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sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Pedra - Capítulo 3 - Vídeo-Clip e Primeiros Sinais de Repercussão - Por Luiz Domingues

     O excelente e tarimbado diretor & editor, Eduardo "Xocante"

O Eduardo Xocante não interferiu na escolha da música para a filmagem do nosso clip. A liberdade artística foi inteiramente nossa. Nesse sentido estávamos em dúvida entre escolhermos "Sou Mais Feliz" ou "O Dito Popular". A escolha pela canção, "O Dito Popular", foi por que pensamos que algo mais impactante e ritmado (além da questão do jogo de palavras dessa letra, em específico), seria muito bom para se usar como uma primeira inserção audiovisual a ser veiculada através da mídia.

Tínhamos esperança de que a contundência da letra, aliada ao jogo de palavras com ditados populares, realmente pudesse se popularizar além dos nossos limites naturais, dentro da projeção underground. Daí a escolha. 

Definida a música, a escolha de um estúdio para filmarmos foi orientada pelo Eduardo Xocante, que conhecia diversos estúdios em São Paulo, graças aos muitos anos em que trabalhara como diretor de comerciais de TV, vídeoclips para artistas musicais e diversos outros trabalhos na área dos audiovisuais.

Ele optou por um estúdio com algumas unidades espalhadas pela cidade de São Paulo e coincidentemente, com uma delas situada na esquina da rua onde se localizava o estúdio Overdrive, o "QG" do Pedra, com a sua transversal. Não dependia de nós, escolhermos esse estúdio em específico, apesar da comodidade de estarmos baseados a menos de cem metros dele, sem ao menos precisarmos atravessar a calçada. Essa decisão dependeu da agenda do estúdio.

Quase fomos agendados para usarmos uma unidade situada no bairro das Perdizes, na zona oeste de São Paulo, mas tiramos a sorte grande, enfim, pois nos marcaram para que trabalhássemos no complexo cinematográfico localizado naquela mesma esquina, ainda bem! 

O Eduardo Xocante minimizou custos, por que simpatizara conosco e assim, "vestiu a nossa camisa", como se diz popularmente. Porém, mesmo assim, houveram despesas extras que tivemos que arcar, como o aluguel desse estúdio, por exemplo. Toda a equipe de iluminação, filmagem e o diretor de fotografia (Aníbal Fontoura), foram profissionais contratados por suas indicações. Ou seja, um pessoal tarimbado e acostumado com todo o tipo de trabalho audiovisual, alguns dessa equipe, inclusive, familiarizados com o cinema autoral.

Viviane Marques é a moça do meio, no uso de uma blusa escura, nessa foto rodeada por Ana Cançado, e o artista plástico, Erickson Britto, Click: desconhecido

Viviane Marques atuou como codiretora e produtora associada.
O Xando Zupo levou um pedaço do PA do Overdrive para alimentar o áudio guia, e não o tempo todo, mas durante um certo período, o nosso técnico, Renato Carneiro, esteve presente a nos fornecer suporte no áudio.

Em contraste com esse esforço todo despendido em torno do vídeo, a questão visual nunca foi um ponto forte na carreira do Pedra em termos de figurino, principalmente. Nesse quesito, jamais tivemos um consenso sobre essa identidade uniforme para a banda e eu lamento muito isso, pois certamente é um quesito importante na carreira de qualquer artista, seja lá de qual vertente ele pertença. 

Sendo assim, para atuar neste vídeo, eu me produzi com um visual bem próximo do que estava acostumado a usar, desde minha estada na formação da Patrulha do Espaço, e imediatamente anterior ao surgimento do Pedra, ou seja, a me coadunar com a estética do Rock a la décadas de 1960 & 1970. 

Rodrigo e Xando foram para o set de filmagem de uma maneira mais despojada, ao trajarem jeans e camisetas. Eu devo salientar no entanto, que o Xando foi criativo ao mandar bordar uma frase emblemática da letra da canção: "O Dito Popular", na sua camiseta.

A frase que ele bordou em sua camiseta, foi: "Tá Revoltado? Toma Partido!" 

Achei a ideia genial, pois se tratou mesmo de um bordão sob forte apelo sociopolítico e com conotações culturais implícitas, que haveria de conferir um toque de classe sob o aspecto artístico, a realçar uma banda que se propunha a dizer algo relevante, em contraste com a mediocridade atroz dos artistas que dominavam o mainstream daquela época e nada diziam de realmente relevante. Conjuguei o verbo "ser" no futuro do pretérito simples, pois eu lamento muito que um trabalho desse nível não tenha reverberado, como deveria.

O Rodrigo em outras cenas, optou por usar uma camiseta exótica, que a produção lhe ofereceu (ao conter a estampa do super-herói da Marvel, "Wolverine", dos "X-Men"). E também usou um paletó de couro verde (este de seu acervo pessoal), que lhe deixou mais elegante, digamos, em cenas pinceladas que foram filmadas posteriormente.

Nessas cenas alternativas, eu também troquei de figurino, mas mantive o espírito setentista de meu visual. O meu cabelo estava bem comprido na ocasião e ficou bonito o efeito mediante luz e ventilação artificial a lhe conferir o movimento esvoaçante. 

Já o Alex Soares, infelizmente, não se coadunava com as mesmas essas ideias e dessa forma, ele se vestiu de uma forma destoante, sem nenhuma identidade com uma tendência definida do Rock, sob qualquer tendência. E obviamente essa quebra de identidade fora resultante da nossa falta de um diálogo franco, sobre esse aspecto em nossas reuniões internas. 

Diante do impasse, ficou definida uma subliminar mensagem absorvida em torno de que cada um de nós faria o melhor possível, dentro de suas concepções pessoais e ponto final.

A ideia do megafone no início, foi improvisada. Achamos esse artefato solto no camarim que ocupamos e alguém sugeriu o seu uso ao Xocante, que adorou a ideia. Sinceramente, não me lembro quem foi o autor da iniciativa, só digo que a ideia foi boa e ficou bem condizente, pois ao fazer uso desse instrumento cênico, se passou a insinuação de haver uma "palavra de ordem", como é usual em meio a uma passeata de protesto, portanto uma ideia sugerida na letra da canção ("está revoltado? tome partido").
A arrumar o nosso backline no set de filmagem, bem cedo, às 8:00 horas da manhã. Foto de Grace Lagôa

Chegamos bem cedo ao estúdio e preparamos o equipamento como se fosse para tocarmos ao vivo.

Sem o figurino, mas com tudo ligado e a passar o som verdadeiramente, ao tocar ao vivo, mas a ideia de se filmar verdadeiramente ao vivo, foi descartada logo a seguir... foto de Grace Lagôa

Tivemos a iniciativa de ligar tudo e tocar de fato, pois foi cogitada a ideia de não dublarmos, mas tocarmos ao vivo, embora o áudio a ser usado, evidentemente, na edição final haveria de ser o áudio de estúdio, com a sua qualidade técnica, assegurada. 

Sob o ponto de vista cênico, teria sido muito mais conveniente para nós nos sentirmos melhor, pois como músicos e não atores, teria sido muito mais conveniente tocarmos e cantarmos de fato para termos uma performance gestual verdadeira. Entretanto, essa ideia foi vetada, pois outros estúdios daquele complexo cinematográfico estavam a serem usados por outras produções, com filmagens de comerciais para a TV e dessa forma, reclamações eclodiram sobre o barulho que produzimos e os atrapalharam.

Fachada do Cine Estúdio, localizado no bairro da Vila Mariana, na zona sul de São Paulo
Lembro-me que em um dos outros estúdios anexos, estavam a gravar um comercial de uma marca de sabão em pó, bem famosa, aliás, e eu tive o desprazer de dialogar com o arrogante diretor desse comercial, visto que ele "exigiu" usar o melhor camarim do complexo e eu tive o azar de chegar nesse camarim, ao transportar os meus pertences para ocupá-lo, bem no momento em que esse prepotente senhor, estava a chegar, também.
                    Daniel "Kid" Ribeiro e Phellipe Del Mestre                  

Contratamos dois roadies para ajudar a transportar o equipamento e montá-lo. Daniel "Kid" Ribeiro, que foi roadie da Patrulha do Espaço por muitos anos, enquanto eu e Rodrigo Hid lá estivemos, e um rapaz indicado por ele mesmo, Daniel, chamado: Phellipe Del Mestre, que aliás só fez esse trabalho com o Pedra.

Frame do Clip, pronto, com a minha figura, Luiz Domingues, em destaque

As primeiras tomadas filmadas foram com a banda a tocar de forma completa. Por uma questão funcional da filmagem, o meu equipamento ficou longe de minha presença, por isso, eu apareço (falo sobre o clip finalizado), o tempo todo com o equipamento do Xando Zupo, às minhas costas. 

Fizemos várias tomadas a tocarmos a música e posteriormente o diretor de fotografia, Aníbal, filmou sem tripé, alguns detalhes do Alex Soares, à bateria, individualmente. Aliás, são os primeiros frames do vídeo finalizado, com o close no pé dele, Alex, a acionar o bumbo da bateria.

No camarim do Cine Vídeo, a aguardar a chamada para o início das filmagens

Depois, em um outro ambiente, horas depois, o Xocante filmou o Rodrigo, nas cenas onde ele usou o megafone. Nessa hora, o Rodrigo foi brilhante na sua performance gestual, ao se libertar de qualquer amarra da timidez. Lembro-me que o Xocante, como diretor, lhe passou instruções nesse sentido, mas o Rodrigo extrapolou e foi muito feliz na sua atuação.
E vou além: o Xocante vibrou quando viu essa manifestação e aos berros, pediu para o cinegrafista continuar a filmar, para que não se perdesse nenhum detalhe.
A produtora e codiretora do clip, Viviane Marques, a fazer claquete no dia da filmagem, no estúdio Cine Vídeo. Click: Grace Lagôa 

A Viviane também vibrou e exclamou ao Xocante: -"ele (ao se referir ao Rodrigo) está a explodir!", no uso daquele típico jargão de quem lida com audiovisual e se refere a uma grande performance da parte dos atores.
Foi um momento mágico de sua interpretação, que não poderia ser perdido de forma alguma. Nessa época, o Rodrigo estava casado com a cantora & atriz, Lu Vitaliano (Vitti), que por ser também conhecedora da matéria, muito o incentivou a se soltar.
Na primeira foto, Rodrigo Hid no camarim do estúdio de filmagem. Na segunda foto, mediante o flagrante de uma tomada a ser executada, o próprio diretor, Eduardo Xocante, se pôs ele mesmo a trabalhar como cinegrafista. Click: Grace Lagôa

E a Lu Vitaliano também percebeu o momento de explosão de seu então marido e ao assistir pelo monitor do Xocante, ela também embarcou na mesma euforia com os dois diretores.

Lu Vitaliano (Vitti), no dia dessa filmagem que estou a descrever. Click: Grace Lagôa

Confesso, eu estava a ver pelo monitor essa filmagem individual do Rodrigo e também e tive arrepios. Achei a postura dele nesse momento, no padrão de um artista com grande envergadura e relevância, daqueles que tem o que dizer e extravasam a cada gesto, os múltiplos significados e significantes expressos pela arte. Ou seja, um aspecto vital vindo da parte de um grande artista. 

Houveram também algumas tomadas com a banda completa, sem o uso de instrumentos, ao estabelecer uma pequena performance gestual e interpretativa. 

Em uma determinada cena, fomos colocados no enquadramento postados em pares e a olharmos um para o outro, berrávamos trechos contundentes da letra, nos seus momentos específicos a insinuar uma "passeata de protesto", sob a orientação do diretor, Eduardo Xocante. Desses frames registrados, algumas fotos foram usadas no encarte do primeiro CD. 

Aliás, todas as fotos do encarte e contracapa, são dessa filmagem, ou da sessão de fotos que fizemos após o término da filmagem, ao aproveitar o uso do estúdio, com a luz cenográfica especial e o equipamento ali colocado.

E houveram também cenas individuais de cada componente a tocar isoladamente. Tais tomadas foram aproveitadas em uma edição bem rápida, principalmente na hora dos solos de guitarra e ao final da música (eu apareço quase ao final, um pouco antes do "slow motion" final, com o Rodrigo a encerrar o seu vocal).

Por ter sido filmado individualmente, esses frames foram aproveitados na edição final do clip, durante a execução do instante dos solos da canção

Como eu já disse, a Grace Lagôa, fotógrafa profissional e uma das melhores do país, especializada em shows de Rock, cobriu todo o processo. E ao final, ela fez uma rápida, porém excelente sessão de fotos posadas da banda, a visar termos material de divulgação para alimentar a mídia. 

A foto da contracapa do álbum, "Pedra I", é justamente proveniente dessa sessão, e a ausência do Alex, nessa capa, visto que ele esteve originariamente junto de nós e foi suprimido, será esclarecida em um momento mais adiante desta narrativa, no seu devido tempo.

Para encerrar este relato, a ideia do clip ter sido simples em sua proposta, foi pela opção de ser funcional, mais barato no seu custo e que servir-nos-ia como um primeiro agente promocional, para mostrar a nossa imagem, sem subterfúgios. 

Uma filmagem em forma de entrevista foi feita no camarim antes da cinematografia começar, ainda pela manhã. O objetivo foi contar com esse material como uma mini apresentação da banda, inclusive com até o produtor, Renato Carneiro a prestar um depoimento. 

Uma rapaz ligado à MTV, amigo do Xocante, chegou a assistir a filmagem do clip por um tempo nos bastidores e esse jovem foi quem pediu essa filmagem, para que tal peça fosse levada à cúpula da emissora.

O momento da entrevista, que supostamente seria veiculada pela MTV, no camarim do Cine Vídeo. A usar uma camiseta cor de laranja, o nosso produtor de áudio, Renato Carneiro também participou da entrevista, a opinar

Tal material foi cogitado para ser veiculado pela MTV. Mas essa pessoa nunca mais nos deu tal retorno, portanto, essa mini entrevista nunca foi veiculada em lugar algum e que eu saiba, não vazou pela internet. Todos os membros da nossa banda possuem cópias em DVD, desse material. 

Aliás, logo mais eu falarei sobre a nossa tomada de consciência em relação à MTV, depois que for abordado o processo de edição do clip nesta narrativa e que renderá histórias detalhadas, certamente. Há mais algumas considerações a serem feitas sobre a filmagem do clip:

1) Sim, chegamos cedo ao estúdio. Encontramo-nos na casa do Xando Zupo por volta das sete horas da manhã e às oito horas, já estivemos com a nossa parte (equipamento e figurino), pronto para a ação no set de filmagens. As respectivas equipes de filmagem e iluminação, já estavam lá no estúdio, aliás, ainda bem antes desse horário. Tal prática seguiu uma praxe e faz parte, portanto, das normas sindicais desses trabalhadores de cinema que começam sempre a trabalhar muito cedo.

2) Contudo, os ajustes de câmera e luz foram bem demorados, mas dentro da normalidade para esse tipo de trabalho. Acho que as primeiras tomadas só começaram depois das onze horas da manhã.


3) Ao todo, acho que foram cerca de seis horas de trabalho, a contar com uma pausa para o almoço.
4) A sensação interna foi a melhor possível. Estávamos todos animados, com exceção do Alex Soares, que pareceu estar não muito satisfeito com a situação. Tanto que logo após o término das filmagens, fizemos uma sessão de fotos com a Grace Lagôa e ele quis ir embora rapidamente, ao alegar ter um compromisso pessoal.

Alex Soares no camarim do estúdio cinematográfico. Click: Grace Lagôa

Como uma chuva muito forte caiu ao final da tarde, eu lhe ofereci carona, pois ele estava sem o seu carro, que ficara  na posse da sua esposa.

5) Foram muitas as recordações observada nesse dia. A euforia das esposas do Xando e do Rodrigo (Grace e Lu), a animação que o Xando demonstrara pessoalmente, a explosão de criatividade e expressão que o Rodrigo apresentou durante a filmagem, a beleza das tomadas que víamos no copião a cada tomada encerrada, a simpatia do Eduardo Xocante que era (é) um diretor sem nenhuma afetação (fator raro nesse meio, inclusive), enfim, foi por aí o panorama.

O Pedra reunido, com Eduardo Xocante e Vivi Marques (ambos ao centro, perfilados entre os componentes da banda), em um dia de ensaio da banda, em que eles nos visitaram, dias antes da filmagem ser efetuada. Click: Grace Lagôa

6) Estávamos em nove pessoas na comitiva do Pedra. A equipe de filmagem devia conter seis pessoas (Eduardo Xocante, Vivi Marques, o diretor de fotografia, Aníbal Fontoura, o cinegrafista e dois assistentes). 

A equipe de iluminação deve ter reunido cerca de quatro a cinco pessoas, não me recordo com precisão. E como observadores, houveram as presenças do filho pré-adolescente do Xocante, João (que devia ter onze anos de idade, naquela época) e os dois filhos gêmeos da namorada do Xocante à época, a atriz, Claudia Cavalheiro, meninos com treze ou quatorze anos de idade, mais ou menos, nessa ocasião.

No camarim, Eduardo Xocante, seu filho João (a usar calça cinza), e os filhos de sua namorada (a usarem calças verdes provenientes de um uniforme escolar).

Finalizada a filmagem, o nosso contato com toda a equipe se encerrou. Dali em diante, só manteríamos contato com o Xocante e a Vivi Marques. Isso por que o Xocante tomaria as providências posteriores da finalização do clip. 

O primeiro passo nesse sentido, foi a revelação da película, visto que filmamos em 16 milímetros, com película de cinema. Logo mais, eu avanço nessa perspectiva para contar sobre como se deu o processo de finalização do clip.

Encerradas as filmagens, ficamos na expectativa do prosseguimento das finalizações. O objetivo inicial foi a revelação do filme, visto termos filmado em película de cinema, na medida de dezesseis milímetros. Por sugestão do Xocante, o processo a envolver a revelação, telecinagem e edição, foram feitas na produtora Casablanca, um estúdio cinematográfico renomado em São Paulo.
Eduardo Xocante com a câmera na mão, no canto direito, o diretor de fotografia, Aníbal Fontoura

O Xando Zupo foi o primeiro a assistir o primeiro "copião" bruto revelado. O Xocante entrou em contato com ele, Zupo, e pediu para que este conferisse essa etapa da finalização do material.
Lembro-me bem da reação entusiasmada do Xando, que prontamente ligou-me. Ele se mostra eufórico por ter visto o copião revelado sob uma tela com alta definição. E claro, após os demais processos técnicos, a tendência seria mesmo do clip ficar maravilhoso, visualmente a falar. No processo de edição, o Xocante novamente nos convidou a irmos lá nos estúdios da Casablanca, para acompanharmos o trabalho de edição.

A cineasta, Vivi Marques e eu, Luiz Domingues, em foto no camarim do Cine Vídeo, no dia da filmagem. Click: Grace Lagôa

Cautelosa, a coprodutora Vivi Marques, pediu para que não comparecessem todos os componentes da banda. Eu diria que ela fora prudente em primeira instância, para evitar atrapalharmos a concentração do Eduardo Xocante na ilha de edição. 

Contudo, na prática se revelou como uma medida de cautela excessiva, pois não éramos mais adolescentes imberbes no recreio da escola (no meu caso, então, há muito tempo), portanto, claro que não tumultuaríamos. 

Culminou que fomos em trio: eu (Luiz), Xando e Rodrigo. E ali nos mostramos muito entusiasmados por verificarmos o trabalho de edição a apontar para o padrão de qualidade que o clip estava a ganhar em sua resolução final.

E lá na sede da Casablanca, o Xocante havia mostrado também o copião do nosso clip a uma pessoa que detinha contatos no mundo fonográfico. Essa senhora ficou eufórica com o nosso som e nos abordou no estacionamento da produtora cinematográfica para dizer que gostaria de nos apresentar ao produtor musical, Thomas Roth, que segundo ela, era seu amigo pessoal e este possuía um selo, no qual muito provavelmente poderíamos lançar o nosso primeiro CD.

Essa sensação de que as portas começavam a se abrir de uma forma tão espontânea, foi deliciosa, certamente, todavia, experientes, não mudamos os nossos planos e seguimos em frente, sem deixar que a euforia desmesurada. 

O clip ficou de fato, maravilhoso. Com uma bela fotografia e permeado por uma edição muito caprichada, apesar de possuir uma resolução estética simples, a conter apenas as imagens da banda a tocar e poucas inserções extras, o resultado final ficou muito bom.

Por se considerar que dependíamos da agenda da produtora, Casablanca, em sincronia com a do Xocante, a finalização demorou cerca de vinte dias, mais ou menos para termos o clip pronto para ser encaminhado às estações de TV. Uma pequena falha na inserção do áudio, pregar-nos-ia uma peça, conforme relatarei a seguir.
Abaixo, assista o clip oficial da música: "O Dito Popular"

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=FEoh4hXsEJc

Ficamos muito eufóricos com o resultado final da edição do vídeo, mas nem percebemos que houve uma falha na inserção do áudio, na cópia que levamos à MTV. Essa falha causar-nos-ia um problema, logo mais adiante.
Por ora, planejamos enviar o material às estações de TV e começar imediatamente a veicular tal clip, o quanto antes. Todavia, ainda mantínhamos uma visão distorcida sobre os meandros que regiam a difusão cultural, principalmente em termos de bastidores da TV. 
Sobre a relação com a TV em si, o Xando Zupo detinha a sua lembrança mais recente do tempo de sua ex-banda, o Big Balls, quando através desse trabalho, chegou a ter uma exibição razoável na MTV. Eu também vinha de uma experiência acolhedora nessa emissora, igualmente nos anos noventa, visto que a minha banda naquela década, Pitbulls on Crack, também tivera uma boa veiculação por tal estação.

Mas os tempos haviam mudado drasticamente e não notamos que teríamos nestes novos tempos, uma resistência feroz baseada na mentalidade reinante, daquele instante pós-ano 2000. 

Em outras estações, mantínhamos esperança em conseguirmos uma abertura na TV Cultura, pela via do programa: "Alto Falante", este, a se tratar de uma produção da Rede Minas, retransmitido pela TV Cultura de SP e que costumava enfocar a cena do Rock independente. E nas TV's abertas, sabíamos que tínhamos zero % de chance, pelos motivos óbvios de sempre.

Renato Carneiro a demonstrar contrariedade pelo semblante fechado nessa foto acima, mas ele era (é) sempre bem-humorado, na verdade! Click: Grace Lagôa 

Lembro-me que o Xando Zupo foi acompanhado do Renato Carneiro à MTV e assim foi entregue o material para tal emissora. Eles foram atendidos por subalternos, sem chance para conversar com ninguém mais graduado. 

Isso já representara um recrudescimento nas relações, pois nos anos noventa, ainda havia um trânsito livre para conversar com a produção. Contudo, mesmo assim, não suspeitaram que o trâmite estivesse tão mais difícil por lá. Só perceberíamos a dificuldade cerca de um mês depois, quando fomos avisados que o nosso clip estrearia no início de agosto de 2005, e dali em diante...

Essa, aliás, é uma história triste que contarei posteriormente, no caminhar da cronologia desta narrativa.
Por ora, digo apenas que estávamos muito satisfeitos com o resultado final do clip. Extremamente bem fotografado, com boa iluminação, edição frenética e caprichada, feita pelo Eduardo Xocante (um padrão bem noventista e típico da MTV, portanto), além de conter belas tomadas da banda e várias individuais. A música era (é) ótima, a banda idem, o refrão forte, a letra boa, e com mensagem clara e o clip caprichado... como achar que não agradaria a audiência?

Inicialmente o foco foi a MTV, mesmo por que ao dar entrada na emissora, o Xando teve que preencher uma ficha, para se comprometer em não veicular o clip em outra emissora, sob um prazo de trinta dias até a estreia na MTV e assim assegurar a exclusividade dessa emissora. 

Com isso, ficamos a esperar a confirmação da data de estreia para só depois tentarmos outros espaços televisivos. Trinta dias a partir da primeira exibição foi o compromisso que firmamos.

Isso representou um atraso para a banda, pois amarrara as nossas possibilidades de espalhá-lo rapidamente em outros veículos, sem a certeza de que seria exibido ali com a constância que desejaríamos. Estávamos à mercê dessa emissora, com essa cláusula absurda de exclusividade e sem contrapartida, pois não houve garantia alguma da parte da emissora de que exibisse o nosso vídeoclip. Eu não sei exatamente quais seriam as sanções. Quero crer que no máximo, reservar-se-iam ao direito de não exibir mais o nosso clip.

Isso por si só, já teria sido um absurdo, ao se revelar como uma manifestação de prepotência para dizer o mínimo, todavia, diante dos fatos se tornou uma verdadeira piada de mau gosto, conforme eu relatarei a seguir. 

Então a MTV sinalizou em seu site, que o nosso vídeo estrearia no dia 1° de agosto de 2005, no horário de quatorze horas. Ficamos animados, é claro, apesar dos pesares. Ainda não tínhamos o CD pronto, mas certamente que um belo clip produzido em película de cinema e com uma música empolgante, dar-nos-ia uma repercussão inicial excelente, a preparar o terreno para o lançamento do CD.

No dia dessa estreia, haveria ensaio do Pedra, pois fora uma segunda-feira, dia em que ensaiávamos, normalmente. Por conta disso, eu cheguei um pouco mais tarde, para poder gravar a nossa participação na MTV, ainda a usar a velha fita VHS como ferramenta.

Quando o nosso clip começou a aparecer na tela, eu percebi de imediato que o volume estava baixíssimo. Descartado algum problema técnico com o meu monitor de TV, eu me chateei de imediato, pois fora inadmissível se colocar no ar um clip com um áudio desse padrão, praticamente a sabotar a aparição da banda. Em princípio, eu fiquei muito chateado, pois na somatória da minha carreira inteira, já bem longa naquela altura, não fora a primeira vez que uma chance maior de exposição midiática me escapulira pelos dedos, por conta de um erro de ordem estrutural crasso ou por sabotagem.

Fui para o ensaio chateado com essa ocorrência, ao pensar nas tantas vezes em que eu fui prejudicado na carreira, com ocorrências semelhantes e nesse instante a amargar mais um revés para a coleção de infortúnios. Contudo, assim eu que cheguei ao estúdio Overdrive, o clima foi outro. Os meus colegas estavam a comemorar efusivamente a estreia do clip, mediante o tilintar de taças de vinho etc.

Achei estranho que o fato do áudio do clip ter sido muito prejudicado na exibição da TV, não os tenha incomodado. Talvez (provavelmente tenha sido isso), eles relevaram o fato, por considerarem que a seguir bastaria levar uma outra cópia com o áudio corrigido para o referido canal e tudo bem, ele continuaria a ser exibido mediante a sua qualidade sonora máxima etc. e tal. 

O Xando comentou comigo que já havia ligado para o Renato Carneiro e ambos haviam combinado de promover tal correção técnica sob uma nova cópia, com urgência. 

Todavia, internamente eu sabia que não haveria outra chance na MTV, pois se tratou de um outro tempo em curso e assim, todo o esforço para produzir e lançar o clip, praticamente se esvaíra ali. 

E não deu outra... soubemos que ele foi exibido mais uma vez na madrugada daquele mesmo dia (e com aquele áudio defeituoso), e nunca mais!

Dessa forma, logo que notaram a realidade, os demais membros do Pedra ficaram chateados com essa postura esdrúxula da parte da MTV, que realmente estava completamente desinteressada em difundir música, há tempos. 

Lembro-me que o Xando ficou inconformado com esse desdém e chegou a enviar e-mails à direção dessa emissora para realçar o seu desagrado a se configurar como um disparate a situação sobre nós termos gasto tempo, dinheiro e energia, fora a qualidade incontestável do clip, com excelente direção, fotografia, iluminação, edição e a assinatura do diretor, Eduardo Xocante, com um currículo invejável no mercado e curiosamente, este mesmo a se configurar como um pioneiro da própria MTV, pois trabalhara lá, como editor de imagens, do início em 1990, até mais da metade daquela década, pelo menos.

A resposta veio, mas por ter vindo da parte de um funcionário subalterno, este respondeu a formular evasivas, autênticas desculpas esfarrapadas e dessa forma, ao se convencer de que seria inútil prosseguir nas reclamações e lamentos, o Xando deu por encerrado o seu desabafo. 

Mandamos cópia do clip também para o programa: "Alto Falante", da Rede Minas (que era retransmitido em São Paulo, pela TV Cultura). Eu fui o componente da banda que mais nutri esperanças em uma boa acolhida por parte desse programa mineiro, por assistir talk atração regularmente e verificar que ao contrário da MTV, aonde eu achava pouco provável nós sermos bem exibidos, no "Alto Falante" só se falava sobre bandas independentes, praticamente.

Enviamos o material, mas nenhum sinal de recebimento foi emitido por conta de produção do mesmo. Mandamos novamente e nada ocorreu. E-mails foram enviados e nenhuma resposta nós obtivemos.
A cada semana, eu via com esperança a possibilidade de veiculação em tal programa e nem sinal de Pedra ser mencionado. 

Ainda em 2005, o Rodrigo fez contato com um produtor cultural de Belo Horizonte, que era fã da Patrulha do Espaço e conhecia o nosso trabalho com essa nossa nova banda, Pedra, a conter a minha presença e do Rodrigo etc. 

Esse rapaz era amigo dos produtores e apresentadores do programa Alto Falante e se propôs a levar o material em mãos para esses produtores. Mandamos um terceiro material, desta vez endereçado a este amigo, que realmente o levou em mãos aos responsáveis pelo programa. E o que aconteceu? Nada... nem uma justificativa...

A nossa percepção só foi se esclarecer tempos depois, quando enfim percebemos que tal programa fora comprometido com outra orientação artística, ligada ao mundo dos festivais de música independente e leia-se: “Indie-Rock”.  

O Xando ficou muito chateado, e acho que foi, entre nós, que mais sentiu esse desdém. Não que eu não houvesse me aborrecido. O que ocorreu, foi que àquela altura, com quase quarenta e cinco anos de vida, e vinte e nove dentro da música, eu estava muito calejado pela perspectiva sempre possível de sofrer revés.

Para contrabalançar tal dissabor com o clip, mais ou menos nessa época, fomos convidados a participar pela primeira vez de um programa radiofônico tradicional e que continha bastante audiência. 

Eu, particularmente, já havia participado desse programa várias vezes, com outras bandas pelas quais atuara no passado (A Chave/The Key, em 1988, Pitbulls On Crack em 1993 e 1997 e Patrulha do Espaço, em 2000). 

Tratou-se do programa do radialista/produtor e apresentador, Osmar Santos Jr, o popular, "Osmi" (e nada a ver com o locutor esportivo famoso e de mesmo nome). 

Em um formato bem interessante, que mesclava a banda a tocar ao vivo no estúdio da emissora, com entrevista e interação mediante perguntas da parte de ouvintes, me lembro que a apresentação do Pedra foi muito boa e efetivamente foi a primeira vez que tocáramos ao vivo, embora eu não compute essa apresentação como a estreia oficial da banda, pelo fato de não ter havido a presença de público no local, a não ser a presença do apresentador, Osmar e do guitarrista da banda, "Cidadão Instigado", que estava nas dependências do estúdio, por mera coincidência. 

Seguimos em frente a preparar o disco e a novidade que tivemos tempos depois, foi através de um ex-aluno meu, um rapaz chamado: D'Ney Di Courel.

Um dia, entre agosto e setembro de 2005, eu recebi o seu telefonema, a me perguntar sobre as novidades. Ele nem sabia que eu havia deixado a Patrulha do Espaço e quando lhe falei sobre o Pedra e a recente novidade de um vídeoclip filmado em película de cinema, me passou um contato de uma estação de TV alternativa, que operava em UHF e que ao contrário da MTV, estava a dar força para bandas independentes. Tratara-se de uma estação chamada: Rede NGT (Nova Geração de Televisão).

Anotei os contatos e os levei ao nosso ensaio. O Xando Zupo passou a incumbência para o Renato Carneiro, que além de ser o nosso técnico de som e produtor de estúdio, nos auxiliava nessa época, em cumprir tarefas de produção, não como empresário, mas a nos representar, como uma espécie de relações públicas. 

Ele fez o contato enfim e ficou entusiasmado, pois foi muito bem recebido pela produção dessa emissora e rapidamente levou pessoalmente uma cópia do nosso clip da música: "O Dito Popular", para tal emissora.

Então, nós começamos a ouvir relatos da parte de pessoas que haviam visto o nosso clip por uma, duas, várias vezes e ficamos contentes, claro, pois embora fosse uma emissora com pouca visibilidade, por operar em UHF, estavam a nos exibir com regularidade, em sua grade, enfim. 

Um pouco depois disso, recebemos o convite para participarmos de um programa em tal emissora, em que dublaríamos a música: "O Dito Popular", pois o clip estava a ser exibido com regularidade na emissora, e aparentemente, a despertar a atenção de seu público.

No entanto, tratava-se de um programa tipicamente feminino e vespertino. Eu, particularmente não nutria nada contra tal predisposição, pois participara de muitos desses programas nos meus tempos com A Chave do Sol e também com o Língua de Trapo. 

Este programa em específico se chamava: "Totalmente Livre" e o patrocinador não foi de uma fábrica de absorventes íntimos, como poder-se-ia supor com esse título.

Então, fomos agendados para filmar a nossa participação nesse programa. Isso ocorreu em outubro de 2005. Fomos informados de que se tratava de um programa híbrido a se mostrar como um misto de talk-show e atração feminina vespertina tradicional. Foi apresentado por uma cantora chamada, Giovana, que era aspirante a estrela no espectro popularesco das emissoras de TV aberta e rádios congêneres.

Particularmente, achei ótimo participarmos, pois independente da visibilidade que trazer-nos-ia, eu sempre gostei de me apresentar nesses programas de TV aberta, por considerar muito divertido os seus bastidores. 

As minhas lembranças, principalmente dos meus tempos d'A Chave do Sol e Língua de Trapo, foram sempre com bastidores "Fellinianos", tamanha a profusão de bizarrices, neles encontradas. 

E seria também a oportunidade para participar da anacrônica dublagem, com direito ao baterista ter que usar ridiculamente uma caixa e um prato como peças únicas da bateria, isto é, uma das práticas mais bisonhas pela qual todos os artistas se submeteram nos anos oitenta, principalmente, ao se apresentarem a dublar em programas de TV.

Chegamos aos estúdios da Rede NGT e apreciamos as instalações.
Localizado no bairro do Butantã, zona oeste de São Paulo, a Rede NGT ocupava (ocupa) uma bela construção, assinada pela saudosa arquiteta, Lina Bo Bardi. 

Enquanto esperávamos pelo início das gravações do programa, visitamos ali mesmo uma mini exposição onde se explicava toda a concepção arquitetônica daquela edificação e da qual, eu apreciei muito ter tido essa oportunidade tomar contato com a sua história. 

Fomos muito bem recebidos pelos produtores do programa e pela apresentadora, Giovana, que foi bem simpática para conosco. E lá nos bastidores nós descobrimos que dividiríamos o programa com um ex-integrante de uma banda Pop-Rock, que então trabalhava em prol da sua carreira solo.

     Eis acima, o referido guitarrista do "Twister", Leo Richter

Foi um guitarrista chamado: Leo Richter, que fora integrante de uma banda chamada Pop-Rock midiática, "Twister", que fez um sucesso até significativo no início dos anos 2000, mas dentro das características bem Pop do mundo popularesco da TV aberta e emissoras de rádio do dial AM. 

Contudo, o rapaz se mostrou generoso e segundo nos disse, ele aspirava batalhar doravante por sua carreira solo, com um trabalho mais elaborado, ao tentar se desvencilhar desses paradigmas popularescos etc. No primeiro bloco, ele concedeu entrevista sozinho e dublou a sua música, inclusive ao usar a guitarra do Rodrigo Hid.

No segundo bloco, nós fomos para a nossa entrevista, seguida da dublagem da canção: "O Dito Popular". Na entrevista, a Giovana fez as perguntas de praxe sobre a origem da banda, e o porquê do nome, "Pedra", para iniciar a seguir, uma breve discussão sobre a questão da pirataria de CD's. 

Tal questão foi um tema polêmico e esquentava as conversas nas rodas compostas por artistas e produtores musicais naquela época. Contudo, a velocidade com a qual as situações se transformaram no mundo fonográfico, em relação aos avanços da tecnologia, principalmente no tocante às novidades da internet, tornou essa conversa obsoleta, muito rapidamente.

Antes de dublarmos, houve uma indefectível ação de merchandising, com a entrevistadora, Giovana, a interagir com uma demonstradora de uma linha de cosméticos, que aliás, patrocinava o programa. Nada mais tipicamente feminino, pois nós ganhamos os kits dos cosméticos doados como cortesia pelo patrocinador e com a apresentadora Giovana a enfatizar que não deveríamos usar os produtos, mas ofertá-los às nossas esposas/namoradas, ao ter chegado a insistir nessa piada sem graça a denotar signos estéticos femininos e masculinos, algo já absolutamente démodé para a época. 

A nossa dublagem foi divertida. Ficamos perfilados e dublamos como nos velhos tempos do programa do Chacrinha!

O programa foi ao ar no sábado subsequente e como se tratara (se trata), de uma emissora que opera em UHF, nenhum de nós conseguiu sintonizar adequadamente e gravar o material em fita VHS, a ferramenta disponível para a ocasião. 

Mas o produtor do programa (Sergio Salce), foi gentil e nos proporcionou uma cópia em formato VHS. Isso não foi postado no YouTube, ainda, mas poderá ser lançado em qualquer instante, embora não tenha uma qualidade de imagem boa.

Trata-se de um único registro de TV com o baterista, Alex Soares a fazer parte da formação, portanto, um material raro para os fãs do trabalho. 

E no final, houve um momento um tanto quanto constrangedor: a apresentadora Giovana costumava encerrar sempre o seu programa a cantar uma música de seu disco. Portanto, ela nos pediu que nos levantássemos e ficássemos visíveis no enquadramento, a dançarmos com ela, enquanto dublava a sua música

Dessa forma, ficamos nós e o Leo Richter, do Twister, com expressões faciais a denunciar o completo constrangimento enquanto ela rebolava... foi hilário! E o som dela se tratou de um R'n'B Pop e modernoso, bem "soft-pornô", em uma definição debochada, porém certeira, proferida pelo Xando Zupo...

Claro que essa aparição no programa: "Totalmente Livre", da Rede NGT, não transformou a nossa vida, mas por incrível que pareça, muita gente nos assistiu. Digo com certa estupefação, por que a emissora operava em UHF e com toda a tecnologia que já existia nessa época, realmente nos pareceu como algo pré-histórico. 

No entanto, o fato foi que ao contrário da MTV, a Rede NGT passou a exibir com frequência muito grande o nosso clip da canção, "O Dito Popular", e cada vez mais, ouvimos o relato da parte de pessoas a comentarem sobre nos ter visto, e já sob uma Era de divulgação pela internet, essa medição se fizera clara, através do nosso site e pelo "Orkut", e esta, que foi comprovadamente a rede social que foi a coqueluche da vez, na ocasião. 

Também nessa época, nós recebemos o convite para participarmos de um "podcasting". Ainda era uma relativa novidade esse tipo de mídia de internet que simula uma emissora de rádio, na prática, e abriu campo para que milhares de programas surgissem, alguns muito bons, inclusive. 

Claro, a pulverização total que a internet ganhou, logo a seguir, tratou por minimizar o efeito desejado, mas ainda hoje, acho válido contar com esse tipo de apoio.

No caso desse podcasting citado (Podcasting Brasil), ele fora gerido por um grupo de garotos com aspiração a realizar jornalismo cultural, talvez para imitar programas de TV a cabo como o "Manhattan Connection" e similares, que deviam considerar charmosos ou coisa que o valha. 
 
Fomos à cidade de Barueri-SP, para participar no estúdio com essa garotada e foi uma conversa fraca, para ser realista, pois foi nítido que eles não detinham o preparo adequado para entrevistar alguém bem mais experiente do que eles. 
 
Talvez estivessem acostumados a entrevistar bandas com garotos da idade deles, no colégio ou faculdade que estudavam, mas definitivamente, faltou estofo para os rapazes. O auge da inadequação da parte desses rapazes se deu quando o mais impetuoso entre eles, com certa empáfia até, nos perguntou se nós entráramos no ramo da música para conquistar garotas, ou seja, acho que dispensa mais comentários da minha parte sobre o que pensamos na hora e o que respondemos ao incauto aspirante a jornalista/radialista...
 

Havíamos mandado também cópias do nosso clip para o Canal Multishow, de TV a cabo, mas não houvera nenhum sinal de recebimento. Mandamos também para um famoso apresentador que foi da MTV e naquele momento estava a se mudar para o Multishow. 

Chegamos a enviar três materiais, um inclusive destinado a chegar em suas mãos, visto que fora uma ponte intermediada através de um contato nosso que era amigo pessoal dele, e de fato lhe entregou em mãos, em seu apartamento residencial, situado em São Paulo. Lamentavelmente, esse apresentador nunca se dignou a dizer absolutamente nada, nem uma sílaba sobre acusar o recebimento do material, sequer.

Naturalmente que ele deve ter achado inadequado o nosso trabalho, haja vista a profusão de artistas "indie" que ele promoveu nesses anos todos em que atuou no canal Multishow. Pela lógica da ilógica inversão de valores, se ele gostava daquela gente que não sabia tocar instrumentos musicais, naturalmente que nos abominava, ou seja, nada fora da mentalidade reinante para quem milita na produção mainstream da música.

Então, ao final de 2005, tivemos enfim uma boa surpresa!
Sem que ninguém nos avisasse, o canal Multishow exibiu por seis vezes o nosso clip! 

Foi assim que aconteceu a nossa descoberta dessa novidade: estávamos em uma tarde de ensaio a examinarmos a internet a esmo, quando eu sugeri ao Xando, que ele fizesse uma inspeção no site do Canal Multishow. 

Foi aleatório e desprovido de qualquer esperança prévia, que tomamos um susto: estava na capa da grade de atrações, o nosso nome e uma foto do Rodrigo a cantar, na verdade, a se tratar de um frame do clip. 

Iríamos perder a chance de acompanharmos e jamais ficaríamos a saber, mas por essa coincidência incrível, ficamos avisados que passaria no programa: "Mandou Bem", no dia 13 de dezembro de 2005, sob apresentação da atriz, Daniela Suzuki. Assistimos e gravamos, é claro. E depois houveram mais cinco repetições do programa, portanto, o nosso clip foi exibido por seis vezes em tal canal. Será que outras portas abrir-se-iam a partir dessas aparições?

Claro, eu e o Xando como veteranos na música, que já éramos na ocasião, mantivemos os pés no chão e sabíamos que uma mera aparição na TV, não mudaria as nossas vidas para sempre, tampouco meia dúzia, como de fato ocorreu, em uma estação de TV fechada, que era bem elegante naquela ocasião. 

Mas concomitantemente, aparecer com um clip bem produzido no canal Multishow, não seria exatamente um fato pequeno ante a nossa humilde condição como artistas independentes e essa oportunidade poderia ter movimentado alguma abertura a seguir. Para depor contra, o grande azar, foi que ainda não havíamos finalizado o CD. 

Não fora por nossa culpa e nem pelo Renato Carneiro, mas sim pelas circunstâncias. O fato, foi que o Renato trabalhava fixo como técnico de som de Zezé Di Camargo & Luciano (e uma dupla sertaneja mainstream desse porte, fazia praticamente vinte e cinco shows por mês em média). Dessa forma, sobrava pouquíssimo espaço na agenda dele para mixar o nosso disco e daí as sessões terem ficado tão espaçadas, a postergar a conclusão do álbum.
Apesar dessa animação pelas seis aparições do clip no canal Multishow, o mês de dezembro avançou e para seguir a tradição tupiniquim, nada mais aconteceu no país, ao se ligar um longo recesso da metade de dezembro, até o fim do carnaval do ano subsequente. Dessa forma, ficamos mesmo apenas a ensaiarmos e a aguardarmos as brechas na agenda do Renato para esse final de 2005.

Ao mesmo tempo, nós começamos a sentir que o baterista, Alex Soares realmente não se encaixava em nossas metas. Na verdade, sabíamos disso já há bastante tempo, mas fomos a postergar essa situação, sob aquela vã esperança de uma mudança que nunca ocorreria, pois se tratou de uma questão de foro íntimo e nesse caso, geralmente a pessoa não percebe as diferenças, que para os demais podem soar gritantes. 

E também pela questão de se misturarem as percepções. Por ser um rapaz com boa índole e tocar muito bem, indiscutivelmente, nós postergávamos falarmos abertamente sobre o assunto, pois, sempre se ponderava sobre essas qualidades particulares dele, como fator de contrapeso.

Infelizmente, essas qualidades notáveis da parte dele não desabonavam os pontos em que enxergávamos divergências estruturais entre nós, e no início de 2006, essa questão se pôs a ganhar um adorno insustentável. 

Um dos pontos nevrálgicos, foi sobre uma canção composta por ele, Alex, e que foi arranjada, gravada & mixada, mas culminou em não entrar no set do CD Pedra I. Logo mais eu esclareço sobre esse fato.

E assim, encerrou-se o ano de 2005...

Animados com a exibição do clip de "O Dito Popular" no Canal Multishow, e a crescente exibição na Rede NGT, entramos em janeiro de 2006, com a perspectiva da finalização da mixagem do nosso primeiro CD. 

Apesar de ter sido muito demorado tal processo de produção por conta da escassez de oportunidades na agenda do produtor, Renato Carneiro, sem dúvida que o resultado sonoro compensara inteiramente a demora, pois o álbum estava a ficar com uma qualidade incrível no tocante a timbres e pressão sonora, sob um volume quase compatível com as produções caras, da parte de artistas alojados no padrão do mainstream. 

Tivemos no disco, é preciso destacar, a presença de dois músicos convidados que em sessões diferentes e ocorridas em 2005, abrilhantaram o trabalho do Pedra.

O percussionista, Caio Inácio, com parte de seu arsenal de instrumentos, no dia da gravação da percussão. Click de Grace Lagôa

O primeiro a nos trazer a sua contribuição foi o músico, Caio Inácio, percussionista que o Rodrigo Hid, conhecera a atuar pela noite paulistana. Ele foi bastante criativo em suas intervenções. Toda a "Escola de Samba" que soou ao final da música: "Me Chama na Hora", foi tocada só por ele, ao criar a batucada na hora da gravação e arranjá-la com bastante propriedade.
Eu, Luiz Domingues, a conversar com o percussionista, Caio Inácio, no dia da gravação da percussão. Click: Grace Lagôa

Uma pequena e sutil, porém bonita intervenção na música: "Amanhã de Sonho", também foi uma contribuição dele, através de um singelo sino cerimonial que ele fez soar com delicadeza.

                             O trompetista, Robson Luis

E o outro músico também nos ajudou de forma brilhante: Robson Luis, este, um trompetista que tocou no trecho final da música, "Misturo Tudo e Aplico", ponto em que a canção assume ares da popular música mexicana e com o arranjo de um trompete muito proeminente que ele criou e executou, ficou mesmo acentuada essa intervenção, com aspecto de "Mariache de Guadalajara". 

O nosso convidado, Robson Luis, a gravar o trompete em: "Misturo Tudo e Aplico". Click: Grace Lagôa

E como ele fez um arranjo com várias vozes abertas em harmonia, se dá a impressão de haver a presença de vários trompetistas a tocarem juntos, ao contribuir para que a música fosse registrada com um final espetacular e muito inusitado, certamente para surpreender Rockers mais radicais que esperavam um disco centrado na estética do Hard-Rock tradicional.
A confraternizar após a sessão de gravação do trompete. Da esquerda para a direita: Robson Luis, Xando Zupo, e Rodrigo Hid. Click: Grace Lagôa

O Robson tocava em uma banda famosa na noite paulistana, chamada: "Quasímodo", especializada em reproduzir ao vivo os sucessos oriundos da vertente da Disco Music dos anos 1970. E o Caio Inácio, era um músico requisitado como side man, a trabalhar com diversos artistas, de diferentes vertentes.
Caio Inácio e Renato Carneiro, na sessão de gravação da percussão. Click: Grace Lagôa

Xando Zupo na sala da técnica do estúdio Overdrive. Click: Grace Lagôa

Entramos no ano de 2006 com o disco quase finalizado e após algumas negociações frustradas, finalmente estávamos por definir a questão do lay-out de capa e encarte para o CD. Em esboços preliminares, se ventilou a ideia da capa a conter a arte rupestre, a evocar o caráter da Idade da Pedra.

Um artista gráfico, amigo do Rodrigo Hid, chegou a elaborar esboços (rafs), nesse sentido, todavia, após algumas experimentações, culminamos em não nos empolgarmos com o resultado, mesmo após algumas tentativas para promover modificações, mediante sugestões de nossa parte. 

Como esse processo a envolver os esboços apresentados e a culminarem em desaprovações começou a arrastar-se, o Rodrigo se adiantou, e por conta própria começou a fazer experiências, ele mesmo em seu PC, com as nossas fotos, a lhes conferir contornos fractais. Eu e Xando ficamos muito entusiasmados quando vimos as experiências dele, pois continham um colorido incrível, até de certa forma, a evocar a psicodelia sessentista, algo fora do espectro artístico do Pedra, a grosso modo, mas claro, a me agradar particularmente de uma forma contumaz.

Fotos a mostrarem momentos da filmagem do clip da música: "O Dito Popular", que foram aproveitadas para compor o encarte do álbum Pedra I. Clicks: Grace Lagôa

Neste caso das experimentações feitas pelo Rodrigo, ele usou como matéria básica as fotos clicadas pela Grace Lagôa, por ocasião das filmagens do vídeoclip da canção: "O Dito Popular", inclusive alguns "frames" do vídeo em formato "Still". 

Começamos a elaborar o texto do encarte & ficha técnica, paralelamente e foi um ponto pacífico que deveria conter todas as letras, pois esse quesito fora considerado vital no trabalho do Pedra, e motivo de orgulho, até. 

Contudo, fatos novos, produziriam diversas mudanças na concepção desse projeto gráfico como um todo, conforme eu contarei, logo mais.

A banda a posar para compor o clip da música: O Dito Popular", na primeira foto e Rodrigo Hid no camarim do estúdio cinematográfico. Clicks: Grace Lagôa

E dessa forma, com a demora para resolvermos a questão do lay-out da capa, o Rodrigo se pôs a desenvolver o encarte, por sua conta, livremente. 

Ele esteve inseguro, inicialmente, pois definitivamente não era (é) um webdesigner, longe disso, aliás. Mas ao se aventurar em meio a programas simples de formatação visual, ele se pôs a criar essa profusão visual com cores fortes e a promover deformações em nossas fotos, de maneira a criar verdadeiras fantasmagorias, muito interessantes, sob o ponto de vista visual. 

Renato Carneiro e Xando Zupo confabulam durante uma sessão de gravação do álbum Pedra I; Click: Grace Lagôa 

Com o áudio praticamente mixado e prestes a se masterizar o material inteiro, o Renato Carneiro anunciara enfim o término dos trabalhos do primeiro CD do Pedra, para breve. 

Desde 2005, mesmo quando o clip de "O Dito Popular" já passava esporadicamente em estações de TV alternativas como a Rede NGT, e por seis vezes no Multishow, falávamos em produzirmos shows. 

A banda a posar no set de filmagem do clip de "O Dito Popular". Click: Grace Lagôa

A banda estava afiada pela quantidade de ensaios efetuados e o repertório estava bem preparado para ser executado ao vivo. 

No entanto, sempre que se abordava a questão da necessidade de promovermos shows, o baterista, Alex Soares, fazia a ressalva que precisava priorizar a sua atuação em favor da banda cover em que era membro, pois se tratava efetivamente do seu meio de sustento e o Pedra, na contrapartida, se revelava uma incógnita ainda, por ser um trabalho a sair da estaca zero e certamente por ser autoral, em 100%, a lutar com dificuldades inerentes para se estabilizar no mercado. 

Sabedor de que as portas são normalmente cerradas para artistas autorais nesse circuito underground, Alex temeu que marcássemos shows sob alto risco financeiro, em detrimento de vir a perder datas com a sua banda cover ao se prejudicar não somente com dinheiro perdido na ocasião em si, mas eventualmente até haver a possibilidade que houvesse o comprometimento do seu emprego na banda. 

Eu, (Luiz), Alex Soares e Rodrigo Hid no camarim do estúdio cinematográfico onde filmamos o clip da música: "O Dito Popular". Click: Grace Lagôa

Foi, portanto, absolutamente compreensível a preocupação dele no âmbito pessoal, ainda mais por ser casado e ter tido uma filha recém-nascida na ocasião. Contudo, isso foi muito frustrante para nós três, os demais componentes, pois sentíamos estarmos embarcados em um barco com três remadores, ao invés de quatro. 

Além desse impasse, houveram outros, de ordem estética. Alex desejava posicionar a banda sob uma linha competitiva para o mercado Pop mainstream, porém, sob a ótica do mundo popularesco. Ele tivera uma recente experiência pessoal nesse sentido, na qual quase adentrara em um esquema forte nesse sentido por ter gravado com a banda: "LSD", formada pelos ex-membros do "RPM", Luis Schiavon e Fernando Deluqui. 

Pelo fato dessa banda ter emplacado uma música na trilha sonora da então novela das seis da tarde, da Rede Globo ("Cabocla"), e supostamente a contar com tais contatos globais para dar sustentáculo ao esquema mainstream, ele achou estar no caminho certo para se acertar na vida. 

Mas o tal "LSD", ao contrário do que insinuou que alcançaria, teve equívocos a serem contornados desde a sua criação, no entanto. Para início de conversa, a sigla "LSD" fornecera a falsa impressão de se tratar de uma banda orientada pelo Rock sessenta-setentista, muito louca, mas na verdade, não passava das iniciais dos membros oficiais do grupo. 

Ora, como levar isso a sério a se pensar nas táticas usadas pelos marqueteiros do mundo mainstream? Além do mais, se nem com tema de novela e magnatas globais a apoiar, a banda vingou, o que poderia alavancar a carreira de tal banda? Foi um fiasco, lastimo (não pelo aspecto artístico, certamente, mas a pensar nas pessoas envolvidas no projeto), e encerrou atividades quase sem fazer alarde algum, para a decepção do Alex, que vislumbrara dinheiro e fama como algo certeiro. 

Alex Soares e Xando Zupo no estúdio cinematográfico aonde gravamos o clip da música: "O Dito Popular". Click: Grace Lagôa.

Contudo, ao conviver com esses artistas, ele absorveu muito da mentalidade desse pessoal, sobre os meandros do mainstream e nesses termos, desejou direcionar o Pedra para um caminho entre esse trabalho no qual participou e o "Roupa Nova", este sim o seu ideal de banda perfeita a ser seguida, sob o ponto de vista gerencial. 

Eu não tenho absolutamente nada contra o Roupa Nova (muito pelo contrário, considero que seja uma banda formada por músicos de alto padrão técnico e profissionalismo exemplar), mas o direcionamento artístico do Pedra continha outra mentalidade, diametralmente oposta, e esse choque divergente, no tocante ao tipo de posicionamento de trabalho, começou a azedar a relação entre Alex e nós, os demais membros, fechados em um outro ideal artístico. 

Adiciona-se a isso tudo o que eu observei, a questão da reserva dele em não querer arriscar shows financeiramente deficitários, sob um primeiro impulso para a nossa carreira tão incipiente, portanto, tal divergência minara a relação e o convívio entre nós.

Na primeira foto, a banda alojada no camarim do estúdio cinematográfico onde filamos o clip de "O Dito Popular". Na segunda foto, um momento de descontração do Alex Soares em mio às filmagens de tomadas do mesmo clip. Click: Grace Lagôa

Dessa maneira, chegamos em um ponto insustentável, logo em fevereiro de 2006. Com o disco praticamente encerrado e a necessidade de efetuarmos apresentações ao vivo, se mostrar como uma necessidade premente, principalmente pela recente exposição de nossos clips e uma expectativa gerada no meio Rocker, pois veteranos que éramos, gerávamos uma natural expectativa no meio underground. 

Foto promocional do Pedra, de 2005. Click: Grace Lagôa

Então nós tivemos que tomar uma atitude dura, aliás duas. O primeiro ponto, foi que houve uma música composta pelo Alex, chamada: "Pra Você", que nos incomodavas pela sua estética melódica, harmônica e sobretudo pelo teor da letra, destoante do bojo do trabalho. 

Essa canção estava gravada e mixada, mas parecia não se encaixar exatamente no bojo do disco, a se mostrar estranha ao restante do trabalho. Não se trata de uma música ruim, todavia, e houve um esforço coletivo em termos de arranjo, no sentido em lhe fornecer uma roupagem, à altura das demais. 

Rodrigo Hid e Alex Soares durante a filmagem do Clip da música: "O Dito Popular". Click: Grace Lagôa

Contudo, ela destoava do restante do trabalho de uma forma acentuada e nem mediante a maquiagem que lhe fornecemos, no formato de um "Prog-Rock", por incrível que pareça, se evitou que ela apresentasse sinais antagônicos aos nossos propósitos. 

E de fato, essa tentativa de maquiagem Prog ocorreu, com o Rodrigo a colocar teclados "PinkFloydeanos", um ótimo solo do Xando e a base harmônica caprichada com timbres requintados de guitarra. Eu usei o meu baixo, Rickenbacker e com a chave de captação colocada na posição do meio, extraí um timbre muito bom, a remeter ao "Genesis" de Michael Rutherford. 

Além disso, os backings vocals criados pelo Rodrigo, ficaram muito interessantes, bem no estilo grandiloquente do "Queen". Mas mesmo assim, a canção ainda continha um nítido ranço popular, a pairar entre o Roupa Nova e canções perpetradas por duplas sertanejas. 

 Alex Soares em uma das sessões de gravação do CD Pedra I. Click: Grace Lagôa

O Alex, apesar dos apelos insistentes do Xando e do Renato Carneiro, sobretudo, insistiu em gravar o seu vocal solo com impostações e maneirismos desse tipo de artistas populares, o que reforçou certamente o sentimento a nos apontar ser tal peça, uma estranha no ninho, em meio ao universo artístico pretendido pelo Pedra.

Após muitas ponderações, nós resolvemos propormos uma conversa franca com o Alex, sobre a canção, propriamente dita e também sobre a sua atuação na banda, principalmente na questão dele somente desejar cumprir shows, se houvesse uma segurança financeira assegurada. 

Claro, haveria de ser um assunto espinhoso e assim que lhe comunicamos a decisão de promovermos tal conversa abertamente sobre tais temas espinhosos, se estabeleceu um clima pesado no âmbito interno da banda e na conversa ocorrida pessoalmente, a posteriori, se tornou ainda mais tenso o clima. 

Falo a seguir sobre tal momento difícil, a dar prosseguimento desse ponto da narrativa, no próximo capítulo.

A banda a posar no camarim do estúdio cinematográfico ode filmou o clip da música: "O Dito Popular". Click: Grace Lagôa

Continua...

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