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quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Patrulha do Espaço - Capítulo 10 - Ponto Com/Compacto/Com Pacto - Por Luiz Domingues

Como eu já disse anteriormente, nós projetamos muitas expectativas para o ano de 2003, mas sobretudo, a mais premente foi a perspectiva concreta de lançarmos enfim, um novo disco. 

Tal lançamento seria um importante passo para demarcar a "Era Chronophágica" da banda, ao fincar de vez a bandeira desfraldada com o CD "Chronophagia", lançado anteriormente no sentido de reforçar a nossa determinação para nos firmarmos com todo o seu bojo de ideias, ideais & princípios. 

E nesse momento, no início de 2003, nós obtivéramos enfim os meios financeiros para empreender tal ação e foi o que fizemos com contundência, visto que não teríamos shows programados para os meses de janeiro e fevereiro, a não ser que surgissem convites inesperados.

Como o poeta/web designer, Luiz "Barata" Cichetto estava a viajar conosco na função como manager, foi natural que ele se adiantasse e tratasse da parte gráfica do disco, também do release e assim começasse a reformular o site da banda, outrora criado pelo jovem, Marcelo Martins. 

Sobre a ilustração da capa, teria sido muito natural que nós tivéssemos procurado novamente o excepcional ilustrador/artista plástico, Johnny Adriani, que criara a capa do CD Chronophagia.
E certamente que ele desejaria nos auxiliar, mas como sempre, a verba da qual dispúnhamos era curta e assim, não poderíamos contrair mais essa despesa, infelizmente. 

A solução para esse caso foi recorrer a um arranjo quase gratuito que caíra em nossas mãos, de uma maneira fortuita. Explico: um vizinho do Rodrigo Hid, que era músico e desenhista, se ofereceu para elaborar um logotipo para a nossa banda, sem compromisso. O seu nome era (é): Marcos Mündell. 

Como é sabido de todos, a Patrulha do Espaço usava um logotipo lindo por volta do final dos anos setenta e início dos oitenta, ao estabelecer uma alusão ao seu próprio nome, quando evocou uma nave espacial, propriamente dita. 

Contudo, nos anos noventa, o Rolando Castello Junior começou a usar um outro logotipo, estilizado com dragões e que detinha um ranço Heavy-Metal, que eu particularmente detestava, apesar de achar a ilustração bonita e curiosamente, a se tratar de um trabalho do Johnny Adriani, portanto, tecnicamente a descrever, claro que é bem feito. 

Todavia, a insinuação, "Heavy-Metal", me incomodava e lógico que a considerava antagônica aos valores que a Era Chronophágica que a banda, propunha. Portanto, o logotipo feito pelo Marcos Mündell, pareceu ser uma solução boa para se equacionar esse problema da ilustração principal para a eventual capa do novo álbum que lançaríamos.

Tratou-se portanto de um escudo, um brasão melhor a dizer, prateado e muito bonito, a outorgar uma aura aristocrática ao título da banda. Em seu núcleo, há uma insinuação livre sobre o átomo e na parte de cima, se nota a presença de uma águia com asas abertas e pousada sobre o brasão. Embaixo, se vê a ponta das garras de tal ave. 

A águia em questão, se insinuou muito mais simpática que os "dragões metaleiros", dessa questão eu não tive dúvida alguma e na minha ótica, remeteu muito mais ao shamanismo indígena, ao me fazer lembrar de bandas como o "Grand Funk Railroad", "Redbone", "Black Foot" e obviamente o "Eagles", pelo tema com teor indígena, que tais bandas costumavam adotar em sua parte visual e na temática das letras de suas músicas em muitas ocasiões. 

Sobre as fotos, a nossa amiga, Ana Fuccia, propôs uma sessão concluída em estúdio, com o uso de preto e branco e a banda a adotar uma atitude sóbria, a vestir figurino preto, predominantemente. 

Todos gostaram da proposta dela e somente a pensar no conceito da capa, fez sentido, é claro, mas particularmente e mais uma vez isso me chateou um pouco, por se mostrar contrário aos ideais, sob uma visão mais ortodoxa, bem entendido, por conta de se coadunar pelos conceitos de bandas de Heavy-Metal oitentistas, naturalmente. 

Voto vencido, claro que eu não criei empecilhos e participei do processo todo com profissionalismo, porém sem gostar exatamente da resolução adotada, é claro.

A foto da contracapa ficou muito boa, pela qualidade da Ana Fuccia como fotógrafa, e o efeito de luz & sombra, em conexão com os contrastes inerentes que a opção pelo preto & branco sempre proporciona, resultou em uma bela imagem, desse fator eu concordo.

Porém, o grande trunfo visual desse álbum, foi a sacada de lançá-lo sob um formato "retrô", aí sim a fazer jus aos ideais "Chronophágicos", eu diria.

Batizado como: ".ComPacto", este álbum abriu caminho para que ao invés de lançá-lo mediante uma capa de CD tradicional, a opção dele ser embalado com uma capa de antigo compacto de vinil, ganhou força, quando cotamos os preços para tal empreitada e verificamos que não seria diferente do custo de um CD convencional. 

Sobre o título do álbum, também o considero uma ideia muito criativa e coadunado com a proposta do álbum anterior, porquanto alardeáramos o conceito do ato de se alimentar do tempo, ao estabelecer a alusão de que éramos uma banda dos anos 2000, mas fortemente influenciada pela estética das décadas de sessenta e setenta, do século anterior. 

Portanto, ao falar de "ponto Com" (.Com), aludíamos ao então presente tecnológico, a reforçar a força da internet a cada dia mais presente na vida das pessoas e por outro lado, a junção completa do vocábulo: "Compacto", fez a conexão com o passado que admirávamos e de onde buscávamos a nossa inspiração artística, ao sugerir o velho compacto de vinil. 

E houve uma terceira sutileza nesse título: "Com Pacto", se entendido separadamente como duas palavras distintas, denotou a questão do princípio assumido pela banda, como um "pacto", literalmente a falar.

Em suma, se faltou colorido na capa e em nossa foto (o P&B quase nos retratou sob uma posição lúgubre), todo o conceito esteve salvaguardado no formato do invólucro do disco, mas sobretudo no seu título, a conter três mensagens distintas e implícitas. 

Para conceber a capa na gráfica, houve um árduo trabalho. Foi preciso elaborar uma "faca" (que é o jargão dos gráficos para designar um molde especial para fazer o recorte do papelão), e com a derrocada do vinil, desde os anos 1980, já quase não se achava uma gráfica disposta a fazer isso. 

Com pesquisa e uma perda de tempo inevitável, descobrimos uma gráfica que ainda funcionava nas dependências da antiga sede da gravadora Continental, em plena atividade no novo milênio, mas 99% focada em editar livros e revistas, naturalmente, além de serviços prosaicos tais como: folhinhas de calendário, cartões de visita etc.

Foram muitas visitas ao estabelecimento citado, que chegou a ser um tanto quanto melancólico por outro aspecto, por que tal gráfica ficava instalada dentro de um prédio enorme e que décadas atrás, manteve uma atividade alucinante, e nesse instante de 2003, pareceu um edifício abandonado, com poucos setores ainda conservados e a gráfica a funcionar em um galpão muito velho e decadente. 

Enfim, o importante foi que conseguimos o nosso intento e eu acho que foi uma boa conquista pelo efeito que causou entre fãs e jornalistas, embora tenhamos tido problemas com muitos lojistas que reclamaram do formato da capa, pois estes alegaram não possuir mais prateleiras adequadas para abrigar discos de vinil, ainda mais os compactos.

Sobre o encarte, o Luiz "Barata" Cichetto (que já contribuíra muito para atingirmos a concepção do formato de compacto da capa), cuidou também de toda a parte de lay-out e o texto foi escrito pelo Rolando Castello Junior. 

Esse foi um dos raros discos na minha trajetória inteira de carreira em que eu contribui muito pouco ou nada com a parte de texto de um encarte de álbum no qual gravei. 

O disco foi prensado normalmente em uma fábrica tradicional de CD, mas nos foi entregue em pino, já que contratamos o serviço sem a devida parte gráfica. A ideia da capa não usual, fez com que por incrível que pareça, nós economizássemos, visto que a despesa pela capa estilizada ficou mais barata do que a precificação total a conter a capa tradicional vendida sob pacote completo (disco + capa & encarte), da parte das indústrias tradicionais do ramo.

Sobre o encarte, tivéramos a frustração em não termos disponibilizado as letras das canções no disco anterior e para este álbum, nós desejamos corrigir essa ausência. No entanto, com uma verba ainda menor para trabalharmos, o encarte ficara proporcionalmente simples, em preto e branco, apenas com texto e uma ilustração (bonita por sinal), de um antigo disco de vinil, a trazer, portanto, mais uma providencial alusão ao passado.
Então, a solução foi produzir um encarte muito simples, em padrão de cópia ao estilo xerox mesmo e bancado por um patrocinador pontual que arrumamos a posteriori, já com a capa e o disco em mãos. Esse processo todo foi longo, ao nos consumir cerca de cinquenta dias, portanto, os meses de janeiro e fevereiro de 2003, foram gastos com essa produção e também com a produção do show de lançamento, mas neste caso é uma particularidade que vou pormenorizar a seguir.
Sobre o disco em si, em termos de músicas, eis algumas considerações a seguir: bem, como já foi amplamente comentado, esse disco teve uma produção sofrida em termos de áudio. A limitação financeira de uma banda independente e sem nenhum apoio externo, a não ser patrocínios sob pequena monta, fora uma razão óbvia que nos atravancara, mas houve um outro componente, também. O fato, foi que no ano de 2002, tivemos um ano com agenda cheia e foi pouco o espaço de tempo que tivemos para nos atermos à produção do álbum.
Ao mesmo tempo que a agenda cheia significara que estávamos a faturar, por outro, a despesa adquirida pela aquisição do ônibus e a sua manutenção que era muito cara, fez com que a verba que seria gasta na produção do disco, fosse parar nas mãos de oficinas mecânicas, lojas de autopeças, borracheiros, aluguel de garagem e nos postos de combustíveis.

Portanto, gravamos as bases do álbum, inicialmente em junho de 2001, fechamos vocais e complementos de overdubs, entre julho e agosto do mesmo ano, mas só conseguimos mixá-lo, um ano depois. 

E só no início de 2003, nós reunimos recursos e apoio no tocante a se providenciar o lay-out de capa e encarte, mais despesas de gráfica, a despesa referente à fábrica de prensagem dos CD's e sessão de fotos. 

Sobre as músicas do disco, muitas delas nós já tocávamos regularmente nos shows. "São Paulo City", por exemplo, já a tocávamos desde 2000, pelo fato de a termos inserido imediatamente ao repertório, assim que Rodrigo e Marcello a compuseram e nós estabelecemos um arranjo definitivo. 

"Terra de Minerais" e "Homem Carbono", já estavam a serem executadas ao vivo no início de 2001, antes mesmo de gravadas.

Sobre o estúdio em que gravamos, creio já ter revelado tudo sobre a sua precariedade. Se saímos dali com sete músicas gravadas, devemos isso ao esforço sobre-humano do técnico, Kôlla Galdez, que por nossa sorte era funcionário contratado ali, e era um Rocker de coração e fã da Patrulha do Espaço. 

Ele se esforçou para fazer aquele estúdio em péssimas condições (com falhas de manutenção terríveis, fora o aspecto de ser antiquado, no mau sentido da palavra, pois se em ordem, seria ótimo gravarmos nas condições analógicas da velha guarda), algo palatável ao ponto de nos dar subsídios para gravarmos com um mínimo padrão de qualidade. 

No entanto, um aspecto seria o Lenny Kravitz gravar com equipamentos jurássicos e propositalmente dessa forma, todavia em um estúdio com características "vintage" em Nova York, com tudo a tinir, por se manter uma manutenção exemplar e outra situação muito diferente, foi o uso de um equipamento vintage, porém com todo o maquinário sob um péssimo estado de conservação.

Kôlla foi um herói nesse aspecto e se o disco não soa bem, saibam que sem a presença dele e sobretudo da sua resiliência inacreditável para lidar com aquela situação, nem o teríamos. Nas mãos de outro técnico qualquer que ali trabalhava e costumava gravar discos de aspirantes a artista popularesco ou um diletante "disco de dentista", nós não teríamos coragem de lançá-lo nem como bootleg, sob o padrão "rough mix". 

Sobre o outro estúdio no qual finalizamos a mixagem e a masterização, este fora bem mais moderno e aprumado, mas além do tempo escasso que tivemos e pelo fato do técnico (Alan Garcia), não entender adequadamente a nossa proposta (por ser um técnico acostumado a gravar bandas Gospel com sonoridade Pop, baseadas em R'n'B norte-americano e "modernoso"), nem que ele fosse um Rocker, conseguiria fazer um milagre, com a captura tão cheia de problemas. 

Cogitamos levar o Kôlla em pessoa para operar mixagem e masterização nesse outro estúdio, mas além de ser um gasto a mais que não poderíamos arcar, ele próprio nos alertara que ainda não estava ambientado com as mudanças tecnológicas e dessa forma, o novo patamar tecnológico das gravações com áudio digital, ele não dominava ainda.

      Kôlla Galdez, técnico de qualidade e pessoa muito gentil!    

Foi uma pena, pois sem demérito ao Alan, que nos atendeu com profissionalismo, acho que o Kôlla teria nos atendido melhor, pela sincronia óbvia das ideias que mantínhamos em comum e sobretudo pela carga emocional, pois ele gostava muito do trabalho e se orgulhava por ter feito a captura dessa gravação, e com toda a razão, nutrira esse apreço ao trabalho. 

No encarte, o Junior citou os dois técnicos, logicamente, mas omitiu os nomes dos dois estúdios, ao preferir acrescentar a brincadeira de termos gravado e mixado: "em algum lugar da Guatemala". E pior que teve gente que levou a sério, e veio nos perguntar o motivo pelo qual havíamos gravado em um país da América Central, se morávamos em São Paulo, com inúmeros estúdios profissionais de alto padrão (?)... enfim, sobre as canções, acrescento:

1) São Paulo City (Marcello Schevano/Rodrigo Hid)

Essa música tem muito a feição de bandas de Blues-Rock peso-pesado como o "West, Bruce & Laing", "Blue Cheer" "Mountain"; "Grand Funk Railroad" etc.

"São Paulo City", em um vídeoclip produzido pelo produtor musical/ativista cultural, radicado em Londres, Antonio Celso Barbieri, em novembro de 2014, a mostrar imagens aéreas da "selva de pedra" paulistana, ao som da nossa música. 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=MqmVDi3sQM0


Essa música costumava causar frisson nos shows da banda, por seus muitos atrativos musicais, entre os quais, o riff inicial, o refrão cantado com três vozes e sob uma melodia dramática, os solos dobrados muito "ganchudos", e as viradas da bateria, bastante ousadas e pesadas. 

Gravei com o baixo Fender Precision e apesar de todas as dificuldades inerentes observadas para essa gravação, o timbre é bastante interessante, e ouso dizer, foi melhor que o som que obtive, ou melhor, se extraiu à minha revelia, ao obrigar-me a gravar sob técnica de captura, "flat", no álbum: "Chronophagia". 

Gosto muito das intervenções com contra-solos executados por ambos, Rodrigo e Marcello, muito inspirados, principalmente em bicordes ao executarem "bendings" com graves potentes e muito semelhante ao estilo do grande guitarrista norte-americano, Leslie West. 

A letra escrita pelo Marcello é clara ao meu ver, mas muita gente a considera uma demonstração de amor & ódio à nossa cidade de São Paulo, porém em minha ótica, é uma crítica explícita a quem fala mal dela, por se levar em conta que o cansaço gerado pela alta densidade urbana não é culpa da cidade em si, mas do interior neurastênico das próprias pessoas. E nesse raciocínio, mesmo quando elas saem da cidade, para gozarem férias em lugares silvestres, levam consigo o sentimento ruim para fora da selva de pedra, junto com elas...

"Pra que sair daqui/Se quem sai agora/Leva pra longe/O stress das seis horas"...

2) Louco um Pouco Zen (Marcello Schevano/Luiz Domingues/Rolando Castello Junior)

Ouça acima o áudio oficial da canção: "Louco um Pouco Zen".

Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=stLbB3N6pWs&feature=youtu.be
 
Eu criei o riff inicial, que é puro acid-rock sessentista, Hendrixiano em sua essência, muito no espírito do LP "Cry of Love". 

A parte "B", a trazer um elemento soul, foi uma contribuição excelente do Marcello à composição e me proporcionou por conta de tal inserção, a oportunidade para exercer uma linha "balançada" à canção, da qual gosto muito. 

As viradas do Rolando Castello Junior são impressionantes. Não fora a toa que nos shows, arrancavam urros de euforia da parte dos Rockers, ao verificarem uma técnica refinada de um baterista a moda antiga (quando saber tocar era requisito básico para se formar uma banda de Rock, ora bolas..."faça você mesmo", mas só se puder fazer bem feito, malditos energúmenos!), e com um nível técnico a altura dos grandes ícones do Rock sessenta-setentista, internacionais, não resta dúvida. 

Após o solo, há um interlúdio totalmente funkeado que é sensacional, e remete claramente ao "Trapeze", e ao "Deep Purple"/fase Mark IV. É rápido e rasteiro, mas brilha intensamente em minha avaliação. 

Usei também o baixo Fender Precision e acho que consegui imprimir uma aura em torno do Acid-Rock sessentista, ao me inspirar em músicos como Noel Redding e Billy Cox, os baixistas que tocaram nos discos do Jimi Hendrix e que extraiam esse som de Fender Precision, in natura. 

A letra é do Marcello, mas o Junior deu contribuições importantes. Em seu teor, fala a rigor sobre uma visão libertadora, anti establishment.

3) Sendas Astrais (Marcello Schevano/Rodrigo Hid/Luiz Domingues)

Acima, ouça o áudio oficial da canção: "Sendas Astrais".

Eis o link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=W1YOaD3I_WI

Aqui se trata de uma canção com forte apelo psicodélico sessentista, mas também a trazer elementos Hard-Rock e Prog Rock, setentistas. Essa ideia inicial nasceu com um riff  bem sessentista, e a parte "A" da canção tem essa deliciosa aura "Flower Power". 

Gosto muito do desenho da guitarra do Marcello, a evocar, Roger McGuinn e George Harrison, em doses cavalares, enquanto o Rodrigo faz a harmonia etérea ao órgão Hammond. 

A minha linha de baixo privilegia a psicodelia nessa parte, por eu ter me inspirado em mestres como: Lee Dorman ("Iron Butterfly"), Phil Lesh ("Grateful Dead") e Jack Casady ("Jefferson Airplane"), mas com um diferencial em relação à esses baixistas norte-americanos sessentistas, pois eu optei pelo uso do baixo Rickenbacker e o timbre agudo e encorpado denuncia a inspiração em Roger Waters, nos primórdios do "Pink Floyd", fase Syd Barrett e claro, Chris Squire, como influência sempre óbvia quando eu empunho o baixo Rickenbacker. 

Tanto que a minha linha na parte "B", por falar em Chris Squire, tem um trecho inicial executado com tercinas, que é bastante inspirado em "Close to the Edge", do "Yes". E na continuidade, o elemento Hard-Rock se faz presente a ali surge o estilo de Jimmy Bain (Rainbow), em minha execução. 

O Marcelo imprime um desenho de contrasolo que é muito inspirado no estilo do Steve Howe ("Yes") e que eu gosto muito. Também adoro os backing vocals cantados em efeito "melting" ("derretimento"): -"A Meta Finaaaal"...

Quando chega o momento do solo do sintetizador Mini Moog, ao usar a parte "A", um vocal que eu criei, trabalha o efeito do contraponto, e detém muita inspiração no Tutti-Frutti dos seus anos de ouro com Rita Lee e os irmãos Nardo, em suas fileiras a cantarem. 

A parte "C", descamba para o Hard-Rock setentista, com pitadas Prog-Rock, e é puro "Uriah Heep" em sua concepção. Os vocais em trio, ao estabelecerem uma melodia toda desenhada, solos de moog, desdobrada para o slide do Marcelo brilhar intensamente (dá-lhe Ken Hensley!), e o som do órgão Hammond a cortar com a caixa Leslie a todo vapor... enfim se cantado em inglês, algum desavisado poderia achar que tratar-se-ia de uma música "outtake" do LP "Demons and Wizards", do "Uriah Heep"...

Sobre a letra, se trata de uma criação do Rodrigo, e se mostra toda etérea, a falar sobre o "cosmos, prana, flor de Lotus, persona", ou seja, é bem no sentido da espiritualidade com cunho esotérico e eu gosto muito. Está bem, muitos podem não apreciar, ao acusá-la de não ser uma letra "comercial", mas não é mesmo... é arte... e que se dane o comércio! Acenda um incenso e relaxe...

4) Homem Carbono (Rodrigo Hid/Marcello Schevano/Luiz Domingues/Rolando Castello Junior)         

Essa canção surgiu fruto de uma jam-session, na qual todos contribuíram com ideias, mas o maior crédito tem que ser dado ao Rodrigo, que burilou a melodia, escreveu a letra e concebeu a parte "A" da música.

Vídeoclip da canção: "Homem Carbono". Produzido em 2003, por uma turma de estudantes de cinema. Os detalhes sobre essa produção, eu narrarei na sequência da cronologia dos fatos, em breve.

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=lkUhtnHq1gg


Esse rock vigoroso, contém uma condução muito forte na sua parte "A", e mesmo ao conter a base do piano como carro chefe, é um riff e tanto, ao parecer uma criação típica de guitarra. 

Gosto muito da introdução em 6/8, também. A parte "B" que foi a minha contribuição em seu primeiro trecho, lembra-me o "The Who", em sua fase do LP "Who's Next". 

Rolando Castello Junior brilha como sempre em suas viradas impossíveis e na condução muito vigorosa, com uma pegada incrível. O piano com sabor Honky-Tonk, muito energético e conduzido pelo Rodrigo e também a sua interpretação vocal é fortíssima, tanto que essa música sempre foi muito saudada nos shows. 

Gravei com o baixo Fender Precision e apreciei muito o timbre que me remeteu ao baixo de Mel Schacher, mas sem tanta distorção como nos primeiros discos do Grand Funk, porém mais próximo da fase mais Soul-Music dessa banda maravilhosa. 

A letra do Rodrigo é uma das melhores desse disco, em minha opinião, senão a melhor. É também anti-establishment, a conter uma dose de angústia do homem massacrado pela falta de identidade própria, ao buscar então, a sua individualidade roubada pelo sistema.     

"Não abaixe a cabeça/Um dia você vai ver/Um mendigo, um autista/Ou quem sabe um artista exorcista"...      

Ainda nesse ano de 2003, uma oportunidade surgiria para filmarmos um vídeoclip com essa música, mas isso eu relato mais para frente na cronologia, como já mencionei acima.

5) Nem Tudo é Razão (Rodrigo Hid)

Essa é a música mais amena do álbum, com um delicioso sabor sessentista por excelência.

"Nem Tudo é Razão", postado no YouTube por um fã da banda

O Link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=q0RfoYVv5HA


Canção levada em sentido rítmico de staccato no piano, ao trazer elementos trintistas bem delineados, lembra também o "Queen" em muitos aspectos, pelo fato dessa banda setentista igualmente recorrer ao cancioneiro europeu trintista, como inspiração, assim como os Beatles costumavam fazer ("The Kinks", "Small Faces", "Family" e tantas outras bandas britânicas, também usaram amplamente dessa influência). 

Rodrigo a compôs sozinho ao piano em sua casa e nos trouxe a sua estrutura pronta, portanto, a nossa contribuição foi nos arranjos, mas o grande mérito de sua beleza incrível é dele, sem dúvida. 

Gosto muito da harmonia, melodia lindíssima, da junção de partes e do refrão sensacional que ele concebeu. Os solos do Marcello são belíssimos, tanto no meio, quanto na intervenção final que fecha a canção, e ambos, são muito inspirados no estilo melodioso de Brian May, guitarrista do "Queen". 

A minha contribuição ao arranjo, além da minha linha de baixo, foi a criação dos Backing Vocals, e eles são exagerados mesmo, cheios de intervenções com: "la la las" e "uh uh uhs", a desenhar por longos espaços abaixo da voz principal do Rodrigo, e muito se assemelham aos vocais do "Queen" em seus primeiros discos. 

Apesar de estarem prejudicados pela produção precária do áudio desse disco, ao se escutar no fone de ouvido e a prestar atenção somente neles, eles são notados. 

Adoro a intervenção do órgão Hammond junto ao piano... e viva Billy Preston!

Usei o baixo Fender Jazz Bass, para buscar o máximo do som grave e aveludado desse instrumento propositalmente para ornar corretamente com o espírito da canção. 

A letra que o Rodrigo criou é muito poética. É na linha Pop do Paul McCartney, ao extremo, mas também tem o seu "quê" do "Clube da Esquina".      

"Três e vinte da manhã/Eu pensando em oferecer/Minha alma ao luar/Me desejo ao seu olhar"

6) Terra de Minerais (Marcello Schevano)

Quando o Marcello nos mostrou o esboço dessa música que havia composto ao piano, nós logo concluímos vimos que seria a nova peça progressiva que seguiria o destino de> "Sendo o Tudo e o Nada", gravada no disco anterior, "Chronophagia".

"Terra de Minerais postada no YouTube por um fã da banda

Eis o Link para assistir no You Tube:
https://www.youtube.com/watch?v=t0MUjpKg6Zw

A se mostrar como uma típica suíte Prog-Rock, a apresentar várias partes com tessituras as mais diversas, tal peça teria que ter um arranjo a altura para explorar bem as suas múltiplas possibilidades sonoras. 

A parte "A", lembra-me bastante o som do "Focus" da fase dos LP's: "Moving Waves" e "Hamburguer Concerto" e igualmente o som do grupo mineiro, "Som Imaginário". Há um piano muito balançado e com a harmonia "sus", eis que abriu brecha para um baixo vigoroso, em uma frase construída sob "looping", com um certo sabor da Soul Music. Nesse trecho, inspirei-me bastante no som do Bert Ruiter, do "Focus". 

A guitarra do Rodrigo trabalha uma frase melódica que costura toda essa base feita por Marcello, eu (Luiz), e Rolando Castello Junior. É melódica de certa forma, mas recorre em alguns momentos à dissonância típica de um guitarrista cerebral como Robert Fripp, e eu aprecio esse efeito que ele criou. 

Surge um vocal gravado por nós três, mas só entoado, sem letra. Lembra muito o estilo do "Focus", mas também tem influência d'O Terço. 

Na parte "B", eis que uma desdobrada no ritmo dá margem a um interlúdio muito baseado no estilo do "Pink Floyd". Rodrigo passeia com o slide, e assim, é como se estivéssemos nas ruínas de Pompeia, a tocar "Echoes". 

Poucos ouvintes notam, mas logo no início da desdobrada, há uma intervenção delicada e sensacional do Marcello, com a flauta. Ele faz uma melodia muito linda, que é puro "Genesis" em sua concepção, no entanto, é uma intervenção muito rápida, o suficiente para Peter Gabriel sair de cena e trocar de fantasia tão somente...

Finalmente a parte cantada apresenta-se, com Rodrigo e Marcello a cantá-la, com um trecho cada um. Uma parte "C", que lembra a glória do "The Who", faz Marcelo iniciar um fraseado em looping sob difícil execução ao piano, e o Rodrigo brilha muito, com um solo espetacular na guitarra. 

Volta-se à parte "A" para o encerramento, com os vocais entoados na observação da onomatopeia mais uma vez e enfim, ocorre uma convenção de extrema precisão a lhe conferir um final apoteótico e que ao vivo, arrancava gritos da plateia. 

Essa canção chamava-se inicialmente, "Aclimação" logo que o Marcello a compôs, e isso porque fazia alusão a uma série de ruas existentes nesse bairro da zona sul de São Paulo, que apresentam nomes com pedras preciosas ("Safira", "Topázio", "Rubi"; "Esmeralda"). 

Também contém a menção de ruas com nomes de planetas do sistema solar, que também existem no bairro como nome de algumas ruas ("Saturno" e "Urano"). Enfim, foi uma espécie de homenagem ao bairro, pelo fato de que eu (Luiz), Rolando Castello Junior e Rodrigo Hid morávamos ali nessa época e o Marcello em um bairro próximo, vizinho, a Chácara Klabin. 

Mas resolvemos não personalizar a música tanto assim e dessa forma a rebatizamos como: "Terra de Minerais".

Luiz Domingues em 2001, a gravar esse álbum: ".ComPacto", com o Fender Precision na mão. Click de Samuel Wagner

Usei o baixo Fender Precision, e além do baixista, Bert Ruiter (já citado), a minha inspiração foi também mediante o som clássico do Roger Waters no "Pink Floyd", quando este adotou o Fender Precision como padrão nos discos, e ao vivo com essa banda. Logicamente que eu fui buscar essa sonoridade contida em LP's dessa banda, tais como:  "Meddle", "The Dark Side of the Moon" e "Wish Were You Here", sobretudo.

7) Tooginger (Rolando Castello Junior)

Como ocorrera no álbum anterior, para aproveitar a estada no estúdio, o Junior pediu ao técnico para apertar "Play e Rec", na máquina, quando a gravação oficial se encerrou e então ele gravou um solo em caráter de improviso. 

Depois se deu um tratamento com algum efeito de paramétrico na mixagem, logicamente. Neste caso, a sua criação começa com o efeito "fade in", e se encerra no "fade out". O nome da peça em questão é uma brincadeira, mas em tom de homenagem a um grande mestre: Ginger Baker, baterista icônico dos anos 1960 & 1970 ("Graham Bond Organization", "Cream", "Blind Faith", "Ginger Baker Airforce", "Baker Gurvitz Army"). 

Eu ouço esse disco hoje em dia com esse apanhado de ótimas canções, a conter ótimos arranjos e a observar a performance de uma banda tão azeitada, que só lamento que não tenhamos tido condições para gravá-lo em melhores parâmetros técnicos. 

Em um estúdio de primeira grandeza do Brasil, mesmo, já teríamos tido um resultado "matador", mas em uma análise bem realista, ele mereceria ter sido gravado em um estúdio de primeiro mundo da Europa ou Estados Unidos.

Paciência, não foi assim que aconteceu e só nos cabe relevar as dificuldades com as quais o concebemos, tecnicamente e exaltar o seu alto padrão sob o ponto de vista artístico.

Nesses termos, eu recuo à minha infância para me lembrar do meu avô materno a ouvir velhos discos de 78 rotações, a conter Óperas, Sinfonias & Concertos eruditos e infelizmente sob aquela tecnologia tosca, com os chiados inevitáveis pelo excesso de uso, a obscurecer a música. Quando eu lhe perguntava se aquela incômoda interferência não o incomodava, ele me respondia:  -"só ouço a música, nem percebo o chiado"... 

Pois essa sábia lição adquirida de meu querido "vô" Edson, me serviu agora para pensar no álbum ".ComPacto" da mesma forma: eu só ouço a música...

Como eu já disse anteriormente, no início de 2003, nós tivemos um hiato com shows. Isso ocorreu decisivamente porque para se preparar a logística de uma turnê, tal trabalho hercúleo custava ao Rolando Castello Junior, muito tempo para planejá-la e executá-la, sobretudo, ao se levar em conta o moroso esforço de negociação com produtores locais de shows e portanto, quando a banda ia para a estrada, o seu lado como "empresário" parava de funcionar nessa dedicação cansativa de sua parte e como consequência, para manter uma sequência, só a pararmos novamente para ele se dedicar novamente ao trabalho maçante, no escritório, ao cumprir a função de empresário da banda. 

Definitivamente, precisávamos de um empresário para cuidar do negócio, mas infelizmente nós nunca tivemos essa ajuda profissional exclusiva em nosso favor, a não ser a colaboração externa, mediante o apoio sazonal de alguns agentes e que já foi mencionado anteriormente.

Contudo, se tivemos essa dificuldade gerencial que nos causara incômodo, por outro lado, a parada específica desse período teve o seu lado bom. Isso por que foi providencial para podermos nos dedicarmos à finalização da parte gráfica do novo disco e também em atividades paralelas, tais como a preparação do material de divulgação para a imprensa. 

Sobre a questão da preparação da capa e encarte do álbum, foram muitas as visitas empreendidas à residência do Luiz "Barata" Cichetto, que nessa época, morava no bairro do Tatuapé, na zona leste de São Paulo. Toda essa parte de texto do encarte foi concebida ali no seu computador e nesse tempo, ele, Barata, já havia assumido como webdesigner da nossa banda, ao ter substituído o garoto, Marcelo Martins, e este a viver uma fase pessoal difícil, em meio a estudos (ele visava prestar exame vestibular, e por conta dessa meta, já não poderia dedicar-se à nossa banda, como gostaria em meio ao seu entusiasmo sincero, e do qual o agradecemos eternamente).

Nota publicada na revista Rock Brigade, a dar conta que o guitarrista, Xando Zupo preparava a produção do seu álbum solo, e que teria muitos convidados, incluso a Patrulha do Espaço com a sua formação completa a atuar em seu álbum

E outro fator também nos ocupou nesse ano de 2003 e foi muito bom, artisticamente a falar, além do prazer que nos gerou. O guitarrista, Xando Zupo, ex-Harppia e também com passagem rápida pela Patrulha do Espaço, estava a produzir um disco solo e convidou a Patrulha do Espaço com a formação completa, para gravar duas faixas em seu disco. 

O convite houvera sido feito ainda nos últimos dias de 2002, mas tudo se concretizou mesmo no início de 2003. A sua proposta foi para gravarmos uma música inédita e autoral e a outra faixa seria uma releitura de uma música da "James Gang", uma banda norte-americana sessenta-setentista, da qual todos nós gostávamos bastante. 

Sendo assim, fizemos alguns ensaios em janeiro de 2003 e efetuamos as gravações entre fevereiro e março, quando finalizamos tal material. Gravamos a canção: "Must Be Love" da James Gang (tal música originariamente está contida no LP "Bang", de 1974, dessa grande banda norte-americana), e a autoral chamou-se: "Livre Como Você". 

Essa história ficou tão rica em detalhes que eu acho que mereceu ganhar um capítulo especial e destacado, portanto, apesar de envolver a Patrulha do Espaço completa, e consequentemente estar inserida nesta parte da cronologia referente a esta banda, está contada isoladamente no capitulo dos "Trabalhos Avulsos". Aqui, eu relatei de uma forma reduzida, mas para saber de mais detalhes dessa gravação e de seu lançamento, procure:

"Trabalhos Avulsos, Capítulo 76 (Patrulha do Espaço + Xando Zupo = álbum Z-Sides, guardado no arquivo, em agosto de 2013, no meu Blog 2. 


http://blogdoluizdomingues2.blogspot.com.br/search?q=Trabalhos+Avulsos+Z-Sides

Ou no Blog 3, através do capítulo, "Trabalhos Avulsos", Capítulo 28 (Patrulha do Espaço + Xando Zupo = Z-Sides, quase um prenúncio):  


http://luizdomingues3.blogspot.com.br/2015/03/trabalhos-avulsos-capitulo-28-patrulha.html

Eis abaixo o álbum, Z-Sides, do guitarrista, Xando Zupo, na íntegra. "Livre Como Você" é a primeira faixa e "Must Be Love" é a 9ª faixa do álbum.

Eis o Link para ouvir no YouTube: 

https://www.youtube.com/watch?v=hUCVU5xtf9o  

Já a adentrar o mês março, algumas atividades de divulgação do novo disco e seu show de lançamento, nos ocupou, além de um show no interior, isolado, realizado em uma casa noturna, mas do qual, eu comento mais adiante. Sobre tais atividades, foram as seguintes:

Em 16 de março de 2003, tivemos agendado uma entrevista/show ao vivo no estúdio da emissora de rádio, Kiss FM. O programa, "Made in Brazil" se mostrara como um verdadeiro oásis em meio a uma programação que não oferecia brecha alguma aos artistas nacionais, pois tal emissora privilegiava o Rock internacional de uma forma retumbante, ao não fornecer chances aos artistas pátrios. 

Se por um lado, a programação da emissora era boa por focar no Rock das décadas passadas, ao se assumir como uma emissora dedicada ao "Classic Rock", por outro, nos causara espécie (e ainda causa), que a referida estação não prestigiasse os artistas nacionais autorais, mas pelo contrário, abrisse as suas portas para divulgar e incentivar somente bandas cover. 

A justificativa de seus mandatários, fora que as bandas cover praticantes do dito, "Classic Rock" no circuito de casas noturnas da cidade de São Paulo, tocavam o repertório base que a emissora se propunha a executar, portanto, havia uma "parceria" implícita em termos de ideias & ideais, no sentido de se manter viva a chama do Rock em geral, praticado nas décadas de 1950/1960/1970/1980, ou seja, a sua base mais usual de atuação, na ocasião.

Ora, tal justificativa se mostrava tão "sólida" quanto um castelo de areia na praia, e foi (é) inacreditável que detivessem essa mentalidade engessada e pior ainda, por não se enxergar que a despeito de ser válido nutrir respeito pelas bandas cover, no sentido circunscrito de uma linha de pensamento que leva em conta o fato de que para colocar comida na mesa, pagar a conta da luz e garantir um teto decente para dormir em paz, é imprescindível que se ganhe dinheiro e com o show business dominado por um mercado ultra fechado, a quantidade de bons músicos que ficam relegados ao limbo é enorme, e claro que sob uma situação extrema de luta pela sobrevivência, se submetem ao sacrifício de exercerem a música profissionalmente, mas apenas com a única possibilidade que lhes resta, ou seja: como reprodutores da criação oriunda da parte de artistas consagrados.

Isso eu entendo e respeito muito como forma de sobrevivência digna. Mas muito diferente é uma emissora de rádio dar espaço para bandas com tal proposta, pois se possui a concessão do governo para agir como difusora cultural, a função de executar o trabalho artístico já se cumpre no sentido da difusão musical, portanto, incentivar "jukebox humana", se revela como um apoio sem nenhum cabimento. 

E o outro lado dessa medalha, pior ainda, foi no sentido de não se oportunizar espaço para os artistas autorais vivos mostrem os seus respectivos trabalhos, ou seja, a se caracterizar como um atentado à cultura, portanto, um contrassenso para quem mantinha a licença oficial para difundir cultura. 

Outro argumento que usavam (usam), seria no sentido de que tais bandas com esse tipo de proposta eram (são) "parceiras", pois tratavam (tratam) de manter a chama do "Classic Rock" acesa em suas apresentações e isso instigaria (teoricamente) o seu público a procurar a emissora no cotidiano, ao lhes garantir audiência. Ou seja, fomentavam o seu modus operandi a manter um moto perpetuo fechado nesse ciclo, daí o interesse. 

Ao sonegar espaço para os artistas autorais, aniquilavam a possibilidade de haver uma cena viva, como se desejassem que o tempo parasse e ficássemos eternamente a vivermos em 1972.

Ora, ao leitor que possa me interpretar contraditório com essa afirmação, esclareço que adoro sem reservas essa época citada e estética dela oriunda, mas não desejo viver congelada nela. Tanto que a proposta do Sidharta e que a Patrulha do Espaço cooptou, foi a do conceito "Chronofágico", em se viver o presente, a usufruir do frescor imediato da época contemporânea, mas sem apagar o passado, porém a mesclá-lo como influência, e não "voltar" para ele, em si.

Dessa forma, considerava (penso assim, ainda), absurda a proposta da Kiss FM, que em detrimento de tocar setenta ou oitenta por cento de material artístico que eu gosto e me influencia, fartamente, na verdade eu não tenho a mínima vontade para sintonizá-la, pois irrita-me verificar que o trabalho de bandas excelentes que estão vivas e atuantes na cena do underground, jamais tocaram ou tocarão nessa emissora, todavia, certas bandas cover que nada criam, são ovacionadas por seus locutores. 

Nesse contexto, entre 2002 e 2003, um locutor que ali trabalhava começou a aspirar equilibrar essa questão. Tal rapaz chamava-se, Marcelo, e era conhecido no meio radiofônico, como: "Morcegão".

"Morcegão" é o primeiro, da esquerda para a direita, a posar ao lado de colegas seus da emissora Kiss FM, em produções de campo que tal emissora costumava fazer, também. Foto de seu acervo, que achei em seu site pessoal

Comunicativo ao extremo, como todo bom locutor de FM, Morcegão tinha seus fãs e seguidores e com a força popular adquirida, engatou um programa para quebrar esse paradigma da emissora, ao criar então esse pequeno oásis ali dentro, chamado como: "Made in Brazil". 

A sua proposta foi manter, sim, o padrão do Classic Rock que norteava a emissora, mas a trazer artistas brasileiros, e se possível, que estivessem em plena atividade, a criar, atuar e sobreviver com a sua criação autoral. 

Foi o nosso caso, e com a agravante de que vivíamos o sonho do resgate total das raízes da nossa própria banda, conforme já salientei amplamente desde o capítulo número um, da história da minha fase com a Patrulha do Espaço. 

Portanto, com disco novo a ser lançado e show de lançamento em vista, o locutor "Morcegão" nos agendou para tocarmos ao vivo e concedermos assim, uma entrevista, na manhã de um domingo, 16 de março de 2003.

Na foto acima, o locutor, "Morcegão", extraída de seu site pessoal

Muito bem recebidos pelo "Morcegão" no estúdio da emissora, demos o nosso recado com ampla oportunidade para divulgarmos o disco novo a sair do forno e a comentarmos sobre o show de lançamento que aconteceria dali, em duas semanas. 

E a parte ao vivo foi muito boa, com uma estrutura razoável de equipamento disponibilizado dentro do estúdio envidraçado em termos de monitoração (no padrão de uma estrutura de sala de ensaio), para que as bandas pudessem tocar ao vivo e a conter a ampla e linda visão da esquina da Avenida Paulista com a Rua Augusta, em São Paulo. 

Foi em um domingo nublado e havia chovido levemente no início da manhã, portanto, as ruas estavam úmidas, com poucas pessoas a caminharem pelas calçadas. O retorno do áudio dentro do estúdio não foi dos melhores, mas isso não nos impediu de tocarmos com naturalidade e energia. 

Não foi para ter ocorrido assim, mas o Morcegão acabou por convencer os mandatários da emissora a liberarem a entrada de algumas pessoas e assim, um grupo de fãs da Patrulha do Espaço, apareceu, por terem garantido ingresso mediante procura por telefone. Não foi cobrado nenhum valor, mas a direção limitou o número de pessoas permitidas no estúdio, certamente a querer evitar um tumulto nas dependências da emissora.

Então, dez pessoas entraram no ambiente, logicamente a assistiram de fora da casinha envidraçada onde nós tocamos e eis que valeu por cem, pois se mostram tão entusiasmadas que tal manifestação culminou em nos contagiar positivamente, visto que até essa turma entrar no recinto, com a sua adrenalina a mil por hora, nós estávamos modorrentos, em virtude do horário sempre insalubre, para Rockers notívagos como nós...

Existe uma filmagem em padrão mini-VHS a conter esse compromisso, a conter um pouco de nossa presença em tais bastidores e também trechos da banda a cumprir o soundcheck e a atuar ao vivo, a seguir. Tal material já foi digitalizado e a qualquer momento vai ser postado no YouTube, e claro, entra nesta parte da autobiografia. 

Um acontecimento fortuito ocorreu ali durante a entrevista/show ao vivo que cumprimos. Entre as dez pessoas que assistiram a nossa performance, uma garota nos abordou e alegou ser estudante do curso de Rádio e TV da Universidade São Judas Tadeu, uma instituição de ensino muito famosa do bairro da Mooca, na zona leste de São Paulo. 

Ela nos falou sobre um programa no qual ela estava envolvida em sua produção, junto com outros colegas do curso e assim nos formulou um convite para que participássemos dele, ao afirmar que seria uma honra contar com a nossa presença e que mesmo por ser uma produção simples e veiculada em um canal obscuro e com pouca visibilidade. No caso, a se tratar do Canal Universitário, um desses canais obrigatórios que a TV a cabo colocava na sua grade por questão de contrato com a concessão do governo, mas que se sabia bem que continha audiência quase zero, mediante a medição oficial de tais índices televisivos.

Tudo bem, sem preconceito, pois éramos sabedores que na mídia mainstream nós não teríamos nenhuma chance, a não ser sob a ação de reportagens sazonais através do telejornalismo ou em alguma produção na TV Cultura, pois fora desse limitadíssimo espectro, a nossa chance por uma oportunidade era nula, praticamente. 

Então, não haveria porque rejeitar a aparição, não apenas por uma predisposição no sentido de que não desperdiçávamos oportunidades, mas também por sermos solidários com quem a grosso modo, também se revelava "outsider", como nós, ou seja, o caso dessas produções obscuras da grade televisiva. 

O único problema nessa história, foi que tais produtores queriam a nossa presença no estúdio/escola da Universidade, às 6:00 horas da manhã de um dia útil e aí, já foi possível mensurar o caráter insalubre dessa predisposição, não é? 

Em suma, se tratou de um sacrifício e tanto para se cumprir uma logística insana, que nos obrigou a madrugarmos. Para complementar, ele nos disse que tocaríamos ao vivo no estúdio, mas não daria para ser com a nossa volúpia sonora habitual e diante dessa prerrogativa, nos perguntou se não nos importávamos em tocarmos algo mais leve, com intenção semi-acústica, ao menos. 

Bem, não foi a primeira vez que nos aparecera uma oportunidade com tal particularidade em se mostrar algo fora de nosso padrão. Nesse caso, até gostamos, por que seria um transtorno levar o backline pesado da banda e passar por um extenuante ritual de soundcheck, sob um horário absurdo desses.

Chegamos no estacionamento da Universidade, um pouco antes das seis horas da manhã, com pouco equipamento e isso foi um alento e tanto. Arrumamos tudo com relativa rapidez e fizemos um soundcheck simples. No estúdio, o PA disponibilizado foi sob pequeno porte, adequado para sonorizar uma apresentação comedida, em um ambiente pequeno, como um bar com tímida proporção. Acertado o som, sabíamos que não teríamos um áudio maravilhoso ali, mas dava para tocar.

O famoso comentarista esportivo e professor de jornalismo, naquela universidade, Flávio Prado

Fomos convidados a deixarmos o estúdio, para aguardarmos no corredor, a fim de não tumultuar o processo todo da preparação etc. Nesse momento, eu avistei a caminhar pelo corredor, o jornalista, Flávio Prado, que era (é) um comentarista esportivo bastante famoso em São Paulo e que era também professor de jornalismo, rádio & TV naquela universidade. 

Não resisti e o abordei, ao comentar sobre futebol, assunto que tenho vívido interesse desde a infância, por sinal. Ele foi bastante simpático naquela conversa rápida e típica de corredor. Claro, ao ver o meu visual com o cabelo pela cintura, logo deduziu que eu apresentar-me-ia no programa de seus pupilos e assim, troquei com ele, rápidas informações sobre a nossa banda e ele se despediu ao alegar estar a se dirigir a uma sala de aulas, onde ministraria a sua primeira aula matinal.

                 A banda maranhense de reggae, "Tribo de Jah" 

Uma outra ocorrência curiosa, se deu quando vimos que uma outra banda gravaria participação antes de nós e sob as mesmas circunstâncias, ao cometer uma aparição sob o manto semi-acústico. 

Foi a "Tribo de Jah", uma banda que detinha em um bom reconhecimento artístico no meio, principalmente no mundo do "Reggae", nicho onde desenvolvera a sua carreira. Era de fato uma boa banda dentro desse segmento e continha uma particularidade: era formada por músicos cegos, e somente o seu vocalista, continha a visão normal. 

E justamente com ele, o vocalista, Fauzi Beydoun, um sujeito simpático e cordial, nós tivemos uma boa conversa quando nos confraternizamos antes do início das gravações. Ele sabia quem éramos e nos disse ser apreciador de Rock, também, e que gostava de bandas setentistas tais como: "Free", "Bad Company", "Led Zeppelin" e ao ir além, afirmou que o seu cantor predileto era o David Coverdale, ex-Deep Purple e atuante ainda com o Whitesnake à época.

                     Fauzi Beydoun, vocalista da "Tribo de Jah"

Quando nos chamaram para gravar, já eram quase dez da manhã e nós fizemos a nossa aparição de uma forma tranquila, a tocarmos algumas músicas que já estávamos acostumados a executarmos, sob arranjo alternativo, semi-acústico. 

A pauta dos estudantes foi bem fraca, no entanto, mediante perguntas muito básicas, ao denotar terem sido preguiçosos para investigarem a nossa carreira com melhor apuro, mas apesar do nosso humor não estar o melhor possível diante daquele horário insalubre aos nossos padrões, isso não nos desestabilizou e a condução do programa transcorreu de forma tranquila. 

Infelizmente e essas ocorrências são inexplicáveis, no dia em que nos disseram que o programa iria ao ar, lá estava eu com o controle remoto do meu VCR a postos para dar o comando de "Play e Rec", no entanto, o programa foi de fato para o ar, porém com uma outra atração, que não fôramos nós e na semana seguinte, o mesmo ocorreu no mesmo dia e horário programados para a exibição.

Ligamos para a garota que nos convidara para participarmos dessa atração televisiva e constrangida, ela não soube como justificar a nossa ausência e ficou comprometida em nos fornecer um retorno com a data certa ou uma explicação pela nossa ausência, mas estamos a aguardar tal informação até os dias atuais (2016)...

É muito pouco provável que alguém tenha preservado uma cópia (ou copião bruto desse material, visto que possivelmente nem foi ao ar), mas quem sabe um dia alguém posta isso no YouTube e nos surpreende? 

Outras ações de mídia tivemos antes do show de lançamento do novo álbum.

 

Um outro compromisso de divulgação que cumprimos, se tratou de uma oportunidade muito proveitosa que um amigo do Rodrigo, ex-colega dele da Faculdade Cásper Líbero (Thiago Gardinalli), lhe ofereceu. 

Tal amigo do Rodrigo nos inseriu na pauta de uma revista cultural radiofônica bem cotada, e claro que aceitamos participar. E foi algo não usual para uma banda outsider como a nossa, pois se tratara de uma entrevista marcada para uma estação do espectro do dial AM, mega popular, e em rede nacional. 

Tratou-se de um programa noturno, em horário nobre, na Jovem Pan AM, uma emissora com porte gigantesco no radialismo brasileiro. Não anotei a data exata, mas tal apontamento ocorreu certamente em março, poucos dias antes do show de lançamento do nosso novo disco. 

Chegamos na sede da emissora, em sua localização clássica, na esquina da Avenida Paulista com a Alameda Joaquim Eugênio de Lima, e logo no elevador que nos conduziu da garagem ao andar do estúdio que visitaríamos, nos encontramos com Dudu Araújo, filho do casal, Silvinha e Eduardo Araújo, e ele, Dudu, também guitarrista e que igualmente visitara a emissora para conceder entrevista, antes de nós, e naquele momento, já estava de saída. 

Chegamos ao andar do estúdio principal da emissora e fomos muito bem recebidos pela produção. Tivemos o prazer de vermos o trabalho de um locutor da programação usual ainda a fazer uma locução ao vivo, ao fornecer aos ouvintes os dados clássicos do rádio-jornalismo, como a hora certa e as condições climáticas de São Paulo e outras capitais do país. Dono de um tremendo de um vozeirão, o elogiamos pela voz potente e dicção, impressionantes.

                             O ótimo ator, Cássio Scapin

O programa no qual participaríamos seria no âmbito do jornalismo cultural em geral e no mesmo dia, além de nós, houve a presença de atores a divulgarem as suas respectivas peças de teatro, em cartaz na ocasião. 

Assim que chegamos, por exemplo, havíamos nos encontrado com o ator, Cássio Scapin, famoso entre a criançada nos anos noventa e início dos dois mil, por ter feito parte do elenco fixo do programa infantil e super premiado, "Castelo Rá Tim Bum", mas que também desenvolvia um trabalho no teatro, muito forte. 

Um produtor da emissora, nos informou que a audiência daquela revista cultural girava em torno de três milhões de pessoas, por se considerar que era retransmitida em rede nacional e que fatalmente receberíamos perguntas e observações vindas de pessoas que sintonizavam o programa, oriundas de cidades de muitos estados brasileiros.

E a sua teoria se confirmou tranquilamente, pois na medida em que falávamos, perguntas vieram da parte de muitos ouvintes do país inteiro, de grandes capitais a cidades remotas interioranas, oriundas de diversos estados da federação.

Foi muito interessante esse contato, pois pelo fato de ao mesmo tempo em que a nossa banda ostentava um currículo e história dentro do Rock brasileiro, aos olhos do grande público popular, que mal sabia quem foram os "Mutantes", associar a figura do Arnaldo Baptista com a nossa banda, se provava como algo absolutamente sem nexo para eles, e quanto mais o fato de que no momento pós-Arnaldo Baptista, a Patrulha do Espaço, havia construído uma carreira forjada por décadas de atuação contundente, a colecionar inúmeros discos lançados e a escrever páginas construídas na história, ad eternum. 

Portanto, foram perguntas básicas que formular-se-iam normalmente para uma banda completamente desconhecida, mas que vieram dirigidas para nós e foi muito compreensível que aos olhos de um público popular, nós fôssemos, ilustres desconhecidos. 

E mais que isso, nós gostamos muito de algumas manifestações vindas da parte de pessoas que não nos conheciam, mas que estavam a demonstrar apreciarem as nossas músicas, que intermediaram a entrevista. Foram manifestações até de estupefação, da parte de alguns ouvintes, ao dar conta que estavam surpreendidos positivamente com o som que nós fazíamos e como não éramos "conhecidos" em grande escala, nos alegraram (de certa forma, é claro), e aí a constatação básica de que a despeito da nossa música não ter sido concebida para fazer parte dos anseios do marketing das gravadoras e dos maiorais do Show Business, o fato é com um mínimo de exposição, arrebataria uma fatia de mercado e isso desnudou o quanto artistas como nós nos prejudicávamos na condução da carreira, ao vivermos sob esse autêntico embargo velado. 

Um fato tragicômico ocorreu quando a artista que seria entrevistada a seguir, apareceu na porta do estúdio e foi convidada a assistir o último bloco de nossa entrevista, sentada ao nosso lado. Ela se aproximou então, sob um momento de pausa para os comerciais. Foi a atriz, Patricia de Sabrit, que estava ali para divulgar a sua então peça teatral em cartaz.

                               A atriz, Patricia de Sabrit 

Dois fatos engraçados ocorreram com a presença dessa atriz. Primeiro, logo que entrou, eu tive uma reação inesperada que a surpreendeu, ao motivar a sua desconcentração, pois eu a cumprimentei como se a conhecesse há anos e fosse seu amigo íntimo. 

Ela por sua vez, ao se sentir surpreendida, correspondeu com entusiasmo na mesma proporção para não gerar nenhum constrangimento, naturalmente, mas no seu semblante ficou indisfarçável a sua sensação de confusão, com aquela expressão facial típica a denunciar: -"não consigo me lembrar desse rapaz, e agora?"

E para piorar o constrangimento gerado, quando eu a abracei e beijei, simultaneamente também pisei no seu pé (por puro acidente, é claro), e nessa circunstância, o que já se mostrava embaraçoso, ficou ainda pior. Todavia, poucos segundos depois, o clima se amenizou quando a luz vermelha do estúdio se acendeu e o locutor se concentrou na conclusão de nossa entrevista. 

A seguir, o locutor anunciou a execução de mais uma música do novo álbum, no caso: "Nem Tudo é Razão". Assim que a música começou a tocar e o microfone interno do estúdio foi fechado, eu ouvi a voz da atriz, Patrícia de Sabrit, a exclamar: -"ai, gente, que música linda!"... 

A sua manifestação foi espontânea, não foi apenas para nos agradar, em absoluto, pois deu para sentir a sua espontaneidade e tal intervenção da sua parte nos gerou assim mais uma reflexão: tudo bem que a nossa banda não era comercial e não calculava os seus passos na carreira, manipulada por marqueteiros predatórios, mas mesmo ao não ter esse comprometimento popular, uma música como: "Nem Tudo é Razão", que possui uma beleza ímpar, se esta peça tocasse nas emissoras de rádio, faria sucesso fora do nosso nicho, sempre fechado do Rock underground, ao poder atingir uma escala popular, tranquilamente. 

Isso ficou patente. E assim, quando a música se encerrou, nos despedimos do público ouvinte e haviam dezenas de manifestações vindas de muitos estados da federação. Pessoas do Amazonas, Ceará, Santa Catarina, Goiás... e a conclusão a reboque: se existisse somente um pouco de exposição em larga escala, a nossa vida teria sido muito diferente.

Ator e apresentador, Atílio Bari, um dos ativistas culturais mais sensacionais de São Paulo

E na semana do show, um outro programa de TV nos agendou para uma entrevista e participação, a tocarmos ao vivo. Tratou-se do programa: "Em cartaz", exibido no Canal Comunitário de São Paulo e apresentado pelo simpaticíssimo ator, Atílio Bari. 

Já havíamos nos apresentado nesse ótimo programa, exatamente um ano antes e sobre ele em si, eu já explanei e não serei repetitivo sobre a análise que fiz em um capítulo anterior, quando narrei sobre tal revista cultural e lamentei a sua pouca projeção no espectro da TV. 

Portanto, cabe aqui acrescentar que a coincidência de data foi absurdamente precisa entre as apresentações de 2002 e 2003, e assim que a luz vermelha do estúdio acendeu, o Atílio se pôs a comentar sobre personalidades culturais que haviam nascido naquele dia, e isso era uma prática usual de sua revista. 

Foi quando eu pedi a palavra e anunciei que tínhamos uma efeméride a mais, e que ele provavelmente não havia anotado em sua ficha: naquele mesmo dia, um ano atrás, nós havíamos participado do seu programa! O Atílio ficou surpreso e gostou muito da minha informação em adendo e com esse clima de camaradagem instaurado, a entrevista foi novamente, muito boa.

Distribuímos ingressos do show de lançamento do nosso novo álbum, para os telespectadores que se pronunciaram por telefone, além de discos e falamos bastante sobre tais boas novidades que tivemos na ocasião. 

Tenho cópia desse programa, devidamente digitalizada e em breve certamente será postada no YouTube e disponibilizada neste capítulo. Antes do show de lançamento do disco, teríamos um show avulso no interior do estado, desconectado de uma turnê. Falo sobre isso a seguir.

Antes do show de lançamento do CD ".ComPacto", em meio aos seus preparativos, tivemos um compromisso avulso, por não caracterizar ser uma data a constar de uma turnê organizada pela logística d a continuidade, mas a se mostrar como uma oportunidade avulsa.

O convite surgira da parte de um amigo de adolescência do Rolando Castello Junior e que não o encontrava, há muitos anos. Esse rapaz dissera haver recém adquirido uma casa noturna na cidade de Sorocaba-SP, e ligada a uma escuderia de um Moto Clube, portanto tratava-se de um bar temático, e com atmosfera, Rock'n' Roll, de certa forma. Chamava-se: "Black Sheep Bar", ao aludir à sua confraria de Moto Clube, naturalmente.

Chegamos na cidade de Sorocaba-SP, com muita tranquilidade, na tarde do dia 28 de março de 2003. Estava quente, como de hábito naquela pujante cidade interiorana. A casa era rústica, mas bem montada, com decoração bem ao gosto dessas confrarias de motociclistas e sob um certo ar, Rock'n' Roll. 

O rapaz mantinha o típico visual de motociclista e foi bem hospitaleiro, ao nos tratar muito bem e nos momentos mais tranquilos do trabalho de soundcheck e no jantar, conversou bastante com o Rolando Castello Junior, ao relembrarem os tempos de adolescência, quando haviam se conhecido nos anos sessenta. 

Uma visita agradável apareceu no ambiente do bar, durante o soundcheck e ficou conosco o tempo todo, até a nossa partida de Sorocaba, durante a madrugada. Tratou-se de um rapaz chamado: Ronaldo, que trabalhara com a banda desde o final dos anos setenta, até a metade dos anos oitenta e que durante o jantar, também nos contou várias histórias pitorescas sobre a sua época como membro da equipe técnica da banda. 

Por falar em jantar, o dono do bar nos conduziu até um restaurante distante do centro da cidade, mas que valeu muito a pena, por que foi um jantar "pantagruélico" pela fartura absurda do buffet e portanto, se revelou uma temeridade ao se considerar que tínhamos um show de Rock para realizar... e convenhamos, com os respectivos estômagos abastecidos daquele jeito, a tendência seria uma digestão difícil, e com direito à sonolência. 

Houve uma banda de abertura local, chamada: "Noctívagos". Tive boa impressão de seus músicos e performance, mas não despertou-me o interesse maior, visto parecer transitar em estéticas que não me apeteciam, como o Hard-Rock/Heavy Metal "modernoso" dos anos noventa, mesclado com Funk-Metal de bandas daquela década, como o "Faith no More", por exemplo.

Fizemos o nosso show, mas confesso que foi morno. O público presente não estabeleceu aquela sinergia com a qual estávamos habituados normalmente, embora houvesse um bom contingente ali presente. 

Bem, preciso destacar que o equipamento não ajudou muito. O PA da casa não fora dos melhores e trabalhava além do limite de sua capacidade, essa foi a verdade. Para sonorizar apresentações intimistas, ao estilo "voz & violão", ou no máximo um combo de jazz e/ou blues, acho que suportaria, mas uma banda de Rock e com a nossa volúpia habitual, de forma alguma. 

Mesmo assim, não posso afirmar que não tenha sido bom. Creio que o som não ajudou e o público não se entregou à euforia como de costume, mas os mais antenados e fãs da banda, saíram satisfeitos com a nossa performance. E fazia tempo que não visitávamos aquela cidade. A última vez que havíamos ido a Sorocaba-SP, fora em 2000.

Bem, o próximo compromisso foi então o show de lançamento oficial do álbum: ".ComPacto" e que também gerou algumas histórias!

Antes de falar sobre o show de lançamento, eu devo retroagir algum tempo na cronologia. Ainda estávamos em 2002, quando surgiu a conversa de que precisávamos pensar em um show de lançamento do novo disco. 

A primeira hipótese que imaginamos, foi agendar uma micro temporada no Centro Cultural São Paulo, uma espécie de porto seguro para qualquer artista do nosso patamar, que sem recursos, não reunia meios para se aventurar na autoprodução em algum lugar mais sofisticado e ao mesmo tempo, o CCSP se mostrava super digno, ao oferecer infraestrutura de um teatro de grande porte, tudo gratuitamente, e ao artista caber apenas, bancar a sua divulgação como melhor lhe aprouvesse.

Consultamos o programador daquele complexo cultural e ele nos avisou que só poderia nos agendar para julho, pois havia em voga uma norma do poder público, no sentido de apenas ceder uma data para o mesmo artista que já se apresentara ali, em um espaço de um ano e de fato, havíamos nos apresentado em julho de 2002, com três datas seguidas, a caracterizar uma micro temporada nessa ocasião.
 
Portanto, a conversa enveredou para outras opções de teatros ou casas noturnas viáveis em São Paulo, para as nossas condições econômicas, em uma lista elaborada com sugestões advindas de todos. 
 
Foi quando o nosso colaborador, Luiz "Barata" Cichetto, sugeriu um salão de Rock oriundo da zona leste de São Paulo, que ele frequentava e do qual conhecia bem os seus proprietários. Mediante tal ideia lançada por ele, de imediato nos lembramos que já havíamos levado material da banda para esse referido salão em ocasião passada, mas um dos donos havia valorizado em demasia o seu estabelecimento em detrimento da desvalorização de nossa banda, e isso houvera ficado nítido para nós, pelas informações que soubemos a dar conta do que esse rapaz supostamente falou ao nosso respeito. 
 
Não queríamos nem cogitar abrir negociação com tal espaço, visto que sabíamos que a mentalidade de seus proprietários não era simpática à nossa banda. Mas o Barata contra-argumentou que não poderíamos ficar com tal impressão em mente e que talvez tudo tivesse sido um mal-entendido, anteriormente. Correto, ofertar o benefício da dúvida, haveria de ser uma atitude nobre a ser exercida em termos de cavalheirismo, mas eu não engoli direito a afirmação que me contaram, ao dar conta que o tal rapaz havia feito, ao afirmar que nós o havíamos procurado para "implorar" por um show em sua casa, em ocasião passada, mesmo por que, eu em pessoa, fui levar o material da banda e não me rebaixei dessa forma, em hipótese alguma. Se receber um material de uma banda representava um ato de "desespero" da parte do artista, na sua forma de interpretar os fatos, esse rapaz estava redondamente enganado, pois eu não agi assim, e jamais faria isso. Se isso foi uma inverdade que me contaram, peço desculpas pela minha avaliação errônea.
 
Enfim, mesmo ao lhe narrar essa particularidade ocorrida comigo, o Barata insistiu na ideia de que tudo fora possivelmente um mal-entendido e que ele era amigo dos proprietários por conhecê-los com intimidade, e por nutrir amizade de longa data, fora o fato de que conhecia todos os funcionários da casa, igualmente etc.

Bem, já que ele garantiu que tudo seria diferente, nós lhe demos o aval para ele tomar a dianteira na negociação e diante de sua animação, acreditamos mesmo que tudo dar-se-ia de uma forma melhor. 

O tal salão era rústico, mas continha uma tradição na zona leste de São Paulo, eu não posso negar. Era também enorme, com um salão interno gigante, semelhante aos salões de festas de clubes tradicionais, ou mesmo ginásios poliesportivos e mantinha uma ainda maior área ao ar livre, onde no passado, ali haviam sido produzidos shows de Rock e MPB, a atrair enormes multidões. 

Todavia, isso não acontecia mais e em 2003, as suas atividades mais se baseavam em noitadas sob a incidência do som mecânico e eventualmente a se promover shows de bandas cover ou fechadas em nichos de apreciadores de tendências derivadas do Heavy-Metal.

Mas nem o otimismo do Barata e a sua boa relação com os proprietários foi suficiente para que a negociação fosse fácil. E assim, o tempo se pôs a passar e já em 2003, a data foi finalmente marcada, porém, as condições da negociação foram muito desfavoráveis e nessa altura, já com a perspectiva do nosso novo disco ficar pronto para a venda, não tivemos escolha a não ser fechar assim mesmo o acordo com tal salão. 

Toda a divulgação ficou a nosso cargo, assim como a despesa da contratação do PA e naquele espaço enorme, tive que ser um equipamento com médio para grande porte, inevitavelmente e custou caro. A contrapartida da casa foi tímida, no entanto. Além do espaço, em si e uma comedida ajuda em parte da divulgação, seus mandatários exigiram garantir uma porcentagem desigual da bilheteria. 

Enfim, ficamos todos chateados com o rumo dessa negociação e até o Barata se desencantou quando no dia do show, apesar de haver comparecido um público bom ao local, pelo tratamento dispensado, ficou patente que não fora uma boa ideia nos apresentarmos ali. 

E para piorar, nos impingiram engolir à revelia, duas bandas cover díspares com o astral do nosso show e que segundo os proprietários, elas é que atrairiam público, ou seja, foi absolutamente desnecessário passar por essa situação vexatória, e ao ir além, acho que teria sido mais válido lançar o disco em julho, no Centro Cultural São Paulo, mesmo que isso significasse uma longa espera. 

Bem, fechado o show, nos esmeramos para incrementarmos a sua divulgação e até já mencionei algumas ações de rádio e TV que fizemos nesse sentido. 

Trabalhamos fortemente na colocação de cartazes, naquele circuito gigante que costumávamos cobrir, distribuímos filipetas em muitos shows e com a ajuda do próprio, Barata e um de seus filhos, Raul Cichetto, cobrimos alguns bairros mais longínquos da zona leste, a alcançar um público mais a ver com o salão em si. Já no dia do show, tivemos alguns acontecimentos a mais para nos chatear.

Nesse dia em específico, nós estávamos um pouco cansados, pois fizéramos um show na noite anterior e fora de São Paulo, portanto enfrentáramos o inevitável ato do "bate-e-volta" ao interior, mas por outro lado, estávamos nessa rotina da estrada, desde o final de 2001, e por ter sido assim, não foi uma novidade, termos poucas horas de sono, disponíveis. 

Chegamos ao estabelecimento e o equipamento de PA contratado, já estava todo montado e o técnico, realizava os seus testes preliminares de afinação do estéreo, portanto, já estava bem adiantado o processo técnico da operação do áudio.

Montamos o nosso backline com tranquilidade e por volta das 17:30 horas e já estávamos a cumprir o soundcheck. Com um PA de porte, a pressão sonora se mostrou forte e com o técnico bastante solícito, ficamos satisfeitos com o ajuste do soundcheck.
Os mandatários da casa nos trataram bem a grosso modo, entretanto, mal disfarçaram a sua incredulidade sobre o sucesso do evento, e isso foi um fator desagradável para nós. Claro que mediante uma demonstração negativa desse porte, o ambiente não foi dos mais favoráveis. Todavia, compensávamos isso com a animação em torno do lançamento do nosso disco em si, e de fato, esse álbum fora sofrido para ser produzido, conforme eu já revelei em capítulos anteriores.

Não posso deixar de observar! Mesmo ao termos um disco chamado: ".ComPacto" em mãos e pior ainda, ao saber se tratar do show de lançamento do referido álbum, de onde o jornalista que assinou com as iniciais "DO", tirou a ideia de que lançaríamos o disco anterior, "Chronophagia?"

Independente da opinião em contrário da parte dos dirigentes da casa, a nossa equipe estava motivada e o Luiz "Barata" igualmente se mostrou empolgado por estarmos a lançar o disco em uma casa onde ele mantinha muita afinidade pessoal e por isso, a sua alegria contrabalançou o pessimismo quase desdenhoso da parte dos dirigentes do local. 

Teríamos convidados especiais nessa noite. A cantora santista, Alexandra "Joplin", que havia gravado participação no álbum, "Chronophagia", cantaria nas duas músicas em que sua voz ficou marcada para a posteridade, nesse mesmo álbum: "Sunshine" e "Terra de Mutantes".

E um outro convidado para lá de especial: Dudu Chermont, o mítico guitarrista da segunda formação da banda, entre 1978 e 1984, tocaria conosco as canções: "Arrepiado", "Bomba" e "Columbia", conosco. 

Ele estava eufórico por ter sido convidado e esta seria mais que uma homenagem a um ex-membro tão importante na história da banda e nem mesmo uma lisonja pessoal a um grande músico que deixou a sua enorme marca na história do Rock brasileiro, mas foi uma justa oportunidade para reerguer a sua carreira, que estava prejudicada há anos, pelo fato dele estar a enfrentar problemas de saúde, muito graves.

Com um histórico recente em torno de internações hospitalares, debilidade e tratamento longo, Dudu enfrentava um momento difícil da sua vida. Ele tentava voltar à cena e naquele momento articulava uma nova banda e que teria a presença de jovens músicos de muita qualidade na sua formação, casos de Junior Muelas (baterista que havia deixado o "Hare" e se mudara para São Paulo) e com mais dois jovens também vindo do interior, da cidade de Porto Ferreira-SP, que Muelas conhecera recentemente: o guitarrista, Ricardo Dezotti e o baixista, Vagner Siqueira).

Sob uma resolução tomada no camarim, resolvemos tocar primeiro e deixar as bandas cover tocarem depois. Não tivemos o pudor de imaginar que alguém pudesse pensar que abriríamos as bandas cover e na prática, ao tocarmos antes, atenderíamos o nosso público que ali compareceria para ver o show de lançamento do novo disco e quem estivesse ali pela "balada", poderia se divertir à vontade com a "jukebox" humana que ocorreria a posteriori e também com a mecânica, a se arrastar pela madrugada. 

E nada contra os músicos das bandas cover. Confraternizamo-nos com eles e tais rapazes demonstraram respeito pela nossa banda e proposta artística autoral. Tratou-se de duas bandas, uma a fazer tributo ao "Whitesnake", e outra, ao "Motorhead".

Encerrado o soundcheck, nós dispersamos, com cada um a se dirigir para a sua residência a fim de fazer a sua preparação individual estratégica. 

Quando eu voltei ao salão, acompanhado do Rodrigo Hid e do Samuel Wagner, nosso roadie, fui bastante contrariado pelo responsável pelo estacionamento. Simplesmente as vagas prometidas para os carros dos músicos da banda, foram abolidas à nossa revelia e doravante o rapaz me cobrou, sendo que o estacionamento era gigantesco em sua dimensão e assim, três ou quatro vagas a serem ocupadas pela nossa frota particular, não traria nenhum problema para eles.

Diante da intransigência do atendente do estacionamento, que era jovem, parecia ser frequentador do salão e também, absolutamente mal educado e petulante, eu considerei indigno pagar a taxa cobrada e assim, pedi aos meus acompanhantes que descessem e ao acionar a marcha ré do veículo, manobrei no sentido de deixar o acesso do estacionamento, quando ainda tive que ouvir as afirmações irônicas do desbocado energúmeno, ao dar conta que se eu parasse nas ruas do entorno do salão, fatalmente eu perderia o meu carro, ou seja, certamente que haveria esse risco e não surpreender-me-ia em nada que algum gatuno ali à espreita, avisasse os seus "parceiros" de malandragem sobre o meu bólido a mercê da bandidagem, no entorno. 

Enfim, foi mais um aborrecimento e denotou mais uma vez que a escolha do tal salão não houvera sido confortável para atender os nossos propósitos.

Bem, o lado bom foi que ao contrariar o pessimismo dos donos do estabelecimento, um bom público compareceu para nos prestigiar. Não foi uma multidão impressionante, no entanto, cerca de quatrocentas pessoas ali presentes, pode ser computado como um sucesso, não nos restou dúvida. 

O show foi muito bom, pois estávamos motivados, bem ensaiados e focados para nos lançar bem o disco novo. Houve também a motivação pela presença dos convidados muito queridos e a animação do público, além da boa qualidade do áudio, no palco e no PA.

O público respondeu com sinergia. Houveram vários momentos com picos de euforia e comoção, quando por exemplo, Dudu Chermont subiu ao palco e tocou conosco. 

Uma equipe de filmagem amadora estava presente. Fora por conta de um acordo de patrocínio firmado através do Luiz "Barata", com uma pequena produtora que também mantinha uma escola de música no bairro do Tatuapé. Trata-se de uma filmagem muito precária e que somente anos depois foi enfim disponibilizada pelo nosso parceiro, Luiz "Barata" Cichetto, visto que o rapaz que filmou criara empecilhos para disponibilizar o material até então.

E assim foi o lançamento do disco ".ComPacto", no dia 29 de março de 2003, diante de quatrocentas pessoas, aproximadamente, no salão: "Led Slay", no bairro do Tatuapé, zona leste de São Paulo. O próximo compromisso de palco, só ocorreria em abril, mas nesse ínterim, a batalha pela divulgação do novo disco, estava só a começar.

Eis abaixo um vídeo mais curto a apresentar apenas a performance da banda em: "Columbia", com Dudu Chermont e Alexandra "Joplin", como convidados. Como já alertei, a filmagem é horrorosa, lastimo.

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=t2o-IL-AxzU

Abaixo, veja a parte 1 do show, em vídeo postado por Luiz "Barata" Cichetto

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=pbnatKOE9sA

Assista a parte 2 do show, a se tratar também de uma postagem propiciada pelo Luiz "Barata" Cichetto 

Eis o Link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=J9gMmNxux5Q&t=111s

Após o show de lançamento do novo álbum, o próximo show foi realizado alguns dias depois, em uma casa noturna onde já tocáramos várias vezes, anteriormente. Pois então nós retornamos ao Volkana, de São Bernardo do Campo-SP, em 11 de abril de 2003. Desta feita, duas bandas de abertura se apresentaram: "Grande Dog" e "Koma". Não me lembro exatamente das suas respectivas apresentações.
Não tivemos um grande êxito nessa apresentação em termos de público, pois a divulgação não teve o nosso empenho e nas mãos dos produtores da casa, o esforço foi mínimo, portanto, no dia dos shows apenas quarenta pagantes compareceram, mas isso não nos aborreceu, pois tivemos perspectivas melhores pela frente e uma nova e boa turnê pelo sul do país, nos aguardava mais uma vez, a partir do início de maio. E além disso, matérias com resenhas do novo disco começavam a aparecer nas bancas, ao nos dar uma animação extra.

Eis alguns exemplos, abaixo:

1) Rock Brigade - Versão on Line

"Este disco já se destaca pelo nome e pela embalagem criativa, uma vez que a capa é igual à dos antigos discos de vinil. Só que lá dentro vem o último CD desta veteraníssima banda brasileira. E nada como ouvir música escrita e interpretada por músicos de talento! 

Junior (D), Luiz Domingues (B), Rodrigo Hid (V/G/K) e Marcello Schevano (V/G/K/F), fazem um dos mais competentes times de instrumentistas da atualidade e se mostram em pleno forma. Soando numa linha mais direta do que o trabalho anterior do Patrulha, Chronophagia, este disco pode ser definido como um mix do hard Rock setentista com o Rock psicodélico da década anterior. 

Ajuda no resultado final, a produção clássica, sem pirações (nada como uma palavra "setentista" para ficar no clima, não é mesmo?) ou viagens desnecessárias. Mesmo sendo um disco uniforme, em que cada música tem seu atrativo, vale ouvir com atenção o Riff de Homem Carbono e a declaração de amor/ódio em São Paulo City- Ah sim, as letras são em português! 

Datado para alguns, clássico para outros, essa é uma discussão que pouco importa. O que vale, mesmo, é que a patrulha ainda está na ativa e produzindo boa música".

ACM

Eis mais uma ótima crítica assinada pelo grande, Antonio Carlos Monteiro, o "ACM" para alguns, ou entre amigos, Tony Monteiro. Neste caso ele destacou a criatividade da capa e a boa ideia em relação ao título, a conter múltiplas interpretações. 

Realçou também a qualidade individual de cada componente, mas não se aprofundou muito sobre o trabalho em si, a não ser pela tímida menção de: "Homem Carbono" e "São Paulo City", que lhe despertara mais a atenção. 

Muito provavelmente ele não tenha se aprofundado mais no disco em si, pela sua precariedade em termos de áudio e nesse caso, foi benevolente e nos poupou de uma crítica mais ácida. Não pela amizade, mas ao relevar, por saber o quanto fora duro para nós, termos condições para gravar em alto nível e assim, deve ter isentado a banda desse pecado, ao reconhecer que a qualidade artística não poderia ser massacrada pela má produção, ao levar em conta ser um fator alheio à nossa vontade. 

Sobre cantar em português e ser ou não ser "datado", essas questões que são típicas preocupações dentro do universo do Heavy-Metal e objeto de total atenção da publicação em si, creio que nesse caso, o ótimo Tony estava muito influenciado pela obsessão que tais tópicos contém dentro daquele mundo, e daí ter feito a menção. Fora do mundo do Heavy-Metal, não conheço ninguém que se importe tanto se o artista canta em aramaico antigo, inglês ou javalês, e tampouco se preocupe em demasia se a estética é moderna ou se é "datada". 

Isento o Tony, que reputo ser uma das melhores canetas da crítica musical deste país, mas que ele estava sob a influência dessa verdadeira mania de revistas especializadas em Heavy-Metal, creio que isso foi evidente.

2) Site/Portal Wiplash

"É constrangedor saber que uma banda do nível do Patrulha do Espaço, tenha de lançar seus discos de forma independente, ao passo que as majors só se preocupam em nos empurrar porcarias goelas abaixo. Seja como for, após um hiato de quase três anos (seu último trabalho inédito foi o Chronophagia, de 2000), finalmente temos em mãos o novo álbum, 14º da carreira do grupo, e que na realidade se trata de um mini disco, ou melhor dizendo, o equivalente à um compacto duplo, em formato digital, o que de certa forma corrobora tanto o título quanto a arte gráfica, que reproduz o formato e o tamanho de um antigo compacto de vinil, além de fazer alusão a uma série de interpretações variadas (Com Pacto, .Com, Compact etc). Embora este seja de certa forma uma espécie de continuação do trabalho anterior, talvez devido a curtíssima duração, ele tenha perdido um pouco daquele caráter "viajante", dando lugar a composições mais pesadas tal como "São Paulo City" que abre o CD, com um riff que poderia muito bem estar num disco do Mountain; em seguida, "Louco um Pouco Zen", um rockão arrasa-quarteirão, precedendo "Sendas Astrais", que juntamente com "Terra de Minerais", são as que mais se aproximam da mescla "Hard-Rock + Prog Setentista", uma das características marcantes do citado "Chronophagia". Temos ainda "Homem Carbono" e "Nem Tudo é Razão", duas faixas pontuadas por um piano, com uma levada bem Rock'n Roll, a segunda, quase uma balada, por sinal a única do CD, cuja letra fala (de forma velada), sobre uma paixão (parece que o Rodrigo estava bastante inspirado quando a compôs). Por fim, um pequeno instrumental, "Tooginger", onde Junior presta homenagem ao baterista Ginger Baker (Cream).

A qualidade da gravação está excelente, embora em alguns momentos se faça oportuno um pequeno ajuste no equalizador para compensar um certo excesso de volume da bateria, mas nada que atrapalhe drasticamente o prazer proporcionado pela audição de mais um CD do Patrulha do Espaço, com certeza um dos decanos do Rock'n Roll brasuca".

Marcos A.M. Cruz

Outro jornalista que analisava obras e performances com detalhes, Marcos Cruz sempre se esmerava em suas resenhas para dissecar ao máximo cada obra que analisava e essa foi a sua marca registrada. De fato, acho que ele percebeu bem a riqueza implícita do nome do disco e a sua junção gráfica enquanto conceito, explícita na capa. 

Acho correto também que ele tenha notado que esse novo disco tenha sido mais direto, sem o devaneio todo do disco anterior e a sua percepção foi forte ao notar que sob um formato menor em termos de plataforma física, tivemos menos espaço para elucubrações artísticas mais avantajadas e assim, o recado teve que ser mais direto. 

Ao fazer um rápido apanhado de cada faixa, acho que as suas observações foram corretas sobre cada música. E finalmente, a sua observação sobre o áudio, foi pertinente. Ele nunca soube da dificuldade que enfrentamos para lançar esse disco e se apenas algumas frequências da bateria o incomodaram, fiquei até aliviado por saber dessa impressão da sua parte.

3) Guitar Player

Na revista Guitar Player, houve apenas uma nota sobre o lançamento do disco, não se tratou de uma resenha, propriamente dita.
Ainda em abril, tivemos uma boa nova e que veio de uma forma totalmente inesperada. Através dos membros da família Brandini, que acompanhavam a Patrulha do Espaço com muito entusiasmo, desde 2001, nós fomos informados que uma turma de estudantes de cinema havia proposto filmar um vídeoclip da banda, totalmente gratuito e que disponibilizar-nos-iam o material, a posteriori, para usarmos comercialmente, a vontade.
O seu intuito primordial foi usar tal material como uma peça a se constituir do chamado,"TCC" (Trabalho de Conclusão de Curso), na faculdade em que estudavam, mas não haveria nenhum empecilho para que usássemos o material em nossos propósitos de divulgação da banda. Claro, a ressalva óbvia, foi que não seria uma produção requintada e muito pelo contrário, haveria de ser permeada por improvisos e simplicidade.

A despeito dessa realidade nada glamorosa, éramos uma banda fora do circuito mainstream e certamente que naquela altura dos acontecimentos, tal oferta fora irrecusável, portanto, a aceitamos, prontamente. 

Tudo foi muito rápido como o previsto, pois nem pré-produção/reunião de "brainstorm" com a banda foi possível ser realizada. 

O tempo urgia, pois os jovens estavam atrasados no seu cronograma e desejavam filmar o quanto antes. Baseado na premissa da loucura da situação e um tanto quanto ao estilo do cineasta francês Jean-Luc Goddard, o roteiro foi feito na base da ideia (rápida) na cabeça e a produção, a toque de caixa, com a câmera na mão, já ligada. 

Nesses termos, nós escolhemos a música: "Homem Carbono" e os rapazes nos falaram que intercalariam cenas da banda a tocar, com cenas de rua a observar aspectos urbanos a esmo. 

De última hora, surgiu a ideia de uma inserção em termos de dramaturgia, mas se não havia dinheiro para necessidades técnicas prementes, o que dizer sobre contratar atores e pensar em alugar um estúdio para servir como set de filmagem, com adequação de iluminação, maquiagem, figurino, direção de arte, continuidade e tudo mais? 

Bem, então mais uma solução prosaica foi providenciada e um outro amigo nosso em comum, com a família Brandini, aceitou participar, mesmo não sendo ele um ator, longe disso.

Tratou-se de Carlinhos "Jimi", um guitarrista sensacional que também era nosso vizinho de bairro. O seu apelido, "Jimi", se dava pela obviedade de que ele adorava o trabalho do guitarrista norte-americano, Jimi Hendrix e de fato, sabia tocar todas as suas músicas, com uma perfeição de detalhes, notável. 

Tanto que até os dias atuais (2015), ele tem uma ótima banda tributo do Jimi Hendrix, chamada: "Stone Free", nome de uma música do grande mestre canhoto. 

Carlinhos aceitou a tarefa de atuar como um ator improvisado e não só isso, cedeu a sua própria residência como "set de filmagem" improvisada, além de seu carro e claro, o próprio figurino. Foi tudo muito improvisado, é óbvio, mas dentro das possibilidades de uma produção amadora, teve um resultado surpreendente, eu diria. 

Ao descrever sinceramente, creio ter visto vídeoclips profissionais com resultados pífios, ou até vergonhosos aos montes no mercado, e não é o caso desse vídeo de "Homem Carbono", de forma alguma. 

Sobre as cenas com Carlinhos, ele interpreta o "Homem Carbono" em questão, uma espécie de personagem anônimo, a representar o homem sem identidade alguma, massacrado pelo sistema. As cenas filmadas em sua casa, foram com tal personagem anônimo a acordar e a se arrumar para sair cedo para o trabalho e o diretor o orientou a representar a sensação de afobação, contrariedade, revolta pela vida sem perspectivas etc.

Segue o clip com ele a dirigir o seu carro, a se estressar ainda mais no trânsito e ao final, ele se revolta e diante dos membros da banda, o personagem entra em uma crise nervosa. 

Houveram também cenas intercaladas com populares em praças públicas e lógico, com a banda a tocar e cantar a música.

Sobre a participação da banda no clip, como não tínhamos show marcado para São Paulo para tão cedo, surgiu uma solução improvisada de última hora. Um dos rapazes envolvidos na produção, nos afirmou que o seu pai era proprietário de um galpão na região da Rua 25 de março e como é sabido, a se tratar do maior centro de comércio popular do país. 

Tal galpão estava desocupado e houvera sido colocado à disposição para locação e não haveria problema em usá-lo, desde que fora do horário comercial. Diante dessa perspectiva, em uma noite de um dia útil, nós conduzimos o nosso equipamento backline para o galpão e filmamos três ou quatro tomadas a simular uma apresentação, ao estabelecermos a mímica necessária para tal.

Tudo foi precário, não havia uma iluminação adequada, mas pelo menos os rapazes capricharam na câmera, que foi alugada e era profissional, portanto, apesar da ausência de uma iluminação com melhor potência, creio que o resultado é bem digno. 

É evidente que estou a analisar sob um prisma absolutamente despojado, ao levar em consideração que fora uma produção amadora, com custo praticamente zero e sob pobreza de recursos, portanto, fica a ressalva para o leitor que assistir e discordar de minha visão dessa obra audiovisual, para que compreenda o contexto no qual esse vídeo foi produzido. 

Só falta dizer que a cena final do destempero do personagem, "Homem Carbono", foi feita ao ar livre, em uma rua do bairro do Cambuci, em um dia útil e no período da tarde. 

A banda aparece sentada em uma mesa de um botequim muito simples e cujo dono era amigo da família Brandini e também do Carlinhos "Jimi", além do próprio, Rolando Castello Junior, e estabelecimento esse em que costumavam se encontrar, para beber cerveja, costumeiramente. 

Todos ganharam cópias de tal material, e de minha parte, providenciei em digitalizá-lo somente em 2006. Apenas em 2015, consegui colocar tal clip no YouTube e divulgá-lo em Redes Sociais da Internet, e desde então, tem feito bastante sucesso entre os fãs da Patrulha do Espaço. Tive a ajuda da produtora cultural, Jani Santana Morales, nessa empreitada, que aliás tem auxiliado-me a resgatar material inédito de muitas bandas por onde passei, incluso a Patrulha do Espaço. E também do baixista / web designer e produtor de vídeo, Marcelo "Pepe" Bueno, meu ex-aluno e componente do grupo, "Tomada", que inseriu o áudio estéreo, visto que o som original que eu dispunha, estava em mono.

Assista abaixo, o vídeoclip de "Homem Carbono":

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=lkUhtnHq1gg

Eis a ficha técnica do clip, publicada no YouTube, a fornecer os créditos para todos que o tornaram, viável:
 

Vídeo Clip da música "Homem Carbono", extraído do álbum ".ComPacto", da Patrulha do Espaço, produzido por uma turma de estudantes de cinema. Mescla cenas da banda a dublar a música em um galpão e dramaturgia com a presença de um amigo da banda, improvisado como ator, o guitarrista, Carlinhos "Jimi". 

Na ficha técnica, o nome do álbum está assinalado como: "Sendas Astrais", que era um título provisório, mas na realidade, quando o disco foi lançado oficialmente, foi denominado como: ".ComPacto"

Filmado e editado em 2003
Música: Homem Carbono
Álbum: ".ComPacto" (2003)
Homem Carbono (Rodrigo Hid/Marcello Schevano/Luiz Domingues/Rolando Castello Junior)
Direção: Eduardo Moya
Roteiro: Eduardo Moya e Patrick Flemer
Produção: Eduardo Moya
Assistente de Produção: Sérgio Sampaio e Andrea Mayumi
Câmera: Eduardo Moya
Iluminação: Patrick Flemer
Pós Produção: Patrick Flemer
Ator : Carlos José da Silva (Carlinhos "Jimi")

Formação da Patrulha do Espaço na época:
Rolando Castello Junior - Bateria e Percussão
Rodrigo Hid - Guitarra, Teclados e Voz
Marcello Schevano - Guitarra, Teclados, Voz e Flauta
Luiz Domingues - Baixo e Voz

Digitalizado em 2006
Produção para a Internet em 2015: Jani Santana Morales
Produção de áudio em 2015: Marcelo "Pepe" Bueno

Ainda em abril de 2003, uma reportagem de porte, enfocada em minha pessoa, enriqueceu o portfólio da banda e o meu, particular.
Fui retratado, portanto, nas páginas da revista: "Cover Baixo", especializada no universo do baixo/baixistas, que não era e não é um tipo de publicação que eu acompanhe, pois como todos sabem, não sou nenhum fanático pelo instrumento e seus meandros. 

E também não aprovo a linha adotada por esse tipo de publicação, que se orienta primordialmente pelo enaltecimento da técnica a ressaltar os músicos virtuoses e invariavelmente é seguida por adeptos do mundo do Jazz-Fusion ou do Hard-Heavu oitentista e eu não gosto desses dois universos e sobretudo da mentalidade de quem os acompanha.

Todavia, não tenho nada contra, tampouco nutro alguma contrariedade de ordem estética ou política em relação aos que professam e/ou apreciem essa estética musical etc. 

Apenas não gosto e a ignoro, mas sem nenhuma animosidade com ela em si ou em relação aos seus admiradores/seguidores. 

Portanto, claro que fiquei contente quando o repórter da revista me ligou e propôs a matéria, pois haveria de ser mais uma exposição oportuna para a banda e toda ajuda seria (é) bem-vinda. 

Fiquei ainda mais contente, quando verifiquei que na edição em que a matéria pela qual eu fora retratado, continha na capa e como reportagem principal, um baixista para lá de ilustre e Rocker, algo raro naquela publicação que invariavelmente costumava colocar na capa, baixistas fechados nesse mundo do "Fusion", a ostentar normalmente instrumentos com cinco ou seis cordas, quando não, os indefectíveis "fretless". 

Mas lá esteve Paul McCartney, em uma foto bem dos primórdios dos Beatles, com seu solerte baixo, "Hofner", em mãos. Não poderia ter sido melhor para a minha satisfação, ter um Rocker em destaque do que qualquer outro músico virtuose desse mundo fechado do Jazz Fusion.

Feliz e honrado, gostei ainda mais quando comprei a revista na banca e verifiquei que se preocuparam em elaborar um lay-out todo psicodélico, para ilustrar a matéria de uma forma muito fidedigna ao espírito que a Patrulha do Espaço teve nessa fase na qual eu fui componente e assim ao torná-la muito agradável para a minha inteira satisfação. 

Pareceu ser uma reportagem a comentar sobre o Jack Casady ("Jefferson Airplane"), mas estavam a citar o Luiz Domingues, ou seja, foi perfeito para um coração sessentista que bate dentro do meu peito!

A reportagem foi assinada pelo jornalista, Juliano Borges, que falou sobre a proposta da Patrulha do Espaço, mas pinçou momentos pregressos da minha carreira ao citar bandas e momentos anteriores, baseado em nossa conversa telefônica realizada sob uma entrevista informal que realizáramos. 

Nesta matéria, quase não foram mencionados os aspectos técnicos sobre baixo/equipamentos e técnicas ao instrumento, o que foi até surpreendente por se tratar de uma publicação especializada no assunto e portanto seguida por músicos que normalmente se interessam especificamente por tais nuances, mas o jornalista deixou uma observação que deve ter chocado o leitor padrão da revista, ao enfatizar a estranheza sentida pelo fato de eu usar "palheta", fator que é um verdadeiro tabu entre os seguidores do estilo do Jazz-Fusion. 

Para esse tipo de músico, a palheta é considerada um artifício usado por músicos de baixo nível, que não possuem capacidade técnica para tocar música sofisticada, com os requintes do virtuosismo que eles tanto apreciam.

Ora, é claro que eu não compactuo com essa visão que considero equivocada e preconceituosa, mas não tenho nenhuma intenção de convencer ninguém em contrário, tampouco me preocupo se tais pessoas me considerem um músico com menor envergadura.

Também achei muito positivo que o jornalista teve a boa ideia de incluir uma resenha do novo disco da Patrulha do Espaço, ao abrir um box para tal, em sua reportagem. Eis o que ele falou sobre o disco:

"Cantar Hard-Rock em português não é fácil. Se manter indiferente aos novos modismos que assolam a música pop contemporânea, sempre acenando com uma possibilidade de grande retorno financeiro, também não. Apesar do estilo que já teve a morte decretada centenas de vezes, também não é tarefa para muitos. Superar esses obstáculos e preconceitos? Só se você acredita e ama aquilo que faz. 

E é exatamente isso que a primeira audição de ".Compacto" passa ao ouvinte. A velha Patrulha está de volta com a habitual garra e totalmente de bem com o Rock'n' Roll.

A sensação que se tem ao ouvir a primeira faixa do disco "São Paulo City", é que entramos em uma máquina do tempo, com timbres setentistas, viradas poderosas de bateria, Fender Precision "roncando alto", guitarras mandando "riffs de responsa". "Louco um Pouco Zen" nos mostra toda a categoria de Luiz Domingues, que junto ao batera Junior, formam uma das grandes cozinhas do Rock nacional. 

Já "Sendas Astrais" fala de transcendência, com leves toques de misticismo, embalada por uma bela levada, com um belo solo de guitarra e intervenções de Moog e Hammond. Mais anos 70, impossível! Com letra contestadora e melodia contagiante, "Homem Carbono" tem tudo para se tornar um novo Hino da banda, como já aconteceu com Columbia. Já em "Nem Tudo é Razão", a Patrulha dá uma respirada com uma canção romântica, para retomar o clima na quase progressiva "Terra de Minerais".

O CD fecha com uma homenagem a Ginger Baker (ex-baterista do Cream), um dos ídolos de Junior. Esse é um disco perfeito para quem procura a verdadeira essência do verdadeiro Rock pesado brasileiro".

Juliano Borges


Bem, se trata de uma resenha muito boa e me surpreendeu, pois usou uma linha de raciocínio usual para um crítico de Rock e não fechado no espírito de uma revista técnica, pela qual costumeiramente o foco é a performance e a produção de áudio dos baixistas em geral. 

Mais matérias e resenhas do novo disco estavam a chegar nas bancas, mas o foco nesse instante foi retomar a rotina das turnês e nesse caso, tivemos uma nova viagem ao sul do país, desta feita ao visitar o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, apenas.

Após um hiato com quase seis meses, só quebrado por shows avulsos, estivemos de volta à rotina de uma turnê mais longa. A maratona a bordo do ônibus, com horas e horas de viagens cansativas, mas gratificantes pelo contato com o público, compensavam qualquer sacrifício. 

Desta feita, mesclaríamos apresentações em lugares em que já havíamos visitado anteriormente, com lugares totalmente novos.

O primeiro destino foi Florianópolis, onde tocaríamos em uma casa noturna com ares sofisticados, chamada: "Matisse". 

A viagem foi boa até Curitiba, e ali nós paramos para atender uma reivindicação do Rolando Castello Junior que ali tivera um compromisso de ordem pessoal. Foi estratégico para ele cumprir o seu apontamento e também para nós que pudemos dar uma boa esticada nas pernas e relaxarmos em uma providencial sombra, visto que apesar de estarmos no início de maio, o sol estava para rachar na estrada. 

Reiniciamos a viagem e fomos direto para Florianópolis, com bastante tranquilidade para nos hospedarmos em um hotel localizado a poucos metros do mar, na praia da Joaquina, na zona norte da cidade. 

Fiquei muito impressionado com as dunas de areia intensamente brancas e fofas que se formam até duzentos metros longe do mar e que se revelam como uma forte atração turística tão procurada quanto a própria praia. 

Ali, nos três dias em que nos hospedamos, vimos dezenas de turistas a brincar de "esquiar" sobre as dunas altíssimas e claro, com a maioria formada por argentinos, uma tradição na capital catarinense.

A praia também era (é) belíssima, é claro. Com muitos decks bem equipados para atrair turistas, mas igualmente a contar com belezas naturais preservadas, pois impressiona pela beleza e o bom cuidado do poder público, pelo menos naquela ocasião. 

A casa em que faríamos o primeiro show se tratava de um bar frequentado pela intelectualidade da cidade. Com esse nome, "Matisse", claro que era decorado com motivações inspiradas nas artes plásticas etc. e tal.

Houve um pormenor sobre essa casa. O seu proprietário se mostrara extremamente educado e solícito para conosco, mas deixara claro desde o início da contratação da banda, que mesmo sabedor de que tínhamos uma volúpia Rocker acentuada, ali naquele ambiente nós não poderíamos tocar com o nosso volume habitual. 

Nesse caso, combinamos de realizar um show semi-acústico, artifício que não foi uma novidade para nós, por termos feito shows sob tais condições anteriormente. Então, nos preparamos nesse sentido e nessa altura, ao fazer jus à sua incrível capacidade para aprender diversos instrumentos, o Marcello Schevano havia recém-adquirido um saxofone e já estava a realizar os seus primeiros solos, bem convincentes. 

Portanto, já nesse show ele apresentou mais essa possibilidade sonora para a banda. Outra novidade, foi que acrescentamos uma música do segundo álbum da Patrulha do Espaço, pós-Arnaldo Baptista, chamada: "Berro", canção que a banda não tocava desde 1982, em seus shows. 

Todos gostávamos dessa música que contém uma melodia muito bonita. Por uma semelhança harmônica em sua parte final, com uma canção do "Led Zeppelin", nós fizemos uma junção e ao final de "Berro" introduzimos o refrão da canção: "Your Time is Gonna Come", ao causar comoção espontânea, tanto pela emenda inusitada, quanto pela menção à música do Led Zeppelin.

O show foi muito bom, com um público mais adulto em predominância e que apreciou a sonoridade semi-acústica que imprimimos e para nós, foi tudo agradável, do tratamento que recebemos da equipe da casa, ao equipamento e claro, a reação do público. 

Uma particularidade engraçada, foi que o proprietário do estabelecimento ficou o show inteiro com um medidor de decibéis em mãos e o trato conosco fora mesmo em mantermos um padrão de volume baixo e linear. Aconteceu no dia 2 de maio de 2003, no Café Matisse de Florianópolis, com cerca de sessenta pessoas na plateia.

Quando voltamos para o hotel, ainda era madrugada e o convite para ficarmos um pouco na praia, foi automático. Completamente vazia, estava um espetáculo apreciar o seu ruído inerente sob o luar e as estrelas, confortavelmente instalado em uma poltrona do deck público. Até o "seu" Walter aproveitou esse momento e ao caminhar na areia, foi a caminhar até um longínquo rochedo, onde se pôs a conversar com dois ou três pescadores que ali estavam. 

E ele voltou com um "presente", ao trazer alguns peixes em uma cumbuca que ganhara dos pescadores. Para que ele aceitou o presente, nunca soubemos, pois certamente que não prepará-lo-ia no hotel e como conservá-lo-ia foi uma incógnita, pois de pronto o desaconselhamos a pensar no frigobar do quarto do hotel. 

No dia seguinte, teríamos um outro show em Florianópolis, e de novo, em uma casa noturna, mas ao contrário da noite anterior, se tratou de um ambiente bem mais conveniente à prática do Rock'n' Roll e assim, poderíamos usar e abusar da eletricidade e soltarmos as amarras de nossas mãos.

Após esse raiar do sol lúdico na praia deserta e apesar do vento forte que ali fazia, deu para descansarmos bastante e com o advento do compromisso na mesma cidade, tudo ficara mais ameno, visto que enfrentar a estrada dia após dia, sempre foi o que efetivamente nos cansava em demasia. 

Fomos para o "Drakkar", uma casa noturna localizada no centro nervoso da Lagôa da Conceição, portanto ali mesmo daquele lado da Ilha, com muita tranquilidade e rapidez.

Montamos o backline da banda no palco tímido da casa, contudo, tal disposição não nos causou grandes transtornos, pois há anos estávamos acostumados a lidar com todo tipo de palco, dos grandes, no padrão dos teatros com padrão no estilo do clássico "palco italiano", aos minúsculos, existentes em pequenas casas noturnas. 

A casa em si, se mostrara bem montada, entretanto, bem diferente da ambientação mais fina do "Matisse", na qual nos apresentáramos na noite anterior. 

Por conter um ambiente mais despojado, nos pareceu aberta a abraçar um show de Rock, e de fato, assim transcorreu. Após o soundcheck, resolvemos voltar ao hotel só para tomar banho, pois no entorno do Drakkar haviam muitos restaurantes, alguns charmosos até, com muitos turistas a frequentá-los etc. Portanto, voltamos para jantar nas imediações e já ficarmos por ali mesmo, para aguardar a hora do show.

Foi nesse momento após o jantar e pré-show, que eu e Marcello Schevano nos sentamos na porta do bar, em mesinhas que ficavam na parte externa da casa e vimos que um rapaz cabeludo parou, ficou a olhar o cartaz, e nós percebemos que ele estava a perguntar ao porteiro da casa, se nós seríamos mesmo a "Patrulha do Arnaldo Baptista", ou uma banda cover/Tributo. 

Foi quando eu o reconheci. Se tratou da persona de Ricardo Graça Melo, ator e cantor, filho da atriz Marília Pêra e do produtor de TV, Guto Graça Mello, e ele fora famoso nos anos setenta e oitenta por ter estrelado filmes ("Menino do Rio" etc), e novelas da TV. 

Levantei-me e fui falar com ele, ao convidá-lo para ele viesse mais tarde para assistir o show, mas ele não apareceu... uma lástima, porque certamente que o artista citado perdeu um dos shows mais energéticos que fizemos em 2003, pois a nossa performance no Drakkar foi alucinante, com um público quente, sob a vista de muitos fãs da banda e participação de Luiz Carlini e Helena T, que estavam na cidade e foram atuar no show, conosco. 

Saímos do palco inteiramente suados e satisfeitos com o resultado sonoro e o calor do público, que delirou. Essa é uma tremenda lembrança que eu guardo com carinho. Aconteceu em 3 de maio de 2003, no Drakkar de Florianópolis, com cerca de oitenta pessoas na plateia. 

Um show em outra cidade, logo a seguir, houvera sido cancelado, e com essa falta de apresentação em Vacaria-RS, ficamos com um hiato até o próximo compromisso: Porto Alegre. 

Portanto, prolongamos a nossa estada por mais um dia em Florianópolis, a dessa forma, nós aproveitarmos o hotel e a extrema proximidade entre o mar e as dunas. E no meio da tarde, partimos enfim para Porto Alegre, onde faríamos duas noites em uma casa curiosa, onde muitas histórias foram geradas.

Porém antes dessa inserção na capital gaúcha, nós chegamos em Novo Hamburgo-RS para tocarmos na segunda feira. O show de Vacaria-RS, houvera sido cancelado na noite anterior de domingo, mas o de Novo Hamburgo esteve confirmado, sem nenhum indício em contrário. Chegamos então nessa bela cidade gaúcha, com tranquilidade e a temperatura estava amena, ainda bem.
Tocaríamos novamente em uma casa noturna simpática, cuja decoração temática aludia aos Beatles, ao fazer jus ao seu nome: Abbey Road. Já havíamos nos apresentado ali em 2002, e houvera sido um grande sucesso de público, portanto, tivemos a perspectiva de repetirmos a dose, quiçá superá-la. Montamos o backline e realizamos o soundcheck com tranquilidade, quando uma conversa estranha irrompeu nos bastidores e o Rolando Castello Junior não apreciou o seu rumor.
Não cabe aqui esmiuçar o fato, pois é desagradável e não acrescentaria nada à minha autobiografia e mesmo por que, eu estaria a cair no erro do julgamento. O que cabe dizer é que envolvera um desmando do que havia sido previamente acordado em questão de valores e sem acordo para se chegar em um bom termo, o Rolando endureceu a negociação, ou melhor, a renegociação e diante do impasse, cancelou o show. Não foi a primeira vez que eu passei por esse tipo de situação na carreira, e aliás, no futuro teria por mais vezes esse tipo de dissabor, infelizmente.

Acho que no calor dos acontecimentos, o Rolando agiu corretamente como "empresário" que o era, forçosamente da banda, mas foi bastante frustrante desmontar o palco sob um clima de desilusão completa, e pior ainda, foi conversar com muitos fãs da banda que já se aglomeravam na porta do estabelecimento, absolutamente surpreendidos pela notícia do cancelamento e frustrados, naturalmente. 

Foi uma pena mesmo, e assim, deixamos de tocar em Novo Hamburgo-RS, na noite de segunda feira, 5 de maio de 2003. Bem, só nos restara cairmos na estrada e irmos diretamente para Porto Alegre, onde o proprietário da casa noturna em que tocaríamos, se prontificara a abri-la ainda naquela noite sob um caráter excepcional, só para podermos guardar o "backline" da nossa banda, no seu estabelecimento.

Teríamos o dia livre em Porto Alegre, de qualquer forma, mas com o cancelamento do show de Novo Hamburgo, nós antecipamos em muitas horas a nossa previsão de estada na capital gaúcha. 

A casa em que tocaríamos chamava-se: "8 1/2" e assim que eu conheci o seu jovem proprietário, a primeira questão que lhe perguntei, foi se o nome da casa teria algo a ver com o famoso filme de Federico Fellini, e só pelo semblante do rapaz, já notei que ele apreciava a cinematografia do mestre italiano, mesmo antes de pronunciar alguma palavra, ao confirmar a minha suspeita.

Bem, claro que eu gostei da menção temática ao cinema e soube de imediato que o Rolando Castello Junior também adoraria essa alusão explícita ao cinema. 

O estabelecimento se mostrou bonito pelo fato de ser um velho casarão, outrora residencial e aparentemente, a se tratar de uma construção dos anos 1910 ou 1920, talvez, pelo seu estilo arquitetônico. 

Tudo isso fora muito bonito visto pelo aspecto histórico, mas a casa não era a mais adequada para realizar-se shows de Rock. Apesar dos cômodos amplos e com pé direito alto, típicos de uma mentalidade arquitetônica antiga, que privilegiava espaço, sobretudo, na verdade tal construção fora concebida para ser residência, e claro que o arquiteto que a concebeu em 1910 ou 1920, jamais imaginou que um dia ali funcionaria um mini centro cultural com apresentações musicais, quanto mais com a eletricidade de um ritmo musical que só surgiria trinta ou quarenta anos depois da data em que a casa fora construída!

Mas a se pensar na estrutura ideal para nós em nada nos desanimou as suas precariedades visíveis, pois já havíamos tocado em ambientes adaptados de residência para estabelecimento noturno anteriormente e as possíveis adversidades não extrair-nos-ia o foco, portanto.

Um dos pontos obscuros em sua arquitetura, por exemplo, foi o fato de haverem colunas que representavam verdadeiros pontos cegos para atrapalhar de forma incisiva a visão de algumas pessoas, caso a casa superlotasse, e isso seria inevitável, pela natureza do imóvel.

A despeito dessas dificuldades, o seu mandatário se tratou de um rapaz jovem e bastante falante, que estava muito empolgado e como empresário, não mediu esforços para nos contratar para tocarmos na sua casa e a nos fornecer as melhores condições possíveis. 

O equipamento de PA alugado por ele, foi simples, mas funcional para o tamanho da casa e não deixar-nos-ia em em situação ruim. A iluminação disponível se mostrou bem fraca, mas estávamos resignados que ali faríamos dois espetáculos "intimistas", portanto, seria quase como fazer show no saudoso Teatro Lira Paulistana, em São Paulo, no qual a proximidade invasiva do público tornava o show um martírio para quem sofresse de "Stage Fright" (medo de palco). 

Na primeira noite, teríamos a abertura de uma banda local, com um som completamente dispare, ao sair do padrão normal de bandas de Rock, e geralmente a militar no campo do Hard-Rock com as quais estávamos habituados a lidar. Desta feita, a banda escalada foi instrumental em essência e praticava uma espécie de Free-Jazz com muita técnica e volúpia. 

Chamava-se: "Blass". Já no soundcheck, nos confraternizamos com os rapazes dessa banda que usaram todo o nosso equipamento e até uma Jam-session vespertina aconteceu, com o Marcello Schevano a tocar baixo e o Rodrigo Hid aos teclados, junto aos rapazes. 

Lembro-me que a banda deles era grande, com sete ou oito componentes, e além dos instrumentos tradicionais, continha alguns sopristas em sua formação, o que lhes fornecia uma estridência extra.

O seu som era bastante violento, no sentido do ímpeto, praticamente com pegada Rocker, fator nada usual entre jazzistas. Então, mesmo ao professar um som que beirava o Free-Jazz em sua estética, esses músicos tocavam como uma banda de Rock, furiosa. 

Em suma, com toda aquela técnica e pegada forte, eram muito bons. Claro, o som que faziam era para poucos aficionados e nada popular, portanto, mesmo ao estarem a tocar em seus domínios, a possibilidade para atrair um público agregado, foi mínima. 

Sendo assim, o produtor do show privilegiou a qualidade artística do evento, mas não pensou na sua melhor condução sob o ponto de vista comercial. Como músico, artista e entusiasta da arte & cultura, achei uma maravilha, mas comercialmente a falar, foi uma decisão equivocada, sob o ponto de vista gerencial, eu diria. 

Uma grande pena, pois não atraímos um grande público, e certamente que o som anticomercial do Blass, muito menos.

Apesar de estarmos diante de apenas quarenta pagantes, fizemos o nosso show habitual e quem esteve ali presente comparecera para nos ver de fato e gostou muito. Fomos bastante assediados para cedermos autógrafos e em uma casa sem estrutura com camarins, mesmo que não gostássemos e quiséssemos isso, seria inevitável. 

Mas claro que adorávamos esse carinho e foi sensacional. Horas antes do show, quando chegamos ao estabelecimento, eu tive uma experiência das mais agradáveis, pessoalmente. Assim que chegamos, um rapaz que estava sozinho, encostado no muro externo do estabelecimento, me abordou e ele ostentara em suas mãos, uma cópia do compacto d'A Chave do Sol, a minha banda nos anos oitenta. 

Ao se dizer emocionado por me conhecer, eis que ele reivindicou o meu autógrafo na capa e me pediu mil desculpas por não poder assistir o show da Patrulha do Espaço, visto ser um dia útil e isso prejudicar-lhe-ia bastante no dia seguinte, ao ter que acordar cedo etc. 

Em síntese, como não me emocionar com uma abordagem assim? Aquela sensação de dever cumprido, de que tudo valeu a pena e a carreira cumpria a sua função, ao espalhar arte, cultura & emoção para a vida das pessoas, enfim... posso não nadar em dinheiro, não ser mega famoso em esferas populares, não apareço em programas populares e nem sou falado em sites de fofocas de "famosos", mas tenho plena consciência que tenho fãs e admiradores da carreira inteira, espalhados pelo país afora.

No dia seguinte, o dono do estabelecimento se mostrou chateado com o resultado financeiro da noite anterior e nos pediu um abatimento no cachê acordado e fixo, com o qual nos prometera em São Paulo.

Entretanto, diferentemente da situação vivida em Novo Hamburgo-RS, duas noites antes, nós percebemos nitidamente que o rapaz era um produtor jovem e ainda inexperiente sob vários aspectos e que ao não saber lidar com a realidade do show business, estava diante de uma situação difícil. 

Bem, claro que nessas circunstâncias muito diferentes, lhe demos um abatimento, visto que esteve patente que o rapaz se esmerara para cumprir o seu melhor, mas lhe faltou experiência para dar os passos certos e não errar na produção. Portanto, claro que ele mereceu um voto de confiança. 

No dia seguinte, tivemos um público bem melhor no ambiente e quase que deu para o rapaz equilibrar as suas contas e pagar o nosso cachê, ainda que com um desconto generoso, sem tirar do bolso para coibir o prejuízo.

Nesse segundo show, a banda de abertura foi orientada pelo Rock, portanto mais próxima da nossa sonoridade, do que o Jazz instrumental e muito louco, da noite anterior. Tal banda chamava-se: "Suco Mau" e pelo que me lembro, os rapazes faziam algo muito próximo do Brit-Pop noventista como sonoridade, ou seja, foram na esteira daquelas bandas britânicas que resgatavam o "bubblegum" sessentista, quase que explicitamente nos anos noventa.

Enfim, gostei da sonoridade dos "guris" e apesar de ter apreciado muito a performance forte da banda instrumental que tocara na noite anterior, mediante a sua diversidade musical em relação ao nosso trabalho, claro que uma banda de Rock a resgatar os ventos sessentistas sob doses maciças agradar-me-ia muito mais, particularmente. 

Sobre o nosso segundo show, este foi tão bom ou melhor que o da noite anterior, ao nos dar muita satisfação com esse contato com o público Rocker, porto-alegrense. 

Apesar das dificuldades em fazer shows em uma casa não muito apropriada para a prática do Rock e dos erros de estratégia do produtor, ainda que plenamente justificados, nós gostamos de realizar os dois shows, sem dúvida alguma.

Os shows no bar "8 1/2", ocorreram nos dias 7 e 8 de maio de 2003, com quarenta e setenta pagantes, respectivamente. 

Uma lembrança boa que eu guardo desses três dias que permanecemos em Porto Alegre, aconteceu por dica do produtor do show, que aliás não mediu esforços para nos fornecer o máximo de conforto e hospitalidade nesses dias. 

Ele nos falou sobre uma tradição na cidade, que são as pastelarias uruguaias, que tem aos montes em todos os bairros de Porto Alegre. E de fato, muito perto da casa noturna, havia uma que frequentamos bastante naqueles três dias. Diferentemente das pastelarias paulistas geralmente administradas por japoneses ou chineses, em Porto Alegre existe essa tradição das pastelarias abertas por imigrantes uruguaios, que apresentam uma receita de massa diferente, muito peculiar e saborosa.

Tais pastéis apresentam os recheios clássicos dos seus pares convencionais, mas alguma coisa existe de diferente na composição da massa que os torna diferentes e muito saborosos, fora a questão do molho que servem como acompanhamento, alguma especialidade feita com ervas e azeite, que é muito bom.

Nada contra as pastelarias paulistas/paulistanas administradas por orientais e aliás, que são maravilhosas e inigualáveis para quem não conhece São Paulo, mas essas administradas por uruguaios que moram em Porto Alegre, são peculiares e muito boas também. 

Bem, dicas turísticas a parte, chegara a hora para deixarmos a bela capital gaúcha e rumarmos para uma outra cidade, ainda dentro do estado do Rio Grande do Sul. São Leopoldo-RS, onde já havíamos tido tantas alegrias no passado, nos aguardava novamente...

Rumamos para São Leopoldo-RS, na tarde do dia 9 de maio e sabíamos de antemão que teríamos uma entrevista em uma emissora de rádio local, para auxiliar na divulgação do evento. 

A casa onde tocaríamos, seria novamente o BR-3, local onde já havíamos nos apresentado anteriormente. Sobre a casa e suas limitações técnicas, eu já discorri amplamente em capítulos anteriores, assim como também já destaquei os inúmeros pontos positivos em ali se apresentar, muito mais condicionados aos fatores humanos, relacionados, portanto, à vibração dos Rockers locais.

Novamente teríamos o apoio de nosso colaborador incansável, Luciano Reis, e claro, a sua banda novamente abriria o evento. 

Bem antes do soundcheck, enquanto os nossos roadies descarregavam o ônibus, eu (Luiz), Rolando Castello Junior e Rodrigo Hid, fomos levados ao campus da "Unisinos" (Universidade do Vale dos Sinos), uma importante universidade gaúcha e cujo nome fazia referência à região onde São Leopoldo e outras cidades gaúchas inserem-se, o chamado: "Vale dos Sinos". 

A nossa entrevista ocorreu na emissora gerida pela própria universidade e ali fomos muito bem recebidos pela produção. A entrevista foi ótima, com o locutor bem preparado para nos receber, ao nos formular perguntas bem pertinentes. 

Em meio a uma visita de cortesia à discoteca da rádio, ficamos contentes ao verificarmos que haviam álbuns de vinil da Patrulha do Espaço, em seu acervo.

Também ficamos contentes por nos depararmos com uma boa matéria que houvera sido publicada no maior jornal da região, a reforçar a divulgação. 

Cumprimos o soundcheck com objetividade e pelo fato de já conhecermos o local e também as suas limitações, já sabíamos de antemão das providências a serem tomadas para que fosse possível se minimizar as precariedades e nesse sentido, claro que a ação providencial do Luciano Reis, em buscar soluções práticas, foi novamente fundamental. 

A sua banda, o "Voodoo Trio", tocaria mais uma vez, mediante um repertório recheado por covers variados e bem escolhidos em torno dos clássicos do Hard-Rock setentista internacional e notadamente a privilegiar a produção britânica.

Fizemos um ótimo show para o público quente de São Leopoldo-RS e sempre foi muito prazeroso termos uma plateia Rocker, 100% antenada em nossos valores e tradições. 

Desta vez, eles não xingaram os porto-alegrenses e nem cantaram o hino gaúcho, mas prevenido, eu também não falei nada sobre termos feito dois shows na capital e assim não despertei a rivalidade local entre eles. 

Dia 9 de maio de 2003, BR-3 Bar, São Leopoldo-RS, com cento e vinte pessoas, Rockers de verdade na plateia! Missão cumprida e com louvor, graças à energia que sempre ganhávamos do público de São Leopoldo, a próxima parada foi cumprida em Joinville-SC.

Foi uma viagem tranquila e é preciso salientar que o fato de não termos tido problemas com o ônibus foi algo raro. Chegamos em Joinville-SC para mais uma apresentação na casa noturna, "Cais 90", na qual já havíamos nos apresentado também, em ocasiões passadas. 

Sabíamos que a acolhida seria ótima, um bom público compareceria e haveria um contingente Rocker de primeira qualidade, baseado na experiência adquirida, ali mesmo. De fato, tudo isso aconteceu, e com um dado a mais: desta feita, com um público bem maior do que o de ocasiões anteriores. 

Foi muito bom rever o amigo, Parffit Balsanelli, baixista da banda, "Os Depira", e nessa altura dos acontecimentos, as nossas conversas sobre o Prog-Rock setentista eram sempre animadas e aguardadas, certamente.

A abertura do show ficou a cargo de uma banda chamada: "Blues Band" e que de fato, honrou o nome ao executar uma sessão boa de blues. O som do PA continuava a operar de forma mono, mas o dono também continuava hospitaleiro e tão simpático conosco, que nem reclamamos dessa falha bizarra. 

Só um dado desagradável ocorreu, mas foram os ossos do ofício. Na primeira vez em que fomos tocar nesse estabelecimento, nos hospedáramos em um tremendo hotel de luxo, Na segunda, em outro, muito bom, mas seguramente duas "estrelas" abaixo. Nesta terceira vez, porém, o rapaz nos pediu mil desculpas, mas ao alegar dificuldades gerenciais, nos solicitou a nossa gentileza no sentido de que nos alojássemos em um hotel bem mais simples. 

Ora, tudo bem, ninguém nessa banda era "estrela" e teria uma crise nervosa por conta disso. Só que não contávamos com uma queda tão brusca do nível das acomodações, pois esse hotel foi dureza para aturar, visto que haviam muitos outros hóspedes ali lá alojados, ou seja, a se tratar de uma verdadeira horda composta por pulgas e pernilongos a nos assolar com imensa volúpia. 

Voltamos do show na metade da madrugada e a meta inicial seria dormirmos para viajarmos após o almoço, mas isso não foi possível quando nos demos conta de que dormir não seria possível com tantos amigos vampiros interessados em se alimentarem com o nosso sangue. 

Bem, não foi culpa do nosso simpático anfitrião, mas da sua combalida conjuntura econômica e assim, mesmo a entender perfeitamente a dificuldade inerente de sua parte, preferimos enfrentar os seiscentos e cinquenta Km que separavam-nos de São Paulo e de nossas respectivas residências. 

O "seu" Walter deu a partida no ônibus e embora todos estivessem bem cansados, ele não se furtou de seus berros habituais: -"sai da frente do azulão, seus FDP"...

Tivemos a seguir uma convocação para participarmos de um show comemorativo, do qual não poderíamos faltar, e na prática, seria um prazer participar. A loja/ gravadora Baratos Afins faria aniversário a comemorar os seus vinte e cinco anos de existência e estava a preparar um show comemorativo com alguns artistas do seu elenco. 

A Patrulha do Espaço tinha uma história ali e eu, particularmente, também, pelo fato de minha ex-banda, A Chave do Sol, também ter construído uma história dentro dessa gravadora, com dois álbuns ali lançados. 

Mas antes de participarmos desse show festivo, uma outra festa e desta feita bem mais intimista, apareceu em nossa agenda.

O casal amigo, Brandini, faria uma festa particular, e por serem muito amigos de todos os membros da nossa banda, eles nos convidaram a tocarmos em sua festa particular, mas que na verdade seria realizada em um ambiente aberto ao público em geral. Dessa forma, se constituiu na verdade, de um show da banda, propriamente dito.
Foi muito prazeroso e não tivemos nenhuma preocupação em divulgar o evento por não conter o caráter de um show oficial, embora no momento crucial, tenha culminado se firmar como um show de fato, com bastante movimentação no ambiente, inclusive, a conter gente alheia à festa do casal amigo.

Ocorreu no dia 17 de maio de 2003, em um bar chamado: "Granfino", situado no bairro da Vila Mariana, na zona sul de São Paulo. Cerca de cem pessoas nos viram a tocar em um show intimista, com aquela característica semi-acústica com a qual tínhamos para nos apresentarmos sempre como uma opção para ocasiões assim. 

Agora sim, a próxima parada foi o Sesc Pompeia, um palco histórico de São Paulo e que abrigaria a festa da Baratos Afins.

Todas as fotos dessa apresentação intimista no Granfino Bar, citadas acima, são do acervo de Cynthia Baker Brandini

Como eu já mencionei anteriormente, teríamos um show prazeroso para cumprirmos, em homenagem a loja/gravadora Baratos Afins.

É inegável o prestígio que o produtor, Luiz Carlos Calanca, tem no meio musical brasileiro, tanto por sua loja que é uma das mais tradicionais e famosas do Brasil, quanto pela sua gravadora, em que tantos artistas significativos lançou, e claro que me sinto suspeito e até um tanto quanto constrangido em me incluir nesse rol, ao fazer uso do autoelogio, mas claro que dele faço parte.

Ao comemorar os vinte e cinco anos de existência da Baratos Afins na ocasião, o Calanca convocou a Patrulha do Espaço para tocar e de fato, a nossa banda havia sido uma das primeiras a produzir álbuns chancelados por essa gravadora alternativa e com ares de independente, mas que crescera muito e mesmo com o Calanca a negar peremptoriamente tal fato, havia se tornado há tempos, uma gravadora com médio porte, a conter uma estrutura que muita gravadora supostamente sob maior porte, não ostentava.

O show seria realizado no palco da Chopperia do Sesc Pompeia em São Paulo, e contaria com muitas atrações que eram artistas do passado da gravadora, ou daquela atualidade de 2003. 

Seriam três dias de apresentações, ao caracterizar um mini festival, e com o prestígio que o Calanca mantinha, este arregimentou mídia espontânea, além de atrair um bom público para os três dias de sua realização.

No camarim, o cantor, Serguei nos contou pela "bilionésima" vez o seu namoro com a mega Rock Star, Janis Joplin, e por exagerar ao cubo, ele citou a sua estada em Los Angeles no ano de 1970, com direito a passeios em carrões norte-americanos conversíveis, com a presença de astros como Jim Morrison, Janis Joplin & Jimi Hendrix, ao seu lado como companhias no mesmo veículo, e todos "a viajarem" sob efeito de ácido lisérgico. Bem, quanto à viagem de ácido, esta foi a única possibilidade plausível que poderíamos acreditar ser verdade em tudo o que nos disse...
Mas claro, a mentira contumaz contada com aquele teatro glamorizado todo que ele fez, tornou a nossa estada no camarim, divertidíssima. Lembro-me do nosso amigo, o baterista, Junior Muelas, a imitá-lo a posteriori, com uma perfeição tão grande que superou nesse quesito, o nosso imitador-mor, Rodrigo Hid. Foi hilário!

Outra personalidade que esteve no mesmo camarim, foi o Catalau, ex-vocalista do Golpe de Estado e que naquele instante estava recém-convertido ao cristianismo sob viés evangélico e tornara, por conseguinte, a sua carreira solo como cantor, direcionada à música Gospel. Que fosse feliz (e seja), com a sua fé.

O show foi filmado, e a filha do Luiz Calanca, Carolina Calanca, teve a intenção de produzir um documentário dele, mas o fato foi que ela demorou anos para que isso se concretizasse. 

Finalmente em 2016, Carolina Calanca anunciou nas Redes Sociais ao menos o lançamento do vídeo a conter a apresentação da Patrulha do Espaço. Veja abaixo a performance da banda nessa grande festa da Baratos Afins, na Chopperia do Sesc Pompeia, em São Paulo, no dia 23 de maio de 2003. Um rapaz chamado, Juliano Peleteiro, leva crédito como coprodutor do documentário:

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=KpBzlgliD6M    

Sobre a nossa apresentação, esta foi muito quente, com o público a responder de uma forma excepcional. Achei a receptividade tão calorosa, que lamentei ter sido um show de choque, pois com aquela plateia Rocker, nós e eles, o próprio público, merecíamos termos tido um show completo.
Para incrementar esse público tão animado, houve um contingente formado por pessoas que houveram se deslocado de Brasília só para nos ver. Ao nos abordarem no momento do pós-show, tais pessoas nos contaram que faziam parte de uma turma grande formada por cultuadores das estéticas do Rock oriundas das décadas de 1960 & 1970 e odiavam a fama que Brasília detinha de ser reduto de "Rockeiros" oitentistas, berço do "BR-Rock 80's" e antro de falsos Punks burgueses e metidos a "revoltados com o sistema", quase todos a se revelarem como filhinhos de diplomatas e funcionários públicos de alto escalão ou milicos. Cáspite! Então havia vida Rocker inteligente em Brasília, que maravilha...
Foi um grande show, ainda que tenha sido curto demais em sua duração, diante daquela euforia toda que geramos, uma pena, pois pareceu clima de show de Rock nos anos 1970, tamanha a interação e magia criada em perfeita sincronia.
Assim a Patrulha do Esçao se apresentou no dia 23 de maio de 2003, na Chopperia do Sesc Pompeia, em São Paulo, a se comemorar a festa de vinte e cinco anos de existência da Baratos Afins, e com cerca de trezentas pessoas na plateia.
No dia seguinte, teríamos mais um show no interior de São Paulo.

Após a ótima apresentação em meio ao show de aniversário da Baratos Afins, fomos novamente ao interior paulista, mas desta vez, para cumprirmos um show apenas, em caráter avulso e não inserido em uma mini etapa da turnê. 

O nosso destino foi Limeira-SP, para mais uma aterrissagem no Bar da Montanha, reduto Rocker daquela cidade, capitaneado pelo Wando e seu irmão, ambos Rockers contumazes. Uma ótima notícia, a banda de abertura seria o "Homem com Asas", dos nossos amigos de São Carlos-SP, e aliás, a se tratar de uma ótima banda.

O frio já se fazia presente ao final de maio e mesmo no ambiente do sempre tórrido interior paulista, naquele fim de tarde e noite, o vento frio se apresentou de uma forma proeminente. 

A casa lotou, e ao contrário de ocasiões anteriores em que ali tocáramos, quando o público se dividiu entre os fãs da Patrulha do Espaço, super animados e uma outra parcela apática (apesar de ser, visualmente ao menos, supostamente um contingente "Rocker"), desta feita se comportou de uma forma linear, ao apreciarem o show da forma como gostávamos que sempre aproveitasse.

Uma turma que veio de uma cidade próxima, Santa Bárbara D'Oeste-SP, estava enlouquecida, ao lembrar o comportamento dos Rockers de Chapecó-SC, quando nos apresentávamos na cidade vizinha de Concórdia-SC. 

Tanto que tivemos que lhes ofertar dois "bis" para podermos encerrar o show, porque o público estava alucinado e não nos deixara sairmos do palco. Noite memorável e por se considerar que a noite anterior fora espetacular, também, com direito a ovação do público em São Paulo, eu posso afirmar que foi uma sequência muito vitoriosa para a banda. Dia 24 de maio de 2003, sábado, Bar da Montanha em Limeira-SP e com trezentas pessoas presentes na plateia.

Chegamos em São Paulo já com o dia amanhecido, apesar da curta distância percorrida, com apenas cento e setenta km que separam Limeira de São Paulo, e sob um frio intenso. 

Missão cumprida com louvor, o Rock fora glorificado nesses dois últimos dias. Muitas matérias publicadas a repercutirem sobre o novo CD e/ou entrevistas, nos animaram nesses dias e um novo show no Centro Cultural São Paulo estava por se aproximar.

Uma entrevista que eu havia concedido a um fanzine temático com postura editorial pró-anos sessenta-setenta, chamado: "Mutante", me ofertou a oportunidade para falar mais profundamente sobre a proposta da nossa banda, desde a sua volta à cena em 1999. 

Tirante alguns momentos de ingenuidade confessa de minha parte, inebriado pela minha idiossincrasia que me fizera ter a falsa impressão de que mudaríamos o panorama cultural mainstream naquele momento, o que eu preguei em termos ideológicos, ainda mantenho com convicção. O meu comprometimento com as tradições do Rock, contracultura, ideais aquarianos e que tais, não mudam, jamais.

Uma ótima entrevista foi publicada na revista Rock Brigade, nº 202, publicada em maio de 2003 e conduzida pelo grande jornalista, Antonio Carlos Monteiro. Nela, nós falamos sobre o momento de 2003, sob os auspícios do álbum: ".ComPacto", e nesse aspecto, a explicar como ele fora concebido e as suas diferenças e semelhanças com o álbum anterior, "Chronophagia". 

Um curioso "box" proposto pelo jornalista, Tony Monteiro, exigiu do Rolando Castello Junior, uma reflexão sobre os ex-membros da banda ao narrar sobre os seus respectivos destinos após passagem pela banda. Revelou-se, pois, um documento histórico para a história do nosso grupo, sem dúvida.

Mais uma entrevista muito proveitosa foi publicada na revista "Cover Guitarra", com nossos guitarristas, Rodrigo Hid e Marcello Schevano, e que ao fugir do padrão desse tipo de publicação voltada para o mundo dos guitarristas com assuntos técnicos sobre tal universo, se optou por deixá-los a falar à vontade sobre aspectos subjetivos da produção artística da banda. Revelou-se muito boa a opção da jornalista, Ana Teresa Bolognesi, para a edição de nº 102, dessa referida revista.
E mais uma vez. o nosso baterista, Rolando Castello Junior concedeu entrevista para a revista, "Batera & Percussão", desta vez, em sua edição de nº 69, e que foi conduzida pela jornalista, Mariana Souza.
Rolando falou à vontade sobre o novo álbum e também discorreu sobre as dificuldades em ser artista independente no Brasil, ao ter que enfrentar todas as dificuldades inerentes que surgem para atrapalhar a vida do empreendedor em geral e nesse caso, o produtor cultural, para poder colocar uma obra na prateleira. E se for o próprio artista que cuida disso, mais dramática ainda é a situação...
 
Fanzine Mega Rock, n° 34, de julho de 2003, com entrevista conduzida pelo sempre abnegado fanzineiro, Fernando Cardoso.

Em mais uma abordagem do fanzineiro, Fernando Cardoso, para o seu veículo, o "Mega Rock", eu concedi uma entrevista sozinho, ao receber o seu editor em minha própria residência. Por falta de sincronia com os demais companheiros que não poderiam estarem presentes no mesmo dia e hora, eu falei como porta-voz da banda e assim esmiucei o novo álbum, sob vários aspectos, inclusive com considerações sobre cada faixa do disco.
Eis acima o release oficial do disco ".ComPacto", que foi escrito pelo jornalista, Dum de Lucca. Em anexo, nessa montagem para envio à imprensa e produtores de shows, há a presença de algumas frases que foram extraídas de resenhas em órgãos de imprensa, ao visar causar impacto, e um box com a discografia completa da banda, como um anexo, além dos contatos, naturalmente.

Resenha sobre o show de lançamento do CD ".ComPacto", publicada na revista Rock Brigade, nº 202, publicada em maio de 2003.

Houve então uma outra resenha simpática sobre o show de lançamento do álbum ".Com Pacto", que fizéramos em março e foi publicada na revista "Rock Brigade, em maio de 2003, edição número 202, mas o rapaz em questão cuja sigla "PM" não consegui decifrar de quem se tratava, se equivocou sobre a presença de um convidado. Ricardo Schevano, irmão de Marcello Schevano, na verdade é baixista, e entrou para tocar: "Meus 26 Anos", mas no baixo. Mas tudo bem, foi um pequeno lapso, issi acontece. 

Próximo compromisso: Centro Cultural São Paulo.

Desde 1999, havíamos adquirido a rotina ao mantemosr uma temporada anual a ser cumprida no histórico Centro Cultural São Paulo. Apenas em 2000, tivéramos um show isolado apenas, mas nos demais anos até então (1999, 2001 e 2002), mantivemos mini temporadas, com dois ou três shows consecutivos.

Desta feita no entanto, a agenda do CCSP nos concedeu só um dia, e como eu já expliquei reiteradas vezes, tocar um dia somente é sempre um transtorno, porque resulta em todo o trabalho para transportar e montar o equipamento, arrumar o camarim, afinar a iluminação e fazer o cansativo soundcheck, para um único show apenas, com a perspectiva em ter que se desmontar e cuidar da logística da saída, no mesmo dia, e quando se tem mais um ou mais dias com espetáculos, os demais dias de apresentações são muito mais tranquilos, com o artista a ter mais tempo para relaxar e se concentrar em fazer uma boa performance no palco, tão somente. 

Infelizmente, em 2003, isso não foi possível e assim, só tivemos essa data, em julho. A se registrar também, que tivemos um adereço de cena muito especial nesse show, ao colocarmos no palco uma escultura em formato de um extraterrestre, estilo "grey", para quem acompanha a ufologia. tal obra fora de autoria de uma das filhas da fotógrafa, Ana Fuccia (Amanda Fuccia), que nos emprestou gentilmente a sua obra para ser objeto cênico do nosso show. 

Em tamanho mais ou menos de 1.50 m, impressionava pela perfeição, e ficou acomodado perto da bateria, a chamar a atenção do público. Nada melhor para enfeitar o palco, que um "ET", ao fazer jus ás tradições espaciais da nossa banda.

Tudo bem, fizemos nossa divulgação de praxe e lá fomos nós tocar, no dia 20 de julho de 2003, um domingo.
Tivemos novamente o ex-guitarrista da nossa banda, Dudu Chermont, como um convidado mais do que especial. Nesse caso, digo que um ex-membro histórico da própria banda não foi exatamente um convidado, mas algo além, pois a sua história na banda lhe conferia um status diferenciado em relação a um outro convidado que viesse a abrilhantar a noite.
Tivemos um bom público, e a performance do Dudu conosco foi bastante emocionante. Exatamente como fizera quatro meses antes em sua participação conosco no show de lançamento do álbum ".ComPacto", em um salão da zona leste de São Paulo, Dudu tocou como se o tempo não tivesse passado.
No entanto, sua saúde estava péssima, decorrente de várias doenças degenerativas que o acometiam e que lhe extirpara a vitalidade e também a coordenação motora. Por perder os sentidos com frequência devido aos picos de subida da pressão arterial, ele estava há meses a sofrer desmaios que lhe conferiam tombos terríveis e assim, estava sempre com escoriações pelo corpo todo, decorrentes de tais quedas no solo.
De fato, ele estava irreconhecível, envelhecido precocemente e com uma coloração de pele que denunciava as doenças que lhe acometiam naquele instante e ainda por cima com escoriações por conta das quedas bruscas no solo, pelo motivo dos seus desmaios constantes.
Todavia, quando ele empunhou a guitarra e cantou, já no soundcheck, foi incrível como se houvesse (e houve) uma luz emitida pelos Deuses do Rock a iluminá-lo, pois ele tocava e cantava como se estivesse nos anos de ouro de sua presença como guitarrista e vocalista da Patrulha do Espaço, nas décadas de setenta e oitenta. Portanto, ele se apresentou com uma firmeza incrível, naqueles minutos em que atuou no palco, ao se parecer com o Dudu Chermont "Rock Star" que eu conhecera pessoalmente em 1982, mas que já acompanhava desde 1976, ao vê-lo tocar ao vivo, em shows de Rock.

Dudu Chermont em dois momentos: a tocar com a Patrulha do Espaço no final dos anos setenta, à esquerda e no dia do show do Centro Cultural que descrevo neste ponto, à direita. Na foto de 2003, é possível notar o braço do meu baixo Rickenbacker, ao fundo 

Eu, Luiz e creio que todos os membros da nossa banda, ficamos emocionados com a sua performance no show e tristes ao mesmo tempo, por vê-lo em um estado tão debilitado, que lhe fizera apresentar dificuldade na locomoção. 

Inclusive, nesse dia ele estava a usar uma bota de gesso, pois havia fraturado o pé, recentemente. Enfim, não só nos emocionou no dia, como é com pesar que observo isso, mas esse foi o seu último show de Rock em vida, pois ele veio a falecer dois meses depois, em setembro de 2003. 

Dia 20 de julho de 2003, domingo. Centro Cultural São Paulo, com trezentas pessoas na plateia. Esse show foi filmado e um dia, tais imagens poderão vir à tona, via YouTube.

Dedico este capítulo ao grande, Dudu Chermont.

Foto da formação clássica da Patrulha do Espaço, do início dos anos oitenta. Dudu Chermont à esquerda, Rolando Castello Junior ao centro e Serginho Santana à direita. Infelizmente, Dudu e Serginho nos deixaram e reforçam atualmente o time de Rockers lá no Olimpo dos Deuses do Rock. Click: Lincoln Baraccat
 
Continua...

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