Pesquisar este blog

quarta-feira, 1 de junho de 2016

1960 - Minha Ligação Inicial com o Rock, na Infância e Começo da Adolescência - 1960: o Ano em que Nasci - Por Luiz Domingues

Eu nasci em 1960, ano que na verdade encerrara a década de cinquenta, como ano "dez" da década anterior, embora a maioria das pessoas pense ser todo ano terminado em zero, o ano inicial de uma nova década.

Ao pensar nesse ano em específico, havia muita música boa no ar, a televisão já contava com dez anos de atividades no Brasil e prosperava. Haviam tantas salas de cinema espalhadas pela cidade que fazia parte da vida de qualquer pessoa, ir assistir filmes constantemente e quase todos citavam atores como se citam jogadores de futebol. 

E sim, o futebol também dominava as conversas em todas as partes, na mesma medida em que o som frenético dos locutores esportivos, era uma trilha sonora comum. A política também era discutida com paixão e evidente, já haviam as falcatruas, o mar de lama e a corrupção a nos assolar, apesar das vassouras populistas & demagógicas que prometiam promover a varrição da bandalheira...

Computadores eram artefatos futuristas e inimagináveis para o cotidiano de pessoas comuns, somente plausíveis em filmes com teor "Sci-Fi" ou em desenhos animados. A comunicação de massa era realizada pelo rádio e a TV e claro, nos jornais e revistas. Telefones, só os fixos e com os aparelhos públicos espalhados pelas ruas, mas nem os "orelhões" existiam nessa época ainda, mas sim cabines. Os jornais eram em preto e branco, com poucas fotos e muitos textos. Coloridos, somente os gibis e as revistas.

O linguajar coloquial era tão bem falado, que ao ser comparado aos dias atuais, ficamos com a impressão que éramos um povo erudito.

A ambientação de 1960, foi inteiramente coadunada com valores conservadores (no bom e no mau sentido dessa linha de pensamento), ao fazer com que a impressão da passagem de tempo fosse lenta. Portanto, as grandes transformações comportamentais que a década de sessenta traria, ainda estavam latentes. 

Nesses termos, o mundo em que cheguei, era o de um ambiente fortemente cinquentista sob inúmeros aspectos, mas com fortes valores de décadas anteriores ainda muito presentes. Em vários quesitos, o mundo que me recebeu ainda se mostrava bem influenciado por valores vintistas, trintistas e quarentistas, em múltiplos signos, para o bem e para o mal. E levemos em consideração que havia um bom contingente de pessoas que eram oriundas do século XIX a viver entre nós e obviamente em sua grande maioria a carregarem consigo, a mentalidade desse século então imediatamente anterior.

As mulheres sofriam pressão brutal sociocultural, mas no calor dos acontecimentos, eram poucas as que se queixavam ou se rebelavam com tratamento desdenhoso. 

No mundo em que cheguei, quase todas eram: "belas, recatadas e do Lar". Toda a mamãe era do dona-de-casa e criava os seus filhos geralmente com apoio das vovós. 

E os pais eram provedores, a trabalharem duro de segunda a sexta, e só dedicarem-se à família, aos finais de semana. Raro foi o lar aonde essa regra não se cumpriu, sem contestações.  

Outro signo forte foi o do catolicismo. Com quase 98% da população sendo adepta dessa religião cristã, foram fortes os signos desse domínio cultural.


E o mundo de 1960, foi dos fumantes sem dúvida alguma. Nesse ano e por muitos anos vindouros, ninguém importava-se ou nem sequer cogitava não fumar em ambientes fechados. Ambientes esfumaçados e roupas impregnadas desse odor horrível, eram comuns ao extremo. Raro era o adulto que não fumava e havia todo um tabu ritualístico (pela falsa sensação de status que o tabaco proporcionava), e hipócrita (da parte dos adultos, e quase todos viciados no tabagismo), para se coibir e vigiar os adolescentes que queriam a todo custo ingressar no vício, mas que inevitavelmente o fariam, a repetir o comportamento doentio e padronizado de seus pais, avós etc...

São Paulo já era uma metrópole, mas ainda não havia se solidificado como a maior cidade do Brasil. Todavia, foi questão rápida para assumir tal posto e sob um ritmo vertiginoso, cresceu de uma forma assustadora. Contudo, ainda era muito tranquila e segura, limpa e em alguns aspectos, a ostentar ares europeus.  

As estações do ano eram bem definidas e demoraram décadas para começar a se modificarem como verificamos nos tempos atuais. No outono já fazia frio e no inverno, se chegava a um estágio além, o chamado: "frio de rachar". Festas juninas eram sob frio intenso e as fogueiras de Santo Antonio, São João e São Pedro vinham a calhar nas quermesses espalhadas pelos bairros. São Paulo era a dita "terra da garoa" e isso não era exagero, pois de fato, garoava toda noite durante as estações de outono e inverno e sob boa parte da primavera, também.

Meus pais moravam no Brooklin, bairro da zona sul de São Paulo, quando eu nasci, mas a minha mãe deu-me a luz no Hospital São Camilo, no alto do pico mais elevado da Avenida Pompeia, que para quem conhece São Paulo, sabe ser uma avenida que se parece com um tobogã. Tal decisão familiar foi motivada pelo fato dos meus avós maternos morarem na Vila Pompeia, bairro da zona oeste de São Paulo. 

Portanto, coincidência, posso dizer que nasci no bairro que ganharia fama, poucos anos depois, por ser o berço do Rock paulistano/paulista e brasileiro. Eu também moraria nesse bairro, mas alguns anos depois e oportunamente falarei disso.

Nasci em julho de 1960, sob um frio tipicamente paulistano, de inverno. Recebi o nome de: Luiz Antonio Domingues.

"Luiz", foi para homenagear a minha mãe: Maria "Luiza", e "Antonio", para homenagear meu avô paterno, oriundo de Cantanhede, uma pequena cidade perto de Coimbra, Portugal. 

"Domingues" é o sobrenome da família do meu pai e na tradição lusitana, fiquei apenas com o sobrenome patriarcal, como nome oficial nos documentos. Mas por relação sanguínea e emocional, sou também, Barretto com dois "T's", a família da minha mãe.

Nasci portanto na Vila Pompeia, mas tecnicamente a falar, morava no Brooklin, porém isso por um breve período, pois ainda em 1960, mudamo-nos para o bairro do Belenzinho, na zona leste de São Paulo. 

Ninguém que morava nesse bairro e nessa época, se referia ao seu nome dessa forma diminutiva, mas sim como: "Belém". Aprazível ao extremo, tal bairro mantinha ares de uma pequena cidade interiorana, com a praça da matriz, no caso o Largo São José do Belém e sua paróquia homônima, o comércio no área do próprio Largo e no seu entorno, a se estender até a Rua Belém, ligação com a Avenida Celso Garcia, então principal acesso entre o centro da cidade e diversos bairros da zona leste, sob uma linha reta, da Praça da Sé até o bairro da Penha. 

De lá saía o trólebus, o típico ônibus elétrico, com a linha: "Praça da Sé-Largo São José do Belém" e anos depois houve uma outra linha: Belém-Pinheiros, que atravessava o bairro do Brás, passava pelo centro velho da cidade, depois pela Praça Roosevelt e descia toda a Rua Augusta, até chegar ao bairro de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo.  

Paróquia São José, no Largo São José do Belém, em foto bem mais atual. 

Eis acima uma foto do famoso Trólebus (ônibus elétrico), linha Largo São José do Belém-Praça da Sé, a passar pela Rua Belém, em direção ao Largo, o seu ponto final. Essa foto deve ser mais do final dos anos sessenta-início dos anos setenta, pelo aspecto do próprio Trólebus, com carroceria mais próxima dos ônibus tradicionais a diesel, visto que os primeiros carros dessa série foram bem típicos, com design diferente, importados da Inglaterra, ao final dos anos quarenta. Acervo de Barry Blumstein.

Haviam dois cinemas no miolo do bairro, fora os mais de vinte espalhados pela Avenida Celso Garcia, do Brás, bairro vizinho, até a Penha. Dois colégios católicos tradicionais (Agostiniano São José e Maria Auxiliadora) e dois estaduais, o Amadeu Amaral, no Largo São José de Belém, em frente à igreja, sob uma construção do início do século XX, e o outro, hoje em dia desarticulado, na Vila Maria Zélia, a se constituir de uma vila construída para operários, fechada e com vida própria, a se parecer um burgo medieval, com saída para a Rua Catumbi. 

Como quase todos os bairros de São Paulo, naquela época, o Belenzinho foi um reduto para acomodar colônias estrangeiras aqui radicadas. Encravado entre bairros maiores como Brás, Pari, Mooca e Tatuapé, o Belém continha italianos, embora estes fossem mais massivos no Brás e Mooca, portugueses espalhados desde os bairros do Pari e Canindé e espanhóis, embora estes fossem mais volumosos no Tatuapé e Penha. 

Mas havia também um grande contingente de famílias gregas. Hoje em dia o bairro se tornou um reduto para imigrantes bolivianos, que anteriormente já haviam ocupado os bairros do Pari e Canindé, por volta dos anos noventa.

Músicos a rondarem as mesas e alegrar o jantar das famílias do bairro, em foto antiga do restaurante: "Formiga", clássico estabelecimento gastronômico, localizado no Largo São José do Belém.
 
As melhores padarias do bairro eram: a Nacional, do Largo e a Tupã, na esquina das Ruas Herval e Álvaro Ramos. Os melhores restaurantes, o "Formiga", também no Largo e a cantina de Romeu Pellicciari (este, um ex-jogador do Palmeiras, na verdade do antigo Palestra Itália nos anos trinta e quarenta), localizado na rua Irmã Carolina, esquina com Rua Pimenta Bueno. 

Não havia nessa época, a Avenida Radial Leste e muito menos a Avenida Salim Farah Maluf, esta última a representar a fronteira que divide o Belém do Tatuapé, o bairro vizinho. Nessa época, ali ficava um conjunto com chácaras ocupadas por famílias japonesas e cuja produção de hortaliças, abastecia as pequenas "vendas" (mercadinhos de pequeno porte), ainda com aspecto bem antigo, que haviam em profusão pelas ruas do bairro. 

Já existia a linha do trem de subúrbio, que vinha da Estação da Luz em direção ao extremo da zona leste e cidades vizinhas da grande São Paulo, até Mogi das Cruzes. Mas o Metrô, cujos trilhos correm em paralelo com os trens de subúrbio, só chegaria ali no bairro, no início dos anos oitenta.

A nossa residência ficava situada na Rua Redenção, entre os quarteirões das Ruas Herval e Toledo Barbosa. Vizinho de parede de nossa casa, ficava uma fábrica artesanal de objetos de decoração, como cristais e murano. Muitos dos itens de decoração de nossa casa, foram comprados ali, e eu adorava aqueles objetos com formas malucas e super coloridas, já a antecipar meu apreço pela psicodelia, talvez.

Na esquina, havia um chaveiro, um salão de barbeiro e uma farmácia, mas era pequeno o comércio ali naqueles quarteirões, quase que estritamente residenciais, em suma. O grosso do comércio ficava no Largo e no seu entorno. 

Só havia um único prédio de apartamentos ali naquele quadrante, na esquina das ruas Herval e Pimenta Bueno, ainda assim, com apenas três andares, sem elevadores. 

Tirante o fato de ser aprazível como uma pequena cidade interiorana adorável, nesse bairro havia uma raiz familiar forte que me deu todo o respaldo para eu me sentir muito bem ambientado em meus primeiros anos de vida. Ali foi o bairro onde meus avós paternos moravam desde os anos vinte e onde o meu pai nasceu e se criou. 

E assim eu morei nesse bairro e casa, durante a minha primeira infância quase inteira e recebi ali, as minhas primeiras cargas de influência cultural que esboçarei contar em tópicos, ao comentar ano a ano, o teor da experiência adquirida.

Por enquanto, eis abaixo um mosaico do mundo que me rodeava no ano em que nasci, 1960:   

Um fac-símile da capa da Folha de São Paulo, do dia em que eu nasci, 25 de julho de 1960, publicado como efeméride em 2010, quando se completou 50 anos desse dia.
Eis o bebê Luiz Antonio Domingues nos braços do papai, Milton e na companhia da mamãe, Maria Luiza, com cerca de um mês de vida, em agosto de 1960, presentes no bucólico quintal da casa dos meus padrinhos, no bairro do Brooklin, na zona sul de São Paulo. Acervo familiar.

São Paulo em 1960 estava assim: 
O Viaduto do Chá em 1960, com a visão do Magazine Mappin ao fundo. Tratava-se de uma loja de departamentos ao estilo norte-americano e que foi uma referência para todos os paulistanos. 
Visão da Avenida São João, no centro antigo da cidade de São Paulo, em 1960. Impressionante o aspecto de asseio e ausência de mendicância. Impossível não reparar no belo cinema de rua à direita da foto (Art Palácio). O bonde ao fundo e a elegância das pessoas no trajar, pois isso faz com que a imagem se confunda com a de uma cidade europeia ou norte americana.
Natal de 1960, e o comércio do centro a alardear as suas promoções. Ao fundo, a parte de trás do Teatro Municipal. Na pista, a imponência do belo carro da marca Simca Chambord a trafegar!
Uma outra visão do Viaduto do Chá, com o Edifício Matarazzo ao fundo. Hoje em dia, tal edifício abriga a sede da Prefeitura de São Paulo. 
Os bondes eram muito tradicionais, mas já incomodavam os motoristas de ônibus e carros particulares que se queixavam de sua presença nas vias. A desculpa usada para eliminá-los, foi atribuir a sua inviabilidade com o início das obras do Metrô em 1968 e assim, foi o principal motivo para desativá-los para sempre. Lastimo muito essa mentalidade. Hoje em dia, com metrô embaixo da terra e bondes na superfície, teríamos um trânsito muito melhor a inibir a profusão monstruosa de carros.
Praça da Sé em 1960 e uma amostra de como era impressionante a frota de carros oriunda de décadas passadas, ainda a circular. Tudo bem que a década de sessenta viu a proliferação da produção automotiva nacional, notadamente com a invasão dos "fuscas" da Volkswagem, pelas ruas da cidade, mas ainda se viam muitos carros das décadas de vinte, trinta, quarenta e cinquenta pelas ruas. Quase todos os táxis, eram velhos carros da marca "Chevrolet" da década de quarenta, vide o da foto acima a rodar. Prova cabal que eram veículos fortes, concebidos para durarem muito, ao contrário da estratégia do descarte, adotada pela indústria, tempos depois. "Compre, quebre e recompre", passou a ser o lema/mantra das montadoras e com o devido beneplácito das autoridades...
Visão do Vale do Anhangabaú do início dos anos sessenta. 
Visão noturna do centro de São Paulo, em 1960, que já borbulhava como cidade com vocação para eventos culturais, gastronomia e vida noturna. 
Evento memorável para a cidade de São Paulo em 1960, a realização do 1º Salão do Automóvel, em um dos pavilhões do Parque do Ibirapuera, ao se tornar tradicional na cidade, até os dias atuais. 
Jânio Quadros, o controverso e folclórico ex-prefeito da cidade de São Paulo e Governador do Estado, elegeu-se presidente do Brasil.
Outro grande acontecimento óbvio de 1960, foi a inauguração da cidade de Brasília e consequente mudança de toda a estrutura do poder federal para a nova capital do país.

Sobre a cultura, eis alguns lançamentos de 1960:

Começo a falar sobre cinema.  
"The Apartment", uma comédia romântica, mas com forte fundo social, também, foi um filme que encantou em 1960. Acima, um "frame" desse filme com os atores, Jack Lemmon e Shirley Maclaine, seus protagonistas. 
"Spartacus", a saga do escravo/gladiador que comandou uma revolta contra o Império Romano, estrelado por Kirk Douglas e sob direção do então emergente diretor britânico, Stanley Kubrick, foi um épico de 1960.
"La Dolce Vita", um emblemático filme de Federico Fellini e cujas presenças de Marcello Mastroianni e Anita Ekberg, encantou os cinéfilos, em 1960.
Outro emblema de 1960, o filme "Psycho", de Alfred Hitchcock, por quase matar os espectadores de susto nas salas de cinema, tamanha a tensão que gerou.
Um dos meus filmes prediletos do gênero "Sci-Fi, "The Time Machine", é mais uma película lançada no ano em que eu nasci.
Com atores monstruosamente virtuosos e veteranos dos anos trinta, como protagonistas (Fredric March e Spencer Tracy), "Inherit the Wind" ("O Vento Será a Sua Herança"), tem uma discussão boa sobre as teorias evolucionista e criacionista, em meio a diálogos mordazes e bem embasados. Ótimo lançamento de 1960.
Duas comédias malucas de Jerry Lewis, lançadas em 1960. Foi o início de sua carreira solo, recém-separado da parceria com o cantor & ator, Dean Martin, com o qual mantinha uma dupla em que atuaram juntos em muitos filmes realizados nos anos cinquenta. Nesse seu começo isolado, pouca gente achou que lograria êxito, mas a década de sessenta foi dele, conforme se comprovou nos anos posteriores.
 
Outro Sci-Fi impressionante..."Village of the Damned" ("A Cidade dos Amaldiçoados"), com alienígenas mirins que assustavam as pessoas com aqueles olhares ameaçadores...
Que elenco... que western... que trilha sonora... "The Seven Magnificent"
Tempo bom em que os filmes de terror da produtora britânica, Hammer, eram exibidos nas grandes salas de cinema. Neste, o grande ator, Christopher Lee, não interpretou Drácula, como de costume, mas o igualmente genial como ator, Peter Cushing, está ali, intrépido a enfrentar o vampiro-mor...
Luchino Visconti é sinônimo de cinema de alto padrão. Neste, clássico entre seus clássicos, "Rocco e seus Irmãos", é um tremendo filme de 1960.
Outro diretor gigante e classudo entre os gênios italianos dessa época, Michelangelo Antonioni nos brindou com "L'Avventura". O filme foi vaiado no festival de Cannes, mas hoje é reconhecido como um clássico de todos os tempos! E como é medíocre a vida dos "formadores de opinião", tão apressados na sua mania de tornar tudo "cool" ou "uncool", a criar "hypes" midiáticos a seu bel-prazer ou pior ainda, para atender interesses escusos...
Mais uma aparição importante de Mastroianni, sob a batuta de Mauro Bolognini. "O Belo Antonio" é um outro grande filme de 1960.
E havia espaço ainda para medalhões do passado, como John Huston, ainda em grande forma...
E tempo para um tema adulto, "forte"... com a Liz Taylor a gerar polêmica em "Butterfield 8"...

"Nunca aos Domingos", com a exuberante, Melina Mercouri e nada melhor que o clássico cinema grego em um bairro como o Belenzinho, com tantos imigrantes oriundos desse emblemático país milenar, ali instalados.
"La Ciociara", ou "Duas Mulheres" como ficou conhecido no Brasil, abordou as agruras da Segunda Guerra Mundial na Itália, vista pelo ponto de vista de uma mãe a tentar proteger a filha pré-adolescente a todo custo do fascismo e dos abusos da guerra, por parte de inimigos ou aliados, tanto faz. Sophia Loren arrebenta, sob a direção de Vittorio De Sica.
Uma das melhores comédias brasileiras de todos os tempos... e como era bom o Trio Irakitan, tanto na música, quanto na veia cômica de seus componentes, como atores! Este é um dos meus prediletos: "Virou Bagunça".
Outra comédia brasileira sensacional e a contar com a figura escrachada de Dercy Gonçalves e a beleza de Odete Lara em "Dona Violante Miranda". 
Misto de drama e policial com a eterna "mocinha", Eliana, em um raro papel de vilania de sua parte em: "Maria 38".

Alguns livros interessantes lançados em 1960:
"To Kill a Mockinbird", obra de Harper Lee a abordar o racismo nos Estados Unidos, e que motivou a criação de um filme, posteriormente baseado no livro, com título homônimo, mas que no Brasil foi rebatizado como: "O Sol é para Todos".
"Quarto de Despejo", o impressionante livro escrito por uma "mulher coragem", chamada: Carolina Maria de Jesus, a se revelar simples, semianalfabeta e favelada, a discorrer sobre sua própria situação de miséria.
Em 1960, quando esse romance foi lançado, não fora o primeiro sobre a saga de um agente do serviço secreto britânico, chamado: James Bond. Mas a sua fama só viria a partir de dois anos depois, quando o primeiro filme baseado no personagem de Ian Fleming, foi lançado nas salas de cinema e se tornou icônico...
Ah, o existencialismo... quanto barulho fazia na época as ideias de Jean Paul Sartre no meio acadêmico e a resvalar no mundo político, via sociologia. "Crítica da Razão Dialética", saiu em 1960.
Em 1960, as chagas abertas pela II Guerra Mundial ainda não haviam sido cicatrizadas. Esse livro de William L. Shirer é considerado um dos melhores apanhados sobre a ascensão e queda do nazismo. São seis volumes, e acima, está a capa de um deles.
"Ai de Ti, Copacabana", é um dos melhores livros de crônicas já escritos por um autor brasileiro, no caso, Rubem Braga.
Em 1960, Clarice Lispector lançou "Laços de Família". 

Nas ondas do Rádio:
O progresso da TV não matou o rádio como os pessimistas de plantão preconizaram, dez anos antes. As emissoras de rádio continuaram a ter papel importante na difusão cultural e pelo contrário, muitas parcerias criativas com a TV, fizeram com que os dois veículos se fortalecessem-se, para andarem juntos a se apoiarem mutuamente. 
 
Uma novidade ocorrida em 1960, e que afetou positivamente o mundo radiofônico foi sob cunho tecnológico, com o advento das transmissões via satélite, a melhorar a qualidade das transmissões e garantir uma maior rapidez na divulgação de notícias. 

Na TV:
Com dez anos de funcionamento, a TV já continha um papel importante na vida das pessoas em 1960, embora nem todo lar possuísse um aparelho para o entretenimento da família, pelo seu alto custo, portanto a restringir tal conforto para as famílias mais abastadas, em princípio.
A TV Tupi, emissora pioneira, foi uma das grandes estações daquele momento, naturalmente, mas que teve na TV Record, uma oponente em franca expansão e que a superaria no decorrer naquela década.
Em 1960, a TV Record comemorou sete anos de vida e sendo o canal a usar o número "7" em São Paulo, alardeou isso com profusão. Tal emissora já caminhava para ser a melhor emissora da década nova que chegava e o melhor que teria a oferecer ainda nem o mais otimista de seus produtores, poderia imaginar...
E começara a saga da TV Excelsior, o famoso "canal 9", uma emissora que nasceu em 1960 e com mentalidade progressista, cheia de inovações, e que portanto prometeu ser muito interessante.
TV Paulista: uma emissora que lutava para se manter na base do improviso total em meio às sua precariedades técnicas, mas que teve o seu pequeno quinhão de atenção dos paulistanos. 
E havia uma TV Cultura a ocupar o canal 2, mas esta não era estatal nessa época. Emissora nanica, quase não tinha audiência.

No mundo da música: 
Esses cinco garotos mal saídos da adolescência e oriundos de Liverpool, Inglaterra, foram completamente desconhecidos do grande público, em 1960. A sua maior proeza até então fora promover boas apresentações ao vivo, ao reproduzir covers de Rock'n' Roll, Blues, R'n'B e Skiffle, em casas noturnas de sua cidade natal. Nesse ano de 1960, esses rapazes se aventuraram a tocar em casas de tolerância na zona portuária de Hamburgo, na Alemanha. O baixista se apaixonou por uma bela garota alemã e deixou a banda, pouco tempo depois, para obrigar um dos três guitarristas a assumir o baixo, doravante. O baterista saiu (ou "foi retirado", para dizer melhor), dois anos depois por pressão de um produtor musical, sendo substituído por outro amigo deles, também oriundo de Liverpool. Mas convenhamos, alguém em sã consciência poderia imaginar que essa banda viraria o mundo de cabeça para baixo, ao olhar para eles, ali em 1960? 
Will You Love me Tomorrow? Grande sucesso do grupo feminino vocal de R'n'B, The Shirelles.
Uma grande fera do Rock cinquentista, Roy Orbison fez sucesso em 1960, com "Only the Lonely".  
Chubby Checker lançou a canção: "The Twist", bem no mês e ano em que nasci, julho de 1960. Veja acima o delicioso astral cinquentista que permeava o mundo em que cheguei.
Outro sucesso de 1960, "A Taste of Honey", com Bobby Scott.
Ray Charles regravou uma canção composta em 1930, pelos compositores Hoagy Carmichael e Stuart Gorrell, chamada: "Georgia on my Mind".... nada mau para ser lançada em 1960, e assim tornar o mundo melhor, logo no momento em que eu entrei nele.
Uh...ha... Sam Cooke, e sua "Chain Gang!"
The Everly Brothers e sua "Cathy's Clown"...
Super em voga na época, entre o Rock cinquentista e a "British Invasion" de 1964, o som instrumental de bandas como o The Ventures, fazia muito sucesso, a evocar o Rock'n' Roll, Surf Music, R'n'B e outros derivados. "Walk Don't Run" foi sucesso com o The Ventures, em 1960.
Celly Campello, irmã do Rocker, Tony Campello, lançou: "Banho de Lua", uma adaptação para o português de um Rock italiano, chamado: "Tintarella Di Luna". Foi uma tendência que tornar-se-ia hábito no início da década de sessenta, regravar música Pop italiana e/ou francesa, por artistas brasileiros, em adaptações para o português.
Sergio Murilo, outro Rocker adocicado (no bom sentido do termo, visto ser um artista bacana no meu entender), e típico dessa época de entressafra, ele lançou: "Broto Legal".
Ao viajar na onda espacial, super na moda e que só esquentaria nessa década nova que estava a chegar, eis o primeiro disco do cantor, Miltinho, um sambista cheio de bossa e que brincou com tal conceito.
E essa é para arrebentar... a grande Diva, Etta James, lançou esse blues dilacerante em 1960: "At Last". Ouça acima, para degustar e entrar no clima de 1960...

No mundo dos quadrinhos:
Eis três, entre tantos lançamentos sensacionais que a "Ebal", uma editora icônica para quem seguia quadrinhos no Brasil, colocou nas bancas em 1960. Nessa época ainda não, logicamente, mas poucos anos depois, tal editora seria muito importante na minha vida, por me abrir mais um universo paralelo da imaginação. 
Dava-se tanta importância aos concursos de beleza nessa época, que fora uma pergunta recorrente em exames vestibulares: quem venceu o concurso de Miss Brasil neste ano? Pois é, em 1960, foi Gina MacPherson...

Nos esportes:
Eu não prestava atenção no futebol em 1960, obviamente, mas digamos que comecei bem a minha saga verde, mesmo só vindo a entender isso, bem depois...
1960 foi um ano bissexto e que teve Olimpíada na cidade eterna, Roma...
Éder Jofre ganhou o título mundial de Boxe, na categoria "galo", e fez sucesso na imprensa de 1960.
Foi inaugurado nos arredores de Genebra, Suíça, um laboratório chamado, "Cern", responsável pela construção do maior equipamento de pesquisa para a aceleração das partículas em todo o mundo. A estátua da Deusa Shiva na entrada de tal laboratório, sugere claramente uma aproximação entre ciência e espiritualidade e a tal "partícula de Deus" que ali foi descoberta muitos anos depois, talvez seja só o começo de uma nova Era de descobertas que façam convergir sob uma única direção, as ideias preconizadas pelas duas correntes.
Países exportadores de petróleo, se organizaram para criar a "Opep", em 1960.
E assim foi 1960, o ano em que nasci...

Continua...

6 comentários:

  1. Sensacional, me lembrei muito das histórias que meu pai contava sobre São Paulo do final dos anos 50, ele veio morar na nossa cidade em 1954, neto de uma francesa e de um holandês. me dizia como São Paulo era elegante, com jeito de Europa, nessa época. Quanta coisa importante aconteceu no ano de seu nascimento. Ah sim,e meu bairro onde nasci, o Belém. Muito bom sentir essa nostalgia e alegria no coração com sua narrativa.

    ResponderExcluir
  2. Mas que maravilha que tenha gostado !!

    O objetivo dessa nova série de adendos é traçar um histórico como o Rock e a música em geral entraram na minha vida, mas por força das circunstâncias normais do desenvolvimento humano, os dois primeiros capítulos, por retratarem 1960, o ano em que nasci, e 1961, ano em que só tinha um ano de idade, não tenho lembranças culturais para retratar, mas só recordações primitivas do meu mais remoto desenvolvimento cognitivo.

    Sendo assim, optei por fazer um apanhado do mundo que me cercava nesses dois anos iniciais, com aspectos culturais em predominância.

    Sobre o que seu pai lhe contou, é a mais pura verdade. São Paulo tinha ares europeus, um asseio impressionante, educação nas ruas, recato etc etc.

    A respeito do Belém, fiquei muito feliz por ter despertado essa nostalgia para você que também lá viveu. Eu o conheci ainda bem parecido com uma cidade interiorana, absolutamente tranquilo e delicioso de se viver. Apesar de não ser mais a mesma coisa, quando caminho por aquelas ruas, meus olhos marejam.

    Sim !! Bastante coisa bacana ocorreu em 1960 e eu acabei cortando muitas outras que havia colocado, porque o capítulo havia ficado gigantesco. Muita coisa eu sabia de cabeça, principalmente a parte de cinema, mas pesquisando, vi que tinha muita coisa legal, mesmo.

    Esteja convidada a prosseguir lendo. Postarei a cada dois dias, um capítulo novo por todo o mês de junho de 2016, enfocando os anos de 1960 a 1975.

    De 1976 em diante, o foco maior é a autobio já publicada, mas haverão novos adendos, em forma de crônicas, no futuro, falando do período 1976 em diante, também.

    Gratíssimo por ter lido, gostado, emocionado-se e comentado com elogio !

    ResponderExcluir
  3. Sim Luiz, continuarei a ler com muito prazer.

    ResponderExcluir
  4. Incrível como tenho uma familiaridade com São Paulo mesmo nunca tendo morado lá, isso desde a infância, quando lia os quadrinhos da turma da Mônica que se passava no bairro do Limoeiro, que era onde eu queria morar. Até hoje apesar de grande metrópole, as regiões que conheci de SP me passam esse ar interiorano em alguns momentos, muitas ruas arborizadas, pessoas muito bem educadas, muito agradável. Esse mesmo ar de familiaridade sinto em relação a vc querido amigo Luiz, que como já disse, mais me parece um irmão!

    Muito legal passear pelo passado, sempre muito agradável reviver coisas boas!

    bjos amigo!
    Fernanda Valente.

    ResponderExcluir
  5. Mas que maravilha que tenha apreciado o texto que elaborei, e cujo objetivo é claro em traçar um panorama sobre o ambiente que cercava-me sob vários aspectos, no ano em que nasci.

    Agora entendi a sua ligação com a cidade de São Paulo de onde vem, remontando à Turma da Mônica, nada mais singelo.

    Os bairros de São Paulo, nos quatro quadrantes da cidade, são assim mesmo como descreveu : pequenas cidades interioranas com vida própria, pracinhas; vilas, a igreja da matriz e seu comércio etc etc.

    Acho que o bairro que citou, "Limoeiro" faz parte da ficção da Turma da Mônica, sendo uma invenção do Maurício de Souza. Salvo engano colossal de minha parte, não existe um bairro chamado "Limoeiro" na vida real. Talvez ele tenha inventado esse nome para aproximar-se da realidade do "Bairro do Limão", onde possa ter vivido, este sim, um tradicional bairro da zona norte da cidade, perto de outros bairros importantes, como a "Casa Verde" e "Santana".

    Sobre o meu texto, deixo o convite : escreverei capítulos com esses adendos à minha autobiografia musical, cobrindo até o ano de 1975. Assim cubro toda a parte que antecedeu o início da minha trajetória na música, em 1976.

    E sobre sua observação mais pessoal, que bonitas palavras. Sua gentileza e doçura emocionaram-me, certamente.

    Beijos, querida amiga Fernanda Valente !!

    ResponderExcluir