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sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Pedra - Capítulo 9 - Projeções - Por Luiz Domingues


A próxima atividade da banda aconteceu em julho. A direção da emissora Brasil 2000 FM, nos convidou para participarmos de uma maratona a ser realizada ao vivo, que a emissora promoveria a conter muitas bandas no a tocarem ao vivo nos eu estúdio. Ficara designado o tempo de mais ou menos uma hora para cada banda, descontados os minutos para troca de set up entre os grupos, naturalmente.

Eu, Luiz Domingues, no estúdio da emissora Brasil 2000 FM, em julho de 2007. Click: Grace Lagôa

Muitas bandas tocaram e eu me lembro que antes de nós atuarmos, esteve programada para tocar uma banda ao estilo "emocore" eminentemente feminina, e depois de nós, o histórico, Made in Brazil. 

Pelo caminho, a ouvirmos a programação da emissora pelo rádio do carro, as tais garotas já estavam a tocar e com todo o respeito aos sonhos das meninas para chegarem ao patamar do estrelato, o seu som se constituía daquele Punk-Rock raquítico de praxe, ultra idolatrado e superestimado nesta Terra Tupiniquim. 

O empresário dessa banda "emore" feminina pareceu possuir uma certa influência no meio, pois a despeito da fragilidade musical das meninas, estava a alojá-las em frentes interessantes e claro que isso não me surpreendeu, tão acostumado a conviver com a inversão de valores, há décadas, desde que um maldito "formador de opinião" convenceu todo mundo (eu, não!), de que não saber tocar um instrumento, era "cool"... 

Entretanto, aconteceu algo engraçado nesse dia, pois o tal empresário que teria tudo para não se interessar por uma banda formada por músicos mais veteranos e com propósitos mais sérios, nosso caso, travou uma conversa com o Xando e lhe disse que influenciado pelo pessoal da emissora (que falara bem de nós), havia gostado do nosso trabalho e ao ir além nessa conversa informal, disse estar ciente de que algumas músicas nossas tocavam na programação dessa emissora. 

Ardiloso, disse que oferecer-nos-ia uma oportunidade, visto que conhecia um esquema para estabelecer permutas com um "pool" de emissoras de rádio em todo o Brasil e que se quiséssemos, não pagaríamos jabá em espécie, mas teríamos que nos comprometermos a realizarmos alguns shows gratuitos para tal conglomerado, no velho esquema do "investimento de carreira", como forma de pagamento velado para tais emissoras e que isso garantir-nos-ia uma execução maciça nessa rede.

Rodrigo Hid a tocar teclados. Pedra no estúdio da emissora Brasil 2000 FM, em julho de 2007. Click: Grace Lagôa

Jabá nojento, claro, mas amenizado por não ser diretamente subtraído do bolso do artista, em espécie, muita gente aceita participar de tal prática e cogitamos aceitar a proposta, que não nos pareceu tão invasiva assim, ao ponto de conspurcar os nossos princípios e na contrapartida, sinalizara oferecer vantagens inacessíveis para o tipo de artista sem grandes recursos como nós éramos. 

Em suma: caímos na conversa do sujeito e alguns dias depois, fomos ao estúdio de uma emissora dessas bem focadas no mundo da difusão subcultural popularesca, localizada na Avenida Paulista e gravamos inúmeras chamadas a anunciar a nossa música: "Sou Mais Feliz", para supostamente alimentar a programação de dúzias de emissoras distribuídas em diversas cidades brasileiras. Pareceu sério em princípio e assim, raciocinamos que tais profissionais não perderiam tempo para produzir tais gravações em formato de "spots" radiofônicos, se não o fosse, certo?

Pois então o bote foi dado quando o sujeito aventou a possibilidade de uma troca de gentilezas, com o Xando a se comprometer a abrir as portas de seu estúdio para gravar uma demo das meninas emocore, que eram as suas protegidas, sob o regime de gratuidade, é claro. 

Ora, uma cooperação que o Xando não poderia negar sob uma mão dupla de apoio que se desenhara por tal permuta. Dias depois de firmado tal acordo, enquanto as garotas gravavam seu som no estúdio, o rapaz ficava a falar barbaridades sexistas / machistas na sala de estar do "Overdrive", algo do tipo: -"elas são ruinzinhas, mas tem peitinhos", ao mostrar bem o tipo de mentalidade que norteia os sujeitos que dominam o show business...

Rodrigo Hid a tocar guitarra. Pedra no estúdio da emissora Brasil 2000 FM, em julho de 2007. Click: Grace Lagôa

Então as meninas saíram dali do estúdio Overdrive com a sua demo-tape debaixo do braço e a nossa inserção em um suposto "pool" de FM's espalhadas Brasil afora, nunca aconteceu. 

O sujeito que propôs essa suposta permuta, se pôs a emitir desculpas esfarrapadas, até que enfim nos convencemos que tudo fora um engodo. O nosso único consolo nessa passagem, foi que ninguém deixou de dormir por conta do episódio, visto sermos todos bem experientes na música, mas a boa vontade para oferecer o estúdio e perder tempo e dinheiro, ficou na conta do Xando, infelizmente. Paciência!

Rodrigo Hid a tocar guitarra. Pedra no estúdio da emissora Brasil 2000 FM, em julho de 2007. Click: Grace Lagôa

Quanto a essa banda formada por meninas, um ou dois anos depois, é verdade que chegou em um patamar razoável no mundo infantiloide dessa cena emocore. Tanto que, creio que teve uma música sua incluída na trilha da novela adolescente: "Malhação", da Rede Globo e participação a tocar ao vivo em um filme longa-metragem, mas apesar de tal exposição midiática considerada forte, não avançou mais e eu suponho que essas meninas, hoje, moças adultas, já devem estar a trocar fraldas de seus pimpolhos e a trabalharem nas respectivas profissões que estudaram em seus cursos universitários concluídos a posteriori.

Sobre a nossa apresentação na Brasil 2000 FM, esta ocorreu muito bem, apesar da pressa caótica com que tudo aconteceu nessa noite e de fato, a nossa banda estava super ensaiada e motivada, portanto, a sonoridade foi perfeita de nossa parte. 

Na escadaria próxima ao estúdio da emissora Brasil 2000 FM, na Vila Anglo-Brasileira, zona oeste de São Paulo, na noite de 13 de julho de 2007. Foto: Grace Lagôa

Aconteceu na noite fria de 13 de julho de 2007. De volta aos shows, passaram cinco meses até termos uma nova perspectiva para um show ao vivo e claro que não consideramos a apresentação na emissora de rádio, que acabei de relatar acima, como tal, devido à falta de público ali. 

Tudo bem que ainda gravávamos o segundo álbum, mas esse tipo de hiato, além de contrastar com a boa onda que tivéramos em 2006, nos minava psicologicamente, de uma forma desagradável. Foi então que surgiu uma figura que se tratara de uma velha conhecida minha e do Rodrigo Hid, isto é, um rapaz chamado: Marco Carvalhanas. 

Nós o conhecêramos no ano de 2001, quando ele teve um envolvimento com a Patrulha do Espaço, banda pela qual éramos componentes na ocasião e ao final daquele ano, excursionara conosco, ao assumir o cargo de "Road Manager", na turnê. 

Ele não se efetivara naquela oportunidade, por motivos que não dizem respeito a esta narrativa (mas naturalmente narrados no capítulo adequado, referente à Patrulha do Espaço), no entanto, a impressão que eu e o Rodrigo detínhamos dele, fora a melhor possível, como pessoa, profissional e acima de tudo, por ser "um de nós" pelas afinidades, a se mostrar um Rocker, músico e antenado em nossa vibração.

Xando Zupo durante o soundcheck vespertino no CCSP em outubro de 2007. Click: Grace Lagôa 

Nesta abordagem ao Pedra, ele se aproximou de nós, interessado em nos agenciar e de fato, foi tudo o que precisávamos naquele momento, visto que essa carência de shows que enfrentávamos estava a nos incomodar, bastante. 

Ao se inteirar sobre o nosso trabalho, Carvalhanas se animou, pois notou que o nosso leque artístico se apresentava ainda mais amplo do que o da Patrulha do Espaço e nesses termos, vislumbrou por conseguinte mais possibilidades para alcançar êxito, por abranger um mercado maior. Tudo isso em tese, pois na prática a lógica não foi assim tão simples para que ele vendesse facilmente o "produto Pedra".

Eu (Luiz Domingues), com a atriz e cantora, Lu Vitti e Ivan Scartezini ao fundo. Bastidores da filmagem do vídeoclip da música: "Sou Mais Feliz" em 2006. Click: Grace Lagôa

Claro que ele não era um super empresário com contatos fortes, tráfico de influência, prestígio e dinheiro. Tampouco detinha um escritório com estrutura profissional, mas estava entusiasmado e mesmo com parcos recursos para operar, desejou ser o nosso agente de campo, para abrir frentes. 

Evidentemente que aceitamos e ele se pôs a trabalhar e logo acenou com uma data para uma casa noturna de São Paulo. Mas como a maré começa a mudar, sempre que se faz um movimento na água, uma outra perspectiva apareceu antes da data ventilada por Carvalhanas e assim, repentinamente tivemos dois shows para fazermos em vista, para o mês de agosto de 2007.

Dois momentos do Pedra. Rodrigo Hid e um técnico do CCSP em fevereiro de 2007, durante o soundcheck vespertino e a banda reunida na área externa da sede da emissora Brasil 2000 FM. Clicks de Grace Lagôa 

Dessa forma, surgiu a oportunidade para fazermos um show compartilhado com uma banda amiga, o Golpe de Estado. Tratou-se de um contato aberto pelo próprio pessoal da banda amiga citada, que nos convidou a participarmos de uma noitada sob participação dupla, em uma casa inusitada, eu diria, pois em tal espaço, as suas atividades normais se realizavam na área dos bailes organizados para atender um público de meia e terceira idade, principalmente. Tais eventos eram alimentados por bandas típicas desse tipo de ocasião, as chamadas bandas de baile, com muitos componentes e geralmente marcadas pelo histrionismo musical expresso em arranjos démodé, rebuscados, adocicados e sob um mau gosto extremo. Paul Mauriat e Ray Coniff que o digam...

Claro que estranhamos a notícia de que o show realizar-se-ia em uma casa não acostumada a promover shows de Rock, embora tivesse uma estrutura com som e iluminação, condizentes, que nos dava condições para tal. 

Contudo, essa casa no havia tido no passado, uma outra roupagem e com outro nome, fora uma danceteria nos anos oitenta, chamada: "Rádio Clube". Muito bem localizada, na Avenida Pedroso de Morais, em Pinheiros, bairro da zona oeste de São Paulo, recebera naquela década todos os nomes em voga do movimento "BR-Rock 80's" mainstream, possíveis e imagináveis de São Paulo e do Rio de Janeiro, principalmente.

Xando Zupo em um momento de descontração durante o soundcheck vespertino no palco do CCSP. Vê-se ao fundo, a caminhar, o baixista/guitarrista, Marcião Gonçalves. Fevereiro de 2007. Click: Grace Lagôa

Então, a despeito de tantos anos tal casa haver se tornado um clube "kitsch" a promover bailes populares, por outro lado a infraestrutura para shows que a casa ainda possuía, se mostrava boa. Havia um PA e equipamento de iluminação, digno, palco largo e com profundidade, estrutura cenotécnica, coxias, camarins e a plateia tinha ao seu dispor, instalações confortáveis e bom serviço de bar. 

Nessas condições, apesar de ser nebulosa a possibilidade de haver um bom público presente para nos assistir, ficamos animados para realizarmos o show, pois no mínimo, teríamos boas fotos para capturar a banda ao vivo. 

Depunha contra, o fato de ser um show em plena quarta-feira, ou seja, além de não possuir tradição para promover shows de Rock, há anos, se tratou de um dia útil, bem no meio da semana, com a típica dificuldade para se atrair público, ali bem delineada. Essa casa se chamava naquele instante: "Avenida Bar".

Flagrantes do Pedra a se apresentar no Avenida Bar de São Paulo em agosto de 2007. Clicks de Grace Lagôa

Tal estabelecimento estava, timidamente eu diria, a tentar voltar a ser uma casa de shows, visto que há anos os seus dirigentes estiveram conformados em manter como um clube de dança para idosos. Nada contra tal atividade para o pessoal da terceira idade, mas foi mesmo um desperdício que uma casa tão bem localizada e com estrutura boa de som, iluminação, cenotécnica, e camarins, não fosse um espaço usado para shows, novamente.

Os apresentadores, Ayrton e Lolita Rodrigues a apresentarem o  programa cafona: "Clube dos Artistas", na extinta TV Tupi, nos anos setenta 

Contudo, apesar dessas instalações, o aspecto interno da casa se mostrara bem decadente. Por conta de estar há tantos anos a sediar bailes, a sua decoração estava toda "kitsch", de muito mau gosto. Quando eu entrei ao salão principal, me senti no set do programa: "Clube dos Artistas", da TV Tupi nos anos setenta e tal qual esta atração televisiva citada, pareceu de uma "cafonalha" a toda prova!

O evento certamente foi um balão de ensaio promovido por seu mandatário, a fim de testar a ideia daquela casa voltar a ser um espaço para shows. 

Naquela noite eu tive uma surpresa agradável, assim que estacionei o meu carro no estacionamento do estabelecimento, quando avistei o iluminador, Wagner Molina, que havia conhecido em 1999, por intermédio do Rolando Castello Junior e dali em diante, o Molina iluminara vários shows da Patrulha do Espaço, quando de minha presença na banda.

          O super iluminador, Wagner Molina. Fonte: Internet

Foi quando o Molina me revelou que havia refeito recentemente contato com a esposa do Xando, Grace Lagôa, através da Rede Social Orkut, visto que há anos eles não conversavam e de fato, eram conhecidos desde os anos setenta. 

Eu somente fiquei chateado por vê-lo a se equilibrar mediante o uso de uma bengala e consequentemente a apresentar dificuldades na sua locomoção e ele nos contou que fora vítima de um ataque cardíaco e que desde então estava a sofrer devido às sequelas temporárias que esperava sanar com o tempo.

Wagner Molina a trabalhar também como cinegrafista de TV. Fonte: Internet

Mesmo assim, com dificuldades nítidas de locomoção, ele se ofereceu para operar a iluminação no show, e claro que aceitamos, pois Molina é um dos maiores iluminadores do Brasil, com um currículo gigantesco a relacionar trabalhos prestados para artistas peso-pesado da música, fora a sua atuação na TV, em novelas e programas de variedades/jornalísticos. 

Feita a passagem de som, nos recolhemos ao camarim para a espera do show. Claro, o convívio com o pessoal do Golpe de Estado sempre foi agradável e ali passamos bons momentos a conversarmos e rirmos, portanto nem sentimos o tempo passar...

Luiz Domingues & Xando Zupo, no camarim do Avenida Clube. Click de Grace Lagôa

Pedra ao vivo no Avenida Bar de São Paulo em agosto de 2007. Click: Grace Lagôa

Chegou a hora de subirmos ao palco e de fato, a casa não apresentava um público animador que sinalizasse que ali poderia voltar a manter uma tradição de se promoverem shows de Rock, como houvera sido nos anos oitenta. Naquela década, o espaço provia shows com a presença de mais de mil pessoas, costumeiramente, mas nessa noite, cerca de sessenta pessoas apenas, estiveram em suas dependências, a denotar que se os seus mandatários desejavam voltar a trilhar tal caminho, teriam que investir em propaganda e bastante paciência para fazer a casa acontecer de novo.

Wagner Molina a preparar o seu mapa de iluminação na mesa de operação. Fonte: Internet 

Com o acréscimo do Molina, mesmo que não houvesse acontecido uma adequada afinação dos spots e planejamento via mapa de luz (e com direito à contra-luz, que é uma das suas especialidades), claro que somente na pilotagem da mesa, ele já fazia a diferença. 

Dali em diante, Molina afeiçoar-se-ia à banda e assim acompanhar-nos-ia em diversas oportunidades e muitas vezes para ser um elemento fundamental a fazer dos nossos shows, algo diferenciado, a valorizar a nossa música, certamente.

Flagrantes do Show do Pedra no Avenida Bar de São Paulo em agosto de 2007. Click: Grace Lagôa

Foi um bom show, apesar do público pequeno que compareceu e nós aproveitamos para tocarmos diversas músicas novas que seriam gravadas para compor o repertório do segundo disco, Pedra II. Gravações aliás, que já haviam se iniciado e transcorriam sob um ritmo compassado, devido à dificuldade do nosso técnico, Renato Carneiro, a apresentar brechas em sua agenda pessoal para poder nos assistir no estúdio.

Flagrantes do Show do Pedra no Avenida Bar de São Paulo em agosto de 2007. Click: Grace Lagôa

Ficamos satisfeitos com a performance e demos espaço para os amigos do Golpe de Estado entrarem em ação, com o seu Hard-Rock, sempre muito bem executado.

Clima descontraído no camarim do Avenida Bar. Clicks: Grace Lagôa

Ao quebrar a escrita de uma banda que sempre teve dificuldades para agendar shows a se compor uma sequência, tivemos uma nova perspectiva para breve, quando o Marco Carvalhanas agendou uma apresentação em uma casa noturna que fora bastante ativa nos anos oitenta e noventa, mas que parecia fora do prumo nos anos 2000.

Flagrantes do Show do Pedra no Avenida Bar de São Paulo em agosto de 2007. Click: Grace Lagôa

Neste caso foi, curiosamente, uma investida parecida com a qual realizáramos no Avenida Bar, ou seja, um show produzido em uma casa que outrora ostentara uma tradição na noite musical paulistana, mas que nesse instante de 2007, vivia um momento de baixa e talvez quisesse, tal qual o Avenida Bar, se reerguer. E por que não, tentar? 

Rodrigo Hid em ação no show do Pedra no Avenida Bar de São Paulo em agosto de 2007. Click: Grace Lagôa

Para nós, seria mais uma oportunidade para nos apresentarmos ao vivo e convenhamos, nesse fim de década inicial de novo século e milênio, o panorama para bandas autorais pareceu estar a ficar cada vez mais escasso em termos de conseguir locais para apresentações.

Mais flagrantes do Show do Pedra no Avenida Bar de São Paulo em agosto de 2007. Click: Grace Lagôa

O show do Avenida Bar ocorreu na noite de 1º de agosto de 2007, uma noite gelada de inverno, perante um contingente formado por sessenta pessoas, aproximadamente. Foram poucos, mas bons ali presentes e que gostaram, pois eu me recordo que foi uma apresentação agradável.

Rodrigo Hid em dois momentos: ao vivo a pilotar teclados no Avenida Bar de São Paulo e no camarim do CCSP, ambos, shows realizados em 2007. Clicks: Grace Lagôa

Nesses termos, após a realização desse show, o agente Marco Carvalhanas, ao querer mostrar serviço, nos aventou uma perspectiva de show em curto prazo, ao nos animar, todavia, mais que isso, ele esteve a demonstrar estar motivado e foi tudo o que precisávamos, pois, a falta de alguém que cuidasse do nosso aspecto gerencial foi o nosso grande "calcanhar de Aquiles" em nossa trajetória. 

A casa em questão se tratara de um estabelecimento com tradição, mas que havia tido o seu auge como casa noturna, muitos anos atrás. 

Quando possuía outro nome ("Blue Note Jazz Bar"), tal estabelecimento teve o seu auge como casa especializada no universo do Blues e do Jazz, ao ter sido até protagonista de shows internacionais. Porém o tempo passou, a casa caiu em decadência, mudou de nome e proprietário, e neste instante de 2007 estava sob condições bem menos glamorosas e não fechada exatamente no nicho de Blues, ao abrir as suas portas para gêneros musicais díspares, sem estabelecer uma identidade, exatamente.

Xando Zupo no camarim do Avenida Bar de São Paulo. Agosto de 2007. Click: Grace Lagôa

Apesar dessa constatação, a estrutura que a casa ostentava ainda era digna e nesse sentido, após ponderamos, resolvemos arriscar, pois estávamos a enfrentar uma fase com poucas apresentações e dessa forma, não tivemos nada a perder. Nesse momento de 2007, a casa se chamava: "Mr. Blues" e dessa forma, nos preparamos para tal apresentação, animados com os esforços que o Carvalhanas estava a empreender para agendar outras casas noturnas da cidade, ao nos proporcionar a impressão de que faríamos uma sequência boa nesse circuito de casas paulistanas.

Mais flagrantes do show do Pedra no Avenida Bar de São Paulo em agosto de 2007. Click: Grace Lagôa

Pelo fato do ano de 2007, estar difícil para a nossa banda em termos de oportunidades para realizarmos shows, quando anunciamos essa nova data, uma boa expectativa foi criada. Claro que não fora nossa culpa, mas vivíamos uma época difícil, com espaços escassos para a música autoral, e sob uma situação muito diferente dos tempos de outrora. Nas décadas de setenta e oitenta, por exemplo, quem militava na música não poderia imaginar que chegaria uma época na qual os espaços seriam exíguos para artistas autorais se apresentarem. 

No entanto, essa época chegou e foi a atuar no Pedra, que eu tive essa experiência angustiante, mais acentuada. O Carvalhanas estava muito animado a conduzir o nosso material para diversas casas noturnas da cidade, mas se tratou na prática de uma luta insana para convencer os seus mandatários de que valeria a pena abrir as suas portas para uma banda autoral e não ligada à cena "indie", predominante nesse circuito.

Essa tarefa não foi nada fácil, pois em sua maioria, tais casas só investiam em artistas a habitarem o mundo viciado das bandas cover, e as poucas que se dignavam a abrirem as suas portas para bandas autorais, estavam fechadas no nicho do "Indie Rock", pelo qual o Pedra sempre foi um verdadeiro alienígena. 

Dessa forma, claro que vibramos com a oportunidade para tocarmos no "Mr. Blues", ainda que não fosse uma casa das mais adequadas para uma banda com o nosso tipo de trabalho e pior ainda, a viver os seus dias sob decadência, muito diferente dos seus melhores momentos, mediante outra direção e nome, quando se chamara: "Blue Note", e fora um dos maiores pontos de Blues & Jazz da cidade de São Paulo.

O Pedra em dois momentos com fotos posadas: No camarim do Avenida Bar de São Paulo e na sede da emissora Brasil 2000 FM. Clicks: Grace Lagôa

Arregimentamos um bom contingente para a casa, mesmo por que, a banda vinha de uma sequência com poucos shows naquele ano de 2007 e o nosso público sentira a nossa falta, sem dúvida e dessa forma, tendia a responder positivamente quando surgia uma rara oportunidade. 

É bem verdade que havíamos tocado nesse mesmo mês de agosto de 2007, a contrariar em parte o meu discurso, mas cabe lembrar que tal show fora marcado quase repentinamente e não houve a possibilidade de uma divulgação adequada, portanto, tratamos essa apresentação do "Mr. Blue", com um maior carinho. 

O Marco Carvalhanas se mostrou muito empolgado, pois como eu já salientei, fora o seu primeiro show marcado para nós, fruto de seus esforços e apesar de não ser um grande show glamoroso em uma casa com maior renome, a sua euforia por estar a começar bem a sua caminhada conosco, nos animara, por conseguinte. 

O som da casa não esteve em condições maravilhosas, mas se se apresentava digno. A estrutura já houvera sido melhor em seus áureos tempos, mas naquele momento se revelar apenas razoável, para que eu seja bastante ameno em minha avaliação.

Eu (Luiz Domingues), Renato Carneiro e Xando Zupo nas dependências do Overdrive Estúdio, por ocasião da gravação do CD Pedra I em 2005. Click: Grace Lagôa 

Nesse dia, o Renato Carneiro nos deu uma boa ajuda, ao operar o pequeno PA da casa. Com ele por perto, ficávamos muito mais seguros a respeito da qualidade sonora para o público que ouvir-nos-ia. 

Tocamos um repertório mesclado, a conter canções do primeiro disco e quase todas as canções do então em fase de gravação, novo álbum, Pedra II. Foi um show longo, mas o Pedra aproveitava para tocar sem parcimônia, justamente por possuir dificuldades para agendar shows em uma continuidade com a qual gostaríamos de possuir. 

Na minha lembrança, foi um show muito bom, com a resposta positiva da plateia e exibir uma sonoridade sob timbres muito fidedignos aos que apresentávamos na gravação de nossos discos.

Eu (Luiz Domingues) em destaque, com Ivan Scartezini, atrás, na bateria e sob penumbra. Pedra no Avenida bar de São Paulo em agosto de 2007. Click: Grace Lagôa

Um certo músico, que fora famoso nos anos setenta e oitenta e que estava presente nessa casa de shows nessa noite em que tocamos, me abordou para reclamar que o som do meu baixo o incomodara, principalmente quando usei o Rickenbacker e que normalmente contém uma maior agressividade. 

Achei descabida a sua colocação, não por que eu não aceitasse uma crítica, fator que absorvo sem problemas, mas pelo fato de eu ter o comportamento pessoal sempre regular no tocante da observação do volume baixo praticado no palco e pelo contrário, em todas as bandas pelas quais eu atuei, seja em ensaio ou ao vivo, constantemente fui (sou) solicitado a aumentar o volume de meu amplificador, por parte de meus companheiros, pois sempre estava/estou abaixo dos demais. 

É o meu comportamento padrão, público e notório. A reforçar essa tese, digo que naquele dia em específico, eu segui a risca o volume de palco que o Renato Carneiro sugeriu para eu usar, na relação de mais pura confiança no meu técnico e por levar em conta que o meu amplificador não estava microfonado, tampouco ligado em linha, via Direct Box. Portanto, eu jamais desobedeceria a opinião do Renato, que equalizou o som de palco da banda, baseado no fato de que apenas as vozes e algumas partes da bateria estavam mixadas no pequeno PA da casa. 

Em suma, a observação do meu interlocutor, fora mais uma intervenção inoportuna, a querer mostrar soberba e ele era famoso no meio por gostar de abordar colegas de profissão com esse tipo de observação supostamente técnica, mas com outra intenção, nada nobre, eu diria. 

Uma ocorrência alheia à nossa vontade aconteceu na recepção da casa, mas que nos causou um certo constrangimento. Uma moça que se dizia produtora musical, estava a nos abordar pela rede social Orkut (quando essa rede esteve na crista da onda e se revelava como a maneira onde as pessoas mais se comunicavam entre si) e disse estar interessada em apoiar a banda, em todos os sentidos. 

Nós a colocamos em contato com o Carvalhanas, já com este a assumir o comando de nossos negócios e ela se mostrou disposta a fazer um intercâmbio com contatos e assim contribuir para abrir frentes de trabalho novas para o Pedra.

Eu (Luiz Domingues) e Xando Zupo, no camarim do Avenida Bar de São Paulo em agosto de 2007. Click: Grace Lagôa  

Até aí, foi salutar e claro que aceitamos esse reforço gerencial. E para sacramentar essa união, ela combinou de aparecer no show do "Mr. Blues". O seu nome foi colocado em uma lista de convidados, naturalmente. 

Só que na hora do show, ela chegou completamente embriagada na casa e transtornada, provocou um escândalo por conta de querer furar a fila de entrada, como se não bastasse ter o seu acesso gratuito, garantido, mas por se considerar, "Vip" e assim se achar no direito de possuir um tratamento diferenciado. 

O escândalo que ela gerou foi ouvido até dentro da casa e aos berros, a referida garota foi expulsa sumariamente do estabelecimento pelos seguranças a mando do gerente. 

Bem, passou um bom tempo até que ela nos abordasse novamente pelas redes sociais, inclusive sem tocar no assunto desse ocorrido e diferentemente do que esperávamos, para falar sobre outras oportunidades que queria arrolar para nós. Mas de fato, nunca aconteceu nada da parte dessa suposta colaboração, portanto: vida que seguiu para nós!

E logo tivemos uma outra ocorrência semelhante. Foi o caso de uma outra moça que também nos abordou ao oferecer ajuda nesses mesmos moldes. Mas esta foi um pouco além, pois conseguira uma licitação da Secretaria de Cultura do Município de São Paulo, e assim, ela nos ofereceu um show a ser realizado em um Parque Público da zona Leste de São Paulo. 

Fechamos o acordo, todavia, uma semana antes, os nossos amigos do Golpe de Estado haviam cancelado um show nos mesmos termos, pois o equipamento disponibilizado por essa moça, fora um ridículo sistema de PA, suficiente apenas para alimentar um som Hi-Fi, a fim de sonorizar uma festinha infantil em salão de condomínio. 

Portanto, cancelamos a nossa apresentação, para evitarmos assim o constrangimento que o Golpe de Estado teve no mesmo suposto projeto que tal aspirante a produtora musical, organizara de uma forma bizarra.

De volta a falar sobre o "Mister Blues", o show foi muito bom, com setenta pessoas na plateia e creia, foi um contingente que a casa não via em suas dependências, há anos, mediante aquele processo decadente pelo qual se encontrava naquela atualidade. E ocorreu na noite de 31 de agosto de 2007.

Na primeira foto, Daniel "Kid", Xando Zupo e eu (Luiz Domingues), nos bastidores do nosso show na Feira da Vila Pompeia de São Paulo em 2006. Capa e parte do encarte do álbum "Pedra I". Xando Zupo em destaque no Blackmore Rock Bar de 2006. Rodrigo Hid em destaque e eu (Luiz Domingues), no CCSP em fevereiro de 2007. Na última foto, Rodrigo Hid e Xando Zupo em ação no Café Aurora em 2006. Com exceção da capa e encarte, as demais fotos são clicks de Grace Lagôa

Apesar do entusiasmo inicial que envolveu a participação do Marco Carvalhanas, como produtor da banda, os seus esforços não lograram êxito, como todos desejaríamos. Ele fez inúmeros contatos no circuito de casas noturnas de São Paulo, mas não fechou nenhum outro show para a banda e cabe a reflexão. 

De fato, nesse início de segunda metade dos anos 2000, houve uma grande efervescência de casas noturnas na cidade de São Paulo, mas ao contrário do início dos anos noventa, quando ocorrera uma profusão semelhante, desta feita as casas estavam dominadas por um nicho específico e quem não fizesse parte dessa cena, não tinha chance alguma de ali se apresentar.

Eu (Luiz Domingues), com Rodrigo Hid ao meu lado. Pedra no Blackmore Rock Bar de São Paulo em junho de 2006. Ckick: Grace Lagôa 

A especificar, as casas estavam fechadas no ideal do "Indie Rock", ou seja, embaladas por tal determinação e por contarem com o apoio de setores estratégicos do jornalismo musical, coadunados com tal predisposição, ficara impossível permitirem brechas para bandas como a nossa, completamente "outsiders" na percepção dessas pessoas. 

Dessa forma, o Carvalhanas, que era (é) um amigo extremamente gentil, mas estava defasado dessa realidade de mercado dos anos 2000, desanimou ante tal adversidade. 

De fato, a sua concepção de produção, fora baseada na sua percepção antiga, dos anos oitenta e noventa, portanto, sob um cenário em que os espaços estavam dominados por uma tribo específica, foi uma novidade para ele, como produtor e assim, despreparado para lidar com tal barreira, ele se sentiu sem estrutura para buscar novas estratégias para uma banda como o Pedra, naquele momento. Paciência e sem tempo para lamentarmos mais uma vez uma frustração com um agente, nós tivemos que prosseguir sem apoio algum.

Ivan Scartezini em destaque, com a minha presença (Luiz Domingues) à frente e postado de costas para ele. Pedra no CCSP em fevereiro de 2007. Click: Grace Lagôa

O que pesou mesmo foi essa inadequação dele para com o panorama do mercado, então bem alterado, que ele não reconhecera mais como o conhecera anteriormente e a nossa condição como "outsider" na música, por não encontrar nada adequado para encaixarmo-nos no mercado e por conta disso, lutarmos com dificuldades para acharmos um lugar ao sol, ao sermos obrigados a nos adaptarmos ao mais próximo possível dessa realidade, mas nem sempre isso significou algo plausível para nós. 

Xando Zupo em destaque. Pedra no CCSP em julho de 2006. Click: Grace Lagôa

Cito o exemplo de que em 2006, por termos feito shows em conjunto com o "Carro Bomba", que nada teve a ver com nossa estética e propósitos, mas apenas por apresentar como similaridade, o fato de sermos amigos pessoais dos membros daquela banda. 

Mesmo com a relação semi desgastada por esse resultado pífio que alcançamos em conjunto, o Carvalhanas ainda estaria conosco no nosso próximo compromisso, em outubro de 2007 e voltaria a nos abordar com uma proposta interessante enfim, no início de 2008, fato que revelarei na sua cronologia adequada.

Um telefonema veio da parte de um produtor do Centro Cultural São Paulo, a nos convidar a ocuparmos uma data naquele espaço, em outubro de 2007 e ao aproveitarmos o ensejo, eis que reativamos a ideia de um show "happening", exatamente como havíamos feito em fevereiro do mesmo ano. 

Animamo-nos, é claro, mas desta vez, além do tempo ser mais escasso para empreendermos uma produção mais caprichada, não planejamos incluir a participação de uma segunda banda. Como o "Parabelum" (que participara na ocasião anterior), não existia mais, resolvemos não convidar ninguém, para nos atermos ao nosso próprio espetáculo apenas, como atração musical e assim ofertarmos um espaço um pouco maior para a trupe de teatro e quiçá para Diogo Oliveira, o grande artista plástico, poder extravasar o seu talento performático, ao vivo.

E assim fomos ao Centro Cultural São Paulo, para mais uma experiência em termos de "happening", compartilhada com artistas de outras áreas culturais. 

Foi o dia 5 de outubro de 2007 e uma lembrança inicial boa que eu tenho deste show, foi o fato de ter ajudado o grande, Diogo Oliveira a instalar algumas peças de tecido que ele desenhara especialmente para esse espetáculo, ao visar nos servir como cenário. 

Tratou-se de uma instalação simples, composta por alguns "panôs", que se vistos separadamente, enquanto peças isoladas, já chamavam a atenção, todavia, o efeito que exerceram em conjunto, quando reunidos, foi extraordinário. 

Fiquei muito entusiasmado por estar a ajudá-lo nesse momento, mas também por conta de tal movimentação me remeter subjetivamente aos valores culturais que me norteiam como artista, desde os primórdios da minha trajetória artística. 

Apesar do Pedra haver trabalhado com sonoridades setentistas em muitos aspectos, essa nunca foi uma banda que se colocou ao lado de tais ideais e pelo contrário, tal espectro causava um desconforto interno, pois abertamente o Xando não compactuava com os valores contraculturais mais incisivamente e o Ivan nem tocava no assunto. Já o Rodrigo, se mostrava favorável, mas nem de longe ele se colocava como um militante do ideal, longe disso. 

No caso do Xando, a sua visão do Rock, e o contexto em que ele se inseria, chegava a ser antagônica à minha determinação e isso sempre gerou um certo mal-estar entre nós, quando situações que propunham a atuação do Pedra sob tais circunstâncias, surgiam. Claro que eu respeitava o posicionamento dele perante tais questões, mas eu discordava de inúmeros aspectos sobre as suas colocações nesse sentido.

Eu, Luiz Domingues em destaque. Pedra no Café Aurora de São Paulo em 2006. Click: Grace Lagôa

Nesses termos, democraticamente, eu respeitava certos posicionamentos tomados para a banda, entretanto, alguns pontos começaram a ficarem incômodos para a minha percepção pessoal. Resiliente por natureza, claro que me pus a relevar muitos aspectos, pois a banda deveria ser maior que tudo naquele instante. 

Contudo, questionamentos sobre o visual (foi questionado até sobre o uso de cabelos longos e figurinos retrô que eu e Rodrigo normalmente usávamos), e outros detalhes que pudessem remeter ao "passado proscrito" da parte dos críticos obcecados pelo assunto, começaram a vir à baila. 

Esse tipo de discussão seria salutar para uma banda que ainda lutava com esperanças para alcançar, talvez não exatamente o patamar mainstream, mas sob um espaço médio da música profissional. Desse ponto eu não discordava e não reclamava obtusamente, mas houveram outras tantas nuances a serem consideradas, antes que se trouxessem à baila questões dessa monta, que me pareceu ter sido inútil, portanto, mesmo ao se considerar qualquer esforço para recorrer ao marketing, para se tentar chegar em um degrau acima. 

Enfim, ninguém é perfeito e nessa altura dos acontecimentos, no meu caso pessoal, a ostentar quarenta e oito anos de idade e digamos, já fora da faixa etária para pleitear um lugar ao sol no mundo mainstream, somado à experiência acumulada em torno de trinta e dois anos de militância na música, eu não achava errado pensar em detalhes assim, desde que fôssemos jovens o suficiente para estarmos abertos a estabelecermos sacrifícios pessoais estéticos e amplos, desde que houvesse a certeza da sua real eficácia absolutamente mais provável. 

Mas não foi o caso, não só pela idade cronológica que eu já tinha naquela época, mas pelo fato de não enxergar tais sacrifícios como garantia de absolutamente nada e com a forte possibilidade de tais esforços não nos conduzirem a lugar algum. Não só foram questionáveis ao extremo tais argumentos, como o mundo da música se encontrava sob uma profunda convulsão, portanto, qualquer medida a ser tomada, haveria de ser temerária, pois ninguém, nem mesmo os maiorais do mainstream, sabiam exatamente o que estava a acontecer e principalmente, aonde terminaria tal terremoto que estava a minar a indústria fonográfica no decorrer da primeira década dos anos dois mil .

De volta ao cenário do show, a despeito de suas lindas evocações psicodélicas e sessentistas, isso não representara exatamente o que foi o Pedra, quase na mesma proporção que o aparato psicodélico que deu suporte ao lançamento do CD "Lift Off", do Pitbulls on Crack, em 1996, teve como evocação visual tal mote, mas na verdade, destoara do espírito artístico real daquele trabalho

Sem outra banda para dividir a noite conosco, o nosso show ocupou mais espaço e a intervenção teatral do grupo, "Comédia de Gaveta" também teve mais tempo para encenar as suas sketchs. 

Contudo, dada a ocasião ter surgido repentinamente, o grupo teatral também esteve desprevenido e desfalcado de vários de seus atores, portanto, as três meninas que atuaram, tiveram que criar sketchs diferentes, com um padrão de produção mais leve. Deu tudo certo ao final, foi uma apresentação bonita das atrizes (Lu Vitalliano, Ana Paula Dias e Lucia Capuchinque). 

Quanto ao Diogo Oliveira, a sua atuação ao vivo a criar pinturas sob puro improviso e criatividade, foram magníficas, mais uma vez. 

A performance arrepiante do artista plástico, Diogo Oliveira, em meio à psicodelia de "Jefferson Messias":
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=ekQjGq2oIB4

Fizemos um bom show, também, ao podermos tocar mais músicas, com o tempo mais avantajado para tal, eu diria e entre elas, várias canções novas, já provenientes do novo álbum, "Pedra II", que estava em pleno processo de produção. Tudo isso ocorreu no dia 5 de outubro de 2007.  

A nossa performance para a canção: "Nossos Dias", nesse show do CCSP, em 5 de outubro de 2007: 
Eis o link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=AW29QaVrei8


Não tivemos tempo hábil para empreender uma melhor divulgação. Apesar de nessa época, o Orkut já estar solidificado como a maior rede social da internet no Brasil, e por ser a maior plataforma para divulgação virtual, mesmo ao usá-la fartamente, nós não conseguimos mobilizar um grande público. Apenas oitenta pessoas passaram pela bilheteria. 


"Rock'n Não", nesse mesmo show do CCSP de outubro de 2007:
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=qLIfQVSfnsc

Foi uma pena, pois o espetáculo que oferecemos foi marcado por apresentar muita qualidade, com três modalidades artísticas a interagirem simultaneamente, em um espírito de "happening", que há muito tempo não existia mais na praça.
Mesmo por que, por se considerar que o ingresso cobrado foi com um valor popular e quase simbólico, aliado ao fato de que o CCSP era (é) super bem localizado na cidade de São Paulo, com uma estação de Metrô acoplada, inclusive, realmente foi um espetáculo que mereceu ter obtido uma audiência maior. 5 de outubro de 2007, Centro Cultural São Paulo, com cerca de oitenta pessoas na plateia.

"Filme de Terror" no CCSP em outubro de 2007: 
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=r7Q9qhWZjAE


E naquela época, na Rede Social Orkut, ainda não estava sedimentada a lamentação típica e irritante que existe hoje em dia (2016), nas diferentes redes sociais modernas, quando observamos uma espécie de triste modismo, ao destacar as pessoas a lastimarem não terem comparecido a um show, mesmo ao haverem afirmado categoricamente que compareceriam, previamente.

"Reflexo Inverso" no CCSP em outubro de 2007.

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=FQeYoztLJjc

"Sou Mais Feliz no CCSP em outubro de 2007.

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=L1Skba6JTHc


Isso é muito irritante para quem está no patamar underground, como nós e se esforça muito para ter enfim uma oportunidade para se apresentar ao vivo, a produzir com dificuldades um show e na contrapartida, a amargar uma baixa frequência de audiência, para no dia seguinte ter que aguentar esse velado deboche da parte de algumas pessoas. Quase desanima... quase, porque éramos (somos) muito teimosos e a tenacidade nos mantém na luta, mas se dependesse desses falsos apoiadores...

Na primeira foto, Rodrigo Hid e Xando Zupo ao vivo no Café Aurora de São Paulo em maio de 2006. Na segunda foto, a nossa banda reunida no QG do Overdrive Studio, mas de saída para o Palácio das Convenções do Anhembi, será que ganharíamos o "Prêmio Dynamite Toddy de Música Independente", na categoria a que fôramos nomeados, por melhor álbum de 2006?  Clicks: Grace Lagôa

Mas em outubro teríamos um lampejo de alegria por dias melhores, pois havíamos sido indicados para um prêmio, ao concorrermos na categoria de melhor disco de 2006, ainda referente ao nosso disco de estreia, naturalmente. 

Tratou-se do "Prêmio Dynamite de Música Independente", ligado a Revista Dynamite, e que por conta de seu patrocinador, no caso, uma famosa fábrica de bebidas achocolatadas, recebeu o nome de: "Premio Toddy". Com uma cerimônia produzida nos moldes das premiações tradicionais, com certo glamour, eu diria, fomos ao Palácio das Convenções do Anhembi, para participarmos do evento.

Já no saguão do Palácio das Convenções do Anhembi: Xando Zupo & Rodrigo Hid. Foto: Grace Lagôa

Ali houve a presença de muitos artistas, representantes de diversos campos da música independente, porém muito mais concentrados no espectro "indie", que já dominava fortemente o nicho underground. 

Houve a ala "metaleira", é bem verdade, mas os estranhos e fracos, "Indies", dominavam tal cena, isso foi perceptível pela frequência ali caracterizada. 

Estiveram programadas alguns shows e tais apresentações seriam diversificadas. A banda satírica, "Massacration", uma galhofa perpetrada por uma trupe de humoristas ligados à MTV, com o objetivo de debochar da cena do Heavy-Metal, fez o show inicial. Mas haveriam apresentações mais sérias em tese, posteriormente, com outros artistas escalados para cumprirem os shows. 

Logo que nos aproximamos do local e estávamos todos presentes no carro do Xando Zupo, com a sua esposa, a fotógrafa, Grace Lagôa, conosco e a fila para adentrar o estacionamento se mostrava gigantesca. 

Nesse instante, o congestionamento se mostrava total e foram centenas de carros, quando uma garota completamente desequilibrada forçou uma manobra perigosa ao extremo com o seu automóvel e se colocou à nossa frente sem nenhuma cerimônia e nenhum cabimento. Ainda bem, o Xando era (é) calmo ao volante e suportou a quase colisão absurda que ela causaria e por conta disso, nos limitamos a comentar entre risadas que ela seria uma "louca varrida", entre outras observações desse mesmo teor. 

Quando conseguimos entrar enfim e nos aproximamos do local, vimos a mocinha tresloucada que quase nos abalroaras, aos prantos, a berrar com um rapaz que deve ter sido o seu ex-namorado, enquanto este simplesmente a ignorava, apesar da crise nervosa da parte dela, que promovia um escândalo ali no local. 

O rapaz em questão era um músico famoso no meio e filho de uma artista muito mais famosa ainda. No entanto, eu paro por aqui, pois não sou editor de Blog de fofocas... entretanto, foi explicado o nervosismo da mocinha transtornada e a se portar como uma "louca varrida", certamente...

Encontramo-nos com Tony Babalu, o guitarrista superb e a simpática, Suzi Medeiros, sua esposa, que acompanhados do não menos superb baterista, Franklin Paolillo e da jornalista, Marina Abramowicz, nos acompanharam para o interior do Palácio, quando nos sentamos todos juntos. Telma Vecchione, irmã dos líderes do Made in Brazil, esteve junto conosco.

A nossa comitiva no Anhembi para assistir a cerimônia do prêmio. Em pé, da esquerda para a direita: Telma Vecchione (irmã de Oswaldo e Celso Vecchione, os Glimmer Twins do Made in Brazil), Franklin Paolillo, Samuel Wagner, Suzi Medeiros, Luiz Domingues, Ivan Scartezini, Tony Babalu, Xando Zupo, Marina Abramowicz e Rodrigo Hid. Agachado: Daniel "Kid"

Tony Babalu fora o produtor fonográfico do nosso disco e se ganhássemos o prêmio, ele subiria ao palco conosco para receber a honraria e muito provavelmente faria um breve discurso de agradecimento, em nome de sua gravadora. Logo que as luzes se apagaram, entrou em cena o "Massacration" e sob uma tentativa de interação com o público, o seu vocalista propôs que todos se levantassem para prestar em voz alta, um "juramento de fidelidade ao Heavy-Metal" e a plateia em massa se ergueu incontinente para participar da pilhéria, menos eu. 

O Heavy-Metal satírico do "Massacration", perpetrado por uma trupe de humoristas que atuavam na MTV

Tenho uma ojeriza natural em relação a esse tipo de expediente perpetrado por qualquer artista que dá voz de comando para fazer o público de tolo. Por isso me recusei a participar, ao permanecer sentado e já profundamente entediado, por conta de um ato desse porte cometido em uma cerimônia de festa/premiação que começara mal para o meu gosto. 

O "show" dos rapazes era uma pilhéria, mas muitos incautos levavam a sério, ao considerar se tratar de uma banda de Heavy-Metal de fato, e eu ali a torcer para acabar logo e por não saber definir o que seria mais entediante: o Heavy-Metal em si, ou a paródia dele?  

Enfim passou e logo se começou a anunciar as categorias e os diversos premiados subiam ao palco para fazerem seus discursos, uns bem piegas, ao estilo do "Oscar", outros a se mostrarem debochados, e até houveram alguns que aproveitarem a ocasião para expressarem alguma opinião política. 

O segundo show seria supostamente de uma banda séria, mas como levar a sério a cena "indie?" Por ética e compaixão, não vou citar o nome da banda, mas digo que foi mais uma banda a se autoproclamar como artífice do "Rock'n' Roll", mas que na verdade, praticava o sofrível Punk-Rock raquítico de sempre e a misturar elementos do folclore pátrio em sua obra. 

Creio que por poucas vezes na vida eu tenha visto uma banda tão ruim em cena e com a ressalva de que atravessei os anos oitenta e noventa, inteiros a observar com perplexidade artistas dessa qualidade sofrível, e o pior, a serem endeusados por determinados setores da crítica, sob uma inversão de valores, insuportável. 

Foi o caso desses garotos, e para piorar, os seus componentes se apresentaram a usarem apenas fraldas geriátricas como figurino e assim, nos proporcionaram tal dissabor como um adendo deprimente. Bem, não resisto... a música que produziam justificou o uso de fraldas pelo teor do material expelido ser da mesma estirpe da sua anti-arte, da qual deviam se orgulhar, mas que na realidade, não deveriam.

Já no meio da apresentação dessa banda e que era muito incensada pela imprensa especializada na época, muita gente se retirou do recinto, mas eu fiquei e aplaudi educadamente a cada final de música, embora não tivesse tal obrigação moral, visto estar desgostoso com a performance horrorosa desses referidos artistas. 

Então, após mais algumas nomeações anunciadas e prêmios outorgados, eis que surge a figura do "Seu Jorge". Não sou nenhum fã de sua obra, mas foi um bálsamo assistir a sua apresentação intimista, só ele e violão a se acompanhar sozinho. 

                 "Seu" Jorge salvou a noite até aquele momento

Após um simulacro de Heavy-Metal e uma banda indie ruim de doer, ouvir alguém com a proposta cartesiana de cantar e tocar dentro dos parâmetros do que nos habituamos a chamar como "música", em tempos de outrora, foi um alívio. 

Nessa altura, dos componentes da comitiva do Pedra, eu fora o único a permanecer sentado no auditório e a aplaudir educadamente os artistas que se apresentavam e as nomeações dos prêmios. Todos alegaram que desejavam "fumar" e simplesmente abandonaram o evento, para não retornarem mais e claro que as rodinhas permeadas pelas conversas e as cervejas consumidas lá de fora, foram mais agradáveis, sem contar o consumo dos famigerados cigarros. 

Veio o Made in Brazil e o seu Rock tradicional foi tocado com o teatro já quase vazio. Foi o melhor show da noite, não tenho dúvida, mas a veterana banda teve o azar de haver tido para si, o auditório bem esvaziado. 

Nós não vencemos em nossa categoria. Foram dez ou doze álbuns a concorrer conosco e ficamos em terceiro ou quarto lugar, não me recordo ao certo, sob um parâmetro ditado por votação da parte de jornalistas especializados.

Duas grandes feras da bateria, no Rock Brasileiro: Ivan Scartezini e Franklin Paolillo. Foto: Grace Lagôa

Ficamos contentes por termos sido nomeados e uma banda como a nossa, fora do mainstream, todavia também fora do mundo "indie", era "outsider dos outsiders", portanto ficamos até surpreendidos com a nomeação. 

Dias depois, ao se comentar sobre essa noite, um membro da nossa banda disse ter ficado chateado comigo. O seu argumento foi que a minha atitude em não me levantar para atender o comando do "vocalista" do "Massacration", para participar da interação cênica por ele proposta, fora uma decisão errada que eu tomara, pois poderia passar a imagem de arrogância de minha parte e por conseguinte, respingar na banda, por eu haver me portado de uma maneira "blasé", naquele instante. 

Ele deu prosseguimento em sua reclamação, ao me dizer que se fosse um prêmio mais requintado como os prêmios Sharp, MTV Awards ou o Multishow e estivéssemos a ser filmados, uma atitude dessas, se flagrada por uma câmera, teria causado uma péssima impressão para a banda e para eu mesmo. 

Eu ponderei sobre o seu ponto de vista e concordei, foi verdade sob esse prisma, contudo, de pronto coloquei também um outro lado da medalha que ele e os demais companheiros não levaram e conta e que foi indiscutível: -"e vocês que saíram para fumar um cigarro antes da metade da cerimônia ser concluída e não voltaram mais, isso também não teria sido um ato de má etiqueta, se fosse dentro do rito de um prêmio mais requintado?" 

Como uma última lembrança dessa noite de outubro de 2007, me recordo que dois atores fantasiados como "vacas", animal símbolo e logotipo do achocolatado, fizeram gracejos o tempo todo no palco e a plateia, mesmo formada por artistas e produtores musicais em maioria absoluta, não perdoou e fez vários coros ofensivos em tom de pilhéria, ao estabelecer menção aos animais em questão, mas com conotação sexual. Não teve jeito, era (é) sempre o povo brasileiro, a se portar em público como se estivesse em um estádio de futebol, com a sua deselegância padrão...

A banda reunida nos bastidores do prêmio "Toddy-Dynamite" e abaixo, Rodrigo Hid em ação no Avenida Bar de São Paulo. Ambas as fotos de 2007. Clicks: Grace Lagôa

O ano de 2007 se findava e foi uma boa hora para estabelecer um balanço. De fato, 2007 foi um ano difícil para o Pedra, pois as oportunidades foram escassas e o que mais temíamos se concretizara, ou seja, o embalo construído no ano de 2006, fora perdido, se diluiu aos poucos e sem nos dar direito para uma reação. 

Os poucos lampejos que tivemos, foram insuficientes para esboçar uma retomada do embalo. Por exemplo, os dois shows multimídia que fizemos no Centro Cultural São Paulo, ao misturarmos música, encenação teatral e artes plásticas. 

As atrizes do grupo teatral "Comédia de Gaveta" a atuarem nos dois shows multimídia em que trabalhamos juntos em 2007. Click: Grace Lagôa  

Isso por si só foi muito positivo, mas se mostrou absolutamente insatisfatório para provocar algum tipo de reação mais contundente para a nossa carreira, como um todo. Ações como essa que descrevi acima, ficaram só na imaginação de quem foi in loco assistir, sem repercutir na mídia, infelizmente.

  Pedra ao vivo no CCSP em outubro de 2007. Click: Grace Lagôa

As poucas vezes em que a mídia falou sobre nós, foram muito positivas, mas a seguir a tendência que eu salientei acima, ou seja, foram ações quase obscuras e que pouco poderiam contribuir para nos alavancar, como desejávamos. 

No entanto, o pior mesmo foi a escassez das oportunidades, no que tangia aos shows. Não foi uma época favorável para qualquer banda autoral, mas para uma banda com as nossas características, que não se encaixava no padrão de uma banda pronta a fazer shows em pequenas casas noturnas, pior ainda.

Xando Zupo em ação no CCSP em outubro de 2007. Click: Grace Lagôa

Pagávamos um preço alto por fazermos um trabalho sob verniz artístico acima da média, mas foi o tal negócio: será que foi por culpa nossa, por conta das nossas escolhas artísticas? É claro que não!

O ambiente estava inóspito e simplesmente uma banda que optava por fazer música dessa qualidade e profundidade, sofria ao se deparar com uma atmosfera cada dia mais hostil para tal determinação artística.

A subcultura e pior ainda, a anticultura, caminhavam de forma inapelável para dominarem todos os segmentos e esse estrangulamento seria apenas o começo do fim da música. Alguns anos depois e as consequências seriam ainda piores para todos.

Pedra ao vivo no CCSP em outubro de 2007. Click: Grace Lagôa

O Pedra, como uma pequena peça frágil em meio ao oceano hostil, sentiria primeiro a vibração ruim que começava a assolar o mundo, mas o pior ainda estaria por vir. Infelizmente...

Promo a contar com a música: "Misturo Tudo e Aplico", feito a utilizar imagens diversas da banda, ao vivo, obtidas desde 2006:  
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=knqWINjjPCA

E assim se encerrou o ano de 2007, um ano difícil para a banda. Tínhamos esperanças em melhoras para 2008, é claro, pois sempre agimos como otimistas a esperar a melhora do panorama.

Envolvidos ainda com a produção do segundo álbum, mas sempre atentos às oportunidades para apresentações, mesmo que a vivermos em um mundo com chances cada vez mais escassas, conforme eu descrevi anteriormente, entramos de peito aberto no ano de 2008, sempre a acreditar que uma luz poderia surgir ao final do túnel. 

E nesses termos, o Rodrigo vinha há um certo tempo a nos alertar para uma possibilidade diferente e que deveríamos abraçar, doravante, mesmo que não fizesse parte do nosso universo artístico, propriamente dito, pois não éramos uma banda no espectro "indie", como 99% dos grupos que habitavam essa seara dos festivais independentes de música, pelo menos nessa época. Todavia, o Rodrigo teve razão em um aspecto: esse mundo dos festivais independentes era estruturado, fomentava uma cena alternativa e chamava a atenção da mídia, de certa forma.

A nossa banda a posar no estúdio Overdrive em 2007. Click: Grace Lagôa

Claro que tais argumentos foram plausíveis, mas houve controvérsia. Primeiro e óbvio ponto, de fato tais artistas desse mundo "indie" chamavam a atenção em uma mídia específica, mas todos, literalmente, compactuavam com uma estética própria, amarrada por uma série de fatores estruturais muito particulares, e uma banda como o Pedra, foi certamente um elemento "outsider" nessa prerrogativa. 

Nesse universo "indie", a estrutura de bastidores se mostrava como uma verdadeira teia de aranha bem amarrada e fechada, portanto, quem dela fazia parte, dificilmente aceitava outsiders e/ou incautos dentro do esquema, como se fosse um clube privê seita ou organização secreta, entenda como quiser. 

Não somente pela questão da estética artística, mas por uma questão de contatos, seria quase impossível entrar como um incauto dentro dessa estrutura, sem estar 100 % absorto, antenado e de acordo com a ética interna que norteava tais manifestações, mas sobretudo, só seria aceito no clube, se os seus membros decanos aprovassem a sua entrada como novo membro da confraria, ainda que toda essa organização agisse de forma velada.

Pedra ao vivo no Avenida Bar de São Paulo em agosto de 2007. Click: Grace Lagôa

Todavia, por outro lado, por viver em um mundo a ostentar portas cada vez mais fechadas, o Pedra se sentia como uma banda estrangulada pela dificuldade de se colocar no mercado e diante de tal impasse, na qual essa situação nos atormentava constantemente, a sugestão do Rodrigo teve a sua validade, embora fosse bastante inóspita para os nossos propósitos e ideais artísticos e logísticos.

Enfim, como diz a letra da canção, "O Dito Popular": "quem não tem cão, caça com gato", ou rato, como é aventado no desenrolar da letra. Dessa maneira, com o Rodrigo a nos alertar para essa incerta possibilidade, eis que nós concordamos que a banda buscasse tal alternativa, na base daquela máxima, a determinar que não custaria nada, tentar.

Rodrigo Hid no camarim do estúdio cinematográfico em que a banda filmou o clip de "O Dito Popular" em 2005. Click: Grace Lagôa

Portanto, o próprio Rodrigo tomou a dianteira e começou a pesquisar na internet, o funcionamento desse mundo dos festivais independentes e iniciou a mandar material da banda para as respectivas produções de tais festivais e que eram muitos, espalhados pelo país inteiro. 

Nesses termos, uma produção de festival que nos respondeu bem rapidamente e de forma solícita, foi o "Grito Rock". Tratava-se de um festival sui generis, pois ao contrário da estrutura tradicional de um festival, com local e palco único, esse tal "Grito Rock" se forjara como uma somatória de pequenas produções espalhadas por várias cidades e cada uma a trabalhar como podia, dentro das suas possibilidades, mas a usarem uma única bandeira, a fim de conceder uma aura de grandiosidade para um festival que na verdade, detinha uma estrutura bem simples. 

Dessa forma, fomos escalados para participarmos do festival, a tocar em um mini centro cultural localizado na cidade de São Caetano do Sul-SP, na região do ABC paulista.

Tal estabelecimento se chamava: "Cidadão do Mundo", a se tratar de um misto de "ong", com "coletivo cultural" e casa noturna. Na prática era um bar com estrutura simples, apto para pequenas apresentações musicais e eventuais outros eventos, tais como: saraus literários, exposições, palestras, workshop etc. 

Enquanto casa de shows, era bem simples, mas reunia condições mínimas, iguais ou até melhores que muitas casas noturnas por onde tocáramos anteriormente. Possuía um palco pequeno, mas que sob criatividade e paciência, seria possível acomodar uma banda como o Pedra, com as suas necessidades logísticas básicas no tocante ao equipamento. Continha equipamento de PA e iluminação bem modestos, mas já havíamos nos apresentado sob situações mais precárias e como dizia a Rita Lee, a ironizar as condições inóspitas com as quais os Rockers tupiniquins atuavam, costumeiramente: "Orra meu"...

Bem, não ganharíamos cachê, mas participar desse primeiro festival poderia abrir algumas portas no futuro, e de fato, ao contrário da maioria das produções dos festivais independentes, em que as pessoas responsáveis costumavam ser extremamente arrogantes e desdenhosas, ao ostentar a soberba como modus operandi, o pessoal dessa unidade do "Grito Rock", no "Cidadão do Mundo", foi muito simpático para conosco e nos deu a esperança de que seria positivo, participarmos.

O Pedra com a sua formação completa reunida nas dependências da emissora Brasil 2000 FM em 2007. Click: Grace Lagôa 

Foi um show típico de "investimento de carreira", no qual o artista é convencido a participar gratuitamente para visar poder pleitear no futuro, o surgimento de melhores oportunidades advindas. 

Eu conhecia essa dinâmica desde que iniciara a minha carreira, praticamente, e salvo alguma honrosa exceção, não tenho conhecimento que tal prática nos meandros do show business, alavanque oportunidades concretas para qualquer artista. 

Para ser realista, comparo esse tipo de abordagem que fazem para artistas sedentos por oportunidades, como certas empresas que só contratam estagiários para trabalharem, sob uma predisposição clara em se iludir o aspirante, mediante projeções em torno de um suposto crescimento na carreira, mas na verdade, a ter como único intuito, lhe pagar um salário irrisório, ou simbólico, em prol de si própria, com as tais oportunidades anunciadas, nunca a chegarem, de fato. 

Eu sempre fui crítico dessa predisposição de certos empresários em convidar artistas a se apresentarem gratuitamente, em troca dessa ilusão fugaz de um suposto "investimento de carreira" e naquele momento, com quarenta e sete para quarenta e oito anos de idade, e trinta e dois de carreira, eu considerava ainda mais ridículo pensar nesses termos.

Rodrigo Hid em ação com o Pedra no Café Aurora de São Paulo em 2006. Click: Grace Lagôa

Todavia, a situação em que se encontrava a banda, não nos ofertava o luxo de recusarmos oportunidades e com tempos difíceis na seara do agendamento de shows, claro que eu não criei empecilhos a tentar demover os meus colegas de sua decisão da nossa banda participar e muito menos ao me recusar a participar. 

Dessa maneira, fomos com essa predisposição, firmes e fortes, com a mesma voluntariedade que teríamos se estivéssemos a irmos tocar em uma grande casa de espetáculos, com infraestrutura adequada para um artista internacional e plateia abarrotada por fãs sedentos pelo nosso som. 

E assim, fomos participar do festival "Grito Rock", na tarde de um sábado, 9 de fevereiro de 2008, em São Caetano do Sul-SP.

Chegamos ao pequeno espaço Centro Cultural Cidadão do Mundo, com bastante antecedência ao nosso horário estipulado para nos apresentarmos. Verificamos que haveriam diversas bandas, todas, invariavelmente dentro do espectro artístico ligado ao dito, "Indie Rock" e apenas conhecíamos vagamente uma por nome, mas nem imaginávamos como seria o seu som, e que se chamava: "Garotas Suecas". Conhecíamos também o "Kães Vadius", que era uma veterana banda da cena do Punk-Rock e oriunda dali mesmo da região do ABC.

Pedra no "Grito Rock de 2008", a tocar no Centro Cultural Cidadão do Mundo, em São Caetano do Sul-SP. Click, acervo e cortesia de Vivi Alcaide

Muito bem tratados pelos responsáveis pela casa e pelo evento, estes nos conduziram para uma espécie de "lounge" improvisado, que na verdade foi uma laje da edificação. 

As instalações eram bem simples, mas a simpatia da rapaziada foi muito grande e assim, nos sentimos muito bem ambientados, apesar de sermos "estranhos no ninho" em um mundo cultural muito diferente do nosso. 

O entra e sai de bandas no pequeno palco se mostrar intenso e na rua, a prefeitura de São Caetano do Sul estava a colaborar com o evento, pois a interditara e dessa forma, uma pequena multidão a transformou em um "pic-nic" improvisado, se bem que nem todo mundo que estava ali para comer e beber nos carrinhos de hot dog que estavam ali a trabalharem, teve a ver com o Festival, pois até batucadas de samba foram ouvidas, ao transformar a rua, em um ambiente a fomentar um churrasco coletivo e popular. Bem, se não fora exatamente uma ambientação para um show de Rock, estava bem festivo e neste caso eu achei positiva a movimentação popular, com todo mundo ali a parecer se divertir bastante.

Dentro do espaço do festival, ouso dizer que haviam mais músicos e roadies a circular, do que público, propriamente dito. Foi tudo gratuito, portanto deveria ter atraído mais gente. Mas foi o tal negócio: aquele mundo "indie" não era o nosso e ali não sabíamos quais expectativas mantermos sobre a confluência de público, que tipo de divulgação fora executada e não sabíamos nada a respeito das demais bandas que apresentar-se-iam, a não ser o "Kães Vadius" que deveria atrair o seu público adepto do Punk Rock oitentista que praticava normalmente em sua trajetória.

Quando fomos chamados a tocar, foi tumultuado fazer a preparação do set up, como fora previsto pelas dimensões acanhadas do palco e confusão generalizada pelo entra e sai de músicos e roadies.

Eu (Luiz Domingues) em ação. Foto clicada pelo nosso roadie, Samuel Wagner. Pedra no Centro Cultural Cidadão do Mundo, em São Caetano do Sul-SP, no dia 9 de fevereiro de 2008. Click, acervo e cortesia de Samuel Wagner

Tocamos quatro ou cinco músicas apenas, sob um show de choque adequado ao formato de um festival. Lembro-me da nossa execução da canção, "Filme de Terror", na qual inclusive, eu tive um problema de última hora com as tarraxas do meu baixo Rickenbacker e com a música já em execução, tentei corrigir enquanto tocava, mas não consegui a contento e dessa forma, uma filmagem feita por uma pessoa do público e postada no YouTube, imediatamente, nos mostra a executar com esse incômodo gerado por duas cordas do meu baixo, fora da afinação correta e portanto, não vou postá-lo aqui, porque é desagradável, certamente. 

Além do mais, pela ausência de uma iluminação mínima, a filmagem é bem escura e também por isso, não vale a pena vê-la, se me permite essa sugestão, caro leitor. 

Após a devida afinação do instrumento, o restante da apresentação ocorreu bem. Tanto que as pessoas aplaudiram com entusiasmo e isso até nos surpreendeu, pois com um tipo de público não acostumado a sonoridades clássicas, achamos erroneamente que portar-se-iam de forma blasé, mas não foi o que ocorreu. 

Recebemos inclusive o convite para voltarmos a esse Centro Cultural a seguir, desta feita para realizarmos um show solo, fora do contexto do Festival e assim o fizemos de fato, dois meses depois. 

No Blog mantido por esse Centro Cultural, uma resenha foi escrita por um jornalista chamado, Tadeu Alcaide, a falar do festival, especificamente sobre o dia em que nos apresentamos. Leia abaixo o que ele disse, editada a parte que nos cita:

"De tempos em tempos é preciso dar uma sacudida no cenário roqueiro em lugares que sofrem de uma certa carência de espaços para as bandas mostrarem suas caras, divulgarem seus trabalhos e serem inseridas no circuito.  

O Grito do Rock confirmou que se pode fazer muito com pouco, tendo sido realizado em quase 50 cidades, num evento integrado, independente e de proporções internacionais, incluindo as cidades de Buenos Aires, na Argentina e Montevidéu, no Uruguai, tudo isso sem o envolvimento de grandes patrocinadores.  

A edição do Grito no ABC provou que, há sim um espaço para difundir toda essa produção musical, e que existe um público que está cada vez mais disposto a frequentar esses eventos e conhecer novas bandas com um trabalho autoral, quebrando aos poucos aquela cultura instituída na região de apenas haver espaço para bandas “cover”. 

O Cidadão do Mundo deu um passo importantíssimo no sentido de inserir a região do ABC no circuito dos festivais independentes, com uma boa organização, não houve grandes atrasos entre um show e outro, a programação seguiu pontualmente os horários marcados.

Mas o principal atrativo do evento foram as bandas, que fizeram apresentações cheias de energia e carisma, com a participação entusiasmada do público.

O show da banda Pedra foi um dos momentos altos do Festival, apresentando um hard rock setentista, muito bem executado por músicos veteranos da cena roqueira, velhos conhecidos de grupos como Patrulha do Espaço e Ave de Veludo, que impressionaram bastante por sua competência no palco".

Tadeu Alcaide


Com exceção da citação de que algum de nós havia tocado no grupo: "Ave de Veludo", e não sei de onde o rapaz tirou tal ideia equivocada, se trata de uma resenha bem escrita, em minha avaliação.

Eis o Link do Blog do Centro Cultural Cidadão do Mundo, para ler na íntegra a resenha de Tadeu Alcaide:

http://mundodocidadao.zip.net/arch2008-02-01_2008-02-29.html


Alguns dias depois, recebemos o telefonema do produtor, Marco Carvalhanas, ao nos dar ciência de uma outra oportunidade de show e que poderia ser muito interessante.

Eu (Luiz Domingues) no camarim do Avenida Bar em 2007. Click: Grace Lagôa

A gravarmos ainda o novo álbum, mas muito atentos às escassas oportunidades que a cena de início de 2008, nos oferecia, achamos ingenuamente que por termos tocado em um festival que mantinha relação com outros tantos festivais de música independente, isso seria capaz de nos abrir outras portas desse mesmo circuito, de uma forma automática. 

Ledo engano de nossa parte, naturalmente, mas naquele preciso instante, ainda não tínhamos a visão correta do que representava exatamente tal mundo e seus meandros e isso só perceberíamos um pouco mais tarde e a sentir na pele o que representava ser incauto nessa engrenagem, nada recomendável para artistas não coadunados com tais propósitos.

A nossa banda nas dependências da sede da emissora Brasil 2000 FM em 2007. Click: Grace Lagôa

Enfim, fora dessa expectativa por oportunidades no mundo dos festivais com artistas independentes, recebemos o telefonema do produtor, Marco Carvalhanas, em meados de fevereiro de 2008 e ele nos ventilou uma novidade. 

Tratou-se de um teatro localizado no bairro do Bexiga (na Rua Rui Barbosa, perto do extinto e histórico, Teatro Aquarius e este, que naquela época ainda funcionava como Teatro Záccaro), na zona centro-sul de São Paulo, bairro esse com larga tradição em abrigar teatros, e muitos dos quais com seus respectivos espaços também generosamente abertos para artistas da música e não só para peças teatrais.

Nesse caso, seria um teatro novo, ainda não estruturado para concorrer com os teatros super tradicionais do bairro e a desejar ganhar notoriedade, ao abrir as suas portas para começar a formar o seu público cativo e entrar na luta pela concorrência com os seus vizinhos. 

Com o exótico nome de: "Teatro X" ("Xis", a letra do alfabeto, e não o número dez, algarismo romano), este espaço oferecia as suas dependências sem cobrar aluguel, mas apenas a propor uma porcentagem da bilheteria que conseguíssemos angariar na noite em que tocássemos.

Nestes termos mais favoráveis, não custou dar um crédito e a ideia para arriscar não fora de toda má, se não tivéssemos grandes gastos no nosso operacional, a não ser bancar o cachê de nossos funcionários básicos, dois roadies e quiçá contar com a boa vontade do Renato Carneiro para operar o som, caso fosse possível, ao se considerar que a sua agenda era uma loucura, por ele ser técnico de PA de duplas sertanejas com alcance de sucesso mainstream.
No camarim do Teatro X em março de 2008. Ivan Scartezini & Luiz Domingues. Foto: Grace Lagôa 

Fomos ver o local e ele era bem rústico, mas bastante interessante, com um certo aspecto estilístico a nos fazer lembrarmos do saudoso, Teatro Lira Paulistana, mas este, com dimensões físicas maiores para o palco. Reforçara-se essa impressão pelo fato do público ficar acomodado sob uma estrutura de arquibancada, com capacidade para cento e vinte pessoas, segundo nos contaram, mas pelas laterais e na frente do palco se fosse o caso, seria possível abrigar mais pessoas sentadas no chão, caso o contingente fosse maior. Nesses termos, creio que daria para acomodar cerca de duzentas pessoas em caso de superlotação, mas sem ficar insuportável ou perigoso em caso de saída de emergência.
Outra foto do camarim, com Xando Zupo e eu (Luiz Domingues) a recebermos a visita do amigo, Nelson Brito. Click: Grace Lagôa

Entretanto, não gostamos de verificar que o PA e a iluminação existentes no local eram bem fracos. E a infraestrutura técnica, também deixava a desejar, com poucos pontos de "ac/dc" (eletricidade), a denotar não estar preparado para se promover shows de música em tal espaço, ainda mais uma banda de Rock e ante as suas necessidades com múltiplos pontos de energia a alimentar diversos amplificadores, um PA e pedaleiras para guitarristas e tecladistas. Sendo assim, quase desistimos ao verificarmos a dificuldade inerente e de fato, alugar um PA e se preocupar em prover pontos de eletricidade-gerador, esteve fora de cogitação.

Eu (Luiz Domingues) no camarim do Teatro X em março de 2008. Click: Grace Lagôa

Contudo, o Xando teve um gesto de extrema boa vontade, ao nos e dizer que se aceitássemos ajudá-lo em ritmo de mutirão, ele se colocara disposto a empreender um sacrifício, ao desmontar todo o PA de seu estúdio, o que certamente daria um trabalho insano entre desmontar, transportar e remontar para ele poder tê-lo em ordem para atender os seus clientes no cotidiano, quando o usaria a alimentar o som da sua sala de ensaio, posteriormente. 

Bem, todos aceitamos auxiliar, e além dos roadies, nenhum de nós deixaria de ajudar nessa tarefa braçal e pesada. Mesmo assim, houveram mais dois problemas para resolvermos: a questão da falta de estrutura básica da energia e a iluminação, muito fraca, ali disponível.

Sobre a energia, o Xando fez uma inspeção mais minuciosa e descobriu outros pontos disponíveis, ainda que mais distantes do palco, portanto, mediante várias extensões longas, foi possível improvisar uma estrutura que nos provesse e sobretudo não sobrecarregasse o parco sistema do teatro, que logicamente não estava preparado, nem pela ligação externa ao poste de rua, com um tipo de voltagem adequada para suportar uma carga violenta de consumo, que um show de Rock demandaria.

O grande "Wagner Molina, o "mago da Luz" . Foto: Internet

Sobre a iluminação, o Xando acionou o Wagner Molina, que de pronto se prontificou a comandar a operação da iluminação, e também foi lá no teatro verificar o que havia disponível e como um iluminador de alto nível que era (é), não gostou nada da simplicidade inadequada, ali presente para se poder trabalhar. 

Mesmo assim, ele se prontificou a trabalhar e dar o seu melhor, mesmo com parcos recursos e para nós seria um conforto saber que teríamos a sua presença, a amenizar a precariedade do equipamento, muito precário. 

Fizemos então a divulgação possível e nesses tempos, 2008, já baseado em 80% de esforço em torno das redes sociais da Internet e a dispensar os meios tradicionais de outrora, que já demonstravam não surtir o mesmo efeito. 

No dia do show, o trabalho foi cansativo, mas com todos imbuídos da máxima boa vontade, a ajudarmos o Xando a transportar o seu equipamento de PA, além de todo o nosso backline.

Flagrantes do show do Pedra realizado no Teatro X de São Paulo em março de 2008. Clicks: Grace Lagôa

Conseguimos montar e fazer tudo funcionar a contento, sem sobrecarregar os poucos pontos de energia ali presentes. Por incrível que pareça, mesmo sem um técnico a nos auxiliar, fizemos um "auto-soundcheck" super convincente ao ponto de conseguirmos um padrão de som muito confortável no palco e mediante uma potência sonora surpreendente, até.

Mais flagrantes do show do Pedra realizado no Teatro X de São Paulo em março de 2008. Clicks: Grace Lagôa

Sobre a iluminação, quando vimos o Wagner Molina a estacionar o seu carro, nos surpreendemos, pois, o veículo estava abarrotado por equipamentos de luz que ele trouxera por sua conta, para somar ao parco equipamento do teatro.

 

Outros flagrantes do show do Pedra realizado no Teatro X de São Paulo em março de 2008. Clicks: Grace Lagôa

Chegamos a ficar preocupados, no entanto, pois ele ainda convalescia de uma grave enfermidade cardíaca e com o carro cheio daquele jeito, denotara que havia feito um esforço desmedido para a sua então condição sob resguardo cirúrgico. De fato, ele chegou ao teatro a suar muito e mesmo com a nossa ajuda, ali na hora, deve ter se esforçado muito, sozinho em sua residência.

Outros flagrantes do show do Pedra realizado no Teatro X de São Paulo em março de 2008. Clicks: Grace Lagôa

Entretanto, a despeito desse sacrifício pessoal e muito perigoso que fez, eu louvei o seu o esforço, pois ele montou aquele equipamento e nos proporcionou uma luz tão incrível, que ninguém, do público ao dono do teatro, e a incluir a nós mesmos, acreditou. 

Já na passagem de som e com ele a estabelecer os seus testes de luz, funcionários do teatro foram chamar o proprietário e o rapaz ficou estupefato, pois esperava uma apresentação rudimentar, mas do jeito que o palco fora montado, com aquele áudio e iluminação, ele chegou a nos dizer que nunca havia visto uma produção assim no seu teatro e de fato, ficamos contentes pelo resultado, mas sobretudo por percebermos que ali poderia vir a se tornar um ponto para a música autoral, notadamente o Rock, desde que o seu mandatário investisse em equipamento e melhorias técnicas para espaço cênico, principalmente sobre a questão do suprimento de energia, pois outras bandas poderiam não reunir condições para improvisar tal estrutura que nós conseguimos produzir por nossa conta.

 

Mais flagrantes do show do Pedra realizado no Teatro X de São Paulo em março de 2008. Clicks: Grace Lagôa

O ator, Daniel Alvim (que protagonizara a dramaturgia do nosso clip da canção, "Sou Mais Feliz", em 2006), chegou de surpresa ao nosso camarim. Ficamos contentes com a sua vinda inesperada e ele estava bem alegre, digamos assim. 

Bastante expansivo naquela noite, ele quis apresentar o show e apesar de ter protagonizado uma performance histriônica, reconheço que também foi engraçada a sua intervenção e serviu para quebrar qualquer gelo que pudesse existir com o público naquela noite. 

O nosso público foi razoável, com cerca de sessenta pessoas presentes. Mas saiu totalmente feliz pela nossa performance e nesse dia por termos tido esse trabalho gigantesco para providenciar equipamentos de som e iluminação completos, resolvemos fazer uma loucura e assim, tocamos simplesmente todas as músicas do nosso disco de estreia e todas as novas do novo disco, que ainda não havia sido lançado.

Versão de "Longe do Chão" no Teatro X, em março de 2008:

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=gICnARvyw6s


Ficou bem longo o show, certamente, e a conter uma carga com músicas inéditas para muitos ali presentes que foram tocadas, o que não foi (é) nada aconselhável para qualquer artista, mas diante da canseira que foi montar tudo e sobretudo pelo fato do Pedra ter sido uma banda com muitas dificuldades para montar uma agenda constante, não nosm furtamo à essa loucura de nossa parte.

A versão de "Madalena do Rock'n Roll", no Teatro X, em março de 2008:

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=BW0Y7u5U2Us


Apenas uma pessoa que assistiu e pareceu não ter gostado desse expediente, pois assim que me abordou no camarim, falou em tom professoral, que me aconselhava a não fazer mais shows tão longos assim, pois tal expediente tirava o impacto e pelo contrário, cansava o público. Foi um sábio conselho, do qual eu também concordava em tese, mas creio já ter exposto a nossa motivação em específico para esse dia para termos feito justamente o contrário. 

Tal pessoa, na verdade foi um artista que fora mega famoso no cenário do Rock brasileiro setentista, e creio que a sua fama naquela década chegou a extrapolar as fronteiras do Rock, pois ele atingiu o mainstream, fortemente. Gentil e educado ao extremo, ele deu o seu recado com muita boa vontade para nos auxiliar, e do qual reputo ter sido uma opinião sábia, mas eu faço a ressalva de que ele não soube das circunstâncias hercúleas com as quais aquela produção fora forjada, porém... valeu pela dica!

Mesmo muito felizes pela atuação do Wagner Molina, que tornou esse show notável, pelo aparato visual que ninguém ali esperava visualizar, ficamos preocupados com ele, em termos de sua saúde. Ao término do show, ele se mostrara ofegante, a suar em demasia e no seu estado cardíaco tão delicado, todo cuidado seria pouco.

Foto posada a aproveitar o palco montado minutos antes do show se iniciar no Teatro X de São Paulo, em março de 2008. Click: Grace Lagôa

Bem, desmontamos tudo, levamos todo o equipamento para o estúdio do Xando e o esforço todo nos deixou com a sensação boa de que valera a pena, artisticamente a falar, pois no tocante ao lado financeiro, ao descontarmos as despesas operacionais básicas, o saldo foi irrisório. 

Tempos difíceis para uma banda de Rock autoral e outsider ao extremo como foi a nossa, deslocada de todas as turmas & tribos em voga. 

Noite de 1º de março de 2008, no Teatro X ("Xis"), com sessenta pessoas na arquibancada a nos assistir. Daí em diante, prosseguiram os esforços para finalizarmos o segundo álbum e um próximo show, ocorreria apenas em maio.

A banda a posar no palco do Teatro X de São Paulo em março de 2008. Na segunda ilustração, a capoa do álbum Pedra II

O conceito da capa para o segundo disco, foi uma ideia original minha. Eu sempre quis ter uma capa de um trabalho meu, a lidar com uma ilustração ou conjunto de ilustrações, a se fazer menção a cada canção do álbum. 

Não se tratava de uma ideia revolucionária, muitas bandas já haviam usado tal mote ao longo da história do Rock, mas mesmo assim, seria possível se buscar uma identidade própria, a depender dos temas abordados, porém, principalmente por confiarmos na criatividade do ilustrador, desenhista ou fotógrafo que fosse assinar esse lay-out final.

Detalhes do encarte do álbum Pedra II sob a criação do grande, Diogo Oliveira

Já na época do primeiro disco, eu havia sugerido isso à banda, mas na ocasião, pela pressa que tivemos e os problemas que enfrentamos ao perdermos o nosso baterista em cima da hora (ao nos obrigar a mudarmos inclusive as fotos dos componentes da banda, a culminar em nossa apresentação, como trio, na contracapa do disco), fez com que a ideia fosse descartada. 

Naquele instante, a ideia fora posarmos em situações que aludissem à cada canção, mas com fotos simples, com os próprios componentes da banda a insinuar tais imagens. 

Mais detalhes do encarte do álbum Pedra II sob a criação do grande, Diogo Oliveira

Seria algo do tipo: uma foto do Xando sozinho a carregar uma guitarra na mão ante uma estrada vazia ("Estrada"), o Rodrigo a se olhar no espelho ("Reflexo Inverso"), e eu mesmo (Luiz) a usar um headphone ("Vai Escutando"), por exemplo. 

E aproveitaríamos o fato da Grace Lagôa, esposa do Xando, ser uma excelente fotógrafa, ao nos garantir que seria um ensaio fotográfico sob bom gosto. Foi descartada tal concepção para o primeiro disco, mas a ideia permaneceu na minha imaginação, pois antes mesmo do Pedra existir, eu sempre apreciei o conceito e para ilustrar, eu havia feito um esboço de uma ilustração que poderia ter sido a capa de uma eventual CD do Sidharta, em 1998, caso essa banda seguisse carreira e conseguisse lançar seu álbum debut. 

Outros detalhes do encarte do álbum Pedra II sob a criação do grande, Diogo Oliveira

Essa ideia para o Sidharta, foi uma ilustração inspirada nas pinturas de Hyeronymus Bosch, famoso pintor renascentista, que costumava compor telas enormes, a retratar paisagens urbanas de sua época, com pessoas a interagirem em feiras públicas, festas e até em situações macabras, a evocar o inferno dantesco etc. 

A seguir esse parâmetro, várias pessoas estariam a interagir simultaneamente, cada uma sob uma situação que denotasse o título ou o conteúdo enfocado em cada canção.

Mais detalhes do encarte do álbum Pedra II sob a criação do grande, Diogo Oliveira

Então, quando começou a especulação sobre como seria a capa do nosso segundo disco, eu especulei de novo a ideia no ar, e não acho que foi aceita com grande entusiasmo pelos demais, mas ganhou esse contorno quando o grande artista plástico, Diogo Oliveira se envolveu diretamente no projeto e aí, muito mais empolgados com a sua capacidade criativa que de fato é gigantesca, os meus colegas passaram a considerar a ideia, a cada esboço que ele, Diogo, nos trazia e claro, foi para empolgar mesmo. 

Diogo propôs uma história em quadrinhos, com um roteiro e personagens que contariam a história, baseado nas letras das músicas.

Mais detalhes do encarte do álbum Pedra II sob a criação do grande, Diogo Oliveira

Sendo assim, há o personagem do garoto "cabeludinho" e com um certo quê de hippie sessentista-setentista, que passa pelas situações propostas pelas músicas e um personagem enigmático, certamente na figura de um homem sábio, mas com um certo maquiavelismo sinistro, quase a se caracterizar como um vilão e que seria o "Jefferson Messias", que interage com o garoto. 

A história se alinhavou de uma forma bastante harmônica, a evocar momentos de tensão e desespero, com descobertas quase transcendentais, a lembrar de certa forma a saga do personagem, "Tommy", da Ópera Rock do The Who.

Outros detalhes do encarte do álbum Pedra II sob a criação do grande, Diogo Oliveira, Vê-se a figura do sinistro Jefferson Messias, neste caso.

Sobre as ilustrações, o Diogo fez um trabalho magnífico. A sua arte era (é) de alto padrão e sua versatilidade como artista plástico, notável. Tanto que a influência que ele tem como artista, é múltipla e vai de Van Gogh a Pollock, a passar por Crumb e os grandes mestres das Histórias em Quadrinhos e tudo regado a Jimi Hendrix, Ravi Shankar e J.J. Cale, entre outros tantos gênios da música que ele venera. 

Portanto, além do talento como ilustrador, Diogo teve a vantagem por ser um genuíno Rocker e por vibrar como nós, ipsis litteris, teve a perspicácia para construir uma obra gráfica extraordinária. É desagradável me expressar nesses termos, eu sei, pois ao leitor mais desavisado, vai parecer que estou a faltar com a modéstia, mas não é o caso, pois a minha intenção é apenas enfatizar que essa embalagem ficou mesmo, sensacional.

Detalhes do encarte do álbum Pedra II sob a criação do grande, Diogo Oliveira

E para dar ênfase, Diogo propôs que o formato fosse nos moldes das revistas de Histórias em Quadrinhos e não um mero encarte padrão de um CD convencional. Sábia decisão, pois a redução prejudicaria a inteligibilidade do produto, e assim, nós valorizamos muito a parte gráfica. 

O lado ruim dessa predisposição foi que para efeito de marketing, o formato causou estranheza aos lojistas tradicionais, que simplesmente não detinham estrutura em suas respectivas gôndolas, para um lançamento fora do padrão das caixinhas de CD, mas convenhamos, 2008 em curso e já naquele momento, a total imprevisibilidade sobre os rumos da indústria fonográfica, fizeram com que as discussões desse teor ficassem cada dia mais fora de propósito... infelizmente, eu diria.

Mais detalhes do encarte do álbum Pedra II sob a criação do grande, Diogo Oliveira

Outra discussão que tivemos foi sobre o título do disco. Como no primeiro álbum, usáramos o recurso do disco não possuir um título oficial, apenas o nome da banda na capa, eu sugeri o título como: "Pedra II", para esse segundo lançamento e esse também fora um sonho antigo de minha parte e acalentado desde a adolescência, ao vislumbrar casos de bandas que utilizaram tal recurso e eu o considerava estiloso. Para exemplificar: "Led Zeppelin II", "Queen II", "Bloodrock 2" etc. 

Os amigos gostaram e assim, nasceu: "Pedra II", um título pomposo, ao estilo da aristocracia patente nas bandas britânicas, clássicas...

Outros detalhes do encarte do álbum Pedra II sob a criação do grande, Diogo Oliveira

Ainda a comentar sobre a capa, toda a concepção do formato e trâmite com a gráfica ficou a cargo do Diogo, que por ser um publicitário experiente, conhecia bem tais meandros técnicos e assim, ele tomou a dianteira nessa produção.

Detalhes do encarte do álbum Pedra II, no tocante ao suporte para embalar o disco em si, sob a criação do grande, Diogo Oliveira

Tivemos um problema a ser resolvido com o invólucro do CD, em si. Pensamos em um envelope em anexo ao gibi, mas diante do encarecimento desse recurso na gráfica, optamos por um pino de velcro que abriga o disco físico, logo na segunda página. Não era (é) 100% confiável, pois alguns vieram com defeito de fábrica e não seguravam o disco de forma alguma, mas em sua maioria deu certo e não recebemos queixas de seus consumidores a posteriori.

Detalhes do encarte do álbum Pedra II, desta feita a ilustrar a própria banda no gibi, sob a criação do grande, Diogo Oliveira

O "Gibi do Pedra" como ficou conhecido, recebeu muitos elogios da parte de críticos e público em geral, e creio que mediante absoluto merecimento e sem dúvida alguma, o grande, Diogo Oliveira tem um mérito imenso nesse processo pela sua arte espetacular, que só engrandeceu o conteúdo musical da obra.

Eis acima o álbum na íntegra, para se escutar.

Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=cAhUKnto7bc 

Com um disco quase a sair do forno, entre maio e julho de 2008, tivemos um momento ótimo com sequência de shows, que praticamente nos fez acreditar que estávamos a reviver, enfim, o ótimo momento que tivéramos em 2006. 

E logo, um fator inesperado fazer-nos-ia acreditar fortemente nessa perspectiva! Eu narrarei esse fato novo que surgiu inesperadamente, no próximo capítulo.

Continua...

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