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domingo, 31 de janeiro de 2016

Pedra - Capítulo 16 - Se Agora Eu Pulo Fora - Por Luiz Domingues

Em setembro, tivemos uma boa novidade, que na verdade foi uma conquista individual, mas que logicamente repercutiu para o bem da banda. 

O nosso guitarrista, Xando Zupo, foi convidado a participar de uma coletânea formada por guitarristas, organizada pela revista Guitar Player, com grande destaque nas páginas dessa revista, e o CD em questão, a ser disponibilizado aos seus leitores, mostrou uma faixa de cada guitarrista escolhido para tal representação. Xando Zupo foi apresentado aos ouvintes & leitores, com a faixa: "Pra Não Voltar", proveniente do repertório do Pedra. Ficamos todos honrados, naturalmente.

Eis o Link desse lançamento:
http://guitarplayer.uol.com.br/

Contudo, a grande novidade mesmo para o final do ano, foi que o Xando resolveu lançar os quatro singles já preparados, simultaneamente, cansado da morosidade irritante que o decantado álbum, "Fuzuê" estava a causar para ser finalizado.
Foi uma boa ideia e que de certa forma, lhe atenuou um peso e tanto das suas costas sobrecarregadas, mediante a morosidade dessa produção. 
Nessa realidade, eu creio que não haveria outro meio para a obra ser concluída, a não ser por ele mesmo, infelizmente, a se pensar no cansaço todo que esse trabalho lhe proporcionou. 
Para tal, ele recorreu ao grande Diogo Oliveira, para auxiliá-lo com as ilustrações e a ideia foi criar algo diferente do conceito dos promos animados, e ao contrário, para simplificar ao máximo, apenas a constar uma ilustração temática para cada canção, a minimizar o trabalho, e a buscar assim na agilidade e simplicidade, um movimento rápido e eficaz para dar um alento à banda, e a ele mesmo, Xando, que se mostrara fatigado, exaurido em suas forças. 
Cartaz a anunciar participação ao vivo do Pedra, nos estúdios da Brasil 2000 FM, a lançar os quatro novos singles. Novembro de 2014. Foto: Leandro Almeida
Para lançar os quatro singles novos, o Xando marcou uma apresentação ao vivo na emissora, Brasil 2000 FM, estação onde tanta força recebêramos nos anos todos de existência do Pedra, portanto, não haveria de ser diferente agora, e como adendo, eu creio ter sido muito justo que ali o fizéssemos, em sinal de agradecimento pelo apoio que nessa emissora foi maciço para nós. 
A data marcada para a apresentação ao vivo, a celebrar o lançamento dos quatro singles, foi o dia 4 de novembro de 2014, data natalícia do nosso guitarrista, Xando Zupo. 
Eu não sabia, mas estava seriamente doente, já naquela ocasião. Por interpretar os momentos vividos sob mal-estar que comecei a sentir em outubro de 2014, mais ou menos, como algo secundário e facilmente contornável, atravessei novembro e dezembro nessa mesma predisposição, mas em janeiro... bem, falo sobre tal pormenor posteriormente. 
Por enquanto, ainda a mencionar os lançamentos de singles e do programa da Brasil 2000 FM, eu me recordo que efetuei um esforço enorme para não ser desagradável com ninguém e muito menos com a banda que ainda representava, mas doente, e ao me sentir mal fisicamente e também chateado por conta de uma sucessão de reuniões tensas que o Pedra havia realizado, com as inevitáveis "DR's", a minha paciência com essa banda havia chegado ao limite. 
Por conta dessa somatória, eu já pensava em deixar a banda, cansado de sua dinâmica tensa no âmbito interno, mas esperava um momento propício para fazer a minha comunicação aos demais, que não poderia ser ali no calor de um lançamento, nem mesmo antes de se lançar o terceiro disco, tão sofrido para ser produzido. 
Não foi nada contra a banda, nem mesmo contra nenhum companheiro, pessoalmente e tampouco pela obra, mas eu chegara no limite, infelizmente, ao me sentir inútil por raramente ter uma opinião levada em consideração, ser cobrado para realizar tarefas que certamente não tinha habilidade alguma para tal e também por ser subutilizado em minhas potencialidades extra-musicais. 
Além do mais, eu mantinha algumas restrições também aos métodos de gerenciamento e marketing adotados pela banda e algumas questões mais artísticas como letras de músicas e sobre pronunciamentos públicos oficiais em nome da banda, mas nessas duas últimas questões, tais discordâncias seriam fatores contornáveis, certamente. 
A apresentação na rádio foi a contento, com a banda a soar bem ao vivo, mas o clima estava pesado, ainda que ali, no calor da ocasião e por ter sido aniversário do Xando (com direito a um bolo servido na área da copa da sede da emissora), tudo pareceu haver se amenizado. 
Entretanto, no momento da entrevista, o meu ânimo que já estava baixo, veio a piorar na medida em que ao me sentir mal pelos efeitos da doença que estava a se manifestar (mas que eu nem sonhava com a sua gravidade naquele momento), fez com que eu ficasse alheio à banda, completamente. 
Lembro-me apenas que em uma rara brecha quando eu poderia falar: "boa noite" ao ter sido interpelado pelo entrevistador, Osmar “Osmi”, ao microfone, só foi possível que eu pronunciasse a palavra: "boa", pois quando fui articular o complemento, "noite", um outro colega me atropelou para falar algo totalmente fora do contexto do que eu falaria após o meu cumprimento inicial e ali eu desanimei de vez, ao perceber que não tinha mais nenhum espaço nessa banda.
Claro que eu sei que o colega não fez isso de forma premeditada para me menosprezar, mas tal situação inusitada me chamou a atenção como uma sinalização subliminar.
O Pedra nas dependências da emissora Brasil 2000 FM, em 4 de novembro de 2014. Click, acervo e cortesia: Grace Lagôa
A empresária do Língua de Trapo, Marcinha Oliveira, esposa do meu amigo, Laert Sarrumor, havia decidido nos empresariar, portanto seria um alento para a nossa banda, tão carente de apoio gerencial, desde o início de sua história. 
Uma das suas ações iniciais ainda em 2014, fora tentar nos inserir na Virada Cultural de São Paulo. Ela ainda não havia logrado êxito em nos vender nas unidades do Sesc, no entanto, já sinalizava apresentar datas para cumprirmos em casas noturnas e um possível encaixe para participarmos de um festival de música brasileira, a ser realizado nos Estados Unidos, provavelmente no estado da Florida, para o ano de 2015. 
O Pedra nos bastidores da emissora Brasil 2000 FM, em 4 de novembro de 2014. Click, acervo e cortesia: Grace Lagôa
Ainda houve mais uma reunião tensa em novembro e a minha situação de saúde piorava, todavia, por não perceber a gravidade da minha situação, eu pensara ser apenas um mal-estar súbito, a promover a oscilação da minha pressão arterial.
Eis o Link do arquivo da Rádio Brasil 2000 FM, para ouvir o programa citado:
http://www.brasil2000.com.br/arquivo/190/brasil-2000-ao-vivo-89-pedra

Na última reunião interna da banda, ficara combinado que o Xando não faria mais nenhuma mixagem e assim, as faixas restantes seriam produzidas em outros estúdios, com o Rodrigo Hid a se prontificar em tomar tal providência a partir do início de janeiro de 2015. O Xando Zupo esteve exaurido em suas forças, certamente.
O áudio oficial de "Furos no Sapatos" lançado como single, em 2014.
Eis o Link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Lz8ThQmdmDE 
 
O áudio oficial de "Os Teus Olhos", lançado como single, em 2014. 
Eis o Link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=hX88BqAAi2o

Anunciado o período de recesso geral de fim de ano, nós combinamos em nos falarmos a partir da segunda quinzena de janeiro de 2015 para fechar esse disco e daí a tomarmos uma decisão sobre a banda. Eu esperava chegar nessa conclusão do disco para lhes comunicar a minha saída, apenas.

O áudio oficial de "Segunda-Feira", lançado como single, em 2014.  
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=0Nv5OVjfRdA

O áudio oficial de "Amém Metrópolis", lançado como single, no YouTube. 
Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=pZlwRJydv58
Pedra em ação no Centro Cultural São Paulo, em agosto de 2014. Rodrigo Hid em destaque, com Ivan Scartezini no canto esquerdo ao fundo e Xando Zupo, no canto direito. Click, acervo e cortesia de Bolívia & Cátia     
Quando chegou o mês de janeiro de 2015, o Rodrigo Hid nos comunicou que havia fechado um pacote com o estúdio Curumim, de propriedade de Fernando Ceah, vocalista, compositor e guitarrista da banda, “Vento Motivo” e que o produtor argentino, Carlos Perren, “Carlito” entre os amigos, e que trabalhava em várias produções nesse estúdio, faria a mixagem das faixas restantes. 
Quando eu recebi e-mails dele, Rodrigo, a nos mostrar os primeiros resultados dessas mixagens, eu já estava a passar mal, por sentir fortes dores abdominais, mas até então, atribuía tal incômodo a uma crise de gastrite, visto que já havia passado por situação semelhante, em ocasiões anteriores e identificara o mesmo tipo de sintoma, portanto, em princípio, busquei uma avaliação médica da parte de um especialista em gastroenterologia e já imaginei o trâmite sugerido pelo doutor, com endoscopia e posterior tratamento a base de medicação por um ou dois meses, e uma dieta a vista. Já havia passado por isso, duas vezes, em 1997 e 2001. 
Luiz Domingues no camarim do Centro Cultural São Paulo, em agosto de 2014. Click, acervo e cortesia: Grace Lagôa
Mas o meu caso se tornou dramático, quando eu fiquei à mercê de um estado de icterícia fortíssima e mediante novos exames, tive que me submeter a duas cirurgias de emergência para retirar cálculos da vesícula e do pâncreas. Não vou me alongar aqui nessa particularidade, apenas registro que corri sério risco de vida e saí de combate entre março e junho, completamente debilitado pela doença e recuperação pós-cirúrgica. 
O Rodrigo Hid foi o primeiro componente do Pedra que soube do meu real estado de saúde, quando em uma noite de março, me ligou para falar da banda e perguntar como eu me sentia e até então, todos estavam cientes que eu estava doente, mas não sabiam da gravidade. 
Por coincidência, foi no dia em que me internei e ao saber do ocorrido ele foi imediatamente ao hospital e me viu sob uma situação lastimável, no saguão do Pronto Socorro, antes mesmo de ser diagnosticado e internado. O Xando me visitou na internação, cinco dias após as duas cirurgias. 
Em foto tremida, porém com ares psicodélicos, eis a minha presença com o Pedra em show realizado no Sesc Consolação de São Paulo, no ano de 2012. Click: Grace Lagôa
Para o leitor tomar conhecimento com maiores detalhes sobre o que me ocorreu e como eu salvei a minha vida e pude concluir esta autobiografia (acrescento que cheguei em um ponto da debilidade, em que a iminência da morte me aborreceu bastante, pela possibilidade concreta de não conseguir concluir este texto, portanto, eu confesso esse receio que tive fortemente), o convido a ler um relato que escrevi e publiquei em meu Blog nº 1, que não divulguei nas redes sociais, no entanto fiz questão de escrever e publicar em nome do meu agradecimento aos médicos, enfermeiros e técnicos de laboratório do Hospital São Paulo, que salvaram a minha vida.

Eis o Link do relato completo sobre o que me ocorreu:
http://luiz-domingues.blogspot.com.br/2015/10/nao-e-por-ma-vontade-dos-profissionais.html 
Ao final de maio, o Xando se ofereceu para me levar à primeira consulta ambulatorial do instante da pós-alta e o meu estado de debilidade se mostrava enorme. Foi o primeiro dia em que eu saí na rua desde que voltara para a minha residência, em 18 de abril de 2015, e sentia muitos incômodos, além de estar bastante desorientado e fraco, sem massa muscular e com dificuldades motoras para caminhar e me manter em pé. Sou-lhe muito grato por esse gesto de amizade e solidariedade.
Luiz Domingues ao vivo com o Pedra, em show realizado no Espaço Cultural Gambalaia, de Santo André-SP, em 2014. Click, acervo e cortesia: Grace Lagôa 
Por volta de junho de 2015, uma reunião foi convocada para resolver o que seria do futuro da banda, quando eu anunciei a minha saída e o Rodrigo Hid, ao afirmar estar desmotivado, também anunciou a sua retirada. Xando e Ivan disseram ter vontade para seguir em frente e o que combinamos ali, foi não fornecer nenhuma declaração pública momentânea e que em breve o Xando lançaria uma posição oficial para anunciar o lançamento do disco "Fuzuê", em caráter apenas virtual e somente então revelaria o final da nossa formação, mas não o da banda, ao mostrar à opinião pública, que o Pedra seria reformulado e voltaria às atividades o quanto antes e com novos membros ao lado de Zupo & Scartezini. 
Foi comunicada a situação da banda para a Marcinha Oliveira e nessa altura, pelo menos duas datas em casas noturnas só dependiam de nosso aval para serem fechadas, mas diante das circunstâncias, ficariam inviáveis, sine die.
Álbum "Fuzuê", versão na íntegra do álbum. Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=1DrNgZ-1cJg

Sobre o álbum em si, apesar de todo os aspectos negativos que o cercaram em sua concepção, por ele ter sido produzido com uma incrível morosidade pelas circunstâncias todas já descritas anteriormente, claro que como uma obra artística de alta qualidade, possui os seus muitos méritos. Eis abaixo, a minha análise pessoal sobre o disco, faixa a faixa.
Rodrigo Hid no destaque da foto, a atuar com o Pedra, em agosto de 2014, no Centro Cultural São Paulo. Click, acervo e cortesia: Leandro Almeida 
“Fuzuê Intro” (Rodrigo Hid/Xando Zupo/Ivan Scartezini/Luiz Domingues)

A banda entra a executar um tema muito centrado no Funk-Rock setentista, com forte identidade com as vinhetas de seriados policiais norte-americanos, daquela década. O balanço é total, com destaque para os contra-solos e acentos funkeados, a se destacarem as ótimas intervenções da parte do Xando Zupo e do balanço sensacional do clavinete conduzido pelo Rodrigo Hid. 
Após uma pausa e ótima evolução do Ivan Scartezini ao fazer uma bela frase de bateria nesse interlúdio, entra o teclado “strings” (um sintetizador que simulava arranjo de instrumentos de cordas e que fora super usado nos anos setenta), que é muito conveniente pelo timbre a reforçar o som de vinheta da TV, dessa época. 
E nesse instante, também começa uma locução nos mesmos moldes, bem setentistas, como a anunciar a próxima atração. Trata-se da minha voz nessa locução, ao fazer uma impostação e a imitar acintosamente os locutores típicos da TV, daquela década. O texto literal dessa locução assim ficou:
“Você acabou de curtir, Pedra II. A seguir, Fuzuê. Com muita confusão, drama, comédia e drama. Estrelando: Rodrigo Hid, Xando Zupo, Luiz Domingues e Ivan Scatezini”.
Pedra em ação no Centro Cultural São Paulo, em agosto de 2014. Rodrigo Hid à esquerda nos teclados e Luiz Domingues no canto direito. Click, acervo e cortesia: Leandro Almeida
“Furos nos Sapatos” (Xando Zupo/Marcelo “Mancha”)
Essa canção ficou muito bem arranjada, não resta dúvida. Parece um Hard-Rock setentista pelo seu riff primordial, mas contém inúmeros elementos agregados, que passam pelo R’n’B, Pop e até a mostrar uma pitada do Funk-Rock setentista. 
São ótimos os solos e apresenta um refrão excelente, todo desenhado, principalmente pelo reforço excepcional dos cantores da pesada: Renata “Tata” Martinelli e Marcelo “Mancha”. Rodrigo canta solo e Ivan arrebenta em seu arranjo na bateria, que lembra bastante o estilo empolgante do grande, Franklin Paolillo. 
Usei o baixo o Fender Precision e a tradição do Pedra foi mantida, com um timbre matador à altura desse instrumento clássico. No meu arranjo, eu trabalhei com estilos híbridos, entre o Hard-Rock, Soul Music e Jazz-Rock para cada trecho, ao mudar conforme a necessidade da canção e creio ter deixado uma boa colaboração à banda. Letra muito boa criada pelo Xando.
“Queimada das Larvas nos Campos Sem Fim” (Rodrigo Hid/Xando Zupo)
Já comentei bastante sobre essa canção anteriormente, pelo fato dela ter sido lançada como single em 2010. Acrescento que usei o Fender Precision, novamente, e a sua presença ficou incrível. 
A linha de bateria do Ivan é memorável, com uma criatividade incrível. Xando brilha com uma guitarra plena de nuances nas bases e solos e a sua escolha dos efeitos foi muito feliz. 
A interpretação vocal do Rodrigo é excepcional. Gosto bastante do refrão, bem ao estilo do Hard-Rock e gostava muito de cantá-lo ao vivo. Na gravação, a minha voz está abaixo da voz do Rodrigo, naturalmente, mas é bem nítida.
Ivan Scartezini em destaque, em um show do Pedra, realizado no Espaço Cultural Gambalaia, de Santo André-SP, em 2014. Click, acervo e cortesia: Grace Lagôa 
“Só” (Xando Zupo/Rodrigo Hid)
Essa canção também já foi comentada ao longo dos capítulos anteriores, mas cabe dizer que além da sua beleza harmônica e melódica indiscutível, o solo do Xando é histórico pela sua condição melódica, marcante. 
O piano é sensacional, apesar da sua simplicidade e o meu Fender Jazz Bass, todo balançado à moda do R’n’B clássico ficou belíssimo em seu timbre. 
Nessa gravação, o meu timbre ficou tão semelhante ao som habitual do grande, Dee Murray, baixista da banda do Elton John nos melhores discos de sua carreira, nos anos setenta, que tal fator me orgulha muito, pois eu sou um grande fã desse saudoso músico, que foi sensacional em sua atuação.
“Amém, Metrópolis” (Rodrigo Hid/Xando Zupo)
Essa canção teria tudo para causar uma celeuma grande, pelo fato de ser um samba explícito, ao prover nos reaproximarmos da MPB, da qual fôramos mais próximos no primeiro disco da nossa banda. 
Sob uma batida de violão frenética da parte do Rodrigo, que muito se assemelhou ao estilo do excepcional, João Bosco, a banda vai atrás com uma agressividade Rocker incrível, para causar uma feliz conjunção improvável, que somente os Novos Baianos sabiam estabelecer, na cena da década de setenta. 
Ivan brilha muito nessa faixa, ao conduzir uma batida de samba bem frenética, portanto, para ir muito além do “telecoteco” básico, mas principalmente por feito uma pegada Rocker improvável e absolutamente, incrível. 
O Xando inventou uma série de efeitos com fantasmagorias na guitarra, para tornar a canção, tensa (no bom sentido), e um arranjo dos teclados em uma espécie de refrão, foi uma ideia genial da parte do Rodrigo, pois ele tirou da cartola um elemento inimaginável, eu diria. 
Gravei com o baixo Fender Precision e como resultado, o som ficou quase no limite da distorção, quase a chegar no estilo do John Wetton, em sua fase com o King Crimson. Gosto muito desse resultado, eu devo registrar. 
A letra é forte, cheia de metáforas a criticar a política x corrupção, e escrita muito tempo antes das forjadas manifestações de 2013, portanto, sem nenhuma sanha oportunista.
Pedra em ação no Espaço Cultural Gambalaia, de Santo André-SP, em 2014. Click, acervo e cortesia: Jani Santana Morales
“Mira” (Xando Zupo)
Esse é um tema sombrio, com evocações em torno do Jazz-Rock setentista e que exigiu bastante concentração para ser executado, devido à sua complexidade instrumental. Gosto do uso do compasso em 6/8, com tantos acentos em contratempo. As guitarras se mostram nervosas, ambas, de Rodrigo e Xando. 
O refrão tem uma forte dose de MPB, sem dúvida. O solo é cerebral e dissonante, elaborado pelo Rodrigo, muito a lembrar o estilo do genial, Robert Fripp, embora o Rodrigo afirme que não pensara nessa sonoridade e artista em específico como uma inspiração, mas que apenas improvisara um solo com alta carga dissonante (o que dá no mesmo, para quem conhece o som do King Crimson). 
Sobre a letra em castellaño, eu já falei anteriormente. O Xando deu o seu melhor, mas o sotaque foi inevitável a denunciar ser um lusófano a cantar na língua hispânica, não houve jeito. 
Usei o baixo Fender Precision com o seu timbre a se mostrar excelente e a escolha foi perfeita para uma música com tal agressividade explícita. Era difícil cantar e tocar a linha do baixo simultaneamente no refrão, mas eu me acostumei e tinha prazer em fazê-lo ao vivo, pois era (é) uma parte forte da canção.
“Os Teus Olhos” (Rodrigo Hid)
Eis uma delicada canção com sabor de balada dos anos sessenta, lembra muito o som do "The Kinks", em muitos aspectos. Tudo nela é bonito: harmonia, melodia, letra, arranjo, interpretação, enfim, é uma canção irrepreensível. 
A parte "B" com mudança radical até no seu andamento, me lembra o som mineiro do “Clube da Esquina”, mas também possui uma semelhança com o som do “Traffic”, esta, a se tratar de uma banda britânica que eu adoro, desde sempre. 
Gravei com o Fender Jazz Bass e gosto do som grave e encorpado, com um leve estalo em termos de médio-agudo. 
Gosto dos contrasolos feitos pelo Xando e algumas alavancadas para a região grave, mais sutis. 
Contém uma bela base feita pelo Rodrigo Hid a elaborar arpejos com o simulador de caixa Leslie na guitarra e mais contra-solos muito bons do Xando além de, claro, as intervenções ao saxofone do superb, André Knobl que brilham intensamente, incluso o naipe que ele criou com uma incrível voz adicional. 
Gosto dos backing vocals e fico contente pela minha voz estar nítida nessa gravação. A parte final ficou com um balanço incrível e aí nesse ponto, que mais parece o som sofisticado e “jazzy” do grande, “Traffic”. 
A letra inspirada do Rodrigo, é bem poética e parece o estilo do poeta e letrista, Fernando Brant.
Xando Zupo em ação com o Pedra, no Via Funchal de São Paulo, em 2006. Click, acervo e cortesia: Grace Lagôa
“Pra Não Voltar” (Xando Zupo)
Mais uma faixa previamente lançada como single em 2010, se mostra excelente composição, com forte característica centrada no Hard-Rock. Trabalho fantástico de guitarras do Xando Zupo em todos os quesitos. 
Gosto muito dos backing vocals, ao estilo Soul Music sessentista. Ivan Scartezini arrebenta com uma linha de bateria, fortíssima. Gosto do interlúdio que remonta bem ao "Led Zeppelin", da fase do LP “Presence”. Aprecio também o solo épico do Xando ao final. 
Nesta faixa, eu criei uma linha bastante agressiva e o Fender Precision ficou ideal para imprimir tal linha mais contundente. 
Acho o vocal solo do Xando Zupo, muito gritado, mas ele teve os seus motivos pessoais para ter criado uma interpretação exagerada desse jeito.
“Luz da Nova Canção” (Rodrigo Hid/Cezar de Mercês)
Uma das mais belas canções do álbum, senão a mais bela e para ir além, uma das melhores criações da carreira do Rodrigo Hid em sua trajetória inteira até aqui (ele vai criar outras tão boas quanto, eu tenho certeza, no futuro). 
Tudo aqui é belo ao extremo. Um blues/R’n’B ao estilo dos anos cinquenta & sessenta, parece uma canção composta pelo Ray Charles, de tão linda que ficou. Melodia e harmonia incríveis, tem na letra, escrita pelo mestre, Cezar de Mercês, um outro trunfo fantástico.
“Posso ver uma pálida luz na face da escuridão, a luz da nova canção”... essa frase por si só, diz tanto ao meu coração sessentista, que creio dispensar explicações. Aliás, nem devo, pois, a metáfora fala por si só. 
 
O solo é incrível da parte do Xando, a bateria é maravilhosa do Ivan e o meu baixo a soar robusto, com o Fender Jazz Bass, nessa faixa eu me senti o Donald “Duck” Dunn a gravar com o Otis Redding... sonho meu, hein? 
 
E a interpretação vocal do Rodrigo Hid é tão esfuziante que arranca lágrimas. Parece o Paul McCartney a cantar: “Oh Darling”, ao extrair a sua voz das entranhas. Destaco também a intervenção de metais (André Knobl e Paulo Roberto Pizzulin), comandados pelo fantástico, André Knobl, um saxofonista da pesada.

Pedra no Via Funchal em 2006, coma minha presença, Luiz Domingues no destaque e Rodrigo Hid, no canto esquerdo, aos teclados e a cantar solo. Click, acervo e cortesia: Grace Lagôa

“Segunda-Feira” (Xando Zupo)
Também já falei sobre essa canção, anteriormente durante a narrativa. Acrescento apenas que o arranjo é muito bom, pleno de nuances. As guitarras contam com muitos efeitos e todos bem escolhidos e o som dos teclados, corresponde no mesmo nível.
Gosto das partes cantadas em duo entre Hid e Zupo, bem concatenadas. 
Usei o Fender Precision e tive uma certa inspiração do estilo do saudoso, Berry Oakley, que me ocorreu fortuitamente como inspiração, embora a canção esteja mais a verter para o R’n’B “modernoso”, na linha do “Jamiroquai”, do que para o “Southern Rock”, do “The Allman Brothers Band”, mas eis que a minha linha caiu bem, ao meu ver.
“Abstrato Concreto” (Luiz Domingues/Rodrigo Hid/Tufi Hid)
Eu já falei bastante sobre essa canção que remonta ao capítulo do “Sidharta”. Cabe acrescentar aqui que ela começa sob um “fade in apodrecido” para aludir ao som dos radinhos de pilha e “abre” em seu decorrer, a clarear com a música em curso. 
Gosto imensamente dessa solução que o Rodrigo achou para rearranjá-la ao evocar o R’n’B sessentista clássico, e por lembrar demais o som de “Joe Cocker”, “Leon Russell”, “Stone the Crows”, "Cold Blood" etc. 
O piano é ultra balançado, ao estilo do Chris Stainton, sem dúvida. Gosto muito dos desenhos dos contra-solos criados pelo Xando. Bateria boa no balanço, junto com o baixo e o meu Fender Jazz Bass ficou com um timbre excelente, até mesmo com um estalo de médio-grave a mais da conta.
“Cuide-se Bem” (Guilherme Arantes)
Outra canção já amplamente comentada anteriormente. Bem, essa gravação ficou bastante enriquecida pelo arranjo. Piano e órgão Hammond muito bem colocados, e o baixo bem alinhavado com a bateria. Usei Fender Precision e ficou com um belo peso. 
Destaque para os solos do Xando, ambos excepcionais e que ficaram muito marcantes para esta versão. Lembra o “Led Zeppelin” em “In my Time of Dying”, com toda a pompa e circunstância. 
Backing vocals emocionantes ao final, só para seguir a beleza melódica criada pelo mestre, Arantes.
Xando Zupo em foto informal, no dia das filmagens da parte dramatúrgica do vídeoclip da música: "Sou Mais Feliz", em 2006. Click, acervo e cortesia: Grace Lagôa

Em julho, o Xando lançou o álbum, “Fuzuê”, em sua forma digital, com uma ilustração feita para uma capa virtual, assinada pelo Diogo Oliveira, para seguir o padrão das ilustrações que fizera em 2014, para lançar os quatro singles. 
O disco saiu sem as músicas que o Rodrigo Hid havia mixado no estúdio Curumim, a contar com os préstimos de Carlito Perren, produtor argentino. Neste caso, o Xando nos mostrara na reunião de junho, que as mixagens feitas sob tal circunstância excepcional, haviam destoado das demais, feitas no estúdio Overdrive, por ele mesmo, portanto, realmente ficaram sem condições para figurarem conjuntamente.
No entanto, houve um outro componente nessa história, que foi a contrariedade estética para com as canções em si e podemos acrescentar o Hard-Rock, "Ultrapasso", nesse rol de preteridas. Paciência, espero que se lance a canção, "Ultrapasso", um dia, mesmo que se descarte a minha letra, e o vocal do Rodrigo, por conseguinte. 
E espero que o Rodrigo lance as quatro músicas que ficaram sob a sua responsabilidade para mixar, em um eventual disco solo, mesmo que descarte a gravação do Pedra e as grave novamente com outros músicos. Mas sinceramente, eu gostaria que as cinco canções citadas fossem lançadas, a conter o baixo que eu gravei.
Haveria uma data em agosto de 2015, fechada para o Pedra no Café Teatro Piu Piu e o Xando queria fazer dela, a despedida oficial da formação e o lançamento do disco, com direito a uma filmagem. 
Aprovamos a ideia e nos comprometemos todos a cumpri-la. Mas quando se aproximara a data e os ensaios precisaram ser marcados, o Rodrigo nos comunicou que seu pai sofreria uma cirurgia e a sua recuperação ocorreria com ele mesmo, Rodrigo, a assumir os cuidados para com ele, Tufi Hid. 
Mesmo assim, a data estava em pé, mas com o cancelamento de ensaios por conta dessa dificuldade familiar que ele enfrentaria, se chegou em um ponto onde só haveriam dois ensaios e talvez na prática, só houvesse apenas um. Mesmo com todos a se prontificarem para relembrar as músicas individualmente, ao fazerem a "lição de casa", um ensaio somente seria inconveniente e assim, a data foi cancelada. 
Em janeiro de 2016, o Xando anunciou o lançamento de duas músicas em caráter solo e o fim oficial do Pedra, simultaneamente. 
Logo em seguida a essa comunicação de disco e fim da formação, o jornalista, Dum de Lucca, lançou uma matéria em seu blog "Jukebox", para repercutir sobre tais fatos. 
Eu observei que houve bastante repercussão no Blog citado em si, e também pelas Redes Sociais e assim, o Dum se mostrou curioso sobre o porquê do fim da formação, ao especular a respeito de uma possível briga entre nós, os ex-membros. 
Eu preferi não me manifestar para não causar mais especulações e o tempo tratou por apaziguar os ânimos mais acirrados. Se um dia ele me perguntar, eu respondo tranquilamente que não houve briga alguma, apesar de ter havido muitas divergências em termos de mentalidade entre os ex-componentes 
Nota em adendo: infelizmente receio que tal pergunta jamais será formulada pelo referido jornalista, pois Dum de Lucca infelizmente nos deixou ao final de 2016, após sofrer um mal-estar muito grande, decorrente de um câncer ultra agressivo que o surpreendeu por conta de estar muito avançado, sem chance de reversão por parte dos médicos que o assistiram. Lastimo muito, pois era um ótimo jornalista & crítico musical, além de uma pessoa do bem.
Eis o Link da entrevista citada: 
http://www.dumjukebox.com.br/?p=2530
Assim foi o final da minha história com o Pedra e alguns meses depois, foi anunciado o final oficial da própria banda, desta vez, sob caráter definitivo. 

Eu, Luiz Domingues no destaque, com Ivan Scartezini ao fundo. Pedra no Sesc Belenzinho, em fevereiro de 2013. Click, acervo e cortesia: Leandro Almeida

No próximo capítulo, eu tecerei as considerações finais e os devidos agradecimentos.

Continua...

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