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sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Pedra - Capítulo 4 - Reformulação com Bolacha no Forno - Por Luiz Domingues

Estávamos a ponderar sobre as diferenças do pensamento do Alex, em relação à linha de atuação da nossa banda em seu planejamento primordial em contraste ao aos demais, desde o início das atividades da banda, por considerarmos uma série de fatores: 

1) A falta de sintonia conosco, artisticamente.

2) A diferença na coadunação em termos de objetivo a ser alcançado, mediante a sua linha de visão a se mostrar divergente em relação ao nosso direcionamento. 

3) A economia que ele estabeleceu em sua performance pessoal, ao gravar com bastante parcimônia técnica a sua bateria, e assim a ficar bem mais simples do que desejávamos, pois em sua concepção pessoal, esse fora um meio mais seguro para se atingir o Pop mainstream, ou seja, pelo viés do mundo popularesco, predominantemente. 

4) A destoante composição de sua autoria, cujo resultado prático em nossa concepção, projetamos que possivelmente suscitaria estranheza, quiçá críticas, quando o disco fosse lançado. 

5) A sua recusa de querer tocar ao vivo e se arriscar financeiramente, portanto, a privilegiar a agenda pessoal com os seus trabalhos efetuados com bandas cover. 

Renato Carneiro a operar o pequeno PA que alimentou o nosso playback para a filmagem do vídeoclip da música: "O Dito Popular". Click: Grace Lagôa

O Renato Carneiro, enquanto produtor do disco, também nos chamou para uma conversa e questionou a inclusão da música: "Pra Você", no CD. Enfim, foram muitos elementos a apontar para uma ruptura, inevitável. 

Alex Soares a gravar o primeiro álbum do Pedra. Click: Grace Lagôa

Sendo assim, reunidos os demais três componentes e com o apoio do Renato Carneiro, resolvemos conversar com o Alex, sobre a sua situação conflitante dentro da banda. 

O primeiro ponto que abordaríamos seria sobre a música de sua autoria e mesmo que remotamente, ainda haveria a possibilidade dele permanecer, embora achássemos por antemão, que ele não entenderia a nossa posição, e obviamente levaria isso para o lado pessoal. 

Mesmo dentro da sua coerência, ele haveria de interpretar essa decisão como um direcionamento contrário à sua meta artística, muito por que talvez nutrisse esperanças concretas em relação à essa canção de sua autoria, em detrimento das demais, todas anticomerciais na sua concepção. 

Eu (Luiz Domingues), no camarim do estúdio cinematográfico aonde filmamos o clip da música: "O Dito Popular". Click: Grace Lagôa

O primeiro contato nesse sentido foi telefônico e eu fui o eleito para ser o porta-voz da banda nessa decisão, por ser o mais "calmo" dos três, em uma decisão aceita por aclamação. Claro que um assunto delicado dessa monta e mesmo que eu fosse tradicionalmente equilibrado em minha postura pessoal, seria algo bastante espinhoso para se desenvolver. 

E de fato, foi muito desagradável a abordagem, pois o Alex ficou muito irritado (com razão, diga-se de passagem), pela indelicadeza de se abordar tal tema pela via telefônica, faço a minha mea culpa. Claro que foi uma reação esperada e legítima da parte dele. Quem gosta de ser contrariado e receber uma notícia dessas, de uma forma arbitrária e à revelia?

O nosso propósito nos pareceu nobre, ao pensarmos na preservação do trabalho, mas é claro que ele não aceitou a nossa argumentação com facilidade e o conflitou se instaurou. Então, ainda em fevereiro de 2006, foi marcada uma reunião para tirarmos tudo isso a limpo e uma decisão definitiva ser tomada. Já ficara implícito que ele deixaria a banda, pois o clima criado pelo telefone, fora emblemático o suficiente, a culminar em ruptura inevitável. Portanto, acho que erramos em antecipar o assunto por telefone, pois o correto teria sido convocar a reunião presencial para colocarmos, somente assim, tais pendências de uma forma melhor.

Na primeira foto, Alex Soares a ensaiar com o Pedra e na segunda, a banda a posar no camarim do estúdio cinematográfico em que filmou o clip da música: "O Dito Popular". Clicks: Grace Lagôa

Então o dia chegou e foi naturalmente uma reunião tensa. Os nossos argumentos foram difíceis para serem absorvidos na concepção dele, eu admito. Mas por mais incrível que pareça, foram sinceros de nossa parte, e nada houve de pessoal na nossa decisão de se questionar a inclusão da canção dele, do disco. 

Não se tratava de uma música ruim, de forma alguma, mas tal obra destoava completamente do bojo do nosso trabalho, ao analisar friamente e como estávamos a investir muito seriamente nesse projeto, não poderíamos tocar a vida adiante a relevar um problema desse porte, simplesmente ao fingirmos que ele não existisse. 

Alex Soares a atuar na filmagem do clip da música: "O Dito Popular. Click: Grace Lagôa

Sem saída, ao perceber que estávamos irredutíveis sobre tal decisão, o Alex comunicou a sua decisão de sair da banda, evidentemente ao se sentir tolhido pelos demais. Naturalmente, apesar de o consideramos uma pessoa de bem e um excelente baterista, nós tivemos em nosso íntimo, a certeza também que a nossa incompatibilidade artística se provara, enorme. 

Os membros da banda a atuar coletivamente na filmagem do clip da música: "O Dito Popular. Click: Grace Lagôa

Esperar uma mudança interna da parte dele, seria utópico. E por outro lado, seria um fardo administrar a banda dali em diante, com um membro desmotivado, sem convicção com o trabalho. Esse foi um outro ponto que nos incomodou a reboque, pois o Alex se sentia desconfortável, toda vez que tocávamos no assunto sobre tocar ao vivo, e assim, a se colocar a ideia de que todos teriam que absorver sacrifícios pessoais inevitáveis etc. 

Isso certamente fora mais um sinal da falta de esperança no projeto, pois ele lamentava perder uma data, ao deixar a sua banda cover sem tocar, ou no mínimo e pior ainda, a dar chance para o grupo viesse a se apresentar com um baterista substituto que poderia ser um concorrente em potencial a lhe ameaçar o emprego. Não acho nada disso descabido, sob o ponto de vista pessoal dele, devo reiterar. 

O Pedra no camarim do estúdio cinematográfico em que filmou o clip da música: "O Dito Popular". Click: Grace Lagôa

Contudo, para o trabalho que estávamos a construir ali, seria necessária uma cota mínima do sacrifício pessoal naquele instante inicial, e sobretudo, que cada membro se mostrasse disposto a manter uma conduta mental focada no mesmo objetivo. 

E no caso do Alex, ficou claro que não houvera a mesma determinação de sua parte, por conta das suas atitudes desconectadas com os princípios do trabalho que construíamos. Ele ficou chateado, com toda a razão, mas nós também, evidentemente. 

O ideal seria ter formado uma banda com membros sob a proporção em 100% coadunados pelo mesmo ideal, mas o Xando, que foi o catalisador inicial do projeto, portanto o mentor do movimento inicial recrutador, fez o melhor que pôde, e nesse caso, não há como se controlar todos os aspectos que norteiam a escolha de possíveis candidatos para se montar uma banda.

Alex Soares e Xando Zupo, no camarim do estúdio cinematográfico em que a banda filmou o clip da música: "O Dito Popular". Click: Grace Lagôa

Ao escolher o Alex, o Xando teve como parâmetro a lembrança do ótimo baterista que tocara com ele no "Big Balls", durante os anos 1990, é claro, mas não ponderou sobre outros aspectos, pois talvez este não fosse o nome ideal para uma banda a ser montada sob uma proposta tão diferente, em relação à banda que eles tiveram nos anos noventa. 

O mesmo raciocínio se dera em relação ao Tadeu Dias, Marcelo "Mancha" e um primeiro baixista que ele escolhera, Fábio Mulan, que ficou pouquíssimos ensaios no projeto e debandou. Eu mesmo fui então a segunda opção para o baixo e tanto Marcelo Mancha quanto o Tadeu Dias, também saíram relativamente cedo da nossa banda. Conclusão: não foi e na verdade, nunca foi fácil formar uma banda, sob qualquer circunstância!

Rodrigo Hid e Alex Soares nos bastidores do estúdio cinematográfico em que a banda filmou o clip da música: "O Dito Popular". Click: Grace Lagôa

Ao pensar genericamente, se o recrutador apenas pensar na condição técnica de um músico, poderá se surpreender negativamente por outros aspectos. O caráter da pessoa pesa muito e os seus objetivos pessoais, também. Neste caso, sobre a parte técnica e o caráter do Alex, não houve dúvidas, mas quanto aos ideais, existiu um conflito. 

O correto seria que todos mantivessem uma mentalidade artística 100% afinada com o objetivo do trabalho. Portanto, foram muitas as variantes e inevitavelmente deixamos a desejar em um ou outro aspecto, por que os seres humanos são complexos e não robots com "configurações" prontas da fábrica.

A banda a posar para fotos promocionais no set de filmagem do cinematográfico em que a banda filmou o clip da música: "O Dito Popular". Clicks: Grace Lagôa

O Alex, naturalmente ficou chateado e no calor das argumentações chegou a dizer que nós estaríamos a concretizar tal ruptura por que já estávamos acertados com um outro baterista. Claro, lhe demos o desconto pelo nervosismo e no momento da raiva a explodir, as palavras saem sem pensar, normalmente. 

O fato é que não havíamos conversado com ninguém, previamente. O que falávamos entre nós três discordantes, abrangeu os sinais de descontentamento com as atitudes e a incompatibilidade artística dele para com o Pedra. Sendo assim, ante o fato consumado de sua saída, tivemos duas resoluções básicas para adotarmos, em caráter imediato: 

1) Providenciar um novo baterista. 

2) Solucionar a questão gráfica do CD, em relação à presença do Alex nas fotos e na ficha técnica, visto que tudo estava encaminhado no sentido dele estar normalmente citado e retratado na capa, como membro oficial até aquele momento em que finalizáramos o lay-out desse material do álbum.

Foto promocional do Pedra na entrada do estúdio Overdrive em São Paulo. Click: Grace Lagôa

E mesmo que arrumássemos um novo baterista rapidamente, não teria cabimento inseri-lo no encarte, visto que o possível novo componente gravou o álbum.

Então, a solução encontrada pelo Rodrigo foi bastante criativa e simples. Ao misturar as imagens através de um programa de formatação gráfica, ele distorceu as imagens do Alex, para transformá-las em fractais multicoloridos e com ares psicodélicos. 

E na ficha técnica, o incluímos como músico convidado, ao lado de Robson Pinheiro e Caio Ignácio, com uma menção honrosa por ele ter tocado em todas as faixas, em comparação aos demais, que fizeram pequenas participações.

Ainda a falar sobre a ficha técnica, o Xando acrescentou um poema composto pela sua mãe, que infelizmente já não vivia mais entre nós, e certamente fora a torcedora n° 1 do sucesso musical dele. Achei muito bonito e justa tal inclusão, mesmo por que eu a conheci em vida, e sei que ela fora mesmo uma grande incentivadora da carreira dele.

Foto promocional do Pedra na entrada do estúdio Overdrive em São Paulo. Click: Grace Lagôa

De minha parte, achei desagradável começar um trabalho dessa forma, com uma perda em cima da hora, no momento de um lançamento de disco, ainda por cima, ao se tratar do primeiro documento fonográfico da banda. 

Não foi certamente a maneira que eu consideraria a ideal e contrariou a calma que tivéramos ao lapidar o trabalho por quase um ano e meio, sem fazermos shows, sem alardearmos nada, incisivamente. 

Portanto, foi uma lástima que um trabalho feito com essa calma e carinho, tivesse um revés assim com o seu produto inicial ainda a borbulhar na fornalha. 

Claro que o Xando e o Rodrigo pensavam o mesmo e incluo o nosso quinto (ou melhor, quarto, naquela circunstância), membro honorário, Renato Carneiro, nesse rol, igualmente. Mas o destino nos reservou tal impasse, e neste caso só nos restou tomarmos uma atitude drástica, em prol do bem comum do trabalho.

Alex Soares a ensaiar com o Pedra no estúdio Overdrive em São Paulo. Click: Grace Lagôa

Continua...

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