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sábado, 9 de maio de 2015

A Chave do Sol - Capítulo 2 - O Primeiro Show: Ao Dar a Largada para se Buscar o Sonho - Por Luiz Domingues

Sim, foi uma emoção diferente estar às vésperas da estreia com "A Chave do Sol", pois eu senti que finalmente estava a reativar o sonho primordial, e acalentado no meu tempo do "Boca do Céu". 
 
Isso por que no princípio, houve o sonho, a força de vontade, mas foi em tese, uma utopia que ganhara contornos de realidade, através do suor intenso e fé absoluta, pois na prática, como esperar tornar-se músico/artista/Rocker, se eu não sabia diferenciar uma nota, "Dó" de uma,"Ré?" 
O Boca do Céu saiu das cavernas e chegou em um ponto em que tornara-se audível, a produzir até algumas canções em condições de pleitear algo maior (méritos do Laert, é claro), mas as suas forças recrudesceram. 
 
Quando essa semente primordial enveredou por um outro caminho (ponto esse em que posteriormente viria a tornar-se o "Língua de Trapo"), o ideal Rocker ficou de lado. 
 
Depois, eu embrenhei-me em trabalhos paralelos, onde o ponto mais Rock onde pude chegar, foi através do "Terra no Asfalto", mas nesse caso, se tratou de uma banda cover, sem nenhuma intenção de buscar um caminho autoral, embora contasse com músicos de enorme categoria (nos capítulos sobre essa banda, essa história é contada com detalhes). 
Portanto, "A Chave do Sol" representou a chance para reativar o sonho primordial, interrompido há pelo menos três anos. 
 
Com relação a um certo nervosismo antes do show começar, isso não aconteceu, pois com exceção dos primeiros shows do Boca do Céu, eu havia dominado o palco, há anos. Naquela altura, eu tinha acumulado uma bagagem com seis anos de música, e há pelo menos três, sentia-me seguro, não apenas quanto a atuação no palco, mas como instrumentista, pois dediquei-me, e havia atingido um nível técnico muito bom, ao dar-me a segurança total para tocar.
A histórica primeira filipeta de show d'A Chave do Sol, a divulgar o show de estreia da banda! Tal artefato anunciou o show do dia 25 de setembro de 1982, no Café Teatro "Deixa Falar", ex-"Be Bop a Lula". O nome do vocalista, Percy Weiss, saiu grafado errado. Lamentável, e recentemente (refiro-me ao ano de 2013), essa filipeta foi postada na Rede Social, "Facebook", e ele, Percy, em pessoa, manifestou-se ironicamente sobre essa falha. Tudo bem, estava errado, prosaicamente, mas pedimos desculpas pelo ocorrido. Todavia, o valor dessa filipeta é muito maior que esse erro ortográfico. Pois foi o estopim de uma carreira vitoriosa e que arrebatou fãs, sendo objeto de discussão permanente nos fóruns sobre o Rock brasileiro. Tal filipeta, é a primeira peça de um portfólio que muito orgulha-me, e tenho certeza, também aos companheiros que fizeram parte dessa história.
Então chegou o dia da grande estreia! Por volta das 16:00 horas, estávamos com o palco montado e às 20:00 horas, já estávamos nas dependências do Café Teatro Deixa Falar. E às 21:00 horas, subimos ao palco para o início do show. 
 
Noto com grande tristeza que estávamos no início dos anos oitenta, e ainda tínhamos os bons hábitos adquiridos das duas décadas anteriores, como por exemplo, dar início aos shows musicais no padrão das peças teatrais, ou seja, às 21:00 horas. 
 
No avançar da década de oitenta, esse costume diluiu-se, e nos anos noventa, já imperava o costume que permanece até hoje, dos shows de Rock a começarem na alta madrugada, quando o público já está invariavelmente embriagado, e não quer saber de música, mas só de zoeira... 
Mas de volta à narrativa, a primeira música que tocamos, foi: "Purple Haze", do Jimi Hendrix, seguida de "Foxy Lady" e "Wild Thing", com o Rubens a cantar. O Percy expressou o seu desejo de começar a atuar só na quarta música, para entrar no palco de uma forma triunfal, e aí tocamos: "Black Night", do Deep Purple. Deixamos "18 Horas" para o final do show, e gostamos demais da acalorada recepção do público. A última música, foi: "Listening to You", do The Who.
Claro, a audiência fora constituída exclusivamente por amigos e parentes, mas foi calorosa mesmo, além das palmas educadas de praxe. O público pagante foi cotado em aproximadamente sessenta pessoas, e com a renda, conseguimos pagar o cachê "astronômico" que o Rubens houvera prometido ao Percy Weiss. Sobrou uma parcela ínfima desse montante, que guardamos para investir na banda. 
 
Ao final da noite, uma surpresa agradável surgiu da parte do Percy. Ele convidou-nos para tocar em uma participação especial, no intervalo de uma banda cover relativamente famosa da época, chamada: "Áries", em sua apresentação no bar "790", no bairro do Itaim-Bibi, aliás, mesmo bairro do Deixa Falar. Essa apresentação ocorreria na quarta-feira posterior, e é claro que nós aceitamos!

Por quatro dias, ficamos a elucubrar aquele gesto, naturalmente a pressupor-se, como uma real possibilidade dele ter gostado da banda, e estar a delinear-se por conseguinte, a sua entrada oficial como membro. 

Não pensávamos nessa questão do nosso grupo ser conhecido como "a banda do Percy", como hipótese, caso isso se concretizasse. Contávamos, sim, em contarmos com um grande vocalista, mediante muito mais currículo, e bagagem do que nós, mas sem achar que ele ofuscar-nos-ia nesses termos, pois tínhamos confiança no potencial da banda.

E nesse primeiro show, eu conheci o poeta, Julio Revoredo, meu amigo desde então, e que tornar-se-ia daí em diante, parceiro d'A Chave do Sol e muitos anos depois também de outros trabalhos meus: Sidharta e Patrulha do Espaço, com várias letras de sua autoria em composições nossas, para essas três bandas. 
Eis que chegou o dia da apresentação no bar 790 (que aliás, havia mudado o seu nome para: "Pierrot Lunar"). 
 
Apesar de ser uma quarta-feira, a casa estava lotada, pois tratou-se de uma festa fechada. No intervalo da apresentação da banda cover, "Áries", entramos e tocamos quatro músicas, infelizmente apenas temas covers, pois o Percy queria estar o tempo todo no palco, e a nossa única música própria nesse instante, fora a instrumental: "18 Horas". 
 
E quando estávamos para entrar no palco, notamos um pequeno alvoroço instaurado na casa. Quando apuramos, demo-nos conta, que tratava-se de uma equipe de filmagem da TV Globo, liderada pelo apresentador, Goulart de Andrade, que fazia enorme sucesso naquela época, com o seu programa: "Comando da Madrugada". 
O saudoso jornalista, super comunicativo, Goulart de Andrade

Ele filmou um pouco a apresentação d'A Chave do Sol a tocar e entrevistou algumas pessoas da plateia ali presentes. Os membros da banda "Áries", ficaram revoltados, pois a equipe da Rede Globo, filmou bem na hora em que estávamos nós no palco, e não eles, e pior: a usarmos o equipamento deles! Convenhamos, eles tiveram razão de reclamar.
 
Depois que tocamos, o Percy agradeceu a nossa participação e disse-nos que achava a banda, boa, mas tinha outros projetos em vista etc. Ficamos resignados, pois apesar de nutrirmos esperanças, foi um desfecho previsível. 
 
Essa oportunidade, constitui-se da nossa primeira aparição na TV, embora eu não a possua no meu acervo. Não conheço ninguém que tenha uma cópia sequer dessa aparição, em uma fita VHS, que seja. Aliás, mais da metade das nossas aparições foram perdidas, infelizmente. Mas isso é assunto para um outro momento. 
Aparecemos então na grade de exibição da TV Globo, no sábado subsequente, mas sem citarem o nosso nome e a tocar a canção: "Black Night", do Deep Purple. 
 
Em suma, na mesma semana, foram dois shows, e uma aparição na TV, convenhamos, nada mau para uma banda que começara as suas atividades, um pouco mais de um mês antes! 
 
Animados com um início tão promissor, saímos a marcar mais shows, e assumiu o Rubens como vocalista, pelo menos até quando encontrássemos um especialista para a função. Seguiu-se então mais dois shows no Café Teatro Deixa Falar, nos dias 22 e 23 de outubro de 1982, desta vez sem o impacto inicial da estreia, e com público reduzido: dez pagantes em cada dia. Mas ainda em outubro, uma boa nova proporcionada pela Dona Sabine, ocorreu.
Primeira foto da banda, publicada na imprensa grande, em 22 de outubro de 1982, através do jornal Folha da Tarde, de São Paulo
 
Então, a boa nova que a dona Sabine comunicou-nos, foi que ela mantinha um contato no jornal, "Folha da Tarde" (que hoje em dia chama-se, "Agora"). Dessa forma, os shows dos dias 22 e 23 de outubro de 1982, tiveram o reforço de uma mini entrevista com direito a foto, um marco para uma banda com tão pouco tempo de vida. 
 
Fomos à redação de tal jornal (que pertencia à Folha de São Paulo), localizado na Rua Barão de Limeira, em Campos Elísios, zona central de São Paulo, e fomos fotografados lá, in loco. 
 
Já como um trio definido, sem a ilusão de contar com Percy Weiss, e com uma particularidade pessoal: foi a única foto em que estou "barbudo", no portfólio inteiro d'A Chave do Sol. Eu estava a cultivar uma barba cerrada, há semanas, e no início de 1983, a cortei. 
 
Infelizmente, essa matéria não surtiu o efeito prático na bilheteria dos dois shows, o que foi absolutamente previsível. O importante, foi que essa oportunidade constitui-se em nossa primeira matéria publicada em jornal de grande circulação, e somados aos quatro shows que havíamos feito até então, além de uma aparição relâmpago em um programa da TV Globo, foi uma somatória muito animadora para nós, que éramos garotos, e com tão pouco tempo de atividades como banda constituída. 
 
Enquanto isso, novas músicas surgiam: "Luz", um Rock'n' Roll tradicional, com letra "mezzo " esotérica, cujo teor quase ninguém percebe, e "Intenções", um Jazz-Rock com letra a evocar a ecologia. 
"Luz" seria o carro-chefe do nosso primeiro compacto, que lançaríamos em 1984, e "Intenções" nunca foi gravada, embora eu a considere uma música muito boa, e penso que deveria ter sido registrada em disco. 
 
Fora disso, ainda tínhamos a meta de providenciar um vocalista para tornar a banda, um quarteto. Foi quando o Rubens teve uma lembrança de uma pessoa que já havia visto e ouvido a cantar. Ele sugeriu, e surgiu uma pequena polêmica, por conta do inusitado em torno dessa pessoa.
Continua...

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