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sábado, 11 de junho de 2016

1965 - Minha Ligação Inicial com o Rock na Infância e Começo da Adolescência - 1965: Ao Partir para a Segunda Infância e a Aproveitar a Vibração dos Anos Sessenta - Por Luiz Domingues

Com a metade de década de sessenta consolidada e concomitante ao fato de que eu também estava a alcançar o final da primeira infância e certamente a ganhar cada dia mais consciência do mundo e de seus signos socioculturais inerentes, foi o momento mágico de estar vivo no instante em que o vulcão psicodélico entrou em seu momento de clímax, a iniciar a grande erupção da década. 

Ao analisar friamente, se dependesse de escolha, o ideal para o meu caso teria sido nascer ao final dos anos quarenta ou mais tardar na primeira metade da década de cinquenta, ou seja, para ter sido criança nos anos cinquenta e adolescente nos sessenta e assim me possibilitar a chance de receber a carga sessentista revolucionária direto no peito, em condições plenas de absorvê-la, sob uma forma intensa e consciente. Mas eu não estou a reclamar. Trata-se de uma constatação apenas.

Eis a minha persona em 1965: o pequeno Luiz Domingues em 1965, aos cinco anos de idade... acervo familiar

Estar com cinco anos de idade em 1965 foi um privilégio, no sentido mais pueril, porém sincero, por simplesmente estar ali, vivo e a receber aquela carga cultural incrível, ainda que não diretamente e em condições de entendê-la integralmente, absorvê-la e a interagir com ela de uma forma imediata.  

Mesmo ainda pequeno, absolutamente infantil e alheio ao ambiente cultural que borbulhava, os respingos do que acontecia na sociedade, já chegavam até os meus sentidos. Fora algo inexorável. 

Uma constatação sutil, mas que eu já percebia ainda que sem atribuir nenhum juízo de valor, pelo âmbito cultural ou tampouco com conotação sociocultural, naturalmente, se deu pela observação de revistas, principalmente, pois levemos em conta que a transmissão da televisão na época era inteiramente em preto e branco. E nesse sentido, quero enfatizar a importância da enorme profusão de cores para a cultura Hippie que se forjava.

Através de revistas de atualidades como "O Cruzeiro", "Manchete" e até na "Intervalo", que era uma revista que cobria os bastidores da TV, e do rádio, dava para notar que o colorido generalizado proposto pela lisergia contracultural que estava a chegar, portanto a quebrar a sobriedade das vestimentas tradicionais das pessoas, em sua imensa maioria.  

Os primeiros sinais da explosão do movimento Hippie já se mostravam, embora ainda fossem informações não muito concretas sobre o que ocorria e sem que os analistas sociais e culturais pudessem cravar que um "movimento" estivesse a chegar, propriamente dito.

Bob Dylan & Joan Baez, cada vez mais influentes no ambiente sessentista de meio de década

Foram ainda ecos do movimento Beat Generation, ao misturar ideias progressistas em torno do conceito da igualdade, infiltrações de lideranças estudantis e artistas avantgarde, tudo sob um mesmo caldeirão e sem definir corretamente o que toda aquela ebulição desencadearia, mesmo por que, tudo foi puro experimento.  

Mas na minha inocente percepção infantil da época, eu olhava os signos secundários de tais ideias, expressas em atitudes artísticas e comportamentais e simpatizava com tudo, mesmo sem consciência do que representavam exatamente, dada a minha tenra idade.

George Harrison já apontava para o oriente em 1965. "Se oriente rapaz", como disse o Gilberto Gil

O massacre perpetrado pelas opiniões contrárias, vindas da parte de adultos conservadores e atônitos com as novidades, fora imenso. E tendo em vista que minha área de contato social ainda era muito restrita, estou a falar sobre familiares, parentes, amigos dos adultos e vizinhos, ou seja, o núcleo do "meu mundo" social se mostrava ainda bem diminuto. 

Logo de início, o repúdio total aos cabelos longos que os novos Rockers usavam e que haviam chamado a atenção da sociedade em geral e de uma forma bem negativa, foi uma constante em meu meio social. 

Da parte de todos, incluso as mulheres que me cercavam por grau de parentesco ou não, as opiniões em desagrado foram intensas, ao irem dos comentários exaltados em forma de repúdio, ao escárnio. Claro, naquele imaginário arraigado que já remontava ao padrão institucionalizado desde o início do século XIX, cabelo longo ou curto, delimitava a diferença de gêneros dentro desse paradigma equivocado.

Ninguém parava para pensar que humanos do sexo masculino a usarem cabelos longos, foram considerados "normais" na sociedade durante a maioria dos séculos, ao longo da história, mas que por força da revolução industrial, ao final do século XVIII, a questão da praticidade do cabelo aparado, em contar com operários a trabalharem por horas a fio em maquinários pesados, tornava assim menor a possibilidade de acidentes por conta de cabelos presos em máquinas e foi o que pesou para se criar um novo paradigma, daí em diante, ao dar conta de que ter cabelo longo ou curto, teria a ver com sexualidade e/ou demarcação de gêneros.

A questão dos cabelos longos apresentados pelos Beatles, chamou demais a atenção na mídia e opinião pública

Tão anti-paradigmática que se tornou tal ousadia da parte desses novos Rockers, que há registros de até apedrejamentos pelas ruas, durante os anos sessenta, quando os primeiros "cabeludos" tiveram coragem de saírem às ruas com o comprimento do cabelo sobre as orelhas, um padrão de tamanho muito acima do aceitável pelos padrões militarizados praticados pelos homens de então e certamente que tais jovens corajosos foram influenciados pelos Beatles e seus pares.  

Há registro também de escolas que suspenderam alunos das aulas, ao emitirem recados explícitos aos seus pais, para obrigar seus filhos a visitar um salão de barbearia, caso contrário, tais alunos seriam expulsos da instituição, sob alegação de quebra de decoro, preservação dos "bons costumes" e todo o tipo de argumentação inerente (e descabida, certamente), etc. 

Claro que mediante tal tendência com esse massacre todo advindo da parte dos adultos conservadores, a criticar e estigmatizar os cabeludos como possíveis homossexuais, por estes adotarem supostamente uma marca registrada do gênero feminino, seria a de eu passar a detestar tal costume, ao repudiá-lo sem contra argumentação e não vou negar e edulcorar a minha autobiografia ao dizer que aos cinco anos de idade eu comprei a ideia da revolução sociocomportamental dos artistas e simpatizantes desse novo modismo. 

Claro que eu acreditava piamente nas opiniões dos que me cercavam e assim, eu não reclamava em ir ao barbeiro todo sábado para manter um corte de cabelo, com comprimento ínfimo, conhecido entre os barbeiros pelo jargão: "americano curto", totalmente militarizado. 

Mas ao mesmo tempo, eu não conseguia ter antipatia pelos cabeludos e a cada dia, gostava mais dos Beatles e de artistas congêneres, quase todos a adotarem o mesmo visual, com cabelos escandalosamente longos para os padrões das pessoas tradicionais, mas que vistos hoje em dia, são na verdade, cabeleiras bem discretas, nada mais que isso...

Outro signo que já mencionei, mas vou reforçar, foi a constatação de que as vestimentas e tudo o que envolveu propagandas que eu via nas páginas das revistas, começaram a ficar muito coloridas. 

Um mundo sóbrio, com cores preto, branco e cinza, estava a ficar para trás, sutilmente e uma explosão de cores parecia estar a invadir uma porção maior do espectro cultural e social, para deixar de lado o nicho essencialmente infantil, onde até então, as cores eram melhor aceitas, como signo adequado, digamos assim. 

Dava para notar isso nas revistas, como já disse, mas ao analisar a posteriori, o processo já ganhava outros veículos, notadamente o cinema e em breve a TV, embora a transmissão em cores ainda demorasse para chegar no Brasil, só a ocorrer oficialmente em 1972. 

Entretanto, nos Estados Unidos os testes já estavam avançados e a partir de 1966, se tornou oficial, enfim. Em uma prova de que a explosão do Flower-Power no pós-1966, teve guarida em um ambiente supostamente avesso a tais ideias, como o das produções de TV, pesou o fato de que assim que o veículo passou a adotar tal recurso, os seus produtores se esforçaram ao máximo para usar toda a potencialidade da novidade tecnológica em si, e aí, por uma feliz coincidência, ao perceber a movimentação contracultural nas ruas, a produção televisiva incorporou muito das suas ideias, para ajudar a quebrar resistências ("pero no mucho", eu sei), e adotar assim, a profusão das cores como padrão em produções em geral, a serem veiculadas.

Para falar especificamente de 1965, ainda não foi o momento exato da explosão disso tudo o que estou a comentar, mas foram sinais que se mostraram claros a respeito de sua chegada mais incisiva para muito em breve, e eu já estava ali nesse começo de ventania, que precipitaria o furacão sessentista acentuado.

E no que me dizia respeito particularmente, tudo o que já comentei sobre carga cultural recebida com progressiva consciência se acentuara, certamente, com o meu desenvolvimento natural e o apreço adquirido, cada vez mais forte, por tudo o que já gostava e o que viria a descobrir nesse ano, ao potencializar a minha proximidade com diversas formas de arte e aspectos culturais.

O cinema estava cada vez mais importante na minha vida. Sou um afortunado, pois a grade de filmes exibidos na televisão dessa época, foi massiva e com uma profusão de películas de qualidade, muito grande. O grande grosso dos filmes exibidos, foram provenientes do cinema oriundo de Hollywood, mas ao se levar em consideração o fato de que se tratara de um lote de filmes oriundos das décadas de vinte, trinta, quarenta e cinquenta, principalmente, mesmo as obras mais comerciais, apresentavam qualidade. 

Nesses termos, até obras de orçamento classe "B", eram boas, sob o ponto de vista cultural e artístico em linhas gerais e assim, passavam na TV, sem parcimônia, ao estarem ali disponíveis para quem quisesse absorvê-las e foi o meu caso, apesar da pouca idade. 

Já falei em capítulos anteriores sobre essa influência e citei alguns diretores que eu gostava, mesmo sem saber detalhadamente nada mais sofisticado sobre os seus respectivos currículos, filmografia e nem sonhar ainda em entender a sua estética, meandros culturais etc. Mas o importante foi que essa carga primordial fomentou o apreço que reputo ter sido gigantesco nessa fase e inexorável, portanto.

               O grande, Fred Zinnemann: é matar ou morrer!

Bem, nesse contexto, admirar diretores como King Vidor, Leo McCarey, Fred Zinnemenan, George Stevens, Vincente Minnelli (o pai da atriz/cantora, Liza Minnelli), Cecil B.de Mille, George Cukor, e tantos outros, incluso os que já citei em capítulos anteriores, só se reforçara substancialmente.

Na música, concomitante aos ecos das mudanças vindas do exterior, via bandas de Rock e com a obviedade dos Beatles por formar a sua comissão de frente, havia uma briga subliminar que eu não entendia, é claro, mas já sentia, nos bastidores. 

Uma ala, formada por artistas mais veteranos e que se apresentavam sempre trajados como se fossem participar de um baile de debutantes (além do seu gestual padrão cheio de formalidades e impostação vocal exagerada, com notas esticadas em demasia, invariavelmente), estavam em desgraça nessa época, sendo minados ou por artistas jovens e "americanizados" que vinham a abrir espaço na mídia, por seguirem os passos da evidente explosão da Beatlemania, ou por artistas de uma nova vertente na MPB.

Não foi tão novidade assim, mas a turma que veio no bojo da Bossa Nova ao final dos anos cinquenta, continha a proposta artística diametralmente oposta aos veteranos, ao atuarem com música e atitudes minimalistas, baseadas na contenção total de exageros vocais e opção pelo quase sussurro, letras a beirar o blasé e gestual e visual ultra comedidos em suas respectivas performances ao vivo. 

Arvoraram-se de deter base intelectual e cultural avantajadas, e queriam, veladamente, destruir (no bom sentido do termo), a velha MPB que já se alongava no panorama artístico midiático, há décadas. 

É claro que eu também não sabia nada sobre tais questões com cinco anos de idade, mas o fato é que estive ali no meio desse bombardeio entre os três grupamentos citados acima, onde se criou uma animosidade que possuía um viés político forte por trás, muito além da guerra entre estéticas, simplesmente.

Com a ditadura militar em pleno curso e mesmo que ainda não fosse totalmente de chumbo nesse período, artistas ligados na Bossa Nova e similares, dentro do espectro da música dita, "Folk" (ao generalizar tal alcunha ao cubo), logicamente que muitos deles se mostravam simpáticos aos ideais igualitários (claro, houveram exceções, não se pode levar tal análise à generalização total e ser tomada portanto como via de regra), enquanto os Rockers em geral eram considerados alienados e usados pelo sistema, a velha guarda se portava comprometida com a camada conservadora da sociedade, mais por osmose alienada, do que convicção.

No subliminar, isso na verdade foi o que mais contou naquele instante, e quando os festivais de MPB começaram a fazer sucesso nas emissoras de TV, com os da TV Record, em proeminência total, tal briga ideológica a usar a música como ferramenta (ou arma, melhor a dizer), ficou mais clara.  

Na minha inocência à época, eu achava que fosse uma guerra só pelo aspecto da estética, pelo fato de serem jovens a aspirarem se impor diante dos velhos e eu não apreciava essa luta, vista por esse aspecto, pois desde a tenra idade, abominava a ideia em se desprezar o passado, os valores antigos, ícones e tudo mais, mesmo que não nutrisse nada contra os jovens e as novidades, e pelo contrário, a simpatizar muito com os cabeludos e suas guitarras estridentes, igualmente. 

Atribuo tal tipo de sentimento pela influência absurda que os filmes antigos exerceram sobre a minha consciência e diante da simpatia por épocas e costumes passados em total convivência pacífica com o presente e o futuro, sem conflito algum.  

Tal traço de minha personalidade revelar-se-ia indelével. Ao contrário de noventa e "tantos" por cento do povo brasileiro que mantém ojeriza ao passado (não frequentar museus é traço sintomático e lastimável de nosso povo, por exemplo), eu já tinha essa incompreensão pelo fato das pessoas em geral desprezarem o passado, como se ele não tivesse nenhum valor. 

O caráter efêmero com o qual a maioria enxergava a construção cultural da civilização sempre me incomodou e eu atribuo em grande parte, pela construção sistemática desse sentimento, por conta do fascínio que os filmes me causaram, ao me impelir a gostar de história de uma forma geral, porém mais que isso, para nutrir respeito e admiração por quem viveu antes e trabalhou para que tivéssemos uma civilização construída, da qual usufruímos no presente.

Ainda ao não exercer a minha verve esmeraldina com consciência em 1965, mas o meu time trabalhou bem nesse ano: Campeão do Torneio Rio-SP 1965 (primeira foto), e a representar o Brasil na inauguração do estádio Mineirão, em Belo Horizonte: Palmeiras/Brasil 3 x 0 Uruguai.

Fora desses aspectos de ordem "macro", na vida pessoal uma mudança ocorrer-me-ia, aliás de forma literal, pois a minha família se mudou da residência da Rua Redenção, no bairro do Belenzinho, para quebrar um paradigma e tanto para um menino que ali chegara com apenas três meses de vida, e portanto não conhecera outro universo nos seus primeiros cinco anos de existência. 

Bem, lá pelo final de 1965, nos mudamos para um sobrado no Tatuapé, bairro vizinho, muito perto do Viaduto Azevedo e da Biblioteca Municipal Cassiano Ricardo, esta na altura do nº 4000 da Avenida Celso Garcia. 

O Viaduto estava em fase de acabamento final, ainda não inaugurado e apesar de ser sempre um menino tímido, com dificuldade para me socializar, ali nos poucos meses em que habitamos aquele sobrado, eu brinquei com a criançada da rua e redondezas, com o viaduto inteiramente livre para nós, como se fosse um parque de diversões comunitário.

A Biblioteca Municipal Cassiano Ricardo, no bairro do Tatuapé, zona leste de São Paulo, inaugurada em 1952, mas que eu só conheci ao final de 1965, quando me mudei para um sobrado a um quarteirão dali.

A minha lembrança (já nessa nova habitação), é a do rádio da cozinha a tocar Beatles e Roberto Carlos, a todo vapor. 
Na TV, o programa Jovem Guarda começou a ser exibido em agosto desse ano e aos domingos, era assistido por todos, pois se por um lado os adultos detestavam cabeludos & guitarras, por outro, havia a docilidade quase popularesca de seu cancioneiro com forte apelo suburbano e mesmo ao desagradar os conservadores, em relação ao visual dos artistas que ali começaram a se apresentar, eles assistiam. No princípio, não me empolguei de uma forma arrebatadora, mas também assistia por osmose, é claro

Nessa mesma época eu gostava também dos filmes realizados com marionetes, que se tornaram uma febre e geralmente tais produções vinham da Inglaterra. Os prediletos foram: Thunderbirds e Stingray, logicamente. 

Visto sob o olhar da atualidade, ao pensar em tecnologia como a concebemos nos dias atuais, a técnica desses seriados era muito tosca. Mas eles são tão absurdamente adoráveis, que pouco me importa se dá para ver a imperfeição de sua realização, com fios de nylon visíveis nas maquetes e nos bonecos...

Eis acima a abertura oficial, dublada em português, com a magnífica trilha sonora de abertura de Jonny Quest, um desenho magnífico!
 
Outra atração que eu apreciava muito e que se tornou paixão eterna, fora um desenho animado da companhia Hanna Barbera, com traços mais realistas do que a sua produção normal. Tratou-se de "Jonny Quest", um desenho animado totalmente focado nas temáticas da aventura e Sci-Fi, certamente concebido para "meninos grandes", pré-adolescentes como se diz hoje em dia. 

Adoro essa animação, sem reservas, dos personagens aos roteiros, da música tema espetacular (que beleza é esse tema com quase dois minutos, uma eternidade para um tema de abertura, com aquele jazz incrível a passear por várias mudanças estilísticas, no padrão de uma suíte, a evocar música asiática, africana, caribenha e certamente a sugerir os múltiplos cenários por onde os personagens interagiam). 

Foi um desenho feito para meninos na faixa dos dez anos de idade acompanhar, mas no meu caso, aos cinco, fui capturado para sempre.

Lembrança boa de 1965, dois seriados mais antigos, que eu descobrira ao assistir reprises que passavam no período vespertino : Ivanhoe e Os Três Mosqueteiros. 

"A Deusa de Joba" (Darkest Africa/King of Jungleland), produção da Republic Pictures, de 1936, para ser exibida nos cinemas da época. Na TV dos anos sessenta passava como seriado normal, misturado às produções feitas específicas para tal veículo, e no Brasil, também ficou conhecida como : "O Homem de Java". Recomendo o canal de YouTube "TV a Lenha e Os Viajantes do Tempo" de onde copiei o link, pois ele contém muitas raridades incríveis.

E por falar em produção antiga, seriados feitos para o cinema nos anos trinta e quarenta, como "Rockteer", A Deusa de Joba (que aqui no Brasil ficou conhecido também como: "O Homem de Java"), Flash Gordon e outros, haviam sido readaptados para serem exibidos na TV e eu os adorava.
Na política, houve eleição para prefeito das capitais em 1965, a última antes da ditadura cortar esse direito do cidadão, para só voltar quando o regime de exceção se encerrou, vinte anos depois.

E com meu pai sempre envolvido em campanhas, comitês e afins, fui com ele em várias ações dessa campanha, a bordo de uma pickup Rural Willys que pertencia ao candidato que ele apoiou na ocasião, incluso em visitas à emissoras de rádio onde este candidato concedeu entrevistas. 

Claro, com cinco anos de idade, ao acompanhar o meu pai e um candidato a prefeito de São Paulo no mesmo carro para tais finalidades de campanha, no meu imaginário infantil, foi algo muito grandioso, ao fazer me sentir privilegiado por estar a vivenciar tal movimentação de perto. Foi uma candidatura, hoje eu sei, estratégica, com o risco calculado da derrota iminente, mas com claro objetivo estratégico para preparar o terreno para futuras candidaturas a visar um degrau a mais na vida parlamentar. 

Vereador que já o era a exercer um mandato, ele planejou com tal oportunidade, a possibilidade de usar uma alavanca para se eleger deputado estadual em eleições futuras e foi o que ocorreu, quando emendou cinco ou seis mandatos consecutivos, a se solidificar no parlamento estadual. 

Uma curiosidade engraçada dessa campanha, de tal candidato, que foi uma figura muito conhecida no bairro do Belenzinho (ali fora seu reduto eleitoral natural), foi que o jingle de sua campanha se revelou uma paródia de uma música Pop francesa (na verdade, a sua intérprete era belga de nascimento), que havia se tornado um mega sucesso mundial no ano de 1963, chamado: "Dominique".

Cantada por uma freira, se tratara de uma canção Folk, muito alegre e com ares infantis que encantou as pessoas, mas também foi alvo de pilhérias múltiplas, pelo fato de ser pueril e cantada por uma freirinha, considerada "prafrentex", para usar uma gíria da época.

Tal cantora se chamava: Jeanine Deckers, que realmente fora freira, mas largara o hábito, quando assumiu a sua homossexualidade e algum tempo depois se suicidou por ter entrado em depressão em um momento de derrocada pessoal, infelizmente. 

Existe um filme longa-metragem chamado, "Souer Sourire" (Irmã Sorriso"), produção de 2009, que conta a história dessa freira dominicana que se tornou um fenômeno Pop efêmero em 1963.

Tal candidato, teve uma votação pífia (17.886 votos), mas fora esperado e calculado pela sua equipe, como estratégia para outras candidaturas, como já afirmei. Tratou-se do vereador, Januário Mantelli Neto e o vencedor do pleito de 1965, foi José Vicente Faria Lima, que para muitos, figura entre os melhores prefeitos que São Paulo já teve, ao longo da história.

Notícias que eu prestava a atenção a comentar sobre a corrida espacial entre os Estados Unidos e a União Soviética, me deixavam muito interessado no assunto. 

Os filmes e seriados de Sci-Fi já haviam me contaminado com esse apreço pela conquista do espaço, descoberta e contato com civilizações interplanetárias etc. Isso foi mais um elemento tipicamente dos anos sessenta, ou seja, como adoro essa década!


Bem, é isso, 1965 chegara ao final e duas lembranças fortes desse final de ano são os  riffs de "Day Tripper" dos Beatles e "Satisfaction", dos Rolling Stones, a me impressionarem. Talvez tenham sido os primeiros estalos concretos que tive em relação ao Rock, de uma maneira mais incisiva. 

Eu não sabia o que era um "riff" em 1965 e demoraria bastante a vir a entender o que isso significava, musicalmente, mas ambos me chamaram a atenção e no melhor estilo, "Bubblegum", grudaram na minha imaginação. Foram laços a me fisgarem e eu nem havia percebido isso na época, é claro!

Continua...

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