pois Tony Bauducco teve uma razão de existir.

Confesso, fui bastante incisivo nesse texto, mas modéstia a parte, muito coerente com a questão da temática que queria implementar para a banda. A alfinetada explícita na mentalidade pós-1977 deu-se no trecho: ..."tantas correntes, tantas influências e uma só amálgama: a música melodiosa, legado máximo dos anos 1960 & 1970, que há muito tempo foi deixada de lado no Rock". 

A frase final também é significativa: "talvez esteja aí a grande homenagem que a banda presta aos seus grandes ídolos dos anos 1960, ao resgatar a melodia para o Rock" Ou seja, a opção pela música tosca como uma bandeira estética proposital, gerou um estrago ao meu ver.

O próximo texto, falou sobre a questão da Era Espacial, ao tentar estabelecer um elo entre a corrida espacial, pelo lado do avanço científico, a guerra fria, que impulsionou tal esforço da parte das duas super potências para tal e o lado lúdico do sonho, que sempre move a imaginação, portanto leva o mundo para o avanço. 

E como um membro da geração, "Baby Bloomer", que sou, claro que essa faceta da década de sessenta também soa-me simpática. Usei outro pseudônimo lúdico de minha infância: Louis Smith Robinson". Estabeleci, neste caso uma livre expressão "anglo-americanizada" para o meu nome, Luiz, ao traduzi-lo para "Louis" e acrescentei o sobrenome duplo: "Smith Robinson". 

Com isso, a minha homenagem ficou prestada aos personagens do Dr. Zachary Smith, e Will Robinson, de "Lost in Space" ("Perdidos no Espaço"), uma das séries de TV que mais influenciou-me na década de sessenta pelo aspecto lúdico, certamente.

O próximo assunto extrapolou o conceito de arte simplesmente e foi além do item cotidiano. Sendo fundamental para entender-se toda a magia sessentista, a questão da contracultura, de onde mil ramificações das mais variadas motivações descende, fez-se mister para ser entendida, a dar substância ao mote geral deste conceito do disco e de seu aparato. 

Claro, ao elaborar um texto conciso e coloquial, estabeleci um apanhado geral sobre a contracultura como um todo e ao final lancei uma pergunta emblemática: "por que não sonharmos novamente?"

Tal indagação teve a força da indignação de quem nunca conformou-se com o surrado conceito de detratores da Era Aquariana e que usaram a frase: "O sonho acabou", para referir-se ao movimento hippie, com desdém. 

Depois de anos, esteve patente que se o sonho morrera como tanto queriam (e trabalharam incisivamente para concretizar, pela formação de opinião a desgastá-lo), o pesadelo advindo, jamais valeu a pena e que voltar a sonhar seria, portanto, uma mera questão de se querer sonhar novamente, como uma expressão livre. 

Como uma semente, tal conceito ficou registrado no livrinho. Tal texto foi assinado por um último pseudônimo que criei, chamado: "Tim Lee" e que foi uma evidente referência ao Dr. Timothy Leary, o chamado "guru" da contracultura sessentista.

Por fim, o professor de faculdade de Marina Yoshie (Wilton Azevedo), colaborou com um sucinto texto sobre a Pop Art, focado em Andy Warhol. Tal texto foi montado com frases que ele mesmo escrevera em seu livro, chamado: "Os signos do Design".

Gosto do texto todo, e em especial da frase final, onde ele diz: "o Pop influenciou a massa, e Warhol deu à mesmice, a visão e o sentido erudito de quem aprecia árvores em um bosque".

Ainda a constar do encarte, há quatro fichas individuais dos membros da banda. Mediante informações que eles forneceram-me, e eu mesmo escrevi a ficha de cada um, incluso a minha, mas sem assinar nada, ao assumir a característica institucional do encarte. Sem nada muito significativo a comentar, tais fichas seguiram o padrão de press-release de gravadoras para alimentar os órgãos de imprensa.

Para fechar, duas páginas foram reservadas para a ficha técnica específica do livro, em que a Marina Yoshie foi creditada pela produção gráfica, a banda e a gravadora pelo conceito, Alexandre Madeira pela supervisão de produção e toda a equipe da Primal foi citada. 

Também foram publicados os logotipos dos patrocinadores do aparato da lata e uma página inteira foi dedicada à Coca-Cola, que foi a patrocinadora master do projeto. 

Essa foi a concepção e execução do livro que acompanhou a lata e posso afirmar, foi o item mais robusto, artisticamente a falar, que deu amparo ao CD, dentro desse aparato de divulgação do produto. Ao ir além, a se tratar de um dos poucos itens dessa ideia tresloucada toda, no qual houve uma seriedade e profundidade para tratar do conceito todo que eu sonhara imprimir.

    Show no Olympia - outubro de 1996 - Click de Marcelo Rossi
E sobre o CD em si, traço agora uma breve resenha sobre o material musical que gravamos. 
Como não poderia ser de outra forma, o disco inicia-se com a locução clássica do lançamento da “Apolo 11” em 1969:. -“ten, nine, eight, seven, six, five, four, three, two, one… fire! We Have a Lift offI” 
Esteve justificado o título do disco e todo o mote especial por conseguinte com tal vinheta obtida da história real.

"Winding Moon" ( Chris Skepis)

Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Ak3wmq2e3QM

A primeira música, Winding Moon, tem uma feição Glitter-Rock setentista bem acentuada, mas acredito que graças aos fraseados de baixo que eu criei, bem em cima da escola clássica cinquentista. Talvez não tivesse tal característica se um outro baixista com mentalidade diferente a tivesse gravado. Dessa forma, parece uma canção “outtake” de algum álbum do David Bowie ou “Mott the Hoople”, dos anos setenta. 
Acho que o mapa dessa canção tem um equívoco, quando força uma repetição da parte A, ao torná-la longa em demasia. Se não fosse por isso, teria dado o seu recado, bem melhor. 
Gosto das intervenções bem no estilo do Rock’n' Roll clássico, feitas da parte do Deca, super Glam-Rock anos setenta, também, embora ele tivesse incluído alguma modernidade em outros trechos, como por exemplo certos acentos percussivos a explorar o reverber natural do amplificador, bem a seguir a moda de guitarristas então “modernos”, dos anos noventa. 
A voz do Chris Skepis lembra bem o estilo de interpretação do Alice Cooper e ainda mais a se mostrar ultra processada por paramétricos, daquela forma. 
Usei o baixo Fender Precision e pareço o Trevor Bolder a tocar com o “Spiders from Mars”. Usei e abusei de bicordes nessa linha de baixo. 
A lamentar-se, a captura muito equivocada dos timbres das peças da bateria. Parece uma caixa de sapatos e é uma pena, porque o Juan Pastor criou uma linha com efeitos tribais sobre os tons e isso prejudicou-se muito com um som tão aquém em termos de áudio. 
Gosto da letra, que versa veladamente sobre a loucura. Destaco a frase: “Now, it’s time for my cozmic trip”.
"Dead News" (Chris Skepis)
Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=IKjqQ9per_0  


“Dead News”, a segunda faixa, é baseada em um riff orientado pelo “Acid-Rock” sessentista, explícito. Parece super sessentista em essência, mas eis que um maldito reverber, ultra exagerado na caixa da bateria faz com que fiquemos amarrados aos anos oitenta, lastimavelmente. Que mania desses produtores que gostavam dessa pasta oitentista horrenda e nesse caso, foi o ônus que levamos pela mão de ferro exercida pelos responsáveis pela mixagem e da qual não conseguimos dobrar, na queda de braço. 
O solo de guitarra do Deca é muito bem feito, a usar “Wah-Wah” e contém um final interessante a explorar tal efeito, também. 
Não sei aonde eu estive com a imaginação por não ter usado um Fender Precision nessa faixa com uma sonoridade a lembrar o som de Jimi Hendrix. Mas o Rickenbacker deu certo, afinal de contas. Nesse caso, foi como se o Roger Glover estivesse a atuar no “Experience”, ao invés de Noel Redding, digamos assim. 
A letra é ultrajante pelo sarcasmo, ao brincar com o fato de uma pessoa estar a ver o noticiário na TV e ao absorver o noticiário policial mórbido, mas reconheço, muito criativa. O que dizer de uma frase que afirma: the murdered star ain’t no Jerry Lee Lewis, Don’t turned it off, it’s all fun, Michael Jackson joined the Ku Klux Klan”... (?)

"Ups and  Downs" (Chris Skepis/Deca)
Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Fq7QB4_0D2E


Sobre “Ups and Downs”, digo que gosto bastante do riff criado pelo Deca. 
A melodia que o Chris criou também é bastante agradável. Bem, lembra bastante o estilo básico dos “Rolling Stones” e nesse caso, não houve como não dar certo, inclusive no belo solo a la Ron Wood. 
Eu acertei na escolha de baixo, creio, mas o áudio da mixagem não favoreceu em nada o meu Fender Jazz Bass. Está bem “flat”, no mau sentido do termo. E um baixo desses quando bem timbrado, não fala, ele grita!

"The Dying Day" (Chris Skepis)
Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=sxymmOZxeQc
E esta versão acima é de um "promo" produzido por Jani Santana Morales, ao usar fotos da banda por ocasião do lançamento da canção, em 1996. Ouça o áudio oficial da música ”The Dying Day”, através do link abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=AVsYbhPSMeg&feature=youtu.be
E já que falei dos Rolling Stones, a quarta faixa é ainda mais explicitamente ao estilo da mega banda dos “Glimmer Twins”. 
Sob uma bela harmonia e com ótima melodia, tal balada chamada: “The Dying Day”, é uma das minhas prediletas do álbum. 
O arranjo é pleno de acertos em minha avaliação, com muitos detalhes memoráveis. As intervenções dos contra-solos feitos pelo Deca, são belíssimas, mais uma vez a relembrar o estilo do Ron Wood e também do Mick Taylor, de certa forma. 
O uso de delicadas intervenções com harmônicos em vários trechos, são incríveis, a destacar-se que mais uma vez o Deca fez acentos percussivos “noventistas”, para dar um ar de modernidade em contraponto à balada com sabor setentista. 
A base de violão batido exercida pelo Chris, é simples, mas além da sua funcionalidade contém a beleza que sustenta a balada. 
O meu baixo nessa faixa é o Fender Jazz Bass e o seu registro grave, ornou de uma forma condizente. 
Nessa faixa, o baterista do “Angra”, Ricardo Confessori, gravou a bateria com muita classe, embora a respeitar o arranjo, sem grandes voos, no entanto. Por conta de sua fama naquele mundo do Heavy-Metal, tal participação foi destaque em muitos fóruns sobre ele e o “Angra” em várias publicações internacionais especializadas. Vimos até em revistas japonesas comentários sobre isso. 
E houve igualmente um super destaque para o outro convidado especial, Johnny Boy, que criou de total improviso um arranjo sensacional ao piano e com um balanço incrível, ao parecer o Nicky Hopkins a tocar com os Rolling Stones, sem dúvida alguma. 
De fato, parece mesmo uma canção dos Rolling Stones e proveniente daqueles álbuns memoráveis que tal banda gravou na década de setenta. 
Em todo o disco, o sotaque do Chris é hiper britânico, ao estilo “cockney”, mas nessa faixa, escancarou-se de forma absurda. É um autêntico crooner inglês a cantar com aquela forma de pronunciar palavras com o uso da fonética a pronunciar a sílaba W + A ou Y + A, ao abrir a sílaba, quando pronuncia, “Auei”, ao falar “Way” (“uei”), por exemplo... super David Bowie, portanto. 
Importante destacar igualmente, os backing vocals em efeito vocalise, que o Chris criou, que são sensacionais, ultra Rolling Stones. A causar estranheza diante de tanta beleza, o teor da letra, mas digamos que foi a porção Alice Cooper que o Chris sempre trazia (traz) junto consigo no bojo de sua criação.
Outro detalhe a ser mencionado, no encarte, a letra dessa música não fica junto às demais canções do disco, mas está no fundo do espelho, onde o CD fica guardado.
"The Shadow of the Light" (Chris Skepis)
Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=eOXv-TaExHk 

Outra faixa que eu gostava muito de tocar ao vivo e estava no repertório da banda, desde 1992, “The Shadow of the Light” foi uma das peças mais psicodélicas do nosso repertório, para não dizer a única, visto que “Candle Light” detinha um sabor sessentista, igualmente, esta pelo seu apelo Folk-Rock. 
No caso de "The Shadow of the Light", eu sentia-me a tocar no “Grateful Dead” em algum “Acid test” dos anos sessenta, toda vez em que a toquei ao vivo. 
Com uma bela levada, harmonia boa e uma melodia bem Pop, tem um refrão forte (e que lembra a canção, “Dark Horse”, do George Harrison). 
A nossa ideia inicial para utilizar uma cítara indiana foi frustrada pela nossa ignorância na época, por não sabermos que existem restrições harmônicas para conciliar tal instrumento oriental com a harmonia tradicional ocidental, mas a inclusão da Tamboura, um instrumento indiano menos invasivo, deu muito certo em nosso afã para trazer um elemento bem sessentista para a sonoridade dessa canção e nesse caso, o hoje saudoso, Marcus Rampazzo, auxiliou-nos e abrilhantou o disco, sem dúvida. 
Nessa faixa, o Deca alucinou de vez. O espírito de Ritchie Blackmore incorporou-se nele, ao gravar uma guitarra ensandecida, quase durante o tempo todo da duração da canção. 
A participação de Johnny Boy a tocar órgão Hammond é espetacular. Também na base do improviso total, a luz vermelha do estúdio acendeu e ele criou tantos desenhos “swingados” e com um tipo de equalização de draw bar tão perto da sonoridade do grupo norte-americano, “The Allman Brothers Band”, que só por esse detalhe a fez com que faixa valha muito a pena. 
Por uma questão de choque de frequências, há certas frases do órgão que soam como se fosse um solo de flauta. Parece que chamaram o Thijs Van Leer para tocar escondido lá no fundo da sala, para fazer solos viajantes. 
Ao final, a percussão de Will Carrara entra com bastante molho. Acho até que as congas deveriam ter entrado antes no arranjo, de tão interessante que ficou a sua inserção. Usei Fender Jazz Bass e soltei meu lado Motown/Stax, ao fazer fraseados ao estilo da Black Music clássica. Sou o Donald “Duck” Dunn a tocar com Otis Redding nessa faixa, quem me dera! 
O ponto negativo ficou por conta dos timbres horríveis da bateria e o efeito “trigado” nos tons e caixa que faz com que as viradas feitas a usar notas colcheias e semi-colcheias pelo Juan Pastor, soem como ruído de vídeogame. É um show de horrores o que os técnicos fizeram na mixagem nesse aspecto.
"Never Mind" (Chris Skepis)
Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=LurbhaDzdwI 

“Nevermind” foi uma canção emblemática para o Pitbulls on Crack e reveladora também. Ao mesmo tempo em que a banda ganhou uma aura sessenta-setentista ao longo do desenrolar de sua carreira, tal canção marcava território para nos fazer lembrar que a despeito de qualquer devaneio nosso e principalmente de minha parte, o que a banda foi na verdade, revestira-se de um cunho indie noventista. 
Gravá-la foi obrigatório portanto, pela sua importância nos shows desde o começo da banda, em 1992. 
O refrão a causar a estranheza onomatopaica gerava reações nos shows tanto quando a frase lapidar que o Chris usava em todos os shows ao início ou término dessa canção: -“não tem nada a ver com o “Nirvana”. De fato, não tinha, na intenção do seu título que coincidia com o famoso álbum de tal banda norte-americana e mega superestimada pela mídia, mas por outro lado, mostrara o lado indie da nossa banda, portanto, teve a ver, ainda que subliminarmente com o tal do Nirvana.
Sobre o instrumental dessa faixa, mais uma vez o Deca alucinou com muitos ruídos proveniente das alavancadas desferidas em sua guitarra Fender Stratocaster. 
A linha de baixo é extremamente simples, condizente com o espírito da canção, mas pelo fato do baixo atuar sob ausência de frases quase o tempo todo, ao permanecer na repetição contínua, dá para sentir um timbre de Fender Precision, fidedigno. O famoso “estalo” do médio-agudo desse modelo está ali audível através da palhetada proeminente. 
Essa faixa ficou com sérios problemas de andamento, infelizmente. O “freio de mão” foi puxado várias vezes no decorrer da canção ao torná-la inadequada. 
Gosto, no entanto, das guitarras com bases limpas e violões “sombra” bem escondidos no fundo da mixagem.
"Down at the Hellhole" (Chris Skepis)
Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=ogxsAuZJjBY


“Down at the “Hellhole”, parece um Hard-Rock a La “Aerosmith”. Contém um robusto riff de guitarra, órgão Hammond proeminente e uma melodia bem clássica, nesse sentido. 
Teoricamente eu escolhi errado o baixo a ser usado para uma faixa dessa característica, mas a despeito de ter sido mais conveniente usar o Fender Precision, o Rickenbacker ficou bonito. Dessa vez o espírito de Angus Young foi que baixou no Deca... só faltou ele sair a correr com uma mochila escolar pendurada nas costas...
"Candle Light" (Chris Skepis)
Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=SwbBAHfuy3s

Outra música que tínhamos desde 1992, foi “Candle Light”. Um misto de Folk com psicodelia, detinha ares místicos e misteriosos, além de ser uma canção bem bonita ao meu ver. O uso de vários violões e o exótico, “Buzuki”, um instrumento de cordas do folclore grego, deu-lhe uma atmosfera bem Folk. Gravei com Rickenbacker e acho que acertei em minha escolha. 
As intervenções de percussão do convidado, Will Carrara, foram ótimas. Com bongô, pandeirola e carrilhão, creio que ajudou muito para a canção ficar sofisticada em seu arranjo. E o sintetizador de Johnny Boy, com a locução da voz do Chris Skepis bem alterada sob uma forma fantasmagórica mediante o uso exagerado do efeito “pitdown” (no início da canção), foi como dizia o Chacrinha: “eu vim para confundir”, pois se o ouvinte esperava a entrada de um Heavy-Metal como seria de supor-se com tal introdução “macabra”, "se enganou meu bem, pode vir quente que eu estou fervendo!"
Destaque também para o belo solo do Deca em escalas “árabes” (modo mixolídio?).
"Overload" (Chris Skepis)
Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=ML9ZfTnFey4

A canção mais complexa desse disco, foi sem dúvida, “Overload”. Não foi o propósito do Pitbulls on Crack, certamente, mas é quase um “Rock Progressivo”, dado o seu desenrolar com várias partes, sob uma espécie de suíte ali montada. 
Lembra certamente canções mais sofisticadas do David Bowie, notadamente as arranjadas pelo pianista, Mike Garson nos discos: “Aladdin Sane” de 1973, e “Diamond Dogs”, de 1974. 
Sobre a parte “C” dessa música, o Chris confidenciou-me que inspirou-se em uma cena do filme “Casanova”, de Federico Fellini (aquela em que o personagem título entra em uma estranha casa de ópera). 
Em alguns trechos o Chris a gravou sem o processador que permeou o disco inteiro, praticamente e a sua voz a soar em registro grave, ficou bem interessante. 
O meu baixo foi o Rickenbacker para compor essa canção e algumas frases mais exageradas lembram muito o estilo do baixista, Gary Thain, certamente ajudado pelo fato de certas cadências harmônicas lembrarem o som do “Uriah Heep”. 
Gosto das intervenções aos teclados do Johnny Boy, além de bases de guitarra com flanger e chorus, a causar efeitos fantasmagóricos. 
E a parte final é muito em torno da atmosfera do som de David Bowie, teatral ao extremo. Dá para imaginar o Chris a fazer uma performance de mímica, com aquele olhar vidrado, a mirar o infinito, como o mestre camaleão o faria... enfim, trata-se de uma das melhores canções do disco e mesmo que tenha sido tocada pouco ao vivo, é uma em que orgulho-me de ter gravado.
 
"Death on the X-Mas Day" (Chris Skepis)
Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=4qO-aCYPyYs

Death on The X-Mas Day” é um Rock bem vigoroso, novamente versado´pelo estilo do “Aerosmith”. Mediante o uso de slide guitar rasgada e andamento rápido, conta com um piano super Rock’n' Roll com o sabor cinquentista, nas melhores tradições de Jerry Lee Lewis, executado da parte do ótimo Johnny Boy, nosso convidado. 
Usei o Fender Jazz Bass e gostei do grave que consegui obter. Fender Precision teria sido a escolha mais lógica para essa canção, mas eu fiquei contente com o Jazz Bass. 
E o Johnny Boy, foi na mesma toada em que gravou as demais faixas, em sua participação, ou seja, tudo na base do mais puro improviso ao estilo: -“como é a próxima?? ah, Rock’n' Roll? certo, pode por para gravar”... "play and record" e pau na máquina, em uma tomada só, sem errar e a criar frases incríveis... ou seja, algo só para os fortes, mesmo. Fator que entusiastas do Punk-Rock nem em sonhos conseguiriam, não acha, “véinho?”
E a letra da música evocou filmes de terror modernos, desses baseados em psicopatas obcecados pelo uso de torturas inimagináveis e sem explicação plausível alguma, a extrapolar o conceito do sadomasoquismo puro e simples...
You've Got on the Run" (Chris Skepis)
Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=n1jkQBlr3xU


“You’ve Got on the Run” foi uma outra canção surgida nos primórdios da banda. Ela detém um potencial Pop, sem dúvida, e acertadamente ao meu ver, a gravamos sob um andamento bem mais lento do que a tocávamos ao vivo. 
Sobre a canção em si, a despeito disso, creio que a sua aparência era bem noventista, como ”Nevermind”, a mostrar bem o que foi o Pitbulls on Crack, realmente, sem subterfúgios. 
Will Carrara adicionou uma percussão agradável na forma de um bongô e há uma sombra de teclados sutil feita pelo Johnny, que dá um certo “ar” de música caribenha (é muito sutil mesmo o que estou a insinuar). 
Infelizmente, essa canção também apresenta problemas sérios de andamento e a impressão é que a banda a conduziu como um motorista na estrada a pisar no freio a cada placa que o avisara sobre haver um radar à frente...
"Plastic Surgery Brain" (Chris Skepis/Deca/Juan Pastor/Luiz Domingues)
Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=VW8sZgkXu0s

Para fechar o disco, eis que gravamos uma inusitada música que não fora uma composição somente do Chris Skepis, mas creditada a todos, fruto de uma Jam-Session realizada em sala de ensaio. 
E nesse espírito, sem ser uma música pré-concebida como todas as que o Chris trazia-nos prontas de casa, a gravamos com uma dose generosa de improvisações. Tratou-se de: “Plastic Surgery Brain”
Ivan Busic, baterista superb, a gravou e claro que com a sua categoria, abrilhantou o nosso disco. Mesmo com a sua pegada de baterista hiper técnico que era (é), os timbres deixam a desejar e claro que isso não foi por sua culpa. Realmente a captura do som de bateria foi um ponto falho nesse disco. 
Johnny Boy improvisou com o piano e intervenções ao sintetizador. O som de “sinth” que escolheu remeteu a timbres “modernosos” dos anos oitenta, que eu não gosto, mas as suas frases foram muito boas, é claro. 
A canção é razoável, mas repetitiva dentro de um quadrado harmônico, portanto, na minha opinião, deveria ter sido encurtada. 
Usei o Rickenbacker, mas não explorei as frases que o Ivan Busic fez e hoje arrependo-me por ter sido tão parcimonioso, pois se eu tivesse dividido as frases junto com ele, teria sido melhor para a canção, visto que não havia a menor intenção de que essa faixa fosse tratada para ser Pop radiofônica como ofício. Portanto, a livre criação deveria ter sido observada de minha parte. 
Gosto do efeito inusitado com o seu final abrupto, a simular o fim da fita no rebobinador e de fato, o combinado foi esse mesmo, pois foi mesmo o fim da fita e a ideia foi seguir a tocar, até ela acabar verdadeiramente e a desenrolar-se do carretel da máquina, para aproveitar o ruído natural dela na máquina, a sair da bobina.
E assim foi... We’ve have a lift off…

Volto à cronologia dos fatos, no próximo capítulo.

Continua... 

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