Neste meu Blog 3, dedico todo o espaço para cuidar da minha carreira musical. Além do texto na íntegra, do meu livro autobiográfico : "Quatro Décadas de Rock", apresento também material em geral de todas as bandas por onde atuei e atuo, sob permanente construção.
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quarta-feira, 13 de maio de 2015
A Chave do Sol - Capítulo 6 - Um Disco, enfim, em 1984! - Por Luiz Domingues
A repercussão desse terceiro programa, "A Fábrica do Som", no qual participamos, foi muito boa, e só veio a fortalecer a nossa
condição de termos entrado no rol dos artistas emergentes, no cenário do Rock brasileiro oitentista.
E certamente com essa construção de
imagem em progressão, alavancamos a possibilidade em acertarmo-nos com o Luiz
Calanca, e assim, através de um acordo de coprodução, viabilizamos a gravação de nosso
primeiro registro fonográfico, enfim.
O acerto com a Baratos Afins foi na base
do acordo verbal, sem necessidade de contrato etc. e tal.
Nós bancamos a
parte de estúdio, e o Luiz cuidaria da parte gráfica e prensagem do
disco, além do suporte na distribuição e divulgação do
trabalho.
Passamos então a prepararmo-nos nesse sentido, já tendo
escolhido as duas canções que fariam parte do compacto simples.
Foram elas:
"Luz" do lado A, e "18 Horas", no lado B. Toda a produção do lay-out da
capa correu por nossa conta e a produção de áudio no estúdio, idem. Nesse aspecto, o Luiz Calanca se prontificou a bancar o fotolito e a despesa da gráfica em sua composição.
Então, a se pensar na arte da capa, o Zé Luiz
sugeriu que víssemos um desenho que a sua irmã, Elizabeth Dinola, estava
a desenvolver.
Uma
pintura de Beth Dinola, exposta em uma Galeria de Arte em São Paulo,
recentemente, pós-anos 2000, e que hoje em dia (2015), pertence a uma colecionadora particular de
Roma, Itália.
A Beth Dinola era (é) uma artista plástica. Embora a sua
especialidade fossem os trabalhos com cerâmica, ela desenhava e pintava
também. Gostamos dos esboços (rafs) iniciais que vimos, e autorizamos que a Beth
prosseguisse na finalização do Lay-out final.
A ideia primordial, fora a de uma
estrada estilizada como o braço de uma guitarra, com baquetas de
bateria em suas laterais.
Na
contracapa, as três fotos individuais dos membros da banda e a respectiva ficha técnica.
Já o logotipo, foi criação de um rapaz chamado: José Vicente Dias, indicado pelo Luiz Calanca.
Tal logotipo veio a tornar-se objeto de merchandising, no decorrer
de 1984. Tratou-se da imagem de um pássaro a voar, sob a presença do Sol.
E assim findou-se o ano de 1983, com A Chave do Sol a centrar as suas forças
nos ensaios para a gravação do seu primeiro compacto.
A produção da capa
estava a se desenvolver na parte de lay-out. Sobre a ficha técnica, eu mesmo cuidei de elaborar o
texto, e as fotos individuais do trio, foram clicadas no início de 1984. Falarei sobre essa sessão de fotos, posteriormente.
Com a fase intensa de
shows a cumprir com o Língua de Trapo, que eu iniciara recentemente, sobraram-me poucos dias para
ensaiar com A Chave do Sol, no entanto, eu fazia um esforço descomunal para
aproveitar essas raras brechas.
Como balanço final, digo que o ano de 1983, foi marcado por altos e baixos, com o ponto alto a predominar ao final, ainda
bem.
Iniciamos com a euforia por estarmos a prosperar em um circuito
underground, fruto de um bom embalo que criamos ao final de 1982.
Tínhamos uma vocalista dotada de uma voz incrível, portanto muito promissora, ainda que limitada em
outros aspectos pela sua então inexperiência, mas o progresso da banda, foi visível.
Saímos de um circuito obscuro de atuação,
rapidamente para uma casa badalada, e frequentada pela jovem burguesia paulistana, e vimo-nos rodeados por
artistas que estavam a acontecer no mainstream do dito movimento: BR-Rock 80's.
Ficamos sem a
vocalista promissora, e assim tivemos que recuar, ao irmos visitar novamente o circuito abissal, do mundo underground.
Algum tempo depois, estabelecidos novamente como trio, tivemos
a oportunidade de realizarmos uma aparição na TV, e tudo mudou, ao abrirem-se portas para mais
aparições, e a perspectiva para lançarmos um disco.
Nesse ponto, estivemos nos últimos
dias do ano, a prepararmo-nos para entrar no ano de 1984, com estúdio à
vista, e dessa forma, é claro que o balanço de 1983, fechara-se positivamente
para A Chave do Sol!
E então o ano de 1984, iniciou-se. Estávamos bastante eufóricos com a
perspectiva de gravarmos o nosso primeiro disco, e assim esforçamo-nos para
ensaiar o melhor possível, e cuidar dos detalhes da produção, que ficaram
por nossa conta, no acordo que estabelecemos com o Luiz Calanca.
Logo na
primeira semana de janeiro, agendamos uma sessão de fotos, a visar ilustrar a
contracapa do compacto. Lembro-me que foi em um sábado de janeiro, no período vespertino, que o fotógrafo, Fabio Rubinato, compareceu à residência do Rubens, onde
tínhamos o nosso QG.
Esta foto acima, é de um outro contexto, clicada muitos anos depois da cronologia enfocada neste trecho, mas ilustra a presença do fotógrafo, Fabio Rubinato. Da esquerda para a direita: José Reis
(meu amigo e roadie do "Pitbulls on Crack" na época), Nilton "Cachorrão"
Cesar (vocalista do grupo Hard/Heavy, "Centúrias"), eu (Luiz Domingues), e Junior (este, um aluno meu
na época), clicada no Parque Antártica, em 1994, ao assistirmos a partida: Palmeiras x Peñarol do
Uruguai, e nessa circunstância, fomos flagrados pela lente de Fabio Rubinato que nos clicou de dentro do gramado
O Fabio era fotógrafo profissional e experiente já
naquela época, apesar de ser ainda bem jovem. Anos depois, ele tornar-se-ia fotógrafo
oficial da Federação Paulista de Futebol (posteriormente, ele foi trabalhar para a CBF e também na Comembol), e eu encontrá-lo-ia diversas vezes
em estádios de futebol.
Inclusive, ele clicaria uma foto minha,
acompanhado de meus amigos, José Reis, Nilton "Cachorrão" Zanelli
(vocalista do "Centúrias"), e Peloso Junior (meu aluno de baixo, na época), em 1994, a partir do campo do Palestra
Itália, quando avistou-nos na mureta da arquibancada, por ocasião de um jogo entre
Palmeiras e Peñarol, de Montevidéu (foto exposta acima).
De volta à narrativa sobre o início de 1984 para A Chave do Sol, o Fabinho Rubinato
era amigo de meus primos mais velhos, Marco Antonio e Rubens Turci, portanto, eu o conhecia desde os anos
setenta, tempo em que a fotografia fora apenas um hobby para ele.
Ouvimos juntos, muitos sons na casa de meus primos, nos anos setenta, na velha pic-up Gradiente, do meu primo, Marco Turci.
Sendo assim, quando pensamos em contratar um
fotógrafo para produzirmos as fotos oficiais do encarte do álbum, eu pensei nele, e por essa conexão antiga de amizade foi a minha indicação que
prevaleceu.
Todavia, na base do improviso e sem as condições de um estúdio
profissional com iluminação adequada, guarda-chuva, fundo infinito, e outros
recursos, não foi possível conceber fotos realmente incríveis, como desejávamos.
Em ritmo de
camaradagem, estávamos apenas a bancar os filmes e a ideia foi usar o
quarto de ensaios da banda, sob uma forte dose de criatividade e luz natural.
O Fabinho Runibato clicou
várias fotos na sessão e quando as revelamos, as fotos do Zé Luiz não
estavam com uma iluminação adequada, e nenhuma teve ao menos uma expressão
facial que convencera-nos. Então não tivemos outra alternativa a não ser produzir uma
nova sessão, exclusiva para capturar uma boa foto do Zé Luiz, mas desta
feita, ele mesmo quis fazer com outro fotógrafo.
Para agilizar, mas sobretudo para se sentir mais a vontade com um amigo seu de confiança, ele convocou o
irmão de sua namorada à época (Marly Ogawa), o Seiji (Renato) Ogawa, que realmente apesar de
ser amador, possuía uma máquina de boa qualidade e gostava de fotografar. Tanto que o
Ogawa fotografou vários shows d'A Chave do Sol, também, principalmente na fase inicial da carreira da banda.
Eis acima a foto oficial do Zé Luiz Dinola, na contracapa de Compacto, que lançamos em 1984. Click de Seiji Ogawa Essa sessão ocorreu sem a
presença do Rubens ou da minha como observadores e tampouco assistentes de produção. Apenas os dois, Ogawa e Dinola, locomoveram-se à
Praça do Por-do-Sol, um mini parque aprazível, localizado no bairro de Pinheiros, na zona
oeste de São Paulo, e foi de lá que saiu a bucólica foto do Zé Luiz, na
contracapa do compacto.
As fotos do Rubens e a minha, foram da sessão do
Fabinho, em nossa sala de ensaio. A do Rubens, a se mostrar como um close-up, mantém um escurecimento proposital. Foi
ideia do Fabinho usar um Abatjour, improvisadamente obscurecido por uma
echarpe escura. Além de uma lente especial que usou, a intenção foi criar uma
atmosfera misteriosa.
Muita gente estranhou a foto escurecida e reclamou
desse expediente que usamos, por considerar tratar-se de uma discrepância em relação às demais. De
fato que destoa, sem dúvida, mas creio que ficou com um diferencial
interessante, sob o ponto de vista, estético.
E quanto à minha, eu tive a ideia de quebrar o visual Rocker
tradicional ao usar uma gravata. O contraste da longa cabeleira setentista, com a
gravata comportada e camisa social, ficou interessante. Não foi nada revolucionário no
mundo do Rock, mas causou um efeito interessante, pois muita gente na época,
incluso jornalistas, perguntou-me sobre a motivação em torno dessa gravata.
E lá estou eu na
contracapa do compacto, parado na porta da nossa sala de ensaios. Click de Fabio Rubinato
E um
detalhe minúsculo, que talvez a maioria das pessoas nem notou, proporcionou a quebra da quebra do paradigma: na gravata,
contém um "bottom", com a figura do guitarrista, Eddie Van Halen. Minutos antes de ter tido esse impulso de
colocar o bottom na gravata, eu relutei entre esse e outro disponível, com a estampa a exibir a capa do disco:
“Close to the Edge”, do “Yes”.
Escolhi o da figura do Eddie Van Halen,
por raciocinar imprudentemente, aliás, que seria uma forma para mostrar-me antenado com o presente e não revelar-me
assim um artista saudosista de uma época passada, como o logotipo do disco do "Yes" pudesse
sugerir. Arrependo-me pelo raciocínio adotado, pois eu deveria mesmo é ter usado
a capa do disco do Yes, a refletir minha alma, e assim, pouco importaria se vivíamos uma
época completamente antagônica a tal estética.
Muito pelo contrário, eu deveria ter
firmado os meus propósitos ante os detratores...”I get down...I get up... close to
the Edge, down by the river!”
Ao ir além, eu não nunca fui nenhum fervoroso fã do
Van Halen, muito longe disso, mas sem dúvida que tal banda representara naquele instante, um elo setentista
Rocker, que servia-nos como uma espécie de boia salva-vidas, no meio daquele oceano revolto
onde encontrávamo-nos, com punk, pós-punk, e seus derivados abomináveis
oitentistas, a darem as cartas no circuito como um todo.
Antes de entrar em estúdio, no entanto, tivemos um show em janeiro de 1984 para cumprirmos. Foi
numa rara brecha de agenda, em que o Língua de Trapo não apresentar-se-ia, e dessa forma, A Chave do
Sol subiu ao palco do Bar Persona, encravado no bairro do Bexiga, no dia
13 de janeiro de 1984.
O Persona, para quem frequentava o bairro do Bexiga
naquela época, foi uma casa interessante, por possuir ambientes separados
para duas bandas apresentarem-se simultaneamente e possuía um atrativo
extra, que foi o espelho do jogo, "Persona" (a motivação para o nome do estabelecimento, certamente), que não era muito conhecido
no Brasil, mas bastante popular na Europa.
Consistia de um jogo baseado na
ilusão de ótica, onde duas pessoas a olharem-se no espelho, mediante a luz
de uma vela, viam os seus respectivos rostos a fundirem-se em um só, a formar uma feição
exótica, pela mistura das feições de ambos.
Esse jogo chegou a ser adaptado para um
formato de tabuleiro e lançado no Brasil por uma fábrica famosa de brinquedos (só não lembro-me se foi a "Estrela" ou "Troll").
Tanto que no lançamento desse jogo, nos
anos setenta, o Tutti-Frutti fez um jingle, e o disco com tal trilha, vinha disponibilizado como brinde
no Kit/pacote do comprador.
Trata-se de um som absolutamente experimental, longe das
características do Tutti-Frutti normal que conhecemos, e mais parece
o som de bandas que transitavam pela vertente do "Space-Rock" sessentista ao estilo do "Hawkwind", ou mesmo do "Krautrock", a genial escola alemã, a demarcar o trabalho realizado por bandas como "Tangerine Dream", "Can", "Neu", "Guru-Guru" e similares.
Conheço um amigo que possui esse brinquedo raro, dono de um estúdio perto da minha casa, onde
eu inclusive ensaiei algumas vezes com a Patrulha do Espaço, em 2001.
De volta ao relato na cronologia, foi um show onde o aspirante a vocalista, Wagner "Sabbath",
insistiu muito para cantar conosco, como fazia costumeiramente em nossas apresentações, ao sonhar ser recrutado como vocalista
da nossa banda, e nós culminamos em aceitar dar-lhe tal oportunidade, para que ele cantasse uma música.
O público
foi apenas razoável, com cerca de cem pessoas na plateia, mas com um
entusiasmo contagiante, que animou-nos.
Um dado
extra e positivo, deu-se pelo fato de que o jornalista, Leopoldo Rey, fez discotecagem no
dia, e por seguir o seu gosto musical, pessoal, elaborou uma seleção composta por Rock'n' Roll e
R'n'B dos anos cinquenta, sensacional, a livrar-nos
assim, de uma discotecagem normal de casa noturna, ao massacrar-nos com o
lixo Pop oitentista em voga, como seria a praxe.
Após esse show, as baterias
concentraram-se novamente nos ensaios, a visar a gravação do nosso
primeiro disco.
Escolhemos o estúdio Mosh, para gravar o nosso primeiro álbum oficial, o
famoso compacto.
A nossa sorte, digamos assim, foi que o Mosh era um estúdio
relativamente novo na ocasião, e longe do status que alcançaria ainda nos anos
oitenta, quando consolidou-se como um dos estúdios de primeira linha, do Brasil,
responsável pela produção de grande parte da música mainstream, durante a década de
noventa.
Portanto, o que eu quero enfatizar é que os preços cobrados eram ainda módicos. Nessa época, o Mosh operava em uma casa ampla, antiga residência,
localizada em uma rua agradabilíssima no bairro da Vila Pompeia, na zona oeste de São
Paulo.
Marcamos as sessões de gravação para o final de janeiro, pois eu teria um
pequeno hiato de shows com o Língua de Trapo.
Estávamos afiados para o
estúdio, com as duas músicas absolutamente ensaiadas.
No caso da canção, "Luz",
contaríamos com o reforço de duas vozes femininas convidadas para o backing vocals:
Soraia Orenga e Rosana Gióia.
Soraia Orenga, uma boa cantora que convidamos para gravar backing vocals na canção: "Luz"
A Soraia foi uma garota que conhecemos no
início de 1983, quando estávamos a cumprir temporada no Victoria Pub.
Em
meio à saída da nossa então vocalista, Verônica Luhr,
chegamos a cogitar que a Soraia fosse a substituta, mas a predileção dela pendia
mais pela MPB, e assim, não deu certo tal aproximação. Lembro-me que
conversas francas com ela, aconteceram nesse sentido, e também dela ter ido assistir-nos no Victoria Pub.
Quanto à Rosana Gióia, trata-se da irmã caçula do
Rubens, e que também sempre quis cantar. Mas por ser adolescente na época (ela tinha apenas quatorze para quinze anos de idade), houve um claro
desestímulo de sua família, nesse sentido, e o Rubens apesar de dividido,
optou por não tomar partido a respeito dessa situação, para não criar conflitos com seus pais, naturalmente.
No entanto, como seria uma participação simples no disco, apenas a cumprir
backing vocals, tanto a Rosana Gióia, quanto Soraia Orenga compareceram, e
deixaram as suas respectivas colaborações.
Gravações
dos Backing vocals na música: "Luz". Estúdio Mosh, janeiro de 1984. Da
esquerda para a direita: Zé Luiz Dinola, Soraia Orenga, Rubens Gióia, Rosana Gióia, e
eu, Luiz Domingues.
Eu, Luiz Domingues, a fazer pose como se fosse o "Brian Jones" nas fotos do encarte do álbum: "Beggar's Banquet", dos Rolling Stones, em 1968. Gravação do compacto d'A Chave do Sol. Estúdio Mosh, de São Paulo, em janeiro de 1984
E finalmente chegou o dia. Esteve marcado para as 15:00 horas de um dia de janeiro
de 1984 (não anotei o dia certo, peço perdão ao leitor/fã d'A Chave do
Sol).
A sala de gravação no antigo estúdio Mosh, fora anteriormente um quarto residencial, muito amplo, cuja
suíte foi retirada, e tornou-se uma dita, "casinha", isolada para a gravação da bateria. Com uma
elevação substancial, víamos o Zé Luiz, como se ele estivesse a tocar sob um praticável
de show ao vivo, com a bateria suspensa.
Dessa forma, apesar de fechado
nesse claustrofóbico espaço, tivemos a comunicação visual essencial para uma gravação, ainda
mais ao considerar-se que gravaríamos toda a base, ao vivo.
Ele levou
a sua bateria, Tama e usou três pratos (Crash 18', Ride 22' e China 24' ),
os pratos de chimbau que ele usava nessa época, eram da Zildjian. Pedal
de bumbo, o tradicional,"Speed King". Dinola usou também, peles da marca, "Remo", hidráulicas, em todas as peças, incluso na caixa.
Eu usei o meu baixo, Fender Jazz Bass, com cordas GHS (040),
mas plugado diretamente na linha.
E o Rubens usou a sua guitarra, Fender
Stratocaster, plugada em seu amplificador, Music Man, com dois falantes de
12".
O Rubens tinha na sua pedaleira, nessa época: um Phase 90 da MXR, Wah-wah Cry Baby, Compression/Sustainer da Boss, e Chorus da Boss, como
principais opções.
Ele possuía também, cinco pedais da fábrica britânica: "Coloursound", que
acoplava esporadicamente ao vivo, um ou outro, mas não lembro-me em
vê-los todos, simultaneamente, na pedaleira.
O Chorus, ele usava pouco, é verdade. A sua
preferência era pelo "Phase 90", aliás uma marca registrada que tipificou o
som d'A Chave do Sol, pois quase todos os solos dele, foram feitos com o
pedal ativado.
Muitos guitarristas comentam que isso se tornou uma marca característica do som d'A Chave
do Sol, e é verdade.
Nós gravamos inicialmente a base da canção, "Luz", por ser um Rock mais
simples.
Teoricamente apenas, pois se a estrutura harmônica era norteada pelo
Rock'n' Roll básico, estilo cinquentista, haviam diversas convenções e
verdadeiros momentos sob inspiração jazzística, com escalas de baixo
versadas pelo estilo "andante", por exemplo.
O Zé fez viradas difíceis e por ter sido assim, apesar
de parecer fácil para um baterista de seu nível, exigia-lhe a concentração.
A guitarra ficou isolada por um
biombo de madeira almofadado, à moda de estúdios vintage, ao fundo da
sala.
Não lembro-me, sinceramente, qual foi o microfone usado para a
captação do amplificador. Remotamente recordo-me que fora um AKG, mas
foge-me o seu modelo específico.
A verba que dispúnhamos foi bem curta, portanto não tivemos uma
outra alternativa a não ser gravarmos a base ao vivo, e reservar assim, apenas
solo e contrasolos para os overdubs, além da voz solo e os backing vocals,
evidentemente.
Faltou-nos experiência em estúdio, pois na ausência de um
maior preparo nesse sentido, o Rubens equalizou o seu amplificador para
uma base limpa, mas exagerou na dose. Ficou quase uma base típica para uma canção orientada pela Country Music norte-americana,
bem ao estilo das produções que saem normalmente da cidade de Nashville, Tennessee.
A sua Fender Stratocaster soa como um modelo Telecaster, praticamente, nessa base
que ficou registrada no disco.
Não posso dizer que seja feia, pelo
contrário, são desenhos rítmicos muito bem engendrados por ele e
agradáveis naquela base limpíssima, mas faltou um contraponto que seria
necessário, em minha visão, com uma segunda guitarra com drive, a imprimir uma base mais suja, para se abrir no
pan/estéreo.
Foi o primeiro disco da minha vida, com uma banda autoral minha, de fato.
Antes disso eu gravara uma faixa no disco de um cantor de MPB, em 1980
(LP "Canto Livre", do cantor, Leandro, já relatado no capítulo "Trabalhos Avulsos"), uma demo-tape com o Língua
de Trapo (também já relatado no capítulo dessa banda), e algumas gravações mambembes de fitas demo para inscrever músicas
em festivais, incluso uma demo caseira bem precária com a própria, A Chave do Sol, em 1983. Em suma: foi muito pouca a minha experiência até então.
Zé
Luiz Dinola de costas, o ex-vocalista do Made in Brazil, Caio Flávio, que
acompanhou a gravação como convidado do Mosh, e o técnico Robson TS,
a usar bigode. Gravação do compacto d'A Chave do Sol, em janeiro de 1984
Eu estava
seguro e muito calmo, mas faltara-me experiência em lidar com o estúdio,
fator que hoje em dia eu tenho de sobra.
Para o Zé Luiz também fora o seu primeiro
disco. Fora disso, a sua experiência resumia-se à fitas demo com sua banda
anterior, o "Contrabando".
E o Rubens havia gravado um compacto com a
banda, "Santa Gang" em 1981, o que também representou, muito pouco.
O nosso trunfo, foi
que estávamos excepcionalmente bem ensaiados, e tranquilos, seguros. E
também pelo fato do técnico de som designado para servir-nos, ter
afeiçoado-se ao som, e ser extremamente solícito e gentil. Ao estabelecer amizade e
sintonia musical instantânea conosco, este foi um rapaz que auxiliou-nos do
início à mixagem, com extrema boa vontade, e espírito cooperativo.
O nome
desse técnico era, Robson T.S.
Ele era jovem, mas já a se mostrar bastante competente e
interessado em mostrar serviço, ao dar o melhor de si, para o nosso produto final ficar
com qualidade. O dono do estúdio era (é) o Oswaldo Malagutti, ex-baixista dos Pholhas, e
muito equipamento disponibilizado aos clientes do Mosh, naquela época, era dessa banda, e fora muito usado
na década de setenta.
A gravação da base da música: "Luz", foi relativamente rápida. Dado o caráter de
gravarmos ao vivo, tivemos que fazer duas ou três tomadas, apenas, motivados por
pequenos erros tolos, de um ou de outro componente.
Mas realmente foi muito pouco,
a demonstrar que a nossa eficácia fora forjada graças à realização de uma pré-produção
esmerada, com muito ensaio.
Hoje em dia, eu acho que o andamento da música
deveria ser um pouco para trás. Daquele jeito em que a gravamos, se expressa um
entusiasmo, eu admito, mas acho também que um pouco mais lento traria um balanço
maior para a canção.
Penso assim pela questão da linha melódica em primeira instância,
claro, mas também pelo fato de que muitas convenções poderiam (e
deveriam, na verdade), terem saído com maior sentido de balanço e ao serem executadas com rapidez, ficaram menos flexíveis ao lembrar fraseados do Jazz-Rock.
Na
base da otimização máxima do tempo, apenas checamos a afinação, e
partimos direto para a gravação da base de "18 Horas".
Naturalmente,
esse tema seria bem mais difícil, por ser longo, cheio de convenções precisas,
e solos dos três instrumentos.
Começamos a gravar com muito foco e
apesar do grau de dificuldade maior, além de estarmos muito bem
ensaiados, sentimo-nos muito mais à vontade na hora para gravar "18
Horas", pelo fato de estarmos aquecidos e ambientados ao estúdio.
Sala da técnica do estúdio Mosh, durante a gravação do nosso compacto de 1984. Robson TS é o rapaz debruçado sobre a mesa e ao seu lado, como ouvinte, Caio Flávio, ex-vocalista do Made in Brazil. Fora o
fato de termos adquirido confiança no técnico, Robson TS, fator
fundamental, também nesse processo.
No momento em que chegou o meu solo,
eu senti uma certa insegurança por conta do fone de ouvido.
Faltou-me a
experiência para pedir ao técnico para que fornecesse-me um ganho de volume, naquele momento,
a pilotar o som do baixo, na mandada do monitor.
Com tal incômodo, eu toquei de
forma linear como fora o plano, durante a música normal.
Por outro lado, o
fato da guitarra parar, propositalmente naquele trecho do meu solo, contribuiu para a minha melhor
audição. Somente com a bateria do Zé Luiz a acompanhar-me, ficou mais fácil,
evidentemente.
Na hora do solo do Zé Luiz, a nossa preocupação foi para não alterar-se em demasia, o andamento, a arruinar a volta à música na sua
parte final.
Como não estávamos a usar metrônomo, esse risco foi muito
grande, pois ao tratar-se de um solo, em algum momento ele desviaria a
atenção da marcação, e sem referência, o pulso seria perdido.
De fato, nós
tentamos ensaiar com o "click", mas músicos intuitivos que éramos, a
rigidez espartana do metrônomo atrapalhara-nos demais, a extrair-nos toda a
segurança.
Nesse caso, naturalmente que o
andamento voltou oscilado, mas aos ouvidos do grande público leigo, e
sejamos francos, também de quase todos os críticos e quiçá de muitos músicos, trata-se de
um erro imperceptível.
Só maestros e produtores
perfeccionistas, percebem tal sutileza.
E passados esses dois momentos
críticos da música, apesar do longo solo de guitarra, e algumas
convenções difíceis, tornou-se mais fácil gravar a base.
Nesse caso, invertemos
um fator em relação à gravação de "Luz", pois tocamos realmente como se
fosse ao vivo, com o solo do Rubens a ser feito para valer na mesma sessão.
Dessa forma,
ele reforçou alguns detalhes apenas, em um overdub posterior.
E como sobrou um
pouco de tempo dentro além das nossas previsões, nós resolvemos incorporar um luxo extra, sob uma resolução tomada
de última hora.
Como havia muito equipamento dos "Pholhas" à disposição
no estúdio, nós resolvemos reforçar o riff principal de "18 Horas", com
intervenções de teclados.
Queríamos usar o vistoso, Mini-Moog, mas como
não sabíamos que timbre escolher, e o objetivo foi só reforçar a
convenção e não fazer solos, propriamente ditos, optamos portanto pelo uso do
clássico Clavinete, da marca "Hohner D6", outro teclado tipicamente setentista.
O Rubens
voluntariou-se a executar a gravação e apesar do timbre marcante desse teclado, na hora da mixagem, ao somar-se
com o baixo e a guitarra, ele ficou como um mero reforço imperceptível, praticamente, ao realizar uma sombra invisível.
Quase não dá para notá-lo, mas eu sei que está lá.
E assim
encerramos o primeiro dia de gravações, satisfeitos com o resultado, e
certamente já a eliminar 75 % do processo, pois os overdubs de guitarra, e as vozes,
seriam bem mais fáceis para serem concluídos.
A sessão de Overdubs, marcada para o dia seguinte, foi tranquila e um dos
técnicos mais experientes do estúdio, na ocasião, chamado como: "Primo", foi
acompanhar um pouco o desenrolar dos trabalhos.
No mesmo dia,
começamos a sessão de voz.
Na verdade revelava-se fácil a tarefa, por ter sido apenas uma música cantada
para trabalharmos ("Luz"). E no mesmo dia, fizemos também os backing vocals, com nós três membros da
banda, e a contar com o reforço de Soraia Orenga e Rosana Gióia.
Quanto ao vocal solo do
Rubens, este foi bem rápido, pois ele já estava seguro desde quando incorporamos
essa canção ao repertório, e por termos a tocado em quase todos os shows
que fizemos no ano de 1983, ele mantinha-se o mesmo, bem preparado para gravá-la.
E
os backings foram tranquilos também. Fizemos um círculo em volta do
microfone, Neumann, e gravamos juntos sob um único canal.
Por gravarmos em apenas
oito canais, foi inevitável que fizéssemos reduções e dessa forma,
alguns timbres ficariam mesmo achatados nesse processo
reducionista. Alguns dias depois, fizemos a sessão de mixagem de ambas.
No dia da mixagem, o ex-vocalista do Made in Brazil, Caio Flávio, apareceu, e
ficou ali na sala da técnica, a assistir a sessão. Com a redução obrigatória e aliado à nossa inexperiência, a
mixagem foi a melhor possível, mas limitada dentro desse cenário.
Ao ouvir hoje em dia,
acho que há um excesso de reverber no geral, e a extrema leveza da base do Rubens, na música,
"Luz", incomoda-me um pouco. Se houvesse um dobro de guitarra base, com
um pouco mais de "drive", creio que a música ficaria mais
encorpada.
Também acho que poderia haver um pouco menos de reverber na
bateria, no geral, mas entendo perfeitamente que não foi possível realizar milagres ali e mais ainda neste caso, a tratar-se de instrumento complexo como é
a bateria. Gosto, contudo, do efeito do "Flanger", que foi colocado nos pratos, durante um trecho do
seu solo em "18 Horas", e isso foi proposital, evidentemente, com a
aprovação da banda inteira.
No tocante ao baixo, hoje em dia eu extraio um
timbre tão espetacular a usar amplificador e caixas Ampeg, que realmente fico chateado por
ter gravado em linha, sem nem cogitar usar um amplificador nessa
gravação d'A Chave do Sol.
Não está ruim, mas o meu Fender Jazz Bass rende cem vezes mais,
nessa circunstância que descrevi acima.
O timbre comedido, quase "flat" do baixo nesse compacto,
poderia ter sido matador, pois o Fender Jazz Bass é o mesmo que tenho em relação à outras gravações que efetuei a posteriori, com cordas novas
etc. Mas admito que houve um fator limitador nesse caso, a mais para agravar a situação.
Os
baixistas puristas vão execrar-me, mas o fato de nessa época eu tocar
exclusivamente a usar a técnica "Pizzicato", contribuiu também, decisivamente.
Desde 1992, eu eliminei esse estilo de tocar na minha atuação regular, e com o uso de
palheta, não há comparação sobre a qualidade de timbre. Com os dedos, a
tendência é perder o brilho. Com palheta, o baixo ronca de forma
violenta, a produzir o máximo que um instrumento vintage tem de bom, ou
seja, a sua sonoridade natural.
Dessa forma, há anos estou acostumado a
explorar o máximo de baixos Fender e Rickenbacker.
Ouça qualquer
gravação do "Pedra", e o ouvinte com escuta mais apurada sentirá quando é Jazz Bass, Precision, ou
Rickenbacker, pois isso é nítido. Mas estou a comentar tecnicamente, apenas.
Não me queixo e pelo contrário, orgulho-me muito desse primeiro
trabalho d'A Chave do Sol, por representar mesmo a concretização de um
sonho pessoal que eu acalentara desde 1976, quando eu participei da formação da minha primeira
banda, o Boca do Céu.
Ele é importante por esse aspecto pessoal, e também pelo
trabalho em si, a representar muito para a carreira d'A Chave do Sol.
Esse
compacto, aliado às aparições no programa, "A Fábrica do Som", foram os dois
principais fatores que catapultaram-nos de uma condição de anonimato
para uma exposição midiática bem considerável, ao proporcionar-nos oportunidades ímpares para impulsionar a nossa trajetória, e foi exatamente o que ocorreu.
Com a mixagem encerrada no estúdio Mosh, em sua antiga instalação da Vila Pompeia, o próximo passo
foi o processo do "corte" do acetato de vinil.
Por indicação do Luiz Calanca, o corte foi
realizado no estúdio da RCA, pelo competente, Oswaldo Martins, um profissional acostumado a
cortar discos de vinil há muitos anos, e que depois, na Era digital, abriu um estúdio
de masterização de CD digital, e em seu empreendimento (chamado: "Turbo"), o CD "Chronophagia" da Patrulha do
Espaço seria finalizado, em 2000, com a minha presença como testemunha ocular e auditiva, coincidentemente.
Para quem
não sabe o que significava o
processo do "corte" no processo dos antigos vinis, explico rapidamente que se tratava da
etapa de acabamento final pós gravação, quando a fita mixada do estúdio
recebia a última camada municiada por frequências agudas e graves, no cômputo
geral, e nesses termos esse "corte final" definia a cópia matriz que seria
imprimida no acetato de vinil, e este a servir então como base para a
prensagem das cópias, na fábrica.
O Rubens foi assistir o processo, e
mesmo sem condições para opinar, pois tratava-se de um processo técnico,
essencialmente, assim ao menos representou a banda, como uma espécie de apoio moral, nessa
operação final.
No tocante à capa, tivemos alguns problemas com o
fotolito da gráfica, e também com algumas provas rejeitadas por erro do uso de
cores.
Além disso, tivemos complicações com a revelação das fotos
da capa, especificamente com a foto do Rubens.
A ideia de escurecimento
para se atingir um certo clima sombrio na foto do Rubens, fora sugerido pelo fotógrafo, Fabio
Rubinato, e pareceu-nos muito interessante, em tese, mas na prática, o
laboratório fez muitos esforços para clareá-la.
O certo teria sido abrir uma nova
sessão e tentar capturar outras fotos boas do Rubens, mas não obstante o
fato de termos essa foto comprometida pela ausência de luz, nós
gostávamos dela, em si, pela expressão facial do Rubens e
de seu enquadramento.
Dessa forma, fomos muito teimosos, por insistir em sua
permanência, e mesmo com os esforços do laboratório para clareá-la (em uma
era pré-digital, sem photoshop e que tais).
Contudo, esse processo durou um
tempo enorme. Por vários problemas de agendamento no estúdio RCA, da
gráfica com suas idas e vindas, e do laboratório que trabalhava nas
fotos (Labortec), o processo tornou-se lento.
Por esse motivo, o disco só foi ficar
pronto, meses depois, por volta de maio de 1984.
De uma
certa forma, o fato do disco ter enfrentado entraves burocráticos e
extra-musicais para ficar pronto, conteve um aspecto atenuador para a
banda.
Ocorreu
que no período entre o fim de janeiro, até a minha saída do Língua de
Trapo pela segunda e definitiva vez, no início de julho de 1984, quase
não houve brecha possível para se agendar shows d'A Chave do Sol.
Portanto, o
risco que corremos de perder o bom embalo construído arduamente desde
1982 (e potencializado pelas aparições na TV), foi enorme.
Isso
somara-se ao fato de não termos na ocasião um empresário que pudesse
capitalizar o "momentum" propiciado pela boa exposição midiática que tivemos.
Então, o
fato do disco ter demorado para sair, de certa forma foi estratégico,
pois quando ficou pronto, enfim, coincidiu com a época em que eu estava
de saída do Língua de Trapo, portanto, com liberdade para dedicar-me
integralmente à agenda d'A Chave do Sol, novamente.
Nesse ínterim, tivemos mais uma participação no programa, "A Fábrica do
Som", da TV Cultura.
Nessa participação que foi ao ar no dia 31 de março
de 1984, tocamos as músicas: "Luz", "Crisis (Maya), e novamente, "Átila".
Somente as
duas últimas que citei, foram ao ar, e os respectivos vídeos estão disponíveis no YouTube.
Desta vez, a produção do programa endureceu conosco, e o Zé Luiz teve
que usar a bateria Gope, acrílica, da TV Cultura, como houvera sido em nossa
terceira aparição, ocorrida em novembro de 1983.
http://www.youtube.com/watch?v=oZlb0BzsKhI
O
link acima direciona para o vídeo de "Crisis (Maya)", performance da quarta
aparição da banda no programa: "A Fábrica do Som", gravado no dia 27 de
março de 1984, e que foi ao ar pela TV Cultura de São Paulo, em 31 de março de 1984
O Rubens aparece nesses vídeos com o
cabelo bem mais curto do que o habitual, pois sob uma questão de poucos dias antes, fora
padrinho de casamento de sua irmã mais velha, Roseli Gióia.
Apesar de
"negociar" insistentemente com sua irmã, para ir ao casamento com o cabelo
preso, ela portou-se de forma irredutível em sua agenda conservadora e ele foi obrigado a estabelecer um corte um tanto quanto exagerado para os
nossos padrões Rockers, setentistas.
O Zé Luiz iria usar uma camiseta com o
logotipo novo que acabáramos de adotar, e que faria parte da capa do nosso compacto.
Foi a famosa ilustração da pomba a voar em direção ao sol. No entanto, ela não
ficou pronta a tempo, infelizmente.
Esta camiseta da foto acima, eu nunca usei no cotidiano, mas a preservei como peça de memorabilia d'A Chave do Sol
Esse logotipo foi usado nessa remessa
de camisetas e também em bottons que mandamos fazer. Foi um rapaz chamado, Paulo, que propôs-nos esse merchandising e mediante um pacote negociado, nós fechamos o negócio.
A arte final foi obra de um rapaz chamado, José Vicente Dias, cuja intervenção eu já havia comentado anteriormente.
De todas as nossas seis
apresentações n'A Fábrica do Som (somente cinco foram ao ar, e logo mais eu
explicarei essa sexta aparição que detém uma história, sui generis), essa foi
a mais comedida de todas, para nós, tanto em termos técnicos, quanto na
recepção do público.
http://www.youtube.com/watch?v=oZlb0BzsKhI
O
link acima direciona para o vídeo de: "Átila", canção executada ao vivo,
no programa "A Fábrica do Som", gravado em 27 de março de 1984, e que
foi ao ar no dia 31 de março de 1984, pela TV Cultura de São Paulo.
Mas de forma alguma eu poderia dizer que foi ruim a nossa apresentação. Foi
boa, só não teve o calor efusivo das anteriores e da derradeira,
posterior.
E desde que o BR-Rock oitentista começou a penetrar com força na mídia
mainstream, ainda ao final de 1982, estávamos atentos, e assim que
tocamos pela primeira vez no programa, "A Fábrica do Som", ouvíamos todo
o tipo de boatos, pelos bastidores.
Isso intensificou-se em 1984, quando começaram os rumores
sobre a realização do Festival Rock in Rio, a ser realizado em 1985. Por verificarmos o estouro de todas
aquelas bandas na mídia, sabíamos que não adequávamo-nos àquela
estética vigente, orientada pela New Wave, Pós-Punk e que tais.
A única banda que aproximava-se
do nosso gosto setentista era o Barão Vermelho, por ter aquela
sonoridade Rock'n' Roll, calcada na raiz tradicional do Blues, mas mesmo assim, se havia um
ponto ao menos de similaridade, os nossos temas permeados por passagens
instrumentais intrincadas, sob a nítida influência do Jazz-Rock setentista, fora na prática, muito
distante do som perpetrado pela turma de Cazuza, Frejat & Cia.
Em nossa cidade, São Paulo, o panorama era ainda
mais diametralmente oposto.
Bandas como Ira! e Titãs, e mesmo o Ultraje a
Rigor, seguiam a estética do Pós-Punk, fora as bandas Punk,
propriamente ditas, tais como: "Os Inocentes", "Cólera", "365", 'Olho Seco", "Ratos de Porão"; "As
Mercenárias", e outras.
O Punk-Rock áspero d'As Mercenárias, retratadas na foto, acima Essa turma e mais uma safra de artistas que seguiam os derivados da
vertente do Pós-Punk (Cabine C, Smack, Fellini, Voluntários da Pátria,
UHF, Akira S. etc) também despontavam, mas foram em síntese, seguidores da cartilha
de Malcolm McLaren, em essência, portanto, estávamos isolados e a corrermos o
sério risco de ficarmos estigmatizados como anacrônicos, dentro de um mundo
oitentista hostil ao extremo para artistas como nós, ainda a vibrar em
moléculas setentistas, isto é, proibitivas para aquela estética que usou como propaganda o
repúdio virulento ao passado, como regra principal de seus ideais.
Naturalmente fomos então a movermo-nos em direção à
outra vertente oitentista, que era igualmente antagônica a tudo o que eu descrevi
acima, mas que demonstrava fôlego para sobreviver em quase pé de
igualdade. Refiro-me ao espectro do Hard-Rock e o Heavy-Metal dos anos oitenta.
Pelo
peso, pela estrutura instrumental calcada em riffs de guitarra, acima de
tudo, e também pela estética visual, que mostrava-se mais próxima do que éramos na verdade, fomos quase que atraídos para essa
turma, por absoluta falta de opção mais adequada aos nossos
propósitos.
Sob uma análise muito simplista, mas verdadeira, fomos menos
hostilizados nesse mundo peso-pesado, embora não ficássemos nada confortáveis nele,
do que entre os Post-Punkers, Punks, New Wavers, Darks, Góticos, entusiastas de Ska, Techno Pop, simpatizantes do Rockabilly cinquentista pela visão punk e demais
vertentes derivadas do Punk' 1977, que dominavam completamente a cena, na
década de oitenta.
Diante desse dinâmica em prol da sobrevivência, duas predisposições
começaram a mudar drasticamente dentro de nossos planos, já no início de
1984:
1) Precisávamos de um vocalista com voz potente, que sobretudo
fosse um frontman com grande carisma e domínio de palco.
2) Começamos a
trabalhar em novas músicas com a preocupação de adequar a banda à essa
nova estética, ao incrementar o aspecto Hard-Rock, quiçá Heavy, a trazer
mais peso e Riffs "ganchudos" para o nosso som. Queríamos ficar competitivos para estarmos
aptos a abraçar oportunidades, que certamente apareceriam, doravante.
Na verdade,
depois que fizemos a primeira aparição no programa, "A Fábrica do Som", elas já haviam começado a surgirem.
Estávamos quase para lançar o primeiro compacto, mas
sentíamos que apesar das músicas serem boas, estavam ambas defasadas em
relação ao mercado. "Luz" se mostrava como um Rock'n' Roll sob estrutura harmônica e melódica, cinquentista.
Haviam entre os oitentistas contumazes, um nicho possível para nós, dentro de um certo revival do Rockabilly cinquentista, que pululava entre os
apreciadores de vertentes do Pós-Punk.
Bandas como o "Coke Luxe" (que
aliás fazia parte do elenco da gravadora, Baratos Afins, e muito incensada pelo próprio Luiz
Calanca), e até o "Magazine" do Kid Vinil, encaixavam-se nessa seara. Mas o
nosso Rock, "Luz", soava diferente de tudo isso, com peso e certas
atitudes jazzísticas estranhas aos apreciadores do Rockabilly com esse sentido punk ao sabor dos anos oitenta.
E no "lado B" do compacto, traríamos o tema: "18 Horas", ou seja, pior ainda... um tema
instrumental com influência do Jazz-Rock setentista, cheio de convenções, longo e com solos
enormes, portanto a se portar como um verdadeiro alienígena dentro daquele mundo regido pelo Pós-Punk,
com os seus artífices a apresentarem instrumentação simplista, vocalizações monocórdicas e posturas
de palco robóticas, ao som de timbres de plástico.
Então, já a partir de março de
1984, estivemos a trabalhar com sonoridades diferentes para novas
músicas.
Os arranjos elaborados e plenos em detalhes no quesito da divisão rítmica,
prosseguiram a permear a nossa criação, mas o peso começou a ser observado, e passamos também, a
evitar ficarmos restritos apenas em temas instrumentais, sobretudo.
Concomitantemente, iniciamos
esforços para tentar achar um vocalista que adequasse-se à esse plano de
expansão por nós idealizado.
A ideia seria achar um postulante, com voz potente, mas principalmente, dotado de uma dose de carisma pessoal e domínio de palco. E claro, deveria apresentar uma boa aparência,
item fundamental para um frontman.
Em um primeiro impulso, nós colocamos um anúncio
no jornal: "Primeiramão", mas sem assinar o nome da banda, pois nessa
época, já estávamos com o nosso nome bem comentado na praça, graças às quatro aparições na TV,
que empreendêramos e prestes a lançar um disco. Dessa forma, alguns candidatos fizeram
contato, e isso precipitou que em um dia mais ou menos entre março e abril de 1984, marcássemos um
teste com vários desses aspirantes contatados. Foi em uma segunda-feira, lembro-me, e
é uma pena que não tivéssemos filmado tal experiência bizarra.
Foi uma autêntica "Buzina do
Chacrinha", com alguns tipos inacreditavelmente ruins e bizarros,
ali presentes, como aspirantes.
Destaco um sujeito que chegou trajado com terno e gravata, sob um aspecto de "almofadinha" e cheio de arrogância.
Ele tinha postura de quem chegara para assinar
contrato e assumir o posto, a ignorar os outros postulantes, seus rivais.
Mostrou-se bisonho no seu desempenho vocal, no entanto, e
por algum tempo, ficamos a considerar a hipótese de que tenha ido participar, com o intuito proposital de provocar-nos para gerar escárnio, pois se mostrara inacreditável a sua ruindade musical.
Só poderia ter sido uma atitude satírica deliberada da parte daquele sujeito ali a dizer-nos ser um vocalista de Rock, com aquela completa falta
de noção.
Esse foi bizarro pela postura altiva e petulante, também, mas
a maioria foi horrível, também, e não precisava nem de um compasso de execução de uma música, para
verificarmos que não reuniam condições nem para cantar no chuveiro de suas respectivas habitações. Alguns não
sabiam nem onde entrar no ritmo das músicas, sem noção alguma de pulsação, e em relação à afinação, melhor nem
falar muito, pois nem sabiam o que significava, tonalidade.
Entre tantos
aspirantes bizarros (sumariamente convidados a retirarem-se), que ali compareceram, selecionamos apenas três
para uma posterior avaliação.
Foram dois rapazes e uma garota.
Sobre a garota, foi
até engraçado, por que ela veio com uma mini torcida uniformizada, junto de si. Se tratou de um
grupo de lésbicas, seguidoras daquele tipo de MPB engajada assertivamente com a causa homossexual. Até aí, sem problema e sem
preconceito. Mas foi engraçado observar que enquanto ela fazia o teste
(cantou uma canção da Rita Lee & Tutti-Frutti, "Mamãe Natureza"), a sua
namorada e as amigas, vibravam e incentivavam, como se estivessem em um
festival de calouros.
Ela não era ruim, mas não representara o que queríamos,
pois se fosse para termos uma nova vocalista mulher, teria que ser alguém ao nível da
Verônica Luhr, a nossa segunda vocalista (ao considerar-se que Percy Weiss
fora o primeiro).
E não seria o caso, pois ela era até afinada, mas a sua voz
não era para o Rock, pois o seu potencial seria para a MPB, mais intimista.
Quanto aos
dois rapazes, gostamos mais de seus respectivos desempenhos.
Não foram espetaculares, não ostentavam visual
Rocker, como procurávamos, mas continham um certo potencial, e portanto, os convidamos a fazerem
um novo teste, posteriormente, quando daí, decidiríamos.
Em uma rara oportunidade de agenda ocorrida nesse primeiro semestre de 1984, quando todos os
espaços foram praticamente ocupados pela agenda do Língua de Trapo, eu
consegui uma brecha, e pudemos marcar enfim, um show para A Chave do Sol.
Foi um
convite da FAAP, a Faculdade Armando Álvares Penteado, super bem
localizada no bairro do Pacaembu, na zona oeste de São Paulo e frequentada por alunos,
invariavelmente oriundos das classes sociais mais abastadas de São
Paulo.
Infelizmente, contudo, não seria realizado no seu bonito teatro,
que aliás é um dos melhores do circuito teatral paulistano, mas sim na
famosa escadaria central do seu Hall de entrada, sob seus lindos vitrais
(que são famosos, já tendo sido filmados como cenário de filmes, novelas
e comerciais).
Foi realizado ao final de maio, com a temperatura típica de outono, e tratou-se
de um projeto cultural com diversas atrações que transcorreriam durante uma
semana de palestras sobre Comunicação, e A Chave do Sol foi a atração daquele dia.
Lembro-me que os
outros shows seriam de artistas como: "Laura Finocchiaro", "Nós nas Tranças" e
"Freelarmônica", em dias diferentes. O convite surgiu por termos despertado a atenção através
de nossas aparições no programa: "A Fábrica do Som", da TV Cultura.
Foi
a rigor, o primeiro show que conseguimos marcar, graças ao apoio midiático, ao
menos de forma espontânea.
O público não empolgou-se com o nosso som, entretanto, o
que foi esperado por nós, em meio àquele universo constituído por jovens burgueses,
mas não foi um fiasco total, com repercussões pontuais de poucos que ligaram-se no nosso som, cheio de firulas, e nada Pop, portanto, nada radiofônico.
Uma particularidade
desse show, foi que por não ter sido realizado sobre um palco adequado, detinha o piso muito
liso, de mármore. Foi difícil, portanto, tocar e imprimir um mise-en-scène
minimamente condizente com a nossa performance habitual, sem ter o
receio de escorregar e passar vergonha.
No cômputo geral, foi uma boa
apresentação, que ocorreu no dia 28 de maio de 1984, e sob os olhares de
mais ou menos trezentas pessoas que estiveram presentes naquele saguão.
Na quarta foto, Edgard Puccinelli Filho, o popular: "Pulgão", em foto recortada de uma ocasião futura, 1986, ocorrida no camarim do Teatro Mambembe, de São Paulo
Faço um parêntese na narrativa para falar de um personagem que agregar-se-ia à
banda e acompanhar-nos-ia doravante, até o ano de 1987. Edgard
Puccinelli Filho fora um "freak" que o Rubens conhecera nos tempos em que
tocou no bar "Aponto", um obscuro estabelecimento localizado no bairro de Moema, na zona sul
de São Paulo.
Nessas
noitadas de Rock, onde muitas bandas iniciantes apresentavam-se nos idos de 1978 & 1979, pouco ouvia-se música autoral.
Predominavam as bandas cover, a tocarem clássicos do Rock 1960 & 1970.
Muitos músicos que posteriormente ficariam famosos, passaram pelo "Aponto", caso do
guitarrista do "Ira", Edgard Scandurra, que nessa época ainda não havia bandeado-se em 100% para a turma do Punk/Pós Punk, e nas noitadas do Aponto,
gostava de tocar riffs de Jimi Hendrix e do The Who.
Já o outro Edgard,
não era músico, mas um apreciador, e demonstrava um potencial para ser um
agitador cultural, além de que se revelava como naturalmente performático na sua maneira de ser e agir no cotidiano e
também era um poeta com potencial.
Mais ou menos ao final de 1983, ele apareceu em nossa vida, e
tornar-se-ia a seguir, uma figura importante para a nossa equipe de produção da banda, ao atuar como
um apoiador para toda obra.
E ao ir além, como ostentava uma
personalidade carismática por natureza, ele culminou por tornar-se uma entidade agregada, mais ou menos como o "Gato Félix" o foi
para os Novos Baianos.
O folclórico, "Gato Félix", persona carismática e agregado dos Novos Baianos, nos anos setenta
Edgard quase não usava jeans. Geralmente estava a usar calças com tecido
tergal, oriundas de ternos antigos que comprava em brechós, e combinava com o mote Rocker,
ao usar apenas um colete sem camisa e usualmente com echarpes de seda,
a dar um toque glitter à sua indumentária exótica. Ele costumava usar várias pulseiras, ao estilo Rocker, mas a combinar (ou "descombinar", como queira o leitor), com
calças de ternos dos anos cinquenta, quando causava uma estranheza aonde estivesse.
Fisicamente, ele tem o biotipo de um indiano, com uma pele bem escura, porém com
feições caucasianas. E o seu temperamento se mostrava bem expansivo, com grande
extroversão, ao se mostrar eficaz a atuar como um relações públicas, sempre a tornar-se o centro das
atenções nas rodinhas de conversas em que participava, por divertir a todos.
O link acima direciona para um curioso vídeo postado no YouTube, como uma espécie de coletânea
de alguns momentos bizarros vividos no programa, "A Fábrica do Som". Logo no início, o Edgard
Puccinelli Filho, vulgo "Pulgão", é entrevistado como anônimo, e por ser
performático, arranca mais tempo que o normal nesse tipo de abordagem
jocosa da parte do telejornalismo em geral. Lá pelo segundo 23, até o 57 do vídeo, ele declamou o
seu poema: "Anjo Rebelde", que seria musicado pel'A Chave do Sol, e gravado
no segundo disco, o EP de 1985...
Mesmo ao saber que
tínhamos uma sólida parceria com o poeta, Julio Revoredo, ele sempre insistiu
para que lêssemos os seus poemas, para visar musicar algum material nosso, ou
mesmo ter um espaço para realizar uma performance ao vivo em nossos shows.
No meio de
1984, isso concretizar-se-ia, enfim. E eu contarei logo mais.
A seguir com a narrativa, menciono agora que marcamos
com os melhores candidatos a vocalista (da prévia que fizéramos no nosso
ensaio), uma audição decisiva, ao vivo, visto que
tivemos um show marcado para junho, em um bar localizado no bairro do Bexiga.
Na
verdade, nós tivemos uma outra perspectiva antes disso (o show na Faap, descrito
anteriormente), mas esse show, por ser
realizado em um bar pequeno, seria mais conveniente para tal propósito (e
convenhamos, em um show do porte da Faap, não haveria espaço para tal
predisposição prosaica).
Esboço de Logotipo não aprovado para a capa do disco, de autoria de Elizabeth Dinola, em 1983
E ao seguirmos
em frente, finalmente tivemos a capa do nosso compacto encaminhada à gráfica, e o disco, propriamente dito, a ser prensado.
Com isso, tivemos a preocupação de preparar um bom show de
lançamento, mas a minha vida paralela com o Língua de Trapo, nesse
primeiro semestre de 1984, complicara demais a agenda d'A Chave do Sol.
A
despeito de gostar do Língua de Trapo por vários motivos (por ter sido membro da
formação original, gostar do teor artístico desse trabalho, ser amigo do Laert desde
os primórdios de nossas respectivas carreiras iniciadas no Boca do Céu, ter feito boas amizades com os demais
membros e por estar a permitir-me a oportunidade para ganhar muito dinheiro),
o meu propósito sempre foi voltar a ser membro exclusivamente d'A Chave do Sol, pois
sempre fora o meu objetivo primordial, atuar com uma banda de Rock.
E também pela afinidade
com os companheiros e o fato de estar a atrapalhar os planos de minha
própria banda.
Além da questão do disco estar a sair e a necessidade de se produzir um show
de lançamento, como algo premente, um outro fato importante, além de que inegavelmente, eu arrumara
inúmeros contatos para A Chave do Sol, através do Língua de Trapo.
Com
a permissão dos companheiros do Língua de Trapo, apesar deles não gostarem
exatamente dessa prática (em uma fase vivida sob melindres que passei, e convenhamos,
não foi exatamente uma atitude de minha parte a ser aplaudida por eles), eu mantinha
sempre um material d'A Chave do Sol, guardado no case (estojo), do meu instrumento, quando comparecia aos
programas de TV ou rádio.
E dessa forma, muitos agendamentos que A Chave do
Sol conseguiu depois que eu saí do Língua de Trapo, certamente foram arrumadas
através dessa outra banda.
A rede de boatos esteve a mil por hora no limiar da
metade de 1984.
A aproximação com o pessoal do Hard-Rock oitentista
pareceu ser inexorável naquele instante e um dos primeiros frutos dessa
tentativa de adequação ao mercado, foi termos concluído uma música nova
com esse teor, chamada: "Anjo Rebelde".
Tal música merece um capítulo à
parte, por conta de sua letra, elaborada por um personagem que houvera aproximado-se de nós, ao final de 1983, e que tornou-se importante nos anos
seguintes como colaborador ativo nos shows. Tratou-se de: Edgard Puccinelli Filho, cuja persona eu já descrevi, anteriormente.
Sobre a novidade do merchandising,
o rapaz que elaborou as camisetas e os bottons para nós, com o logotipo da
pomba a voar sob o sol (a arte é de José Vicente Dias), este era bem falante, e envolveu-nos em relação à uma promessa para agendar shows. Ele não era um empresário propriamente dito, mas dizia
ter contatos, e entre eles, o de um possível contratante que levar-nos-ia à
Porto Alegre.
Sabíamos, através de membros da produção do programa, "A
Fábrica do Som", que muitas das tais "18 mil cartas" enviadas por
telespectadores a elogiar-nos, que pediam informações, ou a solicitar novas
exibições de nossa banda, vieram do Rio Grande do Sul, e notadamente de Porto
Alegre.
Então, ficamos bastante animados com essa perspectiva.
Todavia, o
sujeito estabeleceu um jogo de barganha, a tentar obter um acordo de
porcentagem absurda, como comissão. Irredutível, recusou-se a ceder em
sua sanha financeira e dessa forma, ficamos sem o contato, que ele evidentemente não cedeu-nos.
E aconteceu outro fato: ele fora um sujeito um tanto quanto comprometido com aquela
vibração estética de repúdio ao passado, ao ter comprado a ideia do niilismo punk de 1977
etc. e tal. E nesses termos, vivia a perturbar-nos para modificarmos o nosso som e
visual, ao buscarmos a adequação com aquela estética em voga.
Mesmo que fôssemos
mercenários dispostos a fazer qualquer coisa para ingressar no mainstream,
certamente não seria pelos contatos obscuros dele, que conseguiríamos.
No entanto, devo admitir que ele foi
a priori, o primeiro sujeito que aproximou-se de nós para fazer algum tipo
de trabalho empresarial. Mas claro, não fechou nada, e ficou só pela
conversa fiada.
Anos depois, esse rapaz chegou a montar loja na Galeria do Rock. Já em 1985, ele veio procurar-nos para um novo oferecimento de merchandising, mas ainda estava
imbuído daquela mentalidade idiota, e ficou o tempo todo a ironizar-nos por
mantermos o visual de bandas "ultrapassadas" como o Whitesnake etc... ou seja, aonde
estará o grande arauto do pós-punk hoje em dia? Pois é, o tempo é inexorável para aniquilar "hypes" forjados.
Nessa dinâmica em estarmos prestes a lançar o disco (até que enfim), também estávamos preocupados com o seu show de lançamento.
De minha parte, eu sempre gostei de shows teatralizados e como fã de artistas tais como Frank Zappa, "David
Bowie", "Alice Cooper", "Arthur Brown", e outros que faziam muitas
loucuras desse tipo em seus shows, e assim, eu sonhava incorporar elementos
extra-musicais para incrementar o show d'A Chave do Sol. Então, começou a
amadurecer a ideia de se usar tal expediente para esse show de lançamento do
compacto.
Eu (Luiz Domingues), à esquerda e o poeta Julio Revoredo em 1984. Acervo e cortesia de Julio Revoredo
A ideia seria usar toda a estrutura hermética da poesia de nosso
colaborador, o poeta, Julio Revoredo, mais a figura performática do
Edgard, entre outros elementos. Logo mais entrarei nos detalhes.
Falarei sobre as loucuras que criamos, provenientes das reuniões de "brainstorm" que fizéramos com o Julio, e o Edgard, ambos presentes.
Aproveito para abrir um parêntese, para contar sobre dois telefonemas inusitados que eu recebi no primeiro semestre de 1984.
Não tenho condições de lembrar a
data exata em que recebi tais ligações telefônicas inesperadas, em dias diferentes, e
com motivações e pessoas distintas. Para início de conversa, nessa época
eu não possuía telefone em minha residência, portanto, essas pessoas descobriram o número do telefone da casa do Rubens, possível lugar
mais provável onde encontrar-me-iam.
Desconfio
que uma delas o obteve através do Luiz Calanca (sobre o outro caso, é certeza, pois ele mesmo, Calanca,
contatou-me previamente), dono da Loja Baratos Afins e manager do
próprio selo, administrado na sua loja, onde ele recebia diariamente,
contatos de produtores, artistas e jornalistas atrás de informações
sobre o seu elenco.
O
primeiro telefonema foi do baixista dos Titãs, Nando Reis.
Quando eu fui chamado a
atender, por alguns segundos elucubrei: o que será que o baixista dos
Titãs tem a dizer-me? Atendi, e ele chamou-me pelo apelido que eu usava
naquela época, e antes que eu manifestasse-me, foi logo a dizer-me que
ele estava com um problema na "ponte" do seu baixo Fender etc.
Fui
obrigado a esclarecê-lo sobre o fato de que eu não era Luthier, a despeito do outro
baixista que o era de fato, usar o mesmo apelido que eu, etc.
Ele desculpou-se, mas nem precisava, pois essa confusão por conta do tal
apelido, perseguiu-me por mais de vinte anos, e não foram poucas as vezes
em que muitos músicos vieram falar sobre instrumentos comigo, como se eu
entendesse alguma coisa, a confundir-me com o Luthier, "Tiguez".
E o "Tiguez", por sua vez, passou pelo mesmo constrangimento, por anos a fio! Em meados
dos anos noventa, eu fui informado que ele chegou a colocar um banner no site da sua
luthieria, com os seguintes dizeres: -"EU NUNCA TOQUEI NA CHAVE DO SOL"...
Aliás, trata-se de um grande músico e luthier. Quem precisar de reparos em guitarra, violão ou baixo, recomendo-o, sem dúvida.
O outro
telefonema, aí sim foi pertinente, de fato. Em uma outra outra tarde, eu atendi o
telefonema do Luiz Calanca, a dizer-me que indicara-me para travar um
contato com uma personalidade da MPB, que estava a procurar um baixista
para acompanhá-la em turnê.
Alguns minutos depois, a própria artista ligou-me e tratou-se da cantora, Miúcha, irmã de Chico Buarque, ex-esposa de João Gilberto,
mãe da também cantora, Bebel Gilberto etc.
Simpática, tal artista convidou-me para
fazer parte de sua banda de apoio.
No entanto, eu tive que declinar do convite,
pois estava naquele preciso instante, agoniado por estar a tocar em dois
trabalhos simultaneamente, e por conta dos inevitáveis choques de
agenda, estar o tempo todo a melindrar-me com ambos.
Portanto, acumular um terceiro trabalho paralelo, seria um desastre naquele instante. Além disso,
mesmo a estar em uma ótima forma musical em 1984, a minha predileção passava longe da
Bossa Nova, e mesmo se me esforçasse, acho que não encaixar-me-ia na
proposta musical do repertório dela, e o correto seria que ela procurasse um
especialista.
Fiquei lisonjeado, é claro, pois mesmo ao não possuir a magnitude
de seu irmão, e também de seu ex-marido, Miúcha tinha um nome respeitável
na MPB. E assim foram esses dois telefonemas inusitados que eu recebi, ainda no
primeiro semestre de 1984.
O próximo evento para A Chave do Sol, foi absolutamente inesperado e
inusitado para nós. Havíamos sido convidados para assistir a
gravação de mais uma edição do programa, "A Fábrica do Som", mas na condição de
convidados tão somente.
Foi no dia 19 de junho de 1984 e estávamos
agendados para participar a gravar, somente na semana seguinte, dia
26.
Fomos assistir a gravação e colocados em um lugar estratégico do
mezanino sobre o palco, fomos reconhecidos por várias pessoas da plateia, e muitos
gritos de apoio ecoaram no teatro, a dar-nos a sensação boa de que a banda
crescia a olhos vistos em termos de popularidade.
Então, um pouco antes de iniciar-se a
filmagem, vimos que o clima estava tenso entre os produtores do
programa e técnicos da TV Cultura. Um bate-boca começou e de repente os
técnicos do PA começaram a desmontar o equipamento, a gerar um
alvoroço na plateia.
Não sabíamos o que estava por acontecer, ao certo,
mas sentíamos a tensão aumentar a cada segundo.
Foi quando um produtor
da TV Cultura abordou-nos, e pediu-nos para realizarmos um micro show
relâmpago, pois eles temiam que o público se revoltasse com o anúncio que seria dado em poucos minutos, sobre o
cancelamento das filmagens do programa naquela noite, e iniciasse um
ato de vandalismo, motivado pela revolta generalizada. De fato, havia mais de mil pessoas dentro do Teatro do
Sesc Pompeia naquela noite, e seria muito perigoso cancelar-se aquela edição, pura e
simplesmente, com o público ali a esperar.
Sobre o acontecimento em si, a explicação que deram-nos foi a seguinte: Durante o
soundcheck, no período da tarde, um músico de uma banda, teve uma indisposição com um
cameraman da TV. A discussão acalorou-se, e chegou às vias de fato.
Em
meio à pancadaria, alguém pegou um pedestal de microfone para utilizá-lo
como arma, e quebrou-o, a causar a revolta dos responsáveis pelo equipamento de PA,
este pessoal também entrou na confusão.
Mesmo com a turma formada pelos apaziguadores, a separar os brigões, o clima piorou, naturalmente.
Até aquele instante,
os produtores do programa tentavam convencer os envolvidos na confusão a relevar e
assim filmar normalmente o programa.
Contudo, os técnicos do PA
solidarizaram-se com os da TV, e todos recusaram-se a trabalhar.
Com essa situação criada, os
produtores do programa, e os responsáveis pelo Teatro do Sesc Pompeia,
ficaram muito preocupados com o desfecho desse imbróglio, visto que
faltava dar a notícia às mil pessoas que estavam nas dependências, a
maioria formada por jovens com a adrenalina a todo vapor.
Então, em consideração aos
produtores do programa, que sempre foram muito solícitos para conosco, aceitamos
empreender uma apresentação em caráter de emergência.
Mas não seria nada fácil!
Sem o
apoio do PA, só teríamos o som dos amplificadores e sem meios para haver um
som de bateria amplificado, minimamente condizente com o espaço e com a agravante de
constar ali, mil pessoas a berrar.
E mais um problema: o equipamento de palco
também seria levado embora pela equipe técnica e sendo assim, antes que
começassem a desligar, um produtor da TV, ainda usou o microfone no PA e
deu o recado à plateia que um show d'A Chave do Sol seria feito sob
emergência para entretê-los, e que precisaria de dois favores como colaboração do público:
1) Que esperassem mais alguns minutos, enquanto o equipamento da banda
fosse providenciado.
2) Que entendessem que seria uma apresentação sem o apoio de um sistema de PA, ou seja a banda
tocaria sob condições sonoras insalubres.
Claro que a maioria ali presente não compreendeu o recado com precisão e ficou a berrar, motivado apenas pela adrenalina gerada,
mas pelo menos evitou-se uma tragédia maior, que seria difícil para conter-se,
ao ser possivelmente inevitavelmente a ser encerrada com a tropa de choque da Polícia Militar a soltar a fúria das
borrachadas proporcionadas pelos cassetetes, em vândalos ensandecidos.
O Rubens e o Zé Luiz foram imediatamente ao
nosso local de ensaio, e trouxeram nossos instrumentos e equipamento.
Sem roadies, nós mesmo montamos tudo na frente do público, sob gritos,
porém com teor positivo, a denotar incentivo, e os produtores da TV entreolharam-se
aliviados, pois estavam a temer por um desfecho muito pior.
Claro, sem sistema de PA, ficamos
com um alcance muito inadequado para aquela situação, e mesmo ao darmos tudo
de nós para entreter o público, tecnicamente a falar, o nosso som
reduziu-se a um radinho de pilhas, e só poderia ser ouvido, timidamente,
por quem estivesse muito perto do palco.
Não seria um show normal, propriamente dito, e nem preocupamo-nos com qualquer possibilidade de agradar ou não o público,
naquelas condições.
No entanto, víamos as pessoas a evadirem-se do teatro sossegadas e ao
longo de cerca de quarenta e cinco minutos, em que tocamos heroicamente sob condições sonoras
terríveis, nós agradamos quem se dispôs a ficar bem perto do palco e entender as
limitações sonoras, ali delineadas.
E como fora algo excepcional, tanto o pessoal da produção d'A Fábrica do Som, quanto do
SESC, permitiu que pessoas assistissem sob o palco, sentadas à nossa
volta.
Foi um exercício hercúleo, mas fico contente em lembrar que
ajudamos, em uma hora muito periclitante para todos.
De fato, como espetáculo, um show improvisado e sem condições técnicas mínimas, não rendeu grandes frutos para nós, mas
politicamente foi importante, pois ganhamos pontos com a produção do
programa, "A Fábrica do Som".
O nosso sacrifício por tentar entreter mil
pessoas, sem o devido sistema de PA, serviu somente para o público dispersar, sem causar
tumulto nas dependências do Sesc Pompeia.
Já na
semana seguinte, estivemos lá naquele palco mais uma vez e nesta oportunidade, com uma
grande novidade em mãos: finalmente o nosso disco chegara da fábrica, e nós o
lançaríamos na TV.
Desta vez, tivemos muito o que comemorar, pois recebêramos em mãos,
finalmente, o nosso primeiro registro fonográfico, oficial.
Esteve
lançado o primeiro compacto d'A Chave do Sol e a missão principal nessa aparição na TV,
seria mesmo divulgá-lo, quando imbuídos dessa tarefa, fomos muito confiantes
para a gravação da TV.
Tocamos as músicas: "Luz" e "Anjo Rebelde", esta última, uma música nova que
estava a ingressar no repertório da banda.
https://www.youtube.com/watch?v=lYRnfhGGG6g
O link acima direciona para a performance de: "Anjo Rebelde", nessa edição do programa "A Fábrica do Som". Filmado em 26 de julho de 1984. No ar, pela grade da TV Cultura de São Paulo, em 30 de julho de 1984
"Anjo Rebelde" foi uma das
primeiras músicas compostas em uma nova fase da banda, quando passamos a ter
a preocupação de imprimir mais peso, ao tentarmos trazer mais elementos do
Hard-Rock, para visar uma adequação ao mercado, que sinalizava (via boatos extra-oficiais que escutávamos), a suposta nova estratégia das gravadoras "majors", que abriria uma nova fase para contratações,
ao criar assim, um departamento específico para lançar artistas ligados ao universo do Hard-Rock e Heavy-Metal.
Tal música foi composta por
eu, Luiz e Rubens, e a letra, foi uma oportunidade que aproveitamos,
quando adaptamos um poema do Edgard Puccinelli Filho, vulgo
"Pulgão". Então, por não abandonarmos as nossas características tradicionais
em usarmos elementos do Jazz-Rock setentista, nosso arranjo privilegiava
diversas convenções rítmicas ousadas.
Na TV, contudo, traídos pela
adrenalina toda gerada pela ocasião, nós iniciamos a música além do seu andamento
normal, ao torná-la portanto, mais difícil para a nossa execução.
Ainda mais pelo fator de estarmos "ao
vivo", com a banda a esforçar-se para fazer um mise-en-scène,
agressivo.
Porém, independente dessa falha, a nossa performance foi muito boa, conforme pode-se
notar no vídeo.
Eu tive a
incumbência de falar sobre o compacto recém lançado e aí, um fato
curioso ocorreu. Aliás, dois!
O primeiro, foi que assim que a música
encerrou-se, eu estava muito ofegante, pois exagerara na minha
performance individual.
Mesmo sendo um jovem com vinte e quatro anos de idade
(incompletos naquela ocasião), eu fiquei ofegante e como tive muitas
coisas a dizer, eis que gradativamente perdi a minha voz, e as últimas palavras que pronunciei,
foram quase incompreensíveis, com a emissão a falhar.
https://www.youtube.com/watch?v=G4d0AZu2VPg
O link acima direciona para o vídeo do YouTube, onde o voo do disco é mostrado. Um literal "lançamento de disco"...
Um outro aspecto, que
hoje em dia considero absolutamente prosaico, deu-se no recado, em si.
Ao querer ser objetivo, expus, ainda que ingenuamente, a fragilidade
empresarial da banda, pois eu insisti em dizer que o compacto só estaria à
venda na loja Baratos Afins, de São Paulo.
Eu forneci então o seu endereço
completo e conclamei os fãs a adquiri-lo por esse endereço, via correio,
para decretar, ingenuamente, a nossa fragilidade estrutural. Certo, faço esse "mea culpa", mas ao mesmo tempo,
relevo, pois tratou-se de uma outra época, e afinal de contas, não havia outro meio, pois essa foi a nossa realidade gerencial e assim, tal informação foi
vital para a banda, no sentido de que a distribuição revelava-se mesmo precária,
portanto muito diferente de uma distribuição perpetrada por uma gravadora
multinacional, sob muitos recursos.
Todavia, o mais inusitado aconteceu posteriormente. Enquanto
eu falava, ouvia gritos vindos da plateia, a pedir o disco que estava em
minhas mãos. Quando eu estava quase a concluir o recado, lembro-me de
dois rapazes mais ousados, que invadiram o palco e avançaram sobre a minha pessoa, com a intenção em arrancá-lo de minha
mão, quando em um rompante, eu decidi jogá-lo à plateia, localizada do outro lado do
teatro.
Mas ocorreu que ele subiu e ganhou um efeito aerodinâmico insólito, no ar, e tal qual um
aviãozinho de papel, planou. E nesse impulso inusitado, foi alojar-se em uma
fresta da estrutura metálica do teatro do Sesc Pompeia, muito próximo ao
teto!
Quando o disco fez esse voo e parou nesse lugar improvável, o
público vibrou, pois realmente foi algo muito inesperado.
Os dois
garotos que quase arrancaram-no de minhas mãos, saíram a resmungar, e
sob uma fração de segundos cheguei a pensar no quanto o artista passa de
uma situação de veneração à de repúdio, em um piscar de olhos.
Tive um novo impulso, quando fui ao microfone e exclamei: -"foi Deus que quis assim",
ao referir-me ao fato do compacto ter ficado quase no teto, portanto,
supostamente perdido.
Começamos a tocar a próxima música e quando a encerramos, eis quer eu fui
surpreendido, pois um sujeito abordou-me com o compacto na mão,
a pedir-me um autógrafo.
Fiquei estupefato e perguntei-lhe onde
o conseguira, pois não havíamos levado mais cópias para efetuarmos um sorteio ou outras ações
desse tipo.
Foi aí ele deixou-me atônito, pois disse-me que escalara, literalmente, a
estrutura do teatro, e buscara-o naquele lugar inóspito!
A sua
justificativa deixou clara a facilidade pela qual executara tal façanha atlética: ele
era um membro do Corpo de Bombeiros...
O vídeo de nossa performance a executar a canção: "Luz", nessa que constituiu-se em nossa quinta aparição no programa, "A Fábrica do Som. Filmado no dia 24 de julho de 1984 e exibido na grade da TV Cultura, em 30 de julho de 1984
Eis o link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=_15MWhy061M
E assim foi a nossa última participação no
programa, "A Fábrica do Som".
Infelizmente o programa saiu do ar (essa edição, na verdade foi a sua última), por uma mudança de mentalidade na cúpula da TV Cultura (algo incompreensível, aliás), e
nunca mais houve um outro programa tão democrático para exibir bandas novas a revelarem os seus trabalhos autorais na TV, sem a existência do famigerado jabá das cartas
marcadas pelos marqueteiros.
Muitos anos depois, houve a tentativa de se reviver a mesma fórmula com o programa "Musikaos", na
mesma TV Cultura, no início dos anos 2000, mas apesar de ter seguido mais ou
menos a linha da velha, "A Fábrica do Som", este não teve o mesmo élan e saiu do
ar, rapidamente.
A Chave do Sol deve à Fábrica do Som, o seu primeiro
impulso perante o grande público.
Mesmo sendo uma emissora estatal e educativa,
portanto, sem o senso de ultra competitividade de emissoras comerciais, a TV Cultura chegou a cravar quatro pontos de audiência nas tardes de
sábado, graças a esse programa, além de fomentar a procura maciça do público para assistir as gravações ao
vivo, no Teatro do Sesc Pompeia.
Então, não fui professor no Conservatório Musical da Lapa. Tive uma atividade como professor particular,sim, mas ficou restrita à minha própria residência, como local para ministrar as minhas aulas.
Boa tarde Luiz, vc foi professor no Conservatório Musical da Lapa?
ResponderExcluirOlá, amigo !
ExcluirEntão, não fui professor no Conservatório Musical da Lapa. Tive uma atividade como professor particular,sim, mas ficou restrita à minha própria residência, como local para ministrar as minhas aulas.
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