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sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Pedra - Capítulo 8 - Happening - Por Luiz Domingues

O início de 2007 foi marcado por uma diminuição drástica para a agenda da banda. Todo o embalo bom, alcançado em 2006, pareceu ter se esvaído e só não digo que a fase foi sob total baixa nos resultados práticos, por conta de ainda termos a boa notícia de que a música, "Sou Mais Feliz", ainda tocava fartamente em uma emissora de rádio, e matérias & resenhas estavam a serem publicadas em jornais e revistas, a repercutir o primeiro CD lançado.

A falta de um empresário ainda pesara negativamente e desprevenidos nesse sentido, não tivemos como aproveitar o "momentum" positivo das oportunidades surgidas, e quando estas rarearam, para movimentá-las novamente, teria sido quase como um começar tudo de novo. 

Todavia, sem desânimo, aproveitamos para nos concentrarmos em ideias novas e de fato, uma nova safra com músicas inéditas se pôs a surgir, ao insinuar um novo álbum a ser gravado, ainda que no início de 2007, fosse algo diáfano. 

O primeiro show do ano, estava marcado apenas para o mês de março, mas de uma forma inusitada, foi quando uma oportunidade apareceu subitamente, para que em fevereiro fizéssemos um show, sem muito tempo prévio para planejar, mas mesmo assim, nós aproveitamos para colocar em prática, uma ideia mais complexa que já tínhamos em mente, anteriormente.

Nesses termos, nós pensamos em unir três modalidades artísticas sob um só espetáculo, a se gerar um autêntico happening sessentista. E dessa forma, nos apresentamos a dividirmos o palco com uma outra banda, mas também a conter intervenções teatrais com atores, e a performance de um artista plástico genial, a criar ao vivo, simultaneamente. Foi corrido, mas se tornou um dos shows com mais atrativos visuais que fizemos, e sobre o qual, eu narrarei a seguir.

Foto promocional do Pedra de 2006 e Rodrigo Hid a preparar os seus teclados para uma apresentação ao vivo na rádio Brasil 2000 FM, também em 2006. Clicks: Grace Lagôa 

Recebemos o telefonema de um funcionário do Centro Cultural São Paulo, mediante um convite: que nós ocupássemos a data de um artista que repentinamente havia desistido dela. Foi bastante em cima da hora, mas aceitamos assim mesmo e de uma forma arrojada, resolvemos colocar em prática a ideia de fazermos algo além do show tradicional apesar de ser paradoxalmente ainda mais difícil produzir algo mais sofisticado, com pouco tempo para tal. 

Convidamos então uma nova banda recém-formada na ocasião, mas ao conter músicos experientes e talentosos, que gravitavam em nossa órbita, costumeiramente.

  O grande, Cezar de Mercês, ex-"O Terço". Fonte: Internet 

Tal nova banda foi formada por: Marcião Gonçalves (guitarra/baixo e voz), Caio Ignácio (bateria/percussão e voz) e Cezar das Mercês (baixo/guitarra e voz). E seu nome foi: "Parabelum", nome que designava uma gíria antiga para identificar a pistola "Luger", muito usada por oficiais nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial.

Pedra reunido na porta do estúdio Overdrive. Click: Grace Lagôa

Outro convidado, foi um grupo de Teatro, chamado: "Comédia de Gaveta", com a proposta de encenar duas sketchs, uma no início do espetáculo, e a outra, entre as apresentações do Parabelum e do Pedra, a atuar no início e entre a troca de set up das duas bandas, portanto. E a quarta atração, seria intermitente, com a presença ao vivo do artista plástico, Diogo Oliveira, que pintaria diversas telas, sob um ritmo frenético, ao deixar o público sem saber para onde olhar, literalmente.

Todo o conceito, evocara os happenings dos anos sessenta e como há décadas tal concepção estava obscurecida, principalmente aqui no Brasil, teve tudo para surpreender o público. Mesmo a denotar envolver muitos elementos reunidos para se produzir em um curto espaço de duração, com apenas uma hora e meia de espetáculo, nós realizamos uma reunião com todos os artistas envolvidos e ficou claro para todos, a necessidade de haver um rigoroso controle, nesse sentido.

Empreendemos uma divulgação rápida, a correr contra o relógio de um show marcado às pressas, mas ficamos animados pela possibilidade de um espetáculo diferente, que certamente impressionaria o público. 

Não foi uma grande ideia inovadora ao meu ver, pois remetera aos happenings sessentistas, entretanto, essa realidade estava tão distante de nós, que fora óbvio que surpreenderia a esmagadora maioria do público.

O Parabelum faria o seu show de estreia. Tratava-se de um trio com a proposta de criar um som aberto, a passear pelo Rock vintage, MPB, World Music, Folk e até a abranger a música étnica. 

A grande estrela natural dessa banda, claro, foi o Cezar de Mercês, pela estrada percorrida no Rock e MPB etc. Porém, os outros elementos que formaram essa banda, foram músicos dotados de uma grande qualidade e versatilidade. O guitarrista/baixista, Marcião Gonçalves, era (é) um raro exemplo de artista que executa com maestria mais de um instrumento, além de cantar e compor bem. E o percussionista/baterista e cantor, Caio Ignácio, domina a linguagem da percussão, como poucos, além de ser compositor, também.

A ideia seria fazer um show curto, pois tal banda nem tinha um grande repertório ainda em mãos, e claro, eles executariam músicas d'O Terço e da carreira solo do Cezar, o que aliás, foi esperado pelo público, pois sabíamos que a presença do Cezar, atrairia um público d'O Terço, visto que há muito tempo ele não apresentava um show ao vivo, sendo que nos últimos tempos de então, ele se dedicara a tocar pela noite paulistana, em meio a combos jazzisticos e instrumentais. 
 
Portanto, estávamos muito contentes pela inclusão do "Parabelum", que abrilhantaria a noite, certamente.  

Já o grupo de Teatro, "Comédia de Gaveta", havia preparado duas sketchs curtos como participação no evento. Tal trupe teatral abriria o espetáculo, com uma criação coletiva da parte deles, a evocar o teatro clássico grego e estabelecer assim uma ligação com os tempos atuais, a enaltecer o show de Rock, enquanto uma instituição. 

E para o meio do espetáculo, entre uma banda e outra, tais atores prepararam uma sketch mais contemporânea, em que o humor seria a tônica e uma confusão seria criada pela quebra de um LP raro dos Beatles, acidentalmente, a causar discórdia entre os personagens. 

Da parte do artista plástico, Diogo Oliveira, estávamos ansiosos pela sua participação, justamente por sermos conhecedores de sua genialidade. Tínhamos certeza de que ele seria um grande sucesso no espetáculo, pela sua incrível criatividade e pelo fato de ser um grande músico igualmente, além de estar conectado com a vibração sessentista até os ossos, a sua interação com a música, seria total, portanto. E chegou o dia do espetáculo...

Foi no dia 3 de fevereiro de 2007, e o espetáculo começou na verdade, na fila da bilheteria, pois os atores da trupe, "Comédia de Gaveta", improvisaram performances, ao chamarem a atenção das pessoas que compravam ingressos.
Da esquerda para a direita, eu (Luiz Domingues) a gesticular alguma observação de última hora, provavelmente sobre troca de lâmpadas, pelo visto, o jornalista Thomas Lagôa (ao fundo), Rodrigo Hid e Xando Zupo, irmanados. Click : Grace Lagôa

Enquanto isso, os preparativos finais foram feitos no palco e nos camarins.
               Soundcheck do Parabelum. Click: Grace Lagôa

Pela magnitude que o espetáculo adquiriu, ainda bem que estávamos no Centro Cultural, pois todos os camarins foram ocupados e o CCSP possui vários, disponíveis para os artistas.
As atrizes Lu Vitaliano (a usar peruca cor-de-rosa) e Lucia Capuchinque (peruca platinada), no camarim, com o seu assistente de produção, ao fundo. Foto: Grace Lagôa

Isso por que a trupe de Teatro ocupou três camarins, com um dos cômodos a ser usado como sala de maquiagem. Mesmo que tenha tido uma participação menor, em termos de tempo em cena, o pessoal da trupe veio bem preparado, ao providenciar muitas opções para o figurino dos atores, objetos de cena e dois maquiadores, para caracterizar os artistas.
                  Soundcheck do Pedra, Click: Grace Lagôa

Lembro-me que foram seis atores e dois maquiadores na equipe.
Backline do Pedra no palco e Diogo Oliveira no mezanino, a ajustar a sua instalação cenográfica. Click: Grace Lagôa  

Bastidor bem descontraído no soundcheck. Da esquerda para a direita: Xando Zupo (de costas), Diogo Oliveira (camiseta branca) e o guitarrista superb, Carlinhos "Jimi", que estava ali só para assistir e acompanhar a sua namorada na época, a atriz, Ana Paula Dias, que participaria do espetáculo, ao atuar com o grupo teatral: "Comédia de Gaveta". Click: Grace Lagôa

Da parte do artista plástico, Diogo Oliveira, estava tudo certo, também. Além de trazer consigo o cavalete e seu arsenal com telas, tintas e pincéis, o genial Diogo também montou uma instalação belíssima, que serviu como cenário geral do espetáculo. 

Foi simples, mas muito inspirada, bem no astral sessentista de um "happening", mesmo não sendo uma bandeira desfraldada oficialmente por ninguém ali, principalmente da parte do Pedra, com a ressalva óbvia de que a minha opinião pessoal sempre foi em seu favor, logicamente, por ser um sessentista aquariano convicto

Super friends em ação! Descontração no camarim do CCSP, com a minha presença (Luiz Domingues), Xando Zupo, Marcião Gonçalves e Cezar de Mercês. Click: Grace Lagôa

E da parte do Parabelum, os seus membros acertaram o soundcheck, na ordem inversa de apresentação, já a ficar com o seu set up pronto para iniciar o espetáculo. 

A nossa produção nos informou que o público que estava em fila na bilheteria, se mostrara significativo e diante dessa perspectiva, ficamos animados com o andamento dessa produção, ao se delinear, portanto, com um ótimo resultado.

O nosso roadie, Samuel Wagner, no pleno ato de preparação dos incensos, aliás, um bom hábito trazido dos nossos tempos com a Patrulha do Espaço e que persistiu no Pedra por algum tempo, mesmo que neste caso, a identificação com o significado desse artifício, não fizesse sentido. Click: Grace Lagôa
Eu, Luiz Domingues, durante o soundcheck, a timbrar o Fender Precision. Click: Grace Lagôa
 
Foi sem dúvida, o show que fizéramos até então, mais agitado nos bastidores, a se descontar o festival em que abrimos o show do Uriah Heep, em 2006. O frenesi provocado por atores, músicos e pessoas a ajudarem na produção, foi intenso. Essa movimentação por si só, já foi bastante estimulante para todos e certamente que tal vibração foi primordial para garantir o sucesso do espetáculo.
Flagrante de um momento um pouco antes do nosso show, e eu já a estar devidamente "paramentado" para ingressar no palco. Da esquerda para a direita, em pé: Ivan Scartezini, Diogo Oliveira, Daniel "Kid", Roby Pontes (baterista superb e futuro membro do "Golpe de Estado"). Sentados: Thomas Lagôa, eu (Luiz Domingues), Xando Zupo e Rodrigo Hid. Click: Grace Lagôa

Como eu já disse, houveram intervenções improvisadas da parte dos atores, ao abordarem as pessoas na fila da bilheteria, já a causar um pequeno "frisson", prévio.
A atriz, Lu Vitaliano, em ação no palco e a interagir no mezanino acima, as outras atrizes, Lucia Capuchinque (esquerda) e Ana Paula Dias (direita). Click: Grace Lagôa

O show começou, enfim, e a primeira sketch do grupo teatral "Comédia de Gaveta", se iniciou. O mote da sketch, foi uma menção à Comédia grega clássica, mas adaptada livremente de forma a aludir ao show de Rock que Parabelum e Pedra fariam a seguir. Os atores usaram maquiagem pesada e indumentária muito chamativa, mesmo com poucos recursos financeiros, pois usaram de criatividade para alcançar tal resultado.

Na primeira foto, as três atrizes a encenarem a primeira sketch. Na segunda, Lu Vitti, isoladamente na mesma apresentação. Click: Grace Lagôa

O texto por elas usado, que pareceu um pouco rebuscado no início, se amenizou na metade e ao final da sketch, apesar da performance ter sido um pouco prejudicada pela falta de bom senso do público, arrancou muitos aplausos ao seu término e criou assim uma atmosfera muito boa para o Parabelum entrar em cena e fazer seu show. 

De que forma foram prejudicadas as atrizes? Ao contrário da reação típica de um público teatral, acostumado a observar tal dinâmica nos espetáculos, o público de um show musical não possui normalmente essa predisposição natural para observar o silêncio e a discrição.

Com o Parabelum já a postos para iniciar seu show, as atrizes encerraram a sua sketch. Da esquerda para direita: Ana Paula Dias, Caio Ignácio à bateria, Lu Vitaliano, Lucia Capuchinque e Cezar de Mercês no canto direito, a segurar um baixo híbrido entre o acústico e o elétrico. Click: Grace Lagôa
 
Dessa forma, a trupe teatral teve que se esforçar para interpretar o texto, em meio ao falatório sem noção perpetrado da parte das pessoas presentes na plateia. 

Além do fato de que no início do show, foi inevitável o entra-e-sai de pessoas no auditório, a provocar um déficit de atenção para quem já estava instalado e a fim de aproveitar o show. Então, desacostumados com essa novidade que estávamos a propor, o público atrapalhou um pouco o desempenho das atrizes, mas nada que fosse tão desastroso. Tanto foi assim, que ao final, os aplausos foram acalorados, para deixá-las gratificadas.

Haveria uma segunda intervenção da trupe, entre os shows do Parabelum e do Pedra. Paralelamente, nesse início, o artista plástico, Diogo Oliveira, já estava em ação. 

Em um primeiro momento, ele se instalara no canto do palco, com pouca iluminação, propositalmente, para não desviar a atenção da sketch teatral. Mas paulatinamente, a iluminação o colocou sob um destaque e sua a atuação a pintar telas ao vivo, foi elogiadíssima. 

Uma primeira e espontânea reação muito estimulante em relação à performance dele, foi da parte de muitas crianças que estavam presentes no auditório. Assim que começou o espetáculo teatral, muitas preferiram não prestar atenção na performance das atrizes e dessa forma, saíram de seus assentos e se sentaram ao redor do Diogo, para vê-lo pintar, bem de perto.

Diogo Oliveira em ação, a pintar suas telas, ao vivo no CCSP. Click: Grace Lagôa

Eu testemunhei essa cena, sentado na plateia, pois nesse momento, havia me deslocado no escuro, dos bastidores para assistir no auditório. Aliás, eu e todos os componentes do Pedra. E foi muito gratificante ver a performance de ambos, o grupo Comédia de Gaveta e do artista plástico, Diogo Oliveira. 

Quando as atrizes sinalizaram a deixa do final da sua sketch, esse mote evocava diretamente ao Parabelum, a sugerir a ideia de espetáculo alinhavado. Essa foi uma bela solução, pois deu sentido ao happening que propúnhamos. 

As atrizes mal saíram de cena e o Parabelum já tocava os seus primeiros acordes!

Cezar de Mercês ao vivo, a executar o seu baixo híbrido, mezzo elétrico/mezzo acústico. Click:  Grace Lagôa
O show do Parabelum foi muito agradável. Eu pude assistir alguns trechos da coxia, mas não o seu espetáculo inteiro, pois nós seríamos os próximos e estávamos naquele momento, ocupados com os nossos preparativos, naturalmente.
Baterista, percussionista e cantor, Caio Inácio em ação com o Parabelum. Click: Grace Lagôa

Mas pelo pouco que vi e sobretudo ao olhar a reação do público, o show estava a agradar em cheio, apesar de ser uma estreia, literal e por conta dessa prerrogativa, haver uma grande quantidade de canções absolutamente inéditas, com exceção de algum material do Cézar, tanto d'O Terço, quanto de sua carreira solo, que naturalmente promoveu reações muito mais acaloradas da plateia, pelo fator do reconhecimento imediato das canções executadas.

O grande Marcião Gonçalves, a atuar com o Parabelum. Click: Grace Lagôa

Pelo fato do Marcião Gonçalves ser versátil e o Cezar de Mercês, também, eles se revezavam entre o baixo e a guitarra, com ambos a tocarem bem os dois instrumentos.

O "Comédia de Gaveta" em ação na segunda sketch, enquanto o Pedra se ajustava (dá para ver o Ivan Scartezini a arrumar a sua bateria, ao mexer no ajuste do tambor "surdo" do instrumento). Da esquerda para a direita: Lu Vitaliano (em pé), Ana Paula Dias, Lucia Capuchinque e o ator à direita, cujo nome, infelizmente não guardei. Click: Grace Lagôa

Findo o show do Parabelum, os atores e atrizes da trupe "Comédia de Gaveta" voltaram ao palco, para invadi-lo performaticamente, enquanto os componentes do Parabelum ainda se despediam do público.
Desta feita, a sketch não teve o peso de uma evocação à Grécia antiga, pois se tratou de uma situação de comédia contemporânea.
A novidade de última hora, foi a inclusão do Marcião Gonçalves, como participante da encenação.

Marcião Gonçalves a atuar no sketche do Comédia de Gaveta. Foto: Grace Lagôa

Não tão repentino assim, pois o convite para participar já tinha surgido nos bastidores. O Marcião não é um ator, propriamente dito, com técnica e estudo, mas por deter uma personalidade forte, ser extremamente desinibido e muito espirituoso, reunira condições em atuar amparado por atores profissionais e por ser tão criativo, fator natural para ele. 

E não surpreendeu, que a sua atuação na base do improviso e sob forte dose de extroversão natural, tenha arrancado gargalhadas da plateia!

Mais um flagrante do grupo teatral, "Comédia de Gaveta" em sua segunda sketch no dia. Click: Grace Lagôa  

O tema da segunda sketch foi simples: um grupo de amigos se reuniu na casa de um dois personagens e conversaram sobre música. Todos gostavam de colecionar vinis antigos e em um dado instante, uma personagem se senta acidentalmente sobre um vinil pirata que estava debaixo de uma almofada e neste caso a se tratar de um álbum muito raro dos Beatles e o quebrou, naturalmente. Uma confusão generalizada se instaurou, quase ao chegar no humor do estilo "pastelão" desenfreado. 

Foi um tema muito simples, claro e mais a se parecer com uma sketch de programa popular de humor da TV, mas o tempo que dispunham foi mínimo e tal intervenção fora programada para ser curta, propositalmente, ao visar cobrir a lacuna entre os shows do Parabelum e Pedra, em meio ao seus devidos ajustes no "set up" do Pedra, que entraria em cena a seguir. 

Funcionou, apesar de curto e simples, pois o público se divertiu muito com a trapalhada proposta e dessa forma, nem percebeu o frenesi dos roadies para efetuarem a troca de bandas no palco. 

E o Marcião Gonçalves brilhou mais uma vez, como comediante nato que o era!

Hora do Pedra pisar no palco do Centro Cultural São Paulo... Ivan Scartezini, alegre pela última dose de vinho antes de ir para o show, eu (Luiz Domingues), sentado e Xando Zupo apoiado na bancada do camarim. Click: Grace Lagôa

 
Rodrigo Hid e Xando Zupo no camarim, no horário do soundcheck
Click: Grace Lagôa

 
O nosso show estava pronto para começar e o sentimento no Centro Cultural São Paulo, foi de que o terreno estava sedimentado para que fosse um sucesso. Com tudo o que já havia acontecido nessa multiplicidade toda do happening, o público estava para lá de contente e absolutamente à vontade. 

Pedra ao vivo no CCSP em fevereiro de 2007. Click: Grace Lagôa

Portanto, salvo algum desastre muito improvável, sentimos que daria tudo certo, mesmo antes de subirmos ao palco, pela atmosfera criada previamente. E de fato, foi assim que transcorreu, ao menos aos olhos do público, pois de nossa parte, a monitoração esteve bem esquisita, muito diferente da que havíamos acertado no soundcheck. Como pode acontecer algo assim? 

Pedra no Via Funchal de São Paulo em fevereiro de 2007. Click: Grace Lagôa

No tempo dos equipamentos analógicos, os técnicos anotavam todas as marcações feitas, com o uso de muita fita crepe e canetinha ao estilo "pincel mágico". E na Era digital, isso se tornou ainda mais fácil, ao bastar copiar todo o ajuste e criar uma marcação fixa, via "preset" automático.

Pedra no Via Funchal de São Paulo em fevereiro de 2007. Click: Grace Lagôa

Contudo, o fato foi que o nosso show, nos criou dificuldades na monitoração, embora nós soubéssemos claramente que na percepção do público, estava a ser absorvido como um ótimo show. 

No meio da canção, "Jefferson Messias", o Diogo Oliveira fez uma intervenção performática espetacular, que havíamos combinado previamente.

Pedra ao vivo no CCSP em fevereiro de 2007. Click: Grace Lagôa 

Bem na hora mais aguda da música, em que imprimimos uma performance psicodélica e absolutamente experimental, ele pintou uma tela em poucos segundos, ao arrancar aplausos da plateia. Duas das atrizes do "Comédia de Gaveta", seguraram uma tela e ele fez traços rápidos, bem no meio do palco, e foi mesmo, sensacional.

Pedra ao vivo no CCSP em fevereiro de 2007. Clicks: Grace Lagôa 

Ao final do nosso show, voltamos para um "bis" e músicos do Parabelum, mais os atores da trupe de teatro e o Diogo, participaram.

Pedra ao vivo no CCSP em fevereiro de 2007. Clicks: Grace Lagôa 

Nesse instante, nós tocamos: "O Galo Já Cantou" e uma verdadeira festa se instaurou no palco, com muita gente a dançar, inclusive a filha do Ivan Scartezini, nosso baterista, a se tratar da então pequena, Melissa Scartezini, que dançou junto às atrizes, a mostrar desinibição e na idade que ela tinha à época (seis anos de idade), deve ter se divertido muito com a bagunça.

Pedra ao vivo no CCSP em fevereiro de 2007. Click: Grace Lagôa 

No camarim, o sentimento de que a ideia lograra êxito, foi clara. O público adorou esse espetáculo múltiplo. Tudo isso aconteceu no dia 3 de fevereiro de 2007, com duzentas e vinte pessoas a passarem pela bilheteria do CCSP.

Pedra ao vivo no CCSP em fevereiro de 2007. Click: Grace Lagôa    

Abaixo, veja e ouça a performance da canção, "O Galo Já Cantou", desse show-happenning que descrevi nos parágrafos anteriores. Centro Cultural São Paulo - 3 de fevereiro de 2007:

Eis o Link para assistir no YouTube:
http://www.youtube.com/watch?v=wcM7NeqUFzk

Passada essa etapa do show/happening, montamos um projeto, com o intuito de tentar vendê-lo em outros espaços. Mas sem um empresário, agente ou contato, mínimo que fosse, ficara muito difícil viabilizá-lo para valer. Concomitantemente, a grande onda na qual usufruímos, da metade de 2006 até o fim de setembro, se extinguira, praticamente. 

Eu, Luiz Domingues a ajustar o som do meu amplificador durante o soundcheck. Pedra ao vivo no CCSP em fevereiro de 2007. Click: Grace Lagôa

Quando estávamos a viver aquele momento, mesmo já a nos revelarmos bastante experientes, claro que mesmo ao percebê-lo, nitidamente, não o admitíamos de uma forma estrutural, pois no calor dos acontecimentos, não se pode esmorecer, a grosso modo. 

Entretanto, se revelou um fato e em consequência direta, ficamos sem perspectivas imediatas em termos de shows e não haveria muito mais o que fazer sobre a divulgação do primeiro álbum, a não ser esbarrar nas portas impossíveis de se abrirem para artistas independentes do underground.

Xando Zupo durante o soundcheck. Pedra ao vivo no CCSP em fevereiro de 2007. Click: Grace Lagôa 

Só nos restara, portanto, mergulharmos inteiramente no processo da composição de novas músicas e começarmos assim, a pensar no segundo álbum. 

Uma tentativa para agendar apresentações em um circuito alternativo, redundou em frustração, pois a ideia em de nos apresentarmos em casas que não possuíam absolutamente nenhuma ambientação em relação à nossa proposta artística, não fazia sentido. 

Uma única oportunidade nesse sentido, apareceu para nós no Manifesto Bar, de São Paulo, um reduto para apreciadores do Hard-Rock e Heavy-Metal oitentistas, predominantemente e assim, o sentido de se tocar em uma casa fechada para um nicho tão específico, e fora dos nossos padrões, realmente pouco ou nada acrescentaria à nossa escalada. Não sei se posso considerar bom ou ruim, o fato de que pouca gente compareceu ao evento, nessas circunstâncias.

Dividimos a noite com uma banda Pop-Rock, chamada: "Arsenico", cujo baixista era um ex-membro do Big Balls (Pedro Crispi), banda que o Xando Zupo teve nos anos noventa. 

De fato, tocar no Manifesto Bar não nos acrescentou nada e ficamos com a sensação de um ensaio aberto, tão somente. Foi no dia 1° de março de 2007, com um fraco público em torno de vinte pessoas presentes. 

Em minha opinião, esse show foi um reflexo da oportunidade perdida, que eu mencionei anteriormente. Definitivamente, seria a hora de se promover mudanças na estratégia e talvez o melhor naquele instante, fosse um mergulho criativo em busca de novas músicas a abrir perspectiva para um segundo álbum. E foi o que fizemos!

Na primeira foto, Xando Zupo no estúdio Overdrive. Na segunda, a banda reunida para uma entrevista a ser realizada na emissora Brasil 2000 FM em 2007. Clicks: Grace Lagôa

Muitas ideias novas já estavam a serem desenvolvidas, nessa altura.
Se por um lado, nos aborrecera estarmos sem perspectivas para marcarmos shows naquele instante, por outro, a motivação pelas músicas novas e iminente preparação de um novo álbum, foi por demais animadora. 

Músicas como: "Longe do Chão", "Letras Miúdas", "Se Você For a Fim" e "Jefferson Messias", já possuíam um corpo inicial básico nessa altura e passavam por uma fase de apuro, ainda que não detivessem títulos oficiais à época.

Pedra ao vivo no Blackmore Rock Bar de São Paulo em junho de 2006. Click: Grace Lagôa

Lembro-me que no caso da canção, "Jefferson Messias", por exemplo, a definição por esse nome para a canção, surgiu alguns meses depois dela já estar pronta, apenas. O fato, é que no seu nascedouro, a música teve a inspiração psicodélica sessentista, por conta do riff criado ao teclado e sobretudo pelo seu timbre característico, mais a se parecer o som do órgão Farfisa, do que o Hammond.

Pedra ao vivo no Blackmore Rock Bar de São Paulo em junho de 2006. Click: Grace Lagôa

Então, nas primeiras elucubrações, a apelidamos como: "Jefferson Airplane", para estabelecer uma alusão indevida, eu diria pois, a maravilhosa banda de Slick, Kantner & Cia, não tinha teclados em sua formação clássica, portanto, o apelido mais adequado deveria ter sido: "The Doors", "Vanilla Fudge", "Iron Butterfly", "Young Rascals" e outros tantos exemplos sessentistas desse estilo. 

Bem, independente disso, o importante foi que a música se desenvolveu e definida a sua parte "A", em que a menção psicodélica americanizada foi explícita, o Xando trouxe um riff diferente, que veio a se tornar a sua parte "B". Aparentemente um riff mais setentista e com característica baseada no Hard-Rock, na minha ótica e por isso mesmo, me lembrou muito o trabalho do "Captain Beyond".

O grande, Lee Dorman, baixista que admiro bastante e que de uma forma curiosa e coincidente, tocou em duas bandas que eu aprecio: "Iron Butterfly" e "Captain Beyond"

E assim, na minha concepção, tal mosaico supostamente dispare, fez sentido, pois eu estabeleci mentalmente a conexão entre o "Iron Butterfly e o Captain Beyond", e o elo lógico dessa junção foi o Lee Dorman, extraordinário baixista que atuou nas duas bandas. 

Eis que um acréscimo foi sugerido a mais, em que uma loucura experimental seria colocada como eventual parte "C" da música. No início, fora apenas uma brincadeira descontraída de ensaio, mas se tornou uma medida oficial quando na proximidade de entrarmos em estúdio, nos fez perceber que o experimentalismo poderia soar muito bem na gravação oficial.

Roger Waters e o seu Fender Precision, outra referência forte na minha vida como baixista e apreciador do Pink Floyd

E nessa parte "C", eu evoquei o Roger Waters para buscar a minha inspiração, com o experimentalismo da psicodelia de Canterbury a dar as cartas nessa peça que criamos.
Cezar de Mercês, um ídolo do Rock setentista brasileiro, que se tornou amigo e parceiro de composição em uma banda minha!

O Rodrigo começou a trabalhar na linha melódica do tema e a escrever a sua letra, mas em um dado instante, ele se sentiu sem uma maior inspiração para concluir um determinado trecho da música. Passou-se um bom tempo até que ele teve uma ideia ousada e salutar para solucionar tal crise criativa de sua parte para concluir tal missão.

O áudio de Jefferson Messias:

Eis o Link para escutar no You Tube :
https://www.youtube.com/watch?v=iUEy_onTQj4


então ele recorreu a um amigo da banda e grande artista que admirávamos, o Cezar de Mercês, que trouxe a continuidade que apreciamos como ideal ao sugerir o título oficial da canção, em cima da brincadeira do seu apelido. "Jefferson", que aludira ao "Jefferson Airplane". 

Dessa forma, eis que se tornou um personagem, ao receber a alcunha de "Messias", como a aludir a uma espécie de profeta apocalíptico ou coisa que o valha.

Sobre a outra canção, o Xando Zupo sugeriu que fizéssemos uma releitura de algum clássico do Rock ou da MPB, para incluirmos nos shows e também para o novo álbum. A sua argumentação foi de que seria salutar realizar tal adendo ao conceder um verniz diferente ao disco etc. O Rodrigo pareceu gostar dessa ideia, logo de início, e o Ivan se mostrou neutro, mas a pender para o "sim", mais acentuadamente.

Eu confesso que não gostei da ideia em princípio, pois tenho a tendência de não achar necessário para um artista, que use do artifício de se escorar em outro para galgar um degrau na carreira. 

Não tenho dúvida de que as releituras cometidas pelos Beatles, Rolling Stones, The Who, Led Zeppelin e Cream (só para citar alguns poucos exemplos de artistas que usaram desse expediente), em seus primeiros álbuns de carreia, são válidas, mas gosto muito mais do material próprio que criaram, não tenho nenhuma dúvida, também. 

Não me posicionei contra de uma forma intransigente, no entanto, pois não sou um irredutível contumaz que cria casos dentro de uma banda para fazer valer uma opinião, mas se dependesse de meu posicionamento natural, jamais tal proposta seria formulada, sequer.

Pedra ao vivo na Feira da Vila Pompeia em São Paulo em maio de 2006. Click: Grace Lagôa

Com a tendência de três quartos da banda gostar da ideia, é claro que a proposta vingou e daí em diante, se passou à "fase B", com as inevitáveis listas montadas mediante sugestões. Logo se descartou alguma canção internacional, pois foi consenso que seria muito mais interessante lidar com algum material proveniente da MPB. 

Entre tantas peças que gostávamos da seara da MPB, a produção artística proveniente das décadas de 1960 & 1970 registravam as nossas maiores predileções e daí, a se pensar no "Clube da Esquina" como uma referência unânime entre nós, nos pareceu algo muito natural. 

Contudo, também poderia ser óbvio demais gravar algum material daquele álbum, ou mesmo canções avulsas do Lô Borges, Beto Guedes, Milton Nascimento e outras estrelas dessa companhia, pela obviedade de sabermos que abundavam as regravações da parte de muitos artistas e a nossa regravação seria apenas mais uma no mercado, por melhor que ficasse o nosso arranjo, interpretação e áudio.

Então, o Xando sugeriu uma cartada diferente, igualmente setentista e com um pé no Rock, não houve dúvida. Foi uma canção do disco debut do compositor & cantor, Sérgio Sampaio, mas no caso, não a sua clássica canção: "Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua", como seria óbvio. Tratou-se de uma música chamada: "Filme de Terror". 

Com uma letra acintosamente inspirada em metáforas a explicitar o horror da ditadura em voga (o disco é de 1972, mas talvez o Sampaio a tenha composta em 1970, 1971, ou até antes, não sei ao certo), fora uma peça perfeita para fazer o elo com um outro tipo de horror, não o da ditadura, mas o de uma sociedade com medo de facções criminosas organizadas, como se apresentar o panorama social brasileiro da metade da primeira década do século XXI.

Um dos "malditos" geniais da MPB setentista, o grande: Sérgio Sampaio

Em termos musicais, a música apresentava uma estrutura harmônica quase semelhante ao padrão do Hard-Rock, com bela melodia e no arranjo original, não houve peso, mas uma certa pegada Rocker setentista fora insinuada, principalmente por um fraseado tercinado, executado pelo guitarrista que participou da sua gravação para compor o LP. 

Bem, quando começamos a criar o nosso arranjo, eu preservei essa ideia no baixo, mas com muito mais peso e pegada Rocker, ao usar o estilo do John Entwistle, como referência, e isso ficou tão marcante, que anos depois, um rapaz postou um comentário no YouTube, em uma das inúmeras versões ao vivo que a nossa versão para essa música tem exposta nesse portal, ao afirmar que nós havíamos "roubado acintosamente" algumas músicas do "Rush", e as citou para corroborar a sua tese.

De fato, há uma semelhança, mas é o tal negócio: eu segui a orientação do arranjo original, ao gravar as frases tercinadas feitas pela guitarra, como se escuta no disco do Sampaio ("Eu Quero é Botar meu Bloco na Rua", de 1972) e não possuo nenhuma influência do "Rush" na minha formação musical pessoal. 

Quando faço uso do recurso de uma tercina, a referência viva em minha memória afetiva é sempre o John Entwistle (The Who) e não o Geddy Lee (Rush). Nada contra o Rush, tampouco o Geddy Lee, absolutamente, deixo claro aos fãs dessa banda. 

"Fly By Night" e "Caress of Steel", dois discos do Rush, lançados nos anos 1970, que mantenho em meu acervo pessoal

Até acho o Rush uma boa banda e tenho dois discos de sua discografia em minha estante, mas não é nem de longe, uma influência importante na minha formação musical, portanto, nesse caso, se tratou de uma mera coincidência e convenhamos, que eu saiba, o Geddy Lee não pleiteou protocolo no INPI para patentear a tercina...

O áudio de "Filme de Terror", do disco:  
Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=ikraNlVWsT0

Assim nasceu a ideia para termos a canção: "Filme de Terror" em nosso repertório.

Acima, dois flagrantes de shows do Pedra em 2006. Eu, Luiz em destaque na primeira foto extraída do show no Blckmore Rock Bar e abaixo, Rodrigo Hid em destaque e eu, Luiz, ao fundo, no CCSP. Clicks: Grace Lagôa

Outras canções estavam a brotar nessa fase em que ficamos sem perspectiva concreta para agendar shows. De fato, foi a hora para entrarmos em estúdio e aproveitar uma nova safra que germinara. Lembro-me que a música: "Longe do Chão", foi desenvolvida a partir das ideias que o Xando Zupo nos apresentou. Toda a parte de composição básica, veio dele, mas alguns detalhes incorporados ao arranjo da parte de outros componentes, tratou por ofertar um charme especial à canção.

"The Band", uma banda que eu adoro e muito dignificou o Folk-Rock dos anos sessenta e setenta, por ter sido aberta a múltiplas outras tendências, em tais décadas
 
Por exemplo, o rufo de caixa, que abre a música, foi uma ideia que o Ivan Scartezini trouxe e que forneceu uma pitada do Folk-Rock à música, ao remetê-lo para a "The Band". As intervenções do órgão Hammond, que o Rodrigo trouxe, a la "Allman Brothers", também contribuíram demais à sua sonoridade.

Xando Zupo em destaque com o Pedra no Blackmore Rock Bar de São Paulo em junho de 2006. Click: Grace Lagôa 

E claro, a parte final do tema, com um desfecho grandioso, a desenhar um cenário perfeito para o solo épico do Xando Zupo. 

Desde o começo da concepção do arranjo, o Rodrigo também teve a ideia de colocar ao final da canção, alguns elementos psicodélicos, para aludir aos Beatles. Se tratou de uma colagem com elementos experimentais, como vozes, ruídos e afins. Eu nem preciso explicar muito que gostei dessa ideia desde o princípio e claro que opinei a favor, ao apoiá-lo.

O áudio de "Longe do Chão", do disco:  
Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=L2Bzzed4pbo

"Se Você For a Fim", foi uma ideia em torno de um Funk-Rock, trazida como riff pelo Xando. De certa forma, tal proposta remeteu ao "O Dito Popular", do nosso primeiro álbum, e claro que deteve muito do som do "Aerosmith" e também do "Deep Purple" na sua formação Mark IV.

Com o tempo, a música ganhou uma parte "C", sugerida em ensaio por eu mesmo, Luiz. Na hora, me ocorreu ideia de quebrar o swing funkeado, com uma intervenção Prog-Rock, inusitada. 

Portanto, aquela parte "C" é bastante influenciada pelo estilo do "Greenslade", uma obscura banda Prog-Rock britânica e setentista, cujo trabalho eu sou fã. 

Quando a fechamos enfim e passamos a ensaiar para a gravação, o Ivan logo notou que essa parte "C", apesar de ter sido inspirada em um exemplo oriundo da escola do Prog-Rock setentista, tinha também um ritmo que lembrava muito, o baião nordestino.

E não deu outra... quando a gravamos, no penúltimo módulo da Parte "C", em sua ronda final, colocamos zabumba, triângulo e acordeom, ao forjar uma feição mesmo de baião nordestino. 

Assim como em "Me Chama na Hora", do primeiro disco, quando colocamos uma batucada brasileira de escola de samba para interagir com um riff típico de Jazz-Rock, desta feita colocamos o famoso "power-trio" nordestino a interagir conosco. 

Contudo, nesta situação, não chamamos músicos convidados. O Ivan gravou a percussão típica e o Rodrigo fez a intervenção no acordeom.

O boato sessentista (alô, Carlos Imperial!), a dar conta de que o magistral, Luiz Gonzaga teria uma versão de sua canção, "Asa Branca" gravada pelos Beatles, não passara de uma armação para criar celeuma, mas em nosso caso, nós inserimos o elemento nordestino de forma proposital.

Aliás, leia minha matéria a falar sobre tal boato a envolver Luiz Gonzaga e os Beatles, em meu blog 1:
http://luiz-domingues.blogspot.com.br/search?q=Beatles+e+Luiz+Gonzaga. 

O áudio de "Se Você For Afim", do disco:
Eis o link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=AAsr6_ebAL0


E assim, o Pedra se orgulhou por apresentar um trio nordestino em sua música, isso foi um fato...

Outras canções que surgiram, foram: "Letras Miúdas" e "Saiu de Férias". Em "Letras Miúdas", de minha parte, eu criei um fraseado bem ao estilo do John Entwistle, logo na introdução da música.

Confesso que gosto muito dessa intervenção contundente logo de início, pois a queda brusca que eu faço, assim que a melodia começa, oferece um efeito dinâmico muito acentuado à canção, e ao vivo, isso se realçava ainda mais em todas as ocasiões em que tocamos tal música. 

A letra é muito boa, e as partes "B" e "C" são bastante interessantes por oferecerem influências importantes diretamente do Blues-Rock e também do Hard-Rock. Na minha avaliação, a parte "B" é muito influencia pelo som do Power-Trio, "West/Bruce & Laing" em seu estilo. 

E na parte "C", a existe lembrança do "Uriah Heep", a evocar o som da canção: "The Magician's Birthday", que é grande sob a minha percepção, principalmente pelas semelhanças harmônicas entre essa peça e a nossa e claro, pela intervenção do slide.
 

No caso de "Saiu de Férias", o riff inicial foi uma ideia que eu ofereci à banda, com a influência do "Free", sob um riff  bem fechado em torno do Blues-Rock.
Propus também uma segunda parte, que eu queria que soasse "British Invasion' 64", bem delineado com o estilo do "The Kinks".

O Xando incorporou uma parte "C" muito interessante, absolutamente influenciada pelo "Led Zeppelin" e dessa forma a música se tornou bastante atraente, ainda que a minha intenção inicial fosse que ela soasse mais sessentista em seu âmago. 

Contudo, a letra que o Xando escreveu, apesar da contundência da sua temática, praticamente estigmatizou a música como algo panfletário e confesso, não foi o que eu desejara para ela.

Xando Zupo a se preparar para o soundcheck no estúdio da rádio Brasil 2000 FM, em julho de 2006. Click: Grace Lagôa

Como o Xando detém uma personalidade forte e ficou empolgado com o rumo que a letra adotou em sua criação, doravante se fechou e culminou por ser gravada nesses moldes, ao desferir alfinetadas nas religiões dogmáticas, a denunciar a exploração da fé das pessoas humildes e nas superstições decorrentes dessa exploração. 

O tema é bom, a tomada de posição é interessante e eu compactuo com tais visões em linhas gerais, mas por estar sujeita à má interpretação, eis que se tornou um fardo verificar que teríamos que invariavelmente, "explicá-la" em entrevistas e pior, poderia gerar animosidades da parte de religiosos radicais a perseguirem a banda por conta de terem se ofendido com o teor da letra dessa música e assim, a nos causar aborrecimentos mediante retaliações.

Curiosamente, algum tempo depois que o novo CD foi lançado e a conter tal música no seu bojo, uma pessoa me perguntou se éramos "contra" os evangélicos, por conta dessa música. Claro que não, mas assim como ela se incomodara ao interpretar dessa forma, creio que a música poderia gerar esse questionamento para qualquer religioso e não só quanto aos evangélicos a vestirem tal carapuça. Se entendida dessa forma, haveria por ofender budistas, kardecistas, islamitas, cristãos em geral, judeus etc...

E pelo lado artístico, somente pelo simples fato dessa dubiedade gerar tal tipo de controvérsia, é claro que já tornara tal canção, um fardo para a banda, no sentido de que explicar não é função do artista, mas nesse caso, não justificar poderia render antipatias irremediáveis. 

Pouco tempo depois, o Xando não desejou incluí-la mais no set list dos shows. Creio que ele tenha se arrependido das colocações feitas, ainda que saibamos que não se tratou de ataques diretos às instituições religiosas, tampouco contra a fé das pessoas. 

Mas sem dúvida que a sua empolgação inicial pela manutenção de tal letra, como definitiva para a conclusão no disco, ocasionou a sua condenação ao limbo. Lamento, pois a parte musical é muito boa. 

Para complementar, a voz grave, ao estilo "Ike Turner", nos backing vocals, é minha. Apreciei muito gravar e cantar ao vivo, ainda que por poucas ocasiões.

O áudio de "Letras Miúdas", do disco:
Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=HsBqUyoWwaI

O áudio de "Saiu de Férias", do disco:
Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=YpLtTFxCQk0

"Meu Mundo é Seu" foi uma canção que o Rodrigo Hid trouxe pronta de sua casa. Foi o seu lado "MPB voz & violão", que sempre se mostrou forte, mas principalmente no espectro artístico do Pedra, ele teve muito maior possibilidade para obter vazão para tal influência sua, do que em relação à Patrulha do Espaço, a sua banda anterior, é óbvio. 

A canção chegou para a percepção dos demais, praticamente como ela ficou conhecida no pós-gravação e inclusão no álbum, Pedra II, mas a letra era completamente diferente e a interpretação da melodia, continha um outro contorno. Em princípio, a letra que o Rodrigo trouxe montada, falava sobre aspectos a conter termos regionalistas. 

Particularmente, eu tenho uma resistência enorme a esse tipo de poesia, por um motivo muito simples: acho que se assume um risco imenso de soar falso, pelo simples fato de não corresponder à realidade de quem não nasceu e foi criado em um ambiente rural, verdadeiramente. 

Um aspecto é ouvir um disco de MPB de um artista folk de Minas, do sul ou do Nordeste e achar bonitas as imagens por ele propostas, ao mencionar fatos eminentemente regionalistas e ainda mais, ao usar e abusar de palavras que são expressões idiomáticas típicas de tais regiões. 

No entanto, completamente diferente dessa realidade, é forjar tal poética, ao citar por exemplo: frutas, vegetação e animais com nomes exóticos, que não fazem sentido para quem nasceu e foi criado na urbanidade da cidade de São Paulo, nosso caso.

Na minha ótica, isso soaria falso, a denotar apenas que tal influência existe enquanto produto artístico, mas as imagens evocadas, não fazem parte verdadeiramente do imaginário do artista, no caso, o Rodrigo e por extensão, os demais componentes da banda, eu incluso, logicamente. 

Explanei tal opinião para ele, que entendeu o meu ponto de vista, mas por outro lado, ele obviamente defendeu o seu, ao considerar não ser nociva a ideia contar uma história como se fosse um artista interiorano, acostumado com tais imagens forjadas em rincões rurais e remotos, por não ser de seu habitat natural.

Mas o Xando veio com outra argumentação, a gerar uma terceira via para a discussão dessa problemática. A pender ligeiramente para a minha linha de raciocínio, mas ao divergir da minha opinião, também, ele foi por uma outra linha de raciocínio ao achar que tal nicho da MPB, muito regionalista demais, destoava do "todo" do disco. Foi também um raciocínio a ser observado, é claro. 

Após muitas conversas, quando houve até o risco da música ser descartada por destoar do restante da obra, o Rodrigo aceitou considerar uma nova letra e dessa forma, o Xando trabalhou com algo mais próximo da MPB, via Chico Buarque, o que para nós, acredito ter sido muito mais conveniente, não só pela urbanidade, mas sobretudo pelo tipo de abordagem e no caso, até de um assunto trivial, como é a relação homem/mulher.

Creio que o resultado da letra e a interpretação do Rodrigo nessa canção, falam por si só. "Meu Mundo é Seu" é uma das músicas mais queridas desse segundo disco que lançamos e teve (tem) no público feminino, uma audiência maciça. 

Quanto à gravação dela em si, o Rodrigo idealizou uma intervenção simples com a percussão. 

O bom percussionista, Thiago Sam, que tocara ao vivo conosco como convidado no CCSP em julho de 2006 e foi convidado a gravar participação em nosso segundo disco mediante sessão de gravação marcada para 2007. Click: Grace Lagôa

Convidamos o percussionista, Thiago Sam, que já houvera participado de uma intervenção ao vivo conosco (junto a Caio Ignácio e Roby Pontes, em 2006, no show de lançamento do primeiro disco, em 2006, no Centro Cultural São Paulo). 

No estúdio, Sam trouxe ideias muito criativas que enriqueceram a canção.

 
O Sam usou uma folha de zinco, que dá um efeito fantasmagórico, mas não lúgubre, na parte "B", além de um "Ovo" (um pequeno instrumento em formato de um ovo de galinha e com material arenoso no seu interior, que dá ao músico a possibilidade de manipulá-lo ritmicamente como um condutor de pulsação, a imprimir um balanço na música), na condução na parte "A" e acrescentou um efeito étnico muito bonito com o chamado, "Vaso" (tal instrumento oco por natureza e semelhante a um vaso para cultivar plantas, produz matizes com sons secos e sob alcance grave e médio, ao simular a sonoridade de uma tabla indiana), também na condução geral, a imprimir um ar exótico à canção.

O áudio de "Meu Mundo é Seu", do disco:  
Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=UtvBQ7sLkQQ

"Rock'n Não", tem uma história retroativa. Foi logo no começo dos trabalhos da banda, que surgiu coletivamente um tema em meio a uma Jam-Session. 

Por nos parecer em tese, um tema influenciado pelo Funk-Rock, insistimos um pouco na brincadeira e chegamos a gravar aquela ideia embrionária. Logo surgiu a ideia de fazermos uma vocalização que lembrava o som de bandas Funk-Rock, tais como o "Parliament"/"Funkadelic", "Sly and the Family Stone", "Lafayette" e similares da época, mas ao meu ver, aquele tema me faz lembrar mesmo o som do "War", a espetacular banda negra com um vocalista branco, na figura de Eric Burdon, portanto, não um cantor qualquer...

Empolgamo-nos com o tema, mas como nessa altura já tínhamos o repertório do primeiro disco quase definido, descartamos a ideia em trabalharmos nela imediatamente, para nos concentrarmos nos preparativos da gravação do primeiro álbum e de fato, não seria o momento para perder tempo a desenvolver uma nova canção.
Ficou então engavetada aquela Jam-session, ainda com as presenças de Tadeu Dias e Alex Soares na formação preliminar do Pedra.

Pedra no estúdio da emissora Brasil 2000 FM em 2007. Click: Grace Lagôa 

Quando estávamos a começar a pensar no segundo disco, alguém se lembrou daquela Jam remota ocorrida ao final de 2004 e quando ouvimos a gravação daquele ensaio, retomamos a vontade para desenvolver aquele riff embrionário. 

Claro que a música ganhou diversos outros atrativos além daquele riff funkeado e cheio de swing. A parte "A", inclusive, se sofisticou bastante com uma linha bem balançada, a ganhou uma parte "B" e também uma parte "C", e sta em questão que possui um sabor "Beatle", ao lembrar bastante o riff da canção, "Hey, Bulldog", mas eu descarto qualquer menção de plágio, mas houve sim uma inspiração.

Uma pequena intervenção jazzistica que eu sugeri, também ficou muito bonita quando o Rodrigo criou um desenho sofisticado e bastante dissonante ao piano.

E finalmente a parte "D", a final por sinal, quando fomos brutalmente influenciados pelo som do "Grand Funk Railroad" da sua fase Soul e assim, no maior estilo, "Shinin' on", o "groove" se espalhou livremente. 

Na sua letra, o Xando estava bastante chateado com conversas entre jornalistas sobre "hype", "formação de opinião" e "estéticas vilipendiadas ou enaltecidas indevidamente". Sem dúvida que esse lado obscuro do jornalismo, era um dos tentáculos a dominar a música mainstream e determinante para que muitos artistas sem nenhuma qualificação técnica, estivessem a usufruir da crista da onda em detrimento de outros tão valorosos a ficar em condenados ao limbo eterno da obscuridade. 

Decorrente dessa perspectiva perversa, que ele tenha escrito afirmações como: -"não tô dizendo nada" ou: -"será que vão me ouvir?"

E outras frases contundentes para reclamar dessa triste realidade, na qual, não obstante o fato de ser muito difícil almejar um lugar ao sol, na verdade era (é) deprimente verificar que na realidade, haviam pessoas empenhadas em obstruírem o caminho espontâneo de muitos artistas respaldados apenas pelos seus méritos naturais. 

Assim, "Rock'n Não " é um grito da parte de quem estava farto de dar "murros em ponta de faca", mas sobretudo contra os que as ostentavam e debochavam de quem se feria diante de tais barreiras intransponíveis, nesse esquema permeado pelo uso das cartas marcadas.

O áudio de "Rock'n Não", oficial do disco:
Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=tseoDRrn_tI


A história de "Tô Indo a Mil" é interessante, pois diz respeito a uma etapa anterior da minha carreira e a de Rodrigo Hid, também.
Essa canção que era de sua autoria há muitos anos, na verdade fora uma criação que ele trouxera logo no início dos trabalhos do Sidharta, banda que fundamos juntos em 1997. Nessa ocasião, a música se chamava: "Estar Feliz Consigo". Tratava-se de uma música bem ao estilo do R'n'B da velha guarda, ao sabor da gravadora "Motown", com três partes bem construídas em seu esqueleto.
No tempo do Sidharta, foi arranjada nesses moldes da Black Music clássica e fora uma das nossas maiores esperanças para lograrmos êxito na carreira da banda, pelo futuro hipotético que projetávamos. Quando o Sidharta se fundiu à Patrulha do Espaço, essa canção foi descartada, no entanto, para ficar de fora dos planos iniciais da banda, mas particularmente, eu sempre acreditei no potencial Pop que ela possuía.

Tanto foi assim, que eu e Rodrigo providenciamos a gravação de uma demo-tape na qual, somente eu e ele participamos, ao visar inscrevermos tal canção no Festival que a Rede Globo lançou em 2000. 

O Rolando Castello Junior não quis entrar em estúdio oficialmente, para tal medida ser feita, mas não se opôs ao nosso esforço isolado e assim, gravamos de uma forma muito caseira, ao utilizarmos um port-studio com oito pistas e a fazer uso de uma bateria eletrônica. 

Claro que foi uma gravação muito simples, mas mesmo assim, acredito ter ficado digna e suficiente para o envio ao festival. 

Infelizmente não fomos classificados, mas acredito que nem se a tivéssemos gravado oficialmente, com a banda inteira e mediante o uso de um estúdio com qualidade, teríamos logrado êxito, visto que nesse tipo de festival, a possibilidade das cartas marcadas serem usadas foi muito grande. E por que mandamos para a direção do festival, mesmo assim, mesmo ao sabermos se tratar de algo quase impossível de ser alcançado? 

Ora, na dúvida, a única certeza que temos na realidade, é que somente não ganha mesmo na loteria, quem não faz uma aposta.

O tempo passou e essa canção não foi mesmo aproveitada pela Patrulha do Espaço. Quando o Pedra iniciou as suas atividades, o Rodrigo também não se lembrou dela por ocasião do primeiro disco, mas quando começou a movimentação em prol do segundo, ele a resgatou da gaveta. Eu me entusiasmei, é claro, pois sempre a apreciei e acreditava muito no seu potencial Pop. 

Eu tinha em mente, inclusive, que ela encaixar-se-ia ainda melhor à mentalidade do Pedra, do que mesmo no Sidharta, e certamente mais em relação à Patrulha do Espaço.

No entanto, a música passou por algumas modificações, principalmente na questão da letra que foi totalmente reformulada e na melodia que ganhou modulações bem diferentes. A estrutura rítmica permaneceu próxima à estética da Black Music clássica, contudo, embora de minha parte, a linha do baixo tenha mudado um pouco, para acompanhar a criação do Ivan, diferente do que o Zé Luiz Dinola fizera no tempo do Sidharta.

Lu Vitti e Rodrigo Hid em foto de 2007. Click: Grace Lagôa

A letra teve a colaboração do Xando, que sempre gostava de participar ativamente desse quesito, mas se observou também uma sutil colaboração da atriz & cantora, Lu Vitaliano (Vitti), que inspirou uma frase na construção da letra. Tal inspiração foi considerada vital e daí o seu nome ter sido incluído como parceira na composição. A música entrou enfim no álbum, "Pedra II" e se tornou bem requisitada nos shows da banda.

O áudio de "Tô Indo a Mil", do disco:
Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=w4KdYfcmjfU

Pedra em dois momentos: ao vivo no Blackmore Rock Bar de São Paulo em junho de 2006 e durante o soundcheck vespertino no CCSP em fevereiro de 2007. Clicks: Grace Lagôa 

Entre tantas jams que uma banda de Rock faz naturalmente em seus ensaios, e durante o soundcheck de shows, é muito natural que surjam temas interessantes que detém o potencial para virem a se tornar futuras músicas, ainda que na referida jam, só um esboço dessa produção seja aproveitado, normalmente. 

O Pedra nunca foi uma banda que baseasse a sua criação em jams. Na minha carreira toda, isso aconteceu com bastante frequência com A Chave do Sol e também com a Patrulha do Espaço, mas o Pedra (assim como o Pitbulls on Crack, também), foi uma banda na qual geralmente os dois guitarristas traziam criações com as quais trabalhavam individualmente. No caso do Pitbulls, a criação era em 99% da parte do Chris Skepis que compunha músicas sob enorme profusão criativa.

Pedra no CCSP em outubro de 2007. Click: Grace Lagôa

Mas no caso do tema instrumental, "Megalopole", este foi um raro exemplo de música do Pedra que surgiu de uma Jam, inicialmente, mas claro, passou por vários melhoramentos até ganhar o arranjo final que está registrado no álbum Pedra II. 

Na sua parte "A", o riff inicial é calcado no princípio básico do "Acid-Rock" sessentista, em princípio, ao lembrar o estilo de Jimi Hendrix. Mas o acréscimo com várias intervenções jazzísticas/fusion, agregam o elemento, "Jazz-Rock", fortemente, na sua parte "B".

Tem um quê de Funk, via "Som Nosso de Cada Dia", também, e na parte "C", que encerra esse tema instrumental, Rodrigo e Xando trabalham um entrelaçamento feitos através das vozes abertas em harmonia pelas suas respectivas guitarras, que particularmente, acho uma resolução belíssima. 

É a única música instrumental do Pedra, desse álbum que construíramos, mas gostávamos tanto dela, que se incorporou ao set list de shows ao vivo e isso foi sintomático, por se tratar do fato do Pedra ter em suas letras, uma preocupação forte de se exprimir ideias etc. 

Portanto, por ter sido a palavra um elemento tão importante para a banda, a unanimidade por "Megalopole" ter sido sempre executada ao vivo, denotou que a considerávamos forte e emocionante o bastante para figurar no repertório dos shows, em detrimento de ser instrumental. 

A questão do seu título foi uma menção subliminar ao fato de sermos uma banda paulistana, portanto, a demarcar as nossas raízes concentradas na urbanidade da mega cidade.

O áudio de "Megalópole", do disco:  
Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=-g6NBDWsR3Q

Em relação a "Projeções", se tratara de mais uma canção que o Rodrigo trouxe pronta de sua casa. Se em "Meu Mundo é Seu" a proposta fora a da evocação da MPB antiga, talvez ao beber no samba-canção baiano de Dorival Caymmi, por exemplo, "Projeções" teve outro direcionamento. 

Uma canção Folk, com forte influência da música de raiz caipira do interior de Minas Gerais e São Paulo, a se mostrar como uma manifestação de violeiro do interior, ou seja, algo eminentemente rural etc. 

Não sou um musicólogo, mas tenho um pouco de noção dessa matéria, portanto, bastou que notasse logo nas primeiras audições dessa música em estado bruto e apresentada pelo Rodrigo ao violão para a banda, para que na minha percepção, se disparasse a ideia de haver uma conexão com o Folk europeu, também.

E se for analisar por esse prisma, certamente o pesquisador vai estabelecer a conexão, igualmente e passa por uma série de fatores, entre os quais, o fato histórico de que a raiz da música portuguesa e da espanhola, ainda mais, contem forte influência da música árabe, pelos séculos marcados sob o domínio mouro na península Ibérica. E por conseguinte, a música árabe de uma maneira generalizada, tem raízes na música indiana, portanto, quando se houve música de raiz de violeiros, todas essas percepções vem à tona.

"Gryphon", uma banda britânica setentista da pesada, versada pelo estilo Folk-Prog-Rock.
 
Então, na hora de pensar em um arranjo para a banda, de minha parte e do Rodrigo, ficou evidente que tal pegada "Folk" remetia evidentemente ao Prog-Rock setentista. 

E assim procedemos, ao buscarmos a sonoridade caipira de um violão de doze cordas conduzido pelo Rodrigo com maestria, o baixo Rickenbacker a obter a sonoridade clássica do Prog-Rock setentista, e a introdução de uma parte "C" na qual o solo feito pelo Xando, a conter efeitos com delay, claramente trouxe um sabor "Steve Howe" à canção.

Um outro elemento muito bom que foi incorporado e foi uma ideia do Rodrigo, se deu com os backing vocals a conterem uma certa intenção de se evocar a sonoridade da música indiana, e assim, a introduzir os chamados "comas" (metade da metade de um tom ocidental comum), portanto, ao garantir tal exotismo sonoro, inerente. 

E para reforçar tal conceito, na concepção final de estúdio, foi acrescido o efeito de um flanger, para reforçar o toque indiano que entrou na música tal como uma pitada de "curry" na receita final. 

Outro dado notável, foi a inclusão de uma delicada intervenção de cítara, executada pelo Diogo Oliveira, um artista incrível que transbordava talento por todos os poros. 

Não obstante o fato de ter feito a capa e o Gibi HQ que envolve a sua concepção pelo lay-out, por ser um grande músico, também, ele abrilhantou a obra a tocar cítara em: "Projeções". 

No quesito letra, o Rodrigo também já a tinha pronta desde casa. A temática espiritualista é leve, não panfletária e pode dar margem a uma interpretação não religiosa e portanto, é bastante feliz em meu entender.

Ao ir além, acho que contém momentos de brilhantismo, com alguns versos que são muitíssimos inspirados e dignos de nota, como verdadeiros aforismos, tamanha a sua força. Ao vivo, a tocamos muitas vezes, e com sucesso, sempre. 

O áudio de "Projeções", do disco:
Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=8nIGYz1Nink

Pedra ao vivo no CCSP em julho de 2006 na primeira foto e a banda nas dependências da rádio Brasil 2000 FM, em 2007. Clicks: Grace Lagôa

Bem, faltou falar de "Nossos Dias". O amigo, Osmar "Osmi" Santos Junior, nos abordou em certa vez e nos disse que compusera uma canção que poderia soar bem em uma eventual interpretação elétrica executada pelo Pedra. 

Em uma visita à emissora Brasil 2000 FM, os membros do Pedra a se confraternizarem com os seus principais dirigentes. Osmar é o terceiro da esquerda para a direita, a usar camiseta com estampa com a conter a imagem dos Beatles e jaqueta vermelha, e Rubinho, é o último, na extrema direita, ao lado do Ivan, no uso de uma jaqueta verde. Click: Grace Lagôa

Ele era (é) compositor há muitos anos e mantinha uma porção de canções em parceria com o grande guitarrista, Tony Babalu, normalmente, mas de uns tempos para cá, estava a desenvolver um trabalho também com outro parceiro, o compositor e letrista: Tom Hardt.

               O compositor/cantor e instrumentista, Tom Hardt

As canções do Osmar eram ecléticas. Eu conhecia muitas delas, orientadas na linha do Rock'n' Roll clássico, outras orientadas para o Blues e muito material influenciado pelo Folk e pela MPB setentista. Com Tom Hardt, a veia MPB e Folk ficara mais aflorada e nessa específica canção que ele nos mostrou, a pegada em torno do "Soft-Rock" remeteu ao trabalho de artistas desse espectro setentista, tais como: "James Taylor", "Carly Simon", "Carole King", "Cat Stevens", "Jim Croce", "Gram Parsons", "Al Stewart" e congêneres, mas havia um certo ar de "modernidade" também, via "Jack Johnson" e "Dave Mathews", que foram artistas contemporâneos surgidos aos olhos do grande público nos anos 2000, mas que obviamente bebiam das mesmas raízes desses artistas sessenta-setentistas que eu citei antes. 

Portanto, nos pareceu uma ideia oportuna para que tivéssemos uma peça com teor Soft-Rock e que soasse moderna, mas ao mesmo tempo, fosse evidente a sua raiz vintage, ao ser, portanto, confortável e prazerosa para nós a executarmos.

Outro aspecto interessante, foi o fato de que a ideia de possuirmos uma composição criada por um artista de fora dos quadros da banda, nos soou como algo despojado, digamos. 

Já tínhamos uma releitura no disco, com "Filme de Terror", mas o Sérgio Sampaio fora um artista consagrado, apesar de fazer parte do rol dos ditos artistas "malditos" da MPB setentista e já estava falecido, há tempos. 

Em "Nossos Dias", seria uma abordagem diferente, com a possibilidade do Pedra gravar o trabalho de uma dupla de compositores não estabelecidos no mainstream, portanto, se tratou de artistas como nós, a buscarem um lugar ao sol. 

A música propriamente dita tem uma estrutura harmônica simples, mas é bem composta e engendrada. Ela contém um pequeno sabor R'n'B, principalmente na sua parte "A", em que uma cadência com terça maior busca tal referência. 

De minha parte, eu criei uma linha de baixo bem simples, mas a procurar introduzir o groove da Soul Music. O dilema foi: fazer o balanço, mas com parcimônia, sem deixá-lo exagerado e assim, a lhe garantir a aparência de simplicidade. 

Pois foi o que o Ivan fez também, na sua criação à bateria. O Rodrigo, que é um grande violonista, por ostentar toda a sua influência de MPB e música de Raiz Folk, percebeu que nessa canção, o melhor seria soar simples e assim, a sua condução base é feita com uma batida rítmica, a evitar arpejos ao violão.

E o Xando, apesar de ser um grande fã de James Taylor, demorou para achar o seu arranjo de guitarra. A melhor ideia que lhe ocorreu, foi o uso de harmônicos a pulular sobre a canção, ao trazer uma muito improvável influência do "Van Halen", mas que fez sentido por ter sido uma típica referência pessoal dele.

Ivan Scartezini em destaque, com a minha presença, Luyiz Domingues à sua frente, encoberto e de costas. Pedra ao vivo no CCSP em fevereiro de 2007. Click: Grace Lagôa

A canção ficou bastante interessante com esse arranjo e com uma duração que se revelar como o sonho de consumo para programadores de emissoras de rádio e divulgadores de gravadoras: a conter míseros dois minutos e uns poucos segundos. 

Ficou leve, alegre e simples, mas ao mesmo tempo, sem destoar das composições próprias da banda, e quem a ouve, percebe ser uma gravação do Pedra, com as suas características habituais.

A banda a conceder entrevista na rádio Brasil 2000 FM. Click: Grace Lagôa

A letra é poética e leve também, a exprimir a dinâmica sobre a tomada de posição na vida etc. e tal, portanto teria tudo para agradar o público feminino, principalmente, por supostamente apresentar uma abordagem sensível do tema. 

E o melhor de tudo, soou moderna e poderia agradar os fãs de Jack Johnson, mas certamente agradaria apreciadores do Soft-Rock setentista, quiçá do Folk-Rock sessentista, também. 

De fato, nós comprovamos posteriormente que "Nossos Dias" agradaria bastante o público nos shows e tornar-se-ia uma canção recorrente em nosso repertório de shows, doravante.

O áudio de "Nossos Dias", do disco:  
Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=fFU6eCDhAVw


Rodrigo Hid em destaque, com Ivan Scatezini, atrás na bateria e ao lado, encoberto, a minha (Luiz Domingues), presença no baixo. Pedra ao vivo no Blackmore Rock Bar de São Paulo em junho de 2006. Click: Grace Lagôa  

Continua...

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