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sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Pedra - Capítulo 5 - Formato Definitivo! - Por Luiz Domingues

 

Muito embora não houvéssemos estabelecido nenhum contato prévio e premeditado, eu e Rodrigo Hid tínhamos em comum acordo uma boa lembrança a respeito de um baterista jovem, que possivelmente encaixar-se-ia como uma luva para o trabalho. 

Esse rapaz mantinha consigo todos os atributos, pois era tecnicamente, excelente, nutria grande apreço pelas estéticas do Rock das décadas de 1960 & 1970 e pelo que lembrávamos, mantinha um extremo bom gosto no seu modo de se trajar, tanto no palco, quanto no cotidiano, ao torná-lo um artista a adotar um visual retrô muito elegante, embora fosse cronologicamente, bastante jovem. O seu nome era: Ivan Scartezini. 

Eu e Rodrigo o conhecêramos por volta do ano 2000, ao vê-lo a tocar com uma banda de Rock sob fortes características retrô, excelente por sinal e chamada: "Quarto Elétrico". Tal banda teve a oportunidade para abrir alguns shows da Patrulha do Espaço e logo os seus membros se tornaram nossos amigos ao comparecerem em diversos outros shows, mesmo quando não estavam envolvidos em realizar o show de abertura. 

A minha lembrança pessoal fora a melhor possível, pois logo na primeira vez que o vira a tocar com o "Quarto Elétrico", fiquei impressionado com a sua técnica e pegada. Tratava-se de um garoto jovem, mas a tocar com aquela desenvoltura dos mestres sessenta-setentistas, e ao ir além, com um incrível gestual, que nem todo baterista técnico consegue conciliar em sua performance. 

Aliás, com esse gestual, no atual panorama do Rock (2016), só conheço atualmente ele, Ivan, e o Roby Pontes, que é o atual baterista do Golpe de Estado, que aliás é da mesmíssima escola, já que é um amigo fraternal do Ivan, há muitos anos. 

O Rodrigo por sua vez, o conhecera ainda melhor, visto que quando nós saímos da Patrulha do Espaço, em 2004, ele iniciou ensaios com Ivan e meu ex-aluno, Thiago Fratuce, também baixista do "Quarto Elétrico", ao visar gravar um disco solo. Portanto, estava até acostumado a tocar com ele, e o conhecia bem, como pessoa. 

Com esses elementos todos, o Xando confiou em nossas indicações e resolvemos abordá-lo, assim que possível.

Capa do segundo álbum de Denny Caldeira, denominado: "Na Árvore" e desta feita a incorporar o nome da sua banda de apoio no trabalho, "Os Borbulhantes"

Sabíamos que naquele momento ele estava envolvido em dois trabalhos: tocava em uma banda cover, capitaneada pelo editor da Revista Poeira Zine, o jornalista e baixista, Bento Araújo, e como músico de apoio da banda do compositor/cantor e guitarrista, Denny Caldeira (ex-Quarto Elétrico), chamada: "Os Borbulhantes". 

Um ensaio dessa banda cover do Bento Araújo estava agendado para acontecer dali a alguns dias no Overdrive Estúdio, e daí nos programamos para realizar uma abordagem inicial e sentir a receptividade dele, Ivan.

Ivan em foto já como integrante do Pedra em show ao vivo. Click: Grace Lagôa

Então, no dia do ensaio da banda cover de Bento Araújo, estivemos reunidos em peso no Overdrive estúdio, e concretizamos a abordagem ao Ivan Scartezini. Ele em princípio, se mostrou muito receptivo, e só nos alertou que mantinha além do trabalho cover com Bento Araújo, outra banda, onde ele era side man.

 

As duas capas dos álbuns do cantor, guitarrista e compositor, Denny Caldeira 

Tratava-se da banda de apoio do compositor, guitarrista e cantor, Denny Caldeira, a apoiar a sua carreira solo. 

Não me recordo ao certo, mas acredito que já no dia seguinte, o Ivan emitiu o sinal afirmativo e daí, já se demonstrou estar 100 % imbuído no trabalho para decorar as onze músicas do nosso primeiro CD, que estavam prontas. Um primeiro ensaio foi marcado ainda em março de 2006, e foi espetacular o desempenho dele. Ele não apenas havia decorado todas as músicas, como trouxe de imediato, enriquecimentos incríveis, para todas, como arranjos pessoais.

Ou seja, elementos que gostaríamos que o Alex Soares tivesse feito, e ele não os realizara na gravação do CD, por economizar, propositalmente. Sendo assim, as músicas cresceram demais e só por esse fator, nós lamentamos que ele, Ivan, não estivesse conosco desde o início. 

Isso tudo, além do fato concreto dele apresentar um astral pessoal ótimo e estar sintonizado em nossa vibração, como o Alex, infelizmente, nunca esteve. Em apenas dois ensaios, Ivan se mostrou pronto para tocar ao vivo, e parecia estar conosco, realmente desde o começo.

Primeira foto promocional com Ivan Scartezini, já efetivado na banda, em 2006. Click: Grace Lagôa

Na primeira foto, eu (Luiz Domingues), no camarim do estúdio cinematográfico onde filmamos o clip da música: "O Dito Popular". Na segunda foto, Ivan Scartezini em ação como a banda de Rock, "Quarto Elétrico". Foto 1/click: Grace Lagôa. Foto 2/Internet

Sobre o Ivan ter ido ensaiar lá no estúdio Overdrive, com a banda cover em que tocava, foi uma sorte oportuna ele ter aparecido lá no estúdio Overdrive, no exato momento em que cogitávamos justamente o seu nome para assumir o posto deixado pelo Alex. Mas independente disso, tanto eu, quanto o Rodrigo, o abordaríamos de qualquer maneira, por telefone. O fato dele ter ido ensaiar no Overdrive, só facilitou a nossa abordagem, em suma. 

Rodrigo Hid e eu, Luiz Domingues, no camarim do estúdio cinematográfico em que filmamos o clip da música: "O Dito Popular". Click: Grace Lagôa

Quando o abordamos, ele realmente não esperava o convite. Deu para ver a mudança de seu semblante, quando lhe falamos sobre a nossa proposta. Ele não conhecia o repertório, mas em tese, ninguém conhecia, pois, o Pedra ficara enfurnado no estúdio a ensaiar e gravar, por quase um ano e meio, e salvo as exibições do clip de "O Dito Popular" na TV, e com poucas execuções radiofônicas, ninguém conhecia o trabalho.

Claro que ficamos apreensivos sobre a sua resposta. Quanto à nossa expectativa, apesar de confiarmos que ele possivelmente haveria por gostar do trabalho, a nossa dúvida residiu no fato dele ter raízes de amizade fraternal com o Denny Caldeira, e talvez assim, rejeitar o nosso convite por não querer acumular trabalhos autorais. 

Entretanto, estávamos confiantes, em relação à nossa banda e obra. Dessa forma, em breve estaríamos imbuídos da determinação de finalmente começar a tocarmos ao vivo.  

Antes, porém, eu preciso fazer um pequeno regresso cronológico na narrativa, para outubro de 2005. Eu pretendia contar essa particularidade no capítulo do Língua de Trapo em minha autobiografia, por que tal fato se tratou de algo ocorrido em meio a um show dessa banda, que eu fui assistir nessa ocasião como um convidado de honra na condição de ex-membro, mas acredito que faz muito melhor sentido ao ser detalhada aqui, pois diz respeito ao Pedra, efetivamente. 

O que ocorreu foi que em outubro de 2005, eu fui convidado a assistir um show do Língua de Trapo, no teatro do Sesc Pompeia, em São Paulo.

O Língua de Trapo estava a comemorar o lançamento da caixa a conter todos os LP's, compactos e CD's da banda até nesse ponto, relançados, a conter as capas a simular os vinis e um livro e também um DVD a contar a história da banda. 

Vários ex-membros estiveram presentes, e este fora o meu caso também, obviamente, pois ao final do show, fui chamado ao palco e participei de um coro coletivo para a execução da música: "Concheta". 

Bem esse acontecimento seria pertinente apenas ao Língua de Trapo, e lá no seu capítulo específico, eu já contei detalhes sobre esse episódio. Mas no que concerne ao Pedra, ocorreu que nesse dia, ali nos bastidores do teatro do Sesc Pompeia o ex-baixista do Língua de Trapo, Luiz Lucas, me disse no camarim, que estava a trabalhar com um produtor de shows internacionais e que o tal empreendedor planejava arregimentar várias bandas e poderia colocar o Pedra como banda de abertura. 

Pareceu-me em princípio como algo vago e bem delirante, pois ele me disse que seria um festival a contar com vários "dinossauros" setentistas, ao citar nomes de peso como: "Alice Cooper", "Uriah Heep", "Whitesnake", "Focus" e possivelmente a promover no mesmo festival, a volta dos "Mutantes" com a sua formação progressiva dos anos 1970. 

Apesar de parecer uma afirmativa distante da realidade, o Luiz Lucas não estava a brincar, na verdade e assim, algum tempo depois, essa conversa evoluiu. E como coincidiu com a entrada do Ivan em nossa banda, creio que agora poderei contá-la com maiores detalhes.

Nas fotos acima, eu (Luiz Domingues), em dois momentos distintos: a gravar o primeiro álbum do Pedra e no set de filmagem do clip da música: "O Dito Popular". Clicks: Grace Lagôa

Ainda com o Alex Soares a fazer parte da banda, havíamos recebido o convite para conversarmos com o tal produtor, sugerido pelo Luiz Lucas. Tratava-se de um rapaz chamado: Marcelo Francis, ex-guitarrista da banda de Heavy-Metal, Harppia. 

                   Guitarrista e produtor musical, Marcelo Francis

Por ser um músico experiente, Luiz Lucas nos forneceu a esperança prévia de que pelo menos seria produzido por alguém do ramo e não da parte de um aventureiro como muitos que se põem a produzir shows de Rock, por aí, sem entender nada do assunto. 

Passados alguns meses, já no avançar de 2006, nós fomos então ao escritório do Marcelo, localizado no bairro de Moema, zona sul de São Paulo. Na verdade, tratou-se de um escritório da empresária, Marlene Mattos, ex-produtora da apresentadora/cantora, Xuxa Meneghel. E de fato, no ambiente desse escritório, haviam vários adereços usados em shows da Xuxa, espalhados pelo local, naquele instante usados como decoração do ambiente.

O Marcelo usava uma das salas desse casarão e nos recebeu simpaticamente. De início, ele nos convidou a participarmos do Festival que estava a produzir. 

Tal evento seria mesmo baseado nas informações que o Luiz Lucas, me comentara em outubro de 2005. Ou seja, Marcelo realmente pretendia apresentar dinossauros internacionais de ordem sessenta-setentistas, e falou mesmo em Alice Cooper, Whitesnake, Uriah Heep, Focus e uma atração nacional bombástica: Mutantes, e a apresentar a formação da fase progressiva dessa banda, do LP "Tudo Foi Feito Pelo Sol", e nesse aspecto, inclusive, ele nos disse que estava em contato permanente com o guitarrista, Sérgio Dias e que este lhe dissera que a banda estava a ensaiar com Túlio Mourão, Antonio Pedro de Medeiros (Fortuna) e Rui Motta, na formação.

Realmente, tempos depois, uma fonte ultra fidedigna me revelou que essa formação estava a ensaiar e preparar uma volta à cena, mas por pressão de empresários, se desmanchara essa ideia em torno da formação progressiva, e a partir daí, Sergio Dias centrara os seus esforços para agrupar a formação mais próxima da inicial, com Arnaldo Baptista e Dinho Leme e também com a intenção de contar com Liminha e Rita Lee, para fechar a formação clássica. 

No entanto, isso é desvio de conversa e eu volto ao Pedra, portanto. O nosso objetivo principal fora estabelecer uma negociação a visar que ele, Marcelo, se interessasse em vir a nos empresariar, visto estar munido com bons contatos, implicitamente associado à Marlene Mattos, por exemplo, esta, uma empresária com forte abertura no mundo da TV mainstream e que tais. 

No entanto, ele não se mostrou preocupado com essa questão, inicialmente, pois o seu foco seria o tal festival em que estava empenhado em produzir. Sem descartar, no entanto, abrir uma negociação para o futuro, ao ter visado tal hipótese, se limitou inicialmente a colher a nossa decisão para participar do festival. E nesse sentido, é claro que aceitamos... 

Xando Zupo no camarim do estúdio cinematográfico em que filmamos o clip da música: "O Dito Popular". Click: Grace Lagôa 

A despeito do Pedra estar a gravar e não ter feito nenhum show desde a sua fundação, até aquele instante, éramos individualmente experientes, e portanto, tocar em um festival com astros internacionais, não nos assustava. 

Pelo contrário, seria uma bela perspectiva iniciar as nossas aparições públicas dessa forma, em meio a um evento com porte e quiçá com a volta dos Mutantes, no mesmo show para fornecer élan. 

O Marcelo tinha um assessor que assistira calado a reunião, mediante um ar blasé. O tal rapaz só mudava o seu semblante quando falava de uma banda que estava a produzir. Quem o ouvia a falar, com toda aquela ênfase, pensava ser tal banda, a oitava maravilha do mundo, mas na verdade não passava de um grupo ao estilo Pop-Rock então moderno, formada por garotos "Emo", despreparados para competir até dentro desse universo sob ruindade musical atroz e infantojuvenil. 

Certamente ele tencionava encaixá-la no festival, mas primeiro: esses garotos não detinham o perfil para tocar com dinossauros setentistas, e em segundo lugar, fatalmente não estavam preparados musicalmente nem para tentar brigar no universo das bandas formadas por meninos da idade e mentalidade deles. Mas na concepção desse rapaz, inebriado e sem noção alguma, talvez ele achasse ser diferente.

Eu, Luiz Domingues, pensativo no estúdio Overdrive, em meio a uma pausa no ensaio do Pedra. Click: Grace Lagôa

Dessa forma, estávamos muito contentes em termos a nossa presença garantida em um festival com perspectivas para conter atrações internacionais inclusas, mas a nossa vida seguiu e tivemos questões importantes para tratar, como a finalização do disco e logo, conforme já relatei, enfrentamos uma crise interna com o desfecho desagradável da saída do Alex Soares. As conversas com o pessoal do Festival Internacional prosseguiram, e muitos desdobramentos ocorreram, conforme relatarei, oportunamente.

Volto à cronologia, após esse rápido interlúdio, e prossigo do ponto em que o Ivan Scartezini entrou para a formação da nossa banda. 

Com o Ivan adaptado à banda instantaneamente, sentimos que foi chegada a hora, finalmente, para nos colocarmos no palco, finalmente. O festival internacional inicialmente marcado para março, fora transferido para setembro, e não houve razão para não tocarmos antes, aliás foi uma necessidade, se considerarmos que o disco estava a ser lançado.

Em relação à capa e encarte, a solução foi "psicodelizar" o vulto do Alex de tal forma, que se tornou então um fractal irreconhecível em todas as fotos onde esteve inserido conosco no enquadramento. 

Há por exemplo, uma foto onde eu e ele simulávamos um grito, ao nos olharmos face a face. Na verdade, fora um "still" oriundo do vídeoclip da música, "O Dito Popular", em uma cena que o diretor, Eduardo Xocante, quis inserir, com os membros a atuarem sem instrumentos, mediante a simulação de posturas agressivas para evocar o clima de protestos, ao estilo de manifestações de rua, proposto pela letra da música. 

Mas com a saída do Alex, o Rodrigo enquanto arte-finalista neste caso, optou por duplicar a minha imagem e por conta disso, eu apareço a gritar para eu mesmo, o que ficou até esteticamente interessante, pelo fator inusitado que tal ilustração adquiriu a posteriori em tal novo contexto.

Continua...

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