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sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Pedra - Capítulo 7 - Vá a Escutar - Por Luiz Domingues


Um outro assunto que correu paralelamente, foi sobre o festival internacional ao qual participaríamos. O produtor de tal evento, Marcelo Francis, nos recebera para vários encontros marcados para tratar desse assunto, ao sinalizar finalmente que o festival fora concretizado. Contudo, muitos fatores mudaram em relação às informações iniciais. 
A primeira constatação foi que esteve descartada a realização do evento no estádio da Portuguesa de Desportos, conforme a projeção inicial. Nessa altura dos acontecimentos, os Mutantes estavam mesmo a se reagruparem oficialmente, mas com a sua formação baseada ao máximo na sua original dos anos sessenta e não a da fase progressiva dos anos setenta, e não por isso, mas por outras questões, tal icônica banda foi descartada do festival. Assim como os artistas internacionais, Alice Cooper, Whitesnake e o Focus, ainda que o show solo de seu ex-guitarrista, Jan Akkerman, estivesse confirmado. 

Todavia, a boa nova foi que o "Uriah Heep" foi confirmado, o que reforçara o caráter internacional do evento. E por outro lado, duas bandas nacionais, versadas pela estética do Heavy-Metal, o "Salário Mínimo" e o "Tropa de Choque" confirmaram presença. Haveria uma terceira banda nacional, que seria o "Exxotica", mas por problemas burocráticos, foi cancelada a sua participação logo a seguir. 

Eu não tenho nada contra as três bandas nacionais citadas, que aliás, são formadas por amigos meus, no caso específico do Salário Mínimo e do Exxotica. Admiro a luta de todas e as respeito pelas suas respectivas obras. 

Mas por outro lado, considerei equivocadas as escolhas do produtor, Marcelo. Essas bandas não tinham nada a ver com o Pedra (e vice-versa, sob o ponto de vista dos "headbangers", claro que sei disso), e minimamente a ver com o Uriah Heep. Muito mais conveniente teria sido alojá-las em um festival adequado ao seu nicho de atuação, ou promove-las como abertura para bandas internacionais condizentes dentro desse mundo do Heavy-Metal. 

E poderia ter sido ainda pior, pois o assistente do produtor do festival, queria a todo custo encaixar a banda formada por garotos que ele produzia. Com todo o respeito, mesmo ao reconhecer que o sonho daqueles garotos fora o mesmo de todo mundo que se envolvia na música de uma maneira ou de outra, eles não possuíam condição técnica mínima para tal empreitada e mesmo que reunissem tais predicados básicos, haveria de causar uma disparidade estética ainda muito maior do que as bandas de Heavy-Metal, que eu citei acima. 

Com muito custo o rapaz se rendeu às evidências e os rapazes "emo" de tal banda, foram alijados do Festival. Falo mais sobre esse assunto, na cronologia, a seguir.

Na mesma semana em que realizamos as filmagens da parte dramatúrgica do novo vídeoclip, tivemos um novo show a cumprir no Café Aurora. Desta feita, tocaríamos a dividir a noite com o "Carro Bomba" e o "Baranga".

Realizamos a divulgação tradicional com cartazes e filipetas, mas sob escala reduzida, visto que esse tipo de esforço promocional se revelava já como obsoleto na ocasião, em razão da modernidade oferecida pela internet e das suas redes sociais, inerentes. 

O show foi impecável, musicalmente, pois estávamos afiados por estarmos a cumprir uma sequência boa com shows regularmente. Cento e vinte pessoas aproximadamente, estiveram na casa, nessa noite de 11 de agosto de 2006. 

Como fato curioso, me recordo que o dono do estabelecimento estava tenso, pois temia por um calote da parte do público. 
A explicação é cabível para quem não é de São Paulo: o Centro Acadêmico da Faculdade de Direito da USP, mantinha uma tradição estudantil que remontava há muitas décadas. Como a data de seu aniversário é o dia 11 de agosto, que inclusive lhe concedera o nome, tal agremiação costumava promover pela cidade inteira, o chamado: "pendura", ou seja, alunos entravam em bando nos restaurantes e pediam pratos e bebidas caras, para anunciarem ao final que não pretendiam pagar a conta. Não se importam em promover escândalo, tampouco se intimidavam com a reação intempestiva da parte dos donos das casas, presença da polícia e muito menos com eventual enquadramento nas delegacias de polícia, justamente por serem estudantes de direito e conhecerem as famigeradas "brechas da Lei"... 

Por isso, o dono do Café em que tocaríamos, estava preocupado, pois temia que a qualquer momento uma mesa ocupada por jovens a ostentar pedidos perdulários, poderia anunciar o "pendura", em nome da tradição do "C.A. 11 de agosto".

Neste ponto da narrativa eu apresento como material vivo dessa apresentação, duas músicas provenientes desse show de 11 de agosto de 2006, no Café Aurora. Tratam-se de "Se Agora eu Pulo Fora" e "Amanhã de Sonho". O cinegrafista desse registro foi o Emmanuel Barreto, que demonstrou firmeza, pois se nota um movimento manual muito suave na condução da câmera, que mais parece o de um "travelling" de cinema, mas acreditem, foi realizado sem maquinário, conduzido pela sua mão, mesmo e a utilizar uma antiquada câmera Mini-VHS. 

"Se Agora eu Pulo Fora"

Eis o Link para assistir no YouTube:
http://www.youtube.com/watch?v=UyVEn5THZFY  

"Amanhã de Sonho"

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=6QAn1XKYrxA

Da esquerda para a direita, Daniel Alvim (ator), Claudia Cavalheiro (atriz) e Eduardo Xocante, diretor do vídeoclip de "Sou Mais Feliz"

E o novo vídeoclip, ficou pronto! O resultado final ficou excelente, ao ser considerado por todos nós, como superior ao primeiro clip, quando divulgáramos a música: "O Dito Popular". Claro, houve a presença de cenas reais de um show ao vivo do Pedra, mais a parte dramatúrgica, a contar com um casal formado por atores profissionais a protagonizá-la, que valorizou demais o resultado. 

As cenas externas filmadas na Av. Paulista, a se aproveitar o período noturno, ficaram muito charmosas. A urbanidade inerente dessas imagens caíram como uma luva, ao conceder um caráter muito próximo ao que o Pedra representava como banda. 

Em princípio, o clip foi enviado à MTV, também para o programa "Alto Falante", da Rede Minas e à Rede NGT, onde o clip de "O Dito Popular" fora veiculado com muita força, desde 2005. Na MTV e no Alto Falante, não tivemos nem resposta... 

O vídeoclip oficial de "Sou Mais Feliz". Direção de Eduardo Xocante. Atores: Daniel Alvim e Claudia Cavalheiro. Figuração: Lu Vitaliano, Daniel Kid, Emmanuel Barreto e a banda.  
 
Eis o Link para assistir no YouTube: 
http://www.youtube.com/watch?v=NIfcVYiuZNA

Após o lançamento desse clip e antes de participarmos do festival internacional que teríamos como compromisso em setembro, uma estranha persona entrou em nossa vida, ao prometer nos oferecer uma empreitada de realizações.
Nessa altura dos acontecimentos, não éramos mais crianças e assim percebemos de imediato que o sujeito não seria exatamente o "manager" de nossos sonhos, contudo, como estávamos a obter uma sequência inicial de carreira, muito boa, graças a uma série de ações bem-sucedidas, e ocorridas desde maio desse ano de 2006, principalmente, precisávamos de uma pessoa a gerenciar tais oportunidades. 
 
Sabíamos que mesmo com todo esse impulso natural que movimentáramos com as nossas próprias forças, precisávamos urgentemente de um empresário, pois as chances estavam a aparecer, e fatalmente chegaríamos em um ponto em que ficariam inalcançáveis para nós, sem um apoio profissional. 
Um amigo nosso nos dissera que conhecia um sujeito que seria empresário de artistas com pequena e média projeção e que este rapaz costumava vendê-los no circuito do Sesc. 
 
Tínhamos tentado abordar empresários mais qualificados anteriormente, mas nenhum quis assumir uma banda iniciante no circuito, ainda que formada por músicos experientes e oriundos de outros trabalhos com projeção e currículo dentro do mundo underground pelo menos. Então aceitamos falar com esse rapaz e uma reunião foi marcada em seu apartamento, para uma noite de agosto de 2006.  
Logo de início, vimos que o ambiente estava tumultuado, pois a sua filhinha, uma criança a aparentar possuir entre quatro ou cinco anos de idade na ocasião e que se portava com desmesurada energia, a aparentar ser uma criança incontrolável. Pai e mãe eram completamente dominados pela pequena, que não parava de aprontar as suas peraltices. 
 
Em meio a tal cenário, ficou difícil conversar nessas circunstâncias e tudo piorou quando descobrimos que o sujeito em si era quase surdo total, ao tornar a conversação cansativa por tudo ter que ser verbalizado aos berros, literalmente, para ele compreender o que falávamos.
A esposa dele, muitas vezes estabeleceu a interlocução, por estar acostumada a lidar com ele e pelo motivo de também se mostrar interessada na conversa, pois era assessora de imprensa e trabalhava junto com o marido, na pequena produtora cultural gerida pelo casal. 
Pedra no Centro Cultural São Paulo em julho de 2006. Click: Grave Lagôa 
 
Eles não sabiam ao certo quem nós éramos, mas como estávamos sob uma fase de franca ascensão (a realizar shows, angariar resenhas super positivas publicadas em jornais e revistas importantes e com músicas a serem executadas na rádio e dois vídeoclips assinados por um diretor tarimbado), em suma, o interesse de ambos se mostrou maior, naturalmente. E havia a perspectiva confirmada de um show internacional a ser realizado em breve, em uma das melhores casas de espetáculos de São Paulo, portanto, logo de início o sujeito percebeu que não se tratava de uma banda iniciante, sem respaldo algum.
Ivan Scartezini em destaque com Xando Zupo à frente, por detalhes. Pedra ao vivo no Blckmore Rock Bar de São Paulo em junho de 2006. Click: Grace Lagôa
 
Outro fator ali observado, esse rapaz passou a enumerar os seus contatos pessoais e citou a rede do Sesc como o seu grande trunfo, instituição pela qual ele dizia estar acostumado a vender os seus artistas. Bem, entrar nesse circuito de shows fora um desejo nosso e mesmo por não conhecê-lo suficientemente bem para nos assegurarmos de que realmente ele tivesse esse poder de fogo em mãos, nós fechamos o negócio, mesmo que apenas verbalmente. Daí em diante esse sujeito entrou em nossa vida, mas seria por muito pouco tempo. 
Pedra ao vivo no Centro Cultural São Paulo em julho de 2008. Click: Grace Lagôa
 
Além de deficiente auditivo, ele desenvolvera uma anomalia vocal, por haver perdido a referência de sua própria. Dessa forma, tínhamos que gritar com ele para que entendesse o que falávamos, enquanto ele respondia com uma voz fanha, que comia as sílabas das palavras, vez por outra.
 
E sem nenhum constrangimento, mesmo com essas dificuldades no tocante à sua dicção e escuta, o sujeito falava em demasia, a se revelar como um homem prolixo ao extremo. Não vou revelar o seu nome, para não lhe causar nenhum constrangimento público, mas doravante na narrativa, designá-lo-ei como: "R", a inicial de seu prenome.
Xando Zupo ao vivo com o Pedra em dois momentos: Centro Cultural São Paulo e abaixo, na Feira da Pompeia, ambos realizados em 2006. Click: Grace Lagôa
 
O tal "R" mantinha como uma estratégia de trabalho a famosa "conversa de empresário". Além de prolixo, gostava de praticar o autoelogio, a falar sobre os seus feitos e contatos na área, a se vangloriar. Até aí, tudo bem, pois não é possível ser introvertido e humilde nessa profissão, no entanto, claro que certos excessos de sua parte, nos preocupou. 
Ivan Scartezini ao vivo com o Pedra no Centro Cultural São Paulo em julho de 2006. Click: Grace Lagôa
 
A esposa dele se revelara ao contrário, mais comedida e centrada e dessa forma, julgamos que teríamos um equilíbrio entre o histrionismo de "R" e a posição mais razoável, da parte dela. As primeiras ações combinadas concentrar-se-iam em se tentar colocar a banda no circuito de shows da rede Sesc. Ele dizia ter contatos fortes e que costumava vender os shows do cantor/compositor, Kiko Zambianchi, nesse circuito. Então, embora até o dia em que o visitamos em seu apartamento, ele não soubesse ao certo quem nós éramos, ele bradou que seria fácil nos colocar no circuito de shows.
Rodrigo Hid aos teclados! Pedra no Blackmore Rock Bar de São paulo em junho de 2006. Click: Grace Lagôa
 
Talvez a intermediação feita pelo nosso amigo em comum, que nos apresentara ao rapaz, não tenha lhe impressionado o suficiente. Entretanto, mediante os fatos, ou seja, depois de ver os dois vídeoclips, examinar o site, ouvir o disco e tomar conhecimento que tínhamos músicas a serem veiculadas em uma emissora FM de São Paulo, isso tenha mudado, mas não como acháramos que seria o ideal para os nossos anseios.
 
Ao longo da narrativa isso ficará bem claro. Em princípio ficamos animados, mas o fato é que essa animação foi fugaz. O sujeito passou a demonstrar atitudes muito estranhas no decorrer dos próximos dias, para desaboná-lo completamente como profissional.
 
Por se aproximar a data do nosso show internacional, queríamos testá-lo também como manager e nesse caso, "Road Manager". Tal experimentação seria necessário aos nossos anseios, porém, foi um grande erro que cometemos, conforme comprovarei a seguir.
 
Na primeira foto, Pedra ao vivo no Blackmore Rock Bar de São Paulo em 2006 e na segunda foto, Xando Zupo nos bastidores ao ar livre da Feira da Vila Pompeia, também em 2006. Clicks: Grace Lagôa
 
Pois então, o "R" passou da animação inicial ao distanciamento incompreensível, ao se esquivar de nós sob todas as formas, ao não retornar contatos ao telefone e assim a nos deixar confusos sobre o seu real interesse para administrar a nossa carreira. No entanto, se aproximava a data do Festival Internacional em que estávamos inseridos e assim, resolvemos apostar em uma chance para ele mostrar se reuniria condições para nos representar. 
Eu, Luiz Domingues, em destaque. Pedra no Café Aurora de São Paulo em maio de 2006. Click: Grace Lagôa
 
Talvez tenha sido o nosso maior erro em relação ao rapaz em específico e também com o festival em si, pois essa tomada de posição gerou constrangimentos no dia do show, conforme relatarei logo mais. 
 
Antes de falar do espetáculo, propriamente dito, preciso dizer que o simples comunicado ao produtor do festival, a lhe dar ciência de que levaríamos em nossa comitiva um manager que havia recém-fechado associação conosco, causou um mal-estar. 
 
Todavia, ele não deveria ter se incomodado, pois muito pelo contrário, quando o procuramos inicialmente, o nosso propósito fora no sentido para pleitear que ele nos empresariasse. A perspectiva do festival atropelou essa nossa conversação inicial e como tal evento seria também muito interessante para nós, aceitamos de imediato a sua predisposição, ao protelar o nosso real propósito primordial e a seguir, a sua vontade naquele instante, quando se recusara em falar sobre qualquer outro assunto que não fosse diretamente relacionado ao tal evento que estava a produzir. 
Xando Zupo em destaque, com Ivan Scartzini atrás, na bateria. Pedra ao vivo no Blackmore Rock Bar de São Paulo em junho de 2006. Click: Grace Lagôa 
 
Mesmo com a nossa insistência para deixar claro que queríamos falar sobre a gestão de nossa carreira em específico, ele estava a focar apenas no festival e nesse aspecto, eu compreendo hoje em dia que o rapaz privilegiou o que considerou ser mais importante no seu ponto de vista.
 
Portanto, ficamos perplexos por ele se mostrar incomodado, pois durante meses, ficamos a aguardar algum sinal de sua parte, mas ele nunca deixara um indício, claramente, de que teria interesse em nós, particularmente, após a realização do festival.
 
Foi compreensível que estivesse muito atarefado por essa produção de um festival com atrações internacionais, mas bastaria deixar isso claro para nós, sinal que nunca nos emitiu claramente. E para corroborar tal tese, houve a presença do assistente dele, que forçava a barra pela inclusão da banda formada por adolescentes "emo" que apadrinhava, para fazer parte do elenco do festival. 
 
Também se mostrou compreensível que esse rapaz mantivesse essa intenção, apesar da fragilidade técnica e artística daqueles garotos que apadrinhava, isso sem contar a mentalidade equivocada da parte desses garotos, milhões de anos-luz longe do que era realmente o Rock.
 
A seguir, falarei sobre a coletiva de imprensa do Uriah Heep, em que fomos convidados a assistir, na véspera do show e que produziu histórias boas para contar e até a gerar uma micro filmagem, postada no YouTube, desde 2006.
Rodrigo Hid ao vivo com o Pedra e na foto abaixo, eu (Luiz Domingues), nos bastidores do mesmo show ocorrido no Centro Cultural São Paulo em julho de 2006. Clicks: Grace Lagôa 
 
Comemorávamos as matérias ótimas que foram publicadas nos veículos da imprensa escrita a comentarem sobre o nosso disco, músicas a serem executadas em uma emissora FM de São Paulo e clips filmados em película de cinema (e assinados por um diretor de um currículo a ostentar um tamanho impressionante), ou seja, estávamos sob um embalo incrível, portanto, ao participarmos de um show internacional, nos pareceu que seria o ápice para nós, até esse ponto do ano de 2006, marcado sob tantas conquistas!
Rodrigo Hid no camarim. Pedra no Centro Cultural São Paulo em julho de 2006. Click: Grace Lagôa
 
Antes de chegar à semana do evento, propriamente dito, foram muitas reuniões e questões burocráticas a serem vencidas, naturalmente. Mas enfim entramos na semana do festival.
Ivan Scartezini em ação! Pedra no Centro Cultural São Paulo em julho de 2006. Click: Grace Lagôa
 
E na antevéspera do show, no dia 26 de setembro de 2006, o produtor do festival, Marcelo Francis, nos pediu a presença com dois membros da banda comparecessem à coletiva de imprensa que o Uriah Heep concederia, com posterior cocktail.  
 
Eu (Luiz Domingues)  e Ivan Scartezini comparecemos a representar o Pedra e ainda nos acompanharam nessa missão, Samuel Wagner, Daniel "Kid" e Emmanuel Barreto. Os três estavam a trabalhar como roadies conosco, desde o início das atividades da banda e o Emmanuel acumulara o posto como "film-maker", ao registrar com a sua câmera, diversos momentos dos bastidores que vivenciávamos (muitos já usados para compor promos postados no YouTube, mas ainda a existirem muitos inéditos, que um dia, serão lançados). 
Rodrigo Hid em destaque, com a minha presença (Luiz Domingues), ao fundo. Pedra no Centro Cultural São Paulo em julho de 2006. Click: Grace Lagôa
 
O local designado para tal ação foi o auditório bem estruturado da gravadora Universal Music, localizada no bairro de Santana, na zona norte de São Paulo. Assim que chegamos e enquanto esperávamos a recepcionista nos cadastrar e fornecer os crachás de acesso, eu vi o assessor do Marcelo, a conversar com uma mulher. Não sei se ela era jornalista ou produtora, mas certamente era alguém do meio musical, pois nesse ínterim, ele falava enfaticamente que a banda "emo" que apadrinhava, seria "o grande diferencial do mercado, em 2007"... 
Pedra no Centro Cultural São Paulo em julho de 2006. Click: Grace Lagôa
 
Nunca me esqueci disso, pois além de ter sido uma falácia absurda, denotou claramente que seu foco estava 100 % calcado nessa premissa, e que se dependesse dele, o Pedra não teria nenhum espaço na produtora do Marcelo, em um eventual "momentum" pós-Festival.  
 
Autorizados a adentrarmos o recinto, fomos diretamente ao amplo salão principal e percebemos que já se encontrava lotado, com muitos convidados presentes. Ali houve a presença de muitos jornalistas a representarem diversos veículos, incluso oriundos da mídia mainstream, o que me surpreendeu de certa forma, visto ser o Uriah Heep, uma banda quase sempre subestimada ao longo de sua carreira.
  
Uma banda cover faria um micro show posteriormente, a tocar covers do Rock internacional 1960 & 1970, e se mostrara garantida a sua qualidade sonora, pois se tratou do "Whomp", liderada pelo Oswaldo Malagutti, dono do estúdio Mosh, e ex-baixista dos Pholhas. Foi quando fomos convidados a entrar no recinto do auditório, para assistirmos a coletiva de imprensa do Uriah Heep.
Na primeira foto, o Pedra no Centro Cultural São Paulo em julho de 2006. Click: Grace Lagôa. Na segunda, uma foto promocional do Uriah Heep, usada para divulgar a sua turnê de 2006 pelo Brasil. Fonte: Internet
 
A coletiva me surpreendeu, pois, o Uriah Heep sempre foi uma banda subestimada desde o seu auge, portanto, o que dizer então naquele momento de 2006, com aqueles senhores quase sexagenários, obesos e a ostentarem cabelos pintados para disfarçar o aspecto grisalho?
Tirante os profissionais óbvios do jornalismo especializado, houveram muitos jornalistas a representar órgãos mainstream e certamente que me impressionei com a ação da assessoria de imprensa do festival, quando projetei em relação ao show, que haveriam matérias em diversos jornais, com o foco no Uriah Heep, naturalmente, mas certamente com o Pedra a ser citado.
 
A despeito de algumas perguntas tolas de um ou outro desavisado e/ou deslocado jornalista que vive normalmente envolto ao paradigma dos "hypes do mundo indie" (-"o que vocês acham do Artic Monkeys?" por exemplo foi algo que eu ouvi ali na coletiva), o nível das perguntas foi bom na média e eu apreciei as respostas.
Uma questão em especial, me impressionou. Um jornalista (acho que ele representava o Diário de São Paulo), perguntou em geral aos cinco componentes, qual seria a motivação para manter a banda em atividade, com quase quarenta anos de carreira.
O baterista, Lee Kerslake, bem envelhecido na época e de fato, ele deixou a banda logo após a turnê de 2006, ao alegar problemas de saúde.
 
O baterista, Lee Kerslake, tomou a dianteira e respondeu que se havia público interessado em comprar discos e ingressos para os shows, não fazia nenhum sentido desmanchar a banda e ficar em casa para assistir futebol na TV. Foi uma resposta singela, sincera e muito plausível.
David Bowie em destaque, com o excelente baixista, Trevor Bolder, atrás, ao vivo e no decorrer dos mágicos anos setenta. Fonte: Internet
 
E eu gostei do Bento Araújo, meu amigo e editor da Revista Poeira Zine, que ao fugir das perguntas óbvias, se dirigiu ao grande baixista, Trevor Bolder e lhe pediu as suas impressões sobre o tempo em que fora componente da espetacular, "Spiders from Mars", a banda de apoio do David Bowie, no auge de sua carreira, no início dos anos setenta.
Ele, Trevor Bolder, ficou um tanto quanto constrangido, no entanto, respondeu laconicamente que esse trabalho houvera sido realizado no início dos anos setenta e que portanto fora bom, mas ele não teria muito o que dizer naquele momento. Sem dúvida que a pergunta o colocou sob uma espécie de constrangimento, por estar ali para falar do seu trabalho com o Uriah Heep. 
 
De certa forma eu o compreendi, pois como no meu caso eu também tive várias bandas ao longo da minha carreira, é um fato que acho desagradável ter que responder sobre trabalhos antigos, quando a pauta que interessa é sobre o trabalho atual. 
 
Ao ir além, me recordo de uma entrevista ocorrida nos anos noventa, na emissora de rádio, 89 FM, da qual eu participei a representar o "Pitbulls on Crack" e o lendário baixista, Lee Marcucci, esteve presente também, para falar do "Neanderthal", a sua banda na ocasião. Em dado momento, Marcucci se irritou, por que a repórter só lhe fazia perguntas sobre o seu trabalho com Rita Lee & Tutti-Frutti nos anos setenta e ele teve que ser incisivo, ao lhe dizer que estava ali para falar do "Neanderthal" e não sobre trabalhos anteriores que fizera na sua carreira.
De volta à coletiva do Uriah Heep, assim que entramos no recinto, observei que vários convidados fotografavam e filmavam à vontade. 
O vocalista, Bernie Shaw, visto pelo frame da filmagem feita durante a coletiva de imprensa na sede da gravadora Universal, em São Paulo, quando o Uriah Heep tocou ao vivo, rapidamente para entreter os jornalistas ali presentes.

Dessa forma, eu disse ao meu primo, Emmanuel para ele ir ao meu carro no estacionamento e apanhar a câmera que havíamos desistido de levarmos conosco, por deduzirmos erroneamente que seríamos impedidos em fazer uso dela.
De volta ao salão rapidamente, ele filmou a partir do momento do cocktail, pós-coletiva e essa filmagem com cerca de trinta minutos, contém várias cenas interessantes. 
 
Nessa filmagem, é possível ver a presença de todos os membros do Uriah Heep, que muito simpáticos, distribuíam autógrafos enquanto comiam em uma mesa. Há um pedaço do show do "Whomp", a tocar: "Footstopin' Music" do Grand Funk e dá para notar diversas pessoas conhecidas do meio musical. Músicos, jornalistas, produtores etc.

Logicamente, nós aparecemos nessa filmagem: eu (Luiz Domingues) e o Ivan, mais os roadies, Daniel Kid e Samuel Wagner, que aliás foi filmado ao solicitar autógrafo do Lee Kerlake. 
 
Em dado instante, aparece a persona do jornalista, Bento Araújo a conversar com o guitarrista do Uriah Heep, Mick Box, também. Além do Emmanuel com a câmera na mão e a recolher o autógrafo do Trevor Bolder.
 
Em tal filmagem, consta uma jam da parte do Uriah Heep, com os seus músicos a usarem os instrumentos e equipamento do Whomp. Eles tocaram a canção: "Easy Livin", a provocar um frenesi no salão. Mas os astros britânicos também sofreram muito com a completa desorganização sonora da monitoração ali disponível. O vocalista, Bernie Shaw, diante da adversidade, brincou com o fato de estar em meio a um caos sonoro provocado por microfonias incontroláveis, mas eis que a banda tocou assim mesmo. 
 
Eu fui flagrado a conversar com o baterista, Ademir Urbina, ex-membro do Língua de Trapo, em um recanto mais distante do palco. 
 
E depois que o Uriah Heep tocou, eu percebi que os seus componentes estavam a se movimentarem para deixar o recinto e assim, eu agi rápido, quando pedi ao Emmanuel que filmasse a partida deles. Aproveitamos e nos pusemos a sair também em direção aos elevadores. Dessa forma, fomos filmados em meio aos membros do Uriah Heep, enquanto estes aguardavam o elevador, além da companhia de seus três roadies e da sua técnica de PA

A filmagem do Uriah Heep a tocar a canção, "Easy Livin'", foi editada e postada no YouTube, no mesmo dia. E as imagens do cocktail foram aproveitadas parcialmente em montagens para compor promos do Pedra, posteriores. Mesmo assim, na imagem posterior à jam, e que está no YouTube, eu (Luiz) e Samuel Wagner aparecemos a caminhar entre os componentes do Uriah Heep, em direção ao elevador do saguão, ao final do vídeo.
Mas em qualquer momento, as imagens não aproveitadas ou mesmo a íntegra dessa filmagem poderá vir a tona. Tudo isso ocorreu no dia 26 de setembro de 2006. A seguir, falarei sobre o dia do show, com muitos detalhes.

Eis abaixo o vídeo da Jam do Uriah Heep e os seus bastidores, na coletiva de imprensa. 
O Link para assistir a jam do Uriah Heep e eu (Luiz Domingues), a caminhar com os componentes dessa histórica banda britânica, disponível no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Ub5uFdiI1n4  
E chegou o dia do show, finalmente. Foi no dia 28 de setembro de 2006, uma quinta-feira e particularmente um dia que nunca me esqueço no calendário, pois era a data de aniversário do meu pai, e nesse ano, foi a última que vez em que ele a comemorou, pois veio a falecer dois meses depois. Mas falemos de coisas alegres e pertinentes à narrativa.
Pedra a posar na porta do estúdio Overdrive em algum momento de 2006. Click: Grace Lagôa
 
Marcamos encontro na casa do Xando, às onze horas da manhã, pois fora marcado para chegarmos ao Via Funchal, sob o horário estipulado para das quatorze horas. Claro, haveria um esforço do produtor, Marcelo Francis, para que o cronograma funcionasse dentro do programado. 
 
Com poucos atrasos, a nossa comitiva se reuniu no Overdrive Estúdio e com a presença do empresário, "R". O sujeito teria enfim o seu grande teste, para nos mostrar toda a sua mobilização como "road manager", para lidar com todas as atribuições nesse sentido. No primeiro teste, aparentemente, ele passou, pois se responsabilizara pela contratação de uma van e esta chegou no horário combinado.
Eu cheguei ao Overdrive com vários jornais em mãos e contente com a constatação de terem havido notas e pequenas matérias publicadas em vários periódicos, com o nosso nome inserido, ainda que o destaque fosse para o Uriah Heep, naturalmente.
 
O meu primo, Emmanuel Barreto, filmou essa concentração no Overdrive, também a partida da comitiva nessa van, chegada ao Via Funchal, camarim dessa casa de espetáculos, e boa parte do processo de soundcheck. O show em si, infelizmente, ele não filmou quase nada, pois foi impedido pelos seguranças da casa, mas tal pormenor eu menciono depois.
Ainda ao falar sobre a concentração, o clima foi marcado pela animação total e sentíamos ter sido o coroamento de uma fase excelente pela qual passávamos. Sob uma crescente, nos colocáramos a ganhar espaços e dessa forma, participar como abertura do show de um "dinossauro" britânico setentista, pareceu ter caído como uma luva nesse plano de expansão que estávamos a cumprir, para esse ano de 2006.
O empresário "R", foi uma incógnita, contudo. Falante, dizia estar a planejar muitas ações para nós, mas concretamente a relembrar, estava ali conosco sem ter movido uma única palha para que estivéssemos no patamar onde nos encontrávamos naquele instante.
Fomos um produto com muitos atributos, a repercutir na mídia, a caminho para abrir um dinossauro mundialmente famoso e o sujeito demonstrava não entender o que isso representava e sem nenhuma pretensão ou esnobismo de minha parte, não foi pouca coisa, para que não percebesse o potencial que tinha em mãos. 
 
Nessa comitiva, contamos com três roadies: Samuel Wagner, Daniel "Kid" Ribeiro e Emmanuel Barreto (meu primo e filmmaker oficial dos bastidores). Grace Lagôa, esposa do Xando Zupo, foi preparada para fotografar e como convidada, Lu Vitaliano, atriz & cantora, e esposa do Rodrigo à época. Mais tarde, Elizabeth Scartezini, esposa do Ivan, compareceu, também, para se unir conosco no camarim, mas apenas como convidada, sem funções específicas na equipe.
 
Também estiveram conosco, naturalmente, o empresário "R" e o motorista da van, cujo nome, me esqueci. Lembro-me bem, que momentos antes da nossa partida rumo à casa de espetáculos, "R" quis tomar um lanche na padaria próxima ao estúdio e sob uma conversa reservada comigo e Xando Zupo, expôs os seus planos. Parecia fácil para ele, montar uma turnê e nos colocar em um circuito seguro de shows, com cachê valorizado, mas conforme eu contarei logo mais, foram apenas bravatas de sua parte.
Por volta das treze horas, a van estava inteiramente carregada com todo o nosso material. Levamos o nosso equipamento de palco completo e instrumentos. Levei dois baixos, o Xando Zupo levou três guitarras e o Rodrigo, outras duas. Fora o kit dos teclados e peças fundamentais de bateria, pois o Ivan usaria uma carcaça Luthier, de fabricação do baterista/empresário, Tibério Correa.
No percurso até o Via Funchal, o ambiente esteve agradável ao extremo, ao conversarmos animadamente e tranquilos de que faríamos um grande show, mesmo por que, tínhamos a certeza de contarmos com um som de PA operado em alto nível, visto que o nosso técnico e produtor de estúdio, Renato Carneiro, estaria presente no show, a manejá-lo. Chegamos ao Via Funchal, alguns minutos antes do horário combinado.
O primeiro problema que enfrentamos, logo de imediato, foi por não haver nenhum produtor do evento para nos recepcionar e a estabelecer os trâmites iniciais para nos acomodar no camarim e nos informar sobre a montagem de equipamento para o soundcheck.
 
Claro, isso não causa prejuízo moral a ninguém e assim, interagimos informalmente com os próprios funcionários do Via Funchal, logo a descobrir por conta própria o nosso camarim. Aliás, um bom camarim, amplo e confortável, mas alojado no último patamar, ou seja, longe do palco e da comunicação direta com a produção.
Nesse "flyer" acima, ainda existia a foto do guitarrista holandês, Jan Akkerman (ex-"Focus"), como atração do festival, mas a sua participação havia sido cancelada, infelizmente.
 
Seria evidente que o Uriah Heep ficaria alojado no melhor camarim, e com isolamento para evitar contatos indesejáveis. Já esperávamos isso, é claro. Todavia, as outras duas bandas nacionais participantes do evento, talvez por seus membros manterem relação de amizade mais estreita com o produtor do festival, foram privilegiadas, a ficarem instaladas sob um patamar intermediário da casa e nós, alojados no mais tímido e distante dos camarins.
Foto recortada do cartaz, cuja autoria do click é de Marcelo Francis, o produtor do evento

Claro, cada de um nós, membros, a determos enorme bagagem por atuarmos no underground há décadas, não reclamou e até achou bom o camarim (e foi mesmo, sem reclamações), mas esteve clara uma diferenciação e isso foi desagradável, obviamente. 
 
E ficou pior, pois ao longo da tarde e da noite, fatos constrangedores ocorreram por parte da produção e para ser muito honesto, de nossa parte, também, devo reconhecer. Isso se deu logo ao expor o nosso maior erro, que, no entanto, gerou uma séria de animosidades que só trataria por intensificar o clima tenso entre nós e a produção do Festival.
              O produtor do evento e guitarrista, Marcelo Francis

Foi o seguinte: quando tivemos o primeiro contato com o produtor Marcelo, o nosso objetivo fora que ele se interessasse em ser o nosso empresário. A ideia do Festival obscureceu essa possibilidade, inicialmente. Mas claro que aceitamos participar do evento, pois seria por si só, algo muito positivo e talvez o motivasse no futuro, a trabalhar conosco, mais focado em nossa trajetória, com exclusividade.
 
Todavia, nesse ínterim, passaram muitos meses e o Pedra teve um impulso inicial até surpreendente por conta da execução radiofônica, clips na TV, sequência com shows e matérias super positivas na imprensa escrita e Internet. 
 
Ao verificar que o Marcelo só estava focado no Festival, precisávamos urgentemente dar um passo adiante, ao pleitear um agente exclusivo para aproveitarmos o embalo positivo. E nessa circunstância premente, eis que apareceu aquela figura exótica do "R", que já mencionei aqui, anteriormente.
 
O "R" não havia nos proporcionado absolutamente nada, além de muitas promessas vãs, mas como estava conosco na ocasião, foi um membro da comitiva a nos acompanhar ao Via Funchal e em nossa concepção, seria um teste para ver como ele agiria como Road Manager. 
 
Então, o clima que já não ficara muito favorável entre nós e o Marcelo (por motivos que nunca descobrimos, pois nunca lhe fizemos absolutamente nada de errado até então, e pelo contrário, estávamos a cumprir regiamente todas as solicitações dele no campo burocrático e a obedecer o cronograma de horário, fielmente conforme o estabelecido), piorou, pois o atabalhoado "R", foi interpelar com prepotência a pessoa do Marcelo e de seus subordinados, ao questionar o fato de estarmos alojados no pior camarim e por não haver água na geladeira, lanche disponível etc.
 
Esse foi o nosso erro, pois já havíamos detectado ser o tal "R", um sujeito estranho e tenso por natureza intrínseca. Não sabemos exatamente como foi esse contato dele com a produção do Festival, mas sentimos as retaliações e o clima azedo, ao longo do dia.
A nossa banda em um momento de descontração no camarim do Via Funchal, em algum momento antes do soundcheck. Click: Grace Lagôa
Fomos paulatinamente a perceber o clima tenso com os subordinados do produtor Marcelo, e não entendíamos tal comportamento, pois de nossa parte, não havíamos dado motivo algum para tal. Demorou para notarmos que o clima se deteriorava a cada minuto, por conta das ações atrapalhadas e repletas por uma demonstração de soberba descabida, por parte de "R".
O nosso roadie, Daniel "Kid", no camarim do Via Funchal. Click: Grace Lagôa

Quando percebemos que ninguém ligado à produção apareceria no camarim para nos chamar, tomamos a dianteira e começamos a colocar o nosso equipamento no palco, para esperar a nossa vez de cumprir o ritual do soundcheck. Pelo cronograma do evento, a banda "Tropa de Choque" deveria passar o seu som, inicialmente, para depois dar espaço ao Salário Mínimo. A seguir viríamos nós e por fim, o Uriah Heep.

Bem, logo de imediato, digo que esse cronograma estava errado. 
Independente de se tratar de uma banda internacional e consagrada, o Uriah Heep, por ser a atração principal (headliner), deveria passar primeiro, ao estabelecer a ordem inversa e assim deixar a que a última banda, ficasse pronta para ser a primeira atração como "open act", ou show de abertura. 
 
Entretanto, além do cronograma estar equivocado, o Pedra fora a única banda presente no Via Funchal, naquele instante, e quando os técnicos terceirizados do equipamento de PA nos viram a colocarmos o nosso backline na coxia imensa do teatro, eles nos pediram para que adiantássemos o soundcheck. Sob um esforço colaborativo, instruímos os nossos roadies a começar a montagem, rapidamente. 
 
De fato, não custava nada adiantar, e ganhar tempo, mas se tratara de um procedimento errado por uma questão de ordem, que qualquer músico profissional deveria saber, é claro. Quando já estávamos quase prontos para os primeiros passos da passagem de som, eis que chegaram os membros do "Tropa de Choque" e um pequeno desconforto se instaurou, com esses rapazes a pensarem que estávamos a lhes atropelar. Um membro dessa banda chegou a questionar o Rodrigo Hid, cujo Kit de teclados era maior que o da tecladista dessa banda, sobre o espaço cênico mínimo, que eles teriam para trabalhar. Claro que ele não entendeu que estávamos apenas a nos posicionarmos para a realização do soundcheck e o nosso equipamento não ficaria no palco, durante esse procedimento técnico da parte deles, tampouco no momento do seu show, naturalmente.
O Pedra a posar no palco do Via Funchal, momentos antes da realização do soundcheck. Click: Grace Lagôa
Então, nós recolhemos o nosso equipamento para a ampla coxia da casa e voltamos ao camarim, para respeitar o cronograma original, todavia, tudo estava atrasado e obviamente, já foi possível notar que tornar-se-ia uma bagunça, com direito a muitas confusões inerentes.
Os roadies do Uriah Heep chegaram a seguir e todo o cronograma foi adulterado, pois eles exigiram preparar o som de seus patrões, imediatamente. Ah... a velha subserviência tupiniquim para com europeus...
Restou-nos então esperar que eles se dessem por satisfeitos para que sobrasse algum espaço para que o Pedra e o Salário Mínimo pudessem ter algum tempo de soundcheck. Os roadies do Uriah Heep ficaram mais de duas horas a andarem pelo palco, sem fazer nada muito objetivo, a não ser checar o sinal de cada amplificador. O roadie específico de guitarra do Mick Box, um sujeito holandês, chamado: "Christos" (e que aliás, era sósia do guitarrista, Tony Babalu), detectou um ruído incômodo nos cabeçotes Marshall que o Mick Box usaria, e diante do impasse dos técnicos do PA, não saberem fornecer uma explicação plausível para sanar tal situação, e muito menos a técnica de som do Uriah Heep, que inclusive não entendia muito sobre a questão de como funciona a energia elétrica no Brasil. 
 
O produtor Marcelo teve um lampejo de criatividade, ao chamar um dos melhores especialistas em ajustes de amplificadores de São Paulo, um rapaz chamado: Lasco (que por sinal é um bom guitarrista e ministra aulas de guitarra, também), que por uma tremenda coincidência, era (é) muito amigo do meu primo, Emmanuel Barreto, que trabalhava em nossa equipe, como roadie, naquela ocasião. 

Mas apenas soubemos de tudo isso, quando vimos o Lasco a manejar as ferramentas, ao desmontar as duas cabeças de amplificador, na coxia do teatro. Segundo apuramos, fora uma incompatibilidade de ajuste em relação à corrente elétrica da casa, portanto, feito o ajuste, as duas cabeças Marshall pararam de emitir aquele ruído incômodo. Aliás, ficamos a saber a posteriori, que o Mick Box ficara encantado com o ajuste feito pelo Lasco e no decorrer do show, foi à coxia em uma deixa e o cumprimentou efusivamente ao alegar que os amplificadores estavam com um som incrível em sua avaliação. 
 
Enquanto isso, no camarim, "R" pediu-nos licença para sair, visto que avaliara em sua percepção, que tudo estava "sob controle" (como assim?), e que voltaria a seguir, a nos trazer um lanche, visto que a produção do evento nos abandonara e sequer alguém havia aparecido para verificar se havia água potável e disponível no camarim. De de fato, as geladeiras estavam vazias.
 
Soubemos, no entanto, que os outros camarins estavam abastecidos com lanches, bebidas e energéticos cedidos por patrocinadores do evento e certamente esse sentimento de desprezo incompreensível para conosco, até então, começou a nos incomodar. 
 
Nesse ínterim, alguns membros de nossa comitiva, ficaram entediados com essa espera mastodôntica, incluso eu, e assim, nós voltamos ao palco para verificarmos o andamento da suposta passagem de som do Uriah Heep. Nada objetivo ocorria naquele instante, a gastar um tempo precioso que haveria de fazer muita falta, logo mais para nós. Foi então que o Rodrigo Hid, ao notar que os roadies do Uriah Heep não sabiam tocar teclados e estavam naquele instante a empreender uma checagem pobre, apenas a apertar uma ou outra tecla a esmo do órgão Hammond, se ofereceu para ajudar e assim tentar acelerar o processo do soundcheck moroso e medíocre que eles faziam.
Pois então ele se sentou no banquinho do órgão Hammond e iniciou a execução da canção: "Rainbow Demon", para arrancar suspiros dos estrangeiros. Os roadies gostaram da performance dele sobre tal canção, fidedigna ao disco clássico, "Demons and Wizards", do Uriah Heep e a passagem do Hammond, deslanchou, enfim. 
 
Outra curiosidade ali observada foi flagrar um outro roadie do Uriah Heep a examinar os meus baixos. De longe, eu o avistei a admirá-los, e o rapaz chegou a colocar a mão para sentir o braço de ambos, e com o apoio da sua lanterninha, examinar detalhes nos respectivos headstock's dos dois instrumentos que eu levara para usar naquele show. 
 
Quando os roadies do Uriah Heep se deram por esgotada a sua "passagem de som", o tempo para o Pedra e Salário Mínimo, ficara exíguo. E como se não bastasse isso, tivemos uma série de aborrecimentos com os técnicos do som terceirizado contratado, pois a má vontade com a qual nos trataram, e o resultado prático da passagem do monitor, se mostrou foi algo desastroso, com tanto descaso e desdém.
É bom reforçar a informação, nesse cartaz acima ainda constava a foto do guitarrista holandês, Jan Akkerman (ex-Focus), como atração do festival, mas ele a cancelara em cima da hora, com o material gráfico promocional, já preparado.

Nesse ínterim, o nosso "empresário", o sr. "R", estava ausente há horas, a passear com a Van que nós contratáramos com o nosso dinheiro e certamente que ele não estava a fazer nada objetivo para o nosso interesse, pelas ruas de São Paulo.
  
A passagem de som foi tensa, extremamente malfeita e tivemos vários exemplos de maus-tratos implicitamente nessa relação com esse pessoal do equipamento de PA/monitor.
A nossa única sorte, foi que o PA foi operado pelo Renato Carneiro. Na impossibilidade de se contar com o nosso outro técnico, Renato Sprada, preferimos que o Renato Carneiro operasse o som do PA, para garantir que o nosso som chegasse ao público da melhor maneira possível.  
 
O Renato viu a maneira aviltante com a qual os técnicos da empresa contratada para fazer o som estavam a nos tratar e nos pediu resignação e muita paciência, pois seria este em tese, o tratamento padrão que dispensavam para artistas fora do mainstream. Isso não foi uma novidade para nenhum de nós, talvez com exceção do Ivan, que não havia atingido esse grau na carreira, ainda, acostumado com pequenas apresentações, até então.
Em um determinado momento, um imbecil cujo nome me esqueci (mas também não citaria para não precipitar fama para energúmenos), ironizou o fato do Rodrigo Hid pedir mais volume de voz no monitor próximo aos teclados, quando gritou para o seu colega, o outro idiota da mesa de monitor: 
 
-"o cara quer se ouvir que nem a Xuxa"...
 
Por pouco o Rodrigo não reagiu à altura, mas ponderou e se resignou para não piorar a situação e assim, durante o show a provocar que nós sofrêssemos com retaliações, sabotagens inevitáveis etc.
Eu levei o meu set com amplificador e caixas, mas os cretinos do monitor não plugaram a mandada do Direct Box do meu amplificador, no meu set de monitor de chão, tampouco no Side Fill. Ora, seria evidente que na hora do show, ninguém da banda ouviria o meu baixo (talvez nem eu, a não ser que eu tocasse muito perto do meu amplificador, a ouvir somente a emissão das minhas caixas) e assim prejudicar a performance de todos, principalmente do Ivan, que precisava ouvir o baixo com precisão para manter o ritmo na bateria, e vice-versa, eu precisava ouvi-lo muito bem.
O Xando Zupo ficou muito longe de nós pelo mapa de palco prejudicado pela absoluta má vontade dos sujeitos para buscar adaptações mais adequadas para cada artista. A preguiça se sobressaiu da parte desses maus profissionais que não nos assistiram corretamente.
 
Enfim, foi uma das mais rápidas, tensas e mal elaboradas passagens de som que fizemos em toda a carreira do Pedra e a nossa única certeza, residira no fato de que o som da frente (PA), seria perfeito para o público, por conta do trabalho do Renato Carneiro.  
 
De imediato, ele, Renato, fez amizade com a técnica do Uriah Heep, que estava perdida ali, por falta de alguém da produção que falasse inglês minimamente, e ele a auxiliou ao ajudá-la na equalização do PA, inclusive a lhe dar dicas valiosas sobre várias frequências que ela deveria evitar, principalmente no tocante aos graves, pelo flanco direito/baixo da casa, aonde havia um ponto de reverberação acústica. Essa técnica inglesa, ao constatar a sua competência, logo o convidou a operar o show das bandas que nos antecederiam, pois se dependesse do técnico da empresa contratada, teria sido mais um exemplo de má vontade, como no caso dos responsáveis pela monitoração do palco.
De volta ao camarim, tivemos a certeza de que o som para o público seria perfeito, mas no palco, seria um caos absoluto. Além da má vontade dos técnicos, houve um clima criado em torno do deboche e petulância por parte deles, muito grande. Tanto que o produtor do show, Marcelo, teve uma briga violenta com eles, pois flagrara um episódio desses, a envolver o baixista da banda, "Tropa de Choque", que houvera sido maltratado por esses energúmenos.
Mas, não foi só isso que nos incomodou. O clima de abandono da produção para conosco, persistira. Ninguém aparecia no camarim para nada, nem para fornecer instruções básicas sobre o cronograma do festival. A geladeira permanecia vazia, enquanto soubemos que os camarins das outras bandas haviam recebido suprimentos fornecidos por patrocinadores. A nossa única explicação para tal comportamento, foi pela presença histriônica do pseudo empresário "R". Vá saber o que o atabalhoado "R" falou para o produtor, Marcelo e seus subordinados?
E para piorar a situação, o "nosso manager", havia se ausentado, ao usar a nossa van para suprir os seus interesses pessoais e somente voltou ao camarim, por volta das vinte horas, com um lanche improvisado que mandamos comprar, pois se dependesse da produção, ficaríamos à mingua. 
 
Foi então, uma garota que o produtor do festival havia contratado para ser uma espécie de "hostess" do evento, finalmente apareceu e trouxe um pacote de pão de forma e porções de mussarela e presunto. Tal mocinha pareceu estar bem constrangida e deu a entender que tal ação improvisada houvera sido ordenada para atender a reivindicação de "R", e que certamente desagradara o produtor do show.
Bem, visto posteriormente, claro que dá para imaginar a cena, com o sujeito a interpelar com arrogância o produtor do show e a desagradá-lo, sob um momento inoportuno, visto que Marcelo provavelmente estava nervoso pela profusão de problemas decorrentes da produção geral do evento.
 
Então, deu para entender, ao menos parcialmente, a maneira pela qual azedara a nossa relação com o produtor do evento, e o motivo pelo qual estávamos a sermos segregados nos bastidores.
 
Um pouco antes de irmos ao palco para cumprirmos o nosso show, o "R" protagonizou uma cena constrangedora, porém hilária! Ele nos reuniu em volta dele e como um técnico de futebol a proferir a última preleção antes do time entrar em campo, nos forneceu "instruções" de última hora. Segundo ele, se o som estivesse ruim, nós deveríamos parar de tocar e exigirmos uma melhor equalização para só então prosseguirmos. Nesse instante, entre nós componentes, o clima ficou engraçado, pois um olhou para o outro e não precisou ninguém verbalizar nada. Sentimo-nos no jardim da infância... foi chegada a hora, enfim. Fomos ao palco para realizarmos o nosso show.
Fotos panorâmicas do Pedra em ação no palco do Via Funchal de São Paulo em setembro de 2006. Click: Grace Lagôa
 
Subimos ao palco e nos aprontamos para tocar. Pela coxia, víamos um público razoável, com seguramente mais de mil e quinhentas pessoas presentes no auditório, e posteriormente, ficamos por saber que em nossa apresentação, havia cerca de mil e oitocentas pessoas presentes, praticamente a lotação final de pico, do show do Uriah Heep.

A tensão estava no ar, com os técnicos do PA contratado, a discutirem rispidamente com os músicos da banda que nos antecedeu (Salário Mínimo). A atitude desses elementos fora muito desrespeitosa, ficamos revoltados também por verificarmos os nossos colegas a serem destratados e sabíamos que receberíamos o mesmo tratamento, ou até pior.
Enquanto subíamos do camarim para a coxia do teatro, ouvimos os derradeiros acordes executados pela banda anterior. Irritado pelo tratamento vil dispensado pelos técnicos petulantes e prepotentes, o vocalista, China Lee, do "Salário Mínimo", fez um discurso inflamado sobre o tratamento sempre diferenciado que as bandas internacionais detinham em relação às nacionais etc.
 
Claro, ele teve razão por estar chateado, mas particularmente, achei que esse destempero, ainda que bem respaldado, foi muito excessivo, pois o público não sabia nada sobre os fatos ocorridos nos bastidores, e dessa forma, o discurso ficou demais para os seus ouvidos. Mas paciência, posso entender o descontentamento dele, embora fique a ressalva que o problema realmente foi a incrível má vontade desses energúmenos do som terceirizado, com o produtor do evento, a lhes chamar a atenção com veemência, horas antes. 
 
Eu emprestei o meu amplificador para o baixista do Salário Mínimo, mesmo por que, tinha (tenho), amizade com o vocalista dessa banda, China Lee, e me solidarizei com o fato do mapa de palco deles, ser semelhante ao nosso e por conta disso, eles estarem a ser também prejudicados pela má vontade dos técnicos ao não seguirem o rider técnico de cada banda, por pura preguiça e desdém. 
 
O Emmanuel estava pronto para capturar imagens do nosso show pela coxia, mas uma produtora da casa, apareceu subitamente para adverti-lo a desligar a câmera, sob pena de ser imposta uma multa, sob um valor absurdo. A questão foi: cobrar como a tal taxa alardeada como uma ameaça? Ela iria exigir os documentos dele e emitiria uma multa em nome de uma pessoa física? Ou exigiria o CNPJ do Pedra, como se fôssemos uma empresa? Pois deveríamos ter filmado tudo, e passado a multa para o "R", isso sim!
Mesmo coibido pela produção da casa, o Emmanuel conseguiu filmar alguns segundos da coxia, nos momentos em que esperávamos o sinal da produção para entrarmos em cena. Nesse sentido, a bagunça da organização foi imensa e assim, contamos mesmo somente com os nossos roadies, pois aqueles elementos a serviço do PA terceirizado, não estavam nada propícios a cooperarem conosco.
        Pedra ao vivo no Via Funchal em 2006. Click: Grace Lagôa

Ninguém da produção do festival esteve por perto para nos fornecer uma sinalização segura para entrarmos em cena e pelo fato da coxia ser grande, o Xando Zupo entrou pelo outro lado e iniciou os seus efeitos de guitarra que davam início à nossa apresentação. Deu para ouvir o som da guitarra dele a ecoar no PA, ao criar um efeito fantasmagórico, com alavanca, semelhante ao barulho de um navio a apitar em alto mar.
Foto panorâmica do Pedra em ação no palco do Via Funchal de São Paulo em setembro de 2006. Click: Grace Lagôa

Contudo, inadvertidamente, alguém da casa disparou um áudio, daqueles a alertar as pessoas presentes no estabelecimento, sobre as normas de segurança obrigatórias da parte dos bombeiros, sendo que isso deveria ter ocorrido antes da apresentação da primeira banda da noite. A bagunça foi total. O Xando esboçou parar a sua introdução com efeitos, mas eis que desligaram o disparo do áudio obrigatório da segurança e o nosso show começou, mesmo sob tal tensão.
Fotos lateral do Pedra em ação no palco do Via Funchal de São Paulo em setembro de 2006. Click: Grace Lagôa

Tocamos a nossa "introdução" normal da ocasião, que se tratava de um trecho da Ópera Rock, "Jesus Christ Superstar", e emendamos em "Madalena do Rock'n' Roll". O som do monitor estava caótico. Simplesmente e por pura preguiça, os energúmenos responsáveis pela monitoração de palco não colocaram o baixo nos monitores do chão, tampouco no "side fill". Com isso, o meu som de palco foi suprido apenas pelas minhas caixas e nada mais. Posso imaginar o sufoco com o qual o Ivan tocou, sem ouvir o meu baixo.
Ivan Scartezini com o Pedra, ao vivo no Via Funchal, em São Paulo. 28 de setembro de 2006. Click, acervo e cortesia de Grace Lagôa

Os teclados estavam pouco audíveis, assim como a voz do Rodrigo, e sobre a guitarra do Xando, eu só a ouvia pela reverberação do PA Quanto à bateria, eu somente ouvia o bumbo, caixa e chimbau, com as demais peças sob um patamar muito baixo. Como estávamos muito bem ensaiados, tocamos mesmo assim, nessas condições horríveis, mas muito seguros, mesmo assim.
Rodrigo Hid e eu (Luiz Domingues) em ação. Pedra ao vivo no Via Funchal de São Paulo. 28 de setembro de 2006. Click, acervo e cortesia de Grace Lagôa

De minha parte, a minha performance foi bastante energética e pelas fotos que temos, dá para notar isso, tranquilamente. Inclusive, a minha foto de avatar da extinta Rede Social, Orkut, foi desse show.
Eu, Luiz Domingues, em destaque. Pedra ao vivo no Via Funchal de São Paulo. 28 de setembro de 2006. Click, acervo e cortesia de Grace Lagôa

Emendada à primeira música, nós tocamos: "Vai Escutando". Nessa altura, apesar da monitoração caótica, eu sentia uma segurança muito grande e ao notar a reação que veio do público, observei que muitas pessoas sorriam, outras dançavam e gesticulavam positivamente para nós.
Eu (Luiz Domingues) e Xando Zupo em destaque, com Ivan Scartezini, atrás, na bateria Pedra ao vivo no Via Funchal de São Paulo. 28 de setembro de 2006. Click, acervo e cortesia de Ricardo Zupa

Foi incrível, mas mesmo por ser uma típica situação desconfortável pelo fato de se caracterizar como um show de abertura para uma banda internacional, nós, mesmo sob a incômoda posição de desconhecidos e indesejados pelo público do dinossauro setentista em questão, estivemos a agradar o público! O fato da canção, "Vai Escutando" ter muitos elementos da Soul Music, com outros em torno da brasilidade explícita, destoara totalmente da pegada das bandas anteriores, que atuaram naquele espectro do Heavy-Metal oitentista.
Rodrigo Hid em destaque. Pedra em ação no palco do Via Funchal de São Paulo em setembro de 2006. Click: Grace Lagôa
 
Olhei para a coxia em um dado instante e vi as presenças dos astros britânicos, Mick Box e o Lee Kerslake, acompanhados do roadie do Mick Box, e do tradutor oficial e cicerone do Uriah Heep, no Brasil, Rodrigo Werneck. Estavam com um ótimo semblante e a apontar para nós, conversavam entre eles de uma forma positiva e depois do show, o Werneck, que eu já conhecia há anos, confirmou que estavam a gostar do nosso som.
Uma tomada lateral da banda, no palco do Via Funchal. 28 de setembro de 2006. Click, acervo e cortesia de Grace Lagôa

Quando esse primeiro bloco com canções, se encerrou, palmas muito efusivas vieram da plateia. Foi muito surpreendente para nós, pois banda de abertura sempre tende a ser hostilizada e ainda mais pelo fato do Pedra ser praticamente uma banda desconhecida, naquele momento.
Foto lateral do Pedra em ação no palco do Via Funchal de São Paulo em setembro de 2006. Click: Grace Lagôa

Portanto, estar ali, a abrir uma banda internacional veterana, diante de seu público sedento por vê-la, já teria sido complicado, imagine com a agravante de sermos desconhecidos e estarmos a tocar músicas que tais pessoas nunca ouviram. O público não sabia, mas tocávamos sob péssimas condições sonoras, graças àqueles energúmenos preguiçosos e desdenhosos, portanto, um mérito a mais para nós.
Xando Zupo com a perspectiva de parte do público. Pedra ao vivo no Via Funchal de São Paulo, em 28 de setembro de 2006. Click, acervo e cortesia de Grace Lagôa

A nossa única sorte foi o fato do Renato Carneiro estar a pilotar o PA, portanto, muito da nossa segurança se deu por esse fator, ou seja, por sabermos que para o público, o peso e a equalização estiveram primorosos, além do fato de estarmos muito bem ensaiados. A terceira música que executamos foi: "Reflexo Inverso". 
Ivan Scartezini em destaque! Pedra ao vivo no Via Funchal de São Paulo. 28 de setembro de 2006. Click, acervo e cortesia de Grace Lagôa 

Como essa música contém uma parte final com elementos progressivos acentuados, também caiu bem para o público do Uriah Heep, com ouvidos preparados para tal aventura. 
Eu, Luiz Domingues em destaque! Pedra ao vivo no Via Funchal de São Paulo. 28 de setembro de 2006. Click, acervo e cortesia de Grace Lagôa

Nesse quesito (sem demérito para as demais bandas nacionais, mas ao ser realista), nós fomos, mesmo por sermos desconhecidos, a banda mais próxima da sonoridade do velho, Uriah Heep, em detrimento das demais que se apresentaram antes.
Rodrigo Hid aos teclados, no fundo e eu (Luiz Domingues). Pedra ao vivo no Via Funchal de São Paulo. 28 de setembro de 2006. Click, acervo e cortesia de Grace Lagôa 

E não deu outra, com o final apoteótico que realizamos, ao lembrar o som d'O Terço" em seus melhores momentos, agradamos em cheio aquela plateia, para aumentar as palmas ao final da execução e a arrancar até alguns gritos, como se fôssemos a atração principal.
Rodrigo Hid aos teclados, no fundo, com a minha presença (Luiz Domingues) e Xando Zupo, à frente. Pedra ao vivo no Via Funchal de São Paulo. 28 de setembro de 2006. Click, acervo e cortesia de Grace Lagôa

A última música do nosso escasso set, foi: "O Galo Já Cantou" e o Rodrigo Hid foi para a guitarra. Os roadies do Uriah Heep ficaram surpreendidos com essa versatilidade dele e comentaram com o tradutor, Rodrigo Werneck, que tal nuance os fizera se lembrarem do ex-tecladista e guitarrista do Uriah Heep, Ken Hensley. 
 
Nesse momento, o Xando arriscou uma fala descontraída ao microfone e eu achei excessivo. Eu não arriscaria dessa forma, mas por sorte, o público estava ganho e respondeu de uma forma ainda mais surpreendente. Ele disse: -"vocês querem mais uma?"
Rodrigo Hid aos teclados (cortado no enquadramento) e eu (Luiz Domingues), em destaque. Pedra ao vivo no Via Funchal de São Paulo. 28 de setembro de 2006. Click, acervo e cortesia de Grace Lagôa

O normal seria ter ocorrido uma saraivada de xingamentos, muitos dedos "médios" em profusão a nos apontar e a indicar que fôssemos embora, além de sinais de "adeus", irônicos. Contudo, uma reação em uníssono sobreveio a nos pedir para que tocássemos mais uma, ao demonstrar que havíamos vencido essa batalha. Tocamos e o solo final de ambos, Xando e Rodrigo, esticou bastante, ao imprimir um clima "Stoneano" ao final de nossa apresentação.
Eu, Luiz Domingues, em destaque, com Ivan Scartezini ao fundo, na bateria. Pedra ao vivo no Via Funchal de São Paulo. 28 de setembro de 2006. Click, acervo e cortesia de Ricardo Zupa

A sensação do dever cumprido foi ótima e eu ainda pude ouvir na coxia o Lee Kerslake comentar com um roadie sobre o Ivan: -"Fantastic Young Drummer" (fantástico jovem baterista). Só por esse comentário, já teria valido a pena todo o esforço.
 
Fomos para o camarim descansar, a nos recompormos e trocarmos o nosso figurino pela roupa casual, com o sentimento que foi ótimo para todos. Havíamos tido muitas dificuldades, porém, o resultado final não poderia ter sido melhor.
Eu, Luiz Domingues em destaque. Pedra em ação no palco do Via Funchal de São Paulo em setembro de 2006. Click: Ricardo Zupa
 
Foto lateral do Pedra em ação no palco do Via Funchal de São Paulo em setembro de 2006. Click: Grace Lagôa
 
De volta ao camarim, o nosso sentimento em torno da vitória obtida, foi total. A reação calorosa de uma plateia que teria tudo para nos hostilizar, aliada às adversidades tremendas que enfrentamos pelo som caótico da monitoração (fora a hostilidade e desdém absoluto da parte dos técnicos terceirizados), nos forneceu a certeza de que apesar de tudo, houvera valido a pena.
Eu, Luiz Domingues em destaque, com Rodrigo Hid por detalhe, ao fundo. Pedra em ação no palco do Via Funchal de São Paulo em setembro de 2006. Click: Grace Lagôa
 
Recompostos, fomos à coxia para assistirmos o show do Uriah Heep. Mesmo ao ficarmos em uma posição estratégica para não atrapalhar o movimento dos roadies dos britânicos, deu para assistir grande parte do show. O clima, no entanto, se mostrou muito tenso entre os componentes da veterana banda britânica. Muitíssimo menos acostumados, ou melhor, nada acostumados a lidarem com monitorações caóticas, na inversa proporção de que qualquer artista brasileiro alocado no mundo underground, passa por isso, sempre, o Uriah Heep sofreu muito para fazer o seu show!
 
O vocalista, Bernie Shaw, teve que mexer, ele mesmo, por diversas vezes na mesa do palco, para tentar corrigir o caos sonoro que os atormentava. Em toda deixa que teve para sair do palco, eis que foi usada para ele tentar amenizar o desastre sonoro.
O veterano, Lee Kerslake, que se irritou bastante com o técnico do monitor.
 
Vimos o baterista, Lee Kerslake, se levantar por diversas vezes do banco da sua bateria e esbravejar com o técnico, brasileiro. Isso sem contar com os roadies britânicos, que davam recados aos montes, a cobrar soluções para o Rodrigo Werneck, o tradutor da banda, poder instruir o atônito e perdido técnico brasileiro. Convenhamos, tentar corrigir defeitos de equalização em um show ao vivo, corresponde a substituir um piloto de avião, em pleno voo.

Isso só valorizou a nossa proeza de tocarmos naquele caos sonoro, sem errar, sem cruzar, e sem desafinar vocais. Só a estar muito bem ensaiado e acostumado com a adversidade absoluta, para conseguir tocar sob tais condições inacreditáveis. No caso do Uriah Heep, o mérito da banda foi estar igualmente bem ensaiada, por que os seus componentes não estavam acostumados a lidarem com essa insalubridade. 
 
Em nosso caso, o fato de que ao contrário, raramente tínhamos boas condições, fez de nós resilientes por excelência. No mais, eu tive o prazer de ficar bem perto da caixa Leslie do órgão Hammond e apreciar seu efeito mágico e sob sabor sessenta-setentista.
O vocalista Bernie Shaw do Uriah Heep, que em todas as suas deixas para sair do palco, foi à mesa de monitor para tentar amenizar o caos sonoro com a qual a banda estava a lutar no palco
 
Em um dado momento em que eu estava acompanhado pelo Rodrigo e da esposa do Ivan, Beth Scartezini, apreciarmos aquele som maravilhoso da caixa Leslie, quando o vocalista Bernie, resolveu ganhar uma impulsão extra, ao passar a correr perto de nós, antes de voltar ao palco em meio a uma de suas entradas triunfais no palco...
O Emmanuel filmou alguns segundos do Uriah Heep no camarim, no momento em que antecedera a sua entrada inicial no palco.
Isso se deu de uma forma discreta, por que a vigilância da casa não permitia etc. Os britânicos entraram a cantar alguma canção folk, engraçada, mas apenas entre eles, como uma brincadeira interna, sem que isso fizesse parte do show. Pareceram os "sete anões da Branca de Neve", a cantarem na mina onde trabalhavam... 

Através do Rodrigo Werneck, soubemos que o roadie do Mick Box, nos elogiara muito. Ele gostou da categoria da banda e a versatilidade do Rodrigo Hid, a cantar, pilotar teclados, tocar guitarra e tudo, muito bem executado.
A banda em ação sob visão panorâmica na primeira foto e na segunda, Rodrigo Hid em destaque. Pedra em ação no palco do Via Funchal de São Paulo em setembro de 2006. Click: Grace Lagôa
 
Estávamos com o sentimento de dever cumprido, no camarim. E eu ainda tive tempo para me confraternizar com o amigo, China Lee, vocalista e líder do Salário Mínimo, com o qual me encontrei no andar superior, aonde ficava o seu camarim. A conversa girou em torno do futebol, pois ele mantinha uma estreita relação com o assunto, já que era (é) um fanático torcedor da Portuguesa de Desportos e já fora até dirigente da sua maior torcida uniformizada, a "Leões da Fabulosa".
Rimos sobre passagens engraçadas que ele nos contou a respeito de apuros que passara em estádios e o Emmanuel Barreto esteve junto na roda de conversa, a ouvir e interagir, embora não tenha filmado esse momento informal e prazeroso que ali tivemos.
 
Ninguém da produção do evento veio se despedir de nós. O comportamento da parte deles foi arredio, do começo ao final e como eu já comentei anteriormente, a única explicação plausível para tal atitude, foi a indisposição com o pseudo empresário "R", que tivemos a infelicidade de nomear como um road manager, às vésperas do evento, e sobretudo, pela imprudência de o testarmos em meio a um evento desse porte e sim, ao corrermos o risco dele nos envergonhar mediante a prática das suas atitudes amadorísticas e histriônicas.
Ivan Scartezini a atuar com o Pedra no Via Funchal de São Paulo em setembro de 2006. Click: Grace Lagôa
 
Bem, se esse foi o nosso erro, mesmo assim, ainda acho que não merecemos termos sido tratados daquela maneira, pois o nosso comportamento foi extremamente profissional, por termos respeitado o horário acordado e por não gerarmos nenhum problema à organização do evento. Pelo contrário, fomos solidários e ajudamos em alguns aspectos, inclusive ao levarmos o nosso técnico, Renato Carneiro, que foi providencial, pois ele auxiliou diretamente as outras bandas e principalmente a técnica do Uriah Heep, que não teve apoio da produção, visto que ninguém da equipe técnica contratada, falava inglês o suficiente para se comunicar com ela a tratar de questões técnicas imprescindíveis para se executar o trabalho. E creio que mesmo que alguém ali em meio à equipe terceirizada, falasse inglês fluentemente, a verdade é que não tenderia a ajudar com a solidária camaradagem com a qual o Renato Carneiro a tratou.
Xando Zupo em destaque, com Ivan Scartezini atrás, na bateria. Pedra no Via Funchal de São Paulo em setembro de 2006. Click: Grace Lagôa
 
E dessa forma, além da comunicação, o Renato a auxiliou de uma forma técnica, para que a moça lidasse com a equalização. A contrapartida dessa cooperação instantânea, foi que ela gentilmente sugeriu que o Pedra atuasse com a pressão sonora quase igual à do Uriah Heep, quando a praxe do show business, determina que banda de abertura atue com 20% da capacidade do PA. 
 
O último ato dessa história, se deu no estacionamento da casa. Muito simpático, o guitarrista do Uriah Heep, Mick Box apareceu no local, acompanhado de um roadie, que carregava duas guitarras consigo. Ele conversou com o Xando Zupo, brevemente, enquanto os nossos roadies encerravam o carregamento da Van.
Pedra no Via Funchal de São Paulo em setembro de 2006. Click: Grace Lagôa
 
Eu que sou fã do Uriah Heep, não participei desse momento na íntegra, pois quando cheguei ao estacionamento, o Mick Box estava quase por se despedir. Mas passei pelos demais componentes, quando cruzei rapidamente por eles, que caminhavam em direção ao elevador e os cumprimentei.
 
Voltamos ao estúdio, contentes com o saldo positivo por termos agradado o público em sua maioria, ao lhes arrancar aplausos, ou seja, uma proeza muito difícil de se obter, por termos sido uma banda de abertura para um show de um grupo de Rock "dinossauro" internacional e ainda por cima, em nossa condição nessa época, por formarmos uma banda praticamente na estaca zero em termos de projeção, como o Pedra o foi naquele instante.
A banda a posar nas dependências do estúdio Overdrive de São Paulo, em um momento futuro de 2007. Click: Grace Lagôa
 
A ideia doravante, foi usar esse saldo ao nosso favor, para que assim, aliado ao bom movimento que estávamos a obter, com matérias positivas a elogiar o CD, mais execução radiofônica e clips bem feitos, em película de cinema, com assinatura de um diretor famoso no meio, enfim nos expandirmos ao máximo. E uma parcela dessa esperança, deveria ter sido depositada nas mãos de "R", o "manager" que supostamente alinhavaria tais elementos e transformá-los-ia em oportunidades para a banda. Ele deveria fazer isso, em tese...

Pedra no Via Funchal de São Paulo em setembro de 2006. Click: Grace Lagôa
 
Já no avançar da madrugada, tivemos indícios de que a nossa participação houvera sido mesmo, vitoriosa. Vários comentários já pululavam na internet e naquela ocasião, a grande febre virtual, ocorria na Rede Social, Orkut.

Muito boa a resenha desse rapaz, mas não consigo imaginar em que aspecto ele enxergou influência do "Heavy-Metal" em nosso som...

No dia seguinte e nos posteriores, muitas resenhas foram publicadas em Sites e Blogs e essa tendência se repetiu algumas semanas depois, quando muitas outras surgiram a citar a nossa boa participação, ao serem publicadas em revistas especializadas.
Nesta resenha de Internet (não consegui descobrir o nome do Site, tampouco do resenhista que a assinou, se insistiu na ideia de que apesar da nossa banda ter apresentado muita qualidade técnica e sonoridade e aliás, muito mais próxima à da atração internacional, o Uriah Heep, houvera ocorrido um "esquema" malicioso para nos favorecer. Se soubesse a verdade dos bastidores, tal crítico teria ficado chocado com a realidade, certamente. Contudo, tivemos a sorte dos nossos clips terem sido exibidos, sim, nos telões da casa e o som de lounge ser o do nosso disco, por um único motivo: o nosso técnico comandou o PA, portanto, se houve um favorecimento, foi algo fortuito e não arquitetado pela produção do evento de uma forma planejada como esse rapaz deduziu.

O sentimento foi bom e para ir além, sabíamos que precisaríamos capitalizar esse "momentum" e como já disse, seria a hora do nosso "manager", o estrambótico "R", agir...
Paula Witchert, a representar o Site "Revista Eletrônica", acertou na mosca: fôramos a banda com sonoridade mais coadunada com o Uriah Heep.

Mas os dias se puseram a passar e o sujeito, sumiu. Não respondia e-mails, tampouco telefonemas, ao nos deixar atônitos com tal comportamento injustificável de sua parte.
Bem, a nossa paciência já se esvaía, quando finalmente o Rodrigo conseguiu falar diretamente com o elemento. Esse rapaz as se mostrar irritado com a abordagem, disse que estava muito "ocupado" para conversar com o Rodrigo. Ao ser questionado sobre devolver os CD's e DVD's com os quais havíamos lhe fornecido para que ele pudesse trabalhar, ele respondeu de maneira ríspida, que o nosso prejuízo não poderia ser menor que o dele, que gastara recursos mediante despesas contraídas na agência do correio...
Isso extrapolou qualquer expectativa nossa em considerarmos as atitudes dele, tresloucadas. Que despesas? Que correio? Ora, ora, não tínhamos mais doze anos de idade para acreditar em desculpas esfarrapadas desse nível.
Foi muito positivo, nos elogiarem na revista Rock Brigade (edição 244, de novembro de 2006), mas cabe a ressalva, pois só tocamos uma menção à música "The Mule", do Deep Purple, acoplada ao arranjo da nossa música, "Reflexo Inverso", e não "alguns covers" como afirmaram, mas, sim, o público a reconheceu e delirou, mesmo...

Agora, incompreensível mesmo, foi tentar entender o porquê dele ter desistido de trabalhar ao nosso favor, pois o "momentum" que atravessávamos, fora excepcional.
Não apenas pelo êxito de se abrir um show internacional e por agradar o público (feito raro demais, sabíamos disso), mas pelas matérias excelentes, publicadas através da mídia escrita, música a tocar em uma FM de São Paulo, clips bem produzidos e crescente movimentação pela internet. 
 
Quanto à atitude de nos abandonar sem justificativas da parte do agente citado, aí foi questão de índole, portanto, prefiro nem comentar mais nada. Só acrescento que em tese, tal prática equivale àquela atitude infantojuvenil de se tocar campainhas residenciais e sair a correr... enfim, a vida seguiu sem o indefectível "R", é claro...
 
E por falar em boas resenhas sobre o primeiro CD, eis a transcrição literal do que o jornalista, Antonio Carlos Monteiro, escreveu nas páginas da revista "Rock Brigade", n° 240, de julho de 2006:

"A discussão é cabível: até que ponto a reverência ao passado recente é saudosismo saudável e até que ponto é saudade mal curada? Porque nunca se falou nos anos 60 (menos) e 70 (mais), no que se refere ao Rock, como nos tempos atuais e a discussão sobre se isso é bom ou ruim, parece interminável.

Este quarteto paulistano talvez tenha conseguido encontrar o ponto exato para tratar do assunto. Pra começar, Rodrigo Hid (V/G), já tocou na Patrulha do Espaço, Luiz Domingues (B), foi d'A Chave do Sol, do Pitbulls on Crack e da Patrulha, além de incontáveis outras bandas, Xando Zupo (G), tocou com o Harppia e com o Big Balls (o batera Ivan Scartezini entrou depois de o disco ser gravado).
 
Ou seja, é um povo com estrada e experiência suficiente pra não cair fácil nessa armadilha. Assim, o Pedra tem um som calcado lá no passado, é óbvio, mas olha pra frente, sem medo de incorporar novas tendências e novas sonoridades à sua música.
 
Os flertes são vários, até a Soul Music, o Funk e a música brasileira dão as caras por aqui, só que sem jamais perder o foco, que é o Rock bem tocado, mas sem ser cerebral, feito por músicos que não tem a tola pretensão de brilhar mais que a música".

Antonio Carlos Monteiro


Bem, a crítica foi ótima, sem dúvida. Ficamos contentes pelo Tony (Antonio Carlos Monteiro, jornalista exemplar e experiente, que eu conhecia desde os anos oitenta, quando ele trabalhara na revista Roll), ter enxergado que éramos uma banda de Rock, sim, mas aberta à outras tendências e ele acertou sobre alguns dos estilos que nos influenciavam.
Pedra ao vivo no Centro Cultural São Paulo em julho de 2006. Click: Grace Lagôa
 
Gostei muito também da colocação final, quando ele exaltou o fato de que não exagerávamos nos virtuosismos, sob o risco de extrairmos o foco da música em si. De fato, sempre trabalhamos de uma maneira muito focada nesse sentido.
 
Não somos, como músicos (e nunca seríamos, na verdade), mais importantes que a própria música que fazíamos. Essa colocação teve uma razão de ser, portanto. 
 
Como o Tony (já há muitos anos, aliás) estava a trabalhar na Rock Brigade, uma publicação que focava em 99 % de sua linha editorial no Heavy-Metal e de seus múltiplos derivados, esse tipo de preocupação se mostrou cabível dentro desse universo, pois existem tendências dentro desse mundo, que brigam entre si, por conta desse conceito. Contudo, como não tínhamos nem de longe, qualquer conotação dentro desse universo, para nós, não houve sentido algum.
Pedra a posar na Avenida Paulista por ocasião da filmagem do vídeoclip da música "Sou Mais Feloiz" em agosto de 2006. Click: Grace Lagôa
 
E o mesmo se observa em relação à questão sobre sermos ou não influenciados pela música dos anos 1960 & 1970. Eu tenho essa influência decisivamente em minha formação pessoal, particularmente, mas o Pedra não desfraldava essa bandeira. E além do mais, essa preocupação também é uma questão típica do mundo do Heavy-Metal, onde existe essa obsessão pela idade cronológica dos artistas e sobretudo, sobre o seu comprometimento com estéticas que saem de moda sob uma velocidade estonteante. Daí ele ter aberto a resenha, com essa colocação, que é uma preocupação recorrente dentro desse mundo no qual os leitores daquela revista, viviam.
 
Explicadas essas considerações, creio que a resenha foi excelente e o fato de ter sido publicada em um veículo a abranger maneirismos típicos de um mundo que não era o nosso por adequação estética, foi uma prova de respeito muito grande por parte do jornalista, pois mesmo ao constatarmos ter sido um velho amigo e justamente por isso, ele teria total liberdade para nos dizer abertamente que achara inadequado publicar tal resenha naquele veículo e nós teríamos entendido a sua explanação, perfeitamente.
Outras boas resenhas do CD, que foram publicadas nessa época, e que eu transcrevo aqui, neste momento. Primeiro, a micro resenha que o bom jornalista, Daniel Vaughan, publicou no Site da MTV:

"O grupo traz dois ex-membros da Patrulha do Espaço, o vocalista e guitarrista Rodrigo Hid e o baixista, Luiz Domingues, aliados ao experiente guitarrista Xando Zupo. 

O som do Pedra remete ao Rock dos anos 70, com levadas de soul / Funk ao estilo do Dobbie Brothers. "Sou Mais Feliz" é uma das melhores canções do disco, ao lado de "O Dito Popular".

Daniel Vaughan

Outra interessante, foi publicada em um site chamado: "Tons Diversos", mas desconheço a autoria de quem a redigiu:

"Pedra acaba de lançar seu primeiro CD. É uma banda nova em todos os sentidos. Seu conceito sonoro, as temáticas das letras e o desprendimento com estilos pré-formados dão um frescor genuíno à estreia do grupo, que tem seu CD espalhado pelas melhores lojas, em todo o país.  

A banda inicia sua tour de lançamento e estreia nas rádios, com a música "Sou Mais Feliz", cujo videoclip estreia em setembro na MTV, Multishow e Rede NGT. O Clip filmado em 16 mm., tem a direção de Eduardo Xocante e a participação especial dos atores Claudia Cavalheiro e Daniel Alvim. Formada por músicos experientes, esbanjando um vigor de estreia, a banda Pedra é Rodrigo Hid ( Guitarra, piano, teclados e voz), Xando Zupo (Guitarra e Voz), Luiz Domingues (Baixo e Voz) e Ivan Scartezini (Bateria).

O Alto astral da estreia fica claro em "Sou Mais Feliz", "Se Agora eu pulo Fora", "O Dito Popular", "Madalena do Rock'n' Roll" e o rockaço de "O Galo Já Cantou".

"Amanhã de Sonho" tem cara de Hit radiofônico e "Reflexo Inverso" é talvez a mais poderosa composição do álbum, climática e executada com esmero. 

Musicalmente, o disco surpreende pelas composições e pela agradável sonoridade. No palco, o Rock é sólido e de assimilação garantida. Vá lapidando esse disco a cada audição, pois essa Pedra é preciosa!"
Bem, primeiro ao comentar a resenha de Daniel Vaughan para o site da MTV, tenho a dizer que apesar de ter sido curta, foi positiva. Perceber a influência da Black Music foi de uma boa perspicácia da parte dele e ao nos comparar ao trabalho da banda norte-americana, "The Doobie Brothers", se tratou de uma lisonja e tanto. 
 
Claro que houve uma falha mas não o culpo, pois, o Xando também foi membro da Patrulha do Espaço, no início dos anos noventa. Quanto à segunda resenha, no Site "Tons Diversos", as observações de quem a escreveu foram pertinentes e ficamos contentes com os elogios, certamente
 
Em outubro de 2006, o "momentum" foi ótimo, por conta de toda essa movimentação que criamos a partir do final de maio e junho em diante, principalmente. Mas houve um elemento desabonador nessa questão, que mensurávamos nessa época, mas que não dependia da nossa exclusiva vontade, naturalmente. Sem um empresário, manager, agente, ou no mínimo uma pessoa desbravadora que se propusesse a vender o produto "Pedra", toda a movimentação que fizéramos tenderia a se esvair ralo abaixo, com uma facilidade espantosa.
Banner exposto através do Site Wiplash, a anunciar o lançamento do nosso álbumde estreia, em 2006

E foi o que ocorreu, infelizmente, pois quando nos pareceu que as portas insinuar-se-iam a abrirem, teria sido necessário alguém capaz para precipitar de vez esse movimento e aproveitar ao máximo tal abertura, de fato. E assim, na ausência absoluta de uma pessoa nessas condições, vimos escapar pelos dedos a possibilidade de galgar mais degraus, nessa surpreendente escalada que tivemos, pelos próprios meios.
                          Matéria no Site: "Tocando Guitarra"

Enfim, não é nenhuma novidade que os acontecimentos se processem dessa forma em qualquer setor da vida e no mundo artístico, denota conter um acento ainda maior, tal prerrogativa. Claro, não tivemos outra perspectiva melhor sobre tal car~encia a ser suprida na ocasião, com a frieza que o distanciamento histórico me permite observar para esta análise, agora (2016). 
Resenha sobre o disco no Site: "A Barata", do poeta/ativista cultural, Luiz Cichetto, o "Barata"

Pelo contrário, estávamos muito animados pelo "momentum" e por considerarmos ser questão de dias, no máximo semanas, ter novas investidas firmes rumo à degraus mais elevados.
A sigla "RPB" fora uma mera jogada de marketing que usamos e a sua ideia tinha advindo da parte do Rodrigo Hid. Significava: "Rock Popular Brasileiro" e não queria dizer absolutamente nada, em termos teóricos, em suma, a se revelar apenas como uma invenção de marketing em termos de uma frase de efeito. No entanto, certos órgãos da mídia culminaram em comprar tal proposta jogada no release do disco e a usaram, caso dessa resenha publicada no Site "Futrico", aliás um site baseado em fofocas sobre atores de novelas e subcelebridades da TV aberta, portanto, agradecemos a publicação, mas se tratou de um mundo estranho para nós e vice-versa!

Nessa linha de pensamento, pensávamos de maneira otimista que em qualquer momento, surgiria um empresário com vontade de trabalhar e com talento e contatos para conduzir a banda para lugares melhores.
Boa resenha assinada por Marcia Janini, para o Site: "Musicão". Essa resenhista percebeu que éramos uma banda multifacetada, por conta das diversas influências que tínhamos e citou músicas que apreciara, ao lhes dar elogios, a provar que realmente ouvira com atenção o trabalho.

Alguém com um nível minimamente profissional e não precisava ser um mega empresário poderoso (claro que se alguém de tais características aparecesse, aceitaríamos de bom grado). No entanto, o tempo se pôs a passar e ninguém, assim com tal qualificação mínima para a função, se interessou por nós.
O amigo, Alexandre "Wildshark", fez uma bela resenha para o Site "Rock on Stage". Eu o conheço de longa data e sei que é um radialista/músico e ativista cultural experiente, além de se mostrar bastante versado no ramo.

Eis o dilema: seria melhor ficarmos sozinhos ou contar com um sujeito sem noção, como o "R"? Claro que esse rapaz citado não era qualificado para atender as nossas expectativas, mas ao ficarmos sozinhos, não foi uma situação nada saudável para nós, ainda mais em um momento pelo qual, se tivéssemos alguém experiente a cuidar de nossos interesses, teríamos subido alguns degraus a mais, já naquele momento.
Bento Araújo dispensa apresentações como jornalista, crítico de Rock e editor da Revista Poeira Zine. Neste caso, ele, resenhou o nosso disco para o Site: "Show Livre"

Nesses termos, além das execuções radiofônicas que prosseguiram com força (até surpreendentemente para nós) e as matérias com resenhas do disco, que continuaram a serem publicadas com teor muito positivo, nós entramos em uma fase difícil em termos de agenda.
Como sempre em suas matérias, o ativista cultural, Marcos Cruz elaborou uma resenha extensa e recheada por detalhes, para o Site "Wiplash". Foi curiosa a sua linha introdutória, no entanto, ao abordar a sua expectativa poessoal prévia de um possível desapontamento em relação ao trabalho, talvez por nos comparar a bandas que optaram pelo caminho do som Pop radiofônico comercial de forma proposital, apesar de possuir em suas linhas, músicos egressos de bandas de Rock, históricas. Foi o caso de algumas como "14-Bis" e "Rádio Táxi", em âmbito nacional, e o "Asia", no campo internacional. A se louvara sua sinceridade para deixar claro que havia duvidado de nós, principalmente eu (Luiz) e Rodrigo Hid, que ele admirava por conta da nossa passagem longeva pela Patrulha do Espaço e nesses termos, foi bom que ele tenha apreciado e a resenha tenha se finalizado de uma forma positiva, com ele quase a se desculpar por ter duvidado que o Pedra fosse uma banda "não vendida" ao sistema...

Talvez o último bom indício desse ótimo impulso de 2006, tenha sido uma aparição em um programa de TV, em que tivemos espaço farto para falar e tocar ao vivo.
A citação ao nosso disco no catálogo da distribuidora Tratore, em 2006

Uma pena que fosse um programa com pouca repercussão, por ser veiculado em uma estação com baixa audiência, que nem era da grade da TV paga e tampouco constava da grade da TV aberta. Nesse limbo do obscuro sinal "UHF", tal emissora ficava escondida a Rede NGT, uma estação com ótimos propósitos, boa estrutura técnica e sobretudo, aberta a dar espaço a artistas independentes, sem estar contaminada com a maldita instituição do jabá. Conto a seguir, sobre essa etapa.
Nesses termos, fomos convidados para participarmos de um programa nessa rede de TV, o NGT, chamado: "NGT Independente", em outubro de 2006. O programa era apresentado pelos membros de uma banda, chamada, "Irmandade do Som" e continha o nobre objetivo em abrir espaço a bandas independentes e sem chances na mídia mainstream.
Um dos vocalistas da banda, "Irmandade do Som", conhecido pela alcunha de: "Chapéu de Couro"

Fomos muito bem recebidos pelo pessoal dessa banda, e de fato, simpatizamos bastante com eles, ao nos tornarmos amigos doravante, principalmente nas pessoas de "Chapéu de Couro", Carlos Zoffo e Cris "Boka de Morango" Escudeiro. 
 
Foi um programa bem agradável, com a possibilidade de tocarmos duas músicas ao vivo e empreendermos uma boa conversa, conduzida pelo extrovertido, Carlos Zoffo, um dos vocalistas daquela banda. 
 
Um fato curioso ocorreu durante a gravação da entrevista: enquanto nos entrevistava, o telefone celular do Carlos tocou e no afã de querer aproveitar um gancho como improviso, ele o atendeu e a usar o seu interlocutor na brincadeira, afirmou algo do tipo: -"que bom que está a gostar do som do Pedra, neste dia tal de tal", ao se referir à data em que gravávamos o programa. Com isso, ele se esqueceu de que a data correta que deveria ser mencionada, seria o sábado posterior, quando efetivamente o programa iria ao ar...
Quando ele percebeu a gafe, perdeu a conexão e despertou uma gargalhada coletiva de seus colegas da banda, "Irmandade do Som"; técnicos da TV, e de nós, também. Ele foi espontâneo e caiu na risada, também, ao cortar o constrangimento. 
 
O que ocorreu a seguir, foi que fizemos uma nova tomada da entrevista, que foi boa, mas a tomada estragada esteve melhor, devido ao astral descontraído com o qual se desenrolara, com maior espontaneidade. Uma pena, mas TV é assim mesmo.
 
Carlos era muito extrovertido, gentil e arrancava risadas com os seus improvisos, mediante o uso do seu jargão que se tornou até uma piada interna para nós, por muitos meses: -"sabe o que é isso, banda?" 
 
Ele usava tal expressão para se dirigir às bandas amadoras que assistiam o programa e sonhavam em ali se apresentarem, para usar o nosso exemplo e de outras bandas boas que ali eram exibidas, para incentivar os garotos aspirantes a artistas, para que estudassem e ensaiassem com afinco, sob uma preocupação didática, digamos assim, louvável. 
 
Na parte musical, nós tocamos as músicas: "Madalena do Rock'n Roll" e "Vai Escutando". Estávamos muito afiados e auxiliados pela boa vontade da banda em questão, que apresentava o programa e dos técnicos, tivemos uma mixagem de som para a TV, acima da média normal do que geralmente se espera nessas circunstâncias. Então, foi uma performance excelente, com as músicas a soarem muitíssimo bem.
Eu (Luiz Domingues) e Emmanuel Barreto, em foto no estúdio da Brasil 2000 FM, em julho de 2006. Click: Grace Lagôa

E o meu primo, Emmanuel, esteve presente a atuar como cinegrafista dos bastidores. Existe uma filmagem desses bastidores, incluso a retratar a tomada interrompida da entrevista, com a gafe do entrevistador, Carlos Zoffo. Um dia vai para o YouTube! Quanto às músicas, estas estão disponíveis no YouTube, desde 2006.

Uma pena que a Rede NGT detivesse uma audiência pequena, ao permanecer nesse limbo entre a TV aberta e a paga. As suas intenções foram (são) nobres no tocante a se manter uma programação a abordar um nível cultural muito positivo, sem estar contaminada com o vírus do jabá e a se assemelhar de certa forma, com a conduta de emissoras de TV dos anos 1960, como a TV Record, por exemplo, a se esmerar em tratar bem a cultura.


http://www.youtube.com/watch?v=idpeNRd4Ob0
Ivan Scartezini em ação ao vivo no Café Aurora de São paulo em maio de 2006. Click: Grace Lagôa
 
Após essa boa aparição que tivemos na TV, quando fomos bem recebidos, pudemos falar com tranquilidade e tocarmos ao vivo com um som bem ajustado, só lamentamos que a estação em si, não contivesse uma audiência digna de suas boas intenções culturais. Foram os últimos dois meses de 2006, e não tivemos mais perspectivas para realizarmos shows, infelizmente.
Xando Zupo nos bastidores da filmagem do clip da música: "Sou Mais Feliz". Click: Grace Lagôa 
 
A música, "Sou Mais Feliz", continuava a tocar com boa profusão em uma estação FM de São Paulo, mas não havia indício de que entrasse em outras estações, por extensão. Realmente, o fato de ser executada em uma ao menos, já fora extraordinário por si só, ao se considerar que nós dobrávamos a primeira década do novo século/milênio e a cultura maldita do "jabá", estava para lá de sedimentada, há anos, infelizmente.
Foi muito bom contarmos com uma resenha publicada em um jornal mainstream e popular, que geralmente abria espaço apenas para manifestações culturais popularescas, mas convenhamos, somente na percepção do desconhecido jornalista que a escreveu, para deduzir que o nosso objetivo de vida seria seguir os passos do "Jota Quest". Particularmente, acho essa banda mineira, muito competente, mas se ele tivesse ouvido o nosso disco mais detidamente e ostentasse, sobretudo, uma cultura musical mais avantajada, não teria escrito essa asneira.

Tivemos publicadas mais algumas matérias e resenhas em revistas, com críticas positivas sobre o CD e creio que foi só o que aconteceu de positivo para esse momento do final de 2006.
Na Revista Roadie Crew, nº 93, que chegou às bancas em outubro de 2006, se falou o seguinte sobre o álbum, Pedra I:

"Mais uma banda de Rock pesado em português, estilo que parece ter um grande renascimento nesses últimos anos. Temos vários exemplos de bandas que seguem esta linha de som, como Tomada, Carro Bomba, Baranga, 1853, Exxótica, Mahabanda e agora também o Pedra, que embora mais leve, que seus companheiros de estilo, não perde a qualidade.
 
O grupo é formado por Luiz Domingues (baixo e vocal), Xando Zupo (guitarra e vocal), Pedro Hig (sic) (vocal, guitarra e teclado) e Alex Soares (bateria, convidado para a gravação do álbum).
 
Para o meu gosto pessoal, acho que as músicas poderiam ser mais pesadas, mas isso é algo que vai variar de pessoa para pessoa que ouvir o disco. Destaques para , além da qualidade da gravação, a guitarra de fundo de "Amanhã de Sonho", que lembra "Always With Me, Always With You", de Joe Satriani, "Reflexo Inverso", que me lembrou o April Wine, a "zeppeliniana" (especialmente pelo Slide Guitar), "Estrada" e para a minha predileta, "Me Chama na Hora".
 

Nota: 7.0

Carlo Antico


Bem, claro que eu sou muito agradecido ao Carlo Antico, por ter feito essa resenha, em termos de boa v
ontade e principalmente por ter se esmerado, ao colocar um microscópio para achar aspectos positivos nesse trabalho (não que ele não seja bom, quando é público e notório que o é), mas principalmente por se levar em consideração que o resenhista era (é), notadamente um aficionado da estética do Heavy-Metal.
 
Portanto, ao enxergar por esse ângulo, achei muito interessante o seu esforço pessoal para buscar qualidades em meio a um tipo de trabalho que passa longe de seu rol de predileções. Dessa maneira, esse rapaz demonstrou um sinal de respeito. Feita essa ressalva que é muito importante a ser destacada, vamos aos fatos:

1) Maneirismo típico de críticos musicais do mundo do Heavy-Metal/Hard-Rock oitentistas, ele gastou quase a metade do espaço da sua resenha para enfatizar o fato da nossa banda ter a predisposição artística para escrever letras em português. Ora, isso somente é surpreendente para quem habita esse nicho fechado e obcecado por tal questão, pois é claro que usávamos o idioma português como língua oficial para nos expressarmos em nossas canções, e nem se cogitara cantarmos em inglês, fato corriqueiro no métier do Heavy-Metal.

2) Sob uma falha lastimável na digitação da ficha técnica... quem é "Pedro Hig?" Na nossa banda, eu conheço o Rodrigo Hid, conforme consta na ficha técnica do disco, e no release oficial que seguiu em anexo para a redação dessa Revista. Mas tudo bem, estou só a observar a falha e de fato, elas ocorrem no campo da revisão & diagramação.

3) Gostei da honestidade do resenhista ao afirmar que para o seu gosto pessoal, o trabalho deveria ser mais pesado. Isso deixa claro que o nosso trabalho não fazia sentido para ele, a grosso modo, mas por isso mesmo, louvo a sua extrema boa vontade para resenhá-lo, quando em seu lugar, alguém sem a mesma lisura e consideração, teria falado mal da obra, ao usar de sua idiossincrasia "metálica" ou na melhor das hipóteses, o nosso disco teria sido preterido pelo editor, ao julgá-lo fora de propósito para aquela publicação (o que de certa forma, seria uma verdade). Bem, claro que o nosso álbum era (é) leve demais para o gosto do rapaz, em suma.

4) Cada pessoa faz uma leitura conforme as suas lentes pessoais, isso é fato da vida. As associações que ele estabeleceu entre algumas canções nossas e o trabalho de artistas internacionais, foi mera visão dele e nada teve nada a ver com a realidade. Aonde ele enxergou influência do guitarrista, "Joe Satriani", digo que esse referido músico não era (é) referência para nenhum de nós, membros do Pedra, em hipótese alguma. No meu caso em particular, apenas sei que ele existe, mas daí a apreciar alguma música de seu repertório, existe um abismo. 
 
Respeito o trabalho do "April Wine", mas não é nem de longe uma banda que eu admire, tampouco os meus companheiros pensavam/pensam assim. 
 
A associação mais próxima que ele fez e houve uma certa veracidade, foi com o "Led Zeppelin", mas mesmo assim, se fosse um jogo de "Batalha Naval", o seu tiro teria acertado a água, pois no caso da canção: "Estrada", a influência mais correta ali é o estilo "Southern Rock" de bandas como "Allman Brothers Band", "Lynyrd Skynyrd", "Foghat", "38 Special", "Marshall Tucker Band", "Alabama", "The Doobie Brothers", e congêneres (para citar uma banda mais "moderna" e nossa contemporânea da época, o "Blackberry Smoke"). 
 
E por fim, uma surpresa: ao afirmar que a sua canção predileta se tratara de: "Me Chama na Hora", denotou que absorveu a batucada de samba explícita que existe nessa música. Nesse caso, nada mal para um fã de Heavy-Metal, que tende a ser fechado em suas convicções. 
 
Discos de Heavy-Metal que estiveram analisados na mesma seção de resenhas da referida revista, ganharam notas mais altas, o que foi normal, por se tratar de uma típica revista especializada nesse nicho. Mas uma nota "sete", para um disco de uma banda nada a ver com esse mundo, foi excepcional, eu diria. 
 
Hoje em dia, eu não perderia o meu tempo para encaminhar um trabalho do Pedra para tal publicação. Deixo a ressalva que não tenho nada contra tal publicação e pelo contrário, eu tenho até um grande amigo em sua redação, o excepcional jornalista, Antonio Carlos Monteiro. Contudo, o Pedra não pertencia a esse mundo do Rock pesdado e assim, ter um trabalho ali resenhado não nos ajudou em nada, em uma primeira instância de avaliação. 
 
Em segundo lugar, poderia até causar um incômodo, pois a despeito de sermos deslocados naquele mundo, pela amizade e respeito que nutriam por nós, claro que iriam resenhar tudo o que enviássemos, mas sempre a se cometer o uso de ressalvas estratégicas, como o Carlo Antico estabeleceu, para explicar ao seu leitor tradicional, que uma banda como o Pedra, seria um alienígena ali para a percepção deles, mas que tinha o seu valor etc. Essa é a realidade e fica sempre a questão do respeito mútuo para profissionais que se dignam a falar de nós, apesar das disparidades óbvias observadas entre o trabalho e os propósitos da publicação em si. Portanto, saúdo e louvo a revista, "Roadie Crew" e Carlo Antico em particular por essa resenha.

O grande embalo inicial estava a diminuir, sem dúvida e claro que hoje em dia é muito fácil para enxergar tal dificuldade que estávamos a vivenciar, pelo distanciamento histórico. Na época, sentíamos uma queda, mas relevávamos, por atribuí-la ao inevitável "fechamento do Brasil", que ocorre de dezembro a março, mediante o hábito adquirido desde 1500, digamos assim.
Outra resenha publicada e que nos alegrou pelo seu conteúdo positivo, foi publicada na revista: Cover Guitar e apesar de ser uma publicação dirigida para músicos, praticamente, claro que foi uma honra e comemoramos o fato de termos sido avaliados com muitos elogios. Eis abaixo a íntegra da resenha:
"Pedra

Desde já, reconheça-se o mérito de um grupo nacional que decide, em seu disco de estreia, enveredar por uma atmosfera setentista sem soar datado e cheirando a patchuli. Só que o fato de seus integrantes não serem marinheiros de primeira viagem - a banda foi formada a partir de uma verdadeira debandada da lendária Patrulha do Espaço, de onde vieram os guitarristas Xando Zupo e Rodrigo Hid (que também toca teclados) e o baixista Luiz Domingues - certamente pesou na hora de transformar este disco em uma bela e agradável surpresa. 
 
Desenvolvendo um paciente, acurado e competente trabalho de composição e arranjo, a banda mostra que quando criatividade, bom gosto e conhecimento musical se unem à técnica, se fecham os caminhos que levam à indiferença. 
 
Há ecos psicodélicos dos Allman Brothers em determinados licks de "Me Chama na Hora" e nos quase sete minutos de "Reflexo Inverso", em que Xando e Rodrigo dão demonstrações de eficiência ao tecer uma teia harmônica muito bem cerzida. "Misturo Tudo e Aplico" e a ótima "O Galo já Cantou" são daquelas canções que poderiam estar em um disco do Trapeze de Glenn Hughes, o mesmo acontecendo com o Rockão "Madalena do Rock'n' Roll. 
 
Até mesmo aquilo que seria o ponto fraco em muitos grupos do gênero - as baladas -, o Pedra se dá bem na delicadeza Rocker de "Amanhã de Sonho". Ainda vamos ouvir falar muito deste grupo..."


RT


Bem o "RT" em questão é o jornalista, Régis Tadeu, e nesse caso, ele não é apenas um dos maiores conhecedores de música e Rock em específico, do jornalismo musical brasileiro, como se mostra bem famoso no meio, por ser muito exigente. Neste caso, foi boa a sua resenha, mas como era (é) típico da crítica musical brasileira, o início da reflexão do jornalista, é marcado pela insistência em bater na tecla do que é "datado" e em nosso caso, se exalta o fato de que soávamos setentistas, mas sem o aroma de "Patchouli", ou seja, através da sua metáfora eu penso que nós deveríamos ficarmos contentes com o fato de termos passado nesse teste de detecção de naftalina no trabalho. 
 
Nos demais aspectos levantados, se provou como uma crítica muito positiva, a exaltar pontos que se sobressaíram, segundo a sua percepção pessoal e reconheço, mediante conhecimento de causa.
 
A citação do grupo "Allman Brothers" em relação à música, "Me Chama na Hora", não bate com a minha percepção pessoal, pois acho que "Estrada" cabe melhor em tal comparação estilística, mas isso em nada desabona a crítica dele, ao meu ver. Claro que por se tratar de uma publicação dirigida a guitarristas e aspirantes, o foco se centrou mais na performance de Xando e Rodrigo. Natural, que tenha sido assim. 
 
A comparação com o grupo britânico, "Trapeze", foi muito honrosa, naturalmente, e o fato dele haver elogiado a canção: "Amanhã de Sonho", da maneira com a qual o fez, denotou que em outras avaliações sobre outros artistas, talvez o jornalista não tivesse tanta paciência com baladas. Ponto para nós, portanto.  
 
A frase final por ele cunhada, talvez tenha sido a mais emblemática da resenha e representa tudo o que um artista deseja que um jornalista fale a respeito do seu trabalho: -"ainda vamos falar muito desse grupo". Ou seja, tem o peso de uma profecia, proferida da parte de quem geralmente usa como trunfo profissional, estabelecer acertos em avaliações para o futuro. Em suma, apreciamos e agradecemos tal resenha muito positiva desse renomado crítico musical.

Sem perspectivas para shows em curto prazo, por outro lado, nós já trabalhávamos em músicas novas, que se avolumavam, ao insinuar a vontade de elucubrar a produção do segundo disco. E assim se encerrou o ano de 2006.
Entrevista com os guitarristas do Pedra, Xando Zupo e Rodrigo Hid, para a revista Guitar Player, em 2006, logicamente a focar mais em questões técnicas da performance e equipamento usado por ambos, uma praxe dessa publicação dirigida a músicos e aspirantes a.
Antes de adentrar na cronologia e enfocar o ano de 2007, para o Pedra, é um momento bom para esmiuçar um pouco melhor o álbum de estreia da banda, faixa a faixa. Como o leitor já sabe, esse álbum começou a ser gravado no início de 2005, mas só veio a ser lançado na metade de 2006, por uma série de fatores alheios à nossa vontade.
Primeiramente, por que as sessões de gravação ficaram muito espaçadas. O nosso técnico de som e produtor do álbum, Renato Carneiro, trabalhava como técnico de PA de uma dupla sertaneja mainstream (Zezé Di Camargo & Luciano) e ao cumprir vinte e cinco shows por mês, em média com tais artistas populares, geralmente realizados em rincões distantes do país, portanto, a sua disponibilidade para estar em São Paulo, foi mínima nesse tempo e mesmo assim, claro que nos poucos dias de folga, ele teve os seus afazeres pessoais, fora estar angustiado por viver longe da esposa e dos filhos em idade escolar, portanto, sobrava pouco tempo para vir cuidar da nossa gravação e mixagem.
Outro fator para ser considerado, logo no início da gravação, ainda contávamos com um quinto membro, o guitarrista, Tadeu Dias, que infelizmente deixou a banda de uma forma inesperada por nós e nos forçou assim a apagarmos a sua guitarra na gravação e fazer com que Xando Zupo regravasse as partes dele, visto que não daria tempo para o Rodrigo Hid assumir essa tarefa. No momento crucial, com os atrasos posteriores, claro que o Rodrigo poderia ter feito isso sem prejuízo algum à banda, em detrimento do tempo hábil para tal.
Tivemos problemas com o baterista, Alex Soares, infelizmente e que culminou com a sua saída antes do lançamento do disco, aliás, antes mesmo de sua finalização técnica. Até cogitamos uma regravação com Ivan Scartezini a refazer toda a bateria, mas seria uma loucura, visto estar tudo pronto, inclusive as partes vocais e a inserção dos músicos convidados.
Também tivemos atrasos em relação a arte final da capa do CD. Até essa parte se resolver a contento e incluo essa questão do encarte e diagramação do texto, que também nos consumiu por bastante tempo. No fim, atraso consumado, creio que a apresentação visual e o áudio do produto, corresponderam às expectativas e até as superaram, em certos aspectos.
É indiscutível a qualidade artística do material composto, os arranjos elaborados, a performance individual de cada instrumentista/vocalista, a química conjunta, o bom gosto da escolha dos músicos convidados e da sua contribuição e sobretudo, a competência técnica do operador de áudio/produtor, Renato Carneiro. Nessa feliz conjunção de fatores, creio que o álbum, Pedra, ou Pedra I, como foi carinhosamente apelidado, logrou êxito.
É sem dúvida, o melhor áudio que eu tive na minha carreira inteira (até aquele momento), só comparado igualmente ao álbum seguinte, Pedra II, que foi gravado sob as mesmas condições e com o mesmo, Renato Carneiro no comando dos botões, e um pouco mais abaixo, mas quase de forma imperceptível, o álbum "Fuzuê!", lançado em 2015, mas este, sem grande intervenção de Renato Carneiro.
 
Fica a ressalva que por ter escrito este trecho da narrativa em 2015 e por ter em conta o fato de que não encerrei a minha carreira, posso ter ainda outros discos tão bons ou melhores do que os citados em termos de qualidade de áudio e assim espero, mas até o presente momento, nesse quesito, estes citados permanecem insuperáveis. 
 
O timbre dos meus instrumentos atingiu o pico de qualidade com esses trabalhos e o Renato Carneiro me confessou tempos depois, que nas suas andanças pela estrada e ao interagir com outros técnicos, colhera elogios rasgados para tais gravações e especialmente pelos timbres de baixo, com distinções nítidas entre cada modelo que usei, a respeitar e exaltar ao máximo as suas características naturais, e com um padrão de peso e timbre, verdadeiramente incrível.
E ainda mais, quando ele, Renato, se tornou técnico de PA dos "Mutantes", por volta de 2007 e ao excursionar com tal banda pela Europa, impressionou técnicos estrangeiros ao tocar o nosso som no PA de teatros e shows feitos ao ar livre e quando lhe perguntavam que banda seria essa e intrigados por cantarmos em português, língua que lhes soa exótica, naturalmente.
Certa vez, um técnico de um festival onde ele operou os Mutantes que se apresentaram em Liverpool, na Inglaterra, esse rapaz ficou encantado com a sonoridade e não acreditara que um som de baixo desse nível, tivesse sido gravado no Brasil, que ele devia subestimar, naturalmente em seus conceitos ou preconceitos, para ser mais claro. Poxa, o som dos meus dois baixos Fender e meu Rickenbacker a gerar estupefação na cidade dos Beatles... nem em sonhos eu poderia conceber algo parecido... 

Sobre a parte artística, eis o que penso sobre cada faixa:

"Sou mais Feliz": 
Eis o Link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=kgtwdKgWuOk

Foi nossa aposta mais Pop ao se considerar a meta para atingir o mainstream, mas orgulhosos de que a canção, seu arranjo, sua letra e a performance individual de cada um de nós instrumentistas/cantores, remetera a uma espécie de Pop sofisticado setentista, no mesmo nível de artistas tais como: "The Doobie Brothers", "Al Stewart", quiçá até o estiloso "Steely Dan", sem querer ser presunçoso. 
 
Gravei com o meu Fender Jazz Bass e busquei o som aveludado e típico das gravações clássicas de R'n'B e Soul Music, dos anos sessenta. A frase na parte "A", que criei, é repetida em "looping" e privilegia a sustentação rítmica do riff da guitarra e em minha opinião, imprime muito balanço à canção. 
 
Já na parte "B", eu optei por improvisar sem limites, para buscar o máximo do "groove" da Soul Music e acho que fui feliz nesse passeio livre que fiz e que se imortalizou na gravação. 
 
Gosto da melodia e da interpretação do Rodrigo e dos backing vocals, que não gravei no disco, mas ao vivo, ao visar dar liberdade ao Xando, para que ele pudesse improvisar no seu solo, fui eu que passei a cumpri-lo, doravante.
Acho que o trabalho de guitarras do Xando é muito feliz em todos os sentidos. O riff original, que é sua criação, e que deu origem à canção, é genial por si só, mas todo o arranjo que criou é muito bom, incluso na escolha dos timbres e uso e abuso de efeitos, mediante pedais. 
 
Ele só preservou um desenho rítmico que fora criação do Tadeu Dias, por que é realmente muito bonito, mas de resto, tudo o que se ouve ali em termos de guitarras, é da sua criação. 
 
Nos teclados, o Rodrigo gravou com um piano, Fender Rhodes, emprestado do Marcello Schevano e instrumento, por sinal, que usamos muito no nosso tempo juntos, os três, ao atuarmos com a Patrulha do Espaço. O que dizer de um timbre clássico oriundo de um piano Fender Rhodes? É absolutamente fantástico.

"Vai Escutando": 
Eis o Link para ouvir no You Tube :
https://www.youtube.com/watch?v=MJiHYRWISdk

Não posso afirmar que não gosto de alguma faixa desse disco. Não é demagogia, nem proselitismo, realmente gosto de todas, mas em uma ou outra, acho que gosto um pouco mais. É o caso de "Vai Escutando", muito provavelmente pelo fato dela me soar mais próxima da Soul Music que as demais e naturalmente pelo fato de eu adorar tal escola da Black Music e me refiro à Soul Music situada entre as décadas de cinquenta e metade da década de setenta, é lógico.
Gravei a minha participação com o baixo Fender Precision e o timbre nessa faixa ficou tão espetacular, que se tornou referência para o Renato Carneiro timbrar outras canções, não apenas para esse disco, como para o seguinte da nossa banda, para buscar a sonoridade que eu queria de um modelo Precision. Em suma, um "estalo" médio-agudo, mas com o padrão do grave encorpado, incrível, a imprimir peso e quando cito uma sonoridade agressiva e metálica, quero que o leitor entenda bem: refiro-me ao aço, propriamente dito, da siderurgia.
Certa vez, uma produtora musical e amiga minha, insistiu em criticar a linha melódica dessa canção, por se ater ao fato de que a respiração do Rodrigo, em sua interpretação, foi utilizada da maneira errada. Até acho que ela tem uma certa razão, e poderia ser diferente mesmo, mas não tenho queixa do jeito que ele burilou essa melodia, e a gravou. 
 
Gosto muito do interlúdio ao estilo funk (acho uma lástima ter que fazer um adendo, pela inapropriada cooptação da palavra, "Funk" para designar o substrato anticultural que assolou a nação fortemente após os anos 2000, mas quando afirmo, "Funk", é óbvio que não me refiro a isso, e sim ao "verdadeiro Funk", nobre derivado do R'n'B e Soul Music, clássicas), que considero bastante sofisticado.
 
E o Rodrigo foi genial aos teclados pelas suas criações, execução e escolha magnífica nos timbres, principalmente no uso do sintetizador Mini Moog. Ao final, a ideia sobre fazer uma citação à música, "Partido Alto", do Chico Buarque, considero como um adendo, mas eu temi por surgirem problemas com o Ecad e também com a editora que detém os seus direitos, mas para todos os efeitos, os créditos estão bem claros no encarte do CD.

"Se Agora eu Pulo Fora": 
Eis o Link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=eh7IgcOzkXU

Falei sobre gostar de todas as músicas, e é verdade. Falei que também existem algumas que gosto um pouco mais, e esta é uma das que gosto um pouco menos. É uma canção curta, intensa e tem força dramática, não nego. 
 
A harmonia e a maneira com a qual a melodia principal se delineou, são boas. O que não aprecio muito é a letra, que tem uma visão "Bukowskiana" da vida, viés que eu detesto. Como espiritualista que sou e absolutamente aquariano, essa espécie de ode ao junkie existencialista a viver em quartinhos fétidos, escuros e decadentes, para o meu gosto pessoal, soa deveras deprimente e não sou favorável a ser um agente difusor desse conceito, ao glamorizá-lo. 
 
Mas eu gostava de tocá-la ao vivo, pela batida da bateria, os acordes soltos e a produzir assim o ressoar em notas semibreves a preencher o compasso inteiro, dos bons solos feitos pelas guitarras e das junções com bendings feitos pelas duas guitarras, sob um duo bem sincronizado.
Eu, Luiz Domingues, ao vivo com o Pedra na Feira da Vila Pompéia de São Paulo em maio de 2006 e a fazer uso de um Fender Jazz Bass.
 
Gravei com o Fender Jazz Bass, justamente para buscar exatamente o timbre robusto e típico desse baixo, ao privilegiar as notas semibreves, em profusão.

"Me Chama na Hora": 
Eis o Link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Xv0vFSQLoqU 

Como o Xando planejou manter o conceito da música anterior, para ficar unida a esta, como uma espécie de continuidade da história que queria contar na letra, muita gente confundiu e achou que se tratou de uma canção apenas, mas não, elas são independentes, ainda que irmãs, em alguns aspectos. 
 
Essa canção contém forte influência do Jazz-Rock setentista, na parte A e possui também um interlúdio "funkeado a la anos setenta", no meio, e na parte final, quando volta à sua parte A. 
 
O Xando sugeriu a inserção de uma percussão de escola de samba, ao estilo "Samba Enredo", mesclada sem concessões ao riff nervoso orientado pelo Jazz-Rock. Sabíamos que essa predisposição causaria estranheza para muita gente, notadamente fãs e jornalistas que nos conheciam, individualmente a falar, por trabalhos pregressos centrados no Rock, mais purista. 
 
E certamente, que foi uma maneira explícita de se deixar claro aos radicais de plantão, que o Pedra foi uma banda a trabalhar sob a prerrogativa de um leque aberto, para experimentar múltiplas sonoridades e não fechada somente na essência primordial do Rock.
Caio Inácio, percussionista convidado e que gravou a sonoridade de uma autêntica Escola de Samba nessa faixa citada. Click: Grace Lagôa

A inspiração dele veio de uma música do Lobão, que admirava e a lembrança desse artista ao ser hostilizado pelo público radical do "Sepultura", ao se apresentar acompanhado da bateria da Escola de Samba Mangueira, no Festival Rock in Rio, de 1991. 
 
Nunca me esqueço, um crítico que não entendeu direito a nossa proposta, escreveu sobre essa música em especial: -"parece Pink Floyd ao ser interpretado pelo Zeca Pagodinho"... ou seja, se tratou de uma das críticas mais hilárias e também injustas que eu já li sobre um trabalho meu.
 
Gravei com o Fender Precision e o timbre se revela arrasador, tanto nas partes agressivas sob inspiração no Jazz-Rock, quanto no groove sempre baseado no som do "Sly and the Family Stone", "Funkadelic/Parliamant" e bandas dessa estirpe, portanto, ficou excelente.

"Amanhã de Sonho":
Eis o Link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=yyQqj1kRKAw

Essa foi uma ideia que eu tinha em mente desde 2003 e tentei inserir no rol das então novas composições da Patrulha do Espaço, ao visar gravar o álbum: "Missão na Área 13", mas não consegui lograr êxito, infelizmente.
 
Quando eu iniciei atividades com o Pedra, mostrei a ideia ao Xando e ele gostou, ao burilá-la. Ficou um pouco fora do que eu imaginara originariamente, mas reconheço que se tornou uma boa balada, com potencial Pop e a conter um dado muito interessante: depois de lançada oficialmente, se tornou uma das mais pedidas nos shows e eu sinceramente não pensei que tornar-se-ia tão querida do público. 
 
Guardadas as devidas proporções e sei bem como funciona a mentalidade típica de produtor/predador do show business mainstream, a canção detinha potencial Pop para invadir as estações de rádio FM, ser inserida na trilha de novelas da Rede Globo e cair no gosto do povo, em larga escala. 
 
Gosto muito da delicadeza generalizada e da performance de todos os instrumentos nessa gravação. O Rodrigo a cantou de uma forma muito poética. A parte B foi criada pelo Xando e se assemelha com o som do "The Police", na minha ótica. Não gosto dessa banda e de sua concepção de se fazer música baseada em campo harmônico sob agudos exagerados. O excesso de som processado no áudio do The Police, me incomoda profundamente e eu acho que a parte B dessa nossa canção quase partiu para esse caminho pasteurizado.
 
Entretanto, há atenuantes, como o uso de um simulador de mellotron a la "Beatles" (via "Strawberry Fields Forever", pelo timbre doce), que é muito bonito e os backing vocals com apoio de flanger, que soam psicodélicos.
O mote da letra é interessante ao meu ver. Buscar a visão de uma menina, naquela transição da mudança de corpo na adolescência x hormônios & medo inerente pela vida adulta, é um tema bom e quando a letra foi concluída pelo Xando, nós brincamos internamente, ao afirmarmos que essa música cairia como uma luva para acompanhar uma personagem feminina adolescente da novela, "Malhação", da TV Globo. Acho que poderia mesmo sob uma leitura superficial. 
 
Mas também creio que a letra exagerou um pouco na dose e quase soa piegas, ao se analisar hoje em dia. De qualquer forma, por se considerar que o Pedra nunca adentrou o mainstream, foi extraordinário notar que esta canção foi provavelmente a mais querida entre as mulheres do nosso pequeno público cativo e foi elogiada até por críticos notadamente exigentes e intransigentes, como Régis Tadeu, por exemplo, que a citou como uma boa balada Pop, a apresentar muitos méritos, pela sua qualidade.

"O Dito Popular":
Eis o Link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=a7XOjXJf48E

Assim que eu entrei nessa banda, em outubro de 2004, essa fora uma das poucas canções que o Xando detinha inteiramente concluída, para dar início ao projeto. 
 
Trata-se de um Funk-Rock, bem ao estilo dos anos setenta, com um ótimo riff inicial, excelente refrão e uma base para solos muito bem engendrada, a demonstrar forte identificação Rocker, setentista.
 
Sobre a letra, reputo ser uma das melhores do álbum, ao traçar uma colagem com diversos ditos populares, de uma forma muito bem alinhavada. Existe um senão da minha parte e que foi objeto de discussão entre eu e Xando, até que ele insistisse em manter a sua ideia original na gravação: o recurso de um palavrão em sentido de interjeição.
 
O seu argumento foi em torno da contundência do palavrão usado para se expressar a revolta contida em uma letra com intenções a demarcar protesto contra a política rasteira e o sistema em geral, aliado ao fato de que em sua ótica, o coloquial despojado, ou melhor a dizer, o chulo explícito, surtiria um melhor efeito pela questão da imediata identificação popular.
 
Eu, ao contrário, encaro o palavrão como algo gratuito e desnecessário e argumento que para se fazer contundente não é necessário baixar o nível do vernáculo e pelo contrário, sou absolutamente contra o artista que se nivela pelo baixo espectro educacional para se fazer entender pelo povo. 
 
Tal recurso ao meu ver abaixa o nível propositalmente e assim, o artista colabora com a decadência em favor da subcultura, ou pior ainda, da anticultura. Penso que verbalizar de forma errada, de forma proposital ou a usar expressões chulas, não fornece estofo artístico algum para ninguém e pelo contrário, só retarda a melhoria do nível educacional e cultural do povo. Mas e o Adoniran Barbosa? Pois é, existe a licença poética e genialidade incontestável da sua parte, mas o seu caráter prosaico, assim como de Mazaroppi e Luiz Gonzaga, que nunca partiram para o chulo. Enfim, prevaleceu a opinião do autor da música em nosso caso.

Outro fator importante, se não entendem o que falo, que busquem o dicionário e aprendam uma nova palavra, a enriquecer o seu vocabulário, mas daí a falar errado para se fazer entender, é algo que não aceito como argumento. 
 
Foi um mero detalhe, mas gerou discussões acaloradas, no bom sentido, porém prevaleceu a opção pelo palavrão explícito. Sempre cantei ao vivo, a respeitar tal opção e assim proferir um sonoro palavrão, sem nunca deixar de fazê-lo pela dignidade artística da banda, mas nunca gostei disso. Então, está lá: -"e aí, Fodeu"... paciência.
Gravei com Fender Precision e acho que extraí um timbre muito vibrante, ao lembrar bastante o som do "Trapeze" e consequentemente, o som do "Deep Purple", da formação Mark IV. 
 
É um timbre a lembrar muito o som de baixo do Glenn Hughes contido no LP "Come Taste the Band", na minha opinião. Um adendo a ser anotado, foi a primeira música que trabalhamos publicamente, por conta de ter sido a canção a protagonizar o primeiro clip da banda, ainda em 2005, um ano antes do disco ficar pronto. 
 
Tal canção chegou a ser executada um pouco nas ondas da emissora Brasil 2000 FM e veiculado com muita profusão em programas da Rede NGT de TV, além de ter tido uma efêmera participação na MTV e no canal Multishow. Comemoramos muito as seis exibições no canal Multishow, ao final de 2005, ao nos fornecer, inclusive na época, a falsa expectativa de que explodiria em larga escala. 
 
Sinceramente, a música tinha (tem) todas as condições para se tornar popular no mainstream, apesar da sonoridade Rock, com solos agressivos e não coadunados com a mentalidade mumificada dos donos do poder no Show Business. Em minha visão, é uma ótima música, com muitos atrativos.

"Madalena do Rock'n' Roll": 
Eis o Link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=G1yvX8cLdPM

Sobre essa música, o Xando a tinha guardado de tempos remotos, quando ainda nem pensava no projeto do Pedra. Trata-se de um riff muito bom, que de certa forma lembra a sonoridade bluesy do Led Zeppelin à época do álbum, Led Zeppelin II, de 1969. 
 
A sua letra foi construída em torno de certos boatos a propagar que algumas pessoas que gostavam da minha atuação e do Rodrigo Hid com a Patrulha do Espaço, estavam desapontadas por nós dois termos deixado a banda e nos unido ao Xando para montar o Pedra. 
 
Foi, portanto, uma ciumeira descabida e absolutamente inoportuna, perpetrada por tais pessoas que não levaram em consideração que a nossa saída da Patrulha do Espaço fora inevitável por outras motivações e que o Pedra aparecera como uma opção posterior a tal fato. Baseado nessa premissa, o Xando escreveu essa letra para alfinetar pessoas em geral que pensam e agem dessa forma, a criticarem as demais, porém sem conhecer os fatos em sua realidade, ou seja, por prejulgarem. Além do "muro das lamentações" em que se colocam e pior ainda, por não suportarem a alegria alheia, em detrimento de seus fracassos pessoais.
Eu, (Luiz Domingues) em destaque, com Ivan Scartezini ao fundo na bateria. Pedra ao vivo no Avenida Bar de São Paulo em agosto de 2007. Click: Grace Lagôa 
 
Gravei com o Rickenbacker e desta feita, o Renato Carneiro teve mais dificuldades para obter o melhor timbre, mas isso não foi uma novidade por se tratar desse instrumento que poucos sabem trabalhar, no Brasil. A sua briga para coibir os choques que as frequências médio-agudas (em profusão nesse instrumento, e por se delinear como a sua marca registrada), geravam, principalmente com os teclados, notadamente o piano acústico que o Rodrigo usou, foi grande, mas com boa vontade ele chegou em um razoável termo. 
 
Para quem conhece bem a sonoridade típica de um Rickenbacker, é fácil identificar o seu timbre característico e como no meu arranjo pessoal usei bastante o recurso do "glissar" (ato de escorrer o dedo sobre a corda, para fazer com que várias notas deslizem, ao serem tocadas ao mesmo tempo e ao soarem difusas, sem definição harmônica/melódica precisa), eis que tratou por acentuar ainda mais o timbre, que é lindo e característico dele. 
 
Gosto bastante das guitarras do Xando, especialmente as suas intervenções ao slide. A melodia é bem bonita e o Rodrigo, rasgou a voz com muita qualidade. A parte dos solos, contém uma dose de experimentalismo muito interessante, e neste caso se tratou de uma ideia do Rodrigo, que imprimiu acordes dissonantes e notas jogadas a esmo, nos teclados, ao intercalá-las com partes soladas mediante musicalidade "normal", principalmente no uso do órgão Hammond. Tal detalhe a colocou bem perto da sonoridade do som do Hermeto Paschoal e assim ficou intrigante ao meu ver.

"Reflexo Inverso":
Eis o Link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=_ZM1lABj_EE


É muito interessante essa canção, que contém muitas nuances e por apresentar várias partes é interpretada como sendo uma peça ao estilo do Rock Progressivo, por muitos fãs e críticos, que a identificam como uma suíte tipicamente dessa escola clássica setentista. 
 
Não está errada essa avaliação e eu tendo a concordar com ela, em linhas gerais. A parte "A" da canção, detém muita influência da música brasileira. Dá para identificar fácil o "Clube da Esquina" de "Milton Nascimento" & Cia, tem "Elis Regina" subliminar na sua melodia e pasmem, acho que uma dose de "Ivan Lins", na conjunção harmônica da canção. Mas ela muda radicalmente a seguir e traz o elemento Rock, ainda que ao evocar o dito Rock Rural, setentista. Pois então ali passeiam as influências advindas de artistas tais como: "Sá/Rodrix & Guarabyra", "O Terço" e "Beto Guedes", certamente. 
 
O final épico, com vocais fortes e "tecladeira" setentista a todo vapor, realmente faz com que a música lembre muito o som d'O Terço, em seus melhores momentos da carreira.
Eu, Luiz Domingues, com Ivan Scartezini atrás, na bateria. Pedra no Avenida Bar de São Paulo em agosto de 2007. Click: Grace Lagôa
 
Gravei com o Rickenbacker novamente e gosto da sonoridade ali inserida. E claro, por gravar com esse baixo, se achavam que tal música se parecia com uma suíte Prog-Rock setentista, Prog se tornou definitivamente neste final épico, com o Chris Squire que habita as minhas memórias afetivas setentistas, a soltar os seus lampejos, impiedosamente sobre o track.

A letra muito boa, ao estabelecer um jogo de espelho e máscaras e buscar assim as questões subjetivas, e de certa forma doloridas das entranhas do ser humano, e neste caso, não tenho ressalvas, mas só elogios.

"Misturo Tudo e Aplico":
Eis o Link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=u_B0kqLIJCg

Talvez o único exemplar genuinamente demarcadao pelo estilo Hard-Rock do disco, eu acredito, que para muitos fãs de trabalhos anteriores meus (Luiz), do Rodrigo e do Xando, tal canção representou a real expectativa que uma parcela do público que nos acompanhara normalmente por conta desses trabalhos pregressos nossos, nutriram sobre o resultado de nosso trabalho então, atual. 
Para muitos, o disco inteiro deveria soar dessa forma, acredito. 
 
Bem, tudo ali soa encorpado, como é para se esperar de um Hard-Rock, ao estilo setentista. Há o timbre robusto dos teclados, notadamente o órgão Hammond ao insinuar alguns mestres do campo Hard-Rock, tais como: Jon Lord, Ken Hensley e Vincent Crane, por exemplo, além do riff forte de guitarra, baixo pesado etc.
O trompetista, Robson Luis, nosso convidado especial na gravação do álbum e que criou o clima em torno da cultura "mariache mexicana", nessa faixa. Click: Grace Lagôa

Gosto bastante de tudo, incluso a inusitada intervenção de uma mini "orquestra" formada por trompetes ao final, que trouxe melodias "mariaches" e naquela época, as "paletas" mexicanas ainda não haviam se tornado moda no Brasil. 
 
Não aprecio a letra, no entanto. A se tratar de uma outra citação à vida junkie, mas sob um viés vazio, com mentalidade oitentista e baseada na absoluta falta de propósito, ou seja, ao menos coerente nesse sentido, a demarcar uma marca registrada daquela geração sem ideais, a não ser viver em busca do hedonismo. 
 
Se ao menos falasse em algo minimamente válido como o conceito do "Open Mind" sessentista, no viés da busca de um escape, ou mesmo a visão cinquentista e "Beatnick" através do mergulho em uma busca frenética e sem pontuação ortográfica, pelo sentido da vida fora do sistema, ao se deixar levar pela vida na estrada, ao não se apegar a nada, ainda vá lá, mas junkie sem sentido algum, realmente não me apetece. Nesse sentido, que me dê licença e procure dar um outro rumo à sua vida, senhor junkie, sem eira... nem beira...
 
Atuei novamente com Fender Precision e busquei inspiração em bandas setentistas mais "duras" do Hard britânico, tais como: "Budgie", "Sir Lord Baltimore", "Toad" etc.

"Estrada": 
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=UpqyLBbHDjM


Gosto muito dessa canção, que foi a primeira colaboração que o Rodrigo Hid trouxe à banda, assim que chegou à formação, ao final de 2004.

Muitos analistas a consideram como uma peça ao estilo do Hard-Rock, sob o viés britânico, mas eu penso nela como Southern Rock norte-americano. Tanto o riff inicial quanto as partes "B" e "C", me remetem à tradição dessa escola estilística. 
 
Gosto muito dessa construção com três partes e dos arranjos feitos coletiva e individualmente. A base do Rodrigo, com o uso da caixa Leslie, é uma maravilha aos meus ouvidos sessenta-setentistas. 
Aprecio igualmente as intervenções do Xando com slide, muito boas. 
 
Na parte "C", ponto em que também se baseou a sessão de solos, eu soltei a mão e busquei o som de Fender Precision inspirado no baixo de Berry Oakley e Lamar Williams, dois baixistas que passaram pelo "Allman Brothers Band" e cujo estilo de ambos, aprecio muito.
Melódicos e com muito senso sobre o preenchimento rítmico, ambos imprimiram tal conceito para esse estilo e que eu adoro... muitas notas colcheias, a ocuparem bem cada compasso e para esse tipo de música, o conceito mais adequado é: mais é mais...

A letra é sui generis, eu diria, pois apesar dessa sonoridade toda baseada na escola do Southern Rock, não se buscou elementos rurais como é típico desse estilo em termos de temática para ser abordad nas letras, mas investiu na relação Homem-Mulher. Acho uma boa letra, bem construída e com algumas colocações que até surpreendem para quem prestar atenção nos detalhes. 
 
A minha singela contribuição ao arranjo geral, foi a sugestão para a inclusão de backing vocals na parte final. Por três vezes, Rodrigo, eu (Luiz Domingues) e Xando, cantamos: "Uh Uh Uh", ao usarmos a técnica de falsete e a minha inspiração foi explícita para criar tal arranjo foi buscada na fonte do LP "Mad Dogs and the Englishmen", com "Joe Cocker, Leon Russell & Cia", naquela atmosfera maravilhosa do Blues de New Orleans emmeio à Era hippie sessenta-setentista.

"O Galo Já Cantou":
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=IcKU1fLgg_c


Claro que gosto da sonoridade Rock'n' Roll crua e nua dessa música. Como fã inveterado dos "Rolling Stones", que eu sou, como não apreciar?
 
E gosto bastante da quebra insólita desse conceito dentro da música, quando sob uma parte "C" muito inesperada, o Pop quase tropical a invade e lhe fornece um colorido muito grande. 
 
As duas guitarras trabalham de uma forma muito sincronizada o tempo todo; aprecio muito o timbre forte do baixo Fender Precision, e acho boa a inserção de um exótico "fade in" a enganar o ouvinte, pois quando este pensa que a música acabou, ela volta. E muita gente deve ter assustado-se se demorou para apertar a tecla, "stop" no CD player, após um longo espaço de silêncio, pois a música retorna, de uma forma inusitada. E assim encerro as minhas impressões sobre as faixas.

Acrescento que a atuação do baterista, Alex Soares é comedida no disco e isso foi um dos motivos pelos quais gerou-se uma discórdia e ele culminou em deixar a banda e assim, ter sido creditado como "convidado" e não membro oficial (embora a principal razão, e eu já falei, mas vou frisar, foi motivada pelo fator prático, pois  quando ele saiu, o material gráfico estava prestes a ficar pronto e a solução foi suprimi-lo, após tal resolução drástica que adotamos). 


Uma menção não citada em lugar algum, mas é importante deixá-la aqui registrada, um amigo meu e do Rodrigo, desde o tempo em que estávamos na Patrulha do Espaço, chamado curiosamente também: Rodrigo Oliveira (o Rodrigo Hid se chama: Rodrigo de Oliveira Hid oficialmente no seu documento de identidade), nos deu um apoio e tanto, ao trazer o seu PC ao estúdio Overdrive para acoplar o seu HD em que mantinha "plugins" de um programa sensacional com timbres de teclados vintage, assim colaborou bastante para que os timbres dos teclados desse disco, soassem ao máximo com sonoridades sessenta-setentistas. 
 
Tiago Skolaude foi o responsável pelo lay-out da capa e o próprio, Rodrigo Hid cuidou das lâminas internas do encarte. Fábio Mulan deu o suporte na diagramação do texto do encarte. As pontuais colaborações com músicos convidados, enriqueceram o trabalho, não tenho dúvida. Gratidão também a Caio Inácio e Robson Luis, como músicos convidados. 
 
Em suma, ao me valer sobre tudo o que eu já disse anteriormente, se trata de um trabalho excelente e do qual me orgulho bastante como peça artística e também como produto comercial sob alto padrão, disponibilizado no mercado da música.

Ouça o álbum na íntegra: 
Eis o Link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=IcKU1fLgg_c 


Continua...

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