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sábado, 9 de maio de 2015

A Chave do Sol - Capítulo 1 - Rock Autoral, enfim em condições! - Por Luiz Domingues

O preâmbulo da história d'A Chave do Sol é o final da banda cover, "Terra no Asfalto". 

O começo foi assim: entre 1979 e 1982, paralelo aos primeiros momentos em que participei da formação do Língua de Trapo, eu fiz vários trabalhos avulsos (histórias já contadas nos respectivos capítulos sobre tais realizações, que eu denominei como: "Trabalhos Avulsos"). 

E nesse contexto, entre serviços efêmeros como acompanhar artistas de MPB, e até do mundo da música popularesca, eu tive uma banda cover com atividade regular, que foi fundada em dezembro de 1979, e que durou até julho de 1982, chamada: "Terra no Asfalto" (a sua trajetória está devidamente representada em seus capítulos próprios, também). 

Essa banda teve várias formações, e sob seu último estertor, em julho de 1982, eis que culminou em dar vazão à criação d' A Chave do Sol. Isso por que a banda ficou restrita a três integrantes apenas, eu (Luiz Domingues), o vocalista, Paulo Eugênio Lima, e o guitarrista, Geraldo "Gereba". 

Uma pessoa amiga, a proprietária do Café Teatro Deixa Falar (uma senhora de nacionalidade francesa, chamada, Sabine), casa onde o "Terra no Asfalto" tocou muitas vezes, quis ajudar na tentativa de reformulação dessa banda, e indicou um jovem guitarrista de Rock, que estava a namorar a sua filha, que se chamava, Mônica Maya.

Esse jovem guitarrista, namorado de sua filha, chamava-se: Rubens Gióia!

Feito o contato, ele, Rubens, interessou-se e assim nós fizemos uma reunião para definir o repertório. Por outro lado, desanimado, o Geraldo "Gereba" sinalizou desistir da tentativa para manter vivo o grupo, "Terra no Asfalto", e eu cheguei à conclusão de que não valia mesmo a pena insistir, e além do mais, "cover" para o meu anseio maior, representava apenas uma maneira inevitável para ganhar dinheiro, mas incomodava-me, profundamente. 

Eu e o Rubens decidimos então montar uma banda de Rock, fechada na predisposição de se realizar um trabalho autoral dentro das mais belas tradições do Rock, que seguíamos com determinação, e dessa forma, nós começamos a tocar somente os dois em reuniões improvisadas na casa dele, a criar riffs, e compor assim um material inicial. 

Para a bateria, eu pensei em dois nomes para convidar: Edmundo Gusso e José Luiz Dinola.

Residência do baterista, Edmundo Gusso, no bairro das Perdizes, zona oeste de São Paulo, em foto dos anos oitenta 

Pensei primeiro no Edmundo Gusso, por incrível que pareça, pois simplesmente o conhecia melhor, nessa ocasião. Eu o conhecera em dezembro de 1979, pois ele era amigo do vocalista do "Terra no Asfalto", Paulo Eugênio Lima, e nessa circunstância, ele nos cedera a sua casa para que pudéssemos realizar os primeiros ensaios dessa banda.  

Ele era baterista, mas não tocava regularmente. Nesses termos, eu culminei em convidá-lo, apenas por basear-me na amizade, e sem levar em conta o critério técnico, ou seja, eu não sabia se ele reuniria condições como baterista.

Então, mais ou menos em julho de 1982, nós marcamos um ensaio nas dependências do Café Teatro Deixa Falar, sob um gentil oferecimento da Dona Sabine, virtual sogra do Rubens Gióia à época. 
 
Cabe aqui um parêntese, o Café Teatro Deixa Falar era uma casa noturna localizada na Av. Santo Amaro, em São Paulo, no bairro do Itaim-Bibi, na zona sul de São Paulo.
Ali, anos antes (na década de setenta), funcionara o badalado: "Be Bop A-Lula", uma das casas mais Rockers da cidade de São Paulo. 
 
Praticamente todas as bandas da cena setentista, tocaram ali. Nas páginas das famosas revistas dos anos setenta: "Rock, a História e a Glória" e "Pop", foram publicadas muitas matérias a enfocar shows com bandas da época, incluso artistas supostamente fora do ambiente do Rock, como Alceu Valença, realizados em tal estabelecimento. 
 
A dona Sabine foi a proprietária do Be Bop a Lula, e com sua decadência, no início dos anos 1980, ela o transformou em um bar, bem mais simples, e certamente sem o mesmo glamor de outrora. 
Em 1981, eu me apresentei ali com minha banda cover, "Terra no Asfalto", inúmeras vezes, e daí surgiu a oportunidade para conhecer o Rubens, via Dona Sabine. 
 
Como ela era também uma antiquária (possuía um enorme antiquário localizado na Av. Brigadeiro Luiz Antonio, quase esquina com a Rua Tutóia, no bairro do Paraíso, na zona sul de São Paulo), costumava decorar o bar com peças muito exóticas. E por ser enorme, tinha câmaras labirínticas.
Entre tantos objetos exóticos, ali se mantinham armaduras medievais, quadros com pinturas a exibir a face de pessoas desconhecidas que viveram em séculos anteriores, e até uma múmia de origem "Inca". 
 
Isso mesmo, você não leu errado... se tratava de uma múmia verdadeira, com aproximadamente mil e trezentos anos de idade, segundo constava em sua ficha colocada na vitrine que a exibia. Na verdade, eram duas, pois dava para perceber que seria uma mãe que morrera a tentar proteger o seu bebê. 
 
Aquelas duas múmias eram muito perturbadoras, e deixavam o clima do local pesado, ainda mais ao considerarmos que as paredes eram simulações de formações rochosas, e a iluminação ambiente, provida por tochas, com fogo natural. 
Apesar dessa atmosfera fantasmagórica, o Deixa Falar foi uma casa que mesmo decadente, mantivera uma boa infraestrutura de palco, e camarim, e a contar com um sistema de iluminação similar ao de um teatro convencional, apesar dessa atmosfera de set de filme de terror, que lhe fora peculiar. E no meu caso, acrescentava-se a lembrança do "Be Bop A Lula", um ícone setentista da minha percepção da movimentação contracultural e Rocker dos anos setenta.
Nesse primeiro ensaio com o Edmundo Gusso, nós notamos que ele tinha uma boa técnica ao instrumento, mas estava visivelmente fora de forma. Relevamos, por achar que ele poderia naturalmente colocar-se em condições, com o tempo. 
 
E dessa forma, marcamos um novo ensaio para alguns dias depois, no entanto, ele não mostrou-se menos despreparado, embora tivesse força de vontade, e demonstrasse entusiasmo com a oportunidade. 
 
No terceiro ensaio, ele não apareceu, mas veio o seu pai em seu lugar, para dizer-nos que nós não deveríamos mais contar com o seu filho, pois ele enfrentava problemas pessoais nesse instante e que dessa forma, a sua participação em nossa banda, poderia prejudicar os nossos planos. Ficamos muito chateados, é claro, pois ele era (é), um bom amigo, a se revelar um Rocker com formação sessenta-setentista sólida, a possuir grandes referências, mas fazer o que, não é, mesmo? 
 
Então, diante dessa perda, pensei na segunda opção, e que viria a ser a coisa certa para a banda. Pensei em um outro baterista chamado: José Luiz Dinola. 
Eu o conhecera em 1980, em um desses relatos paralelos que não cabem nos capítulos das minhas bandas, mas através de um capítulo de trabalhos avulsos e paralelos. 
 
Enfim, vou resumir aqui: fui ao estúdio da banda de Rock, "Contrabando", a convite do meu amigo, Pituco Freitas, vocalista do então grupo: Laert Sarrumor e seus Cúmplices" (este, um embrião do Língua de Trapo), com o objetivo de gravar uma demo-tape a visar inscrever uma música sua, no Festival FICO, do Colégio Objetivo.
O Contrabando possuía um equipamento impressionante para a época, e inclusive, uma máquina de gravação de fita com meia polegada, um raro luxo naquela época. 
 
A conexão do Pituco Freitas com essa banda, fora pela via de seu irmão, Pitico Freitas, mais novo, guitarrista e com um gosto musical completamente diferente do Pituco, por ser um Rocker, apreciador de Rainbow, Ted Nugent e Led Zeppelin, entre outros artistas. E o Pitico Freitas era amigo de infância do baterista, José Luiz Dinola. 
 
Foi ali nesse estúdio e circunstância, portanto, que eu conheci o Zé Luiz Dinola. Gravamos essa demo, a música não classificou-se para o festival FICO, mas em paralelo, o Pitico convidou-me a formar um trio com ele, e o Zé Luiz (que não passou de três ensaios), e foi baseada nessas duas lembranças, que eu me motivei a chamá-lo, Dinola, com a desistência do Edmundo. 
 
Sobre a tentativa de formação desse trio orientado pelo Jazz-Rock, eu conto essa história paralela em específico, no capítulo dos "Trabalhos Avulsos". A verdade é que eu pouco o conhecia até então mas isso dissipou-se logo a seguir... 
Eu já havia notado o nível técnico do Zé Luiz, desde a primeira vez em que o vi tocar, por ocasião da gravação da demo, para a música do Pituco Freitas. Como já contei, isso ocorreu na sala de ensaios da banda "Contrabando", que costumava abrir os shows do Made in Brazil, naquele período de 1978 &1981. 
           Guitarrista de uma classe impressionante: Tony Babalu
 
O guitarrista do Contrabando, era o Tony Babalu, que tocou também no Made in Brazil, e é o dono do selo Amellis, onde o Pedra lançaria o seu primeiro CD, no ano de 2006. E outra coincidência, o vocalista do "Contrabando" foi Denis Skepis, irmão do Chris Skepis, com quem eu atuaria na formação da banda, Pitbulls on Crack, nos anos noventa. 
 
E mesmo ao saber desse nível técnico muito bom da parte do Zé Luiz Dinola, eu só não o chamei antes do Edmundo, por que não o conhecia o suficiente até então.
 
Como eu tinha mais liberdade com o Edmundo, por ele gravitar na órbita do "Terra no Asfalto", ao ter emprestado sua casa para ensaios, por ele comparecer aos shows dessa banda, e até por ter tocado percussão com essa banda em um show, realizado em Campinas-SP, em 1980, pareceu-me naquele instante, uma escolha natural. 
 
Todavia, o Zé Luiz entrou para a formação d"A Chave do Sol, e impôs-se automaticamente como membro oficial, pois eu e o Rubens não tivemos nenhuma dúvida, desde o primeiro ensaio. 
Nos primeiros ensaios, nós tocamos já o nosso primeiro riff, composto pelos três em parceria, que demorou alguns dias para obter um título oficial, e logo mais eu revelo qual foi!

E para montar um repertório rápido, nós tocamos sim, alguns clássicos do Rock. Tocávamos algumas canções do Jimi Hendrix (o Rubens executava bem nesse quesito, "Hendrixiano"), Deep Purple, Queen, Ten Years After, Neil Young, Jeff Beck, Mutantes, Rolling Stones e The Who, sob um primeiro instante. 
 
O Rubens então tomou uma iniciativa inusitada e temerária: marcou com a dona Sabine, uma data no Café Teatro Deixa Falar, para o nosso show de estreia. Com a banda ainda a engatinhar, passamos a correr contra o relógio para formar um repertório, ensaiar, e fazer esse show debut e histórico.
A data marcada foi: 25 de setembro de 1982. Dessa forma, nós chegamos em um dilema: o Rubens cantava de maneira afinada, mas queríamos achar um vocalista com maior vigor, além da desenvoltura, no aspecto clássico, ou seja, o que se que esperava de um bom "frontman". 
 
Então, esbarramos em uma grande dificuldade: se mal conseguiríamos preparar a banda a tempo desse show de estreia, como achar um vocalista adequado para dar conta desse recado e sobretudo, abrir perspectiva para dar continuidade ao trabalho?
 
Foi então, que o Rubens pensou em uma ideia radical e que gerou polêmica em princípio, mas que veio a tornar-se a solução para esse primeiro show!
O famoso vocalista do Made in Brazil, nos anos setenta, Percy Weiss
 
O Rubens sugeriu que contratássemos o vocalista, Percy Weiss, ex-Made in Brazil e ex-Patrulha do Espaço. Após relutarmos um pouco, eu e o Zé Luiz culminamos em aceitar sua ideia, pois naquela altura, não seria possível acharmos um outro vocalista para ingressar definitivamente na banda, devido à proximidade da data do primeiro show. 
Sendo assim, o Rubens fez o contato telefônico, e nós marcamos um encontro no apartamento dele, Percy, para explicarmos o nosso desejo, e fazer-lhe uma oferta financeira. 
 
Nessa época, ele estava sem um trabalho autoral no mercado, mas apenas a cantar covers pela noite, para ganhar algum dinheiro. Fomos ao apartamento dele, que ficava localizado na esquina da Av. Paulista, com a Av. Brigadeiro Luiz Antonio. Ao chegarmos lá, ele recebeu-nos com sua altivez típica, ainda mais naquela época onde nós éramos muito jovens, inexperientes, e com a postura ingenuamente subserviente diante de alguém que admirávamos.
O Rubens formulou uma proposta de cachê mais alta do que havíamos combinado entre nós três, anteriormente, e depois que confabulamos reservadamente, ele justificou a sua atitude inesperada para nós, eu e Zé Luiz, ao alegar ter exagerado, para assegurar-se que o Percy não recusasse. Claro que o Percy aceitou, e esteve contraída ali, a nossa primeira dívida.
 
Na saída, já na rua, vimos que o trânsito estava muito carregado, e tivemos a ideia para batizarmos a nossa primeira composição própria com o nome de: "Rush", nada a ver com a banda canadense, mas a denotar o trânsito caótico, mas aí vimos o cronômetro da avenida a cravar seis horas da tarde, e resolvemos imediatamente mudar o nome do nosso tema recém composto para: "Dezoito Horas".
Então foi assim que surgiu o nome de nossa primeira música, em um dia útil qualquer, da última semana de agosto de 1982. 
 
Com o Percy, definimos um repertório com clássicos, a deixar três músicas do Jimi Hendrix para o Rubens cantar, e "18 Horas", a nossa única pela autoral e instrumental.
 
Estávamos empolgados com a proximidade do show, por termos providenciado um vocalista de alto nível (ainda que a peso de ouro), e por já termos uma música própria em mãos, pois os covers seriam utilizados apenas para preencher espaço e nesse caso, quase todo o espaço, e só por que estávamos a começar e nunca por querermos isso, aliás, muito pelo contrário.
 
A seguir, falarei dos ensaios com Percy, e a proximidade do primeiro show. 
Antes porém, de falar sobre essa fase de ensaios com o vocalista Percy Weiss, preciso falar sobre como surgiu o nome da banda.

Realmente, o nome: "A Chave do Sol" foi criado pelo Rubens, e ele já o tinha usado em bandas de garagem que tivera anteriormente, tendo feito pequenas apresentações, mas sem relevância alguma e que não entram na história oficial da nossa banda. 

Por isso, ele o sugeriu, mas reforçou o conceito quando apelou à nossa consciência para que o aceitássemos sem reservas, pois era um nome de grande significado afetivo para ele, um sonho da infância etc. 

Não deveríamos ter aceitado assim um argumento meramente sentimental, como definitivo. O nome:"A Chave do Sol" é composto, enorme, com preposição e artigo, se mostra dúbio, portanto sujeito à interpretações errôneas, fora o fato de ser um tanto quanto piegas.
 
Pensei muito sobre isso nos anos seguintes, todas as vezes em que tal denominação trouxe-nos algum tipo de constrangimento, como por exemplo na mídia, onde várias vezes foi grafado erroneamente, ou mesmo pronunciado equivocadamente por apresentadores e/ou locutores, no caso das emissoras de rádio e TV.
"A Clave de Sol" (nome de escola de música?), "A Chave de Ouro" (joalheria?), e mesmo quando acertavam, ficava às vezes aquela estranheza no ar. 
 
Um problema inicial com o nome foi gerado logo depois dos primeiros shows, quando um guitarrista com o qual o Rubens houvera montado uma formação sazonal d'A Chave do Sol (anterior à sua criação oficial), anunciou show ainda em 1982, a usar esse nome. 
Tratou-se de um show irrelevante, a ser realizado no pátio de uma escola estadual e provavelmente o rapaz não levaria isso adiante, mas tal notícia motivou-nos a procurarmos um escritório especialista em marcas e patentes, para registrar o nome no “INPI” (Instituto Nacional de Patentes Industriais), a significar então, a nossa segunda dívida, ou seja, a banda mal estava a ser formada, portanto nem possuía ainda uma perspectiva concreta para gravar um primeiro registro fonográfico, mas já contraíra duas dívidas, na verdade.
Então, nós marcamos alguns ensaios com o Percy Weiss, a visar a preparação desse show do dia 25 de setembro de 1982. O repertório, como eu já falei, fora recheado com covers de clássicos do Rock 1960 & 1970, pois não tivemos tempo hábil para compor e arranjar músicas próprias.
Dessa forma, nós preparamos algumas músicas de artistas tais como: Jimi Hendrix, The Who, Rolling Stones, Queen, Neil Young, Deep Purple, Led Zeppelin, Ten Years After e Jeff Beck, entre outros nomes.
Com exceção de "18 Horas", que foi a nossa única música própria disponível, mas a se tratar de um tema instrumental, e as do Jimi Hendrix que o Rubens fez questão de cantar, todas as demais seriam conduzidas pelo vocal de Percy Weiss. 
 
Nos ensaios, Percy agiu profissionalmente, embora com aquele distanciamento típico, além da indisfarçável postura altiva. Tratava-nos como garotos e ele, a se configurar como uma estrela. Lembro-me uma vez em que chegou a comentar comigo e Rubens, que achava o Zé Luiz Dinola, um "baterista ortodoxo"... 

Eu e Rubens estávamos preocupados contudo, com a produção desse primeiro show. Eu havia ficado com uma parte do equipamento da minha antiga banda de covers, o "Terra no Asfalto", e esse pequeno PA era o suficiente para ensaiarmos, mas inadequado para esse primeiro show. 
Então o Rubens teve a ideia de pedir emprestado um pouco do PA da Patrulha do Espaço. Nesse aspecto, devo reconhecer que o Rolando Castello Júnior foi gentil em emprestar-nos. 
 
Dessa forma, buscamos em sua residência (Rolando), um multicabo, microfones e pedestais e algumas caixas com potências, que acopladas ao nosso modesto mini PA, conferiu dignidade ao nosso 1° show. 
 
E no tocante à iluminação, o Deixa Falar ainda tinha uma estrutura razoável, herdada dos seus tempos áureos como o "Be Bop-a-Lula". Claro, nem todos os spots funcionavam mais, muitas gelatinas estavam pálidas, pois eram dos anos setenta ainda, mas dava para usar, mesmo inadequadamente. 
 
Quanto à divulgação, resolvemos não gastar dinheiro com cartazes, mas apenas preparamos poucas filipetas, pois éramos uma banda na estaca zero da carreira, e isso não surtiria efeito prático, algum. 
 
Sabíamos que teríamos um público predominantemente formado por parentes e amigos, e isso seria muito natural dadas as circunstâncias de uma banda em início de carreira. 
 
E vale destacar também, que Dona Sabine, a proprietária do Café Teatro Deixa Falar, deixou-nos ensaiar no teatro, gentilmente.
Outro aspecto que norteou as nossas preocupações, foi a necessidade de prepararmo-nos com uma certa urgência, visto que o mercado sinalizava uma efervescência nítida, já no segundo semestre de 1982. 
 
Se a estética em voga foi aquela em torno do Pós-Punk, frontalmente antagônica aos nossos ideais, ao menos essa ebulição haveria de provocar espaços para outras manifestações, e daí poderíamos ter o nosso lugar ao sol (é claro, estou anotar esse conceito, por basear-me no que imaginávamos à época), mas independente dessas considerações mercadológicas, o importante seria estarmos aptos, em condições para entrarmos nessa briga por espaço, e para tanto, precisávamos ensaiar mais e dedicarmo-nos mais à composição do nosso material próprio. 
A residência do Rubens ficava localizada na Rua Desembargador Aguiar Valim, uma travessa da Av. Santo Amaro, bem próximo ao Hospital São Luiz. 
 
Dessa forma, fora vital organizarmo-nos e não mais depender da bondade da Dona Sabine e assim, partiu a iniciativa do Rubens, em falar com seus pais, e daí, um quarto de empregada bem grande e que estava desocupado, passou a ser o nosso "estúdio", logo após a realização do primeiro show, e dali em diante, durante quatro anos, ensaiamos diariamente, quase sem interrupções, até 1986. 
 
Isso explica por que ao vivo, "A Chave do Sol" manteve um padrão de excelência, pois tínhamos uma disciplina férrea. Ficávamos horas a ensaiar, ao repetirmos insistentemente pequenos trechos das músicas, até darmo-nos por satisfeitos com a performance alcançada. 
Reuníamo-nos todos os dias, das 15:00 horas até às 22:00 horas em ponto. Muitas vezes, olhávamos no relógio, e se faltassem dois minutos para as dez da noite, propúnhamos repassar algum detalhe para aproveitar aqueles poucos segundos restantes. Sei que parece exagerado (e o foi), mas ao analisar pelo lado positivo, não posso deixar de enaltecer: que força de vontade nós tínhamos! 
 
Então é isso. Tínhamos a consciência de que o murmurinho em torno do movimento "BR Rock 80's" estava a chegar, e nós queríamos fazer parte desse "Boom", mesmo que também tivéssemos a consciência de que os ventos sopravam a favor para o Pós-Punk, em predominância.
De volta à cronologia, enfim chegou o dia 25 de setembro de 1982, com o grande show de estreia d'A Chave do Sol. Aquilo na minha percepção momentânea, remeteu-me ao princípio: seis anos antes, ao formar o "Boca do Céu" e a sonhar em ser efetivamente um Rocker. 
Eu, Luiz Domingues em 1978, nos tempos do Boca do Céu, com 18 anos de idade e sonhos Rockers sob ebulição total em minha mente
 
A Chave do Sol representara nesse instante, portanto, a concretização das minhas metas primordiais, desta feita sob melhores condições pessoais, pois agora eu sabia tocar bem melhor, com companheiros a ostentar um nível musical excelente, e com uma carga acumulada por seis anos de experiência adquirida na música, através de atuações no palco e estúdio de gravação (ainda que parcas nessa ocasião), portanto, sentia-me enfim preparado para agarrar a oportunidade para buscar o meu sonho. 
Continua...

2 comentários:

  1. Poxa lendo mais detalhes do inicio da banda nos idos de 1982 ,deixa um grande furor na nosso coração um Trio que passou a contar com o grande Singer do nosso Rockrollll , que hoje 07/2015 ja esta nos Céus, Percy Weiss, o pouco que sabia de voces antes da gravação do CD pela Baratos Afins na epoca e tentava acompanhar a musica Rock atraves de poucos revista da epoca ( Rol, Heavy Metal etc ) nos davam informações da A Chave do Sol.Muito legal poder continuar a ler sobre voces e a hoje Amizade que continua ntre voces , isso é muito legal de saber.Good Vibrations para voces todos.Abraços

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    1. Sensacional saber que acompanhará também este Blog 3. Aqui, como já deve ter reparado, a formatação dos capítulos é mais longa, obedecendo critério de livro impresso.

      Verdade, começamos em alto estilo, com um medalhão do Rock brasileiro setentista, conosco.

      Também é verdade, que só começamos a aparecer na mídia para valer, a partir do segundo semestre de 1983, portanto, este documento é uma rara oportunidade de se conhecer a história da banda em seus primórdios, nos dez meses (aproximadamente), anteriores à nossa primeira exibição na TV.

      Sim, trinta anos depois, a amizade persiste, o que é muito bom !!

      Grato por ler e comentar e continue lendo o relato neste Blog, que vem muito mai por aí.

      Abraço, Oscar !

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