Sem a presença da ótima cantora, Verônica Luhr, e sem o Victória Pub como palco fixo, com direito a bons cachês e badalação, ficamos sem perspectiva imediata para seguirmos no ótimo embalo que havíamos obtido, desde outubro de 1982.
Então, o Zé Luiz Dinola
teve a ideia de que nós produzíssemos um show em um espaço alternativo, que não
fosse uma casa noturna, onde poderíamos tocar mais o nosso material autoral,
com menos covers no set list.
Surgiu então a ideia de alugarmos um pequeno teatro que pertencia a um colégio particular, na Av. Angélica, chamado: Colégio Piratininga. O motivo dessa escolha ocorreu pelo fato do Zé Luiz ter estudado lá, e conhecer algumas pessoas da direção do mesmo, a facilitar o contato.
E
o início da conversação foi promissor, pois o colégio aceitou ceder-nos o teatro, sem
custos, mediante uma pequena compensação, apenas como contrapartida: pediu-nos para
providenciarmos cortinas pretas de cenografia para tampar as coxias,
recurso esse que não havia no teatro, e que elas ficassem para o teatro, definitivamente, em troca do
uso do espaço. Como tratava-se de um pequeno auditório (cerca de trezentos assentos), o
material usado ficaria muito mais barato que o valor do aluguel em outro teatro
qualquer, e dessa forma, nós aceitamos a permuta.
Então, nós gastamos cerca de vinte dias de trabalho intenso, pois tivemos que providenciar toda essa burocracia, além da divulgação e produção do show. Não obstante termos que pensar na cenografia, pois tínhamos de confeccionar as cortinas, pensar em um cenário minimamente interessante, alugar equipamento de PA e iluminação e claro, tínhamos que ensaiar!
Sem a Verônica, foi preciso adaptar o vocal do Rubens para a maioria das músicas, o Zé Luiz, em algumas, e até eu entrei na mira, ao assumir como vocalista solo, mesmo sabedor que a minha voz servia somente razoável para auxiliar os backing vocals e sob limitações.
Foram dias intensos sob muito
trabalho e uma certa apreensão, pois o risco fora grande, ao se considerar que dependeríamos de uma incerta féria oriunda da bilheteria...
Somente eu e Zé Luiz esforçamo-nos para sanar tais entraves impingidos pela burocracia. Ninguém ajudou-nos externamente nessa questão. A verdade foi que não tínhamos a mínima ideia do que era realmente necessário.
A primeira providência que sugeriu-se, foi pedir
uma licença à Prefeitura, para não haver perigo de embargo do show ou
sanções, pois o Colégio desejou estar 100 % garantido que nada acontecer-lhe-ia, mas o fato engraçado nessa equação foi que eles detinham o Teatro, mas não
faziam a menor ideia sobre o que seria realmente necessário para explorá-lo comercialmente, pois ele era
usado só para as atividades pedagógicas internas, e dessa forma, portavam apenas a licença
operacional concedida pela delegacia de ensino, via Secretaria de
Educação, e isso bastava aos seus propósitos educacionais, tão somente.
Contudo, tratava-se de uma situação nova, com uma apresentação musical mediante cobrança de ingressos ao público em geral, e nesse caso, eles jogaram a bomba da burocracia para as nossas mãos.
Sendo assim, perdidos, fomos à Prefeitura e ali informaram-nos que seria preciso pagar uma taxa para solicitar o alvará para
o teatro, mas também seria necessário uma autorização do corpo de
bombeiros e a cobrança de ingressos só seria liberada mediante uma
aprovação do talão de ingressos numerados, após pagarmos uma taxa para o
governo estadual, também... e claro, nada disso era resolvido de forma imediata... primeiro teríamos que pagar e esperar prazos longos, que
praticamente colocavam a realização do show em risco.
Essa ladainha consumiu-nos por alguns dias ao visitarmos repartições públicas, e sofrermos de guichê em guichê, até que a paciência esgotou-se, e resolvemos mandar tudo às favas!
Seria tanta burocracia inútil e dinheiro jogado fora, que realmente tal situação aviltante, aborreceu-nos profundamente. Isso
fora um "corrupto de plantão", funcionário de uma dessas repartições públicas, que tentou aplicar-nos um golpe da "facilidade", e por conta dessa situação revoltante, o Zé Luiz o apelidou como: "Gordo FDP",
pois era realmente uma figura asquerosa, por suar em bicas, e ali a querer arrancar-nos dinheiro...
No tocante à Ordem dos Músicos do Brasil, eu já era membro desde 1982. Também preocupamo-nos com essa questão, mas o Zé Luiz e o Rubens não quiseram gastar esse dinheiro extra, além do incômodo de perder um dia útil, para cumprir aqueles testes musicais bisonhos, com direito à longa espera no local, com várias horas perdidas sob profundo tédio.
Arriscamos também nesse quesito, ao combinar entre nós, que se um fiscal da OMB aparecesse, apresentaríamos a minha carteira, e tentaríamos convencê-lo a não multar-nos. Claro, isso nunca aconteceria, pois se o fiscal fosse ao teatro, seriamos multados, sem piedade, visto que uma carteira em ordem, apenas, não isentar-nos-ia.
E o ECAD, foi uma outra luta que abandonamos, pois após consulta que efetuamos, tomamos conhecimento que o órgão desejava cobrar-nos uma taxa absurda como pagamento prévio, ou mandariam o fiscal no dia do espetáculo, para buscar 10% da renda bruta, da bilheteria. Por incrível que pareça, a taxa exigida, na ponta do lápis, mostrava-se mais cara que os 10% sobre a lotação máxima do teatro, e sendo assim, deixamos que o fiscal aparecesse por lá, no dia, a se pensar na nossa conveniência.
E de uma forma inacreditável, ele foi mesmo! Está aí uma determinação que não falha: o fiscal do Ecad aparece até em "pic-nic" familiar... bastou pegar um violão para entreter a família, e ele aparece a desejar a lista do repertório para anotar em seu relatório, e amealhar 10% da arrecadação bruta.
A produção de palco seria a mais simples
possível. Tocaríamos sem cenário, apenas com as cortinas pretas que
compramos, como fundo.
Nos últimos dias antes do show, o Rubens sugeriu que
colocássemos alguns posters que ele tinha emoldurados em sua casa, com pinturas do Roger
Dean.
Essa foi a simples elaboração do cenário. Os ensaios foram normais, na residência do Rubens, realizados em nosso improvisado estúdio habitual.
O Teatro só foi liberado no dia do
show, e apenas o Zé Luiz esteve lá anteriormente para medir o espaço, ao visar calcular a
quantidade de tecido que precisaríamos, para preparar as cortinas cênicas exigidas através do nosso acordo com o colégio. E também checar o palco, para saber sobre a quantidade de tomadas de eletricidade ali existentes, para podermos contratar o PA e o equipamento de iluminação.
A questão da divulgação foi bastante complicada, pois não tínhamos uma verba folgada para tal finalidade. Apesar de termos feito um bom caixa nos meses anteriores, com uma agenda movimentada por shows, e principalmente pelos cachês robustos, provenientes da nossa temporada realizada no Victoria Pub (realizamos quatorze shows, no total), teríamos que garantir uma boa quantia como reserva, para pagar o aluguel de PA e iluminação, as cortinas, e produção em geral.
Cotamos o preço para mandar imprimir cartazes, "lambe-lambe" e
filipetas. Rádio, TV e tijolos nos jornais, nem pensar, e nessa etapa da
história da banda, não conquistariam novos adeptos, pois éramos ilustres desconhecidos
do grande público.
Se houvesse verba, seriam interessantes, contudo,
como mídia de alastramento da marca. Mas não foi o caso nessa fase da carreira, com nosso caixa
minúsculo para bancar tal aventura de promoção.
Fizemos então alguns cartazes, filipetas e a verba não se mostra suficiente para cobrir a colagem de lambe-lambe, apenas garantira a sua impressão.
Dessa forma, o Zé Luiz (sempre ele, nessas horas desbravadoras), disse que sabia preparar a cola que os coladores de lambe-lambe usavam, e que prontificava-se a produzi-la, se nós aceitássemos ajudá-lo a colar pelos tapumes urbanos.
Posto isso,
nós iniciamos uma semana intensa, ao produzirmos litros de cola, e a sairmos com carros
pelas madrugadas, a colocarmos nós mesmos, os cartazes nas ruas. Claro, pedimos
orientação para o pessoal da gráfica, sobre o roteiro a ser percorrido,
pois havia um acordo entre todas as gráficas de São Paulo, sobre
territórios demarcados. Sendo assim, só colocamos onde eles iriam
colocar, e assim economizamos a verba da colagem, que aliás era
praticamente a metade do preço cobrado.
Era usado polvilho azedo, água fervente e um pouco de sal grosso. Infelizmente, aquilo continha um odor insuportável, por constituir-se de uma gosma fétida e nojenta, que causava náuseas. Fora o incômodo de nos obrigar a usarmos panelas gigantes que o Zé Luiz providenciara, mas absolutamente inadequado para ser usado em um fogão residencial com pequena extensão.
Saíamos para a rua por volta de meia-noite, com latas de tinta, improvisadas como vasilhas para transportar tal líquido asqueroso, e o Zé Luiz providenciou cabos de vassoura para adaptá-las às broxas de pintura de paredes, como ferramenta na aplicação.
Seguíamos nós três da banda, no carro do Rubens, e uma ou outra noite, tivemos ajuda de alguns amigos abnegados, a seguir-nos em outro carro. Mas o grosso do trabalho foi executado por nós mesmos.
No
início de 1983, ainda vivíamos tempos de estações climáticas bem
definidas, e na metade de abril, o outono já era bem gelado em São Paulo. Sendo assim, sentíamos um calor terrível dentro do carro, com as latas
a ferver, e ao sair, a temperatura externa era bem baixa.
Logo na primeira colagem, em um tapume perto do local onde tocaríamos, na Av. Angélica, percebemos que a inundação inevitável no carro, e os respingos, eram inevitáveis, a deixar as nossas roupas impregnadas com aquele odor acre.
E ao ir além, a cola caseira não era igual à usada por esses coladores profissionais. Vimos equipes profissionais a trabalhar, e a cola usada por eles era aderente, automaticamente. A nossa, não era tão eficaz, e por algum erro nosso de fabricação, mostrava-se mais líquida que a deles, portanto, escorria.
Como resultado prático, para fixar, gastávamos mais
material do que eles. O Zé Luiz aperfeiçoou a fabricação da sua química nos dias posteriores, depois dessa aula prática que tivemos no primeiro dia.
E
assim foram noites e noites, a tornar essa produção cansativa, pois
enfrentávamos a burocracia no período vespertino, ensaios e outros detalhes de
produção. Comprar e preparar as cortinas, também foi trabalhoso, por exemplo.
No tocante aos cartazetes e filipetas, nós colocamos em alguns pontos estratégicos da época, mas isso foi fácil, devido a pouca quantidade que tínhamos à nossa disposição.
E uma terceira medida foi adotada como estratégia de divulgação, mas que hoje em dia eu desaprovo em 100 %. Pois nós pichamos alguns muros, também em ações promovidas pela madrugada. Uma vez até, fomos abordados por uma viatura da polícia.
Para a nossa sorte, os dois policiais militares da viatura, foram complacentes para conosco, e não houve condução à delegacia. Eles só nos revistaram, confiscaram os tubos de tinta encontrados conosco e deram-nos a advertência de que na reincidência, autuar-nos-iam.
Algumas dessas pichações, feitas em bairros da zona sul de São Paulo, tais como: Saúde,
Ipiranga e Vila Mariana, ficaram por muitos anos, ali expostas. Houve uma delas, inclusive, perto da estação
Vila Mariana do Metrô, que sobreviveu até pelo menos, 1986...
Reprovo essa prática veementemente. Assumo a minha parcela de culpa, mas à época, mesmo ao considerar errado sob o ponto de vista da ética e da cidadania, eu apoiei a prática, por deduzir que essa propaganda seria importante para a consolidação do nosso nome.
De fato, não foram poucas as vezes em que pessoas falaram-me sobre terem visto tais pichações nesses muros, e depois que a banda começou a ficar famosa, após termos começado a aparecer na TV, muitas pessoas contaram-me que viam essas pichações, mas não faziam a menor ideia do que significava aquilo, mas depois que a nossa banda despontou com visibilidade na mídia, começaram a associar tal manifestação abominável, à existência da banda.
O plano inicial foi de se pichar muitos outros bairros da zona sul, e sob uma segunda etapa, expandir às outras zonas da cidade. Entretanto, depois desse susto com a polícia, cancelamos essa estratégia.
A seguir, falo do show no Teatro do Colégio Piratininga, propriamente dito.
Iríamos tocar somente com o fundo preto das cortinas, mas de última hora, o Rubens sugeriu usarmos vários quadros a conter posters de pinturas do Roger Dean que ele possuía em sua residência (e também de um outro ilustrador internacional, este mais conhecido no meio do Heavy-Metal, por assinar capas de álbuns de bandas dessa seara). Tal medida tratou por fornecer um acabamento melhor ao visual do palco, sem dúvida.
O próprio pessoal do PA alugou-nos também um pequeno sistema de iluminação. Foram colocadas duas torres laterais, com cerca de oito spots de quinhentos, em cada uma. Uma iluminação bem fraca (dá para mensurar pelas fotos do show, quase a sugerir que tocáramos sob a luz de serviço), mas foi melhor que nada.
O público
presente, até que foi bom, por considerar-se a nossa condição como ilustre desconhecido do grande público, nessa época. Muito diferente do que passáramos nos últimos meses, quando em um progressivo
aumento de audiência fora conseguido, graças ao movimento dos bares onde tocáramos. No entanto, a nossa nova realidade naquele instante, mostrou-nos que não reuníamos condições para atrair um público espontâneo, além do espectro
de amigos e parentes ou mesmo os habitues de casas noturnas.
E foi assim, com sessenta e cinco pessoas presentes em um pequeno teatro, onde haviam cerca de trezentos lugares disponíveis, que nós tocamos todo o nosso repertório autoral apresentável nessa ocasião, e alguns covers. Não foram muitos, ainda bem, mas lembro-me do Rubens querer executar algum material do Jimi Hendrix. Tocamos também: "My My Hey Hey", do Neil Young, e uma surpreendente canção que ele quis cantar, de última hora: "Let me In" ("Teenage Love Affair", do mesmo artista, também fora sugerida), extraída de um disco solo do guitarrista norte-americano, Rick Derringer.
E veja a bela guitarra Fender Mustang, com cor Sunburst, no canto direito da foto, no seu devido suporte. Uma pena o Rubens não tê-la adquirido nessa época.
Uma surpresa que ninguém poderia imaginar: eu cantei duas músicas como vocalista principal! Uma delas foi o cover dos Rolling Stones, "Jumpin' Jack Flash", e a outra, "Intenções", uma música própria que ficou de fora dos discos d"A Chave do Sol, mas que é muito boa, por conter características da escola do Prog-Rock setentista, cheia de convenções ao estilo de bandas que nos inspiravam, tal como o King Crimson.
O show foi bom, musicalmente a se observar e constituiu-se da nossa primeira experiência em teatro, muito diferente das casas noturnas em que estávamos acostumados a atuar.
"Entreter" a plateia em um teatro, sem deixar o show "esfriar", foi algo diferente como uma nova experiência e a se mostrar como uma meta um tanto quanto difícil, como
percebemos depois dessa oportunidade.
Não que nós alimentássemos tal perspectiva de forma quixotesca, mas foi uma realidade concreta, ao depararmo-nos com aqueles rostos conhecidos em sua maioria, e de fato, público espontâneo para valer, só começaríamos a angariar na segunda fase em que a banda entraria em breve, contudo, o que não soubemos naquela altura, foi que apesar do momento de baixa pelo qual vivíamos naquela instante posterior à perda da Verônica Luhr e saída do glamour que o ambiente do Victória Pub nos proporcionava, se deu no sentido de que tal perspectiva mudaria em prol dessa segunda fase (e arrancada para uma consolidação como banda autoral, com direito à exposição na mídia), pois tal predisposição aproximava-se muito rapidamente!
Quanto ao show no Colégio Piratininga, foi então a nossa primeira experiência com o prejuízo financeiro, também.
O público presente e pagante foi até que razoável para os nossos padrões da época (sessenta e cinco pagantes), mas não deu nem para cobrir a metade das despesas. Tivemos mesmo que abrir a carteira, e acertar as contas para zerar essa produção, infelizmente.
Depois desse show, o Colégio Piratininga percebeu o seu próprio potencial em relação ao seu espaço, pois não passou muito tempo, e reformou-se o auditório, e assim passou a denominá-lo como: Teatro Sadi Cabral, com programação regular a conter espetáculos musicais, e peças teatrais, sobretudo.
Agora,
neste ponto da narrativa, eu preciso relatar duas ocorrências curiosas que aconteceram, mas não
necessariamente na mesma época em que fizemos o show do Teatro Piratininga.
Como eu não
tenho datas específicas, e ao considerar-se que tais fatos geraram
desdobramentos, portanto não foram ocorrências de um único dia em
específico, acho que neste instante é um bom momento para inseri-las na história.
Tais casos ocorreram mais ou menos entre abril e junho de 1983, mas sem uma data precisa na qual eu possa mencionar. Em ambos, ocorreram desdobramentos, ao torná-los portanto, não fatos únicos de um dia, ou de um momento apenas. Vamos aos casos:
Na primeira ocorrência, recordo-me que o Zé Luiz chegou em um determinado dia em nosso ensaio, a dizer-nos que um conhecido seu, que ele não via há tempos, encontrara-o fortuitamente, e sabedor que o Zé Luiz estava com uma banda autoral e a lutar para ingressar no mercado mainstream, propôs um intercâmbio com a banda pela qual ele estava a tocar, e que também era autoral por intenção.
Naquela
altura, por vivermos os dias amargos de uma demissão do badalado Victória Pub e a voltar forçosamente à
realidade da "terceira divisão" da música, toda ideia nova que surgisse,
seria válida e desta forma, por que não considerar a proposta?
Dessa forma, o Zé Luiz repassou-lhe o nosso interesse oficial por uma conversa preliminar e assim a verificar como as nossas respectivas bandas poderiam colaborar uma com a outra.
O rapaz veio então para um encontro em nossa sala de ensaios, acompanhado de seus companheiros e nós ficamos com uma boa impressão dele e dos demais. Aparentavam ser um pouco mais novos do que nós (mas não muito), e sem dúvida demonstravam ter o sonho de lograr êxito na carreira musical, como nós, a nortear os seus esforços.
O único
senão nessa equação, foi o fato deles definirem-se como uma banda
"Punk", o que naquela época era bastante discrepante com a nossa
proposta artística e vice-versa.
Contudo, nós relevamos essa questão estética, e pelo contrário, valorizamos o fato dos rapazes serem jovens bem-intencionados, com boa formação cultural e bem articulados, portanto, não haveria nenhum cabimento em rejeitarmos a proposta para uma ajuda mútua, apesar da suposta disparidade das respectivas propostas artísticas entre os dois trabalhos.
Poderia haver no entanto, reações negativas por parte de terceiros, pois ali no meio do furacão oitentista, a ultra segmentação de tribos foi uma realidade indiscutível, e dentro dessa perspectiva permeada por animosidades radicais, não seria recomendável que uma banda Punk apresentasse-se no mesmo show, com uma banda formada por cabeludos hippies, e sob orientação setentista, por motivos óbvios, e de nada importava dizer aos radicais xiitas, que as bandas eram amigas, e respeitavam-se mutuamente, e ao irmos além, moviam-se juntas sob um pacto de colaboração fraternal.
Mesmo
assim, alheios aos perigos que poderíamos enfrentar em situações desse
nível, prosseguimos a encontrarmo-nos e dessa forma, para planejarmos ações de interesse mútuo.
Uma primeira oportunidade surgiu quando o Rubens arrumou-nos o contato de um salão localizado no bairro do Sacomã, próximo ao Ipiranga, na zona sudeste de São Paulo. Tal salão estaria por abrir as portas para bandas autorais, desconhecidas como nós, oriundas do mundo underground, para apresentarem-se.
Naquela circunstância pela qual vivíamos, por termos perdido a nossa ótima vocalista, Verônica Luhr, e o embalo construído ao longo de meses a tocarmos em casas noturnas, o fato foi que nós precisávamos reinventarmo-nos, e bem rapidamente, portanto, buscar espaços alternativos onde pudéssemos fazer shows autorais, sobretudo, e não em casas noturnas a nos obrigar a tocarmos covers.
Sendo assim, pareceu-nos ser um caminho, sob
curtíssimo prazo, para reerguermo-nos. E como
estávamos acertados nessa colaboração com tal banda do guitarrista, amigo do Zé
Luiz, claro que tentamos inseri-la nessa perspectiva do salão rústico,
localizado no bairro do Sacomã.
O sujeito que atendeu-nos mostrou-se como uma figura sem muitos recursos educacionais e culturais. Tratou-se do dito: "mal articulado" e dessa forma, a abordagem foi muito prejudicada pelo fato da conversação não encontrar eco, digamos assim, para não ofender ninguém.
O pessoal
da banda amiga também não gostou da conversa e saímos dali convictos de
que não aconteceria nada e convenhamos, duas bandas autorais
e desconhecidas a fazer show de Rock em uma espelunca daquelas, e super mal
localizada, teria tudo para ser um fiasco.
Nessa circunstância, mostrava-se muito diferente de se tocar em uma pocilga como o Devil's Bar, no sentido de que se a infraestrutura revelava-se péssima, igualmente, mas pelo menos o Devil's localizava-se na Rua 13 de maio, onde o agito sociocultural era mastodôntico na noite paulistana, ao contrário desse salão remoto, que mais parecia-se com um galpão comercial, mal cuidado e localizado em um bairro sem tradição alguma em termos de atrações culturais e pelo contrário, marcado por abrigar imensos galpões de uso industrial e comércio rústico.
Todavia, um fato muito curioso ocorreu nessa visita ao tal salão. Quando já estávamos de saída, ouvimos o som de uma banda a tocar. Foi quando descobrimos que em anexo ao salão, havia uma sala de ensaios, ainda que bastante improvisada à moda antiga, com a clássica vedação provida por caixas de ovos a forrar as paredes, e ausência de ar condicionado.
Portanto,
nós só descobrimos que havia uma banda a ensaiar ali, quando naturalmente,
os seus integrantes não aguentaram mais ficar trancafiados naquele calor e
fumaça, pois naquela época, ninguém cogitava parar de fumar, mesmo em
condições insalubres para tal prática, como nesse caso.
Inclusive, eu recordo-me por haver assistido um show dessa banda, "Rock da Mortalha", em 1978, com bastante público presente, e ao ar livre, no Boulevard da estação São Bento do Metrô, e a minha lembrança desse show, fora de que o som deles assemelhava-se bastante ao "Black Sabbath", pela densidade e peso.
Enfim, o
"Crisálida" que ali ensaiava, fazia um som ultra setentista, na linha do
"Rush", incisivamente, e era ainda mais anacrônico que A Chave do Sol,
para aquele ambiente oitentista hostil a tais manifestações
explicitamente simpáticas às estéticas do passado.
Algum tempo depois, A Chave do Sol conviveria bastante com o Orlando Lui, por outras situações e inclusive, esperto, ele também tentou adequar-se ao mundo oitentista, por buscar alojar-se com outra banda, mas no mundo do Heavy-Metal.
Relatarei tudo na cronologia adequada. Para encerrar esta passagem, falei sobre muitas coisas e deixei um suspense sobre quem seria essa banda Punk, amiga. A banda, de fato, nunca fez nada significativo, e logo encerraria as suas atividades. O nome dessa banda, era: "Ignose".
Apesar
desse acordo de cooperação de nossa parte, essa tentativa no salão
não deu em nada e da parte deles, também nada logrou êxito, pois os seus
contatos eram com barzinhos insípidos, ainda mais underground dos que A Chave do Sol
havia tocado nos primeiros meses de sua existência.
Após mais alguns telefonemas, o nosso contato dispersou-se, e nunca mais falamo-nos.
Sabíamos, por ouvir falar, de sua existência desde 1984, mas em nossa percepção, ela seria apenas mais uma banda com nome de sigla a tocar no porão da casa de espetáculos, "Madame Satã", ou em espaços similares que promoviam artistas dessa seara do Pós-Punk.
Foi quando vimos um show dessa banda, ao vivo, no estacionamento da loja de departamentos, "Mappin", no bairro do Itam-Bibi, muito próximo da residência do Rubens, onde ensaiávamos regularmente, e ali fomos surpreendidos.
Assim que a tal banda adentrou o palco, o Zé Luiz reconheceu o guitarrista imediatamente, e para a surpresa geral entre nós todos, tratava-se do seu amigo, que tocara guitarra na banda Punk, "Ignose", em 1983!
O seu nome era Fernando Deluqui, e a sua nova banda, que decolava para o mega estrelato mainstream, foi um tal de "RPM"...
Agora, eu revelo a segunda história que nos ocorreu também nesse período entre abril e junho de 1983.
O segundo caso que eu tenho a relatar desse período abril/junho de 1983, também teve desdobramentos e talvez tenha começado até antes um pouco, em fevereiro ou março, mas realmente não tenho nada anotado que possa garantir-me tal afirmativa, e a minha memória realmente é imprecisa nesse detalhe.
Esse caso não tem nada a ver com música, tampouco com a própria, A Chave do Sol, como personagem central, mas eu considero importante relatar, pois envolveu a todos, e a despeito de ser apenas uma grande brincadeira, produziu momentos prazerosos e ouso dizer, com uma certa dose de criatividade implícita.
Foi o seguinte:
estávamos
reunidos certa vez com diversos amigos da banda, a se tratar daquele grupo de amigos do Rubens
que tornaram-se também meus amigos e do Zé Luiz, desde o começo da
banda, em 1982.
A multidão que costumava invadir a Rua 13 de maio no bairro do Bexiga, nas madrugadas de sexta e sábado, principalmente, nos anos oitenta
Foi em uma
noite quente e estávamos no bairro do Bexiga, a circular pela Rua 13 de
maio, sem um objetivo definido, pois A Chave do Sol não faria
apresentação naquela noite, e nós não iríamos assistir uma outra banda apresentar-se.
Então, o Rubens sugeriu que fôssemos à sua residência e para aproveitar o fato de que a sua família viajara, e assim poderíamos ouvir música sob um volume considerável, pois a casa era enorme, e a possibilidade de se incomodar os vizinhos, mesmo com o som alto, seria bem pequena pela proporcionalidade.
Claro, todos aceitaram e seria muito mais agradável do que ficar a perambular a esmo em meio àquela multidão formada por junkies e bêbados que lotavam (literalmente), a Rua 13 de maio.
Enfim,
quando chegamos à residência do Rubens, alguém iniciou uma conversa sobre filmagens
caseiras e nesta época, começo de 1983, poucas pessoas tinham o
privilégio de possuir uma câmera caseira "moderna", sob formato VHS. O
normal seria possuir uma câmera uma Super-8 e ter o inevitável trabalho para revelar o filme e que costumava ser caro.
Então, o Rubens foi buscar a câmera de sua família, e todos ali presentes, ficaram encantados com a engenhoca, que mostrava-se versátil, moderna, e incrível para os padrões da época.
Com a conversa a evoluir, alguém cogitou a hipótese de a usarmos ali mesmo, para filmar qualquer coisa. Na hora,
todo mundo contagiou-se com a ideia, e aquilo tornou-se um caldeirão
efervescente. E se filmássemos pequenas sketches que criássemos ali
mesmo, imediatamente?
De minha parte, particularmente isso acendeu o meu lado cinematográfico, de uma forma intensa. Ardoroso fã de cinema desde criança, enxerguei em tal prosaica brincadeira, a possibilidade para criar alguma coisa interessante.
E assim,
apanhei um bloco de anotações e uma caneta e escrevi algumas
ideias básicas em um esboço de roteiro, e os amigos compraram a iniciativa.
Foi por volta de meia-noite quando essa loucura começou, e só terminamos quando fomos vencidos pelo cansaço, literalmente, por volta das 11:00 horas da manhã do domingo!
Filmamos muitas sketches malucas, a improvisar a casa do Rubens como set, e ao usarmos adereços e objetos de cena, sob absoluto improviso etc.
Não tínhamos iluminação adequada para filmagens, é claro, e dessa forma, improvisamos o reforço de luz com lanternas e abatjour residenciais, de uma forma absurda.
Claro que não houve nenhuma possibilidade de promover-se uma edição com o que tínhamos filmado de forma bruta, portanto, foram filmagens com tomada única, e se não a aprovássemos, tínhamos que rebobinar e apagar para regravar em cima, no mesmo espaço físico da fita.
Não houve uma sequência lógica de continuidade, portanto, cada sketch, foi uma historieta com começo, meio e fim. Mas como
essa brincadeira repetiu-se posteriormente em noites seguintes, tentamos
fazer novas cenas que remetessem a algumas antigas, anteriormente
filmadas, mas não se tratou de uma preocupação de alinhavar-se como uma história única, propriamente dita.
De minha parte, recordo-me bem de algumas cenas, das quais, posso relatá-las, agora:
1) Lembro-me que tivemos a ideia de colocar o Zé Luiz sob uma bicicleta ergométrica, e ao som de "Bicycle Race" do Queen, quando ele acelerou aquela bicicletinha imóvel, sob uma velocidade absurda, até simular a sua morte, e assim cair ao chão, enquanto o "sonoplasta" da nossa equipe de produção, fazia a rotação do disco mudar e depois a retirar o pick-up da tomada, a fim de produzir a ruptura final.
2) Uma outra
cena muito interessante foi filmada comigo, Luiz, caracterizado como "bruxo".
A fazer uso de uma colcha de "chenile", peça improvisada e proveniente do enxoval da residência, como capa, e no uso do clássico
chapéu de bruxo que eu usei em muitos shows, tive a companhia de um crânio
humano, que era um ornamento do gabinete interno da casa, onde o pai do
Rubens costumava trabalhar em seus textos (o Rubens afirmava ser um esqueleto humano, oriundo de um
antepassado da sua família, mas eu sempre achei tratar-se de uma réplica artificial,
dessas usadas em clinicas médicas).
Improvisei uma voz cavernosa, e fiz um monólogo a discursar sobre a "Pedra Filosofal" e coisas do gênero. Ficou um absurdo de canastrice.
3) Criamos a ideia de um Circo Romano, onde o Rubens teve que lutar contra uma "fera", enquanto o "público" exigia que tal animal feroz, matasse o gladiador.
A fera em questão foi um dos dois cães da raça, "Doberman", que o Rubens possuía, este chamado, "Jimi", por conta do Jimi Hendrix.
Essa cena foi filmada por volta das 8:00 horas da manhã, já sob o dia claro, portanto, e ainda bem que foi um domingo, pois pessoas que porventura passassem pela rua naquele instante, poderiam ter chamado o resgate de um sanatório, visto que foi na realidade um bando de cabeludos sentados em cima de um muro bem alto, a usar "túnicas romanas" imaginárias, que na verdade foram lençóis brancos oriundos da roupa de cama da residência, ou seja, aos olhos de pessoas "normais", poderíamos ter sido confundidos como pessoas sob estado alterado de percepção, por conta da ingestão de ingredientes alucinógenos.
4) Uma cena quase cerebral foi criada para o poeta, Julio Revoredo, poder participar. Ele jogava xadrez em silêncio contra o Celso Bressan, quando um outro "ator" (acho que foi o Carlão Muniz Ventura, não tenho certeza), chegou sorrateiramente, e deu um chute no tabuleiro, quando laconicamente afirmou: -"cheque-mate"...
Qualquer semelhança com o filme, "O Sétimo Selo", de Ingmar Bergman, não foi mera coincidência...
Essas cenas foram as que lembrei-me mais claramente, mas muitas outras foram produzidas. E como eu já disse, não resumiu-se somente a essa noite onde surgiu a ideia, mas desdobrou-se em outras noitadas, sempre que a casa do Rubens estivesse sem a presença da família, naturalmente.
Recentemente (refiro-me a 2013), o Rubens mencionou em seu perfil na rede social, Facebook, que ainda possuía essa VHS. Se estiver ainda em condições para ser convertida digitalmente e postada no YouTube, seria muito bom relembrar essa loucura toda, claro, ao deixar a ressalva de que seria prudente decupar e filtrar o material, e só postar o que não fosse absolutamente constrangedor, ao ser bem realista.
Foi apenas uma
brincadeira interna, mas todos divertiram-se muito, principalmente eu,
que sou cinéfilo apaixonado pela sétima arte, e brinquei de ser roteirista diretor e
até ator...
Quando ensaiamos um material suficiente, gravamos uma demo caseira, e começamos a peregrinação por bares, à cata de novas oportunidades para apresentações.
feature=youtu.be
Contudo, a nossa abordagem para tais casas noturnas, revestiu-se sob uma absoluta sensação de frustração e quiçá, por uma dose forte de humilhação. A maioria dos estabelecimentos não dignou-se nem a responder. Entretanto, houve um caso que foi ainda pior. Vou contar a história de um deles que foi, digamos, muito "gentil", pois respondeu através de seu gerente por telefone que não havia gostado de nós, mas que devolveria o material que enviáramos-lhe.
Ficamos surpresos, pois a realidade desse tipo de abordagem, nessa época, era fazer do material, rascunho para mesinha de telefone, no caso dos impressos, e sumir com fitas e/ou Lp's (refiro-me às "mídias" disponíveis naquela época, é claro).
Tratou-se de um bar bem famoso na noite paulistana, chamado: "Calabar", que ficava localizado em Cerqueira César, bairro nobre, e próximo à Av. Paulista. Fomos buscar o material e ficamos estupefatos, pelo descaso!
Devolveram-nos o material
gráfico todo amassado, e quando fomos ouvir a fita K7, no carro do Zé
Luiz... pasmem! Haviam gravado uma locução radiofônica de um jogo do Santos F.C. em cima da nossa Demo-Tape, portanto, só pode ter sido um sinal de escárnio!
- "Lino passa para Pita, que abre para João Paulo, que cruza e ...Goooollll! Serginho Chulapa de cabeça"...
Quanta gentileza do barzinho...
Os nossos esforços para conseguirmos novas perspectivas nessa fase, prosseguiram. E nesse ínterim, mais três acontecimentos desviaram um pouco a nossa frustração pela falta de shows, e o baque do Pós-Victória, com a perda da Verônica Luh como nossa cantora.
Contatos haviam sido feitos, e assim, conduzimos material para
três lugares que poderiam abrir algumas portas. Dois não deram em nada, e
um deu certo, enfim ao abrir-nos uma grande perspectiva.
Um desses contatos, fora daquele sujeito que nos abordara no Victoria Pub, ao afirmar ser membro da produção que trouxera a banda norte-americana, "Van Halen" ao Brasil.
No Victoria Pub, ele veio com aquela história de que estariam a trazer a posteriori o "Kiss" etc. e tal. Claro que achamos ser uma tremenda mentira e ficamos chateados com os conselhos dele para adotarmos o "moderno" visual da New Wave oitentista, e tudo o mais.
Então, verificamos que o Kiss realmente confirmara que viria para o Brasil e ligamos para o sujeito. Fico a dever o seu nome, pois realmente não lembro-me, e quem marcou o encontro para a entrega do material foi o Rubens.
Entregamos, mas é óbvio que nesta altura de 1983, o nosso material gráfico era bem fraco. O nosso portfólio detinha apenas uma matéria proveniente de um jornal de grande porte, até então, e o restante foi composto por filipetas de shows em bares, e nem mesmo o impresso do Victoria Pub com o nosso nome, seria significativo para impressionar alguém que trazia um artista internacional mainstream, do porte do Kiss.
E o básico do básico: não tínhamos sequer disco
gravado! Nesse material, nem uma demo-tape decente, gravada em estúdio, tínhamos para ilustrar. Na realidade,
só tínhamos uma demo caseira, e gravada de uma forma precaríssima.
Certo, o Língua de Trapo estava por acontecer em um âmbito maior desde 1982, mas dizer que eu fui da pré-história de uma banda que mal começava a estourar, foi muito pouco.
José Luiz Dinola a tocar com o "Contrabando", em local e data indefinidos. Pode ser entre 1978 e 1981
O Zé Luiz falava sobre o "Contrabando", cuja maior proeza fora abrir alguns shows do "Made in Brazil", entre 1978 e 1981 e o Rubens citava uma passagem efêmera pela "Santa Gang", uma banda que gravara um compacto até então, e que também costumava abrir shows do Made in Brazil no mesmo período.
Em suma: tínhamos muito pouco para impressionar até então.
Enfim, além do sujeito ser apenas um assistente de produção na engrenagem, e não ter nenhum poder de decisão, nós não tínhamos cacife para enfrentar tal empreitada, de forma alguma.
Mesmo por que (hoje eu sei disso, muito bem), para abrir
um show internacional, se você não for minimamente conhecido, com
músicas a tocar maciçamente nas emissoras rádios e por aparecer bastante na TV, não tem a mínima chance. Mesmo
sob tais condições, já é muito difícil entreter o público de um artista
internacional, que deseja mais é que você não toque antes,
preferencialmente...
No entanto,
eu reconheço que o rapaz foi mesmo muito solícito, pois realmente apresentou o
nosso simplório material, ao seu superior, e na sequência, diante da óbvia negativa, ao menos brindou-nos com vários ingressos para os shows do Kiss. Lembro-me do Rubens
chegar no ensaio, certo dia, com pelo menos quinze deles, em mãos.
O outro contato, foi
para tentarmos uma vaga no Festival de Iacanga, cuja próxima edição realizar-se-ia no carnaval de 1984, mas que obviamente, os seus organizadores já estavam a receber material da parte de artistas pleiteantes a participar.
E dessa forma, nós levamos o nosso material ao estúdio de ensaios da banda de baile, "Placa Luminosa", onde também funcionava o seu escritório de produção e neste caso, a produção do festival cumpria expediente na capital paulista.
Certamente que seria incrível sermos selecionados, pois se tratava incontestavelmente de um festival com grande porte, a apresentar muitas estrelas da MPB, e do Rock, e mesmo se tocássemos em horários alternativos, muito antes das grandes estrelas, seria fantástico para nós.
Claro, nem resposta obtivemos, a interpretar o silêncio como a negativa... no entanto, o que eu não imaginaria, é que tocaria nesse mesmo Festival, enfim, mas não com A Chave do Sol!
No capítulo sobre o Língua de Trapo, eu relato com detalhes, sobre essa minha participação em Iacanga' 1984. Falo a seguir, finalmente, sobre o terceiro contato anteriormente citado, que logrou êxito!
Era um programa musical que abria espaço para artistas completamente desconhecidos apresentarem-se, sem nenhuma restrição, e sem caráter norteado pela competição. Apenas eram apresentados como em uma grande mostra, sem julgamentos em termos de competitividade com premiações & afins.
Levamos então o nosso humilde material à
produção do programa, na sede da TV Cultura, quando em um dia de junho, recebemos o
telefonema a avisar-nos sobre a data em que participaríamos pela primeira vez! O que não
conseguíamos enxergar, naturalmente, foi que esse telefonema mudaria a nossa vida,
pois daí em diante, estivemos a ingressar em uma nova e promissora fase da
carreira da nossa banda.
Lembro-me bem do dia em que fomos levar o material na sede da TV Cultura. Ficamos admirados com a simplicidade das pessoas envolvidas na produção, e como trataram-nos bem, visto que esse comportamento é bastante incomum nesse meio.
Quando recebemos a notícia de nossa escalação no programa, ficamos empolgados,
é claro. E sabíamos que precisávamos estarmos muito afiados, para causar a
melhor impressão possível, pois tratar-se-ia da nossa melhor chance, sem dúvida,
desde a fundação da banda em 1982.
Só esse fato, por si só, mudou o nosso astral completamente. O que fora uma fase desoladora no Pós-Victoria Pub, com a perda da Verônica Luhr, a gerar assim a consequente e deprimente falta de shows, e uma dose de humilhação implícita, decorrente pela recusa de vários bares, mudou abruptamente para um estado de euforia, e esperança por dias melhores.
O astral ficou muito bom, e até um show bizarro como o do "Morro da Lua" (que eu relatarei a seguir), passou a ser analisado como um acontecimento bom a ser cumprido.
No aviso telefônico da TV Cultura, fomos informados
sobre a data, horário de soundcheck e da apresentação em si. E a melhor notícia:
poderíamos tocar três músicas, e a depender da duração de cada uma, até duas músicas
poderiam ir ao ar, posteriormente.
Foi nessa época também que recebemos um convite inusitado da parte de um sujeito que conhecera-nos, quando tocamos sob temporada fixa no Victoria Pub. Esse rapaz chamava-se, Fabio, e era um militante de motocross, e que possuía uma pista para a prática desse esporte radical, localizada no bairro do Morumbi, na zona sul de São Paulo.
Além de
ser praticante e produtor de provas desse esporte, o Fabio gostava muito
de música e tinha vontade de cantar, portanto, ele propôs-nos inicialmente
uma ideia muito inusitada.
Ele nos revelou que desejava realizar na sua pista de motocross, um show tributo ao Queen, com A Chave do Sol a fazer as vezes de May, Taylor & Deacon, para ele mesmo assumir o posto de Freddie Mercury.
Ele
de fato mostrava-se muito parecido fisicamente com o Freddie Mercury, principalmente naquela fase desse artista Pós-Glitter do Queen, a usar cabelos curtos e bigode. Por cultivar um bigode idêntico e logicamente proposital, realmente
o rapaz parecia um sósia.
Ele apareceu no ensaio d'A Chave do Sol, e quis mostrar os seus dotes vocais e performáticos, ao imitar os trejeitos cênicos do Mercury, o que foi algo bem inusitado e deveras constrangedor.
Nós recusamos a maluquice, obviamente, mas ele então veio com outra ideia ainda mais bizarra: para suprir todas as necessidades sonoras de um espetáculo desse vulto, propôs que o dublássemos!
Imitaríamos o Queen, com ele à frente, a dublar o Mercury, ao fazermos uso do playback, sob o som do áudio do Queen verdadeiro. Enfim, eu creio que nem é preciso registrar aqui, o que dissemos-lhe, em resposta franca.
Então, mais realista, ele finalmente fez uma
proposta viável, para que a analisássemos com seriedade. Seria um show regular d'A Chave do Sol, a ser realizado na sua pista de motocross,
simultaneamente a uma exibição de motos e com um elemento exótico: seria um show
noturno, no local que não possuía iluminação...
Achamos em princípio uma bizarrice, mas sem perspectivas melhores, e ao se considerar que poderia ser um agito interessante, pelo seu caráter bizarro, aceitamos participar dessa loucura.
Ele prontificou-se a providenciar um gerador para suprir as nossas necessidades
de energia para alimentar o equipamento e assim, aceitamos tocar, pela bilheteria do evento.
Enfim chegou o dia e fomos tocar no Morro da Lua. Levamos todo o nosso equipamento de ensaio, incluso o nosso mini PA, mas ele era obviamente adequado apenas para pequenos shows em casas de pequeno porte e servia-nos para os nossos ensaios, claro.
Mas daí a tocar em um lugar ermo, ao ar livre, seria realmente uma piada. Todavia, firmado o compromisso, não poderíamos mais desistir da ideia, visto que o dono da pista de motocross já havia tomado as providências para termos um gerador de energia à nossa disposição e também por ter encomendado filipetas na gráfica etc.
O local ficava instalado sob um
lugar inóspito, mesmo ao fazer parte do elegante bairro do Morumbi, na zona
sul de São Paulo. Para sinalizar a sua entrada, foram colocadas tochas
de fogo. Chegamos no período da tarde, com dia claro, logicamente
para poder arrumar tudo.
O Zé Luiz tomou a dianteira para lidar com o
gerador (sempre o super polivalente, Zé Luiz). E à medida que começou a
escurecer, tudo ficou pronto, graças aos esforços do Dinola.
No local onde montamos o equipamento, só absorveria o som minimamente mixado, quem ficasse realmente muito perto, e de bem frente para nós. Poucos metros fora desse ângulo, e o som tornava-se uma massa amorfa.
Havia um local mais adequado, dentro de um pequeno galpão
construído sob alvenaria, porém, o dono do espaço, queria a todo custo que ficássemos no meio da
pista. Fazia sentido, visualmente para a festa dele, mas só funcionaria
decentemente, pelo ponto de vista do áudio & iluminação com uma estrutura de palco e equipamento condizente.
Então, seguiu-se uma longa e entediante espera, pois o evento só começaria efetivamente por volta da meia-noite. O frio dessa noite foi de rachar, pois estávamos em junho, e naquele lugar alto e descampado, ofereceu-nos uma sensação térmica ainda pior, devido ao vento.
Começaram as disputas de motocross, e os sujeitos
corriam e faziam aquelas loucuras todas, na escuridão. Foi muito perigoso,
mas quem esteve ali, foi um público bastante interessado nessa
performance, portanto, a adorar tal adrenalina gerada. Nessas condições inóspitas, foram vistas várias quedas, colisões, e sustos inerentes do gênero,
para arrancar gritos eufóricos dos aficionados ali presentes. Entre nós, o Zé Luiz vibrava,
pois ele também era (é) fã de esportes automotivos radicais.
E quando o Fabio deu o sinal verde para começarmos, um público juntou-se à nossa frente. Sinceramente, eu achei que ninguém interessar-se-ia em nos ver a tocar.
Portanto, ao superar a minha expectativa pessimista, haviam cerca de trezentas pessoas ali à nossa frente. Isso ocorreu no dia 24 de junho de 1983. Foi
mais ou menos esperado por nós, mas muitos motociclistas simplesmente
não pararam durante o nosso show, e alguns para exibirem-se, resolveram protagonizar pequenos rasantes sobre a banda, e sobre o público, a fornecer uma carga
extra de adrenalina à apresentação...
Evitamos tocar muitas músicas cantadas, pois naquelas condições de equipamento, o jeito foi privilegiar músicas instrumentais. Mesmo assim, estava muito precário tocar e foi um show sofrido para nós, tecnicamente, com a pouca potência do equipamento, a castigar-nos.
A plateia que gostou e aplaudiu bastante, mas realmente não foi uma apresentação feita com condições mínimas, profissionais. Acabado
o show, apressamo-nos a desmontar, pois os motociclistas doidos estavam
a pressionar para liberarmos rapidamente o espaço, para que continuassem a executar as suas acrobacias, e a maneira que usaram para exercer essa
pressão, foi adotarem a estratégia de jogar as motos sobre nós, assustadoramente. A "iluminação" do show ficou a cargo de vários carros particulares perfilados, e com seus faróis altos, acesos em nossa direção.
Naquele breu da madrugada, não houve condições para levarmos tudo embora, naquela hora da madrugada, sob absoluta escuridão. Tivemos que voltar no dia seguinte para realizar essa tarefa braçal. Recebemos o reforço de alguns amigos, e entre eles, um que apareceu na casa do Rubens, a trajar uma calça de veludo, branca.
Quando chegou ao Morro da Lua, esse amigo nosso foi ajudar-nos a transportar uma caixa do PA e esborrachou-se no solo, todo barreado e úmido, para voltar à sua casa, com a calça branca, transformada em marrom.
Foi no cômputo geral uma aventura bizarra, mas apesar das
dificuldades, foi também um show que conseguimos cumprir com esforço, e se não foi
marcante para a nossa carreira em termos artísticos ou de outra monta mais relevante, ao menos nos rendeu muitas histórias pitorescas.
Antes de falar sobre a nossa primeira aparição na TV (tirante a fortuita e microscópica aparição no programa, "Comando da Madrugada", do jornalista, Goulart de Andrade em 1982, cujo relato já foi registrado), na "Fábrica do Som", da TV Cultura, eu preciso mencionar mais um fato ocorrido nesse ínterim.
Assim que perdemos a Verônica Luhr e passamos por um período a tentar readaptarmo-nos para tocarmos em bares, com o Rubens e o Zé Luiz a cantar de forma, solo, nem chegamos a procurar com grande afinco um (a) novo (a) vocalista. Mas o fato, é que surgiram duas garotas interessadas, e nós chegamos a realizar testes com tais moças.
Uma delas, chamava-se, Soraia Orenga, e a
outra, Regiane. A Soraia era conhecida da irmã do Rubens, e ela chegou a ver-nos a tocar no Victoria Pub, ainda com a presença da Verônica, em nossa banda. Quanto à Regiane, sinceramente não recordo-me sobre qual foi o elo de ligação, que a aproximou de nós.
Nesta foto recortada, Soraia Orenga a gravar backing vocals para a música: "Luz", em janeiro de 1984, como nossa convidada especial
A
Soraia era uma moça loura, bonita e tinha uma boa voz. Não era um potencial
vocal exuberante como o da Verônica, mas tinha condições de ser
vocalista d'A Chave do Sol, certamente.
No caso da Regiane, esta era morena, e não tinha o mesmo potencial vocal da Soraia, embora eu não possa afirmar que fosse ruim. Talvez faltasse-lhe "punch" para ser vocalista de uma banda de Rock, e a sua real aptidão fosse cantar um estilo de MPB mais intimista, sob dinâmicas leves.
Nenhuma das duas no entanto, empolgou-se com A Chave do Sol naquele momento, que fora crítico para a nossa banda, pela falta de melhores perspectivas. E nem nós por elas, pois não pareciam serem adequadas para o nosso trabalho, em nossa avaliação.
A Soraia cantara anteriormente em duas bandas cover pela noite paulistana: "Ferro Velho" e "Alhures". E a Regiane, no "Super Bastião", todas essas bandas evidentemente, obscuríssimas no cenário mesmo das bandas cover.
Nunca mais eu tive notícias sobre a Regiane, mas a Soraia ficaria um pouco mais presente na história d'A Chave do Sol, pois em janeiro de 1984, ela participaria da sessão de gravação dos Backing Vocals da música: "Luz", que gravamos para o nosso primeiro compacto simples. Ela está citada nos créditos da ficha técnica do compacto, assim como Rosana Gióia, irmã do Rubens, que também cantou.
E assim foi a quase entrada de uma nova vocalista em nossa formação, ainda no primeiro semestre de 1983.
Antes disso acontecer, no entanto, ele convidou-nos a irmos à cidade de Santos-SP, no litoral paulista, onde a Patrulha do Espaço faria um show em uma casa chamada: "Heavy-Metal", bem na avenida da orla da Praia do Gonzaga, sob uma noite de sábado.
Ele apresentar-nos-ia ao gerente da casa, e talvez nós marcássemos um show para A Chave do Sol, nessa casa noturna. Então, o momento mostrara-se muito bom, pois acabáramos de ter a nossa confirmação de aparição na TV, fizemos o show improvável no Morro da Lua, talvez arrumássemos um show em Santos-SP e estava confirmado um show em Limeira-SP, cidade distante cento e oitenta Km de São Paulo.
Fomos a
Santos nesse sábado citado, e assistimos o show da Patrulha. Essa casa em questão, tratava-se
de uma antiga sala-de-cinema e portanto, as instalações eram amplas, com um bom
palco, coxia e estrutura para camarins.
Claro, o novo dono desmontara as poltronas e fez uma área com mesas, ao estilo de um auditório de cassino em Las Vegas. Bem arrumado e bem frequentado pela jovem burguesia santista, estava lotado, mas não foi um público Rocker interessado no show da Patrulha do Espaço em massa.
E para destoar ainda mais, antes da Patrulha do Espaço atuar, tocou o violonista, Filó, com uma apresentação baseada na MPB intimista, e nada a ver com o Hard-Rock que a famosa banda faria a seguir.
É lógico que o Filó era (é) um grande músico, e o seu show foi realizado com muita qualidade, mas não teve nada a ver com o clima de uma casa noturna daquele tipo, e ainda mais a abrir para uma banda de Rock, como a Patrulha do Espaço. O contato não deu em nada para nós, infelizmente, pois se tratara de um espaço de shows muito bom no litoral.
Então, animadíssimos com a proximidade de nossa gravação para a TV, tínhamos esse show em Limeira, no meio do caminho para cumprir.
O
show aconteceria no dia 9 de julho de 1983, e foi realizado no Clube Gran São João,
em seu salão de festas. O Rolando Castello Júnior comunicou-nos que sairíamos juntos com
eles, a bordo de um ônibus fretado, e com todo o equipamento de PA que ele havia alugado da banda de
bailes, "Phobus", com saída programada na sede dessa banda, localizada no bairro da Barra Funda,
centro-oeste de São Paulo, às seis horas da manhã!
Estávamos eufóricos pois iríamos abrir o show da Patrulha do Espaço, que já consolidada há anos como um ícone do Rock brasileiro, e diante de uma plateia grande, com bom equipamento, a tratar-se de uma grande oportunidade, sem dúvida.
Chegamos cedo ao clube, "Gran São João", e já ficamos contentes por saber que houvera saído uma matéria sobre o show em um dos jornais da cidade de Limeira, e o nosso nome foi citado como banda de abertura do evento.
O nosso show foi realizado com aproximadamente quarenta minutos de duração, uma cortesia do Rolando Castello Júnior, que simpatizava conosco, pois geralmente shows de abertura não passam de trinta minutos, no máximo.
Em alguns momentos, nós nos empolgamos mesmo, pois o público reagiu como se conhecesse-nos, fato raro para um show de abertura feito por um artista desconhecido.
Alguns momentos mais marcantes ocorreram justamente em que a banda mais soltou-se, ao deixar a atitude defensiva de um artista resignado com a frieza, e ousou mais.
Pelo canto do olho, eu via todos os componentes da Patrulha do Espaço alojados na coxia a assistir-nos. O próprio, Júnior, sinalizou-nos para tocarmos mais, quando a meia hora inicial esgotou-se, pois além de simpatizar conosco, ele percebeu que estávamos a aquecer bem o público, e o entregaríamos excitado para a Patrulha do Espaço deslanchar a seguir.
Eu não sou assim, particularmente, mas a tendência dos artistas com maior fama, é de serem blasé, sem demonstrar muito entusiasmo com os artistas não consolidados. Acho isso uma bobagem muito egoísta e no meu caso, eu sempre digo o que penso e se a banda é boa, elogio abertamente e incentivo os artistas novos. Ainda tenho algumas coisas para contar sobre o show de Limeira, e outros fatos, antes de finalmente começar a contar sobre a apresentação a nossa primeira aparição com proeminência na TV.
Zé Luiz Dinola a aquecer-se, em um dia qualquer de março de 1983, no ambiente da nossa saudosa sala de ensaios, localizada na edícula da residência dos Gióia. Click: Seiji Ogawa
Soubemos que o borderô do show havia acusado o número de duas mil e quinhentos pagantes, mas seguramente teve mais gente presente com convidados, penetras etc. O Junior falou-me que havia três mil e quinhentas pessoas, na realidade e a minha lembrança foi mesmo a de uma multidão maior que a aferição oficial, anunciada pelo clube.
Não ganhamos cachê, mas o lucro que obtivéramos foi inestimável, por que recebemos a confiança necessária para entrar no palco do Sesc Pompeia com tudo, na terça-feira posterior. Tenho uma cópia em fita "K7" desse show do clube Gran São João, de Limeira-SP, com razoável qualidade. Penso em digitalizá-la e quem sabe lançar um bootleg, mas isso é só projeto, ainda. Mas por enquanto, eu extraí uma música que considero uma joia rara para A Chave do Sol, a se pensar em sua história e como um presente aos seus fãs. Falo detidamente sobre essa música, agora.
2) Abrir o show da Patrulha do Espaço, um ícone do Rock Brasileiro, e nós ali ainda com poucos meses de vida, como banda desconhecida do grande público.
5) Ao viajar junto com a comitiva da Patrulha do Espaço, e todo esse equipamento, que foi incrível.
6) A oportunidade para fazermos um show sob condições boas e para um grande público, possibilitou-nos uma grande confiança para enfrentarmos o público do Sesc Pompeia, três dias depois, e isso seria vital para uma mudança radical para a nossa carreira, doravante. Fora tudo isso, que foi muito importante naquele momento de 1983, acrescento um dado a mais, como fato novo ocorrido, vinte e nove anos depois (refiro-me a 2012)!
Como eu já comentei anteriormente, conservei uma fita K7, a conter quase todo esse show, por todos esses anos. Finalmente providenciei a sua digitalização no ano de 2011, e o pessoal do Site/Blog "Orra Meu", que é um site especializado em difundir cultura paulista, propôs editar uma canção inédita d'A Chave do Sol, extraída justamente desse show de Limeira.
Por inexperiência nossa na ocasião, nós entregamos a fita para o técnico do PA, mas sem preocuparmo-nos com a maneira pela qual ela seria gravada. Claro que ele foi simpático por tomar tal providência, e atesto que é raro um técnico ser camarada nessas circunstâncias, ao tratar-se de uma simples e obscura banda de abertura.
http://www.youtube.com/watch?v=PoVXIgAjD4c
Algum tempo depois, eu tive a felicidade de lançar mais uma música ao vivo, preservada da mesma fita K7 que registrou esse nosso show em Limeira-SP, no dia 9 de julho de 1983. Trata-se de uma versão ao vivo da canção: "Utopia", com o Zé Luiz Dinola a fazer o vocal solo e tal canção foi executada novamente três dias depois, no palco do Sesc Pompeia, em nossa primeira apresentação no programa: "A Fábrica do Som".
https://www.youtube.com/watch?v=i-JSZZQaYg0
Continua...
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