Neste meu Blog 3, dedico todo o espaço para cuidar da minha carreira musical. Além de publicar os textos na íntegra, dos meus livros autobiográficos, apresento também material em geral de todas as bandas pelas quais atuei e atuo, sob permanente construção.
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domingo, 31 de janeiro de 2016
Pedra - Capítulo 16 - Se Agora Eu Pulo Fora - Por Luiz Domingues
Em setembro, tivemos uma boa novidade, que na verdade foi uma conquista
individual, mas que logicamente repercutiu para o bem da banda.
O nosso
guitarrista, Xando Zupo, foi convidado a participar de uma coletânea formada por guitarristas, organizada pela revista Guitar Player, com grande destaque nas
páginas dessa revista, e o CD em questão, a ser disponibilizado aos seus leitores, mostrou uma faixa de cada guitarrista
escolhido para tal representação. Xando Zupo foi apresentado aos ouvintes & leitores, com a faixa: "Pra Não Voltar", proveniente do repertório do Pedra. Ficamos
todos honrados, naturalmente.
Contudo, a grande novidade mesmo para o final do ano, foi que o Xando resolveu
lançar os quatro singles já preparados, simultaneamente, cansado da morosidade irritante que o
decantado álbum, "Fuzuê" estava a causar para ser finalizado.
Foi uma boa ideia e que de certa forma, lhe atenuou um peso e tanto das suas costas
sobrecarregadas, mediante a morosidade dessa produção.
Nessa realidade, eu creio que não haveria outro meio para a obra ser concluída, a não ser por ele mesmo, infelizmente, a se pensar no cansaço
todo que esse trabalho lhe proporcionou.
Para tal, ele recorreu ao grande Diogo Oliveira, para
auxiliá-lo com as ilustrações e a ideia foi criar algo diferente do conceito dos promos animados, e ao contrário,
para simplificar ao máximo, apenas a constar uma ilustração temática para cada canção,
a minimizar o trabalho, e a buscar assim na agilidade e simplicidade, um movimento
rápido e eficaz para dar um alento à banda, e a ele mesmo, Xando, que se mostrara fatigado, exaurido em suas forças.
Cartaz a anunciar participação ao vivo do Pedra, nos estúdios da Brasil 2000 FM, a lançar os quatro novos singles. Novembro de 2014. Foto: Leandro Almeida
Para lançar os quatro singles novos, o Xando marcou uma apresentação ao
vivo na emissora, Brasil 2000 FM, estação onde tanta força recebêramos nos anos todos de
existência do Pedra, portanto, não haveria de ser diferente agora, e como
adendo, eu creio ter sido muito justo que ali o fizéssemos, em sinal de agradecimento pelo apoio que nessa emissora foi maciço para nós.
A data
marcada para a apresentação ao vivo, a celebrar o lançamento dos quatro singles,
foi o dia 4 de novembro de 2014, data natalícia do nosso guitarrista, Xando
Zupo.
Eu não
sabia, mas estava seriamente doente, já naquela ocasião. Por interpretar os
momentos vividos sob mal-estar que comecei a sentir em outubro de 2014, mais ou menos, como algo
secundário e facilmente contornável, atravessei novembro e dezembro nessa mesma
predisposição, mas em janeiro... bem, falo sobre tal pormenor posteriormente.
Por enquanto, ainda a mencionar os lançamentos de singles e do
programa da Brasil 2000 FM, eu me recordo que efetuei um esforço enorme para não ser desagradável com
ninguém e muito menos com a banda que ainda representava, mas doente, e ao me sentir
mal fisicamente e também chateado por conta de uma sucessão de reuniões tensas
que o Pedra havia realizado, com as inevitáveis "DR's", a minha
paciência com essa banda havia chegado ao limite.
Por conta dessa somatória, eu já pensava em deixar a
banda, cansado de sua dinâmica tensa no âmbito interno, mas esperava um momento
propício para fazer a minha comunicação aos demais, que não poderia ser ali no
calor de um lançamento, nem mesmo antes de se lançar o terceiro disco, tão sofrido para ser produzido.
Não
foi nada contra a banda, nem mesmo contra nenhum companheiro, pessoalmente e
tampouco pela obra, mas eu chegara no limite, infelizmente, ao me sentir inútil
por raramente ter uma opinião levada em consideração, ser cobrado para realizar tarefas que certamente não tinha habilidade alguma para tal e também por ser
subutilizado em minhas potencialidades extra-musicais.
Além do mais, eu mantinha algumas
restrições também aos métodos de gerenciamento e marketing adotados pela
banda e algumas questões mais artísticas como letras de músicas e
sobre pronunciamentos públicos oficiais em nome da banda, mas nessas duas últimas questões, tais discordâncias seriam fatores contornáveis, certamente.
A
apresentação na rádio foi a contento, com a banda a soar bem ao vivo, mas o
clima estava pesado, ainda que ali, no calor da ocasião e por ter sido aniversário do
Xando (com direito a um bolo servido na área da copa da sede da emissora), tudo pareceu haver se amenizado.
Entretanto, no momento da entrevista, o meu ânimo que já estava baixo, veio a piorar na medida em que ao me sentir mal pelos efeitos da doença que estava a se manifestar (mas que eu nem
sonhava com a sua gravidade naquele momento), fez com que eu ficasse alheio à banda,
completamente.
Lembro-me apenas que em uma rara brecha quando eu poderia falar: "boa noite" ao ter sido interpelado pelo entrevistador, Osmar “Osmi”, ao
microfone, só foi possível que eu pronunciasse a palavra: "boa", pois quando fui articular o
complemento, "noite", um outro colega me atropelou para falar algo totalmente fora
do contexto do que eu falaria após o meu cumprimento inicial e ali eu desanimei de vez, ao perceber
que não tinha mais nenhum espaço nessa banda.
Claro que eu sei que o colega não fez isso de forma premeditada para me menosprezar, mas tal situação inusitada me chamou a atenção como uma sinalização subliminar.
O Pedra nas dependências da emissora Brasil 2000 FM, em 4 de novembro de 2014. Click, acervo e cortesia: Grace Lagôa
A
empresária do Língua de Trapo, Marcinha Oliveira, esposa do meu amigo, Laert Sarrumor,
havia decidido nos empresariar, portanto seria um alento para a nossa banda, tão
carente de apoio gerencial, desde o início de sua história.
Uma das suas ações
iniciais ainda em 2014, fora tentar nos inserir na Virada Cultural de São
Paulo. Ela ainda não havia logrado êxito em nos vender nas unidades do Sesc, no entanto,
já sinalizava apresentar datas para cumprirmos em casas noturnas e um possível encaixe para participarmos de um festival
de música brasileira, a ser realizado nos Estados Unidos, provavelmente no estado da
Florida, para o ano de 2015.
O Pedra nos bastidores da emissora Brasil 2000 FM, em 4 de novembro de 2014. Click, acervo e cortesia: Grace Lagôa
Ainda houve mais uma reunião tensa em novembro
e a minha situação de saúde piorava, todavia, por não perceber a gravidade da minha situação, eu pensara
ser apenas um mal-estar súbito, a promover a oscilação da minha pressão arterial.
Eis o Link do arquivo da Rádio Brasil
2000 FM, para ouvir o programa citado:
Na última reunião interna da banda, ficara combinado que o Xando não faria mais nenhuma mixagem e
assim, as faixas restantes seriam produzidas em outros estúdios, com o Rodrigo Hid a se prontificar em tomar tal providência a partir do início de janeiro de 2015. O Xando Zupo esteve exaurido em
suas forças, certamente.
O áudio oficial de
"Furos no Sapatos" lançado como single, em 2014.
Eis o Link para ouvir
no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Lz8ThQmdmDE
O áudio
oficial de "Os Teus Olhos", lançado como single, em 2014.
Eis o Link
para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=hX88BqAAi2o
Anunciado o período de recesso geral de fim de ano, nós combinamos em nos falarmos a partir da
segunda quinzena de janeiro de 2015 para fechar esse disco e daí a tomarmos uma decisão sobre a
banda. Eu esperava chegar nessa conclusão do disco para lhes comunicar a minha
saída, apenas.
O áudio oficial de
"Segunda-Feira", lançado como single, em 2014.
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=0Nv5OVjfRdA
O áudio oficial de "Amém Metrópolis", lançado como
single, no YouTube.
Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=pZlwRJydv58
Pedra em ação no Centro Cultural São Paulo, em agosto de 2014. Rodrigo Hid em destaque, com Ivan Scartezini no canto esquerdo ao fundo e Xando Zupo, no canto direito. Click, acervo e cortesia de Bolívia & Cátia
Quando chegou o mês de janeiro de 2015, o Rodrigo Hid nos comunicou que havia fechado um
pacote com o estúdio Curumim, de propriedade de Fernando Ceah, vocalista, compositor
e guitarrista da banda, “Vento Motivo” e que o produtor argentino, Carlos Perren,
“Carlito” entre os amigos, e que trabalhava em várias produções nesse estúdio,
faria a mixagem das faixas restantes.
Quando eu recebi e-mails dele, Rodrigo, a nos mostrar os
primeiros resultados dessas mixagens, eu já estava a passar mal, por sentir fortes
dores abdominais, mas até então, atribuía tal incômodo a uma crise de gastrite, visto que
já havia passado por situação semelhante, em ocasiões anteriores e identificara o mesmo tipo de
sintoma, portanto, em princípio, busquei uma avaliação médica da parte de um
especialista em gastroenterologia e já imaginei o trâmite sugerido pelo
doutor, com endoscopia e posterior tratamento a base de medicação por um ou dois meses, e uma dieta a vista.
Já havia passado por isso, duas vezes, em 1997 e 2001.
Luiz Domingues no camarim do Centro Cultural São Paulo, em agosto de 2014. Click, acervo e cortesia: Grace Lagôa
Mas o meu caso se tornou dramático, quando
eu fiquei à mercê de um estado de icterícia fortíssima e mediante novos exames, tive que
me submeter a duas cirurgias de emergência para retirar cálculos da vesícula e do
pâncreas. Não vou me alongar aqui nessa particularidade, apenas registro que
corri sério risco de vida e saí de combate entre março e junho, completamente
debilitado pela doença e recuperação pós-cirúrgica.
O Rodrigo Hid foi o primeiro
componente do Pedra que soube do meu real estado de saúde, quando em uma noite de março,
me ligou para falar da banda e perguntar como eu me sentia e até então, todos
estavam cientes que eu estava doente, mas não sabiam da gravidade.
Por
coincidência, foi no dia em que me internei e ao saber do ocorrido ele foi imediatamente ao hospital e me viu
sob uma situação lastimável, no saguão do Pronto Socorro, antes mesmo de ser
diagnosticado e internado. O Xando me visitou na internação, cinco dias após as
duas cirurgias.
Em foto tremida, porém com ares psicodélicos, eis a minha presença com o Pedra em show realizado no Sesc Consolação de São Paulo, no ano de 2012. Click: Grace Lagôa
Para o leitor tomar conhecimento com maiores detalhes sobre o que me ocorreu e
como eu salvei a minha vida e pude concluir esta autobiografia (acrescento que cheguei em um ponto da debilidade,
em que a iminência da morte me aborreceu bastante, pela possibilidade concreta de
não conseguir concluir este texto, portanto, eu confesso esse receio que tive fortemente), o convido a ler um relato que
escrevi e publiquei em meu Blog nº 1, que não divulguei nas redes sociais, no entanto
fiz questão de escrever e publicar em nome do meu agradecimento aos médicos,
enfermeiros e técnicos de laboratório do Hospital São Paulo, que salvaram a
minha vida.
Eis o
Link do relato completo sobre o que me ocorreu:
Ao final
de maio, o Xando se ofereceu para me levar à primeira consulta ambulatorial do
instante da pós-alta e o meu estado de debilidade se mostrava enorme. Foi o primeiro dia em que eu saí
na rua desde que voltara para a minha residência, em 18 de abril de 2015, e sentia muitos incômodos,
além de estar bastante desorientado e fraco, sem massa muscular e com dificuldades motoras
para caminhar e me manter em pé. Sou-lhe muito grato por esse gesto de amizade
e solidariedade.
Luiz Domingues ao vivo com o Pedra, em show realizado no Espaço Cultural Gambalaia, de Santo André-SP, em 2014. Click, acervo e cortesia: Grace Lagôa
Por volta
de junho de 2015, uma reunião foi convocada para resolver o que seria do futuro da
banda, quando eu anunciei a minha saída e o Rodrigo Hid, ao afirmar estar desmotivado, também
anunciou a sua retirada. Xando e Ivan disseram ter vontade para seguir em frente e
o que combinamos ali, foi não fornecer nenhuma declaração pública momentânea e que em
breve o Xando lançaria uma posição oficial para anunciar o lançamento do disco "Fuzuê", em
caráter apenas virtual e somente então revelaria o final da nossa formação, mas não o da
banda, ao mostrar à opinião pública, que o Pedra seria reformulado e voltaria às
atividades o quanto antes e com novos membros ao lado de Zupo &
Scartezini.
Foi comunicada a situação da banda para a Marcinha Oliveira e
nessa altura, pelo menos duas datas em casas noturnas só dependiam de nosso aval
para serem fechadas, mas diante das circunstâncias, ficariam inviáveis, sine die.
Álbum "Fuzuê", versão na
íntegra do álbum. Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=1DrNgZ-1cJg
Sobre o álbum em si, apesar de todo os aspectos negativos que o cercaram em sua concepção,
por ele ter sido produzido com uma incrível morosidade pelas circunstâncias todas já descritas anteriormente, claro que como uma
obra artística de alta qualidade, possui os seus muitos méritos. Eis abaixo, a minha análise pessoal sobre o disco, faixa a faixa.
Rodrigo Hid no destaque da foto, a atuar com o Pedra, em agosto de 2014, no Centro Cultural São Paulo. Click, acervo e cortesia: Leandro Almeida
A banda
entra a executar um tema muito centrado no Funk-Rock setentista, com forte
identidade com as vinhetas de seriados policiais norte-americanos, daquela
década. O balanço é total, com destaque para os contra-solos e acentos funkeados,
a se destacarem as ótimas intervenções da parte do Xando Zupo e do balanço sensacional do clavinete conduzido pelo
Rodrigo Hid.
Após uma pausa e ótima evolução do Ivan Scartezini ao fazer uma bela frase
de bateria nesse interlúdio, entra o teclado “strings” (um sintetizador que simulava arranjo de
instrumentos de cordas e que fora super usado nos anos setenta), que é muito conveniente
pelo timbre a reforçar o som de vinheta da TV, dessa época.
E nesse instante, também começa uma locução nos
mesmos moldes, bem setentistas, como a anunciar a próxima
atração. Trata-se da minha voz nessa locução, ao fazer uma impostação e a imitar
acintosamente os locutores típicos da TV, daquela década. O texto literal dessa
locução assim ficou:
“Você acabou de curtir, Pedra II. A
seguir, Fuzuê. Com muita confusão, drama, comédia e drama. Estrelando: Rodrigo
Hid, Xando Zupo, Luiz Domingues e Ivan Scatezini”.
Pedra em ação no Centro Cultural São Paulo, em agosto de 2014. Rodrigo Hid à esquerda nos teclados e Luiz Domingues no canto direito. Click, acervo e cortesia: Leandro Almeida
“Furos nos Sapatos” (Xando Zupo/Marcelo “Mancha”)
Essa
canção ficou muito bem arranjada, não resta dúvida. Parece um Hard-Rock
setentista pelo seu riff primordial, mas contém inúmeros elementos agregados, que passam
pelo R’n’B, Pop e até a mostrar uma pitada do Funk-Rock setentista.
São ótimos os solos e apresenta um
refrão excelente, todo desenhado, principalmente pelo reforço excepcional dos cantores da
pesada: Renata “Tata” Martinelli e Marcelo “Mancha”. Rodrigo canta solo e Ivan
arrebenta em seu arranjo na bateria, que lembra bastante o estilo empolgante do grande,
Franklin Paolillo.
Usei o baixo o Fender Precision e a tradição do Pedra foi
mantida, com um timbre matador à altura desse instrumento clássico. No meu
arranjo, eu trabalhei com estilos híbridos, entre o Hard-Rock, Soul Music e
Jazz-Rock para cada trecho, ao mudar conforme a necessidade da canção e creio ter
deixado uma boa colaboração à banda. Letra muito boa criada pelo Xando.
“Queimada das Larvas nos Campos Sem
Fim” (Rodrigo Hid/Xando Zupo)
Já
comentei bastante sobre essa canção anteriormente, pelo fato dela ter sido
lançada como single em 2010. Acrescento que usei o Fender Precision, novamente, e
a sua presença ficou incrível.
A linha de bateria do Ivan é memorável, com uma
criatividade incrível. Xando brilha com uma guitarra plena de nuances nas bases
e solos e a sua escolha dos efeitos foi muito feliz.
A interpretação vocal do Rodrigo é
excepcional. Gosto bastante do refrão, bem ao estilo do Hard-Rock e gostava muito de
cantá-lo ao vivo. Na gravação, a minha voz está abaixo da voz do Rodrigo,
naturalmente, mas é bem nítida.
Ivan Scartezini em destaque, em um show do Pedra, realizado no Espaço Cultural Gambalaia, de Santo André-SP, em 2014. Click, acervo e cortesia: Grace Lagôa
“Só” (Xando Zupo/Rodrigo Hid)
Essa
canção também já foi comentada ao longo dos capítulos anteriores, mas cabe dizer que além da sua beleza harmônica
e melódica indiscutível, o solo do Xando é histórico pela sua condição melódica,
marcante.
O piano é sensacional, apesar da sua simplicidade e o meu Fender Jazz Bass, todo balançado à moda
do R’n’B clássico ficou belíssimo em seu timbre.
Nessa gravação, o meu timbre ficou tão
semelhante ao som habitual do grande, Dee Murray, baixista da banda do Elton John nos
melhores discos de sua carreira, nos anos setenta, que tal fator me orgulha muito, pois
eu sou um grande fã desse saudoso músico, que foi sensacional em sua atuação.
“Amém, Metrópolis” (Rodrigo Hid/Xando Zupo)
Essa
canção teria tudo para causar uma celeuma grande, pelo fato de ser um samba
explícito, ao prover nos reaproximarmos da MPB, da qual fôramos mais próximos no primeiro
disco da nossa banda.
Sob uma batida de violão frenética da parte do Rodrigo, que muito
se assemelhou ao estilo do excepcional, João Bosco, a banda vai atrás com uma
agressividade Rocker incrível, para causar uma feliz conjunção improvável, que somente os Novos Baianos
sabiam estabelecer, na cena da década de setenta.
Ivan brilha muito nessa faixa, ao conduzir uma batida de
samba bem frenética, portanto, para ir muito além do “telecoteco” básico, mas principalmente por feito uma pegada Rocker improvável e absolutamente,
incrível.
O Xando inventou uma série de efeitos com fantasmagorias na guitarra, para tornar a canção,
tensa (no bom sentido), e um arranjo dos teclados em uma espécie de refrão, foi uma
ideia genial da parte do Rodrigo, pois ele tirou da cartola um elemento inimaginável, eu diria.
Gravei
com o baixo Fender Precision e como resultado, o som ficou quase no limite da distorção, quase a chegar no estilo do John Wetton, em sua fase com o King Crimson. Gosto muito desse resultado, eu devo registrar.
A letra é forte, cheia de metáforas a criticar a política x corrupção, e escrita
muito tempo antes das forjadas manifestações de 2013, portanto, sem nenhuma sanha
oportunista.
Pedra em ação no Espaço Cultural Gambalaia, de Santo André-SP, em 2014. Click, acervo e cortesia: Jani Santana Morales
“Mira” (Xando Zupo)
Esse é um tema
sombrio, com evocações em torno do Jazz-Rock setentista e que exigiu bastante
concentração para ser executado, devido à sua complexidade instrumental. Gosto
do uso do compasso em 6/8, com tantos acentos em contratempo. As guitarras se mostram nervosas, ambas, de
Rodrigo e Xando.
O refrão tem uma forte dose de MPB, sem dúvida. O solo é cerebral e dissonante, elaborado pelo Rodrigo, muito a lembrar o estilo do genial, Robert Fripp, embora o
Rodrigo afirme que não pensara nessa sonoridade e artista em específico como uma inspiração, mas que apenas improvisara um solo com alta carga
dissonante (o que dá no mesmo, para quem conhece o som do King Crimson).
Sobre a letra em castellaño, eu já falei anteriormente. O Xando deu o
seu melhor, mas o sotaque foi inevitável a denunciar ser um lusófano a cantar
na língua hispânica, não houve jeito.
Usei o baixo Fender Precision com o seu timbre a se mostrar excelente e a escolha foi perfeita para uma música com tal agressividade explícita. Era
difícil cantar e tocar a linha do baixo simultaneamente no refrão, mas eu me acostumei e tinha
prazer em fazê-lo ao vivo, pois era (é) uma parte forte da canção.
“Os Teus Olhos” (Rodrigo Hid)
Eis uma
delicada canção com sabor de balada dos anos sessenta, lembra muito o som do
"The Kinks", em muitos aspectos. Tudo nela é bonito: harmonia, melodia, letra,
arranjo, interpretação, enfim, é uma canção irrepreensível.
A parte "B" com mudança
radical até no seu andamento, me lembra o som mineiro do “Clube da Esquina”, mas
também possui uma semelhança com o som do “Traffic”, esta, a se tratar de uma banda britânica que eu adoro, desde sempre.
Gravei com o
Fender Jazz Bass e gosto do som grave e encorpado, com um leve estalo em termos de médio-agudo.
Gosto dos contrasolos feitos pelo Xando e algumas alavancadas para a região
grave, mais sutis.
Contém uma bela base feita pelo Rodrigo Hid a elaborar arpejos com o simulador de caixa Leslie
na guitarra e mais contra-solos muito bons do Xando além de, claro, as
intervenções ao saxofone do superb, André Knobl que brilham intensamente,
incluso o naipe que ele criou com uma incrível voz adicional.
Gosto dos backing vocals
e fico contente pela minha voz estar nítida nessa gravação. A parte final ficou
com um balanço incrível e aí nesse ponto, que mais parece o som sofisticado e “jazzy” do grande,
“Traffic”.
A letra inspirada do Rodrigo, é bem poética e parece o estilo do poeta e
letrista, Fernando Brant.
Xando Zupo em ação com o Pedra, no Via Funchal de São Paulo, em 2006. Click, acervo e cortesia: Grace Lagôa
“Pra Não Voltar” (Xando Zupo)
Mais uma
faixa previamente lançada como single em 2010, se mostra excelente composição, com forte
característica centrada no Hard-Rock. Trabalho fantástico de guitarras do Xando Zupo em todos
os quesitos.
Gosto muito dos backing vocals, ao estilo Soul Music sessentista.
Ivan Scartezini arrebenta com uma linha de bateria, fortíssima. Gosto do interlúdio que
remonta bem ao "Led Zeppelin", da fase do LP “Presence”. Aprecio também o solo épico do Xando ao
final.
Nesta faixa, eu criei uma linha bastante agressiva e o Fender Precision ficou
ideal para imprimir tal linha mais contundente.
Acho o vocal solo do Xando Zupo, muito gritado, mas
ele teve os seus motivos pessoais para ter criado uma interpretação exagerada desse jeito.
“Luz da Nova Canção” (Rodrigo Hid/Cezar de Mercês)
Uma das
mais belas canções do álbum, senão a mais bela e para ir além, uma das melhores
criações da carreira do Rodrigo Hid em sua trajetória inteira até aqui (ele vai
criar outras tão boas quanto, eu tenho certeza, no futuro).
Tudo aqui é belo
ao extremo. Um blues/R’n’B ao estilo dos anos cinquenta & sessenta, parece
uma canção composta pelo Ray Charles, de tão linda que ficou. Melodia e harmonia
incríveis, tem na letra, escrita pelo mestre, Cezar de Mercês, um outro trunfo
fantástico.
“Possoverumapálidaluznafacedaescuridão,aluzdanovacanção”... essa frase por si só, diz tanto ao meu coração sessentista,
que creio dispensar explicações. Aliás, nem devo, pois, a metáfora fala por si
só.
O solo é incrível da parte do Xando, a bateria é maravilhosa do Ivan e o meu baixo a soar
robusto, com o Fender Jazz Bass, nessa faixa eu me senti o Donald “Duck” Dunn a gravar com o Otis
Redding... sonho meu, hein?
E a interpretação vocal do Rodrigo Hid é tão esfuziante
que arranca lágrimas. Parece o Paul McCartney a cantar: “Oh Darling”, ao extrair a
sua voz das entranhas. Destaco também a intervenção de metais (André Knobl e
Paulo Roberto Pizzulin), comandados pelo fantástico, André Knobl, um saxofonista
da pesada.
Pedra no Via Funchal em 2006, coma minha presença, Luiz Domingues no destaque e Rodrigo Hid, no canto esquerdo, aos teclados e a cantar solo. Click, acervo e cortesia: Grace Lagôa
“Segunda-Feira” (Xando Zupo)
Também já
falei sobre essa canção, anteriormente durante a narrativa. Acrescento apenas que o arranjo é
muito bom, pleno de nuances. As guitarras contam com muitos efeitos e todos bem escolhidos e o som
dos teclados, corresponde no mesmo nível.
Gosto das partes cantadas em duo entre Hid e Zupo, bem
concatenadas.
Usei o Fender Precision e tive uma certa inspiração do estilo do saudoso, Berry Oakley, que me ocorreu fortuitamente como inspiração,
embora a canção esteja mais a verter para o R’n’B “modernoso”, na linha do “Jamiroquai”, do que
para o “Southern Rock”, do “The Allman Brothers Band”, mas eis que a minha linha caiu bem, ao meu ver.
Eu já falei
bastante sobre essa canção que remonta ao capítulo do “Sidharta”. Cabe
acrescentar aqui que ela começa sob um “fade in apodrecido” para aludir ao som
dos radinhos de pilha e “abre” em seu decorrer, a clarear com a música em curso.
Gosto
imensamente dessa solução que o Rodrigo achou para rearranjá-la ao evocar o
R’n’B sessentista clássico, e por lembrar demais o som de “Joe Cocker”, “Leon
Russell”, “Stone the Crows”, "Cold Blood" etc.
O piano é ultra balançado, ao estilo do Chris
Stainton, sem dúvida. Gosto muito dos desenhos dos contra-solos criados pelo
Xando. Bateria boa no balanço, junto com o baixo e o meu Fender Jazz Bass ficou com
um timbre excelente, até mesmo com um estalo de médio-grave a mais da conta.
“Cuide-se Bem” (Guilherme Arantes)
Outra canção já
amplamente comentada anteriormente. Bem, essa gravação ficou bastante
enriquecida pelo arranjo. Piano e órgão Hammond muito bem colocados, e o baixo bem
alinhavado com a bateria. Usei Fender Precision e ficou com um belo peso.
Destaque para os solos do Xando, ambos excepcionais e que ficaram muito
marcantes para esta versão. Lembra o “Led Zeppelin” em “In my Time of Dying”,
com toda a pompa e circunstância.
Backing vocals emocionantes ao final, só
para seguir a beleza melódica criada pelo mestre, Arantes.
Xando Zupo em foto informal, no dia das filmagens da parte dramatúrgica do vídeoclip da música: "Sou Mais Feliz", em 2006. Click, acervo e cortesia: Grace Lagôa
Em julho,
o Xando lançou o álbum, “Fuzuê”, em sua forma digital, com uma ilustração feita para uma capa
virtual, assinada pelo Diogo Oliveira, para seguir o padrão das ilustrações que
fizera em 2014, para lançar os quatro
singles.
O disco saiu sem as músicas que o Rodrigo Hid havia mixado no estúdio Curumim,
a contar com os préstimos de Carlito Perren, produtor argentino. Neste caso, o Xando nos mostrara
na reunião de junho, que as mixagens feitas sob tal circunstância excepcional,
haviam destoado das demais, feitas no estúdio Overdrive, por ele mesmo, portanto,
realmente ficaram sem condições para figurarem conjuntamente.
No entanto, houve um outro
componente nessa história, que foi a contrariedade estética para com as canções em
si e podemos acrescentar o Hard-Rock, "Ultrapasso", nesse rol de preteridas.
Paciência, espero que se lance a canção, "Ultrapasso", um dia, mesmo que
se descarte a minha letra, e o vocal do Rodrigo, por conseguinte.
E espero que o
Rodrigo lance as quatro músicas que ficaram sob a sua responsabilidade para
mixar, em um eventual disco solo, mesmo que descarte a gravação do Pedra e as grave
novamente com outros músicos. Mas sinceramente, eu gostaria que as cinco canções
citadas fossem lançadas, a conter o baixo que eu gravei.
Haveria uma
data em agosto de 2015, fechada para o Pedra no Café Teatro Piu Piu e o Xando
queria fazer dela, a despedida oficial da formação e o lançamento do disco, com
direito a uma filmagem.
Aprovamos a ideia e nos comprometemos todos a cumpri-la. Mas
quando se aproximara a data e os ensaios precisaram ser marcados, o Rodrigo
nos comunicou que seu pai sofreria uma cirurgia e a sua recuperação ocorreria com ele mesmo, Rodrigo, a assumir os cuidados para com ele, Tufi Hid.
Mesmo assim, a data estava em pé, mas com o cancelamento de ensaios por conta
dessa dificuldade familiar que ele enfrentaria, se chegou em um ponto onde só
haveriam dois ensaios e talvez na prática, só houvesse apenas um. Mesmo com todos
a se prontificarem para relembrar as músicas individualmente, ao fazerem a "lição de casa",
um ensaio somente seria inconveniente e assim, a data foi cancelada.
Em janeiro de 2016, o Xando anunciou o lançamento de duas músicas em caráter solo e o fim oficial do Pedra, simultaneamente.
Logo em seguida a essa comunicação de disco e fim da formação, o jornalista, Dum de Lucca, lançou uma matéria em seu blog "Jukebox", para repercutir sobre tais fatos.
Eu observei que houve bastante repercussão no Blog citado em si, e também pelas Redes Sociais e assim, o Dum se mostrou curioso sobre o porquê do fim da formação, ao especular a respeito de uma possível briga entre nós, os ex-membros.
Eu preferi não me manifestar para não causar mais especulações e o tempo tratou por apaziguar os ânimos mais acirrados. Se um dia ele me perguntar, eu respondo tranquilamente que não houve briga alguma, apesar de ter havido muitas divergências em termos de mentalidade entre os ex-componentes
Nota em adendo: infelizmente receio que tal pergunta jamais será formulada pelo referido jornalista, pois Dum de Lucca infelizmente nos deixou ao final de 2016, após sofrer um mal-estar muito grande, decorrente de um câncer ultra agressivo que o surpreendeu por conta de estar muito avançado, sem chance de reversão por parte dos médicos que o assistiram. Lastimo muito, pois era um ótimo jornalista & crítico musical, além de uma pessoa do bem.
Assim foi o final da minha
história com o Pedra e alguns meses depois, foi anunciado o final oficial da própria banda,
desta vez, sob caráter definitivo.
Eu, Luiz Domingues no destaque, com Ivan Scartezini ao fundo. Pedra no Sesc Belenzinho, em fevereiro de 2013. Click, acervo e cortesia: Leandro Almeida
No próximo capítulo, eu tecerei as considerações finais e os devidos agradecimentos.
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