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sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Pedra - Capítulo 2 - A Gravar o Primeiro Disco e Formatar a Banda - Por Luiz Domingues

No início de 2005, o Xando Zupo tomou providências para colocar a banda no rumo da gravação do primeiro CD. E o primeiro passo foi no sentido de nos apresentar ao Renato Carneiro, um excepcional técnico de som e que gravara o álbum do "Big Balls", a sua ex-banda, nos anos noventa, a usar o estúdio Mosh. 

O Renato já trabalhava há muitos anos a operar o som de duplas sertanejas famosas, ao vivo. Havia trabalhado anteriormente com Christian & Ralf e naquele momento, estava há quase cinco anos, a operar o som ao vivo da dupla: Zezé Di Camargo e Luciano.

Outra possibilidade muito boa, seria a de se poder contar com o Renato Carneiro eventualmente também como técnico de som de nossos shows ao vivo. 

Começamos a sonhar com essa possibilidade e houve outra chance mais animadora que seria contar também com um outro técnico de alto nível, também chamado, Renato, ou seja, Renato Sprada para ser preciso. 

Também veterano e com enorme experiência na sonorização ao vivo, este fora técnico de som d'O Terço nos anos setenta, na fase dos LP's "Criaturas da Noite" e "Casa Encantada", excursionara com Gonzaguinha, no auge da carreira desse grande compositor, incluso a trabalhar na turnê onde o genial, Luiz Gonzaga, pai de Gonzaguinha, esteve junto a atuar. Naquele momento de 2005, Sprada estava fixo como técnico do cantor/ator, Fábio Jr.
Os dois Renatos, ambos magos dos botões... grandes técnicos de áudio! No uso de uma camiseta esverdeada, Renato Carneiro e a usar camiseta preta, Renato Sprada. Início de 2005, com ambos a acompanharem os ensaios do Pedra, sob foto de Grace Lagôa

Com a volta dos ensaios e o surgimento de mais músicas, estávamos a fechar os arranjos e a nos prepararmos para a gravação.
Com o Rodrigo a estabelecer ótimas intervenções aos teclados e Xando Zupo e Tadeu Dias, a se entenderem nas guitarras.
Notávamos, no entanto, que o baterista, Alex Soares parecia economizar um pouco nos seus arranjos pessoais. Falávamos para ele ousar um pouco mais, mas ele alegava estar a tentar padronizar a sua linha de condução à bateria sob um patamar mais Pop, propositalmente.

Alex Soares, em foto de Grace Lagôa, durante a sessão de gravação do primeiro álbum do Pedra, início de 2005

Claro que o Pedra nasceu com a mentalidade de estar aberto ao Pop, mas o Alex demonstrara ter outros parâmetros sobre o que deveria ser considerado como uma linha de trabalho comercial. 

E outro ponto que hoje é fácil para ser visualizado, mas que se mostrou obscuro na época: o sutil distanciamento que o guitarrista, Tadeu Dias esteve a demonstrar. Eis que ele faltara a muitos ensaios, ao estabelecer uma frequência nesse período (falo sobre o início de 2005), ao alegar estar compromissado com a agenda do cantor, Simoninha. De fato, ele houvera viajado para a França com tal artista nessa época, mas logo voltara para o Brasil.

Essa súbita mudança de comportamento se tornara incompreensível, contudo, pois nos primeiros ensaios, entre outubro e dezembro de 2004, ele comparecia com assiduidade, pontualidade e sobretudo, a demonstrar entusiasmo pelo projeto. Mostrava-se outrossim animado nos ensaios, ao contribuir com boas ideias e a se esforçar para dar o melhor de si à banda.
Na sala de estar da residência do Xando Zupo em 2005, ao olharmos fotos históricas da carreira de Grace Lagôa como fotógrafa e ainda com Tadeu Dias sorridente, a fazer parte de nossa banda...

Ele se portava com muito companheirismo, sempre foi bastante brincalhão no convívio e nos fazia rir com as suas piadas e imitações etc. Portanto, não houve indícios de que estivesse insatisfeito com ninguém, pessoalmente, tampouco distante do empenho com o trabalho.

Mas logo no início de 2005, eis que mudou o seu comportamento, bruscamente. No início, claro que não percebemos isso. Uma primeira ausência se deu por conta de sua viagem para Paris, outra vez, por conta da gravação de um especial do Simoninha para a MTV, seguido de constantes problemas alegados com o seu automóvel. 

Enfim, começou uma sucessão de faltas, mas atribuíamos isso aos compromissos dele com Simoninha e a fatalidade em ter problemas com seu carro, fator que pode ocorrer a qualquer pessoa.

Por não percebermos tais sinais, seguimos a ensaiar e relevarmos as suas faltas. Nesta altura, o som estava bem encorpado com a entrada do Rodrigo Hid, como tecladista & vocalista e dessa forma, pensávamos em alguns ajustes nos quais as duas guitarras e teclados poderiam soar em excesso. E a se levar em conta que eu era (sou) um baixista que gostava (gosto) de criar e frasear, esse cuidado deveria ser ainda melhor observado.

Ao conhecer o Renato Carneiro, percebi que entender-nos-íamos bem, pois ele se revelara um rapaz extremamente humilde e acessível. Falava a nossa linguagem, como se diz no âmbito coloquial.

Pausa para a água, durante a sessão de gravação do meu baixo, em fevereiro de 2005. Da esquerda para a direita: eu (Luiz Domingues), Renato Carneiro, e Xando Zupo. Foto de Grace Lagôa

Ao perceber tal possibilidade, eu me animei ainda mais, pois antevi uma gravação tranquila, com o diálogo franco entre músico e técnico, com abertura total para opinar. 

Mais ou menos na época do carnaval de 2005, o Xando reservou o seu estúdio para o Pedra dar início à tão esperada gravação de seu primeiro trabalho.

Para tal empreitada, se usou o método tradicional do "um-por-um", ao começar pela bateria. Marcamos o início para gravar com o Alex Soares e para tanto, a equalização de seu instrumento e guia da banda para poder gravá-lo.  

Em tese, para que o baterista possa gravar na sua plenitude, com técnica e criativamente, é imprescindível que ele tenha ao seu dispor uma guia bem-feita pela banda.

Foto de Grace Lagôa, na sessão de gravação da bateria, com Alex Soares. Fevereiro de 2005

Como costumamos dizer, se a banda toca sem muito empenho, o baterista acaba por se prejudicar, pois grava com uma interpretação frouxa, sem vida, e aí, sob um efeito dominó, todos os outros instrumentos vão se basear nessa pegada sem alma e a gravação se coloca como irremediavelmente arruinada. 

Gravada a bateria, chegou a minha vez. Senti um imenso prazer de gravar aquelas músicas, pois estava encaixado no espírito da sonoridade do Pedra. 

O contato com várias vertentes do Rock era costumeiro na minha rotina pessoal, construída ao longo de tantos trabalhos anteriores que eu realizara, mas foi através do Pedra, onde eu mais pude me aproximar da Black Music, que é uma escola que adoro em via de regra, entretanto, nunca houvera tido a oportunidade para tocar, propriamente a falar, a não ser por lampejos. 

Músicas como: "Vai Escutando, "Me Chama na Hora", "Sou Mais Feliz" e "O Dito Popular", transitavam entre o Soul, R'n'B e Funk, portanto, meu lado Motown/Stax, se regozijou.

Foto de Grace Lagôa a registrar o momento em que gravei minha participação no disco de estreia do Pedra. Fevereiro de 2005 

Usei bastante os meus baixos Fender, tanto o Jazz Bass, quanto o Precision, e em ambos, creio ter atingido os melhores timbres da minha carreira (até aquele ponto, devo realçar), graças ao trabalho do Renato Carneiro como técnico e produtor de estúdio, fora o apoio valoroso do Xando Zupo. De fato, esses trabalhos no quesito do baixo, foram muito elogiados posteriormente, e muito me orgulham.
Sem dúvida que o Xando Zupo apoiou a construção desse molho oriundo das tradições da Black Music, nas linhas de baixo que criei. Ele era o compositor da maioria das músicas e também adorava a Black Music, em linhas gerais.
E dá-lhe Fender Precision! Foto de Grace Lagôa ao registrar a minha sessão de gravação, do primeiro álbum do Pedra. Fevereiro de 2005

Todavia, há uma diferença básica entre nós dois: O Xando gosta do Funk setentista e da Disco Music, e eu prefiro o R'n'B e Soul cinquenta-sessentistas. O ponto aonde concordamos em comum, é no quesito do Funk setentista.
 
Em relação à atuação do Rodrigo Hid, na guitarra, infelizmente ficou prejudicada mesmo essa possibilidade, pois a maioria das canções teve o seu planejamento para Xando Zupo e Tadeu Dias, trabalharem em duo. O Rodrigo só foi atuar em poucas faixas posteriores, como guitarrista, em uma segunda etapa de gravações.
Mas como ele logo assumiu o posto, com a saída de Tadeu Dias, preparou todas as músicas já a imprimir o seu estilo. Ficou o sentimento de que teria sido ideal ele ter gravado tudo desde o começo, mas o destino não quis assim. E quanto ao entrosamento dele com a banda, certamente que veio muito rápido.

É normal em uma banda que dá os seus primeiros passos, que haja um entusiasmo por parte de todos. O Rodrigo Hid foi o último a chegar (nessa etapa) e se apresentou desgastado psicologicamente, provavelmente pela longa labuta anterior em outros trabalhos e a vivenciar os seus dissabores inerentes. Portanto, foi natural que demorasse a se animar e assim a se nivelar conosco nesse aspecto, mas esse processo de revitalização veio a acontecer rapidamente, para o bem dele e da banda.
Alex Soares flagrado pela lente de Grace Lagôa, no início de 2005

O Alex Soares estava um pouco abaixo desse entusiasmo, por conta de se mostrar extremamente cético em relação ao mundo mainstream. Ele queria que o nosso trabalho lograsse êxito, é claro, mas duvidava do direcionamento que havíamos planejado.
 
Se dependesse de suas concepções pessoais, nós deveríamos simplificar o som ao máximo, para que buscássemos as oportunidades no patamar mais popularesco, acintosamente. Isso não seria uma estratégia desprezível, se o nosso objetivo concreto fosse esse, mas nós queríamos atingir o Pop por outro patamar, com qualidade artística ilibada e não a apelar para o baixo nível total.
Foto de ensaio, com Tadeu Dias no centro da imagem, a pilotar a sua Fender Stratocaster. Foto de Grace Lagôa. Janeiro de 2005

E o Tadeu Dias simplesmente desistiu, após ter gravado a sua parte sem muito entusiasmo e a seguir, a nos deixar sem maiores explicações. Todavia, demoramos para perceber a sua real intenção naquele momento, pois não fora uma situação cristalina.
 
Independente de tais conjunturas estruturais e estratégicas sobre gestão de carreira, estávamos longe ainda de pisarmos sobre um palco. Isso só aconteceria em maio de 2006.
Visto hoje em dia, tenho um diagnóstico sobre tal divergência de opinião no tocante à estratégia da banda para se chegar ao seu grande objetivo, mas na época pareceu algo surreal. E no caso do Alex Soares, não foi baseado no fato de que ele estivesse desanimado, propriamente dito.
        Alex Soares, em um ensaio de 2005. Foto de Grace Lagôa

Ele queria muito que desse certo, mas a sua expectativa foi diferente, apenas isso. Ele queria trilhar um caminho Pop, acentuadamente popularesco. Nós tínhamos uma estratégia e ele pensava em outra, foi essa a diferença de pensamento entre nós. Quanto aos demais, claro, estávamos todos empolgados. 

O meu diagnóstico sobre o caso do Tadeu Dias, também se dá pela via da incompatibilidade de metas artísticas, no entanto, sob um outro aspecto, totalmente diferente em relação ao Alex. No caso do Tadeu, apesar dele possuir uma tremenda bagagem no campo da MPB e também da Black Music, com sólida formação teórica, inclusive, ele gostava mesmo era de Heavy-Metal. 
 
Logo nos primeiros ensaios, ele costumava estabelecer brincadeiras nesse sentido, às vezes, ao propor riffs de Heavy-Metal, só para brincarmos nos intervalos e nós nos divertíamos, no entanto, por tratar tais manifestações exatamente dessa forma, ou seja, como uma mera brincadeira com tom de recreação.
Mas logo que o ano de 2005, virou, o Tadeu nos surpreendeu, pois alegara estar muito atarefado com compromissos do cantor Simoninha, e assim faltara em alguns ensaios, no entanto, nós soubemos que ele arrumara tempo para fazer shows com bandas oitentistas de Heavy-Metal, como "Centúrias", "Harppia" e "Salário Mínimo", em meio a festivais saudosistas dos anos oitenta, realizados no Bar Blackmore. 
 
Ora, se estava muito comprometido para trabalhar com tal artista da gravadora Trama, encontrava tempo para tocar com essas bandas e logicamente, a ensaiar com essa turma antes? Aí começamos a perceber que as brincadeiras que ele fazia ao evocar o Heavy-Metal nos nossos ensaios, foram na verdade, manifestações em tom de ode ao gênero, fruto do seu gosto pessoal.
Uma das últimas fotos do Tadeu Dias, conosco, em 2005. Click de Grace Lagôa

Logo depois que deixou o Pedra, ele culminou em fazer parte de uma banda orientada pelo Heavy-Metal, chamada: "Cavalar". Vimos matérias em sites como o Wiplash, por exemplo a respeito dessa banda e aí entendemos finalmente o por que dele ter se entediado com o rumo que o Pedra adotara.
Foto de Rodrigo Hid, em um momento de descontração, no estúdio Overdrive, em 2005. Click de Grace Lagôa

Com o Rodrigo Hid a assumir a guitarra, o Pedra encontrou o seu formato ideal. Mas esse não fora o plano inicial, pois o Tadeu era (é) um excelente guitarrista e não cogitávamos perdê-lo naquele instante tão prematuro da história de uma banda que mal nascera.

Foi surpreendente, mas ao final, deu tudo certo com o Rodrigo Hid a assumir o seu lugar de direito na banda. O Rodrigo é um talento como multi-instrumentista, portanto, deixá-lo a tocar apenas um instrumento, ou só a cantar, seria desperdiçá-lo. Sorte do Pedra em ter podido contar com esse talento doravante, portanto.
Rodrigo Hid e eu (Luiz Domingues), no estúdio Overdrive, em 2005, durante as sessões de gravação do primeiro disco da banda. Foto de Grace Lagôa

Ainda a repercutir sobre o talento de Rodrigo Hid, eu confesso que sinto uma certa revolta em verificar a existência de tantos artistas duvidosos a se mostrarem consagrados no mainstream, só por conta de lobby e/ou por comprometimento com estéticas mancomunadas com uma parte da mídia mal-intencionada em conluio com empresários inescrupulosos e com o apoio dos marqueteiros, para deixar à margem um talento como o de Rodrigo Hid.
 
Cito aqui o Rodrigo, sem demérito aos demais, incluso eu. Apenas para realçar seu talento como multi-instrumentista, cantor, compositor e letrista. 
 
No tocante ao direcionamento artístico do Pedra, se houvesse aparecido um produtor de peso para nos impulsionar... mas creio que já desde aquela época os meandros da música mainstream não funcionavam mais assim.
Sessão de gravação das guitarras de Xando Zupo. Click de Grace Lagôa. 2005

Por incrível que pareça o panorama piorara nesse sentido, ao se pensar ali naquele momento de meio de década zero do ano 2000, pois mais antigamente os produtores de gravadoras contratavam bandas com qualidade e as moldavam dentro do padrão Pop, sem preocupação com a substância artística mais acentuada, digamos assim e isso por si só já se caracterizara como uma prática odiosa, certamente. 
 
Já no decorrer dos anos 2000 em diante, bandas com qualidade nem chegavam perto da mera cogitação em mesas de reuniões comandadas pelos maiorais. Pois naquele momento de 2005, esses produtores preferiam fabricar garotos "Emo", que já vinham prontos para serem enlatados devidamente e dessa forma, sem lhes dar o menor trabalho.
 
Os tempos foram outros e nenhum produtor moderno desses que vampirizavam a música, interessar-se-iam em produzir uma banda formada por veteranos e com o som repleto de firulas. Para eles, seria muito mais fácil e econômico investir em bandas de garotos que já faziam aquele esse som empobrecido, na base do Pop-Rock sofrível, por que tais garotos se mostravam absolutamente moldáveis e logicamente detinham a juventude ao seu lado, como condição sine que non e nesse quesito eu não posso negar tal suposta vantagem que esses garotos levavam sobre nós.
Nesse exato ponto onde me encontro no relato (janeiro/fevereiro de 2005), a nossa exclusiva preocupação, foi gravar. Houveram em paralelo, no entanto, outras articulações realizadas, como por exemplo com um possível vídeoclip a ser articulado e um contato com um produtor de shows que talvez viesse a nos empresariar.
Entretanto, foram ações secundárias naquele instante, pois o foco esteve no trabalho de estúdio e em nossa relação com o produtor do nosso áudio, Renato Carneiro. 
 
Na verdade, o Renato já era amigo do Xando Zupo, há muitos anos. Ele fora o técnico de gravação do disco do "Big Balls", em 1996. Então, o Xando já contava com a sua presença no projeto do Pedra, antes mesmo da banda ser formada por completo.
Renato Carneiro e Xando Zupo, em foto de 2005, no estúdio Overdrive e momento esse clicado por Grace Lagôa

Como o Renato estava sempre em turnê com Zezé Di Camargo e Luciano, demorou para que ele pudesse encontrar uma brecha na sua agenda e dessa forma poder vir nos visitar, enfim. No entanto, em princípio, esteve tudo certo para ele ser o nosso George Martin/Geoff Emerick...

Quando o Renato apareceu no estúdio, já tínhamos pelo menos cerca de oito músicas prontas, das doze que gravamos e a descontar uma que foi descartada, na hora da edição final. Tal canção descartada chamava-se: "Pra Sempre", e fora uma autoria do baterista, Alex Soares. O motivo do seu descarte será explicado no momento oportuno. Estou a narrar sobre o começo de 2005, e isso só viria a ocorrer em 2006.
E chegou a minha vez de gravar o baixo!
Eu, Luiz Domingues a gravar o primeiro disco do Pedra, no início de 2005...Click: Grace Lagôa

Digo sem medo de errar, que foram os melhores timbres de toda a minha carreira até aquele ponto, em termos de um áudio de disco. O Renato Carneiro soube extrair o melhor de meus instrumentos, amplificador e caixas. A sua experiência para operar PA gigantescos ao vivo, lhe outorgara um talento ímpar para detectar frequências, como um professor de química que conhece a tabela periódica de cor e salteado.
 
Os timbres dos baixos Fender, tanto o modelo Jazz Bass, quanto Precision, ficaram magníficos. Tenho muito orgulho desse disco, por vários motivos, entre os quais, o resultado no tocante aos timbres dos baixos, nele gravados. O Rickenbacker também ficou bom, mas um pouco aquém de sua potencialidade natural. Nesse caso, eu sei que o Renato teve de conter na mixagem e na masterização, certas frequências excessivas e naturais desse instrumento que se chocavam sobretudo com o piano de faixas como: "Madalena do Rock'n' Roll" e "Reflexo Inverso".
Mas em músicas como: "Me Chama na Hora", "Vai Escutando" e "O Dito Popular", o timbre do Fender Precision ficou simplesmente, espetacular.
O estalo típico do instrumento se realçou de uma forma a evocar o som de baixo de mestres tais como: Roger Waters, Glenn Hughes na época do Trapeze, John Wetton no Family, King Crimson e Uriah Heep e Phil Linnot do Thin Lizzy.
E o Jazz Bass ficou com um som de veludo, de tão macio, e absurdamente encorpado em músicas como: "Sou Mais Feliz" e "Amanhã de Sonho", a evocar as melhores tradições da Black Music, em gravações das gravadoras Motown & Stax, pilotadas por músicos do mais alto calibre como James Jamerson, e Donald "Duck" Dunn.
Cabe um interlúdio em minha narrativa para explicar ao leitor, que a minha decisão pessoal de escolher o baixo para cada música, se baseia desde que a música nasce nos seus primeiros ensaios de composição. 
 
Nesse processo, eu passo a imaginar a vibração da música e daí, escolho uma influência que se coadune com ela, e na minha percepção, defino qual instrumento usar, baseado nesse sentimento que a música me inspira, mediante todas as minhas referências na música.
 
Portanto, com essa metodologia, eu raramente erro na escolha e no caso do Pedra, tive a sorte de trabalhar com um técnico sensacional que foi (é) o Renato Carneiro e sob um aconchegante estúdio que foi o Overdrive. Eu já gravei discos em estúdios monstruosos, mas no Overdrive, o resultado foi o melhor até então, graças à essa conjunção de fatores. Terminado o baixo, as próximas sessões foram para se gravarem as guitarras do Xando Zupo.
Ainda a falar da minha metodologia pessoal, realmente essa é a minha linha de atuação na hora de gravar um disco. Eu tenho as minhas influências na memória e conforme identifico em uma música nova, características que me remetem à qualquer influência dessas, de fato eu deixo fluir naturalmente essa sincronicidade.
 
Por exemplo, se identifico alguma influência dos anos sessenta em uma canção, eis que eu afunilo tal percepção até chegar ao ponto de semelhança, no qual uma ou mais bandas dessa época, especificamente me vem à mente.
Feito isso, identificada a influência, o meu "HD do cérebro" começa a formular lembranças de como esse ou aquele baixista da banda, ou das bandas em questão, tocaria. Quais formulações de frases usaria, que instrumento escolheria e finalmente como se finalizaria o timbre empregado. Nesse ponto, eu imprimo esse estilo, claro, com a minha personalidade e o meu jeito bem particular em tocar.
Se a música pede um estilo, tenho tantas influências, que culmino em acessar um manancial repleto por ideias na imaginação e raramente erro, pois toda essa resolução foi decorrente de uma observação da música em si, que praticamente delineou por si só esse caminho. Esse é o meu método de criação. Deixo que cada música me solicite a influência que for necessária para que eu imprima a minha linha e também a definir a escolha do respectivo baixo, adequado pelo timbre.
Por exemplo: se eu notar que a canção detém um aspecto do Rock Progressivo setentista, eu aciono as minhas influências dessa escola. Se através de uma segunda prospecção, noto que parece mais cerebral do que silvestre com raízes folk, descarto o Rickenbacker, tanto pelo timbre do "Yes", quanto "Renaissance", duas de tantas possibilidades estilísticas em termos de timbres, proporcionadas por esse instrumento.
Neste caso, opto pelo Fender Precision e vou especificar mais. Se houver densidade, penso mais no som do John Wetton na época do LP "Lark's Tongues in Aspic" (King Crimson). Se for mais com brilho em torno do médio-agudo, vou buscar o som do Greg Lake nos discos do ELP, ou do Bert Ruiter, do Focus. E neste caso, estou a citar apenas alguns entre centenas de nomes!
 
Muitas vezes, um mesmo baixista ou banda detém diversas nuances. Por exemplo: posso sentir uma influência "Beatle" em uma canção, mas de qual fase da carreira dessa banda?
Se houver semelhança com a época do LP "Revolver" é uma percepção, no caso do LP "Sgt° Peppers" é outra etc. Se me lembrar então do trabalho do "Wings", se trata de um outro Paul McCartney que vou buscar como referência, neste caso mediante o uso do Rickenbacker e este a ser usado com a chave de captador na posição do meio, a obter um lindo médio-grave, anasalado.
 
E assim por diante, sinto que as minhas influências representam o maior tesouro que tenho como um verdadeiro arquivo cerebral, exatamente por eu ter inúmeras referências. E há o espaço generoso para o coração dizer algo, certamente. Não é apenas o lado racional que trabalha, pois se não provocar emoção no cômputo final, nada funciona, definitivamente.
O Xando Zupo gravou todas as suas partes com rapidez, apesar da complexidade dos arranjos elaborados em várias dobras de guitarras, e do uso sofisticado de efeitos, fruto de uma planificação detalhista da parte dele. O entrosamento dele com Renato Carneiro foi perfeito, e eu tive o prazer de acompanhar in loco, quase todas as sessões de sua gravação.
Com o desinteresse da parte do Tadeu Dias para prosseguir conosco, o Xando preferiu apagar a sua participação na gravação. O ponto onde ele se sentiu desestimulado com o Pedra, ficou obscuro. Não house nenhuma explicação plausível, pois ele mudou seu comportamento de uma forma abrupta e passou a se comportar dessa maneira, desmotivada, sem maiores esclarecimentos de sua parte.
Mas como eu já salientei anteriormente, hoje em dia (2016) está bem claro que ele estava a se envolver com músicos orientados pelo Heavy-Metal e este seria de fato o trabalho que sonhara realizar, visto que o Pedra tocava, aos olhos dele, praticamente no mesmo espectro de som que costumava tocar quando acompanhava o cantor, Simoninha, e outros artistas do elenco da gravadora "Trama". 
 
Nós pensávamos, ingenuamente, que ele gostava e muito desse som, pois desempenhava muito bem nos temas mais MPB, com harmonizações sofisticadas, e nos temas mais envolvidos com a Soul Music, ele apresentara soluções ótimas, com muito balanço típico do gênero. Mas não sabíamos que ele realmente gostava de tocar, que seria a estética do Heavy-Metal.
Assim, ele saiu da banda, mas tudo bem, seguiu o destino que realmente planejara para a sua carreira. Dali em diante, se abriu o caminho para o Rodrigo Hid assumir a segunda guitarra e o Pedra se formatou, enfim.
O Tadeu Dias é um excelente guitarrista. A proposta inicial da banda, fora ótima com ele e Marcelo Mancha (este, no vocal). Certamente, o destino se pôs a moldar as peças de uma maneira a atrair a presença de Rodrigo Hid, para a banda, para que este assumisse as funções desses dois músicos que se evadiram do trabalho.
 
Além dos teclados, é claro, pois houve a ideia primordial do Xando Zupo, em contar com um sexto membro, inicialmente. Ele chegou a convidar o Marcelo "Macabro" Cardoso (e hoje em dia (2016) ele é o tecladista do grupo Psicodélico-Progressivo, "Violeta de Outono"), mas este não poderia se dedicar ao Pedra, como membro fixo naquela ocasião.
Portanto, penso que esse arranjo foi o melhor para a história do Pedra, mas essa visão só faz sentido agora, com o devido distanciamento histórico.
Fechado como quarteto doravante, o Pedra em foto promocional clicada por Grace Lagôa, em março de 2005
E tirante o clima sob estupefação, não houve prejuízo musical, pois o Xando Zupo regravou todas as partes do Tadeu Dias, novamente e o Rodrigo Hid assumiu com naturalidade a sua função como guitarrista, doravante, ao trazer seu talento natural e criatividade nesse instrumento, também para brilhar no Pedra. 
 
Não houveram mudanças nos arranjos, pois as bases já estavam gravadas, ao impossibilitar mudanças radicais no arranjo. Algumas sutilezas, sim, foram possíveis de serem modificadas, pois cada músico tem o seu estilo e a não ser que esteja a seguir uma partitura, estaticamente, sempre alguns detalhes ficam diferentes. 
Superada a questão da perda do Tadeu Dias e com o Rodrigo Hid integrado em cem por cento com a banda, prosseguimos a gravar e então, começaram a aparecer as primeiras oportunidades para a banda.

Uma história dessas, no entanto, se revelou como um grande furo n'água, quando o Renato Carneiro nos ligou em algum dia de abril de 2005, e disse ao Xando Zupo, que o filho de um cantor popular, muito famoso no mundo mainstream, lhe perguntara se seria possível que este poderia lhe recomendar um estúdio de gravação, para que a sua banda "emocore", gravasse uma demo-tape.
 
Claro que o Renato Carneiro, de pronto, indicou o Overdrive e o garoto quis conhecer o estúdio na mesma hora, visto que estava na companhia dos seus companheiros naquele instante e tinha pressa para definir esse processo para a sua banda.
De pronto, o Renato ligou para o Xando e coincidiu de ser um dia de ensaio do Pedra, portanto, a nossa banda estava toda lá. Paramos o nosso ensaio e deixamos a técnica livre para o rapaz e seus amigos, poderem conhecer o estúdio e o Renato que viria também, logicamente, para ciceroneá-los, a fazer demonstrações a respeito do áudio.
 
Renato chegou na frente e abriu o programa da mixagem do Pedra, para que esses meninos pudessem ouvirem e avaliarem a qualidade da sala de gravação, naturalmente. Cerca de quarenta minutos depois, uma limusine com motorista, parou na porta e cinco rapazes com aparência "emo", entraram e foram direto para o estúdio.
 
O Renato lhes mostrou o equipamento e quando soltou o som nos alto-falantes, o tal filho do cantor famoso, mandou parar, imediatamente, ao alegar que aquele som era "horrível", a se referir à nossa canção: "Sou mais Feliz" e a seguir, ele afirmou que eles gostavam de artistas internacionais tais como: "Blink 182", "Green Day", "Offspring" entre outras bandas com características Neo-Punk, dessa estirpe que citou, no alto do seu incauto entusiasmo adolescente e sob extremo mau gosto formatado pela impressão efêmera de ocasião.
 
Até aí tudo bem, esse rapaz fora uma vítima das circunstâncias, porém, ao demonstrar arrogância desmedida, pois ainda não detinha fama alguma (mesmo que tivesse, ora bolas), e na realidade, ele apenas surfava na fama do seu pai, eis que ordenou que parasse a audição imediatamente e ao dar voz de comando aos seus amigos, eis que todos se evadiram rapidamente do estúdio, muito contrariados com a "porcaria do som do Pedra", sob sua avaliação incauta (e sem deixar de mencionar que neste caso, a questão estética deveria ter sido irrelevante para a sua avaliação da sala de gravação, mas a qualidade do áudio fora o que deveria ter sido realmente levado em consideração na sua inspeção).
A intenção do Renato Carneiro foi boa, ao tentar aproximar alguém que habitava o mainstream, de nós, mas o nosso amigo não contou com a soberba juvenil, perpetrada por parte do pimpolho desse cantor popularesco.
 
Outra questão que amadureceu naturalmente e já havia sido fruto de conversações desde o final de 2004, foi a de produzirmos um vídeoclip. 
 
O fato, foi que o Xando Zupo detinha consigo um contato forte, que era da parte de uma amiga sua de adolescência, que há muitos anos trabalhava com produção audiovisual, cinema, incluso, e conhecia muito bem um diretor de vídeoclips muito famoso no mercado e considerado como extremamente competente nesse meio, chamado: Eduardo "Xocante", escrito com "X", assim mesmo.
 
Essa amiga do Xando se chamava: Viviane Marques e esta moça, ao estabelecer tal viabilidade nos apresentou logo a seguir, ao Eduardo Xocante, que nos conheceu enfim e apreciou o nosso som.
O diretor de muitos vídeoclips premiados, ex-editor chefe da MTV, e hoje em dia (2016), na Rede Globo: Eduardo Xocante


No currículo dele, haviam inúmeros vídeoclips realizados com artistas do Rock oitentista e noventista, MPB e música popularesca (leia-se: duplas sertanejas famosas). Os seus trabalhos eram famosos em favor de artistas que foram do Capital Inicial aos Raimundos, Cássia Eller a Titãs, Zezé Di Camargo & Luciano a Marisa Monte etc. 
 
Ficamos contentes por verificarmos que ele acreditara na nossa banda ao se animar a fazer o clip, ao reduzir custos ao máximo, facilitar e colaborar na produção etc.  
 
Então, entre abril e maio de 2005, nos encontramos muitas vezes para dialogar e viabilizar a oportunidade para que ele pudesse acompanhar os nossos ensaios. Falamos bastante sobre o conceito a ser usado nessa peça e ele nos convenceu a produzirmos um clip simples, sem externas e a mostrar a banda a tocar, simplesmente. 
 
Fez sentido, pois como primeiro trabalho, haveria de ser importante mostrar a identidade da banda ao público e sem subterfúgios, no uso de dramaturgia com atores, efeitos e outras distrações típicas do universo dos vídeoclips tradicionais. 
 
Tudo amadureceu rápido e ao final de maio, ficou acertada a data da filmagem. E quanto à música escolhida para figurar como objeto central do vídeoclip, essa foi: "O Dito Popular". 
Continua...  

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