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domingo, 25 de janeiro de 2015

Boca do Céu - Capítulo 2 - O Grande Debut de 1977 - Por Luiz Domingues


Então, eis que chegou a primeira grande oportunidade para a nossa banda: o nosso baterista, Fran Sérpico, faria aniversário no início de fevereiro, e ao obter a aprovação dos seus pais, nós poderíamos, portanto, apresentarmo-nos na sua festa comemorativa. Uma celebração familiar para quem iria fazer a primeira apresentação da vida, foi um acontecimento tão extraordinário quanto uma noiva enxerga o seu próprio, dia do casamento.


Ficamos obviamente eufóricos e assim intensificamos os ensaios para fazer a melhor apresentação possível, mesmo sendo em tese para uma plateia formada por gente de meia idade e idosos em sua predominância, e longe do que sonhávamos atingir, naturalmente.

E foi no dia 12 de fevereiro de 1977, que o Boca do Céu apresentou-se pela primeira vez, no quintal da residência da família Sérpico, localizada no bairro do Campo Belo, em São Paulo.




O nosso camarim foi a lavanderia da casa. O precário equipamento foi constituído por: um mix de voz, marca "Phelpa", dos anos sessenta; um amplificador de guitarra, Giannini, modelo "BAG U65", um microfone da marca, "National" usado normalmente em gravador caseiro, uma guitarra Giannini "Supersonic", bateria "Gope" (e sem a presença de uma caixa, ora, uma peça fundamental!), e um baixo "handmade", imitação de "Hofner".



O nosso repertório base para esse show-debut, foi:

1) Mina de Escola (Osvaldo-Laert-Luiz)
2) Centro de loucos (Osvaldo-Laert)
3) Astrais Altíssimos (Laert)
4) No Mundo de Hoje ( Osvaldo-Laert- Luiz)
5) Ah se você soubesse ( Laert)
6) Me Chamo Vampiro (Osvaldo-Laert-Luiz)
7) Tudo Band ( Laert)
8) "Soon - The Gates of Delirium" (Yes)
 


E nesse caso da tentativa em tocarmos uma canção do "Yes", que os Deuses do Rock perdoem-nos por termos cometido a infâmia em promover esse assassinato com requintes de crueldade... pelo menos, para amenizar, tratou-se do trecho final dessa longa canção em formato "suíte" (The Gates of Delirium"), e assim, poupou-nos a todos de um constrangimento maior.


Lembro-me que estávamos todos bastante nervosos e erramos diversos trechos de músicas, justamente por conta dessa ansiedade incontrolável, visto que havíamos preparado-nos com afinco e estávamos ajustados convenientemente, mas dentro de nossas limitações evidentes à época. 

Mesmo assim, no cômputo geral, concluímos a apresentação, contentes e aliviados, como se tivéssemos submetido-nos a uma prova escolar. Apesar de toda a precariedade técnica e da inexperiência da banda, recebemos os elogios sinceros dos pais do Fran Sérpico, que disseram estar surpreendido-se com a nossa performance, visto que ouviam há meses, os nossos ensaios, e notaram que havíamos evoluído... bem, esse foi o primeiro show de Rock da minha vida! 


Tirante uma exibição infantil que eu fiz na bandinha da escola em 1968, essa foi de fato, a minha primeira exibição pública a tocar, e assim, guardo com carinho na memória, essa euforia juvenil que senti ali em fevereiro de 1977.





Foto de dezembro de 1968, a tocar o "triângulo", prosaicamente na bandinha da escola (Escolas Agrupadas da Vila Olímpia), no palco do Teatro Paulo Eiró. Sou o terceiro, da direita para a esquerda, na fileira mais alta

No dia seguinte ao nosso primeiro show, fomos ao Teatro Municipal de São Paulo onde assistimos a um show histórico: Mutantes e O Terço, a executar, The Beatles.
Foi um contraste e tanto para nós que ainda sentíamos a adrenalina do nosso primeiro, e ultra amador espetáculo realizado no fundo de um quintal, em relação a um espetáculo com duas das maiores bandas de Rock dos anos setenta, e apresentado em um lugar luxuoso, como o Teatro Municipal de São Paulo. 

Neste caso, lembro-me bem que cada banda fez o seu show habitual, e ao final, voltaram juntas ao palco, e como um octeto unificado, executaram diversas canções dos Beatles, caracterizados pelo mesmo figurino que o Fab Four usou na capa do LP Sgt° Peppers.

Com o teatro lotado, ainda tenho na memória a emoção desse espetáculo, da qual jamais esquecer-me-ei, primeiro por ele em si, extraordinário por si só, e depois pelo fator motivacional que outorgou-nos para seguir em frente, exatamente como um rapaz iluminado, chamado, Francisco, disse-me um dia ao mirar-me firme nos olhos: - "você vai percorrer uma longa jornada e queimar muito óleo"...

Continua...

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