Com a falta de bateristas na escola, ele indicou um primo seu, chamado, Francisco Sérpico, que morava na zona leste de São Paulo, e que estava a desejar aprender a tocar. Osvaldo Vicino foi o iniciador do processo de criação da banda, portanto.
Ele cursava a oitava série no colégio Maria Antonieta D'Alckmim Basto (antigo Grupo Escolar da Vila Olímpia / Ginásio Estadual da Vila Olímpia), na Vila Olímpia, zona Sul de São Paulo, no ano de 1976, quando conheceu-me e tornou-se meu amigo, e era também um apaixonado pelo Rock, naturalmente como eu. Sendo ambos inveterados ouvintes do programa radiofônico, "Kaleidoscópio", e leitores da Revista, "Rock, a História e a Glória", logo tornamo-nos amigos e sendo assim, manifestamos a intenção em criar uma banda de Rock. Essa foi a semente primordial do Boca do Céu, com o Osvaldo a assumir o posto de guitarrista; vocalista, e compositor. Coube-me tornar-me o baixista da banda, pois eu não sabia tocar nenhum instrumento musical, tampouco detinha dotes vocais. Portanto, sob um esforço cooperativo, Osvaldo propôs-se a ensinar-me o "be-a-bá" da teoria musical e alguns exercícios iniciais ao instrumento, para que eu aprendesse e começasse o meu lento desenvolvimento.
Na ordem das fotos acima, Deep Purple; Mutantes e Nektar, três bandas que o vocalista, Bernardão "Janjão", apreciava na época
Chamamos um outro colega da escola para ser o nosso vocalista, o Bernardo, vulgo Bernardão (que também ostentava o apelido de: "Janjão"), pelo porte avantajado (era um garoto muito forte para os padrões de quem tinha de quinze anos de idade, apenas), mas a sua experiência constituía-se somente em de cantar no chuveiro, e achar que acompanhava com desenvoltura o vocal, junto aos cantores de grandes bandas junto aos discos do "Deep Purple"; "Nektar" e "Mutantes", grupos que ele gostava. Eu conhecia-o desde 1974, mas foi em 1975, que tornamo-nos amigos, quando estudamos na mesma classe, a "Sétima C", quando na condição de repetente, eu estudei pela segunda vez essa específica série, como se tivesse sido "rebaixado" para a segunda divisão, anteriormente em 1974...
O Bernardo “Janjão” era um rapaz muito forte e o seu porte físico era muito maior que o dos meninos de sua idade. O seu temperamento era sossegado, normalmente, embora em momentos tensos, ele não deixasse de usar a sua força para impor-se, e esse tipo de tensão entre meninos dessa idade, é uma questão quase diária, pela explosiva mistura: hormônios em ebulição x imaturidade. É raro um garoto dessa ideia e mentalidade não "sair no braço", nem que for por "brincadeira"... e por ter esse porte de "lutador", o seu segundo apelido óbvio, era "Bernardão".
Musicalmente, ele gostava de Mutantes; Deep Purple & Nektar em primeira instância e outras tantas bandas setentistas em voga, na época. Mas as três que citei inicialmente foram no caso, as suas prediletas, além do “Grand Funk”. Lembro-me de termos ido juntos ao show do “Rick Wakeman”, em dezembro de 1975, no ginásio da Portuguesa de Desportos, e com mais um amigo nosso em comum, chamado, Mário, que era aluno da nossa classe, também. Isso reforçara a nossa vontade para termos uma banda de Rock, real. Ele queria muito fazer parte de uma banda, mas tinha a típica dificuldade muito comum dessa época, ou seja, era raro quem já tocava algum instrumento e mais raro ainda, quem possuísse um instrumento, ainda que de segunda ou terceira linha. Mas, arvorava-se em ser cantor, ainda que sem nenhuma noção musical, pelo simples fato de gostar de cantar no chuveiro ou por cima dos discos de bandas que gostava de ouvir.
Naquela circunstância, onde somente o Osvaldo detinha uma noção básica, o fato do Bernardo não saber nada sobre música, não foi uma barreira inviabilizadora para ele. Além disso, a nossa ingenuidade juvenil era tão grande, que esse "detalhe" não incomodava-nos absolutamente em nenhum aspecto. Pelo contrário, ficamos contentes com a perspectiva em termos um novo membro na banda e de fato, pelo companheirismo que tínhamos entre os três, a presença dele nas reuniões ou simulacros de ensaios, foi importante e fator de animação para todos. Se posso enxergar méritos, claro que o fator "força de vontade", tem que ser elogiado. Ele queria e tinha gana nessa determinação em buscar o seu objetivo. Mas, até a "página dois", pois logo vimos que a vida cobrou-lhe outros rumos, e do mesmo jeito que entrou com essa vontade toda, saiu e não deixou vestígios. E um sinal prévio, deu-se quando ele cortou o cabelo radicalmente, da noite para o dia e isso, no imaginário do Rocker setentista típico, fora o equivalente a um ato de traição, praticamente.
Ele gostava de usar um sobretudo chic, que era moda entre Rockers daquela época, ao querer respirar ares europeus, e convenhamos, as estações de outono/inverno naquela época em São Paulo, eram muito geladas e ao contrário dos dias atuais onde as ondas de frio são rápidas, era cabível usar roupas pesadas por bastante tempo, além do fato de que a garoa era forte, toda noite. Nós nunca ensaiamos para valer, com o Bernardo a cantar no uso de um microfone e ligado em um equipamento de P.A., mínimo que fosse. Isso por que no tempo do Bernardo, nós ainda não havíamos oficializado um baterista e eu não reunia condições mínimas para fazer um ensaio, de fato, porque estava a engatinhar nos primeiros exercícios, em uma fase muitíssimo preliminar de aprendizado. Depois que deixou a banda, nunca mais tive notícias dele. Fiquei com a lembrança de um colega leal, muito extrovertido, que gostava de cantar e usar "sobretudo", mesmo em dias não tão frios assim, e com aquela cabeleira setentista típica, enorme, até o meio das costas, que incomodava as irmãs mais velhas do Osvaldo, que achavam esse visual "démodé", ali na virada da metade da década de setenta e viviam a sugerir que ele cortasse-o... de fato, poucas semanas depois ele o cortou e como Sansão, parece que o seu entusiasmo Rocker, diminuiu acentuadamente. E daí, saiu de cena, logo após a virada de semestre de 1976...
Chamamos um outro colega da escola para ser o nosso vocalista, o Bernardo, vulgo Bernardão (que também ostentava o apelido de: "Janjão"), pelo porte avantajado (era um garoto muito forte para os padrões de quem tinha de quinze anos de idade, apenas), mas a sua experiência constituía-se somente em de cantar no chuveiro, e achar que acompanhava com desenvoltura o vocal, junto aos cantores de grandes bandas junto aos discos do "Deep Purple"; "Nektar" e "Mutantes", grupos que ele gostava. Eu conhecia-o desde 1974, mas foi em 1975, que tornamo-nos amigos, quando estudamos na mesma classe, a "Sétima C", quando na condição de repetente, eu estudei pela segunda vez essa específica série, como se tivesse sido "rebaixado" para a segunda divisão, anteriormente em 1974...
O Bernardo “Janjão” era um rapaz muito forte e o seu porte físico era muito maior que o dos meninos de sua idade. O seu temperamento era sossegado, normalmente, embora em momentos tensos, ele não deixasse de usar a sua força para impor-se, e esse tipo de tensão entre meninos dessa idade, é uma questão quase diária, pela explosiva mistura: hormônios em ebulição x imaturidade. É raro um garoto dessa ideia e mentalidade não "sair no braço", nem que for por "brincadeira"... e por ter esse porte de "lutador", o seu segundo apelido óbvio, era "Bernardão".
Musicalmente, ele gostava de Mutantes; Deep Purple & Nektar em primeira instância e outras tantas bandas setentistas em voga, na época. Mas as três que citei inicialmente foram no caso, as suas prediletas, além do “Grand Funk”. Lembro-me de termos ido juntos ao show do “Rick Wakeman”, em dezembro de 1975, no ginásio da Portuguesa de Desportos, e com mais um amigo nosso em comum, chamado, Mário, que era aluno da nossa classe, também. Isso reforçara a nossa vontade para termos uma banda de Rock, real. Ele queria muito fazer parte de uma banda, mas tinha a típica dificuldade muito comum dessa época, ou seja, era raro quem já tocava algum instrumento e mais raro ainda, quem possuísse um instrumento, ainda que de segunda ou terceira linha. Mas, arvorava-se em ser cantor, ainda que sem nenhuma noção musical, pelo simples fato de gostar de cantar no chuveiro ou por cima dos discos de bandas que gostava de ouvir.
Naquela circunstância, onde somente o Osvaldo detinha uma noção básica, o fato do Bernardo não saber nada sobre música, não foi uma barreira inviabilizadora para ele. Além disso, a nossa ingenuidade juvenil era tão grande, que esse "detalhe" não incomodava-nos absolutamente em nenhum aspecto. Pelo contrário, ficamos contentes com a perspectiva em termos um novo membro na banda e de fato, pelo companheirismo que tínhamos entre os três, a presença dele nas reuniões ou simulacros de ensaios, foi importante e fator de animação para todos. Se posso enxergar méritos, claro que o fator "força de vontade", tem que ser elogiado. Ele queria e tinha gana nessa determinação em buscar o seu objetivo. Mas, até a "página dois", pois logo vimos que a vida cobrou-lhe outros rumos, e do mesmo jeito que entrou com essa vontade toda, saiu e não deixou vestígios. E um sinal prévio, deu-se quando ele cortou o cabelo radicalmente, da noite para o dia e isso, no imaginário do Rocker setentista típico, fora o equivalente a um ato de traição, praticamente.
Ele gostava de usar um sobretudo chic, que era moda entre Rockers daquela época, ao querer respirar ares europeus, e convenhamos, as estações de outono/inverno naquela época em São Paulo, eram muito geladas e ao contrário dos dias atuais onde as ondas de frio são rápidas, era cabível usar roupas pesadas por bastante tempo, além do fato de que a garoa era forte, toda noite. Nós nunca ensaiamos para valer, com o Bernardo a cantar no uso de um microfone e ligado em um equipamento de P.A., mínimo que fosse. Isso por que no tempo do Bernardo, nós ainda não havíamos oficializado um baterista e eu não reunia condições mínimas para fazer um ensaio, de fato, porque estava a engatinhar nos primeiros exercícios, em uma fase muitíssimo preliminar de aprendizado. Depois que deixou a banda, nunca mais tive notícias dele. Fiquei com a lembrança de um colega leal, muito extrovertido, que gostava de cantar e usar "sobretudo", mesmo em dias não tão frios assim, e com aquela cabeleira setentista típica, enorme, até o meio das costas, que incomodava as irmãs mais velhas do Osvaldo, que achavam esse visual "démodé", ali na virada da metade da década de setenta e viviam a sugerir que ele cortasse-o... de fato, poucas semanas depois ele o cortou e como Sansão, parece que o seu entusiasmo Rocker, diminuiu acentuadamente. E daí, saiu de cena, logo após a virada de semestre de 1976...
Com essa formação inicial, não chegamos a ensaiar. Primeiro por não termos local adequado para tal finalidade. Segundo, por eu ser tão horrível pela ausência de condições primordiais para tocar, nem mesmo como um principiante, que precisava de um tempo para desenvolver o mínimo praticável, e o mesmo para o aspirante a baterista, Fran Sérpico, que nem bateria tinha ainda para iniciar o seu estudo fundamental.
No início, o meu primeiro contato com um instrumento, foi uma adaptação absurda que o Osvaldo praticou, ao colocar cordas de baixo em um violão velho que possuía. É claro que não daria certo e logo percebemos que arrebentaria com o instrumento. Mas uma segunda tentativa semelhante foi feita, desta feita novamente com o próprio Osvaldo ao colocar cordas de baixo em uma guitarra Giannini, velha que não usava, não sem antes pintá-la de verde, com um spray comum. Não era possível dar certo novamente, e convencido de que precisava comprar um baixo, tratei por arrumar um dinheiro com o meu pai e através de uma indicação do próprio Osvaldo, que vira um instrumento usado em uma loja de penhores (loja "K-Troca", localizada na avenida Santo Amaro), eu comprei enfim o meu primeiro baixo. Custou-me duzentos cruzeiros, e tratava-se de uma imitação barata de um baixo Hofner, igual ao que o Paul McCartney usava no tempo dos Beatles, e tem usado novamente em suas turnês modernas, há pelo menos uns quinze anos. Ele era preto, com um acabamento horroroso e só conseguia ser afinado mediante o uso de um alicate, devido ao fato de suas tarraxas estarem completamente emperradas. Entretanto, eu sentia-me um verdadeiro Rocker, a empunhá-lo orgulhosamente nos primeiros momentos da banda.
Apesar de sermos uma banda totalmente iniciante, a contar apenas com um membro que conhecia os primórdios da educação musical, ainda assim, não tirávamos “covers”. Apesar de sermos péssimos e no meu caso e do Fran, estaca zero total, nas reuniões realizadas no apartamento do Osvaldo Vicino, trabalhávamos em composições próprias. Não havia entre nós a mentalidade em tocar covers, infelizmente hoje tão disseminada como um modus operandi da garotada atual.
Nesses termos, o melhor músico da banda era o Osvaldo, que já tocava desde 1974, mais ou menos. Sabia fazer vários acordes e conduzia ritmos. Achávamos o máximo, vê-lo a tocar com uma desenvoltura milhas acima da nossa.
Eu, Luiz Domingues, em foto de carteirinha escolar, de 1976, cerca de dois meses antes de receber o convite de Osvaldo Vicino para formarmos uma banda
Pelo menos propus-me a estudar e desenvolver ao máximo.
Osvaldo Vicino e suas irmãs, em foto de 1976, clicada em seu apartamento, localizado no bairro de Moema, zona sul de São Paulo, onde demos os nossos primeiros passos. Acervo e cortesia de Osvaldo Vicino
O nome Boca do Céu não foi o primeiro que escolhemos. Antes disso, em um curto espaço de tempo, havíamos batizado a banda como: "Rest In Peace"; "Ohms", "Gato de Botas", "Iscariots" e finalmente estabilizou-se como "Céu da Boca", em julho de 1976. Portanto, a mudança para "Boca do Céu", só ocorreria meses depois. Todos esses nomes passavam pela imaginação juvenil, permeada por signos do Rock setentista. "Rest in Peace" trazia a morbidez de um Black Sabbath; "Ohms", poderia remeter a algo científico, como gostava de citar o Van Der Graaf Generator em suas músicas; "Gato de Botas" recorria à literatura infantil dos Irmãos Grimm, ou Hans Christian Anderson, e claramente, tratara-se de uma citação ao Genesis. E finalmente o "Iscariots", foi uma referência ao personagem bíblico, Judas Iscariots, que traiu Jesus Cristo, e certamente foi uma menção à Ópera-Rock, "Jesus Christ Superstar", da qual gostávamos. Só depois de algum tempo, houve uma inversão, e o nome estabilizou-se como "Boca do Céu", portanto.
Em agosto, o Bernardão "Janjão" não quis mais brincar de Rocker, e saiu. Chamamos um outro colega de escola, Edson Coronato, apelidado como, Edson "Coverdale", para assumir o vocal. A condição musical dele era a mesma do Bernardão, ou seja, cantor de chuveiro, sem noção musical, mas com exceção do Osvaldo, que era o melhor tecnicamente entre nós, todos éramos péssimos, portanto, o nosso critério para escolher um novo vocalista, foi algo sem noção também.
Sem dúvida, o Edson era um amigo de excelente índole, Rocker inveterado como nós, e o melhor centroavante da escola. Edson Coronato foi meu colega de classe na 7ª série, em 1974. Fã de futebol e Rock, como eu, logo tornou-se amigo. Na nossa escola, foi o melhor centroavante e ainda bem, jogava no meu time.
Formava uma dupla infernal com o ponteiro, Wlademir
Chiari (outro bom amigo que eu tive e este, desde a infância pois estudamos
juntos desde 1968), e com seus gols, ganhamos muitos jogos. O nosso time chamava-se:
"Universal". O nome completo que criamos para o nosso time, mostrou-se pomposo: "Associação Futebolística
Universal de São Paulo". A razão prosaica da escolha de tal nome, foi
por que já existiam muitos times com nome de "Internacional" e
"Nacional", mas "Universal", não era conhecido, e
suplantava os dois anteriores sob uma visão, digamos, expansionista. Logo surgiria
o "Cosmos" de Nova York e acabaria conosco, mas nem sonhávamos com
essa humilhação, em 1974.
Em termos de Rock, o Edson gostava de muitas bandas. Entretanto, lembro-me que detinha especial apreço por Deep Purple e Nazareth. Costumava imitar as vozes de Ian Gillan; David Coverdale e Dan MacCafferty, por cima dos discos que ouvíamos juntos, e na companhia de outros Rockers da escola, como o Jacques, que aliás era o nosso goleiro e costumava "fechar" o gol com as suas defesas elásticas.
Abro um pequeno parêntese para explicar a razão pela qual já era amigo do Edson, ao retroagir ao segundo semestre de 1975. Em 1975, estávamos a enlouquecer com o Rock e exemplares da revista, "Rock, a História e a Glória" e também da "POP", corriam de mão em mão, na mesma profusão com que emprestávamos LP's e Fitas K7 a conter o som de diversas bandas internacionais e nacionais, uns aos outros. Mas houve um fato desagradável na escola, e nessa idade, no meio da adolescência, fez muita diferença. Eu repetira a sétima série e os meus amigos seguiram em frente. Enquanto eu tornara-me o repetente da "sétima C", em 1975, eles seguiram em frente e isso não diminuiu a nossa amizade, nem demoveu-nos de nossas atividades Rockers e futebolísticas, mas forçosamente, os nossos horários e convivência, ficaram mais prejudicados.
Mesmo assim, no segundo semestre de 1975, resolvemos fundar uma banda. Só houve um detalhe absolutamente risível nessa determinação juvenil: ninguém sabia tocar absolutamente nada! Então, "escolhemos" um instrumento para cada um, a usar a mera designação como critério e formamos a banda, na quixotesca esperança de que começaríamos a aprender, e em poucos meses, estaríamos a ensaiar, realmente. A formação da banda seria constituída por: Wlademir (teclados); Edson (baixo), Jacques (guitarra); Bernardo (vocal), e eu, Luiz Domingues, na bateria, pois confesso: eu sempre quis ser baterista... e o baixo foi um acidente na minha vida.
Essa formação dissipou-se de vez, assim que o ano de 1975, findou-se e todos passaram de ano, porém a criar então um novo empecilho. A questão, foi que os meus amigos saíram da escola, ao formarem-se no ensino fundamental e daí a espalhar-se por outros colégios, onde iniciariam o segundo grau (ou ensino médio), enquanto eu fiquei, para cursar a oitava série, enfim. Por volta de março de 1976, eis que obstinado e enlouquecido pelo Rock, eu insisti em prosseguir com essa banda fictícia, mas apenas dois amigos sinalizaram que tentariam seguir-me me tal determinação, entre eles, o Edson Coronato. Contudo, esse delírio não durou um mês, apesar da banda ter recebido um novo nome até interessante: “Medusa”.
De volta à cronologia, nessa altura, eu já havia
desenvolvido o mínimo, ao conseguir tocar em uma nota só, com razoável
segurança rítmica. O baterista, Fran Sérpico, havia disponibilizado uma bateria
da marca, "Gope", e começava a estudar, mas apesar desse pequeno progresso que tivemos, ainda não ensaiávamos formalmente,
devido à falta de local e equipamento. Em termos de Rock, o Edson gostava de muitas bandas. Entretanto, lembro-me que detinha especial apreço por Deep Purple e Nazareth. Costumava imitar as vozes de Ian Gillan; David Coverdale e Dan MacCafferty, por cima dos discos que ouvíamos juntos, e na companhia de outros Rockers da escola, como o Jacques, que aliás era o nosso goleiro e costumava "fechar" o gol com as suas defesas elásticas.
Abro um pequeno parêntese para explicar a razão pela qual já era amigo do Edson, ao retroagir ao segundo semestre de 1975. Em 1975, estávamos a enlouquecer com o Rock e exemplares da revista, "Rock, a História e a Glória" e também da "POP", corriam de mão em mão, na mesma profusão com que emprestávamos LP's e Fitas K7 a conter o som de diversas bandas internacionais e nacionais, uns aos outros. Mas houve um fato desagradável na escola, e nessa idade, no meio da adolescência, fez muita diferença. Eu repetira a sétima série e os meus amigos seguiram em frente. Enquanto eu tornara-me o repetente da "sétima C", em 1975, eles seguiram em frente e isso não diminuiu a nossa amizade, nem demoveu-nos de nossas atividades Rockers e futebolísticas, mas forçosamente, os nossos horários e convivência, ficaram mais prejudicados.
Mesmo assim, no segundo semestre de 1975, resolvemos fundar uma banda. Só houve um detalhe absolutamente risível nessa determinação juvenil: ninguém sabia tocar absolutamente nada! Então, "escolhemos" um instrumento para cada um, a usar a mera designação como critério e formamos a banda, na quixotesca esperança de que começaríamos a aprender, e em poucos meses, estaríamos a ensaiar, realmente. A formação da banda seria constituída por: Wlademir (teclados); Edson (baixo), Jacques (guitarra); Bernardo (vocal), e eu, Luiz Domingues, na bateria, pois confesso: eu sempre quis ser baterista... e o baixo foi um acidente na minha vida.
Essa formação dissipou-se de vez, assim que o ano de 1975, findou-se e todos passaram de ano, porém a criar então um novo empecilho. A questão, foi que os meus amigos saíram da escola, ao formarem-se no ensino fundamental e daí a espalhar-se por outros colégios, onde iniciariam o segundo grau (ou ensino médio), enquanto eu fiquei, para cursar a oitava série, enfim. Por volta de março de 1976, eis que obstinado e enlouquecido pelo Rock, eu insisti em prosseguir com essa banda fictícia, mas apenas dois amigos sinalizaram que tentariam seguir-me me tal determinação, entre eles, o Edson Coronato. Contudo, esse delírio não durou um mês, apesar da banda ter recebido um novo nome até interessante: “Medusa”.
Ficamos com essa formação até agosto de 1976, quando o Edson resolveu sair. Então, sem perspectivas para arrumar um novo vocalista (um colega nosso da escola, Gabriel, chegou a ser cogitado, mas desistimos diante de sua relutância), tivemos uma ideia inusitada que ao pensar bem, hoje em dia, foi bastante ousada e sem dúvida, a revelar a completa falta de noção de nossa parte, pois estávamos a expor-nos sem levarmos em conta a nossa total precariedade musical e inerente inexperiência: colocamos um anúncio no "Jornal de Música", um encarte da Revista "Rock, a História e a Glória".
Tal revista, foi a mais mais sensacional a abordar o Rock que existiu na época (tudo bem, existia em paralelo a concorrente revista "POP", da editora Abril, mais bem acabada e produzida graficamente, mas que também falava sobre outros assuntos, como moda e comportamento, porém no quesito texto, a "Rock" era muito superior pela sua excelência garantida pela presença de grandes jornalistas musicais. Então, após vibrarmos por constatarmos a nossa carta publicada no Jornal de Música, começamos a receber algumas cartas enviadas pelos aspirantes ao posto de vocalista da nossa banda.
A minha sina em verificar o meu nome escrito errado, vem de longe... como se não bastassem os inúmeros aborrecimentos que eu tive com o apelido que usei inadequadamente durante muitos anos, eis a minha carteirinha escolar da 8ª série, em 1976, quando o Boca do Céu iniciou as suas atividades. Quem é mesmo Luiz Antonio "Domingos"?
Foi em agosto de 1976, portanto, que eu tive pela primeira vez na vida, o sabor de ler algo ao meu respeito, publicado. Trato esse acontecimento singelo, como o nascimento oficial de meu portfólio. Saiu na edição n° 20 da revista "Rock, a História e a Glória" com "The Beatles", como matéria principal sob destaque de capa.
Trata-se de uma carta tola que escrevemos para a revista "Rock, a História e a Glória", a falar sobre a nossa banda. Nessa carta, apresentamo-nos com um novo nome, pois achávamos o "Céu da Boca", impróprio para uma banda de rock, e rebatizamos com algo mais, digamos, "barra pesada" : "Injeção na Veia". O Osvaldo datilografou a carta e escreveu certo a palavra "injeção". Mas algum problema ocorreu na diagramação, e na revista saiu grafado "Ingeção", com "G".
Então, o Edson saiu e com o anúncio publicado no Jornal da Música (era um suplemento que vinha encartado dentro da revista, "Rock, a História e a Glória"), à procura de vocalistas, recebemos algumas cartas de postulantes. Então, interessamo-nos por um rapaz chamado, Laert Júlio, que dizia ser compositor; vocalista, e sabia tocar um pouco de teclados.
Marcamos encontro na escola onde eu e Osvaldo estudávamos, e o recebemos no pátio, durante o recreio de um dia de aulas.
Naquela Era pré-internet, não sabíamos como ele era em sua aparência, e sonhávamos com um "frontman" com um visual igual ao do Robert Plant... e nesses termos, nossa primeira impressão foi de desapontamento ao depararmo-nos com um sujeito a usar cabelos curtos, com aquele corte tradicional e antiquado dos anos 1930, trajado com roupas de tergal, e óculos fundo de garrafa...
Não conhecíamos o termo "Nerd" naquela época, mas foi exatamente isso o que estávamos a pensar sobre ele, naquele instante, sem dúvida. Ainda mergulhados no espírito setentista, a única impressão que ocorreu-nos foi por arranjar-lhe o apelido de: "Fripp", alusão ao genial guitarrista, Robert Fripp, que desde 1975, havia adotado o visual "anti-Rocker", a usar cabelos curtos e por adotar figurino tradicional, como terno, portanto, no nosso imaginário na época, foram consideradas por nós, roupas "'caretas" e por conseguinte, consideradas absolutamente inadequadas para Rockers.
Ainda bem, o talento venceu o preconceito tolo, pois logo nos primeiros momentos, percebemos que esse Laert Júlio mostrava-se um sujeito diferenciado, ao apresentar-nos os seus poemas; algumas músicas compostas; uma vasta cultura musical e houve muito mais elementos em sua bagagem pessoal, em termos culturais, que o credenciavam muito além das nossas expectativas..
Ele falava sobre cinema; artes plásticas, teatro, poesia e literatura. Citava uma série de referências muito interessantes, e era tão Rocker quanto qualquer um de nós. Para aumentar o seu currículo, Laert revelou-nos que era um desenhista de categoria, pois estava a viver desse expediente na época, ao produzir retratos de pessoas pelas mesas dos bares noturnos, e a vender, de mão em mão, a sua revista com cartoons, que ele mesmo produzia, chamada: "Sarrumorjovem", escrito dessa forma mesmo, com a junção livre das duas palavras. Um pouco mais velho que nós, porém, muito mais antenado culturalmente, Laert tirou-nos de uma condição de banda quase fictícia, para algo real, concreto, com possibilidade para vir a tornar-se de fato, uma banda de verdade, em condições de pleitear um lugar ao sol.
Mesmo ao achar divertida a repercussão da carta publicada onde os leitores execraram-nos como adolescentes semianalfabetos por ter sido publicado o termo: "Ingeção", com o uso da letra "G", ele persuadiu-nos a voltarmos a usar o nome, "Céu da Boca" novamente, até acharmos algo melhor. Já incorporado, começamos a ensaiar de fato, com baixo; guitarra e bateria, pois nessa esta altura, já havíamos conseguido comprar amplificadores e equipamento de voz, quando passamos a ensaiar na casa do baterista, Fran Sérpico, que mudara-se do Tatuapé, para o bairro Campo Belo, na zona sul de São Paulo, a oferecer-nos a sua casa ampla como local de ensaios. O choque de qualidade com a entrada dele, Laert, foi grande, quiçá, enorme, ao acrescentarmos algumas músicas de sua autoria, já finalizadas, com muito maior qualidade musical, e letras muito acima da nossa capacidade juvenil. Foi uma época de muita euforia de minha parte, pois finalmente senti-me dentro de uma banda, e mesmo que eu fosse apenas um reles aspirante a músico, sentia perspectivas alvissareiras.
E foi assim até o final de 1976, com ensaios, músicas novas sendo criadas em profusão etc. E para registrar: eu tenho
todos os exemplares da revista: "Sarrumorjovem", guardados comigo. Hoje em dia, tal material deve
valer ouro em círculos frequentados por colecionadores. Falo dos fatos iniciados em 1977, a seguir.
Entramos em 1977, e ainda
vivíamos sob a repercussão da carta ridicularizada pelos leitores da
Revista: "Rock, a História e a Glória". Foi quando espertamente, o Laert criou uma nova investida. Ele mandou para a redação de tal revista, uma carta direcionada ao crítico, Ezequiel Neves, codinome, "Zeca Jagger". Nela, Laert expressou sobre a
mudança de nome da nossa banda, de "Injeção na Veia" para "Boca do Céu" (sim, invertemos
a ordem, ao deixarmos o prosaico, "Céu da Boca", um pouco mais substancioso,
digamos); a sua entrada como novo vocalista/tecladista do nosso grupo, e o golpe de
mestre: a coleção completa, até aquela época, de seu fanzine de cartoons,
o "Sarrumorjovem".
O fato, é que os
cartoons eram muito bons, cheios de sarcasmo, sátira de costumes e
sátira política (um perigo naqueles anos de ditadura ferrenha, é verdade!), cultura underground, contracultura e referências Rockers, múltiplas.
O Ezequiel respondeu,
ao publicar que havia adorado os cartoons, ao comparar os traços do Laert
ao do grande, Robert Crumb (para quem não sabe, este artista foi um dos maiores
cartunistas norte-americanos, criador dos personagens, "Freak Brothers" e uma
das figuras mais reverenciadas pelos hippies sessentistas, além de ser
capista de álbuns históricos, como por exemplo o LP "Cheap Thrills", da "Big
Brother & The Holding Company", banda em que Janis Joplin foi a sua vocalista).
Além disso, ele disse que adorava o nome, "Injeção na Veia", e que lamentava a troca para "Boca do Céu". Para surpreender-nos ainda mais, disse que aceitava ser o "nosso padrinho"!
Em nenhum momento da carta, pedimos isso para ele, mas achamos muito estimulante essa colocação espontânea e pública, por sua parte.
Em nenhum momento da carta, pedimos isso para ele, mas achamos muito estimulante essa colocação espontânea e pública, por sua parte.
Eufóricos por termos Ezequiel Neves como o nosso inesperado "padrinho", abusamos dessa condição, logo no início de 1977, quando passamos vergonha por sermos tão ingênuos... mas isso, eu conto um mais para frente, pois em fevereiro de 1977, ocorreu um fato muito importante para o "Boca do Céu", antes do episódio de decepção com Ezequiel Neves.
Continua...
Nenhum comentário:
Postar um comentário