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sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Pedra - Capítulo 12 - Veja Bem: Cuide-se Bem e de Nossos Singles, Também! - Por Luiz Domingues


Quando o ano de 2010 entrou, estávamos com uma injeção de ânimo a surtir efeito imediato em nossa veia, por conta da perspectiva aventada pela Revista Veja. Por querer aproveitar tal momento que se mostrou alvissareiro, o Xando Zupo quis dar mais impulso ainda, e teve uma ótima ideia para tal.

Ao gravarmos as novas músicas, abrimos praticamente o começo da gravação do terceiro disco, mas como não havia ainda mais músicas para compor um álbum suficientemente, de fato, não foi cogitado lançar um EP intermediário, entre o Pedra II, e o terceiro disco.

Portanto, tais canções novas teoricamente teriam que esperar uma nova safra ser composta e gravada, para que fossem inseridas na concepção de um novo álbum, de fato. 

Aliado a esse fato, o Xando já vinha a montar e editar promos de internet para a banda, desde o final de 2006. Nessa altura, ele já havia instalado programas de computador mais sofisticados em seu maquinário, quando montou uma ilha razoável para a edição de vídeos à sua disposição para trabalhar e estava a gostar de atuar nesse sentido. 

Portanto, ele criou a ideia de aproveitar tais músicas novas já gravadas e mixadas, para lançá-las na internet, como promos especiais, e a cada dois meses, sob uma ação previamente anunciada. 

Essa disposição dele para anunciar lançamentos previamente, foi um ponto de divergência entre nós. Eu nunca gostei desse tipo de estratégia, pois além da pressão interna para a concretização da promessa em si, fulminava o fator da surpresa perante o grande público e setores midiáticos. Entretanto, infelizmente ele considerava isso uma estratégia perfeita em sua concepção e predominou essa opinião não só para esse evento, mas praticamente para todas as ações que o Pedra empreendeu na sua história completa.

Independente dessa questão, é claro que a sua ideia e iniciativa de preparar os promos, foi excepcional e logo no início do ano de 2010, antes mesmo do Sérgio Martins nos dar as coordenadas sobre o lançamento de nosso programa no audiovisual, "Veja Música", o Pedra lançou o seu primeiro promo desse novo ano, que teve como música protagonista: "Queimada das Larvas dos Campos Sem Fim". 

Ele utilizou dessa forma, diversas imagens provenientes de shows da banda, também de bastidores (algumas cenas provenientes da gravação da canção, incluso) e a acrescentar momentos de informalidade, eis que o Xando montou um belo promo, a mostrar que estava a ficar cada vez melhor nessa capacidade recém adquirida para produzir vídeos caseiros. 

O promo de "Queimada das Larvas dos Campos Sem Fim", lançado em janeiro de 2010

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=0rQjV_Rs9bA

Aqui, o Link para assistir no Vimeo:
https://vimeo.com/73796564


Mais ou menos nessa época, o jornalista Sérgio Martins nos avisou por e-mail que estava tudo certo para o nosso programa da "Veja Música" estrear na Internet e haveria apoio, logicamente, na divulgação dessa ação na revista Veja, em seu formato impresso tradicional e na sua versão on line. 

Somado ao lançamento do promo de "Queimada das Larvas dos Campos Sem Fim", que chamou a atenção entre fãs e no métier do Rock underground, creio que 2010 começou a sinalizar que teríamos um novo horizonte.

Nesse ínterim, um fato novo e absolutamente pessoal, me ocorreu, mas que mudaria muito a minha perspectiva para contribuir mais com a banda, ao interagir na divulgação de uma forma incisiva. Foi inacreditável, eu sei, mas somente ao final de janeiro de 2010, eu comprei o meu primeiro computador pessoal. 

Absolutamente leigo no assunto, sem nenhuma noção sequer sobre como lidar com as suas funções básicas, me pus a tatear a máquina, mediante consulta ao manual e foi apenas em meados de fevereiro, que eu consegui interagir no mundo virtual, quando aprendi a lidar com um e-mail pessoal, e ao abrir uma conta em uma Rede Social, no caso, a mais popular da época, o saudoso, Orkut. 

Contudo, assim que entrei nessa rede, percebi que tal plataforma passava por um processo de decadência profunda, e por ser novo no mundo virtual, demorei para entender a mecânica de raciocínio dos usuários desse mundo, por estarem a desprezá-la, em massa. 

Hoje (2016), passados seis anos em que atuo no mundo virtual, e por já ter interagido em quase trinta redes sociais diferentes, ainda acho o Orkut foi a melhor de todas, portanto, o vilipêndio que essa rede sofreu, não passou de um ato sabotador, a visar óbvios interesses escusos e perpetrado por algum marqueteiro e seus malditos asseclas, os famigerados "formadores de opinião". 

Bem, para efeito de narrativa do Pedra, o importante foi que a partir de fevereiro de 2010, eu passei a usar tal ferramenta das redes sociais em nosso favor, a usar de minhas estratégias pessoais que mal estava a aprender a manipular, mas que em poucas semanas, já rendera um resultado prático, visto que eu passei a angariar muitos simpatizantes para o Pedra, pessoas essas que nem faziam ideia que existíamos.

E assim, o promo de "Queimada das Larvas do Campos Sem Fim" foi o primeiro que eu divulguei entre os meus primeiros contatos virtuais e a seguir, o programa da "Veja Música", é lógico, o que realizei com grande prazer, naturalmente. 

E ainda me lembro da enxurrada de pessoas a me adicionarem no Orkut, estupefatas com a minha repentina adesão ao mundo virtual e quem me conhecia pessoalmente, sabia que eu nada entendia disso, e ao ir além, não nutria nenhuma curiosidade a respeito, até então, ao viver em um mundo à parte, a usar o telefone fixo tradicional, e cartas manuscritas para me comunicar normalmente com as pessoas que moravam fora da minha cidade, mas eu sabia que teria que aderir, um dia. 

Uma das manifestações mais engraçadas, veio da parte do Xando Zupo, que assim que me adicionou no Orkut, mandou uma mensagem bem-humorada a brincar com a minha entrada super atrasada no mundo virtual.

A foto que usei inicialmente para o meu "Avatar" do Orkut. Click de Grace Lagôa

Ele e a sua esposa, a fotógrafa Grace Lagôa, me auxiliaram bastante, inclusive ao me disponibilizarem muitas fotos do Pedra para rechear o meu perfil do Orkut e uma em específico, se tornou a foto oficial do meu "avatar " para ilustrar a minha presença aquela simpática rede, até o seu último dia de existência em 2014, e a seguir, essa foto também se tornou o meu avatar na Rede Social Facebook, inclusive até os dias atuais (2016). 

Eu nunca fiz campanha contra ou forjei questão como "resistente", em relação à modernidade da internet, como talvez algumas pessoas pensassem ao meu respeito. Apenas demorei muito para aderir, da mesma maneira como eu nunca tive vontade para dirigir automóveis, mas é claro que eu sabia que um dia eu teria que me habilitar, também, no entanto, somente aos vinte e nove anos de idade eu tomei a providência de me matricular em uma autoescola. 

Bem, aderir ao mundo virtual mudou muito a minha maneira para interagir com o mundo, certamente, e a lidar com a minha carreira, é claro. 

O começo de 2010 foi muito promissor, com novidades boas para o Pedra, e a apresentar um Luiz Domingues virtual, a se inserir dentro dessa nova realidade.

Frame da nossa participação no programa "Veja Música", com a minha presença (Luiz) em destaque e abaixo, a nota a destacar o programa, nas páginas da revista Veja

Então nós recebemos o comunicado de que a nossa participação no programa "Veja Música" iria para o ar ao final de fevereiro de 2010.
Portanto, nos deu a ótima sensação de que uma avalanche midiática ocorreria pelo tamanho que tal exposição haveria de nos oferecer, e somado à repercussão em menor escala que havíamos precipitado por termos lançado uma música nova e apoiada em um interessante promo para a Internet via YouTube ("Queimada das Larvas dos Campos Sem Fim"), foi para animar, mesmo.

Frame da entrevista que Xando Zupo e Rodrigo Hid concederam ao jornalista Sérgio Martins para o programa "Veja Música"

Então, percebemos que a revista Veja, impressa, em sua edição de nº 2153, de 24 de fevereiro de 2010, chegou às bancas com uma nota a anunciar a entrada no ar do nosso programa, com direito a foto promocional e claro que tal predisposição foi muito excitante para artistas tão acostumados com os calos advindos da dura labuta fora dos holofotes do mundo mainstream. 

Assistimos o programa disponibilizado para a internet e apreciamos muito o resultado final. A nossa performance fora boa, tecnicamente a se analisar, embora, pelo menos de minha parte, tenha ficado com a impressão que no vídeo, estejamos um pouco "engessados". Sei que é algo sutil, mas eu noto que não passamos a impressão em estarmos 100% a vontade, e creio que a responsabilidade do evento em si, somado ao fato de estarmos em um tipo de execução / performance não costumeira para nós, pela questão dos arranjos acústicos para a ocasião, deve ter produzido esse estrato involuntário, mas perceptível em minha ótica.

A banda retratada no dia da filmagem para o programa Veja Música. Acervo e cortesia: Xando Zupo. Click: desconhecido

No dia da filmagem eu não tive a mesma impressão, mas como a perspectiva de se ver & ouvir no vídeo, é o tipo de experiência que surpreende, geralmente, creio que ficara dentro da normalidade. 

Fora tal percepção, eu gostei muito da performance musical e da entrevista que o jornalista, Sérgio Martins conduziu com Rodrigo e Xando.

No mesmo dia e por sinal a se tratar de uma reação esperada por todos nós, houve uma enxurrada de comentários e compartilhamentos nas redes sociais, que foi precipitada naturalmente. 

Através dos nossos meios naturais até então, foi um bombardeio incrível de apoio que recebemos, mas ainda mais animador foi constatarmos que também houve uma significativa quantidade de manifestações da parte de muitas pessoas estranhas que nunca haviam ouvido falar de nossa banda, sequer.

A nossa banda no dia da filmagem para o programa "Veja Música"

Bem, foi muito animador para nós, termos essa constatação, por obviamente se abrir um mundo novo para a expansão de nossa banda. Esperávamos também críticas negativas ou desdenhosas da parte de "trolls" & "haters", e isso de fato ocorreu, porém, para a nossa sorte, foi tão insignificante que nem merece registro. 

A maioria esmagadora das manifestações, foram super positivas, com comentários até surpreendentes da parte de pessoas que perguntavam, estupefatas, como seria possível uma banda como a nossa ser desconhecida do grande público, não estar a interagir na mídia mainstream etc. 

Ora, claro que manifestações assim foram ultra lisonjeiras para nós, e a despeito de achar desnecessário explicar as razões obscuras pelas quais artistas como o Pedra, não chegam em um patamar de exposição maior, para poderem atingir uma parcela maior do público, é lógico que foi uma luz a se acender em um túnel permanentemente escuro para quem vivia eternamente no underground.

A entrevista conduzida pelo jornalista, Sérgio Martins, no programa Veja Música.

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=LPJN9vX5bV0 

A performance de "Meu Mundo é Seu", no programa: Veja Música

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=y4MGj1f2UhI 

A interpretação acústica de "Filme de Terror", no programa: Veja Música.

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=yAz2pXOTwJ0 

"Projeções" mais acústica do que nunca, para a Veja Música.

Eis o Link para assistir no YouTube: 
https://www.youtube.com/watch?v=OTFQ7JwoGJo

"Cuide-se Bem", clássico do grande, Guilherme Arantes, na primeira leitura que o Pedra fez da canção, em formato acústico.

Eis o Link para assistir no YouTube: 
https://www.youtube.com/watch?v=jObLWD2o5vI 


Em suma, estávamos muito felizes por constatarmos que a repercussão inicial fora maciça e até acima das nossas expectativas.
Inclusive, ao se configurar como algo bastante acima da nossa mais otimista expectativa, o que foi bastante animador.

A nossa banda no dia da filmagem para o programa: Veja Música. Acervo e cortesia: Xando Zupo. Click: Desconhecido

Naquele instante, a nossa preocupação foi capitalizar ao máximo tal "momentum" positivo, embora soubéssemos que isso seria quase impossível para ser empreendido, por se levar em conta o fato de não termos empresário, agente, manager ou qualquer tipo de pessoa com a astúcia necessária, dentro desse universo do show business, para aproveitar essa oportunidade, adequadamente. Independente disso, estávamos contentes com esse resultado inicial, é claro.

A nossa banda no dia da filmagem para o programa: Veja Música. Acervo e cortesia: Xando Zupo. Click: Desconhecido

A partir desse ponto, ao contar com o reforço de um iniciante usuário de internet, meu caso, mas com toda a boa vontade para fazer o máximo possível, centramos as nossas baterias na divulgação do programa, "Veja Música" e do 1º single/promo lançado em 2010, para consumir a nossa energia e foco. 

Nesse ínterim, o Xando já se trancafiara no estúdio e passou a trabalhar fortemente na produção do novo promo de um novo single, que estava previamente programado para ser lançado em março. Como já salientei anteriormente, de minha parte eu não gostava dessa estratégia de se anunciar realizações antecipadamente, a não ser em questões pontuais como divulgação de shows, naturalmente.

E agora, com um certo distanciamento histórico suficiente para enxergar melhor os fatos, comprovo a minha tese, no sentido de que tal estratégia adotada pelo Xando Zupo, além de contraproducente como ação, lhe (nos) impunha uma forte pressão para cumprir metas, ao determinar um prazo apertado e isso começou a lhe minar as forças, pois para que pudesse produzir um vídeo inédito a cada "X" tempo. Subentendia-se igualmente que já havia perdido dias e dias em cansativas jornadas de mixagem do áudio de tais músicas. 

Portanto, pensar no vídeo em si, demandaria a mesma carga de atenção e tempo, ao gerar desgaste físico e psicológico para ele, Xando. Foi uma situação terrível, pois para auxiliar nessas funções, nenhum de nós três (eu-Luiz Domingues-, Rodrigo Hid e Ivan Scartezini), possuía noção alguma para auxiliá-lo, a não ser ao podermos emitir opiniões estéticas sobre algum resultado parcial, sugerir alguma eventual modificação e tudo mais.

No entanto, o trabalho braçal de tais construções, tecnicamente a falar, só poderia ser executado por ele, Xando Zupo.

Tal desgaste, tratou por acelerar o processo de sua insatisfação pessoal com a conduta dos demais membros, para se somar ao nosso tumor crônico, que fora desde sempre a dificuldade de não conseguirmos manter uma agenda sustentável. 

Não nesse momento inicial de 2010, mas ao longo do ano, por se sacrificar para colocar no ar os tais "promos" prometidos publicamente (realço a minha opinião: ao ter prometido publicamente tal realização, foi um erro estratégico), se revelou como um fator preponderante para precipitar um colapso posterior. 

Contudo, eu não quero antecipar a narrativa. Portanto, por enquanto, fevereiro de 2010, estávamos a viver um momento sob alento, com a exposição midiática já citada acima.

Sem muitos meios para aproveitar melhor o embalo que o programa "Veja Música" nos proporcionou, uma certeza ficou patente aos nossos olhos: a repercussão que a nossa versão acústica da canção: "Cuide-se Bem", do Guilherme Arantes, ganhou, nos surpreendeu. 

Não se tratou da questão de que não acreditássemos na força da canção, tampouco na figura histórica do seu compositor, que aliás se trata de um artista que todos admirávamos. 

Eu, Luiz Domingues, no Centro Cultural São Paulo, a atuar com o Pedra em 2009. Click, acervo e cortesia de Fabiano Cruz

Todavia, acostumados a lidar com a nossa versão para a canção, "Filme de Terror", do Sérgio Sampaio, e a pensar em todos os códigos inerentes que tal composição e ligação com o artista em si, possuíam, achávamos que sob um veículo mainstream como foi o caso da revista Veja e do seu braço audiovisual expresso pelo programa, "Veja Música", tal canção repercutiria mais de uma forma natural, todavia, a nossa versão de "Cuide-se Bem", se sobressaiu de uma forma absurda, ao acender um farol para nós. 

Tirante uma manifestação desagradável, vinda da parte de um músico veterano e infelizmente disléxico, que publicou um enorme depoimento com observações sob teor negativo, no meu perfil do Orkut (mensagem interna estilo "inbox", que só eu li, ainda bem), ao nos criticar por estarmos "a usar o Guilherme Arantes como muleta" para alavancar a nossa carreira, e da qual eu relevei completamente, dada a circunstância da infelicidades da sua tese equivocada, a esmagadora maioria das pessoas se mostraram encantadas pela escolha da canção e pelo arranjo & performance da nossa parte.

         Xando Zupo em ação com o Pedra. Foto: Grace Lagôa

Foi um mérito grande do Xando, que teve a ideia e a bancou com vigor, logo apoiado pelo Rodrigo Hid. Portanto, diante desse resultado prático que passamos a observar, não demorou para surgir a ideia de se gravar uma versão elétrica da mesma canção e aí sim, essa versão mais encorpada tornar-se-ia um sucesso ainda maior, mas é prematuro falar desse desenvolvimento ainda. Já chego lá!

Neste momento, a narrativa chega ao ponto de março de 2010, quando um novo single estava pronto para ser lançado através de seu veículo de internet, ou seja, um vídeoclip, ou, na minha maneira de ver, baseada em uma cultura mais tradicional: um "promo". 

O Xando trabalhou desta feita com a música: "Pra Não Voltar", um Hard-Rock bastante vigoroso, eu diria, e com uma linha de execução difícil na parte instrumental, mas também a se relevar como bastante prazerosa pelo arranjo que ficou ousado, em alguns aspectos. 

Como em janeiro, Xando e sua esposa, Grace Lagôa, haviam feito um cruzeiro marítimo para a Argentina, eles haviam capturado imagens de sua viagem e algumas eram completamente desconectadas da perspectiva familiar/ recreativa, portanto, foram muito bem usadas, como por exemplo impressionantes raios filmados no horizonte oceânico, a prenunciar uma tempestade em alto mar.

O promo oficial de "Pra não Voltar", lançado em março de 2010

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=ri3UQmvj7yQ


Além da beleza dos raios em alto mar, que chega a ser assustador de certa forma, o promo contém cenas intercaladas de uma filmagem de show do Pedra, na casa de espetáculos, "Central Rock Bar", em 2009, mas não sei precisar de qual dos três shows que lá fizemos nesse ano, e desconheço que o Xando Zupo tenha disponibilizado imagens desse show, separadas ou não, no YouTube. 

Outro recurso usado, foi o do "Chroma Key", no qual o improviso para capturar tais imagens foi total, com um resultado elogiável, em minha análise.

É claro que um profissional acostumado com produção audiovisual vai mirar e constatar a precariedade dessa produção, mas para 99.9 % das pessoas que assistem o vídeo, a impressão que as pessoas tem, é a de que usamos um estúdio com recursos, maquinário, parede preparada para se usar a técnica do "chroma key", iluminação profissional etc. 

Todavia, tudo foi filmado na própria sala de ensaio do estúdio Overdrive, a utilizar tecidos pretos improvisados pelas paredes para simular um chroma key ultra alternativo. 

A direção foi do Xando, que manteve na sua concepção, mais ou menos o que desejava e tudo foi bem simples: a ideia central foi mostrar ele mesmo a cantar o tempo todo e os demais componentes a terem aparições fantasmagóricas praticamente, ao se aproximarem à sua volta, para simular a entoação dos backing vocals. 

Fora disso, há cenas do solo de guitarra, filmadas nas mesmas condições e também alguns momentos da banda inteira a cantar o refrão, mas divididos em quadros, como em um mosaico, ao estilo da capa do LP "Let it Be", dos Beatles. 

Aliás, quando chega nesse ponto, destaco a performance pessoal do Rodrigo Hid, que elaborou uma expressão facial bastante convincente, como se fosse um ator profissional, ao mostrar um semblante que passa a impressão de um personagem debochado, cínico mesmo, e que tem a ver com a proposta expressa pela letra, de certa forma, ao falar sobre pessoas com dificuldades para se livrarem dos vícios em geral e da dependência química, em específico.

 
          Frame do vídeoclip/promo da música: "P'ra Não Voltar" 
 
Eu elogio bastante a predisposição do Xando por em ter concebido esse vídeoclip, na mais pura força de vontade, sem meios para tal. Ao relembrar as condições que tivemos e compará-las ao resultado final, é realmente digno de elogio o esforço e a capacidade criativa de se gerar algo tão convincente, com tão poucos recursos técnicos disponíveis. 
 
O embalo que tivemos nesse início de 2010, ainda foi bem motivado por conta do primeiro clip lançado em janeiro e intensificado pelo advento da nossa participação no programa: "Veja Música". Portanto, quando o promo de "Pra Não Voltar" foi lançado, o resultado que conseguiu obter na Internet foi bom, e a qualidade da música agradou em cheio aos fãs do Pedra. 
 
De minha parte, eu ainda era muito iniciante no uso da internet, mas também empreendi o meu esforço e assim angariei muitos simpatizantes novos para o Pedra. Ao interagir com estranhos, em muitas comunidades não necessariamente ligadas ao Rock, na Rede Social Orkut, e nem mesmo sobre música em geral, aliás, eu trouxe a atenção e simpatia da parte de muita gente para a nossa banda e logicamente que eu fiquei feliz por oferecer a minha contribuição mais incisiva no campo da divulgação, elemento que antes não tive meios para realizar.

Os apresentadores do programa, "Tah Ligado": Maga Lieri & Paulo Ragassi

Ainda em março, no dia 12, fomos convidados a participar de mais um programa cultural interessante no campo da TV de Internet. Desta feita, se tratou do programa: "Tah Ligado", do canal ALL TV, a se tratar de uma revista cultural bem-intencionada, conduzida pelo casal de apresentadores, Paulo Ragassi e Maga Lieri (esta, por sinal, era uma cantora de Soul Music que conhecíamos, pelo fato dela possuir discos lançados pela gravadora, "Ameliss Records", em que o nosso primeiro disco também fora lançado). 

Nessa participação, Xando e Rodrigo tocaram violões, mas resolvemos não usar equipamento de baixo para eu tocar também, e assim, o Ivan igualmente não levou consigo, instrumentos de percussão.

José Luiz Goldfarb: filósofo/físico e persona recorrente como intelectual a participar de programas da mídia em geral
 

Foi uma conversa descontraída e com a presença do físico e filósofo, José Luiz Goldfarb, uma figura recorrente em muitos programas de TV, inclusive nas emissoras abertas e tradicionais, que estava ali para falar sobre o poder do "Twitter", que pareceu ser a última grande novidade na internet, daquele momento de 2010...

Eis o Link para assistir p programa "Tah Ligado",  no Vimeo:
https://vimeo.com/10167733 


De volta a falar do último promo lançado,
nós prosseguimos a trabalhar forte nesse esforço pela sua divulgação e nessa altura, sob um gesto de boa vontade, eu me ofereci para cuidar dos dois perfis que a banda mantinha no Orkut e um deles a controlar a comunidade oficial do nosso grupo, naquela rede social. De fato, dali em diante, cuidei de tudo ali, até que o Orkut saiu do ar, no dia 30 de setembro de 2014, quando postei uma mensagem final de agradecimento em nome do Pedra, nos dois perfis e na comunidade. 

Em 15 de abril de 2010, uma matéria com página inteira foi publicada no Jornal da Tarde, de São Paulo, com um mote até surpreendente para a época, quando não havia indícios de resgate de raízes setentistas no Rock na cena de então. 

Mas se o jornalista em questão (Marco Bezzi, que aliás, ficaria famoso anos depois como um "Youtuber", através do seu canal: "Galãs Feios"), percebeu isso no ar, ótimo, que bom ter alguém da mídia mainstream, geralmente comprometida com a oposição ferrenha a tais ideais, que levantasse tal hipótese em meio ao deserto inóspito em que o Rock brasileiro vivia há décadas.

Claro, por se tratar de uma matéria generalizada, a entrevistar vários membros de bandas dessa suposta cena, não teve o foco exclusivo em nossa banda, mas foi óbvio que nós comemoramos o fato, pois nos deu, por conseguinte, a sensação de uma avalanche midiática, super bem-vinda para nós e para as demais bandas enfocadas. E não posso deixar de mencionar o fato positivo que a nossa foto saiu com grande destaque, em relação às demais fotos de bandas amigas. 

Outro fato animador ocorrido ainda em abril, foi o convite para participarmos ao vivo, a tocar e conversar em um outro programa de internet, chamado: "Talk Show", na "Just TV". 

O Pedra foi uma banda que teve pouquíssimas chances em programas de TV aberta, portanto, as raras ocasiões pelas quais nos abriram espaço para divulgarmos o nosso trabalho, se resumiram aos programas de internet, talk-shows, predominantemente. 

E foi o caso do convite que recebemos da parte da produtora, Célia Coev, que havíamos conhecido em 2008, por ocasião de nossa participação em um outro programa por ela produzido, chamado: "Loucuras do Alexandrelli", na própria emissora Just TV. 

Desta feita, o seu convite fora para outro programa sob a sua produção, chamado: "Talk Show", na mesma emissora já citada. Contudo, o estúdio onde era gravado o tal "Talk Show", ficava em outra instalação, no caso, nas dependências de uma faculdade particular no bairro de Moema, na zona sul de São Paulo. 

Realizado ao vivo e sob um ritmo frenético, pois não poder-se-ia admitir atrasos nessas circunstâncias, foi bastante divertido participar dele.

Programa Talk Show - Just TV - 20 de abril de 2010
 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=qsuyliWV240

O apresentador foi bastante simpático e se chamava: Fernando Sanini. A sua introdução na apresentação do programa já começou hilária, ao citar um aforismo sobre sexo, ao nos surpreender completamente, pois não teve nada a ver com o contexto geral do programa e muito menos conosco, ao soar muito insólito o seu improviso, assim que o programa entrou no ar. 

Nos bastidores, ele nos contara que era músico também e batalhava por sua carreira. Já na entrevista, a conversa foi bastante descontraída e até a conter momentos hilários (por exemplo, um telespectador chamado: "Ben Hur", pediu uma mensagem da parte da nossa banda e o Rodrigo foi rápido na resposta: -"boa corrida de bigas aí para você, Ben Hur... estamos a torcer por você"...), além de termos tocado no mesmo molde acústico com o qual fizéramos no programa da "Veja Música", todavia, sem o aparato de áudio e imagem daquela produção requintada. 

Aliás, nesse quesito é engraçado verificar no vídeo desse "Talk Show", a ocorrência dos estouros no áudio, provenientes do som de baixo e bateria, com o técnico a estabelecer correções drásticas, ali no calor da execução ao vivo. 

A falta de microfones para todos, também denunciara a precariedade de uma produção simples da internet, mas foi o tal negócio: foram programas assim que nos abriam as portas e praticamente eu posso afirmar que eles foram "outsiders" como nós, a buscarem espaço, portanto, além de sermos agradecidos, nos solidarizávamos com a luta deles, também. 

Entretanto, foi bastante divertido participar e nele tocamos as músicas: "Filme de Terror", "Meu Mundo é Seu" e "Nossos Dias". Aconteceu na noite de 20 de abril de 2010. 

O mês de maio de 2010, traria mais novidades boas para a banda, ao nos dar a impressão de que os ventos mudariam, enfim...

Já em abril, recebemos a notícia que o Sesc Vila Mariana estava a nos oferecer uma data para nos apresentarmos em um de seus teatros (nessa unidade, existem dois auditórios, além de que, a unidade costumava promover apresentações também na área ao ar livre, perto de sua lanchonete). 

Tal esforço fora um fruto de uma semente ali plantada há muito tempo, que remontava aos esforços em torno do lançamento do nosso disco inicial, em 2006. Sem um empresário forte a nos representar convenientemente, a possibilidade de entrarmos no circuito do Sesc foi um sonho que acalentáramos desde o início de nossas atividades, mas que tirante uma oportunidade sazonal e aleatória, ocorrida na unidade da cidade de Piracicaba-SP, em 2008, nunca houvéramos conseguido lograr êxito.

Entretanto, muitos materiais da nossa banda foram entregues repetidamente em diversas unidades dessa instituição. Eles foram levados por pessoas que se prontificaram a nos auxiliar nesses anos todos, porém, infelizmente nenhuma dessas unidades sinalizou com uma intenção sequer de abrir negociação. 

Todavia, um dia o telefone tocou, por que um material deixado na unidade do Sesc Vila Mariana, muitos anos antes (2006), finalmente chegou às mãos da cúpula de programação artística de tal unidade.

Foto da fachada da unidade do Sesc Vila Mariana, muito próximo ao estúdio "Overdrive" aonde o Pedra mantinha o seu "QG".
 
Emblemático, pois a Vila Mariana foi oficialmente o bairro sede do Pedra, já que todas as suas atividades se concentravam no estúdio Overdrive, de propriedade do Xando Zupo, ali localizado. Eu também era morador do bairro, desde 2007 e já havia morado ali em outra passagem, entre 1988 e 1990, portanto, nada melhor para o Pedra do que ter um show na unidade de seu bairro, com uma infraestrutura maravilhosa. Mas não foi tão fácil assim acertar os detalhes desse show. 

Primeiro que a burocracia exigida pelo Sesc, costumava extrapolar em muito a real necessidade para salvaguardar a lisura tributária e jurídica de um contrato entre o artista e a instituição. Já falei extensivamente sobre o que penso desse exagero perpetrado por tal instituição, no capítulo sobre a Patrulha do Espaço, portanto, não cansarei o leitor com uma repetição aqui.

E por imaginar no quanto isso aborrecer-nos-ia, recorremos à ajuda de uma pessoa amiga, e que além de ser da nossa inteira confiança, se mostrava notadamente bastante dinâmica e sobretudo, conhecia essa burocracia, pois já a havia enfrentado várias vezes anteriormente, a serviço de um produtor de shows, conhecido por nós, também. 

Tal pessoa se chamava: Cida Cunha, mas ela era conhecida pelo apelido de: "Macalé". Tratava-se de uma velha conhecida da Grace Lagôa e embora não fosse alguém ligada diretamente à musica, era amiga de muita gente do meio e por ser bem articulada e dinâmica, mesmo por não trabalhar diretamente com produção musical, ela havia feito vários trabalhos nesse sentido, ao contribuir com a resolução de entraves burocráticos, justamente nesse mundo de produção musical de shows nas unidades do Sesc, anteriormente, para outros artistas.

Cida Cunha trabalhou fortemente na parte burocrática e o show ficara marcado oficialmente para o dia 7 de maio de 2010.  
Nessa altura, já havíamos contatado uma agência produtora cadastrada no Sesc para emitir a nota fiscal desse contrato, no caso a "Condor", cujo mandatário era Vagner Garcia, ex-produtor artístico da gravadora Eldorado, onde eu mesmo fui contratado por um curto período, por conta do lançamento de uma coletânea, onde a minha banda nos anos noventa, Pitbulls on Crack, esteve presente com duas faixas, no ano de 1993, e claro, história contada com detalhes no seu respectivo capítulo.

O Pedra durante a gravação do programa "Veja Música" em dezembro de 2009. Acervo e cortesia: Xando Zupo. Click: desconhecido 

Estávamos embalados pela questão da aparição no programa, "Veja Música", além dos dois novos promos/singles que lançáramos, mas ao mesmo tempo, não tocávamos ao vivo desde outubro de 2009, quando de nossa apresentação em uma casa noturna de Joinville-SC. 

Foi muito tempo sob escassez de apresentações ao vivo para uma banda do nosso nível artístico e a lançar material que fazia ótima movimentação nas Redes Sociais da Internet, além de ser reconhecida por muitos jornalistas, pelo seu padrão de excelência etc. 

Será que finalmente esse show no Sesc Vila Mariana abrir-nos-ia portas maiores? Seria o fim da escassez em termos de oportunidades e também para os shows frustrantes, realizados em casas noturnas inadequadas para um tipo de trabalho que desenvolvíamos? Assim esperávamos e nos preparamos para aproveitar tal chance.

Belo cartaz a anunciar o show do Pedra, no Sesc Vila Mariana, em 2010, sob uma criação e arte final do estupendo artista plástico, Diogo Oliveira. A sua intenção foi nobre ao citar subliminarmente a arte de Van Gogh, em sua criação

Foi o primeiro show que eu fiz, na prerrogativa de poder divulgar a usar as redes sociais da Internet, ou seja, uma experiência nova e que me deu prazer, pois foi o começo de uma nova Era, no meu caso, já que acumulara experiência de empreender divulgação de shows, desde os meus tempos d'A Chave do Sol, porém, ao fazer uso de metodologia antiga, através dos meios materiais tradicionais. 

Burocracia feita, Cida Cunha se empolgou muito em nos auxiliar na produção geral, visto que a sua experiência pregressa com shows, fora só com essa parte burocrática, com a incrível papelada exigida pelo Sesc, normalmente. Então, depois desse show, Cida Cunha tornar-se-ia uma aliada da banda doravante, a se empolgar muito com a função.

Alguns dias antes desse show, eu fui acometido de um resfriado muito forte. Acamado, temi pelo agravamento do meu estado e procurei avaliação médica, todavia, mediante exames, se descartou a possibilidade de uma pneumonia. Foi um resfriado muito forte, mas consegui chegar ao dia do show com condições razoáveis para realizá-lo com desenvoltura. 

O cartaz desse show, foi um dos mais bonitos que tivemos em toda a história da banda. Arte assinada pelo grande, Diogo Oliveira, um artista plástico que muito admiro, faz referência à pintura impressionista de Van Gogh, um artista do qual ele sofre brutal influência na pintura.

Na mesma época do show, para seguir o cronograma estabelecido pelo Xando Zupo, um novo vídeoclip foi lançado. Tratou-se do promo da canção: "Mira", aquela música híbrida entre o Hard-Rock e o Jazz-Rock, cuja descrição eu já fiz em capítulo anterior. 

Por haver se tornado cada vez mais criativo e experiente, o Xando incorporou diversos elementos novos nesse vídeo, através de efeitos muito interessantes. Ele usou fotos e vídeos oriundos de diversos shows como matéria prima primordial para editar, mas caprichou em efeitos bons para lhe oferecer um diferencial.

O criativo vídeoclip oficial de "Mira"
 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=LV9VX1g63lk

Este, ao contrário, não despertou o mesmo interesse dos clips anteriores. "Mira" foi lançado em maio de 2010. A explicação para angariar menos sucesso, provavelmente foi motivado pela música ser mais difícil para ser absorvida, do que as anteriores, tanto pela sua musicalidade, quanto pelo fato de ser cantada em castellaño. Por ter sido lançado às vésperas do show no Sesc Vila Mariana, é claro que reforçou a ideia de uma ação maciça na internet naqueles dias e isso foi bom, naturalmente. Nesse ponto, chegara o dia do show, enfim.
Pedra no Sesc Vila Mariana, de São Paulo, em 7 de maio de 2010. Foto de Grace Lagôa
Chegamos à unidade do Sesc no período da tarde para o soundcheck e foi ótimo estar a dois quarteirões da minha residência, pois eu poderia até me reservar-me ao luxo de buscar algum objeto esquecido, a pé, e voltar em dez minutos.
As instalações do Sesc Vila Mariana eram (são) maravilhosas, não tenho dúvida, mas o excesso de normas em que a instituição se pautava, causava transtornos. Por exemplo, quando estacionamos os nossos respectivos automóveis na sua ampla garagem, um funcionário da produção do teatro nos informou que não poderíamos transportar o nosso backline, imediatamente para o ambiente do teatro que usaríamos, pois no caminho entre o elevador e o teatro, havia uma área preservada para escape em caso de evacuação de emergência do público, e naquele instante, aquele pequeno corredor precisava ficar livre, pois uma atividade de recreação infantil estava a ocorrer no saguão do teatro...

Fazer o que? Só a ler jornal na garagem para esperar que nos deixassem descarregarmos o equipamento... Clicks de Grace Lagôa

Ora, foi compreensível que houvesse o seu protocolo padrão de segurança, mas este se mostrara excessivamente exagerado em sua determinação, pois os nossos roadies em nada atrapalhariam a dinâmica da atividade ali realizada, e em hipótese alguma, caso houvesse a necessidade de evacuação rápida, não seria a presença de nossa atividade que atrapalharia a segurança, em nada.

Eu, Luiz Domingues, Xando Zupo e Rodrigo Hid no estacionamento do Sesc Vila Mariana em São Paulo. Maio de 2010. Click: Grace Lagôa

Irredutível, o funcionário não quis saber de nossas ponderações e teria sido primordial para o nosso cronograma, que o equipamento fosse transportado naquele momento, sob o risco de atrasar o soundcheck. 

Então, foi a constatação, mais uma vez, de que o Sesc é maravilhoso em inúmeros aspectos, mas peca em outros tantos pelas suas normas engessadas e notadamente por não pensar nas necessidades dos artistas que usam as suas instalações. Se melhorarem, será para o bem de todos!

Cenas do show do Pedra no Sesc Vila Mariana em São Paulo, no mês de maio de 2010. Clicks de Grace Lagôa

Com esse atraso em quase uma hora ocorrido ali na garagem, deu para colocar as piadas em dia, mas foram minutos preciosos que perdemos, visto que quando finalmente liberaram a nossa passagem, os nossos roadies tiveram que se desgastarem um pouco mais para que se recuperasse tempo perdido. 

Mesmo mais corrido, deu para fazer um soundcheck, razoavelmente bom. O técnico foi solícito conosco, mas claro que teria sido muito melhor contar com um dos nossos "Renatos", Carneiro ou Sprada, quiçá os dois, de preferência no comando do PA e monitor.

Cenas do show do Pedra no Sesc Vila Mariana em São Paulo, no mês de maio de 2010. Clicks de Grace Lagôa

Para amenizar o nosso desfalque na equipe técnica, o "mago da luz", Wagner Molina, estaria conosco mais uma vez e assim, foi a nossa garantia de uma iluminação com qualidade e muita criatividade.

Cenas do show do Pedra no Sesc Vila Mariana em São Paulo, no mês de maio de 2010. Clicks de Grace Lagôa

Apesar de morarmos no bairro, eu e Xando, nós ficamos pelo Sesc após o soundcheck, assim como os demais, pelo fato do show estar marcado para as 20:30 horas e assim preferimos ficarmos por ali mesmo para evitar contratempo. O camarim gigantesco e muito alto, o que nos deu uma visão muito bonita do nosso bairro, e nos divertiu muito nos momentos que antecederam o nosso espetáculo.

Cenas do show do Pedra no Sesc Vila Mariana em São Paulo, no mês de maio de 2010. Clicks de Grace Lagôa

Recebemos a visita do diretor da agência cultural Condor, Vagner Garcia, que estava ali presente a cumprir a sua função como produtor do show, ou seja, uma outra burocracia imposta pelo Sesc, portanto obrigatória. Mas claro que foi um prazer conversar com ele no camarim, quando tratamos a respeito dos velhos tempos da gravadora Eldorado etc. e tal. 

Teatro lotado, um produtor daquela unidade foi nos avisar que chegara a hora para irmos para o palco.

Cenas do show do Pedra no Sesc Vila Mariana em São Paulo, no mês de maio de 2010. Clicks de Grace Lagôa

Molina nos comunicou que não foi possível montar a iluminação que ele gostaria. Não houve tempo para elaborar aquela contra-luz impressionante que ele costumava montar para fazer dos nossos shows, algo diferenciado, ao nos garantir a aura de uma banda internacional. 

Paciência, ele nos disse que faria focos discretos, para buscar uma iluminação simples, na base do claro & escuro, a evitar as gelatinas coloridas por que não apreciara a disposição básica das torres de spots para o uso de cores. Aceitamos tranquilos tal parecer de sua parte, pois confiávamos totalmente nele. 

Entramos em cena com: "Filme de Terror" a emendar com "Queimada das Larvas dos Campos Sem Fim", e a minha impressão fora que as pessoas permaneceram amarradas na cadeira, tamanho o ímpeto em que tocamos. E não me refiro sobre a pressão sonora, pois estava tudo bem controlado, mas sim em relação a uma fúria Rocker, que nos contaminou subliminarmente pela atmosfera toda que ali fora criada. 

Cenas do show do Pedra no Sesc Vila Mariana em São Paulo, no mês de maio de 2010. Clicks de Grace Lagôa

Foi o tal negócio, ao termos condições adequadas, a banda respondia com energia muito renovada, diferentemente de shows realizados em casas noturnas com equipamentos sofríveis e/ou a receber a apatia blasé da parte de plateias formadas por incautos & bêbados em geral.

Mais um flagrante do show do Pedra no Sesc Vila Mariana em São Paulo, no mês de maio de 2010. Clicks de Grace Lagôa

Uma novidade ocorreu quando nós tocamos uma música há muito tempo não executada ao vivo: "Amanhã de Sonho", que na minha lembrança soou com uma tessitura bastante delicada, a impressionar o público, notadamente quem nos acompanhava há mais tempo e foi surpreendido com a sua inclusão. 

E tal canção foi seguida por: "Cuide-se Bem" e "Meu Mundo é Seu", ou seja, acho que criamos assim uma sequência emocional de primeira linha aos fãs do trabalho, principalmente para o público feminino. 

"Estrada", ao vivo no Sesc Vila Mariana em 7 de maio de 2010
 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=j8M8pZFMI6s
"Nossos Dias no Sesc Vila Mariana, em 7 de maio de 2010
 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=711s9A2mV-M

Portanto, já havíamos angariado o público com as duas primeiras músicas e na sequência, foi só administrar os pontos estratégicos, emocionais do espetáculo. Teatro pequeno, não havia muita pressão sonora, mas ao menos no palco me pareceu tudo equilibrado.

"Sou Mais Feliz" no Sesc Vila Mariana, em 7 de maio de 2010
 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=iifRr2S5wxE
"Amanhã de Sonho", no Sesc Vila Mariana, em 7 de maio de 2010
 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=B-bM3z-kscs 
"Meu Mundo é Seu", no Sesc Vila Mariana em 7 de maio de 2010
 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=43GCp_sQXIg

"Queimada das Larvas dos Campos Sem Fim", no Sesc Vila Mariana, em 7 de maio de 2010
 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=DPOeSEAnKDw

E assim fomos a desfilar o nosso repertório, além da presença da versão elétrica de "Cuide-se" Bem", do Guilherme Arantes, que passou a figurar no set normal da banda doravante e com grande aceitação do público. 

Aliás, o Rodrigo usou o piano acústico do teatro, a incorporar os seus teclados habituais e com isso, visualmente o palco ficou bem bonito, com essa imponente presença.

Pedra no Sesc Vila Mariana em São Paulo, no mês de maio de 2010. Clicks de Grace Lagôa

Tocamos por aproximadamente uma hora e meia, com ótima receptividade do público e uma sonoridade que a se escutar pelos vídeos desse show, que foram disponibilizados no YouTube, posteriormente, acredito ter sido bem agradável para quem assistiu da plateia, com pouca pressão, mas sob um equilíbrio bem feito. A mixagem ao vivo também parece razoável pelos vídeos e tal opinião foi corroborada pela lembrança dos relatos das pessoas que nos abordaram, no momento do pós-show.

Pedra no Sesc Vila Mariana em São Paulo, no mês de maio de 2010. Clicks de Grace Lagôa

Sesc Vila Mariana, dia 7 de maio de 2010, com cento e vinte pessoas na plateia. Missão cumprida, tocamos em um belo teatro e segundo o Vagner Garcia e a Cida Cunha apuraram, a cúpula da unidade adorou o nosso show e também a nossa postura dentro da unidade, desde a hora em que chegamos ao estacionamento e acredite leitor, eles observam tudo e tem artista que é veterano, tem fama mainstream e apronta baixarias nos bastidores, a macular a sua imagem no Sesc e em outros lugares. Bem não preciso nem nomear alguns casos gritantes, que são públicos e notórios.

Pedra no Sesc Vila Mariana em São Paulo, no mês de maio de 2010. Clicks de Grace Lagôa

A nossa esperança foi doravante, com o sucesso desse show, de que que o Sesc finalmente abrisse as suas portas e nós passássemos a nos apresentarmos por outras unidades de São Paulo e outras cidades, exatamente como muitos artistas o faziam há anos, a estabelecer uma agenda contínua e sustentável.

Pedra no Sesc Vila Mariana em São Paulo, no mês de maio de 2010. Clicks de Grace Lagôa

Nesse mês de maio teríamos mais um programa de TV de internet para aparecer, convidados que fomos, mas com o nosso ânimo inteiramente renovado após um show finalmente realizado em um teatro de qualidade, a nossa meta primordial como artistas.
No camarim do Sesc. Pedra no Sesc Vila Mariana, em 7 de maio de 2010. Clicks: Grace Lagôa

Pedra no Sesc Vila Mariana em São Paulo, no mês de maio de 2010. Clicks de Grace Lagôa

Passado o show do Sesc Vila Mariana, logo a seguir, ainda em maio, tivemos mais um compromisso de TV de Internet. A produção de uma universidade particular, chamada, "Uniban" (Universidade Bandeirante), nos contatou e propôs que fizéssemos um programa produzido pelos alunos do curso de rádio e TV, chamado: "Musicban".

Aceitamos o convite, naturalmente, pois como eu já salientei várias vezes, foram nulas as chances para aparecermos em programas da TV aberta, portanto, não dispensávamos produções obscuras que nos abriam as portas, pelo simples fato de que precisávamos da exposição, mínima que fosse, mas certamente também ao reconhecer o esforço dessa difusão nanica, que era semelhante, ipsis litteris, ao nosso esforço como artistas do underground. A trocar em miúdos, nos identificávamos com a luta desses pequenos empreendedores culturais, tão vítimas dos bloqueios que dominam a difusão cultural mainstream, quanto nós. 

Enfim, o pessoal dessa produção marcou a filmagem para um dia útil e foram nos visitar no estúdio Overdrive. Foi uma longa conversa, com muitas músicas tocadas e quando lançado, foi dividido em duas partes, ao se parecer com um mini documentário.

Pedra no Sesc Vila Mariana em São Paulo, no mês de maio de 2010. Clicks de Grace Lagôa

Depois de editado, tal reportagem nos surpreendeu muito pela qualidade em que se apresentou e também pela seriedade pela qual a banda foi retratada, para se tornar, portanto, um documento bonito sobre a trajetória e o trabalho da nossa banda. Tal vídeo foi exibido em um canal universitário, desses que entram em pacotes de TV a cabo como contrapartida obrigatória para as operadoras, mas que são jogados em pontos obscuros da grade geral e infelizmente, quase ninguém assiste.

Pedra no Sesc Vila Mariana em São Paulo, no mês de maio de 2010. Clicks de Grace Lagôa

Ele foi postado no YouTube e ali ficou alojado por anos, mas agora que eu gostaria de disponibilizar o seu link para a degustação do leitor, infelizmente não o achei mais nas buscas. Muito provavelmente ele tenha sido retirado do ar pela própria instituição. 

Seguimos a planificação estabelecida e no início de julho, a banda lançou o quarto single/promo, a conter a música: "Só".

Pedra no Sesc Vila Mariana em São Paulo, no mês de maio de 2010. Clicks de Grace Lagôa

Nesse vídeo, o Xando Zupo quis acrescentar um diferencial, pois baseado nos promos realizados anteriormente, a dinâmica generalizada foi a de usar fotos e vídeos mesclados para compor as imagens. 

Apenas em "Pra Não Voltar" houve uma novidade extra, com a inserção de imagens dos componentes sob um chroma key ultra improvisado, mas nesse momento ele se mostrara constrangido em lançar um quarto clip, nos mesmos moldes dos anteriores, e convenhamos, teve razão nesse aspecto. 

Portanto, ele propôs uma participação da banda em um simulacro de dramaturgia. Ou seja, a se tratar de um terreno mega espinhoso, pela obviedade dele não ser roteirista ou diretor e nenhum de nós, atores. 

Mas foi além, pois filmar em condições precárias, sem iluminação adequada e a improvisar a própria sala de estar do estúdio para encenar/filmar, teria tudo para fazer dessa produção, algo risível. 

Porém, nós entendemos a preocupação que o afligia, por que realmente foi preocupante lançar mais um vídeo a usar a mesma fórmula dos anteriores, a despeito da canção ser ótima e por tal motivo, um clip constrangedor a prejudicaria.

Não compactuo com as ideias & ideais do senhor Charles Bukowski, definitivamente...
 
Aceitamos colaborar e o Rodrigo faria mais participações nesse vídeo, ao encarnar o personagem protagonista, proposto na letra da música. 

Sobre a temática, a abordagem melancólica, triste e deveras deprimente, foi o tipo de mensagem que eu não gostava (gosto). Já falei sobre o quanto tenho aversão à visão "Bukowskiana" da vida, aquela apreciação decadente representada pelos personagens das peças teatrais do Plínio Marcos e influenciados pelo existencialismo de Jean Paul Sartre, em via de regra etc. 

Nesse aspecto, eu tive até um contratempo desagradável com esse tipo de posicionamento, pois o Xando Zupo propôs uma cena simples com todos os membros da banda a celebrarem um brinde e obviamente no uso de alguma bebida alcoólica. 

Quando estava para se filmar enfim tal cena, eu falei que brindaria com um copo de plástico para deixar a coloração de um refrigerante exposta e isso ficaria visível, visto que os demais usariam taças para insinuar estarem a ingerir vinho ou outra bebida semelhante.

Naquele momento, profundamente desgostoso com a condução que se dava ao clip e por testemunhar o Rodrigo Hid a ser filmado em deprimentes closes a fumar e beber, por interpretar um sujeito derrotado na vida, eu não quis fazer parte disso, ao vincular a minha imagem pessoal em prol de tais princípios que abomino. 

No entanto, tal tomada de posição radical de minha parte pareceu ao demais uma postura tola, um devaneio mesmo de minha parte, porém eis que eu me recusei a participar com conivência sobre a questão do brinde e o Xando se chateou, por não entender o meu incômodo em sua plenitude, mas a interpretá-lo como uma reles má vontade minha para com a produção em si e por conseguinte, com a banda.

Eu, Luiz Domingues ao vivo com o Pedra no Café Aurora de São Paulo em maio de 2006. Click: Grace Lagôa

Sei que exagerei na intransigência e isso fugiu completamente às minhas características normais de me portar sempre como uma pessoa razoável e que não costuma criar problemas, aliás, pelo contrário, sempre procuro ser colaborativo ao máximo, mas nesse dia, achei desagradável abonar esse tipo de mensagem, ainda que fosse um fato consumado, pois se tratava do teor da letra da música, já irreversivelmente lançada dessa forma.

Outro ponto que precisa enfatizado, à luz da razão, o fato de eu brindar com um copo de refrigerante não poderia ser interpretado como uma afronta para ninguém, nem mesmo para a dramaturgia ali proposta.

Diante do impasse, o Xando cancelou a ideia da cena do brinde, mas o clip é permeado por essa abordagem em torno do tabaco e do álcool, principalmente pelas cenas em que o Rodrigo interpretou. 

Sei que uma banda sem recursos como a nossa, não reunia condições para contratar equipe profissional de filmagem, atores e um diretor do nível do Eduardo Xocante, que tanto nos ajudou em 2005 e 2006, respectivamente. 

Sei que a intenção e o esforço do Xando, foram extraordinários para montar esse clip em específico e sei também que seria inevitável a abordagem desse padrão, pelo teor da letra da canção.

Todavia, naquele instante, eu resolvi não fui subserviente em face a algo que não acreditava e abonava e daí, graças ao imbróglio criado de minha parte, atípico por sinal, ficou um clima tenso entre todos, notadamente entre Xando Zupo e eu, Luiz Domingues.
Bem, ainda a comentar sobre esse clip, uma ideia surgiu sob total improviso, ali no calor da filmagem: alguém sugeriu (acho que foi o próprio, Rodrigo Hid), que houvesse uma tomada com o personagem principal, no caso, interpretado por ele mesmo, a tocar piano.

O nosso amigo, baixista do Tomada, Marcelo Bueno, estava presente e se propôs a filmar tal cena mediante o uso de uma locação sugerida de última hora, a ser filmada em uma loja especializada em vender pianos que ficava (ainda fica, 2016), localizada em uma rua bem próxima do estúdio Overdrive. 

Então, eles arriscaram irem à loja, e ao abordar o seu proprietário que foi simpático, este senhor autorizou a filmagem em seu estabelecimento, sem reservas. Filmagem amadorística, mediante uma mini câmera DVD, sem iluminação extra, enfim, em menos de uma hora, ambos já estavam de volta ao estúdio Overdrive, com muitas imagens capturadas que o Xando tratou por importar para o programa de edição, imediatamente. 

Bem, acho que está bem explicada a minha desavença contra abonar cigarros e bebidas alcoólicas.

Apesar de conter tais imagens que não são do meu agrado, acho que o clip ficou bom e por se considerar a precariedade total dessa produção, o resultado final, se mostrou heroico. 

Lembro-me que o único recurso de iluminação disponível, foi o de um refletor de luz para uso em ensaio de fotografia, equipamento da Grace Lagôa. Reforço bom para a produção fotográfica, mas inadequado para filmagens, é preciso salientar, certamente que apenas apoiou modestamente. 

Agora, discordâncias éticas a parte, a música é belíssima e anula completamente qualquer má impressão que possa se gerar sob outros parâmetros que eu observei.

O vídeo clip oficial da música "Só"

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=ODBo1ShmZ88 

Eu divulguei com bastante afinco entre os meus primeiros contatos virtuais e a resposta foi excepcional. Até em fóruns oriundos de comunidades de fãs de bandas sessenta-setentistas, a música recebeu elogios rasgados, notadamente fãs dos Beatles que reconheceram nela, uma aura semelhante à do trabalho do "Fab Four", o que me deixou imensamente feliz e até honrado. 

Em agosto, teríamos mais um programa de TV obscura para participar, mas claro que iríamos com o mesmo ânimo, como se fosse em um programa mega popular no qual nos exibiríamos para cem milhões de pessoas.

Na primeira foto, a banda já a atuar e na segunda, uma foto da nossa banda no monitor do estúdio, que foi usada para ilustrar a entrevista. Participação do Pedra no programa "Music All" do canal Net TV em agosto de 2010. Clicks de Grace Lagôa

Recebemos então mais um convite para participarmos de um programa com baixa audiência, a ser filmado ao final de agosto de 2010. Tratou-se de um programa denominado: "Music All", veiculado em um canal comunitário da grade da operadora de TV a cabo Net, genericamente chamado como: "Net Cidade", contudo, isso não fora uma exclusividade, pois mais canais assim existiam na grade dessa operadora, com o mesmo título.

Estacionado na porta do estúdio do canal Net Cidade em Santo André-SP, eis no parabrisa traseiro do meu (Luiz) carro o adesivo do Pedra a contrastar com a placa do canal. Click: Grace Lagôa  

Infelizmente, se tratou de um canal obscuro, talvez existente porquanto alguma contrapartida que a operadora teria o dever de fornecer, obrigada pelo poder público, como condição sine qua non para estar regularizada, acredito. 

Aceitamos participar, ao termos em mente a pequena vantagem que teríamos, dentro da linha de raciocínio que já expressei amplamente em capítulos anteriores.

Na imagem invertida da lente, o logotipo do Pedra, no estúdio do canal Net TV. Participação do Pedra no programa "Music All" do canal Net TV em agosto de 2010. Click de Grace Lagôa

A gravação foi realizada em um estúdio na Avenida Gilda, na cidade de Santo André-SP, na região do ABC paulista e nós fomos informados que o programa teria uma duração aproximada de uma hora, a intercalar a entrevista e a performance da banda ao vivo, para tal, nós tocaríamos entre seis e oito músicas, claro, ao se levar em conta uma metragem média a observar entre três a quatro minutos para cada uma, sob um padrão Pop radiofônico e tradicional.

Participação do Pedra no programa "Music All" do canal Net TV em agosto de 2010. Click de Grace Lagôa

Portanto, se o canal e o programa em si, provavelmente dar-nos-iam visibilidade muito diminuta, tamanha a sua insignificância em termos de audiência, ao menos teríamos um espaço para tocar ao vivo e com razoável tempo para estabelecer uma amostra do trabalho, e melhor ainda, a tocarmos normalmente sob o nosso padrão, e não ter que nos submetermos ao desconfortável formato "acústico".

Participação do Pedra no programa "Music All" do canal Net TV em agosto de 2010. Clicks de Grace Lagôa

Escolhemos uma boa mescla de canções dos dois discos lançados e de certa forma, a privilegiar mais as novas músicas que estavam a serem lançadas como singles de 2010, com direito a promos de Internet.

Participação do Pedra no programa "Music All" do canal Net TV em agosto de 2010. Click de Grace Lagôa

Recebemos instruções prévias da parte da produção do programa, de que no pequeno estúdio onde seria feita a filmagem, haveria um equipamento disponibilizado, mas que nós poderíamos levar o nosso backline próprio, ao nosso critério. Resolvemos levar parte do nosso equipamento, sob uma versão reduzida, para o ambiente de um estúdio de TV.

Participação do Pedra no programa "Music All" do canal Net TV em agosto de 2010. Clicks de Grace Lagôa

Outra particularidade que foi alertada, foi que nesse pequeno estúdio de TV, havia uma pequena arquibancada e que nós poderíamos convidar até vinte pessoas para assistir a performance ao vivo e que isso seria bom para haver um quórum popular ali, a conferir um clima favorável para a banda, com pessoas a baterem palmas, apoiarem com o calor humano, enfim.

Participação do Pedra no programa "Music All" do canal Net TV em agosto de 2010. Clicks de Grace Lagôa

Dessa forma, ainda a engatinhar no uso do computador e interagir nas redes sociais, nessa altura eu já possuía cerca de setecentos "amigos virtuais", na Rede Social Orkut (mais de duzentos no Messenger, e cerca de mil, no Facebook, esta última rede social, aliás em que havia recentemente aderido, ao abrir conta), e sendo assim, convidei pessoas que havia conhecido virtualmente e que sabia que gostariam de ver o Pedra em ação, por meu intermédio e moravam em cidades da região do ABC, para reforçar a lista que a banda já continha com presenças garantidas, notadamente os fãs-fidelíssimos, Fausto e Alessandra Oliveira, o casal infalível em nossos shows, e que por acaso, moravam em Santo André-SP.

Pedra + Equipe técnica da banda + apresentador do programa + amigos que prestigiaram a filmagem no estúdio, nesse dia. 

Em suma, rapidamente tal lista de presença foi preenchida, e assim, fomos para essa filmagem, que se realizou no dia 19 de agosto de 2010.

Participação do Pedra no programa "Music All" do canal Net TV em agosto de 2010. Clicks de Grace Lagôa

Ao chegarmos ao pequeno estúdio, sabíamos de antemão que eles gravavam vários programas em cada sábado, portanto, havia naquele instante, um Power-Trio a tocar e filmar antes de nós. Formado por meninos muito jovens e esforçados, mas nitidamente iniciantes na carreira, o seu som mostrava muita fragilidade, contudo, eles compensavam a falta de técnica, com muita força de vontade. 

Mobilizamo-nos, a ajudar os nossos roadies, e nesse dia, o meu primo, Emmanuel Barreto, que fora roadie do Pedra, no ano de 2006, e um entusiasta da banda desde sempre, esteve conosco, igualmente.

Participação do Pedra no programa "Music All" do canal Net TV em agosto de 2010. Clicks de Grace Lagôa

Pelo fato do estúdio ser pequeno, tivemos que fazer um esforço para acomodar o nosso equipamento e instrumentos, ao visar não atrapalhar os bastidores, já bem tumultuados com equipamentos de outras bandas que estavam de saída do ambiente e uma outra ali presente, que adiantada no seu cronograma, gravaria depois de nós. 

E pelo que verificamos, o programa se revelava eclético, a despeito de ser obscuro, pois abria portas para qualquer tipo de música. Antes de nós, tocava esse Power-Trio com um som pesado, a tentar fazer um som ao estilo do Hard-Rock mais moderno, mas depois de nós, seria a vez de uma banda orientada pelo Reggae jamaicano tradicional.

Participação do Pedra no programa "Music All" do canal Net TV em agosto de 2010. Click de Grace Lagôa

Os técnicos de som e da filmagem, foram simpáticos para conosco e apesar da absoluta pressa caótica que ali reinava, para se filmar uma banda e iniciar logo a seguir a filmagem da próxima, esses profissionais não foram grosseiros conosco que eu me lembre, mesmo ao trabalharem sob uma pressão absurda, com o tempo exíguo para cumprirem as suas metas. 

O visual do cenário foi bem simples. Ao analisar ali in loco, pareceu-me tudo minimalista e simples, mas depois que vimos o resultado na TV, dias depois, a impressão que tivemos foi satisfatória ao se considerar ter sido uma produção marcada pela notória simplicidade.

Xando Zupo em destaque. Participação do Pedra no programa "Music All" do canal Net TV em agosto de 2010. Click de Grace Lagôa

Uma particularidade desse programa, foi que por não possuir na época, condições para fazer uma edição caprichada de áudio e imagem, os seus produtores haviam se acostumado a filmar em regime de tomada única, como se fosse ao vivo, ao relevar pequenos erros cometidos. 

O apresentador sabia disso e estava acostumado com tal disposição e a produção nos avisou para agirmos de forma igual. Portanto, uma banda mal ensaiada ali dar-se-ia mal, pois não haveria meios para se consertar erros crassos, fora as possíveis gafes verbalizadas durante a entrevista etc.

Enquanto o apresentador abria o programa, nós ao fundo lhe fornecemos uma trilha sonora improvisada. Participação do Pedra no programa "Music All" do canal Net TV em agosto de 2010. Click de Grace Lagôa

Fizemos, sob um pedido da produção, um clima sonoro para o apresentador começar a falar e isso foi bem interessante, pelo improviso e a seguir, executamos as nossas músicas.

Durante a entrevista. Participação do Pedra no programa "Music All" do canal Net TV em agosto de 2010. Click de Grace Lagôa

Entre o bloco das primeiras músicas e o bloco da entrevista, fomos instruídos a tocar a última música, desligarmos os amplificadores e ao observarmos o máximo silêncio possível, irmos nos sentarmos na pequena sala de estar, onde a entrevista aconteceria no outro canto do estúdio e assim que terminasse a conversa, voltarmos rapidamente ao palco e que voltássemos a tocar, ou seja, foi hilário fazer isso!

O apresentador a falar sobre o nosso CD Pedra II. Participação do Pedra no programa "Music All" do canal Net TV em agosto de 2010. Click de Grace Lagôa

O objetivo deles fora minimizar ao máximo os eventuais erros cometidos e assim, com o programa a ser filmado em tomada única, sem interrupções e a sincronizar, como se estivesse a ser filmado e editado ao mesmo tempo. Senti-me a atuar no teleteatro ao vivo, na TV dos anos cinquenta, neste caso!

Durante a entrevista. Participação do Pedra no programa "Music All" do canal Net TV em agosto de 2010. Click de Grace Lagôa

O resultado final ficou bom, apesar das precariedades óbvias e assim se tornou uma peça interessante para o videofólio da banda, tanto quanto o programa, "Musicban" que graváramos em abril do mesmo ano.

Participação do Pedra no programa "Music All" do canal Net TV em agosto de 2010. Click de Grace Lagôa

Quando nos deram a data em que seria exibido o programa, eu fiz uma divulgação maciça, ao espalhar as coordenadas para todos os meus contatos das redes sociais pelas quais eu estava inscrito na época. Gastei dias nessa operação, mas não reclamei disso, pelo contrário, estava por apreciar ser útil à banda, ao me aprimorar no uso da ferramenta de divulgação nova em meu caso, que foi a Internet.

A culpa não foi minha, amigos virtuais... Participação do Pedra no programa "Music All" do canal Net TV em agosto de 2010. Click de Grace Lagôa

Contudo, no dia e horário prometidos, outra banda foi exibida no programa. Isso gerou uma frustração tremenda, e eu tive que responder para dezenas de pessoas que me cobraram uma explicação. E não havia... simplesmente os produtores dessa atração simplesmente nada nos disseram.

Rodrigo Hid em ação. Participação do Pedra no programa "Music All" do canal Net TV em agosto de 2010. Click de Grace Lagôa

Alguns dias depois, finalmente a nossa participação foi ao ar, e aí sim, despertou muitos comentários positivos, e a cada dia, eu abria mais frentes para a banda nas redes sociais, mesmo que eu fosse um usuário muito incipiente, ainda e mal a dominar o be-a-bá de um computador caseiro...

Rodrigo Hid em destaque! Participação do Pedra no programa "Music All" do canal Net TV em agosto de 2010. Click de Grace Lagôa

Não encontrei o programa postado no YouTube, para anunciar o link. 

Em setembro, uma oportunidade ótima apareceria para nós, e desta vez, em uma emissora de rádio de primeira grandeza no mercado radiofônico!

Participação do Pedra no programa "Music All" do canal Net TV em agosto de 2010. Clicks de Grace Lagôa

E nesse ínterim, também gravamos a música do Guilherme Arantes: "Cuide-se Bem", sob uma versão elétrica, mais ou menos a manter o arranjo da versão acústica, mas ao invés dos dedilhados com sabor "country" dos violões, nesta versão elétrica o foco ficou nas intervenções de slide da parte do Xando Zupo, com bastante peso e muita inspiração m torno do Blues-Rock. 

Sem descaracterizar a intenção Pop da canção, o peso que essa intervenção de slide trouxe, remeteu a nossa versão ao "Led Zeppelin", tranquilamente. Eu ouço esse arranjo do Xando e me recordo imediatamente de: "In My Time of Dying", do mestre Jimmy Page e convido o leitor a experimentar a comparação, também.

Rodrigo Hid aos teclados. Participação do Pedra no programa "Music All" do canal Net TV em agosto de 2010. Click de Grace Lagôa

Todavia, a música contém outros atrativos, como eu já mencionei. As intervenções com os teclados, executadas pelo Rodrigo Hid, são belíssimas, incluso o rápido, mas belo solo através do órgão Hammond. 

O Xando havia evoluído muito como produtor & editor de vídeos para a internet, mas apresentara uma crise criativa na concepção do vídeo anterior, ao perceber que não tinha um grande manancial de imagens para trabalhar, a fugir das repetições inevitáveis de tais parcos recursos e clichês dos anteriores, e assim se viu acuado quando concebeu o promo da música, "Só", conforme já relatei anteriormente.

Diogo Oliveira é o primeiro à direita nessa foto de 2009. Os demais, na mesma ordem: eu (Luiz Domingues), Marcião Gonçalves e Ivan Scartezini. Click: Grace Lagôa

Então, entrou em cena a figura genial do artista plástico, Diogo Oliveira e assim, com ele no comando da produção do promo para essa canção, o Xando Zupo pode relaxar, ao lhe extrair muito da pressão, ou auto pressão que lhe acometera com essa meta pré-anunciada, em "ser obrigado" a produzir um promo a cada novo bimestre. 

Enfim nas mãos do grande, Diogo Oliveira, enquanto esperávamos ansiosos por esse clip, recebemos o convite de um programa de rádio muito renomado, chamado: "Radar Cultura", a se tratar de uma revista cultural sensacional produzida pela Rádio Cultura de São Paulo.

Convite aceito com entusiasmo, logicamente, pois não fora em todo momento que a mídia mainstream nos dera oportunidades. Dessa forma, eu (Luiz Domingues) e Xando Zupo, representaríamos a nossa banda em uma boa conversa realizada nos estúdios da emissora, no bairro da Barra Funda, zona oeste de São Paulo.

E quando chegamos lá, descobrimos que haveria um terceiro personagem a interagir conosco, que seria um blogueiro e ativista cultural convidado pela produção, para comentar a nossa conversa, como um observador equidistante. 

Confesso que nunca havia concedido uma entrevista com tal formato e achei a ideia boa, em princípio. Contudo, até o dia da entrevista em si, não sabíamos quem seria o tal blogueiro, e convenhamos, nem todo ativista cultural tem a mesma linha de raciocínio sobre o que é cultura, contracultura, subcultura, anticultura & afins. Portanto, poderia ser alguém dotado de uma visão muito antagônica à nossa, e talvez a polêmica gerada pudesse obscurecer a nossa fluidez para nos expressarmos, sobre o nosso trabalho. Portanto, seria um perigo, visto por esse ângulo.

Entretanto, ficamos mais aliviados quando soubemos que tal ativista seria um velho conhecido nosso, no caso, mais da minha parte do que do Xando Zupo, chamado: Luiz Carlos "Barata" Cichetto. 

No capítulo sobre a minha história com a Patrulha do Espaço, eu falei amplamente sobre a sua figura, portanto, não repetirei aqui para não ser enfadonho com o leitor. Todavia, mesmo por ser teoricamente "um dos nossos", o Barata assumidamente não simpatizava com o Pedra, e isso havia gerado algumas desavenças no ambiente da internet, anteriormente, quando ele publicou em seu blog, críticas ácidas contra o nosso trabalho. 

Para resumir, ele achava a nossa banda, indefinida, no sentido de se apresentar como híbrida entre transitar pelo Rock e pela MPB e na sua visão, isso o incomodava por nos considerar pretensiosos por adotar essa posição estética em alardearmos possuir um horizonte artístico mais eclético. 

Ficamos meio estremecidos por conta dessa desavença, é bem verdade apesar de eu particularmente achar que a opinião é livre, e nesses termos, claro que ele teve o direito para pensar assim ao nosso respeito. 

No entanto, o Luiz extrapolara na forma como se expressou em minha opinião e assim comprometera o seu sagrado direito de não gostar da nossa proposta e poder dessa forma, emitir a sua opinião livre. 

Enfim, quando nos encontramos nos bastidores da emissora e eu verifiquei que o clima estava ameno, pareceu que a nossa desavença estava superada, e assim eu fiquei mais aliviado. Detesto clima pesado em torno da animosidade.

Uma rara foto de nossa participação no programa, "Radar Cultura", na Rádio Cultura de São Paulo, em 2010. Da esquerda para a direita: Eu (Luiz Domingues), Xando Zupo e a mediadora do programa, a radialista, Renata Martineli. Click, acervo e cortesia de Cesar Gavin
 
Já com o programa em curso, fomos entrevistados por uma bela radialista, muito simpática e bem articulada, chamada: Roberta Martineli e por um igualmente bem preparado radialista, Alceu Maynard. A entrevista foi muito boa e uma colocação que o Xando fez a respeito da saudosa cantora, Elis Regina, supostamente ter tido em sua vida uma postura muito mais Rocker que muito Rocker, chamou a atenção do radialista e blogueiro, Cesar Gavin, que estava no estúdio a assistir a entrevista, e isso rendeu uma matéria no seu ótimo canal de YouTube, "Vitrola Verde" (e também em seu ótimo Blog, "Rockbrasileiro.Net"), posteriormente.

Gavin aproveitou a oportunidade e fez com que o Xando Zupo fosse convidado a elaborar um playlist para a Rádio, a eleger outras cantoras que achava que detinham tal "atitude" que ele atribuíra à finada, "Pimentinha".

Baixista, blogueiro, Youtuber e ativista cultural dos mais pertinentes do Brasil: Cesar Gavin!

Gavin, que se tornou um bom amigo desde então, filmou o programa para inseri-lo no seu canal do YouTube, Vitrola Verde. Neste vídeo abaixo, trata-se de uma edição com alguns momentos apenas, não é a entrevista na íntegra, mas creio que Gavin foi feliz em escolher uma boa amostra.


Eis aqui a parte 1, dessa entrevista ao programa "Radar Cultura":
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=K6GA0PP1zY0

Abaixo, a parte 2, da entrevista:

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=BrpAUb1WRrI

Aqui, o Link da entrevista do Pedra, no Canal Vitrola Verde, do Cesar Gavin:
http://cesargavin.blogspot.com/2010/10/banda-pedra-no-radar-cultura.html

E abaixo, o Link para a seleção "Mulheres da Pesada", escolhida por Xando Zupo para o playlist da Rádio Cultura:

http://www.culturabrasil.com.br/programas/radarcultura/cincosons/mulheres-da-pesada-por-xando-zupo-3

Estas três fotos acima, foram gentilmente cedidas pelo Luiz "Barata" Cichetto, tempos depois que escrevi este capítulo e agora ficam aqui inseridas para ilustrar melhor o episódio citado. Foto 1: Três feras do jornalismo cultural, da esquerda para a direita: Luiz "Barata" Cichetto, Alceu Maynard e Cesar Gavin. Foto 2: Eu (Luiz Domingues), Xando Zupo e a radialista, Roberta Martinelli. Foto 3: Eu (Luiz Domingues), Luiz "Barata" Cichetto e Xando Zupo. Pedra no programa "Radar Cultura", da Rádio Cultura de São Paulo, em setembro de 2010. Acervo e cortesia de Luiz "Barata" Cichetto. Clicks: Izabel Cristina Giraçol

Passada essa entrevista para a Rádio Cultura, o clip da música: "Cuide-se Bem" estava quase pronto e quando vimos as primeiras provas oficiais...

Frame do clip da música "Cuide-se Bem, de Guilherme Arantes, sob a versão do Pedra. Lançado em 2010. Criação de Diogo Oliveira e Dedé Kanashiro

Diogo Oliveira era sabidamente por todos nós, um artista multimídia, sensacional. Artista plástico, desenhista, webdesigner, publicitário e músico multi-instrumentista, não só pelos talentos todos arrolados, mas também pela enorme criatividade e cultura avantajada que detinha (detém), todos esses atributos o credenciaram praticamente como um gênio ao meu ver e eu não sou dado a exageros indevidos, portanto, amigo leitor, tal consideração de minha parte tem a sua razão de ser. 

Portanto, com tais características tão acentuadas, foi óbvio que quando ele assumiu a criação e produção do vídeoclip que representaria a música, "Cuide-se Bem", ficamos descansados quanto à qualidade que ele imprimiria em tal produção. 

Contudo, quando vimos o resultado, ficamos chocados com a constatação de que superara em um patamar altíssimo, muito maior do que a nossa mais otimista das expectativas. 

O clip é simples em sua concepção, mas a ostentar uma criatividade absurda, que tranquilamente poderia pleitear participar de festivais de curta-metragem e até mesmo figurar entre peças publicitárias, a se excetuar o fato de não conter uma metragem padrão, nesse último caso.

Outro frame do clip da música "Cuide-se Bem, de Guilherme Arantes, sob a versão do Pedra. Lançado em 2010. Criação de Diogo Oliveira e Dedé Kanashiro

Por se tratar de um misto entre ilustrações e interação humana, ficou no cômputo geral permeado por uma concepção singela, quase como uma animação infantil, e dessa forma, a se revelar capaz de encantar as pessoas pela sua delicadeza na abordagem. 

Focado na ideia de se basear em um livro, como se evocasse mesmo os clássicos livrinhos com histórias infantis, eis que quatro mãos humanas vão a virar as páginas, de maneira a interagir com os desenhos que acompanham a letra da música. 

A banda participa da animação, mas sem mostrar o rosto dos seus componentes, apenas a mostrar as mãos e braços no ato de tocar instrumentos, com imagens que foram capturadas no estúdio Overdrive e inseridas em um desenho muito lúdico, de um velho monitor de TV. 

Absolutamente criativo, tenho a opinião de que se trata de um clip muito bonito e que realçou a música e nossa versão em específico, ao valorizá-la de uma forma muito intensa.

O festejado Vídeo Clip de, "Cuide-se Bem":  

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=rf-VQpsLgQk

Diogo Oliveira brilhou muito e confirmou pela bilionésima vez se tratar de um artista genial. Honra seja feita, um colega publicitário de Diogo, é creditado como coprodutor, um rapaz chamado: Dedé Kanashiro, e de fato, este o ajudou muito nessa produção, sendo inclusive vital como participante direto, pois as suas mãos aparecem para dar apoio às mãos de Diogo Oliveira, no clip em si, ao manipularem o livro e outros objetos cênicos que foram usados. 

Não posso mensurar se Dedé teve uma cooperação ainda maior no campo das ideias, nunca soube disso. Mas se houver essa participação maior, fica registrado aqui que a pecha de genialidade que coloquei sobre os ombros de Diogo Oliveira, lhe cabe, também. 

O clip foi lançado ao final de outubro de 2010 e foi um estouro em termos de repercussão. Alcançou seguramente muitas visualizações no YouTube e ao se espalhar pelas redes sociais de uma forma contundente, chamou muito a atenção e nos deu um óbvio alento.

Eu, Luiz Domingues, a aguardar o início da filmagem do programa. Participação do Pedra no programa "Music All" do canal Net TV em agosto de 2010. Click de Grace Lagôa

No meu caso em específico, a enxurrada de manifestações que eu recebi, principalmente pela extinta Rede Social, Orkut, foi extraordinária. O Orkut vivia os seus dias de desprezo da parte de muitas pessoas que o abandonavam, diariamente, mas o meu perfil era muito ativo e movimentado, por que eu não embarquei nessa onda de vilipêndio proposital e o mantive muito vivo, até o seu último dia de atividade, em 2014. 

Por isso, eu recebi seguramente mais de cem comentários vindos de pessoas encantadas com a sua qualidade e em sua maioria, amigos virtuais que eu havia conhecido ali mesmo. Alguns dias depois de lançado, verificamos com muita alegria que o próprio, Guilherme Arantes, se manifestara, a deixar uma bela mensagem de apoio para nós e a demonstrar publicamente o seu contentamento com a nossa versão.

Alusão à música: "Cuide-se Bem" do Guilherme Arantes, mediante a capa do LP em que ela está contida, lançado em 1976

Para todos nós, foi motivo de orgulho e satisfação verificar tal manifestação sincera do autor da canção e no caso, um artista que muito admirávamos.

Capa do LP homônimo de Guilherme Arantes, lançado em 1979

Portanto, o fato de Guilherme ter aprovado com tanto entusiasmo a nossa versão, e posso afirmar sem exagero que a nossa releitura de sua canção é quase como se o Led Zeppelin a leria, também, portanto, ficou perfeitamente coerente com as suas convicções pessoais dentro da música, das quais eu concordo inteiramente. 

Mais que essa manifestação pública, Guilherme foi ultra simpático conosco ao nos abordar por e-mail, e assim reiterar o seu agrado com a versão da música, também sobre o clip belíssimo e mais que isso, ao se colocar à disposição para tocar conosco em um show, como convidado especial (mais do que especial, é claro), e ao ir além, ele nos ofereceu o seu estúdio localizado na Bahia, onde morava na ocasião, para a nossa banda gravar, quando quisesse. 

Leia abaixo a postagem pública que Guilherme Arantes deixou no YouTube, na postagem do clip de nossa versão de sua canção:

"A versão da Banda Pedra é absolutamente fantástica, um som maravilhoso, muito bem tocado e cantado, com estilo impecável, um luxo de verdade. Fiquei muito orgulhoso e feliz desses músicos, com essa pegada "mortal", estarem interpretando essa musica minha, num resgate inesquecível para mim. Queria que soubessem o quanto eu gostei e fiquei honrado com essa gravação e o clip super bem realizado. Uma experiência única para o criador da musica. Por favor, poste este meu comentário por mim , até como testemunha do quanto eu fiquei grato a eles".

Guilherme Arantes

Poxa, que sucesso total ter essa consideração toda da parte dele, ficamos muito contentes. 

Dois dias depois do Guilherme nos abordar de uma maneira pública e pessoalmente, também, nós tivemos uma entrevista na Webradio Stay Rock Brazil. Entrevistados via skype pelo músico e ativista cultural, Cezar Bastos, eu particularmente cometi uma gafe, imperdoável nesse dia.

Ao citar o nome da webradio, a lhes agradecer pela entrevista, me enganei e citei o nome de uma outra emissora, por sinal, concorrente ferrenha dessa rádio, dentro desse nicho das Rádios Rock de internet. Por sorte, o Cezar Bastos levou na brincadeira e percebeu que eu fora traído por uma informação errada disponibilizada pelo Xando Zupo que enquanto eu falava, me entregara uma anotação com o nome da outra estação, por engano... foi hilário, apesar de trágico. Aconteceu em 29 de outubro de 2010.

Eis abaixo, o Link dessa entrevista na Webradio Stay Rock:
http://stayrockandroll.blogspot.com/2010/10/stay-rock-brazil-mes-de-outubro-2-anos.html

Uma velha amiga minha e produtora que eu admirava muito por trabalhos muito bem feitos em favor de uma banda da qual fui componente, décadas antes, quando se manifestou para expressar a sua opinião sobre o clip de "Cuide-se Bem", me acionou para uma conversa reservada, via "depoimento", no velho Orkut, e a se mostrar impressionada com a banda, demonstrou querer conhecer mais o nosso material e assim me convidou para uma conversa, pessoalmente em seu escritório. Haveria de ser uma luz no final do túnel, enfim?

Dois momentos do Pedra: em setembro de 2006, no Via Funchal e em março de 2008, no Teatro X, ambos em São Paulo. Clicks de Grace Lagôa

Muito contente sobre a abordagem alvissareira da parte dessa velha amiga e produtora, marcamos um encontro em seu escritório, localizado na Vila Madalena, na zona oeste de São Paulo. Não se tratava de um escritório exclusivo dela, mas de uma produtora de vídeo, onde ela estava a trabalhar naquela atualidade, como diretora. 

Tal empresa costumava realizar trabalhos para duplas sertanejas emergentes e a minha amiga trabalhava ali justamente por ter adquirido experiência em lidar com esse espectro de artistas popularescos, visto ter atuado por anos em gravadora major, a lidar com esse tipo de artista.

A grande produtora, Cida Ayres, pessoa que muito admiro e pela qual, tenho gratidão em minha carreira

Tal pessoa era uma produtora e amiga que muito admirava, chamada: Cida Ayres. 

Sou o primeiro da direita para a esquerda, a usar chapéu de cowboy, nessa foto do Língua de Trapo, publicada em um jornal mainstream paulistano, em 1984, época em que Cida foi o nosso "anjo da guarda", como produtora dessa banda

A minha lembrança da Cida foi a melhor possível, pelo fato dela ter sido uma produtora com enorme capacidade de trabalho, com muita versatilidade e iniciativa para resolver inúmeros problemas do cotidiano da banda, mediante uma criatividade enorme e boa vontade, de forma exemplar, quando a conheci por ocasião da minha segunda passagem pelo Língua de Trapo, entre 1983 e 1984. 

Além disso, na ocasião ela simpatizara com a minha outra banda, A Chave do Sol, e por conta desse afeto que nutrira, muito nos auxiliou, ao nos fornecer dicas preciosas e até a interagir pessoalmente em muitas ocasiões, para nos facilitar contatos importantes na mídia e no mundo empresarial. 

Cida Ayres foi o braço direito do empresário, Jerome Vonk, e se mostrara nítido o quanto trabalharam como uma dupla eficaz, a atenderem as demandas em favor do Língua de Trapo. Dessa forma, reitero o que já disse no capítulo dessa banda, ou seja, os agradeço muito por isso.

Eu, Luiz Domingues em ação com o Pedra no Sesc Vila Mariana em maio de 2010. Click de Grace Lagôa

Portanto, tantos anos depois e por não ter tido conhecimento sobre outros trabalhos que eu fiz nesse ínterim, foi muito gratificante para a minha pessoa, que Cida Ayres me redescobrisse e a atuar em uma banda que continha um espectro artístico com potencial para flertar com o mainstream, além da substância musical, poética, categoria e experiência de seus componentes, individualmente a falar. 

Cida me conhecera muito jovem e agora eu ostentava um acúmulo de experiência enorme, com então quatorze discos lançados no mercado e o meu portfólio pessoal se tornara gigante. Portanto, eu muito me animei com esse contato, evidentemente.

Still do vídeoclip da música: "Régui Spiritual", do Língua de Trapo, filmado em 1984. Sou o primeiro à esquerda.

Quando eu cheguei em seu escritório, nos confraternizamos, a conversarmos sobre os velhos tempos do Língua de Trapo e A Chave do Sol, naturalmente, mas ela também me contou sobre os anos e anos em que trabalhou em gravadora major, e a experiência que acumulou por ter sido assessora de artistas mainstream do mundo sertanejo, a dirigir pessoalmente a construção de carreira desses rapazes. 

Confirmou, portanto, o que eu já intuía, ao dar conta de que salvo raras exceções, a maioria desses artistas populares, construídos por mecenas advindos do agronegócio interiorano e com respaldo das gravadoras major, detinham baixo nível educacional e cultural, portanto lhe deu um trabalho muito grande em sua "construção de carreira". 

Sobre o Pedra, nesse contato inicial, ela me explicou bem que desde que havia deixado uma gravadora major, não trabalhara mais diretamente com música, e que naquele instante, nessa produtora de vídeo, o seu contato era mais indireto, ao tratar de administrar o negócio, apenas no campo das negociações com as equipes de produção de artistas que os procuravam, ao visar filmarem vídeoclips e ou DVD's de shows ao vivo.

Mas me alertou também que pensaria em ajudar o Pedra, certamente. Deixei-lhe em mãos, o nosso material de portfólio e os dois álbuns da banda, naturalmente. 

Falei-lhe também que uma pessoa amiga da banda estava a tentar se inserir no mercado como produtora, a nos ajudar efetivamente. Tratava-se de Cida Cunha, que nos auxiliara por ocasião de nosso show no Sesc Vila Mariana, em maio último e neste momento estava a tentar nos arrumar novas oportunidades dentro dessa instituição, por ter visitado várias unidades dela, e a entregar o nosso material na mão de produtores artísticos dessa organização.

No estúdio da Net Cidade, a acompanhar a filmagem do Pedra para o programa: "Music All", Cida Cunha à direita e Fausto Oliveira, o fã fidelíssimo, à esquerda. E o que ele segura em sua mão, não é o que parece... Click: Grace Lagôa

Ao pensar que Cida Cunha não tinha experiência alguma como agente de artistas, mas demonstrava uma força de vontade extraordinária para tentar cumprir tal missão e nos auxiliar, perguntei para a sua xará, Cida Ayres, se ela não importar-se-ia se eu a levasse comigo na próxima reunião que teríamos dias depois, para que ela Cida Ayres, lhe desse algumas dicas.

E assim, alguns dias depois, lá estávamos nós, Cida Cunha e eu, diante da minha velha amiga, Cida Ayres, em seu escritório. Cida Ayres me disse que gostara dos discos, mas achava difícil pleitearmos espaço no mundo mainstream com esse material. 

Experiente nessa altura dos acontecimentos, tal afirmação não me surpreendeu, é claro. Fazia tempo, muito tempo que a difusão mainstream estava circunscrita ao mundo popularesco sob monopólio total e artistas como nós, 100% antagônicos ao tipo de artistas que professavam tal ditame, não detinham chance alguma.

Pedra no Sesc Vila Mariana de São Paulo em maio de 2010. Click de Grace Lagôa

No entanto, qualquer brecha, por mínima que fosse, seria bem-vinda e nós tínhamos músicas em nosso repertório que poderiam ser absorvidas tranquilamente no mundo mainstream. 

Músicas como: "Sou Mais Feliz", "Nossos Dias", "Meu Mundo é Seu", "Amanhã de Sonho", "Só" e até a versão de "Cuide-se Bem" (mesmo ao se considerar ser "pesada" em relação à versão original do Guilherme Arantes), seriam exemplos disso. 

Então, por ser muito generosa, Cida Ayres apanhou a sua agenda pessoal e disparou vários telefonemas ali, na nossa frente, para contatos muito fortes que ela detinha nos bastidores de programas de rádio e TV mainstream, e portanto, ao usar de sua influência, falou com pessoas que lideravam tais produções, a apresentar o Pedra como uma banda que ela recomendava com ênfase etc.

Participação do Pedra no programa "Music All" do canal Net TV em agosto de 2010. Click de Grace Lagôa

Saímos do seu escritório com vários endereços anotados para enviarmos material pelo correio, direcionados diretamente para os contatos com os quais Cida Ayres havia falado por telefone, em nossa frente, e claro que nos animamos. 

Um desses programas apenas que nos desse uma chance, teria sido uma oportunidade de ouro para termos uma exibição mainstream e sem a cobrança do maldito jabá, e isso teria sido extraordinário, como ajuda para a nossa carreira. 

Claro que eu sabia que a difusão cultural mainstream estava toda comprometida, há anos, pela instituição nefanda do jabá. Contudo, nutri uma mínima esperança de que através de uma produtora bem relacionada como Cida Ayres, que continha contatos sólidos nesses bastidores, se ao menos uma pequena brecha surgisse, baseado na relação de prestígio pessoal que ela mantinha com tais produções, seria ótimo para nós.

E havíamos tido um pálido exemplo disso, quando ainda em 2010, um e-mail que veio para nós, da parte de um produtor da Rede Globo, nos sondara sobre a possibilidade da música: "Sou mais Feliz", fazer parte da trilha sonora de uma novela nova que estava a preparar. 

O iluminador, Wagner Molina, havia entregue o nosso material nas mãos de produtores da Rede Globo, no Rio de Janeiro, e daí o contato se consumara. Pois a conversa evoluiu e assim, esses executivos da Rede Globo nos enviaram a minuta do contrato e um manual com regras da sua corporação, como por exemplo, a obrigatoriedade de regravarmos a música em estúdio estipulado por eles e sob as ordens de um produtor musical a opinar no arranjo e na concepção do áudio, além de deixar claro que fariam versões incidentais com trechos da canção para serem usados em ocasiões diferentes durante os capítulos da trama folhetinesca, além do regulamento sobre os direitos do fonograma, para que ele entrasse nos CD's oficiais a serem comercializados com a trilha oficial da novela. 

Deixaram-nos claro que aquela comunicação fora apenas um aviso prévio, e que outras quatro canções estavam por serem analisadas, simultaneamente. Nunca mais nos mandaram e-mails e assim deduzimos que escolheram outra música, naturalmente.

Entretanto, nos ficou essa impressão, ou seja, sim, estava tudo dominado nos bastidores, mas havia uma brecha mínima ainda para "outsiders", como nós, portanto, de minha parte, achei que algum contato da Cida, baseado em seu prestígio pessoal com essas pessoas, poderia frutificar. 

E houve nesse bojo, contato peso-pesado como por exemplo com o "Programa do Jô" e o "Altas Horas", do Serginho Groisman, entre outros, ou seja, atrações televisivas muito famosas da ocasião. 

Mandamos o material pelo correio, conforme a Cida havia dito aos seus contatos via telefone, mas nenhuma resposta veio até nós. 

Claro que isento a Cida Ayres desse fracasso, afinal de contas não foi novidade alguma para todos nós, que a difusão cultural mainstream estava comprometida pelo odioso "pedágio do jabá"...

Uma última ação perpetrada pela boa vontade da parte da Cida Ayres, se deu quando eu percebi que ele se frustrara também pelos seus contatos nos ignorarem retumbantemente. 

Em uma última reunião, em que a visitei em seu escritório, ainda em 2010, ela mudou o tom da conversa e passou a me alertar sobre gestão de carreira, experiência que adquirira ao cuidar da imagem de duplas sertanejas em uma grande gravadora major, em que trabalhara nos anos noventa. 

Pelo teor da conversa, enquanto me falava sobre como duplas sertanejas emergentes ficavam excitadas por saírem de remotas cidades interioranas, notadamente do estado de Goiás, para tomar "banho de loja e cabeleireiro" em São Paulo, geralmente bancadas por mecenas, fazendeiros e industriais ricos desse estado citado, eu notei que a sua intenção fora me expressar algumas mensagens subliminares sobre o Pedra e a minha figura em si. 

Tudo o que observara fora extremamente realista e a sua intenção foi a melhor possível ao considerar que estava "a me abrir os olhos", porém, ao mesmo tempo, eu já sabia disso tudo há anos e minha (nossa) arte não era feita para atender tais propósitos nada nobres.

Nessa hora, eu notei também que ela estava contaminada por uma visão da música, sob o ponto de vista mais mercadológico e distante da arte possível, fruto de anos e anos em estar no contato com gente alimentada por tal mentalidade ou seja, executivos que apostavam apenas na expectativa em torno do popularesco como material artístico a ser difundido e sobretudo, sem nenhuma preocupação com arte, a tratar a música como um produto barato, disponível em uma gôndola de supermercado. 

Portanto, "gerir carreira", passara ao largo das preocupações com a música em si, mas se tratava na verdade de levar ex-trabalhadores rurais ao estrelato, "ao se construir as suas carreiras" baseadas em roupas caras adquiridas nas lojas de alto luxo da Rua Oscar Freire, tão somente. 

Nesse parâmetro, é claro que o Pedra não continha perfil para se encaixar nem em 1% dessa prerrogativa e ainda a pensar nesses termos, ao enxergar pela minha aparência pessoal naquele instante, já a ostentar os cinquenta anos de idade, com o cabelo e a barba a ficarem grisalhos, abdome proeminente... em suma, com aspecto de "Hippie velho", batia ipsis litteris com a experiência que eu tivera poucos anos antes, quando uma produtora da Rádio Gazeta FM, e totalmente dentro dessa mesma mentalidade, me dissera que não acreditara que eu fosse artista, mas pelo contrário, pensara que eu estivesse ali na sede da emissora como empresário de um artista popularesco qualquer...

Eu, Luiz Domingues a esparar pela filmagem. Participação do Pedra no programa "Music All" do canal Net TV em agosto de 2010. Click de Grace Lagôa

Em resumo: BB King não teria chances com essa gente, e que se dane a música em via de regra.

Bem, pessoa boníssima, Cida Ayres ainda tentou me prestar uma ajuda, ao alegar que queria conhecer a banda inteira e manter uma conversa franca, para conosco. 

A sua última cartada seria nos apresentar a um famoso produtor, de alta fama nos anos oitenta, para tentar nos ajudar. Não falei nada, mas a despeito de respeitar muito o sujeito por ela citado, como músico e produtor, na contrapartida eu sabia também que a sua mentalidade estava coadunada pelo sistema, desde o fim dos anos setenta e ele não aguentaria ouvir nem dez segundos de qualquer música nossa, mesmo as que nós considerávamos as mais comerciais, em nossa concepção, que certamente seria muito diferente da visão dele. 

Em um gesto de boa vontade mútua, marcamos um encontro no estúdio Overdrive, entretanto, no dia marcado para tal reunião se concretizar, ela não compareceu, simplesmente. Isso aconteceu no início de dezembro de 2010.

Acho que a sua consciência lhe avisou que seria inútil tentar ajudar uma banda que na sua concepção detinha uma obra, imagem e mentalidade tão distante das condições mínimas que se espera de um artista que pleiteia o mainstream, que não valeria a pena tentar nos persuadir disso, por levar em conta que éramos homens maduros e no meu caso, já a caminhar para a terceira idade de forma célere.

De nossa parte, nós não tínhamos nenhuma ilusão a respeito da fama mainstream. Apenas achávamos que poderia haver uma pequena brecha para nós e isso poderia nos ajudar a termos um pouco mais de exposição, o suficiente para entrarmos de vez no circuito de shows no Sesc, mas sem sonhar com a fama popularesca, a tocar para multidões formadas por cinquenta mil pessoas em festas de rodeios agropecuários, como esses aspirantes a famosos das duplas sertanejas sonham, costumeiramente. 

Bem, o fato dela não ter ido nos visitar ao final de 2010, em nada abalou a minha admiração e gratidão por tudo o que ela fez de bom para a minha carreira nos tempos de Língua de Trapo e A Chave do Sol, e inclusive ao se somar agora, essa boa vontade em ter tentado ajudar o Pedra. Portanto, sou muito grato a Cida Ayres, por ter tido esse gesto também com o Pedra, tantos anos depois.

Outra ideia que surgira entre outubro e dezembro de 2010, foi para gravarmos uma série de músicas ao vivo, mas dentro do estúdio, para um possível especial a ser veiculado na rádio Brasil 2000 FM. 

O Osmar "Osmi", produtor e locutor histórico daquela emissora, adorou a ideia e rapidamente isso ganhou a aura de um "projeto", com outras bandas também a participarem de tal empreitada e dessa forma, a abrir frente para vir a se tornar um programa regular daquela emissora.

Isso seria bom não apenas para o Pedra, mas também para o estúdio Overdrive, em uma ação de marketing que certamente trazer-lhe-ia mais clientes. 

E muito bom para uma cena de bandas boas que nos cercavam em nosso rol de amizades, mas com possibilidade de expansão, a atingir outras tantas que poderiam embarcar nessa oportunidade. 

Ao brincar com a ideia, eu falei que aquilo poderia ser chamado como: "Overdrive Live Sessions", ao aludir sobre o clássico programa do canal norte-americano, TNT, o "TNT Live Sessions", que fez muito sucesso nos anos noventa. 

O Xando Zupo gostou da ideia, levou a sério, e assim batizou o seu projeto quase dessa forma, como: "Overdrive Sessions". 

Gravamos a nossa parte, com a presença do Renato Carneiro a auxiliar na operação e com a participação do Osmar "Osmi" a assistir tal gravação e foi absolutamente ao vivo, sem nenhuma chance para serem usados os "overdubs".

Pedra ao vivo no Sesc Vila Mariana de São Paulo em maio de 2010. Click de Grace Lagôa

Como uma "demo-tape de luxo", a gravação ficou excelente, exatamente por se considerar que não haveriam overdubs, portanto, muitos vazamentos seriam inevitáveis, como se fosse um show ao vivo, potencializado pelo fato em tocarmos na sala de ensaio entulhada por equipamentos e todos a vazarem pelos microfones instalados na bateria, amplificadores e sobretudo nos microfones para a captação da voz dos quatro componentes da banda. 

Mesclamos músicas dos dois discos iniciais, além dos singles, recém lançados em 2010, e a presença de uma música absolutamente inédita, chamada: "Luz da Nova Canção", que só seria gravada oficialmente em 2013, quando a banda estaria a voltar à ativa após o hiato de 2011 (já estou quase a chegar nesse ponto de dissolução inicial de 2011). 

Contudo, o clima na banda estava pesado, apesar dos inúmeros sinais de sucesso que o clip de "Cuide-se Bem" estava a nos proporcionar, e tal projeto foi deixado de lado, para somente ser retomado em 2012, e assim, no momento oportuno, falarei mais detidamente sobre ele, portanto.

Mas isso não atrapalhou os planos de expansão do Xando Zupo para o seu estúdio e outras bandas gravaram o especial: "Overdrive Sessions", entre elas, o Golpe de Estado que estava com formação novíssima, a apresentar o vocalista, Dino Linardi e o baterista, Roby Pontes, como novos componentes em suas fileiras. 

E também, bandas como o Tomada, Cracker Blues e o guitarrista, Marcio Tucunduva, um artista interessante, porém que não era do nosso rol de amizades, e que o Xando Zupo descobrira na internet, e se encantara com o seu trabalho. 

Cheguei a sugerir a inclusão da banda: "O Voo Livre", que eu também descobrira nas redes sociais, e pela qual eu estava bastante impressionado com o seu trabalho, mas o projeto também não prosperou além desses nomes que citei, e tudo foi engavetado, logo a seguir. Salvo engano de minha parte, o guitarrista, Marcio Tucunduva nem chegou a gravar. 

O ano de 2010 estava por se encerrar, enfim.

Na primeira foto, a participação do Pedra no programa "Music All" do canal Net TV em agosto de 2010 e com a minha presença flagrada pela câmera que fazia testes de imagem nesse instante. Na segunda, Pedra ao vivo no Teatro Olido de São Paulo em julho de 2009. Clicks de Grace Lagôa

Vínhamos de uma fase desgastante sob a gangorra dos altos e baixos quando o ano de 2010, se iniciara. Contudo, apesar dos pesares, logo no começo do ano, os ânimos se apaziguaram com as boas novas que logo surgiram através da repercussão alcançada pelo lançamento do single de: "Queimada das Larvas dos Campos Sem Fim" e ainda mais com o anúncio que veio da parte da Revista Veja, ao dar conta de que o programa, "Veja Música", seria disponibilizado em fevereiro.

Os singles ao serem lançados, com os seus respectivos promos, se somaram ao combustível novo que eu, um recém-ingresso no mundo virtual dei à banda, ao angariar muitas simpatias inéditas para o nosso trabalho. 

Um bom show em uma unidade do Sesc, e no bairro onde eu e Xando Zupo morávamos, sinalizou tempos novos.

Frame do vídeoclip da música: "Mira", do Pedra. Produção de Xando Zupo

Uma produtora inexperiente no meio, mas com extrema boa vontade para querer trabalhar conosco, também nos deu a impressão de que o seu apoio redundaria em um impulso da ordem gerencial. Um convite para uma entrevista em rádio do patamar mainstream, mais o arrebatador clip de "Cuide-se Bem", nos fez crer que os ventos mudariam. Guilherme Arantes, em pessoa, também acreditou em nós e nos apoiou, publicamente.

Frame do vídeoclip da música "Cuide-se Bem" do Guilherme Arantes, sob a versão do Pedra. Direção de Diogo Oliveira e Dedé Kanashiro

O fã-clube de Guilherme Arantes fez contato conosco e mediante o fato de que seus dirigentes haviam ficado encantados com a nossa versão e o clip (os seus membros já haviam apreciado a versão acústica do programa, "Veja Música"), eis que tal cúpula prometeu trabalhar fortemente a mobilizarem os seus associados para que ligassem maciçamente para as emissoras de rádio a lhes pedir a execução da nossa versão de "Cuide-se Bem". 

Será que um expediente tão antigo e ingênuo, diante da solidez da indústria do jabá nas emissoras de rádio, surtiria tal efeito?  Pelo visto, não... e ficamos só com o apoio da Brasil 2000 FM, infelizmente, sem chance para tal ação vir a se tornar uma ação viral, como tanto precisaríamos para chegar em algum lugar maior.

Frame da nossa participação no programa: "Veja Música, no ar em fevereiro de 2010

Uma produtora amiga (e muito querida), agora sinalizara apoio ao nos abrir a sua agenda com contatos fortes, outrossim, nem o seu prestígio pessoal sensibilizou ninguém da mídia a nos abrir uma porta sequer, como Sérgio Martins o fizera gentilmente em nome da Revista Veja.

"Live Sessions na Brasil 2000 FM", uma ótima ideia, e com um produto ótimo e honesto: uma banda de verdade, sem armações de estúdio, a tocar ao vivo, sem maquiagem...

Pedra ao vivo no Sesc Vila Mariana de São Paulo em maio de 2010. Click de Grace Lagôa

O clima interno na banda não melhorara apesar dessas boas novas, algumas ótimas, como eu descrevi acima, mas na minha concepção, tudo seria superável e a luta continuaria normalmente em 2011.

Despedimo-nos então para um recesso a abrigar as festas de fim de ano de 2010 e combinamos o reencontro para a segunda semana de janeiro de 2011. O ano findou, se finalizaram as festas e quando eu toquei a campainha da residência do Xando Zupo, no dia combinado para o reencontro, em janeiro de 2011...

Eu, Luiz Domingues, a aguardar com sonolência o momento para atuar na filmagem. Participação do Pedra no programa "Music All" do canal Net TV em agosto de 2010. Click de Grace Lagôa

Continua...

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