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quarta-feira, 15 de junho de 2016

1967 - Minha Ligação Inicial com o Rock na Infância e Começo da Adolescência - 1967: A Explosão Hippie Aqui e Agora - Por Luiz Domingues

 
Chegou o ano de 1967 e claro que eu não sabia, mas seria o ano da explosão sessentista, total. Se eu fosse enumerar a quantidade de fatos importantes que aconteceram nesse ano, seria válido para compor este capítulo, mas para não fugir ao padrão dos anteriores, só vou comentar o que me impactou diretamente, como criança, que eu fui, aos sete anos de idade e lastimo por não ter tido a chance para vivenciar com toda a potencialidade a carga artística, cultural e sociocomportamental que esse ano proporcionou à evolução da humanidade, como eu gostaria de ter absorvido.  
Para falar da minha percepção pessoal, claro que os respingos foram grandes e mesmo sendo criança ainda e rodeado por adultos antipatizantes de todas esses signos referentes à cultura Pop, contracultura, arte em geral e a música dita "jovem", com o Rock em sua linha de frente e em voga. Para ir direto ao assunto então...  

                       Eu, Luiz Domingues, em foto de 1967.

Muito bem adaptado ao bairro da Vila Pompeia, em 1967 esteve determinada pela família a minha inserção na vida escolar. Nessa época, eram muito poucas as crianças que tinham experiência com pré-escola antes de entrar no ensino fundamental, oficial. 

Claro que já existiam escolas infantis, mas a mentalidade arraigada na sociedade fazia com que a maioria das crianças só fossem para a escola aos sete anos de idade e completamente analfabetas, para começar da estaca zero o processo de alfabetização. Poucas tinham tal processo já adiantado por haverem frequentado o curso "pré-primário" aos seis anos, e mais raras ainda, as que tivessem experiência com socialização prévia, adquirida em estágios vivenciados em escolas infantis, chamadas pelo imaginário popular da época, como: "Jardim da Infância". 

E foi o meu caso, por não ter frequentado essas escolas infantis informais, para ser encaminhado diretamente da vivência caseira & familiar para o banco escolar formal. Porém, um fato burocrático e desagradável, impediu que isso fosse feito no seu prazo normal, portanto, não foi em 1967, que eu iniciei minha vida escolar, como deveria ter ocorrido, mas em 1968, no ano seguinte.  

Eu, Luiz Domingues, em outra foto de 1967. O "Verão do Amor" a pegar fogo em 1967, e eu era apenas um garotinho brasileiro, distante da contracultura, mas sutilmente a absorvê-la, apesar da pouca idade e da total falta de proximidade com os acontecimentos artísticos, estéticos e comportamentais que a envolveram, via Rock. 

Ocorreu que uma determinação nova da secretaria estadual de educação, passou a vigorar em 1967, e ao dar conta de que só aceitaria a inserção no sistema escolar, das crianças com sete anos completos quando do prazo estipulado para as matrículas, ou seja, em janeiro desse ano que se iniciara. 

Não faço ideia sobre qual teria sido a motivação adotada pelo Estado de São Paulo, para tomar tal atitude, mas apenas sei na prática, que qualquer criança nascida de março a dezembro de 1960, não pode ser matriculada em 1967, dessa forma, a prejudicá-las. Foi o meu caso e graças a tal norma, só pude ser matriculado em 1968, para me alfabetizar tardiamente, com 7 anos e meio e assim passar para o segundo ano primário, com 8 e meio, e assim sucessivamente, sempre de forma fragmentada na minha cronologia escolar.  

Eu, Luiz Domingues, em foto de 1967, com mamãe, Maria Luiza e papai, Milton. Acervo familiar
 
Foi desagradável, a minha mãe ficou bem contrariada com a recusa de minha matrícula, na secretaria da escola, mas houve o seu lado bom, por que ao entrar enfim no ensino formal, isso coincidiu com outra mudança residencial da família, e assim, eis que eu fui construir a minha iniciação escolar em outro bairro, localizado sob um outro quadrante da cidade, e portanto, tal fato me marcou como uma nova fase. Bem, isso é assunto para o próximo capítulo. 

Por enquanto, o que importa aqui, é que eu não comecei a estudar em 1967 e ao não frequentar as aulas no colégio, que por acaso se chamava: Grupo Escolar Experimental Dr. Edmundo de Carvalho (nos dias atuais a escola foi rebatizada como: Escola Estadual Raul Cortez, em homenagem ao saudoso ator), se decretou involuntariamente que não haveria de fincar raízes ali naquele bairro, no âmbito escolar, mas em outro bairro, que nessa época, início de 1967, eu nem sonhava que iria ser o meu novo lar no ano seguinte.  

           Eu, Luiz Domingues, em foto de 1967. Acervo familiar

Fora disso, nesse ano eu me recordo muito de ter tido bastante interação com o bairro. Aos sete anos e sob um esforço para fomentar a minha socialização, como ação educacional da parte dos meus pais, eu já realizava tarefas prosaicas, tais como ir à padaria da esquina das Ruas Clélia e Tibério, para comprar pão e leite, diariamente para a família e outras pequenas compras em estabelecimentos comerciais do entorno de casa.
Foto com pouca qualidade, extraída da internet, a mostrar a fachada da doceria, "Pólem", localizada na Rua Clélia, como se encontra nos dias atuais. Quando foi inaugurada em 1967, pertencia a uma família argentina, que a vendeu ao atual proprietário, em 1972. Apesar de estar em pleno funcionamento na atualidade, se mostra decadente e muito diferente da lembrança que eu tenho dela, em 1967, nova e moderna em suas instalações

Era também um prazer visitar a doceria Pólen, no mesmo quarteirão, em frente praticamente ao meu prédio, recém-inaugurada em 1967 (e que está a funcionar até hoje, 2016), quando se tornou habitual para a família o consumo de suas iguarias, com meu pai a comprar doces e tortas de várias sabores, devidamente degustados em frente ao monitor da TV, quando eu assistia: "Perdidos no Espaço"...  
Outro hábito adquirido, foram os jantares em restaurantes das redondezas, com a família. Haviam vários, apesar da Vila Pompeia ter sido um bairro bem residencial naquela época. Entre os prediletos, havia uma pequena cantina na Rua Clélia, bem perto de casa, acessível mediante uma curtíssima caminhada e outro restaurante maior (e que existe até os dias atuais, 2016, se bem que a contar com outra denominação), localizado na Avenida Pompeia, no cruzamento com a Rua Desembargador do Vale, e que está retratado na foto acima.  
A presença no Cine Nacional, da Rua Clélia, se tornou rotineira e ali, filmes épicos bíblicos, ou sob motivação histórica em geral, além de comédias malucas do Jerry Lewis, foram vistos em profusão. 

Foi em 1967, também, que eu visitei uma sala de cinema diferenciada localizada no centro da cidade e chamada como: "Comodoro" ou "Cinerama", no imaginário popular. Tal sala era gigantesca e contava com o que havia de mais moderno em tecnologia para a época, com uma tela panorâmica em curvatura, sendo necessário três projetores simultaneamente para o seu funcionamento perfeito, além de dois operadores de áudio para garantir o estéreo. 

Tal sala estava preparada para exibir filmes em formatos 3D, Panavision e Cinemascope. Era portanto ideal para exibir filmes épicos, a exibir grandes batalhas ou desastres, com imagens arrebatadoras e som potente, para envolver o espectador dentro do filme, propriamente dito.  

Uma pena, ao invés de assistirmos um filme ambientado em cenário de guerra ou histórico, com batalhas para aproveitar bem essa super experiência sensorial, os meus pais escolheram assistir uma comédia infantojuvenil, bem mais amena, mas suportável, chamada: "Dr. Dolittle", produção norte-americana, todavia ambientada na Inglaterra, a contar a história de um veterinário com ares de cientista maluco (interpretado pelo ator, Rex Harrison), e que conseguira "decifrar" a linguagem dos animais, ao falar com eles em seus "idiomas" respectivos. Não é nenhuma maravilha, mas foi interessante assistir naquela tela inacreditável e sob um som incrível, com os ruídos dos animais vindos de toda parte, graças ao estéreo bem equilibrado na sala de exibição.  
Visitas em outras salas de cinema espalhadas pela cidade, também se tornaram rotineiras. Lembro-me de frequentar o Cine Astor, do Conjunto Nacional, situado na Avenida Paulista, geralmente em sessões dominicais noturnas, após o jantar. 

Enquanto isso, a minha ligação com a sétima arte, via TV, prosseguia firme e forte, e cada vez mais incrível. Uma das lembranças mais sensacionais que eu guardo desse ano de 1967, foi a da exibição de um filme com cenas fortes e creio que inapropriadas para crianças, mas que os meus pais não se preocuparam em me deixar ver. 

Chamado como: "O Caso dos Irmãos Naves", se trata de uma obra prima do cineasta paulistano, Luiz Sérgio Person e que até hoje ninguém me explicou como pode ter sido exibido na TV, no próprio ano de seu lançamento, fator muito incomum para a época, mas sobretudo pelo seu teor, com a abordagem de uma história real, ocorrida em uma cidade interiorana de Minas Gerais, nos anos trinta, a dar conta de dois irmãos acusados injustamente de um crime de roubo, no qual foram as vítimas em realidade e pior que isso, por serem ambos, barbaramente torturados e humilhados para confessar um crime do qual não haviam praticado, mas que contrariamente, na verdade, foram as próprias vítimas.  

Ao assistir aquele filme com cenas chocantes, mas indignado pelo fato de estar a verificar um ato de injustiça insuportável diante de meus olhos, essa exibição me impressionou em demasia e além de ter propiciado que eu me tornasse doravante um fã da filmografia de Luiz Sérgio Person, tal história só veio a reforçar o meu sentimento arraigado em torno do repúdio à injustiça.

Fora desse evento que foi impactante ao extremo, filmes de várias vertentes e nacionalidades continuaram a me encantar sobremaneira. 

Inclusive filmes brasileiros produzidos em décadas anteriores, mais notadamente os filmes da década de cinquenta, que também eram exibidos com constância nessa época na TV.

Nessa predisposição, eu passei a ser um fã de diretores brasileiros tais como: Watson Macedo, Alex Viany, Roberto Santos e toda a filmografia da Vera Cruz, uma produtora cinquentista que entrara no mercado para imitar os grandes estúdios norte-americanos e mesmo não tendo o mesmo montante de recursos que seus pares hollywoodianos, fez bonito, ao lançar filmes históricos e muito bem acabados.

Já que citei a TV, a minha paixão por seriados, animações, filmes, programas musicais e os noticiários, se intensificara. Em 1967, além de tudo o que já gostava e seguia (algumas atrações, aliás, há anos), muitas novidades recém-lançadas ou que já existiam, mas só descobri ali, se incorporaram ao meu raio de atenção. 

"The Invaders"/"Os Invasores", um espetacular Sci-Fi com misto de aventura e teoria da conspiração. Ninguém acreditava em David Vincent, que testemunhara haver uma invasão alienígena em curso... 

Um dos seriados que mais gosto, é de 1967, e fazia com que eu esperasse ansiosamente pela chegada das noites de quinta-feira. Adorava assistir, "The Invaders" ("Os Invasores"), uma história Sci-Fi sensacional sobre uma invasão da parte de uma civilização alienígena, com o objetivo de dominar a raça humana, para que eles pudessem tomar o nosso Planeta, como o seu, visto que o mundo "deles" estava em vias de extinção. 

"Disfarçados" como humanos, estavam a se espalharem sorrateiramente para exercer um domínio brando, sem violência, mas aptos a serem violentos se fosse necessário. Somente um homem percebeu essa conspiração e desesperadamente tentava convencer as autoridades sobre esse maquiavelismo dos alienígenas infiltrados e claro, ninguém acreditava nele, ao considerá-lo como a um lunático. 

Angustiante ao extremo, é mais levado na base da teoria da conspiração do que em um show Sci-Fi tradicional, mas claro que existe esse lado extraterrestre em alguns aspectos, vez por outra, com a descoberta de bases dos alienígenas, naves e maquinários/armas, da parte deles.  

David Vincent a presenciar um alienígena em plano processo de evaporação corpórea, sob uma luz vermelha que eliminava os seus corpos em caso de morte, para não deixar vestígios, na primeira foto. Abaixo, um dos alienígenas a desaparecer, da maneira citada. 


O arquiteto, David Vincent (interpretado pelo ator, Roy Thinnes), deixa de lado a sua vida profissional e pessoal e o seriado mostra, capítulo a capítulo, a sua luta insana para desmascarar os alienígenas e convencer as autoridades sobre a invasão em curso, e isso quando não conversa com generais ou senadores que são alienígenas infiltrados e claro que estes faziam de tudo para sabotar Vincent e tentar tirá-lo de circulação. 

Marca registrada e que a garotada adorava, toda vez que conseguia matar um alienígena, este desintegrava-se, algo proposital da parte deles mesmos, que não queriam deixar vestígios e provas de sua existência e uma marca indelével : por uma falha tecnológica da parte "deles", todo alienígena tinha um dedo da mão, duro, sem mobilidade. Era uma forma de Vincent detectar se o suspeito era humano ou não.  

Eis acima, o tema de abertura e mais vários trechos de música incidental, usada na trilha sonora do seriado: "The Invaders", em duas partes. Sombria, tensa e nada "Peace & Love", em contraste com a good vibe aquariana, da explosão Hippie em plena erupção de 1967, mas bela, sem dúvida alguma. Composição e arranjos de Dominic Frontiere. 
Enfim, uma produção da Quinn Martin, que era uma companhia norte-americana que geralmente produzia seriados com teor policial, porém realizou esse Sci Fi, sensacional, porém angustiante, e do qual sou fã eterno. E a trilha sonora é sensacional, incluso a sonoplastia para os objetos e as naves dos alienígenas, além do tema musical de abertura que é assustador, mas lindo.   

Outros três seriados a envolver espionagem e teoria da conspiração, e que eu gostava muito nesse ano (e nos posteriores, claro, não deixei de gostar), foram: "The Wild Wild West" ("James West"), "Get Smart" ("O Agente 86") e "Mission: Impossible" (Missão Impossível"). 

Um era ambientado no velho oeste (The Wild Wild West), e chamava a atenção exatamente por ter esse mote anacrônico com as histórias montadas sob a ótica de quem raciocinava por parâmetros do século XX, mas com a ação ambientada e adaptada às condições do velho oeste norte-americano do século XIX, ou seja, quando tudo o que envolvia tecnologia, era na base de engenhocas construídas com os meios daquela época. 

Fora a elaboração de diálogos mordazes da parte dos personagens principais e vilões, música espetacular e o glamoroso modo de se frisar em "still" os ganchos antes dos intervalos comerciais, com a cena a ser transposta para uma ilustração sempre igual, mas estilizada como arte do século XIX, e ambientada naquele universo a evocar os famosos "gamblers", jogadores de poker profissionais que perambulava pelas cidades para amealhar dinheiro nas jogatinas perpetradas pelos saloons... 

Já o outro seriado ("Agente 86"), era igualmente genial, mas totalmente baseado no humor a satirizar os filmes baseados em agentes secretos, notadamente, James Bond, o maior ícone sessentista do gênero. Inacreditável como era simpático o ator protagonista, Dom Adams. 

E finalmente, "Mission: Impossible" ("Missão Impossível"), esse seriado era absolutamente mirabolante, com o clássico mote da instrução em forma de fita que auto destruir-se-ia em segundos a conter a instrução sobre a missão, a música tema sensacional e aquele clima de suspense por se ver a equipe a realizar missões literalmente impossíveis para desbaratar organizações criminosas e conspiradores contra o governo, com soluções inacreditáveis. 

Esse foi um seriados prediletos do meu pai na ocasião, e a lembrança de o assistirmos juntos e vibrarmos ao vermos aquelas loucuras engenhosas é das mais saudosas na minha recordação.

"Big Valley", foi um seriado classudo e ambientado no velho oeste, que eu também apreciava bastante nessa época, assim como "Run for Your Life" ("Alma de Aço"), e "Gentle Ben" ("Ben, o Urso Amigo").

Reprises de seriados mais antigos como: "The Abbott & Costello Show" (feito para o cinema, nos anos 1940), além de seriados dos anos cinquenta, passavam em profusão e claro que eu os apreciava. As aventuras de Robin Hood, Zorro, As Aventuras do Super Homem (este, bem tosco, produção de 1951), e uma série policial sensacional como: "Naked City" ("Cidade Nua"), a conter a sua bela frase de introdução: -"existem 8 milhões de pessoas em Nova York... 8 milhões de histórias"...

Mas uma série em específico, ficou queridíssima. Tratou-se de uma produção do ano anterior, mas como quase tudo chegava no Brasil, com um ano de atraso, normalmente, eu só comecei a acompanhá-la em 1967. 

Enquanto os norte-americanos assistiam a segunda temporada e já estavam apaixonados por uma série, somente um ano depois é que começávamos a vê-las por aqui, na sua primeira temporada. Foram raros os casos de defasagem menor ("The Invaders" foi uma exceção na época, que eu me lembre). 

Portanto, o Batman que me impactou primeiro, não foi o sombrio, original e clássico dos gibis da DC Comics, e aqui no Brasil lançados pela editora Ebal, mas sim o da série de 1966, com o personagem protagonista, sendo abertamente um bufão, caricato e absolutamente inadequado para quem gosta do personagem original, "sério", mas esse do seriado foi tão marcante que se tornou icônico nos anos sessenta.

Absolutamente anárquico, com corte de edição super moderno para a época e por conta disso, ultra psicodélico, o Batman de Adam West, e o Robin, de Burt Ward foi que me arrebatou fortemente pela estética e pela loucura total de sua produção e maneirismos mega Pop.
Tudo ali é sessentista demais, a absorver e jogar tudo no ventilador para se impregnar devidamente pelas paredes. Roteiros malucos, inverossimilhança total, música genial, figurinos os mais loucos, vilões hilários, a onomatopeia dos ruídos, das frases escritas em balões a imitar a linguagem dos gibis... tudo ali foi estrambótico demais, sob produção a beirar o "trash" total.
Algum dia eu vou escrever uma matéria grande sobre a série Batman, da TV, e ressaltar a enorme quantidade de astros veteranos do cinema que interpretou essa galeria incrível de vilões. Na segunda foto, por exemplo, que luxo ver o diretor, Otto Preminger, um gênio inveterado, a interpretar o vilão: "Mr. Freeze" ("Senhor Gelo"). Nessa foto acima, a contracenar com a atriz, Dee Hartford como sua cúmplice e vilanesa. Dee Hartford foi atriz de confiança de Irwin Allen, tendo atuado em todas as suas séries. Em "Perdidos no Espaço", por exemplo, ela interpretou a inesquecível, "Varda", uma androide que gerou ciúmes generalizados no Robot da família Robinson...
Além de tudo, a quantidade absurda de astros de cinema, muitos deles sendo veteranos dos anos trinta e quarenta, como atores convidados e geralmente a interpretar vilões incríveis, me assegurou que realmente não teria como não adorar tudo aquilo, e que me perdoem os fãs do "verdadeiro" Batman (como o personagem foi criado e concebido, soturno e sombrio), mas eu vou de Adam West..."Santa Ignorância, Batman!"

Mais uma série orientada pelo Sci-Fi que se tornou uma paixão eterna..."Star Trek", "Jornada nas  Estrelas" e aquelas aventuras incríveis vividas a bordo da Enterprise. Queria muito ser teletransportado para dentro da nave, pelo "senhor Scotty", e assim poder me aventurar ao lado do Capitão Kirk, Sr. Spok, Dr. "Bones" e toda aquela tripulação incrível. 

E aquele tema musical de abertura, hein? Vocalise humano, theremim ou sintetizador nos seus primórdios, o que é aquilo? Bem, como diria o Sr. Spock: -"Fascinante"...  

E outro grande marco de 1967 para um menino de sete anos de idade, foi a campanha que uma indústria petrolífera fez em parceria com a Marvel, quando a cada "X" litros de gasolina, o cliente ganhava um boneco de um Super Herói de seu universo. Mais que isso, tal campanha alavancou o lançamento de cinco heróis Marvel no mercado editorial brasileiro, que foram lançados simultaneamente em edições históricas de suas respectivas revistas solo (pela editora Ebal), e concomitante, estavam atrelados ao lançamento do desenhos animados de cada um desses personagens, pela TV brasileira, no caso a TV Bandeirantes de São Paulo, Canal 13, que estava recém-inaugurada, e anunciou tal novidade sensacional para alimentar a sua grade infantil de atrações.  

Com um bombardeio desses, é claro que fui fisgado e massacrei meu pai, diuturnamente, a conclamá-lo a somente abastecer o carro da família nessa tal rede de postos de gasolina. 

Também passei a ganhar todo mês, a edição da revista de cada herói Marvel, colecionei os bonecos e me tornei fã dos desenhos na TV. 

Cabe salientar que tais animações, que eram produções de 1966, detinham uma peculiaridade que era criticada ou ironizada pelos adultos em geral, mas que era o seu verdadeiro charme e continha um propósito concreto. Eram desenhos com o mínimo de movimentos, a contrastar com os desenhos normais, praticamente a reproduzir em frames/stills, as tiras das histórias em quadrinhos. 

Para quem acompanhava os gibis, fora portanto, uma reprodução da leitura do gibi na TV e sem a necessidade de ler os balões, porque havia áudio com falas, música e sonoplastia e a conter as mesmas histórias lidas nas revistas.

Por tal característica, essa produção com cinco heróis Marvel, de 1966, é também conhecida entre os colecionadores, como: "Desenhos Desanimados da Marvel".  O termo usado, "desanimado" em questão, a se referir ao fato de não haver quase nenhuma animação. Entretanto, se tornou uma piada pronta os para detratores que usaram o termo com outra conotação, para lhes imputar a pecha de "chatos"...  
Bem, que se danem os caluniadores, pois eu (e tenho certeza, um bom contingente que os via em 1967), o adorava. E no meu caso, gosto até hoje. Falo sobre Thor, Capitão América, Hulk, Homem de Ferro e Namor, o Príncipe Submarino. 

Outra animação que eu apreciei bastante em 1967, é tão obscura nos dias atuais, que até na internet é difícil obter informações. Chamada como: "Space Angel" ("os Anjos do Espaço"), se trata de uma animação focada no gênero Sci-Fi, com as aventuras da tripulação de uma nave espacial, sob o comando de Scott McCloud. 

Tal produção contém uma similaridade com os desenhos "desanimados" da Marvel, pois segue a mesma linha minimalista, com movimentação mínima, praticamente só com os lábios dos personagens a se mexerem, quando estes falavam. 

Outro desenho que muito apreciei e por uma via inusitada me despertou a atenção para a mitologia grega, foi: "Hércules". Não era 100% fidedigno aos textos clássicos da mitologia, pois continha muitas licenças poéticas, compreensíveis para atingir o público infantil, mas eu nem percebia isso na época, certamente. O importante foi que apreciei muito a atração, e dali em diante, o assunto, "Mitologia Grega" entrou para o meu rol de interesses.
 
As séries do produtor Irwin Allen, que já eram exibidas há tempos, "Perdidos no Espaço" e "Viagem ao Fundo do Mar", foram paixões consolidadas, mas logo chegaria uma terceira produção desse mestre, que se tornou tão querida quanto e que mexeria comigo de forma ainda mais incisiva por tratar de um tema que eu adorava: a história. Foi por uma questão de meses, no início do ano seguinte que eu mergulharia nessa nova aventura fantástica e da qual comentarei no próximo capítulo, quando abordar o ano de 1968.

Para falar de uma produção nacional, eu adorava o programa do Zé do Caixão, na TV. Era tosco ao cubo, mas o  considerava genial e confesso que tinha muito medo. Perturbador e inesquecível na minha memória, foi um episódio sobre uma suposta revolta dos mortos em um cemitério, ao se levantarem das tumbas e na mais clássica atitude dos filmes de zumbis, a caminharem para atacar os "vivos" enquanto entoavam um mantra macabro:  -"vocês perturbaram o sono dos mortos"... 

Quando tais zumbis estavam quase a chegar na rua e atacariam os vivos, a energia acabou no meu bairro. Lembro-me do meu pai a falar no escuro: -"bem, o negócio é ir dormir, então"... e eu, apavorado, a pensar: -"dormir como, agora?" 

Para me impressionar ainda mais, isso ocorreu na véspera de feriado do Dia de Finados, em 2 de novembro de 1967... e de fato, foi difícil conseguir dormir, com cada ruído no escuro, a poder ser um zumbi que se aproximava, afinal de contas, nós, os "vivos", os havíamos perturbado em seu sono eterno...  

Ainda a comentar sobre a TV, é claro que a efervescência dos anos sessenta estava na tela. A experiência incrível de poder assistir o Festival de MPB da TV Record em 1967, ao vivo pela TV, e por ser um dos maiores festivais de todos os tempos, senão o maior dentro da história da MPB, foi inesquecível. 

Assisti tudo, com a minha família junto e não só a receber o impacto primordial desse histórico acontecimento, como a ouvir as opiniões de meus pais, pró e contra determinados artistas, considerações estéticas, e pelo visual espalhafatoso de alguns já antenados com o movimento hippie em pleno curso nos Estados Unidos e Inglaterra etc.

Ali os primeiros ecos hippies de fato, me saltaram aos olhos, ao ver cabeludos mais proeminentes, além do corte Beatle mais comedido pelo qual todos os conservadores reclamavam, a causar choque, além de tais artistas por estarem a usar figurinos absolutamente incríveis, totalmente coadunados com o que acontecia na "Swingin' London" ou "Haight-Ashbury" de San Francisco, Califórnia. 

Vi em ação os Beatnicks, Mutantes, e a loucura de Caetano e Gil a contrastar com artistas "comportados" em seus smokings e acompanhados por orquestras tradicionais. Vi o repórter, Randal Juliano, a provocar e ironizar, Arnaldo Baptista, enquanto soltava baforadas no ar (repórter a conduzir uma entrevista e simultaneamente a fumar... prática inimaginável nos dias atuais), vi Sérgio Ricardo ao ter um chilique e assim quebrar o seu violão, para atirá-lo na plateia que o vaiava (mal sabia eu, que Pete Townshend estava habituado a fazer isso com as suas guitarras, em Londres, mas por questão de performance e não por uma contrariedade pessoal), e muito mais...  

Tão perto e ao mesmo tempo ainda longe do Rock'n' Roll... eu a morar na Rua Clélia, e o QG dos Mutantes, sediado na Rua Venâncio Aires, a poucos quarteirões de diferença e tudo ali, no calor Flower Power de 1967...
 
E também eu não sabia na época, mas eu morava a quatro quarteirões da residência dos irmãos, Dias Baptista, que eram vizinhos de Luiz Carlini e que por sua vez, moravam a um quarteirão dos irmãos Vecchione...  
É como diz o título do documentário sobre tal festival: "uma noite em 67"... e eu a vivenciei! E por isso, sou um privilegiado, ainda que fosse na sala de estar da minha residência, pelo tubo de uma TV em preto e branco bem arcaica, mas eu vi no tempo real!

Fora tudo isso, "promos" (corruptela da palavra inglesa, "promotional", "promocional", em português, que foi o protótipo do que viria a ser o "vídeoclip", muitos anos depois), com bandas de Rock, começaram a passar na TV, com maior profusão. 

Foram provenientes de fitas de programas britânicos, norte-americanos, franceses, italianos, alemães e espanhóis, além da Jovem Guarda que já pegava fogo e tentativas de se produzirem programas concorrentes, caso do Ronnie Von (que era todo montado como uma história de carochinha, para dar mote à ideia do "Pequeno Príncipe", de Exupery), e d'Os Incríveis, ambos na TV Excelsior.

E havia o humor anárquico da "Família Trapo", uma sitcom filmada ao vivo, com público presente na filmagem e aberta a improvisos. Tratava-se de uma sátira da família "Trapp", personagens do filme: "The Sound of Music" ("A Noviça Rebelde"), ao mostrar o cotidiano de uma família paulistana com personagens incríveis, a conter um ótimo texto e muita criatividade.  

Na primeira foto, a fachada da loja, Hi-Fi, da Rua Augusta, uma das mais concorridas da cidade de São Paulo, pelos Rockers à procura das novidades a saírem do forno e que foi uma, entre outras tantas, em que se formou fila na porta no dia em que o novo disco dos Beatles, saiu em 1967 (Sgtº Pepper's Lonely Hearts Club Band...)

No rádio, lembro-me nitidamente de uma reportagem (na rádio Bandeirantes por sinal), feita para anunciar que havia a formação de filas em diversas lojas de discos de São Paulo, formadas por fãs dos Beatles que sabiam que naquele dia, o novo LP da banda, chamado: "Sargeant Pepper's Lonely Hearts Club Band" seria disponibilizado para a venda. 

E foi no rádio também, que eu ouvi a notícia que um festival de Rock acabara de acontecer na Califórnia, ao atrair "Hippies" cabeludos, em uma das primeiras menções que ouvi sobre o Festival de Monterey, em agosto de 1967.

O som de Otis Redding e The Mamas and the Papas tocava a todo vapor, assim como as canções Pop, da belíssima cantora francesa, Françoise Hardy, além de muitos outros artistas incríveis.
Posso dizer que estava muito próximo de começar a me interessar verdadeiramente pelo Rock, pois comecei a descobrir outros artistas, além da obviedade dos Beatles e Rolling Stones e também artistas nacionais da dita, Jovem Guarda. Seria em 1968, que eu assumiria estar de fato a gostar e procurar conhecer melhor tal mundo do Rock e da música em geral, mas em 1967, os primeiros indícios já estavam no ar...

Para sair dessa área musical, digo que apesar do meu pai ter tido toda a boa vontade do mundo em me presentear com um "Autorama" por conta do meu aniversário, quem mais o aproveitou, de fato, foi ele mesmo. Achei incrível o presente, a montagem da pista em formato "8", os carrinhos a voar (as vezes, literalmente, para sair fora da pista, e a se espatifarem pelas paredes), mas o que eu gostava mesmo era de brinquedos inspirados na militaria ou com referências espaciais. 

Uma metralhadora usada na II Guerra Mundial, uma pistola "Laser" usada pelos personagens de "Perdidos no Espaço" ou o rádio comunicador da tripulação da "Enterprise", de "Jornadas nas Estrelas" teria me agradado mais... mas valeu, pai! A intenção foi ótima!

No campo esportivo, assim como no Rock, a semente para começar a acompanhar de fato o futebol estava a germinar. Não digo que foi ainda em 1967, tal mergulho definitivo, mas o noticiário esportivo começou a prender a minha atenção e por conta própria, eu soube que o Corinthians fez um gol no último minuto, contra o São Paulo que estava a vencer por 1 x 0. Com o empate, o São Paulo que tinha o título na mão, foi obrigado a fazer um jogo desempate contra o Santos e perdeu, por 2 x 1. "A bola pune" com diz o ex-técnico, Muricy Ramalho, e histórias que se tornam lendas, são marcas registradas do ludopédio.

Bem, o Santos foi campeão paulista de 1967, conforme descrevi acima, mas o meu time e que eu ainda não havia assumido como tal, mas pelo qual já nutria simpatia velada (além de receber pressão para me assumir como seu torcedor por parte de tios que também eram torcedores dele), ganhou dois títulos nacionais nesse ano. Campeão da Taça Brasil e Campeão Brasileiro (que na época se chamava: "Torneio Roberto Gomes Pedrosa"), dois campeonatos distintos, mas com peso igual e por conta disso, iria disputar a Taça Libertadores de 1968. 

Em 1967, eu fui com os meus pais ao 7º Salão da Criança de São Paulo. Foi em uma noite de outubro, com temperatura fria apesar de estarmos em plena primavera e com a tradicional garoa a umedecer as nossas vestimentas.  

Estava absurdamente cheio o Pavilhão da Bienal no Parque do Ibirapuera, onde se realizava tal Feira na ocasião. Nesta edição, eu adorei ver de preto um avião todo prateado, que imediatamente me remeteu à conquista do espaço, tema recorrente no imaginário sessentista para milhões de meninos da minha idade.

Haviam muitos stands de fabricantes de brinquedos a exporem as suas novidades, assim como muitas indústrias de alimentos e guloseimas a realizarem as suas promoções e persuadir os pais a comprarem seus produtos tão adorados pelos pequenos. 

Bolo Pullman, barras de chocolate de várias marcas, balas, gomas de mascar, drops Dulcora, Mentex, Suco em pó da Ki-Suco, Sorvete Kibon, Pudim e Gelatina Royal, Toddy/Nescau & Ovomaltine, todos os refrigerantes possíveis e imagináveis... enfim... tudo o que o tal mercado focado no paladar infantil pudesse sugerir na época, ali esteve representado e a apresentar as suas promoções.  

E até o mercado da moda infantil foi explorado, com desfiles de moda para crianças e pré-adolescentes. Chegamos a entrar em um desses stands fechados, por que a minha mãe quis descansar e se isolar um pouco do tumulto da feira. 

Fiquei impressionado com o som, muito poderoso, vindo de um PA, que aliás, obviamente, eu não sabia o que era um "Public Address System", mas que me atingiu com uma volúpia sonora tamanha, com a qual eu nunca havia me deparado até então. 

Neste caso,m se executava uma seleção de Rock internacional em voga, e eu não consigo dizer claramente o que tocou, mas foi muito empolgante. Devia ser material oriundo de bandas britânicas e norte-americanas de Rock em alta voga em 1967 e mesmo que fossem obscuras, o que poder-se-ia esperar de um material absolutamente pautado pelo frescor contracultural de 1967, nos ouvidos, com aquela potência sonora que fora enorme e inédita na minha vida? Claro que sai dali muito impactado, por ter gostado muito dessa vibração incrível. 

Além disso, no imaginário de um menino de sete anos de idade, ver aquelas meninas que deviam ter entre dez e treze anos no máximo, bonitas, com aquela pose toda a desfilarem sob aquele som, me deixou, boquiaberto. Eu as achei lindas, sofisticadas e inatingíveis na minha avaliação.

Por cerca de meia hora fiquei a torcer para crescer mais rápido e deixar de ser um menino tímido com sete anos de idade, apenas, o quanto antes, mas a vida não funcionava assim e tive que amargar ainda uma longa jornada para poder interagir com "meninas grandes" e lindas como aquelas! Enfim, meninos amadurecem mais lentamente nesse quesito.

Ao final do ano, em dezembro, a minha família programou uma nova mudança de residência. Fomos para a Vila Olímpia, bairro da zona sul de São Paulo, para morarmos em uma casa ampla, com espaço suficiente para eu armar o meu verdadeiro "set de cinema" em que se constituía o cenário do meu "Forte Apache", reforçado por diversos outros jogos que acoplei e muitos soldados, cowboys e índios que anexei de uma forma avulsa, ao longo dos tempos. 

Nessa altura, eu contava com centenas de figurantes nos meus filmes imaginários representados pelos brinquedos que compunham o cenário completo. Então, haviam os ataques dos índios ao Forte, contra-ataques aos acampamentos dos Apaches, emboscadas às caravanas de pioneiros, bandidos comuns a atacarem e roubarem bancos de cidadezinhas remotas e tudo a acontecer ao mesmo tempo sob um tremendo conceito de "cinemascope", pois eu me sentia o Cecil B.De Mille a dirigir aquela loucura toda e para contrariar a minha mãe, que não compreendia por que a minha brincadeira não se concentrava apenas em um canto, a facilitar a locomoção dos adultos dentro de casa, mas a ocupar todos os espaços com os brinquedos! 

Na época eu não tinha um poder de argumentação muito forte, mas certamente que se pudesse, a resposta teria sido que se tratava da produção de um filme, em formato "Panavision"...

E assim, 1967 chegou ao seu final.  

A nuvem psicodélica estava esparramada sobre a cabeça de todos, e começava a contaminar a sociedade tradicionalista que a absorvia por osmose. Mesmo com a contrariedade esperada vinda dos conservadores, que enxergavam naquela manifestação, um perigo aos seus valores tradicionais (e foi isso mesmo, afinal de contas), para quem viveu aquela euforia aquariana, foi o momento mais ímpar do século XX, em termos de expressão cultural e revolução comportamental, a superar a loucura dos anos vinte em muito. 

De fato, os anos vinte foram pródigos em manifestações artísticas avantgarde (com a explosão do cinema e movimentos artísticos sensacionais como o expressionismo no cinema, surrealismo e dadaísmo nas artes plásticas e literatura). 

Mas desta vez, a explosão multicultural estava a provocar mudanças significativas no âmago da sociedade, a quebrar paradigmas de fato, e não ao ficarem restritas apenas ao seleto mundo habitado por intelectuais confinados em galerias de arte, ou nos bastidores da emergente indústria do cinema, como ocorrera nos anos vinte.  

Desta vez, a sensação de liberdade estava a tomar as ruas e preocupar as autoridades/governos cujas respectivas inteligências não estavam por conseguir estabelecerem a leitura precisa do que aquilo representava. 

Não era uma simples infiltração arquitetada por forças políticas e ideológicas e motivadas por ideais esquerdistas, nem mesmo amparadas pelo anarquismo puro, mas algo não identificável, porém que os preocupara muito, no sentido de que apontava para um movimento natural a insinuar a desobediência civil em massa, mesmo não sendo em tese um movimento ideológico ou político em essência. 

E não havia uma liderança clara que pudesse ser combatida pela força bruta ou por esforços sutis com as técnicas tradicionais de desestabilização, como por exemplo a da ridicularização pública dos inimigos, para influenciar a opinião pública, uma arma publicitária recorrente para sufocar rebeliões, há séculos. 

Não havia um Mahatma Gandhi com um cajado na mão, a pregar a não-violência e sugerir o boicote ao sistema, pelo advento ingênuo da prática do jejum. O que houve, foi arte a explodir em várias frentes ao mesmo tempo, com a música na linha de frente, a conduzir uma onda de contestação natural aos valores antigos da sociedade e dessa maneira, a questionar o sistema, mas não a fim de derrubá-lo, simplesmente, mas subliminarmente, a corroê-lo pelo sentimento de desprezo absoluto, via desapego dos valores materialistas, em função de uma vida mais frugal, fraternal, sem violência, sem ganância e com todos os males que tais sentimentos negativos trazem a reboque, de uma forma inevitável. 

Isso sem contar um dos pilares fundamentais que essa efervescência proporcionou, ao fazer a ponte do ocidente em seu aspecto da razão, com a espiritualidade do oriente. 
Nem Madame Blavatsky ao lado de seus pares da Sociedade Teosófica, que havia dado a sua colaboração ímpar em meados do século XIX e início do século XX,  jamais chegou perto do que o Rock conseguiu ao trazer o som da cítara, tabla, ragas e dos mantras para o mundo ocidental fechado em sua ferrenha mentalidade material, por espalhar a reboque, não só tal musicalidade, mas toda a filosofia por trás do conceito espiritual. "Mágico" é pouco para expressar o que isso representou para o avanço da humanidade.  
Escrevi uma matéria para falar sobre a contribuição incalculável que George Harrison, deu à humanidade ao trazer para a música dos Beatles e posteriormente em sua carreira solo, tais elementos vindos da Índia:

http://luiz-domingues.blogspot.com.br/2013/06/harrison-aproximou-india-para-nos-por.html 

Primeiro evento transmitido ao vivo para o mundo inteiro via satélite, os Beatles a tocarem ao vivo, uma música inédita que estava a ser lançada, chamada: "All You Need is Love" ("Tudo o que Você Precisa é Amor"), ou seja, não houve nada mais Aquariano e Flower Power que isso, para representar o que foi 1967...

Essa euforia, eu não entendia na época, certamente. Só fui analisar isso a posteriori, é claro. Contudo, mesmo sendo apenas um menino com sete anos de idade, ingênuo e sem nenhuma sofisticação intelectual além do normal para a minha idade de então, sob a influência educacional e cultural da família e parentes que me cercavam.

Estes por sinal, sem nenhuma simpatia pelos acontecimentos que ocorriam e pelo contrário, com muitas contrariedades explícitas como carga de opinião formada a me influenciar.

E assim, eu posso afirmar que em meio às adversidades, a minha lembrança é a de ter nutrido simpatia pelas informações que recebia dos meios de comunicação (e acrescento que em via de regra, a abordagem da parte dos difusores culturais oficiais, sempre foi negativa, em tom de contrariedade explícita ou pela via jocosa).

Para encerrar este capítulo, 1967 foi um ano muito importante na minha formação cultural e mesmo que não tenha sido nem perto do ideal do que eu gostaria de haver absorvido mais conscientemente como adulto ou no mínimo como adolescente, de fato recebi muitos pingos dessa onda psicodélica a atingirem a minha mente e isso me gerou uma sensação de prazer e orgulho por ter tido tal privilégio. 

Só por ter decretado que tudo o que os humanos precisam é de amor, 1967 já teria sido um ano genial, mas isso foi só um detalhe para o ano que teve o seu "verão do amor" tão marcante... 

Turn on, Tune in and Drop Out...

Sigam-nos, pois estamos a mudar o mundo. E assim prosseguiríamos em 1968...
Continua...

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