Pesquisar este blog

sábado, 5 de dezembro de 2015

Patrulha do Espaço - Capítulo 5 - Aparecer na TV e Preparar um Novo Álbum - Por Luiz Domingues

Surgiu então uma nova oportunidade para divulgar o nosso trabalho em um programa de TV, mais ou menos nessa época. Tratou-se do Programa "Miguel Vaccaro Netto", uma produção independente, exibida no canal comunitário de São Paulo. 

O convite surgiu não para a Patrulha do Espaço exibir-se propriamente dito, todavia, para o Rolando Castello Junior participar de um debate com outros convidados, quando ele falaria possivelmente sobre o panorama musical daquele instante, 2001. 

Pois então, eu mesmo (Luiz), fui com ele a um pequeno estúdio localizado na Vila Sonia, bairro da zona sudoeste de São Paulo, em uma tarde de um dia de semana.

             O músico, jornalista & crítico musical, Régis Tadeu 
              O hoje saudoso crítico musical, Toninho Spessoto 
A banda "La Carne", cujo guitarrista que compareceu ao debate, é o primeiro à esquerda na foto acima e chamava-se, Jorge Jordão  
Sérgio Dias, o mito mutante, que dispensa maiores apresentações

Ao chegarmos lá, soubemos que além do mediador, Miguel Vaccaro Netto, participariam também os jornalistas, Régis Tadeu e Toninho Spessoto, além do guitarrista da banda independente, "La Carne" (Jorge Jordão), e Sérgio Dias, guitarrista dos Mutantes.

A formação completa d'A Chave do Sol reunida no gabinete de Miguel Vaccaro Neto, em algum dia de setembro de 1986. Da esquerda para a direita: Eu (Luiz Domingues), Rubens Gióia, Sonia Magno (sócia de Miguel na ocasião), Miguel Vaccaro Netto, Beto Cruz e José Luiz Dinola.

Eu tive um envolvimento profissional com o Miguel Vaccaro Netto, pois ele houvera sido empresário d'A Chave do Sol, durante um curto período entre 1986 e 1987. Não fora uma experiência positiva, mas tantos anos depois, não haveria motivo da minha parte para guardar ressentimentos, e eu fui tranquilo para tal apontamento, sem nenhuma preocupação em revê-lo, muito pelo contrário, com boa expectativa nesse sentido. 

E de fato, a culpa por esse fracasso da sua atuação como empresário d'A Chave do Sol não houvera sido dele, diretamente, mas sim de sua sócia que... bem, conto essa história com maiores detalhes no capítulo d'A Chave do Sol, naturalmente! 

Quando chegamos ao estúdio, nós fomos bem recebidos por uma produtora, e na sala de espera, encontramos com Régis Tadeu e posteriormente, Toninho Spessoto. O Régis Tadeu era um velho conhecido. O Rolando Castello Junior o conhecia há muito tempo e eu, desde 1997, quando ele entrevistou o Pitbulls on Crack, para a sua revista, "Cover Guitarra". 

Sobre o Toninho Spessoto, eu só o conhecia de vista e sabia que ele fora editor da Revista Bizz, e que mantinha um programa na All TV, uma TV de Internet na ocasião. 

O Sérgio Dias chegou e também foi gentil com todos, ao socializar e conversar na famosa "rodinha de amigos", que ali formou-se. A sua esposa, Lourdes, foi bem simpática e contou-me que estava a estudar para tocar baixo e por confundir-me, por conta do antigo apelido que eu possuía, veio perguntar-me sobre questões técnicas do instrumento, ao considerar que eu fosse o famoso luthier que ostentava o mesmo apelido. Desfeita a confusão, ficamos amigos e conversamos algumas vezes, doravante, em outras ocasiões onde encontramos com ela e Sérgio. Foi então que algo muito inusitado ocorreu ali naquele estúdio de TV...

O Miguel apareceu e cumprimentou a todos com muita educação e simpatia e quando veio saudar-me, eu notei nitidamente que ele simplesmente não reconhecera-me. Fiquei um pouco atônito com essa reação, mas ao verificar que fora um lapso realmente da parte dele, mantive-me discreto, e não achei adequado lembrá-lo d'A Chave do Sol e sobre o tempo em que ele tentara empresariar tal banda etc. Ninguém à minha volta notou o meu ligeiro constrangimento e tudo seguiu, sem sobressaltos. 

O debate começou, enfim. Foi um programa gravado e portanto, foram filmados quatro blocos com aproximadamente doze minutos cada um, que somados aos intervalos comerciais, haveria de resultar em uma hora de exibição, na edição final que iria ao ar.

Decepcionei-me, contudo, pois com tanta gente gabaritada presente na mesa, eu sinceramente esperava por um debate interessante, com muita informação e opinião contundente da parte de todos. 

Todavia, logo na primeira pergunta, o mediador, Miguel jogou o debate na vala comum da mesmice, ao perguntar a cada um, o que significava o Rock. Um bloco inteiro foi gasto com considerações tolas por parte de todos, na base do: -"Rock é atitude", -"Rock é a expressão da juventude revoltada com a sociedade" e outras frases feitas e vazias. 

Posteriormente, o debate melhorou um pouco com a conversa a evoluir para uma questão pertinente àquele momento, a envolver a guerra entre a pirataria de discos e as gravadoras, os prós e contras para o artista independente etc. 

Entretanto, em momento algum foi realmente um debate interessante, por esbarrar em obviedades. Além disso, o programa era obscuro e por ser exibido em uma TV comunitária com audiência zero, praticamente, pouco ou nada, para ser mais preciso, acrescentou à Patrulha do Espaço, ou aos demais participantes. 

Uma última nota curiosa sobre esse evento: um rapaz da produção levou consigo uma foto dos Mutantes, clicada em um show no interior do Paraná (Umuarama? Maringá?), não lembro-me mais em qual cidade, ocorrido em 1972. Tratava-se de uma foto registrada pelo pai ou mãe do rapaz, que assistiu o show e portanto, era raríssima. Nessa foto, os Mutantes estavam a tocar na carroceria de um caminhão de trio elétrico, improvisado como palco. 

Prática incomum para os anos setenta, que revelou ter sido certamente algo inusitado e improvisado, por que certamente não houve outra alternativa para o show acontecer. O Sérgio apreciou a foto e lembrou-se do show em si, ao confirmar que tudo fora improvisado, pois o show não conseguiu acontecer no clube local como estava previsto, por problemas técnicos. 

Pouco tempo depois dessa entrevista, a Patrulha do Espaço receberia um novo convite para participar novamente do Programa, Miguel Vaccaro Netto, mas desta vez, eu (Luiz) e o Rodrigo, participamos, a representar a nossa banda. 

Tenho uma cópia em formato VHS desse debate que o Rolando Castello Junior participou e assim que possível, vou postar no YouTube, para os fãs da Patrulha do Espaço contarem com esse material disponível. Tenho também a segunda participação no programa, com a minha presença e do Rodrigo e também está nos planos, disponibilizá-lo aos fãs.

Pouco tempo depois, ainda em março, recebemos enfim o segundo convite para participar do programa "Miguel Vaccaro Netto". 

Desta feita, eu e Rodrigo Hid fomos representar a Patrulha do Espaço. Ao invés de irmos àquele estúdio na Vila Sonia, fomos instruídos a comparecermos à Praça de Alimentação do Shopping Paulista, o que de certa forma foi bem mais conveniente pela logística, pois esse Shopping fica localizado bem próximo do bairro onde eu e Rodrigo morávamos, na Aclimação, zona sul de São Paulo.

Chegamos lá e aguardamos por alguns minutos para alguém da produção aparecer e no caminho, eu comentara com o Rodrigo, que desta feita, achava impossível o Miguel não reconhecer-me e relembrar do tempo em que ele se propôs a tornar-se empresário d'A Chave do Sol, a minha ex-banda nos anos 1980. 

Conforme já contei anteriormente, ele não reconheceu-me dias antes, quando acompanhei o Rolando Castello Junior para que o nosso baterista participasse daquele debate realizado na gravação de seu programa realizada em um estúdio. 

Porém, desta vez eu considerei inevitável, pois eu estaria na entrevista diretamente e deveria ser óbvio que ele lembrar-se-ia, no meu entendimento. 

Logo surgiu uma garota da produção e levou-nos a uma mesa, ao instruir-nos a aguardar um pouco, pois o Miguel atrasaria alguns minutos, quando chegaria acompanhado do cinegrafista e do cabo-man. 

Grande figura icônica dos anos sessenta, um dos poucos Rockers de verdade no movimento da "Jovem Brega Guarda" (ao lado de Erasmo Carlos e outros poucos), "o bom", Eduardo Araújo...
 

E a produtora também contou-nos que haveria um outro convidado nesta tarde, a se tratar do compositor e cantor, Eduardo Araújo. Gostamos de saber disso, pois o Eduardo era realmente um dos poucos artistas valorosos, egressos da Jovem Guarda, sem o ranço popularesco que a maioria que militou naquele movimento ostentara, e que haviam carregado para a carreira inteira. 

Então chegou o Miguel com a sua pequena equipe de filmagem e o improvável ocorreu... ele cumprimentou-me efusivamente, mas não esboçou reconhecer-me! 

E eu senti nitidamente não tratar-se de fingimento ou desfaçatez de sua parte. Realmente ele demonstrou pelas reações que esboçou, que não reconhecia-me, ao tratar-me como a um estranho, ainda que sob extremo cavalheirismo, aliás, a sua marca registrada que eu conhecera bem nos anos oitenta.

Feitas as apresentações e os ajustes de câmera, nós gravamos a nossa entrevista em dois blocos, ao falarmos sobre a Patrulha do Espaço, diferentemente do debate em que o Rolando Castello Junior participara anteriormente, quando citou-se a banda minimamente, em detrimento de um enfadonho debate sobre o significado do Rock em termos abstratos, sob uma discussão inócua. 

O único senão de nossa entrevista, foi a insistência do Miguel em falar sobre o Arnaldo Baptista. Talvez por considerar a então carreira atual da Patrulha do Espaço desinteressante para o seu público, ele insistiu em formular perguntas sobre o Arnaldo, como se ele fosse ainda membro da banda, e convivesse conosco. 

E naquela época (2001), ele (Arnaldo), estava recluso, longe dos holofotes da mídia. Somente na metade dos anos 2000, foi que tal artista voltaria à tona, com a retomada das atividades dos Mutantes, lançamento de um documentário sobre sua trajetória etc. 

Portanto, foi constrangedora para nós essa linha de entrevista e mesmo com nossas vãs tentativas para desviar o rumo dessa conversa e fazer retornar o foco sobre nós, ele pareceu nitidamente querer falar apenas sobre o Arnaldo e os Mutantes. 

No segundo bloco, ele propôs que participássemos do seu quadro: "Não diga não". Cabe uma explicação: Miguel teve o seu auge no radialismo, na década de sessenta, quando apresentava um programa de Rádio, bem famoso. 

O seu foco era a música evidentemente, mas ele gostava também de inserir brincadeiras em tom de gincana, um dispositivo bem típico daquela época. Uma de suas criações mais famosas, foi uma espécie de teste psicológico, em que convidava as pessoas a conversarem com ele, e testar assim a capacidade de cada um em conseguir dialogar o maior tempo possível, sem fazer uso das palavras: "não" e "não é" (ou "né"). 

Maliciosamente ele conduzia uma conversa no sentido de encurralar mentalmente a pessoa, a provocar o ato falho. Em noventa segundos, se a pessoa conseguisse o intento proposto, ganhava um brinde, geralmente um LP, pois o foco sempre foi a música. 

O programa entrou em decadência e já ao final dos anos setenta, o Miguel foi paulatinamente a sumir do rádio e da TV. Então, em pleno 2001, aquilo parecera algo bizarro e só fazia sentido para quem lembrava-se da sua atuação durante os anos sessenta. Nesse caso, o Rodrigo nunca houvera ouvido falar da brincadeira. 

Eu aceitei ser o primeiro a ser testado e não durei nem vinte segundos, por ser traído pelo ato falho. Mas o Rodrigo deu-se bem e suportou muito mais tempo, embora não conseguisse os noventa segundos propostos. Em um dado instante, diante de uma provocação para tentar desestabilizá-lo, o Rodrigo improvisou algo deselegante como uma escapatória e o Miguel pareceu não ter gostado da colocação. 

Entretanto o Rodrigo pediu desculpas, ao alegar ter usado tal impertinência como uma mera estratégia para tentar vencer o desafio do jogo e nesse sentido, eu acho que teve razão em ter sido deselegante, para calculadamente usar tal subterfúgio. 

Finda a nossa entrevista, conversamos rapidamente com o Eduardo Araújo, que foi muito simpático para conosco. Ele falou-nos sobre seu filho (Dudu Araújo), que era guitarrista, e gostava de Hard-Rock etc. 

Terminado tudo, despedimo-nos do Miguel e da sua equipe, e no meu caso, eu realmente saí dali convicto de que ele não lembrou-se de minha pessoa. Assim que disponibilizar essa entrevista no YouTube, posto de pronto nos meus Blogs.

O próximo passo foi mais um show no interior. Desta feita, voltaríamos à cidade de Avaré-SP, aonde havíamos tocado no ano de 2000. O local seria novamente a mesma casa, o "Ferro Velho Bar". 

Diferente da ocasião anterior, no entanto, o show não teve o mesmo bom andamento, mas nos reservou os seus momentos bons. Revermos os amigos, Dárcio e Marcos, e assim valeu a pena, certamente. 

A única ocorrência da qual recordo-me desse show em específico, nem tem a ver com o show em si. O que aconteceu foi que após o espetáculo, Marcello, Rodrigo e o motorista da van, foram à Praça da Igreja da Matriz, perto do bar, para efetuarem um lanche no trailer de hot dog ali disponível.

O clima pesou, pois aquela imagem de cidade interiorana pacata, não correspondia mais para Avaré-SP, tampouco em nenhuma localidade, desde muito tempo, e nós que morávamos na capital, estávamos defasados com essa realidade. 

Portanto, diante da iminência de algo pior acontecer, com a praça repleta por meliantes em potencial, o melhor foi voltar para o bar, carregarmos o equipamento e voltarmos para São Paulo. Tudo isso ocorreu em 10 de março de 2001 e o público no Ferro Velho Bar, foi formado por duzentas pessoas. Muito bom para uma banda autoral, mas aquém de nossas expectativas, certamente.

A próxima parada foi em Santos, no litoral de São Paulo. Eu não tocava naquela simpática cidade praiana, desde 1987, quando ali apresentei-me pela última vez com a "A Chave do Sol", e nessa ocasião em um espaço chamado, Circo Marinho, aliás, literalmente um circo, instalado na Av. Ana Costa, mas que era usado muito mais para promover shows musicais, do que espetáculos circenses, na realidade. 

Bem, no caso da Patrulha do Espaço, a nossa banda já havia estado no litoral de São Paulo, um ano e tanto antes, por ter tocado em uma cidade vizinha, a Praia Grande-SP.

Desta feita, tocaríamos em uma casa noturna, denominada: "Praia Sport Bar". Era pequeno o espaço, mas muito bem localizado, na Av. da Praia do Gonzaga, próximo ao clube, XV de Novembro, para quem conhece a cidade de Santos-SP. 

O bar detinha tradição de mesclar bandas autorais e bandas cover e ostentava uma razoável estrutura, mas no quesito "negociação", era duro de se lidar, pois nesse específico item, o seu proprietário, tendia a esquecer-se de quem ostentava uma carreira autoral solidificada, e dessa maneira, ao querer estabelecer remuneração abaixo do padrão normal, como se fôssemos uma banda cover formada por garotos iniciantes.

Nessas horas, conter um portfólio volumoso, como a Patrulha do Espaço já possuía há décadas, de nada valia, tampouco a história, respeito entre os fãs, discos lançados e a decantada árvore genealógica que fazia de nós, parentes próximos dos Mutantes, Rita Lee, e outros "primos" importantes na história do Rock brasileiro. 
 
O show foi bom, a descontar-se todos os problemas que uma banda autoral sofria para impor a sua obra com um mínimo de dignidade, normalmente. Cerca de duzentas pessoas estiveram presentes, o que surpreendeu o incrédulo dono do local, que esperava um fiasco da bilheteria. 
 
Muitos fãs da Patrulha do Espaço, da cena Rocker do litoral, estiveram presentes, muitos deles, da mesma turma que vira-nos um ano antes, naquele show da Praia Grande-SP, realizado em um salão/bar de um moto clube, nessa cidade vizinha. 
 
A lembrança engraçada do "Praia Sport Bar" por sua vez, foi um fator que repetir-se-ia em outras ocasiões pelas quais voltaríamos para nos apresentarmos nesse mesmo estabelecimento, e versou sobre a presença de uma garçonete que usava uma micro saia tão curta, que tornou-se uma concorrência para nós em termos de se prender a atenção do público. 
 
De fato, os olhares masculinos ficavam hipnotizados, e claro, foi uma estratégia do dono do estabelecimento, que veladamente sabia que na base da formação de opinião, a fama da garçonete loura, a usar uma super ousada micro-saia, atrairia muitos fregueses, independente da atração musical oferecida a cada noite .

Prova cabal disso, deu-se quando dias depois, em São Paulo, comentamos o ocorrido com um amigo e colega nosso, grande músico, aliás, cujo nome preservarei. Falávamos sobre o último show que cumpríramos e antes de mencionarmos a garçonete, ele já disparou: -"Ah... tocaram no Praia Sport Bar... e a garçonete da micro saia, estava lá?" 

Então foi assim a nossa presença em Santos-SP, no dia 17 de março de 2001...


O próximo compromisso foi uma oportunidade boa para impulsionar a banda. Aliás rara oportunidade para a Patrulha do Espaço, que pelo menos nessa fase em que eu fui componente, teve parcas aparições na TV e em sua maioria, através de programas de pouca audiência, exibidos em canais comunitários e similares obscuros. Desta vez, nós fomos participar de algo maior, por tratar-se do programa: "Musikaos", da TV Cultura de São Paulo. 

O "Musikaos" teve ao meu ver a melhor das intenções por parte da direção da TV Cultura e de seu artífice maior que foi o ativista cultural Gastão Moreira, ex-VJ da MTV e que sempre foi assumidamente um Rocker, inclusive por ser músico, também. 

Eu o conhecia bem, desde os meus tempos com o Pitbulls on Crack, portanto, sabia de seus propósitos dentro da TV e o quanto ele aspirara empreender ações desse porte na própria MTV e descontente com os rumos daquela emissora (outrora interessada em música), havia adotado no sentido oposto, e sendo assim, a sua adesão à TV Cultura pareceu ser um alento para todos os artistas marginalizados na mídia, o nosso caso, inclusive

E certamente foi assim que ocorreu. Contudo, a esperança de que o "Musikaos" adotasse a aura perdida desde a extinção do programa, "A Fábrica do Som", dos anos oitenta, frustrou-se totalmente. 

Ninguém envolvido nessa produção detém uma explicação definitiva, mas muitas hipóteses foram ventiladas. A mais óbvia, certamente, foi de que vivia-se uma outra época e aquele entusiasmo do público por bandas autorais independentes, havia diluído-se nesse grande hiato de anos perdidos. Concordo com esse raciocínio, é claro. De fato, o "Musikaos", apesar de possuir uma linha um pouco diferente da velha, "A Fábrica do Som", tentara resgatar alguns ícones antigos e marcas registradas desse citado programa oitentista.

Por exemplo, as gravações foram realizadas no mesmo local onde gravava-se a "Fábrica", ou seja, o teatro do Sesc Pompeia. E por coincidência (na verdade, é claro que por conveniência de agendas), no mesmo dia de semana, a terça-feira. E para tentar resgatar a magia de outrora, o dia de exibição na TV Cultura e com retransmissão para as TV's educativas coligadas em quase todos os estados do Brasil, a ocorrer no mesmo dia e horário em que a velha, "Fábrica do Som", era exibida na grade daquela época: sábado, 18:00 horas.
O baterista dos Titãs, Charles Gavin a citar o Rolando Castello Junior, em nota publicada pela revista "Batera & Percussão" - Março 2001 

Teve tudo para ser um estouro e repetir o sucesso da "Fábrica", mas não deu liga, e teve vida curta, infelizmente. O seu lançamento foi saudado com grande entusiasmo por todos os artistas independentes, onde incluo-me, é claro, pois seria um raro oásis na TV, para artistas fora do esquema do famigerado jabá, onde o artista precisa pagar (e muito), para ter seu trabalho executado em emissoras de rádio ou exibido na TV e assim popularizar a sua carreira.
Alheio a essa análise que só faz sentido agora, com o distanciamento histórico (2016), a sua vida efêmera não fora imaginada à época, é claro. E o que importou-nos, foi cumprirmos uma boa aparição, tanto para o público presente no ato da gravação no palco do teatro Sesc Pompeia, quanto para os telespectadores, em número muito maior, assim esperávamos.

Fomos à gravação do Musikaos, com a esperança de que seria mesmo uma boa oportunidade para dar-nos visibilidade em rede nacional, fator raro em uma época já completamente dominada pela máfia do jabá. 

Foi no velho teatro do Sesc Pompeia, mediante a presença da equipe da TV Cultura com a sua unidade móvel estacionada no mesmo canto da Rua Barão do Bananal, quase esquina com Rua Venâncio Aires, foi em uma terça-feira e algumas pessoas da produção do Musikaos, foram profissionais que também atuaram na época da velha, "A Fábrica do Som", mas, não houve nem de longe o mesmo clima da euforia de outrora, infelizmente.

Contudo, foi uma pena realmente que não houvesse, pois o empenho das pessoas mostrara-se claramente para que assim fosse resgatado tal clima, principalmente da parte do Gastão Moreira, imbuído pelos ideais nobres, nesse sentido. 

A passagem de som foi tranquila e bem objetiva. O equipamento de som contratado para suprir o PA do teatro, foi de uma empresa famosa de locação de equipamentos no mercado do show business, e a iluminação do teatro, a manter tal patamar de qualidade, obviamente no mesmo padrão. Dividiríamos a noite com amigos. "Baranga" e "Made in Brazil" seriam as outras bandas escaladas para a gravação do programa dessa noite.

Um sinal de que os tempos eram outros, deu-se logo que chegamos e vimos que metade do auditório estava interditado. Segundo nos contaram, foi para evitar a dispersão das pessoas, ao causar constrangimento aos cinegrafistas da TV Cultura, para buscarem os enquadramentos a evitar filmar-se grandes espaços vazios e isso gerar dificuldades na ilha de edição e consequentemente a causar mal-estar para o programa. 

O fato é que tal produção já estava habituada a contar com pouca presença do público, muito diferente do tempo d'A Fábrica do Som, quando filas kilométricas dobravam o quarteirão da Rua Barão do Bananal, desde o cruzamento com a Rua Clélia, até a Rua Venâncio Aires, nos dias de gravação. 

Além do fato de que passaram a cobrar ingressos para diminuir a procura nos anos oitenta e nem assim se espantou o enorme fluxo de gente interessada e muitas vezes a polícia foi chamada para coibir tumultos oriundos da parte de pessoas inconformadas com a lotação esgotada, a forçar a entrada. 

Nesta nova realidade de 2001, a produção temia pelo constrangimento da pouca presença de pessoas, apesar do ingresso gratuito e tudo mais. Bem, foi chato, mas foi o que tivemos em mãos, e assim seguimos sob a nossa determinação para fazermos o melhor possível. 

Ficou estabelecido que o "Baranga" tocaria primeiro, nós em segundo e o "Made in Brazil" fecharia a noitada de Rock, no Sesc Pompeia. Se por um lado tivemos essa má notícia sobre tocarmos para um contingente tímido a demonstrar meio teatro preenchido, apenas, por outro, nós tivemos duas boas novas, sendo que uma delas não fora exatamente uma novidade.

O fato de Jorge Mautner ser um membro honorário do programa e ali contribuir com as suas intervenções intelectualizadas, mostrara-se um verniz, que particularmente eu apreciei. Fã dele desde os anos setenta, eu assistira os seus shows muitas vezes ao vivo naquela década e o admirava pela postura como artista da música e da literatura/filosofia a usar toda essa carga misturada como forma de expressão. 

E outro fator muito interessante e este sim, descobrimos no dia, haveria a presença de um artista plástico com renome, a pintar as suas telas enquanto tocaríamos. Tratou-se de: André Peticov, irmão do também artista plástico, Antonio Peticov, e ambos, reconhecidamente ícones da contracultura sessentista em São Paulo e no Brasil. 

Para quem não sabe, os irmãos Peticov mantém um histórico com muita proximidade com o movimento Hippie no Brasil e a demonstrar diversas histórias de envolvimento com os tropicalistas, principalmente com os Mutantes. 

De André Peticov, por exemplo, corria a lenda dele ter sido um dos primeiros, senão o primeiro, a produzir projeções com bolhas psicodélicas em shows de Rock, em São Paulo, nos anos sessenta.

Essa versão, inclusive, sempre foi narrada pelo próprio Rolando Castello Junior. Portanto, seria um enorme prazer ter André Peticov a pintar uma tela ao vivo, enquanto tocaríamos, não só pelo artista plástico criativo e renomado que o era, mas pelo seu comprometimento com o Rock, contracultura e vibrações sessenta- setentistas explícitas em sua atuação como artista, ou seja, tudo a ver com a ideologia pela qual a Patrulha do Espaço estava comprometida nessa sua nova fase, iniciada em 1999.
Então, passado o soundcheck, aguardamos no camarim a entrada do público e percebemos que mesmo com o fato da produção ter limitado o espaço do teatro pela metade para o público, houve um murmurinho que ouvíamos do camarim.

No camarim, a bancada com o lanche disponibilizada para os artistas participantes, esteve farta, e em um dado momento, o Jorge Mautner entrou para alimentar-se, também. 

E quando entrou, Mautner olhou-me e perguntou-me se o lanche já estava servido. Eu o cumprimentei de forma efusiva, ao soltar a frase: -"salve, profeta". Ele riu, mas não deu vazão para a minha brincadeira, e é claro, mantive-me discreto dali em diante. Quem conhece-me bem, sabe que não sou um bajulador e mesmo que eu fosse um admirador dele, como artista e escritor/filósofo, preferi me manter quieto e deixá-lo comer o seu sanduíche em paz.

Quando o Baranga foi chamado ao palco, lembro-me por assistir um pouco a sua apresentação. 

De fato, a parte das cadeiras liberadas para o público, estava preenchida, mas confesso que senti saudade da velha, "A Fábrica do Som", quando o Sesc Pompeia transbordava de tanta gente, inclusive muito acima da sua capacidade oficial. 

O som estava bom e o Baranga realizou a sua performance com muita energia, como era (é) de sua natureza.

A seguir, chegou a nossa vez, e quando subimos ao palco, André Peticov já estava a trabalhar em uma tela, com o auxílio de uma bela assistente, sua pupila do atelier. Após uma calorosa recepção do Gastão Moreira, nós tocamos o primeiro número: "Não Tenha Medo", que era sempre a primeira música de nossos shows.
 
 
Acima, o vídeo de "Não Tenha Medo", dessa aparição no Musikaos em abril de 2001. Eis o Link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=AEK8yNO93bo

O público reagiu muito bem e o Gastão interveio logo a seguir, ao propor uma entrevista curta com o Rolando Castello Junior, quando introduziu igualmente o André Peticov na entrevista e pediu-nos a seguir, que tocássemos uma segunda música.

Acima, o vídeo da execução de "Ser", no Musikaos em abril de 2001. Eis o Link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=hlDb2bcBV3A

Tocamos então, "Ser", com bastante energia, e a seguir, houve mais uma intervenção do Gastão, através de uma micro entrevista com um casal de ativistas de alguma causa ecológica/ambiental que ali foram introduzidos na conversa. O Jorge Mautner emitiu os seus palpites, como uma espécie de consultor intelectual do programa etc.
Houve uma nova deixa para nós, e então tocamos: "Homem Carbono", uma música inédita que já estávamos a executar ao vivo e que seria lançada oficialmente no próximo disco.

Acima, o vídeo de "Homem Carbono no YouTube, dessa aparição no Musikaos, em abril de 2001. 

Eis o Link para assistir no YouTube: 

https://www.youtube.com/watch?v=5rbJfeZUH-Q
 

Uma rápida brincadeira com o público, fez com que algumas pessoas agitassem-se para ganhar brindes, incluso CD's da Patrulha do Espaço. 

Ganhou quem correu e respondeu que famoso "ex-mutante" fundou a Patrulha do Espaço, convenhamos, uma pergunta bem óbvia. 

Terminada a nossa participação, descansamos no camarim um pouco e a seguir, voltamos ao teatro para assistirmos a performance do Made in Brazil, a terceira atração da noite. 

Encerrado o programa, confraternizamo-nos com todos nos camarins do Made in Brazil e deixamos o teatro satisfeitos com a acolhida da produção, do Gastão Moreira e com a certeza de que a nossa performance fora boa e repercutiria bem na TV, dias depois.

O resultado prático de tal aparição na TV, deixou a desejar,
infelizmente.
Como já salientei, o Musikaos não continha nem 10% da força que a velha, "A Fábrica do Som" teve nos anos oitenta. 
Vida que seguiu, o próximo compromisso da Patrulha do Espaço foi uma volta ao Volkana, casa noturna de São Bernardo do Campo-SP, casa onde já tocáramos anteriormente. 

Única foto da Patrulha do Espaço em ação no Volkana, nesse dia. Click, acervo e cortesia de um fã chamado, Belo (mas certamente não se trata do artista do "pagode", homônimo)

Foi a noite de 5 de maio de 2001 e cento e vinte pessoas viram-nos a tocar. Antes de nós, duas bandas apresentaram-se. O "Blues Riders", boa banda, que aliás está em atividade até hoje em dia (2015, quando escrevi este trecho), heroicamente a fazer o seu bom trabalho autoral, com muita dignidade no campo do Blues-Rock. E a outra, chamada: "O Toque de Midas", cujo trabalho eu não guardei na memória. 

Em breve, uma outra frente de trabalho abrir-se-ia para a banda. Graças a um acordo firmado com um estúdio no bairro do Cambuci, localizado na zona sul de São Paulo, nós começaríamos a gravar um novo álbum.

O Junior descobrira esse estúdio por conta de seus esforços para lançar o CD "Volume 4", este a fazer parte da série antológica, denominada: "Dossiê", uma coleção de coletâneas. 

Eu mesmo fui com ele participar de uma mini sessão que fizemos para mixar rapidamente algumas músicas ao vivo e oriundas do show que realizáramos em 2000, no Centro Cultural Camerati, de Santo André-SP. 

Nesse dia, mixamos (sob um padrão bem simples, é lógico), tais músicas e também formatamos algumas músicas de uma Fita K7, de onde haviam versões ao vivo de músicas do CD Chronophagia, executadas em um programa de rádio, chamado: "Brasileiros e Brasileiras", da emissora de Rádio, Brasil 2000 FM. 

Foto que usamos como promocional em 2000, mas que fora clicada no estúdio da Rádio Brasil 2000 FM, por ocasião desse programa que citei acima

Apesar de estar armazenada em uma simples fita K7, estava com uma qualidade incrível e a performance da banda fora excelente, porque estávamos muito ensaiados e inspirados.  

Dessa forma, ele optou por usar os serviços do estúdio para finalizar a capa, visto que também executava-se tal tipo de serviço ali naquele empreendimento, e dessa forma, o Rolando alinhavou um acordo para gravarmos algumas faixas inéditas no meio do ano, que possivelmente resultaria no novo álbum.

Ainda a falar sobre a coletânea, "Dossiê Volume 4", o bojo desse lançamento tratou de mostrar a fase da banda entre 1992 e 2000, portanto, a nossa formação foi citada ao final da história da banda, até aí narrada, no excelente libreto escrito pelo Rolando Castello Junior, para dar continuidade aos trabalhos já lançados anteriormente, com os dossiês 1, 2 e 3. 

Como estávamos a construir uma nova história ainda, em 2001, ele só cobriu sobre o nosso início em 1999, e foi até o limite de maio de 2001, ou seja, a data limite possível naquele instante em que se finalizou a produção dessa coletânea.

Como registro fonográfico, além do álbum, "Primus Inter Pares" de 1992, este CD contém duas faixas do CD "Chronophagia": "Ser" e "Céu Elétrico". Apresenta também, duas músicas gravadas por formações sazonais de 1995 e 1998: "Gata" e "Pátria Amada".

E para fechar com a nossa formação "chronophágica", quatro músicas gravadas ao vivo e extraídas de dois shows que fizemos, em janeiro de 2000. 

Neste caso, a se tratar de: "Depois das Onze" e "Sr. Barinsky", que foram tomadas do show que gravamos no Camerati, de Santo André-SP, e "O Ritual", extraída do áudio de nossa aparição no programa, "Turma da Cultura", da TV Cultura de São Paulo, em maio de 2000, além de "Retomada", esta também realizada em maio de 2000, no estúdio da emissora, Brasil 2000, durante a nossa performance ao vivo no programa: "Brasileiros e Brasileiras".

No caso de "Retomada", o incrível foi que o material original dessa gravação, veio de uma simples fita K7 e apresenta um áudio surpreendente enquanto resultado de captura. 

Claro, houve uma maquiagem de estúdio, ao melhorar a equalização geral, mas a se revelar como uma ação mínima, por considerar-se que sob uma reles fita K7, fora impossível separar canais e assim, somente trabalhar-se com um sinal "LR", sem poder se interferir, separadamente para cada instrumento. 

Portanto, por considerar-se esse cenário técnico tão limitante, tal resultado surpreendeu-nos. Sobre a capa, o Junior decidiu-se em manter a estética dos volumes anteriores dessa coletânea, uma decisão acertada ao meu ver. 

Portanto, trata-se de mais uma ilustração a evocar signos aéreos, um pouco menos Sci-Fi, no entanto, para retratar dessa maneira, um avião de caça, aparentemente dos anos 1940, com o piloto e acompanhado de uma bela garota, em situação de ataque, no uso de metralhadoras. 

O crédito é do ilustrador, Tom Gianni, um importante desenhista do universo das histórias em quadrinhos. 

Toda a parte de diagramação de texto e lay-out do encarte, ficou a cargo de Givaldo Silva e eu acompanhei várias sessões de seu trabalho, junto ao Rolando Castello Junior, ali em 2001. Sobre as canções ao vivo de nossa formação ali presentes, eu tenho algumas observações cabíveis:

“Depois da Onze”
Gravação ao vivo durante show realizado no Espaço Cultural Camerati, de Santo André-SP, em 29 de janeiro de 2000. Um clássico do repertório antigo da banda, lançado em 1981, apresenta-se nessa coletânea sob uma seminal versão, ao respeitar-se o arranjo original, mas a acrescentar uma sutil modificação criada em nossa fase, com o advento de um solo de sintetizador Mini Moog, sob uma parte dobrada do ritmo. 
Com uma boa dose de loucura que lembra o trabalho de bandas da escola do Krautrock setentista, apresenta também a voz rouca do Marcello na sua condução solo e ao final, há um solo duplo de Moog e guitarra, muito ao sabor dos anos setenta. 
A gravação deixa a desejar e a mixagem feita a toque de caixa não ajudou a dizimar certos aspectos do áudio, infelizmente. O timbre do baixo, bem achatado, várias peças da bateria e a guitarra base bastante prejudicada, são exemplos. Mas vale pelo registro em clima de Bootleg, sem dúvida alguma. Não havia, ao menos até 2016, a disponibilidade dessa faixa no YouTube. 
"Sr. Barinsky"

Extraída do mesmo show de janeiro de 2000 em Santo André-SP, como a faixa anterior, essa versão de “Sr. Barinsky” padece dos mesmos problemas de áudio, mas por ter outra dinâmica e arranjo, soa melhor. 
Dá para ouvir os instrumentos, incluso a incrível performance de bateria do Rolando Castello Junior, que é um solo, praticamente, dentro da música em andamento, sem ficar isolada como em solos de bateria tradicionais, executados em shows de Rock. 
O baixo soa melhor e dá para ouvir lampejos do timbre característico de um Fender Jazz Bass. 
A performance do Rodrigo ao piano e na condução da voz solo é maravilhosa e o solo de guitarra do Marcello, é incrível. Parece o Eric Clapton a tocar com os Beatles. 
Os backing vocals com minha voz e a do Marcello estão bem proeminentes e soam muito bem. Ouça abaixo: 
A versão ao vivo de "Sr Barinsky", que está contida no CD coletânea, Dossiê Volume 4. 
 
Eis o Link para ouvir no YouTube:

“O Ritual”

Essa versão aconteceu no estúdio da TV Cultura, fruto de nossa participação no programa: "Turma da Cultura", dessa referida emissora. Inacreditável, mas a captura desse áudio armazenado sob uma simplória fita VHS, mostra uma qualidade surpreendente, com tudo a soar bem, em uma mixagem convincente, exatamente como os ouvintes/telespectadores ouviram ao vivo, quero crer.
Versão muito boa, com a banda a tocar coesa, com muita garra e a transbordar emoção por todos os poros. Mostra-se muito fidedigno, portanto, ao que executávamos ao vivo nos shows dessa época. A parafrasear o Grand Funk: “We’re were an late sixties/early seventies, Rock Band!”

“Retomada”

No caso de “Retomada”, esta versão aconteceu no estúdio da Rádio Brasil 2000 FM. Mostra a banda sob uma energia incrível, ao tocar e cantar com uma verdade estampada no semblante, inquestionável. 
 
Boa versão, tecnicamente a falar e acho que o Rolando Castello Junior foi feliz em lançá-la nessa coletânea, ao ofertar uma amostra da nossa espetacular fase artística em 2000. 
 
Infelizmente, tanto a versão ao vivo de "O Ritual", quanto "Retomada", não estão disponibilizadas ainda (2016), no YouTube. Só mesmo ao comprar o disco, "Dossiê Volume 4", para ouvi-las, ao menos por enquanto.

Então foi isso, entre o CD "Chronophagia" e o ".ComPacto", essa coletânea ocupou uma lacuna e mesmo ao ofertar pouca participação efetiva de nossa formação, está aí, a contar um pedaço da nossa participação na história geral da banda e com raridades ao vivo, sobretudo, como presente aos fãs do trabalho e da nossa formação em específico. 

É muito bom ter uma versão ao vivo de "Depois das Onze", quando deixamos o registro de uma música clássica do repertório antigo da banda, todavia, sob a nossa interpretação "chronophágica".

Além de tudo, esse "Dossiê Volume 4" abriu caminho para concretizarmos o segundo álbum da nossa formação, conforme relatarei a seguir. 

Nessa altura, maio de 2001, já tínhamos repertório novo para compor um novo CD. Algumas canções, inclusive, já estavam a serem executadas há meses em nossos shows, casos de: "Homem Carbono", "São Paulo City" e "Terra de Minerais", esta última inclusive, ainda não continha esse título e de forma provisória, nós a chamávamos como: "Aclimação", ou seja, uma menção ao nosso bairro "base", e certamente o QG da Patrulha do Espaço no início do novo século.

Matéria publicada na Revista "Guitar Player", publicada em março de 2001, ao focar na nossa dupla de guitarristas, Rodrigo Hid e Marcello Schevano

O nosso esforço voltar-se-ia agora para a gravação do novo álbum. Tínhamos seis canções engatilhadas e com aquele estúdio do bairro do Cambuci na mira, planejamos entrar nessa produção no feriado de Corpus Christi, que aproximava-se.

Todavia, tivemos alguns compromissos pela frente ainda. O próximo, ocorreu na Feira de Artes da Vila Pompeia, tradicional feira daquele simpaticíssimo bairro, da zona oeste de São Paulo. 

Fomos o Headliner do palco Rock, instalado na Rua Caraíbas, no quarteirão entre as Ruas Venâncio Aires e Padre Chico, ao ter como convidados especiais, artistas do quilate de Luiz Sérgio Carlini e Helena T. (esta cantora que foi a vocalista do Tutti-Frutti à época).

Para tal participação especial, ensaiamos com o casal, por alguns dias antes, em um pitoresco estúdio localizado na Vila Mariana, na zona sul de São Paulo. Sou amigo do dono desse estúdio e moro perto dele, atualmente (2016). 

O seu proprietário era (é), um rapaz chamado, Lourival, que é músico também, e já trabalhara como roadie por muitos anos. O pitoresco no caso, fica por conta de que além de manter essa sala de ensaio no fundo de seu quintal, ele trabalhava também com artigos de couro, ao construir e consertar bolsas, malas, mochilas e diversos objetos para uso musical, como "cases" (estojos) de instrumentos e correias, um acessório necessário para se poder se tocar em pé, instrumentos de cordas como guitarra, baixo e violão.

Placa presente na porta da oficina/estúdio do Lourival, onde a Patrulha do Espaço ensaiou algumas vezes, em 2001.

E para ir além, o que realmente chamava a atenção pelo exotismo, ficara por conta dele ser um ufólogo muito estudioso da matéria e por isso, ministrar aulas e consultorias sobre o assunto e anunciar na porta de sua casa, essas três funções tão dispares entre si, o que despertava a atenção. Ele já chegara a ser entrevistado no programa do Jô Soares, por causa desse exótico expediente.

Ensaiamos no estúdio do Lourival, e daí ficou combinado que Carlini e Helena tocariam e cantariam conosco em três músicas: "Ando Meio Desligado", "Jardins da Babilônia" e "Agora Só Falta Você". 

No dia da Feira, nós já sabíamos que cerca de cento e cinquenta mil pessoas circulavam por ela. Seriam centenas de barracas a conter artesanato, comidas & bebidas etc. E haveriam vários palcos espalhados por muitos quarteirões. 

O mais concorrido, tradicionalmente, era tradicionalmente o palco Rock. E por sermos o Headliner do dia, tocamos com o pico de público daquele palco, que devia ser de pelo menos três mil pessoas, naquele momento. 

Foi um show tenso, no entanto, por conta do praticável de bateria estar a balançar e por conta disso, deixar o Rolando Castello Junior bastante incomodado para tocar, mas pelo aspecto energético, para o público, foi muito bom. 

A participação do casal do Tutti-Frutti foi ótima também, ao arrancar muitos aplausos e urros da plateia. Isso ocorreu no dia 20 de maio de 2001, um domingo, com frio na Vila Pompeia.

Depois do show, fomos todos para a casa do Luiz Carlini, que ficava há dois quarteirões desse palco e ficamos ali a tocar, por horas. Lembro-me bem de termos feito uma versão gigantesca da canção, Little Wing", do Jimi Hendrix e com a participação do guitarrista gaúcho, Bebeco Garcia (ex-"Garotos da Rua"), que estava hospedado na casa do Carlini, a passar uns dias em São Paulo.
Uma rara foto dessa visita à residência do Luiz Carlini, que eu descrevi acima. Da esquerda para a direita: Helena T, um amigo de infância do Carlini, cujo nome esqueci-me, infelizmente, Rodrigo Hid e Bebeco Garcia.
A mesma turma da foto acima, acrescida por Luiz Carlini (primeiro à esquerda, Marcello Schevano (o mais alto no fundo, a usar bata indiana roxa) e eu, Luiz Domingues (primeiro à direita)

Bem, estávamos focados na gravação do próximo disco, mas ainda tivemos um compromisso pela frente. 

A convite do Paulão de Carvalho, vocalista da banda: "Velhas Virgens", nós fomos tocar em um novo bar, chamado: "RoquenRow Bar", que era de sua propriedade e de outros membros da sua banda. 

A ideia dele foi ótima e sem dúvida, a casa fora concebida para ser um palco para bandas de Rock autoral, com estrutura boa de som e iluminação, além da liberdade artística para todo mundo sentir-se a vontade ali naquele espaço. 

Nessa primeira oportunidade em que apresentamo-nos por lá, tivemos o prazer de termos o nosso show aberto por uma jovem banda paulistana autoral e com extrema qualidade, aliás, muito ligada em ideais estéticos das décadas de 1960 & 1970, denominada: "Quarto Elétrico". 

Nós já conhecíamos os seus componentes há alguns meses, mas essa foi a primeira vez em que tocamos juntos. Eram ótimos músicos, todos. Lembro-me de ter impressionado-me muito com a qualidade da banda e dessa forma, estreitamos ainda mais a nossa amizade, com uma convivência amistosa, que prosperaria de forma muito contundente.

O guitarrista/cantor e compositor (inspiradíssimo, por sinal), Denny Caldeira
O outro guitarrista (e também um grande baixista, atualmente), Marcião Gonçalves
O baixista Thiago Fratuce (e atualmente um excelente violonista erudito)

Dessa banda, ficamos muito amigos dos guitarristas, Márcio Gonçalves e Denny Caldeira, e do baterista, Ivan Scartezini. O baixista (Macarrão), logo sairia, mas eu mesmo teria o prazer de indicar-lhes um ex-aluno meu, Thiago Fratuce, que encaixar-se-ia muito bem na banda.
Ivan Scartezini, cinco anos depois, tornar-se-ia meu colega, e de Rodrigo Hid, no "Pedra", banda pela qual vivemos juntos muitas histórias já relatadas no seu capítulo em específico e continuamos a criar histórias sob outras circunstâncias (ler em: "Trabalhos Avulsos).

Ivan Scartezini em foto da época desta narrativa, a atuar com o "Quarto Elétrico"

Passado o ótimo show do "Quarto Elétrico", fizemos o nosso show com tranquilidade. Nessa noite, tivemos a presença de Luiz Carlini e Helena T, que mais uma vez representaram o Tutti-Frutti, e tocaram conosco, em duas músicas. 

Com um público formado por aproximadamente, cem pessoas, foi uma boa noitada de Rock, sem dúvida. E ocorreu no dia 2 de junho de 2001.

Rodrigo Hid a fazer pose como Ian Anderson, nas dependências do Estúdio Sonarte, em junho de 2001. Foto de Samuel Wagner, nosso roadie

A seguir, iniciamos enfim as gravações do nosso segundo álbum com criações inéditas. Foi no feriado de Corpus Christ, em 14 de junho de 2001, quando realizamos um intensivo no estúdio, a aproveitarmos o final de semana prolongado, e sem sessões agendadas para a clientela tradicional daquele espaço. 

Infelizmente, tratava-se de um estúdio bastante defasado, a ostentar graves problemas com manutenção, mas naquela circunstância, nós não tivemos meios para pleitear gravar o novo disco em um estúdio melhor, uma pena. A nossa compensação foi que o técnico que ficaria a trabalhar conosco, se tratava de um amigo, Rocker e fã da Patrulha do Espaço, chamado, Isaías Galdez, mas popularmente conhecido como: "Kôlla".

Nessa foto, a apontar para uma guitarra que pertenceu ao guitarrista norte-americano, B.B. King e que agora faz parte do acervo da casa de shows, "Bourbon Street", de São Paulo, o técnico, Isaías "Kôlla" Galdez

Extremamente gentil e dedicado, o Kôlla apresentava bastante competência técnica e uma vocação tremenda para exercer uma paciência monástica para lidar com adversidades múltiplas que aquele estúdio apresentava. 

O estúdio continha tantas deficiências oriundas da sua defasagem institucional e falta de manutenção adequada, que se não fosse ele, Kôlla, com a sua incrível paciência para sanar as conexões que pifavam, não teríamos conseguido gravar aquelas canções.

Na primeira foto, a bateria do Rolando Castello Junior preparada para a gravação. Eu, Luiz Domingues, na linha de ataque para gravar na sala da técnica do estúdio "Sonarte", em junho de 2001. Clicks, acervo e cortesia de Samuel Wagner
 
O material novo que tínhamos em mãos, seguira em termos artísticos a linha do resgate estético, 1960 & 1970, exatamente adotado pela safra anterior, contida no CD "Chronophagia", mas desta feita, nós tínhamos menos material em mãos, devido ao fato de que ensaiamos pouco, desde o lançamento do último CD em questão, ao privilegiarmos a realização de shows. 

Foram apenas seis canções, das quais três delas, já estavam a serem executadas nos shows ao vivo, desde o ano 2000, casos de: "São Paulo City", "Terra de Minerais" e "Homem Carbono".

Uma resenha sobre o CD Chronophagia, proveniente de um Site da Internet, não identificado, publicada em 2001

O estúdio ficava localizado no bairro do Cambuci, zona sudeste de São Paulo, instalado em uma enorme casa que fora residencial, um dia. Ali funcionava, além do estúdio, o escritório administrativo deles, com uma sala usada como estúdio fotográfico, salas de reprodução para cópias de fitas K7, com velhas máquinas dos anos setenta e salas onde funcionários trabalhavam com computação gráfica, a prepararem capas de discos, releases, portfólios e books de fotos. 

A intenção foi boa, pois estavam teoricamente organizados para atender todas as necessidades de quem pretendia gravar um disco, ao fornecer todos os elementos para o artista sair dali com o áudio preparado para compor um disco, capa, release e fotos promocionais. 

No entanto, infelizmente, tudo era precário, ainda que a sua clientela base fosse marcada por artistas do mundo popularesco, espectro esse onde o padrão de qualidade era baixo por natureza intrínseca e portanto, o resultado oferecido por eles em todos os quesitos citados, costumava ser sob baixo nível estético/visual, e também no áudio. Em nosso caso, por termos ido parar nesse lugar, fazer o que?

Outra resenha retardatária sobre o CD Chronophagia, publicada em abril de 2001, na Revista "Dynamite"

Precisávamos usar a oportunidade do estúdio, mesmo ao saber que somente um milagre poderia fazer com que o áudio do nosso disco ficasse no mínimo igual ao anterior, e convenhamos, o CD Chronophagia, peca pelo áudio, infelizmente. 

Para dar um clima inspirador e atenuar um pouco o ranço popularesco/kitsch que existia em tais instalações, aproveitamos o fato do estúdio estar vazio naqueles dias (sem funcionários devido aos feriados, e também pelo Kôlla, ser "um dos nossos" e portanto, simpático aos ideais), para queimarmos uma quantidade absurda de incensos, além de colocarmos posters com fotos de artistas que admirávamos das décadas de 1960 & 1970, por todas as dependências, para nos trazer uma inspiração. 

Começou então a gravação, e para ganhar tempo, a dinâmica inicial foi semelhante à das gravações do CD Chronophagia, ou seja, nas tomadas de gravação da bateria, estiveram a valer também o baixo e algum instrumento harmônico base, ou guitarra ou teclado. 

Claro que eu não gosto de gravar desse jeito, prefiro o método tradicional, do "um de cada vez", mas com o orçamento apertado e por termos que correr contra o relógio por conta desse fator, não restou-nos outra alternativa.

Poucos dias depois dessa nossa exibição ao vivo no programa "Musikaos", da TV Cultura, já circulava pelas lojas da Galeria do Rock, esse DVD cuja capa está assinalada acima, a conter a cópia pirata de nossa participação no referido programa, além das participações dos grupos, Made in Brazil e Baranga, também. A ação pirata foi bem ligeira, naquela ocasião!

A gravação foi bastante corrida, pois estávamos a usar o feriado prolongado como espaço cedido. Se pelo lado técnico, prevalecera uma suprema dificuldade pela inadequação do estúdio, por outro, tivemos a sorte em poder contar com o "Kôlla" Galdez como parceiro, ao imprimir uma dose de paciência e alto astral, incríveis e não deixar o ânimo abaixar em hipótese alguma, quando das inevitáveis interrupções a todo instante para se consertar artefatos os mais variados. 

Sem dúvida que foi mais sofrido e corrido do que a gravação do Chronophagia, mas foi o que melhor pudemos fazer naquele momento. Na parte artística, estávamos bem ensaiados, mas não tão afiados quanto na época da gravação do CD Chronophagia. As circunstâncias foram bem diferentes e eu explico abaixo a sua razão:
 

1) No bojo das dezesseis canções do CD Chronophagia, treze delas, foram frutos da época do Sidharta, portanto, eu (Luiz Domingues), Rodrigo Hid e Marcello Schevano, as tocávamos desde 1998.

2) Em relação à safra do novo CD que estávamos a gravar, apenas três estavam bastante preparadas para a gravação, por serem canções que estavam presentes no set list dos shows.


3) Não tivemos muitos ensaios, porque ao contrário da fase do CD Chronophagia, nós havíamos engatado uma fase permeada por shows e viagens, que inviabilizaram a existência de ensaios exaustivos.
 

De volta ao estúdio, muitas vezes tivemos que paralisar as tomadas, por conta de cabos e/ou conexões dos patches, que estavam a falhar ou a emitir ruídos inadmissíveis.



O "Kôlla" tinha que parar tudo, esquentar o ferro da solda e fazer emendas, reparos e coisas que em um estúdio com maior qualidade, jamais aconteceria. Neste caso, a impressão que tivemos, foi a de que aquele estúdio fora montado nos anos setenta, entretanto, jamais teve uma manutenção, por mínima que fosse. 

A se pensar no padrão habitual observado nas produções de nível popularesco que ali costumeiramente se trabalhavam, não fazia nenhuma diferença, mas para gravar uma banda de Rock, em que o padrão de qualidade de áudio é sempre fundamental, não reunia condições.

Resenhas misturadas sobre shows e o CD Chronophagia, que saíram publicadas em Sites da Internet, em 2001

E assim fomos a gravar e enfrentar as adversidades, sob uma maratona contra o relógio, e contra a podridão reinante naquele ambiente...

Mesmo com todas as adversidades, gravamos todas as bases com relativa tranquilidade. Até músicas complexas, com características centradas no Prog-Rock, como: "Terra de Minerais" e "Sendas Astrais", estas foram gravadas sem maior drama e por considerar-se que as bases estavam a serem gravadas, ao vivo. 

Quando a gravação encerrou-se, na madrugada de domingo para segunda, corremos contra o relógio, pois o dono do estúdio e os funcionários chegariam para o expediente, logo cedo. Mas na verdade, já estava a amanhecer enquanto ainda finalizávamos e tentávamos aproveitar até o último segundo, para gravar solos nos "overdubs" de guitarra, e teclados que já ocorriam.

Porém o dono do estúdio chegou um pouco mais cedo do que previa-se e nesse caso foi hilário ver a sua reação de estupefação ao deparar-se com um amplificador colocado no banheiro externo do estúdio, para aproveitar a acústica, devido aos azulejos etc. e tal. 

Fora esse espanto por observar uma maluquice que jamais aconteceria na gravação de um disco de um artista popularesco com o qual estava acostumado a lidar, houve aquela enorme profusão de posters espalhados pelas paredes e o aroma impregnado por incontáveis incensos que queimamos ao longo daqueles quatro dias...

Foi hilário ver a expressão facial do sujeito, ao contemplar aquele circo Rocker ali montado no seu estabelecimento!

Então, encerramos a sessão e desmontamos tudo a toque de caixa, antes que os funcionários chegassem. Marcaríamos sessões posteriores para a gravação das vozes e a prover-se a mixagem, contudo, muitos acontecimentos surgiriam e nós nunca mixaríamos o disco nesse estúdio, e convenhamos, ainda bem que não!

E tal estúdio continha outros pormenores exóticos, além dos que eu já relatei. Não citarei nomes, para não causar constrangimentos, mas o fato é que haviam vários personagens pitorescos ali. A começar pelo seu dono, que era um ex-monge beneditino e confesso que ex-padre eu já conhecia, mas ex-monge, fora algo inusitado, devido ao fato de que geralmente para quem busca uma reclusão contemplativa, não há sentido voltar atrás ao buscar a reinserção na sociedade etc.
Outro personagem exótico, foi o "vigia" do estabelecimento... que era na verdade, o único elemento que dormia no local, em uma edícula sobre o estúdio. A sua função, além de prestar atenção nos ruídos estranhos da madrugada que ameaçassem a integridade do estabelecimento, fora também preparar o café dos funcionários e clientes.

Até aí, tudo bem, tirante o fato do rapaz ser um travesti e estar "montado" 24 horas por dia. Todavia, ali no ambiente de trabalho, não desmunhecava, apesar de estar vestido como uma mulher sensual, a bordo de saias curtíssimas e com blusas mediante decote generoso, com direito a uma peruca feminina com um cabelo enorme, maquiagem pesada etc. 

Talvez por orientação da direção (muito provavelmente), portava-se de maneira muito discreta no cotidiano e todos a chamavam pelo seu nome fictício, feminino. 

Contudo, quando o dono do estúdio queria repreendê-la(o) por alguma conduta inadequada, esse mandatário perdia a compostura e o chamava pelo nome real, masculino e isso causava um constrangimento geral, com a mocinha a ficar furiosa pela admoestação e muito mais por ser chamada por um nome masculino, certamente.

Muitas vezes presenciamos reprimendas homéricas do dono, ao chamar a atenção do travesti, pelo fato do café estar impregnado com o odor de esmaltes fortes. O nome masculino da mocinha ecoava pelos corredores e ele/ela, rangia os seus dentes, com raiva. 

Certa vez, nesse período em que gravitamos nesse estúdio, aconteceu um fato muito constrangedor. Foi preciso entregar uma fita ao estúdio no período noturno, quando possivelmente não haveria mais expediente e dessa forma, a esperança de que a tarefa fosse cumprida a contento, seria a de entregá-la ao travesti. Lembro-me que eu parei o meu carro e pedi ao Samuel Wagner, nosso roadie e que acompanhava-me nessa tarefa, que descesse e entregasse o material.

Observei-o então a tocar a campainha e notei que demorou para aparecer alguém para atendê-lo. De repente, vi que ele aproximou-se da janela de um carro que estava estacionado em frente ao estabelecimento e a conversar com uma mulher que o atendeu, ele entregou-lhe o material. Quando voltou ao meu carro, eu estava intrigado e perguntei-lhe: -"cáspite, Samuel... para quem você entregou o material?" Pois fora o travesti/vigia/barista do estúdio, que estava a namorar um rapaz, dentro de um carro da marca "Corcel II"...

Manolo Otero, astro hispânico e famoso pelos seus boleros cafonas, e que já idoso na ocasião, estava a gravar um álbum nesse estúdio, nessa mesma época
 
E o que dizer dos seus clientes habituais? Aspirantes a artista popularescos formavam o grosso da clientela, mas também haviam astros decadentes desse mundo, ou submundo, como queira avaliar o leitor. 

Todavia, também era significativa a parcela de clientes sem pretensões musicais mais sérias, mas apenas interessados em gravar para satisfazer um desejo recôndito, ou mesmo a visarem presentear as suas respectivas progenitoras, namoradas etc. Para esse tipo de cliente, geralmente usava-se como um jargão do meio a denominação: "disco de dentista", para designar tal parcela de pessoas, geralmente profissionais liberais, interessados em gravar um CD, por hobby ou outro motivo diletante qualquer.

Bem, aspectos folclóricos a parte, tal estúdio foi o que tivemos como opção plausível naquela ocasião, e portanto, tivemos mais é que animarmo-nos com essa oportunidade, sem nenhum "complexo de Pollyana", ao sermos apenas realistas. 

Encerrada a gravação das bases, que foi sob aquele espírito imbuído pela pressa absoluta para aproveitarmos o feriado de Corpus Christi, de 2001, as sessões suplementares para gravar overdubs dos solos e vocais foram, logicamente, mais espaçadas.

Como o aproveitamento da gravação das bases houvera observado um desempenho ótimo, com direito há alguns overdubs a serem adiantados, a necessidade para promovermos sessões suplementares, foi bastante reduzida, para a nossa sorte.

Entrevista conduzida pelo ótimo e hoje saudoso jornalista, Dum de Lucca, para a Revista "Dynamite", nº 45, de junho de 2001.

Outro fator animador nesse aspecto, foi que Marcello e Rodrigo estavam afiados para gravarem as suas partes adicionais de guitarra e teclados. Portanto, as sessões de overdubs desses instrumentos, foram bem rápidas e eficazes, também. 

Nesse ínterim, tivemos enfim uma nova data de show pela frente.

O compromisso seria na cidade de Santos-SP, novamente marcado para a casa de espetáculos, "Praia Sport Bar". E mediante um público formado por cerca de cento e cinquenta pessoas, fizemos um bom show no dia 29 de junho de 2001.

De volta à gravação, a rapidez com que estávamos a gravar emperraria logo a seguir e uma saída alternativa surgiria para resolver o imbróglio. Como o estúdio fazia muitas gravações para clientes, na condição de aspirantes a artistas no mundo popularesco da música de massa e os chamados "discos de dentista", também, o dono do estabelecimento propôs que pagássemos a dívida contraída pelas horas que usamos, com trabalho, como músicos em gravações dessa natureza. 

Claro que aceitamos e a ideia inicial seria que eu e Rodrigo prestássemos tais serviços nesse sentido. Essa história já foi contada com detalhes no capítulo: "Trabalhos Avulsos", quando eu narrei a saga de termos gravado o disco de uma cantora jovem, chamada: Regiane.

 
Uma pausa na cronologia da narrativa para retroagir um pouco.
Eis então, mais um apanhado básico das matérias que ainda falaram do álbum "Chronophagia" e continuavam a serem publicadas.

1) Saiu no Site Wiplash, assinado por Marcos Cruz:

"Uma das coisas que mais me entristece, é quando ouço um novo trabalho de alguma banda 'das antigas', e constato que devido à ânsia de 'faturar' um pouco, acabam embarcando em algum tipo de modismo, descaracterizando totalmente sua sonoridade; às vezes isso também ocorre quando os caras 'erram na mão', e acabam fazendo um trabalho muito experimentalista, resultando em algo não muito agradável aos ouvidos. E por mais paradoxal que possa parecer também, fico triste quando constato que a banda continua fazendo o mesmo 'arroz com feijão' de anos atrás, sem nenhum 'punch', apenas reciclando de forma burocrática sonoridades perdidas em outras eras, de modo a conservar seus velhos fãs (chato eu, não ?)...

Por isso foi uma grande surpresa quando ouvi este novo trabalho do Patrulha, que mesmo sem trazer absolutamente nada de novo, conseguiu fazer um disco que sem sombra de dúvida agradará a todos que gostem  de um bom Rockão 'das antigas', ora soando bem Rock'n' Roll, ora como as típicas bandas de hardão setentistas, ora beirando o progressivo clássico, tipo 'Yes'. Aliás, a própria banda já deixa clara  suas influências no encarte, onde dedicam os temas à bandas/artistas como 'Humble Pie', 'Blind Faith', 'Grand Funk Railroad', 'Yes', 'Paul McCartney, e alguns brazucas ilustres como 'Mutantes', 'Arnaldo Dias Baptista", 'Som Nosso de Cada Dia', entre outros. Há deficiências? Sim, claro que há, mas nada que afete de forma profunda o trabalho. 

Talvez a maior de todas seja o fato dos vocalistas às vezes aparentarem estar no limite de seu alcance vocal. Mas esta deficiência é totalmente encoberta pela competência com que cuidam dos arranjos. Marcello Schevano, além de tocar flauta, se reveza com Rodrigo Hid na guitarras, vocais e teclados. Luiz Domingues (ex-A Chave do Sol e ex-Língua de Trapo),  cuida do baixo e a bateria continua a cargo de um dos fundadores do Patrulha, o legendário Rolando Castelo Junior, que tocou no Made in Brazil, além de ter participado do lendário 'Aeroblues', juntamente com Pappo, um famoso guitarrista argentino. Além de 15 temas próprios, uma releitura extremamente sensível de 'Sunshine', do mestre Arnaldo Dias Baptista, com a participação, com a participação especial de Manito, no sax.  

Dificilmente este trabalho atingirá  'disco de platina' , dificilmente será tocado nas rádios (com exceção de alguns poucos programas segmentados), dificilmente alguma faixa se tornará 'trilha sonora de novela global'...

Mas creio que o objetivo de Mr. Junior & Cia, não é este, e sim de sobreviver fazendo o que gostam - que é tocar Rock com muito prazer e competência. Portanto, se o leitor tiver dificuldade em encontrar este CD (afinal trata-se de um lançamento independente), ou quiser entrar em contato com a banda para shows etc, escreva para a Caixa postal 45367, São Paulo, CEP 04009-970). Vamos prestigiar estes que são um dos últimos representantes de uma raça em extinção - a dos Roqueiros com 'R' maísculo!

Long Live Patrulha!!!"

Marcos Cruz


Bem, como era (é) do feitio do Marcos Cruz, em suas resenhas sobre discos e shows, publicadas no Site "Wiplash", o texto é longo e recheado com impressões detalhadas sobre o assunto abordado. Particularmente acho essa liberdade de expressão sem limites de espaço, uma iniciativa excelente da parte dele. 

Nada tenho a considerar sobre o que ele disse. Apreciei bastante essa resenha, assim como todos os demais componentes da nossa banda.

No Jornal "Ponto Final", que era distribuído gratuitamente para usuários de ônibus, das cidades da Região do ABC, eis a resenha escrita pelo ótimo jornalista, Vladimir Ribeiro:

" Seguindo a mesma fórmula dos antigos sucessos, a banda Patrulha do Espaço, lança seu novo CD, 'Chronophagia', após passar mais de dez anos sem nenhuma novidade. Em 1997, eles lançaram uma coletânea com três CD's , reunindo os sucessos da banda, desde os anos setenta. 

O novo trabalho é independente e a produção ficou por conta do baterista Paulo Zinner. Quinze faixas, mais uma vinheta de bateria, estão muito bem produzidas, no estilo dos anos setenta. A maior parte das composições e das músicas deste CD, foram feitas pelos novos integrantes, Luiz Domingues, Rodrigo Hid e Marcello Schevano, além do precursor da Patrulha, Rolando Castello Junior.

Vale a pena conferir!"

Saiu publicado no "Jornal da Liberdade", simpático semanário do bairro da Liberdade, centro-sul de São Paulo:

"O Patrulha do Espaço volta ao cenário musical com um novo trabalho, para provar mais uma vez, que o brasileiro também sabe fazer Rock. E dos bons! CD independente, ele vem assinado por Luiz Domingues, Rodrigo Hid e Marcello Schevano, os quais, juntamente com os outros integrantes do grupo, depositaram nele toda garra, vontade e dedicação, com a finalidade de reconquistarem público e crítica.  

Que as gravadoras fiquem atentas, pois eles tem a certeza de que esse retorno é apoteótico".

Neste caso, a despeito das partes elogiosas a enaltecer-nos, não dá para deixar de observar que o texto equivocou-se em um ponto crucial! Ao nominar os componentes da banda, o redator do texto citou apenas três, ao omitir o Rolando Castello Junior, justamente o membro-fundador, e para piorar, eu também, para dar a entender que haviam outros membros, talvez obscuros. Sem desmerecer o esforço para nos enaltecer, deixo a pergunta: aonde esse jornalista estava com a cabeça quando escreveu essa resenha?

E essa próxima, foi publicada em um fanzine de Londrina / PR, chamado, "Matéria Prima", assinada por um resenhista que assinara como, Paulão "Rock'n' Roll":

"A Patrulha do Espaço foi a banda que Arnaldo Baptista comandou, quando saiu dos Mutantes. Logo em seguida, ele pulou, e a patrulha continuou. Existe uma caixa contendo 3 CD's com um encarte contando histórias verdadeiras e lendas misteriosas a respeito desta banda que consegue criar o melhor hard brasileiro. Coube a Rolando Castello Júnior a nobre missão de pilotar a Patrulha. 

"Chronophagia" é seu novo lançamento. Júnior reuniu a tropa de elite e construiu um álbum que resgata numa boa, a melhor musicalidade dos anos setenta. A Patrulha tem a receita certa para o hard progressivo, reativaram um velho Hammond e a flauta ácida, colocando em atividade 15 faixas inéditas e reeditando "Sunshine" do Arnaldo, com Manito no sax. 

A Patrulha mantém a fantasia intacta, alimentando os sobreviventes dos bons tempos e descobrindo para a nova geração, as raízes da nata do Rock".

Que pena que esse Paulão não escrevia resenhas para órgãos de imprensa mainstream, não é mesmo? A despeito de sua forma simples de escrever, os dados e a percepção do que foi o álbum Chronophagia e o significado implícito dessa formação da Patrulha do Espaço, foram captados com fidedignidade. Nada como ser do ramo!

Essa saiu publicada na Revista "Rock Press":

"Após anos de ausência da cena Rock nacional e depois da trindade de álbuns que cobriu suas formações entre 1978 e 1990, Rolando Castello Junior, o supremo batera (um dos melhores do nosso país), remonta a banda/mito e coloca no mercado um disco do mais puro Rock, sem sombra de dúvida.

Cada nova música das 16 contidas no disco, pratica uma singela homenagem às figuras do Rock mundial, sem vergonha de pagar mico, inspirando-se em características das próprias.

Como assim? Por exemplo, vejam a lista: Som Nosso de Cada Dia; Humble Pie, Blind Faith, Grand Funk, Luiz Carlini & Tutti-Frutti, Arnaldo Dias Baptista, Procol Harum, Yes, Mutantes, Led Zeppelin e Paul MCartney.  

O Patrulha mistura seu estilo ao de cada um dos agraciados, resultando em um álbum repleto de rockaços emocionantes. Para os amantes do Rock brasileiro praticado nos 70 e para os fãs do classic Rock, imperdível".

Excelente análise, realmente a entender que a proposta fora explícita no intuito de se evocar as raízes, 1960 & 1970, sem medo para enfrentar o preconceito da parte dos que são obcecados pela contemporaneidade. 

Já através da Revista da 89/Revista Rock, saiu assim a resenha:

"Após um período estacionado, o histórico grupo Patrulha do Espaço levanta voo e volta a sondar o universo do Rock'n Roll.
O disco começa com a progressiva "Sendo o Tudo e o Nada", e segue explorando outras fronteiras em "O Ritual"; "Retomada" e "Alma Mutante". "O Novo Sim" e as lisérgicas "Eu Nunca Existi" e "Céu Elétrico" já se tornaram clássicos do gênero.  

A fase "Arnaldo & Patrulha" é lembrada na regravação de "Sunshine" (com o sax de Manito, ex-Som Mosso de Cada Dia e Os Incríveis), e os Mutantes são homenageados na viajante "Nave Ave". As belas vozes e guitarras dos novatos Rodrigo e Marcello se encaixam harmoniosamente na swingada "Terra de Mutantes" e na Beatleniana "Sr. Barinsky".  

Enquanto a experiência do baixista Luiz (ex-Lingua de Trapo e A Chave do Sol), e do baterista fundador Junior, ultrapassam a barreira do tempo em instrumentais perfeitas. "Chronophagia" é uma aula de Rock psicodélico anos 70, em pleno final de milênio".

Daniel Vaughan


Muito boa a resenha do ótimo jornalista, Daniel Vaughan, que eu conheço pessoalmente e sei que esse profissional tem conhecimento enciclopédico a respeito do Rock, portanto, as suas impressões contém muito fundamento e se elogiou, isso muito honrou-nos e mais do que isso, deixou-nos com o sentimento de dever cumprido. 

Já no "Rocker Magazine", o que disseram sobre o nosso disco foi o seguinte:

" Este CD é uma dádiva para aqueles que acreditam na existência do Rock'n Roll no Brasil. Chronophagia mostra a experiência, técnica e precisão de Rolando Castello Júnior, aliada ao baixo de Luiz Domingues, e a juventude e energia da dupla Rodrigo Hid e Marcello Schevano.  

São 16 faixas incluindo um solo de bateria. O CD abre com "Sendo o Tudo e o Nada", faixa com mais de 9 minutos, onde a banda flerta com o progressivo e mostra de cara que são músicos excepcionais.

Grandes composições, das quais vou destacar "Sr. Barinsky", com um belo trabalho de backing e um ótimo solo de Marcello.
A volta do Patrulha não poderia ser melhor: a alma dos anos 70 aliada à tecnologia do novo século".

Eduardo de Souza

Bem, foi mais uma resenha com observações muito pertinentes. A curiosa constatação de quanto mais longe do padrão mainstream, mais preparados são os resenhistas, ou para ser bem preciso, menos comprometidos com interesses escusos.

Na Revista "Cover Guitarra", n°69, de agosto de 2000, falou-se o seguinte:

"Justamente quando as pessoas começam a acreditar que o futuro do Rock é a música eletrônica, ouvir guitarras e baixos vintage fazendo um som puro e virtuoso é um sopro de vida para os fãs de Led Zeppelin e Cia. E fazer um hard Rock progressivo com letras em português tem sido a proposta da Patrulha do Espaço que, desde 77, vem unindo elementos pouco comuns à música brasileira, com bom gosto e qualidade. 

Musicalmente, os excelentes timbres e solos da dupla de guitarras e Rodrigo Hid e Marcello Schevano são dignos de nota. Vale conferir as viagens na pesada "O Pote de Pokst" e a maravilhosa faixa de abertura, a quase Genesis, "Sendo Tudo e o Nada", bem como o riff matador de "Ser" e os solos alucinantes de "Sr. Barinsky".

Viva a Patrulha!"


R.V.

Não lembro-me mesmo quem foi o jornalista que assinou só com as iniciais. Mas eu gostei de sua análise fidedigna do trabalho e não posso deixar de observar que a fina ironia com a qual alfinetou os precipitados contumazes em suas análises e que decretavam o triunfo final da dita música eletrônica, em pleno ano 2000, soa hoje (2016), como uma verdade simples e cristalina: aonde está a vitória esmagadora da música eletrônica ao decretar o fim da música tradicional? Profecias vãs ficam engraçadas quando devidamente destruídas pela história.

Para mudar de assunto, nunca foi meu objetivo de carreira ser "reconhecido" como baixista, buscar elogios, enaltecimento individual etc. Desde o primeiro instante de minha carreira, nos primórdios de minha primeira banda, o Boca do Céu, a minha meta sempre foi trabalhar coletivamente, jamais individualmente.

Por isso, eu nunca quis ter matérias em revistas especializadas, como fator de autopromoção individual. Mas claro, se tal tipo de oportunidade gerasse um dividendo para a minha banda, fosse lá em qual estivesse, logicamente que não recusar-me-ia a conceder uma entrevista. 

Foi o que aconteceu através da revista: "Cover Baixo", especializada para baixistas, em sua edição de agosto de 2000.

Aceitei o convite para ser entrevistado e por telefone, respondi uma série de perguntas do jornalista de tal veículo, com o claro objetivo de agregar mais exposição para a Patrulha do Espaço, e consequentemente de nosso recém lançado CD. Eis a íntegra da matéria:

"Luiz Domingues - Palhetada Rock na Patrulha"

Quando se pensa em contrabaixistas brasileiros, a primeira imagem que vem à cabeça de muita gente, é a de alguém tocando com muito swing e slap, como fazem Pixinga e Arhur Maia, por exemplo. 

No entanto, desde 76, Luiz Domingues - anteriormente conhecido como Tigueis - vem colocando os baixistas de Rock nacionais num patamar de reconhecimento nacional. Tocando agora com a lendária Patrulha do Espaço, Luiz une o hard Rock tradicional dos anos 60 e 70, com pitadas de progressivo. 

O resultado pode ser conferido no novo álbum da banda, Chronophagia, gravado no início deste ano. "É um disco bem eclético, no qual mesclamos todas as nossas influências", afirma Luiz. "Tanto é que dedicamos cada faixa a uma banda que gostamos, como Yes e Led Zeppelin". 

Os fãs do som "gordo" que Luiz extrai palhetando seus baixos não ficarão decepcionados: "Meu som sofreu muitas influências, mas sempre procurei ter uma característica própria, que se dá enfatizando as sonoridades médias e graves". 

Luiz ainda garante que não vê problema nenhum em ser um baixista roqueiro no Brasil: "Sempre assumi essa postura, com todos os prós e os contras". E digo mais : os músicos brasileiros tem uma facilidade muito grande para unir o Rock com o Funk, e essa música agressiva, mas com groove, vai estourar no futuro".

Bem, é preciso salientar que nesse mundo específico dos baixistas, existe muito preconceito em diversos aspectos. O primeiro deles, é o do uso da palheta, que para os radicais de plantão, é uma heresia.

Cabe narrar que certa vez, uma certa "estrela" do mundo dos virtuoses do baixo, falou mal de minha pessoa, sem ao menos conhecer-me, por conta dessa imbecilidade. Um ex-aluno meu disse-me ter comparecido a um workshop desse "maioral" e em um dado instante, alguém formulou uma pergunta, ao citar-me como exemplo. 

Teria sido algo do tipo: -"fulano, o que você pensa de baixistas que usam palheta, como o Luiz Domingues, por exemplo?" 

Segundo contaram-me, ele ironizou-me e foi bem deselegante, ao responder que eu "não tocava nada", e isso explicava o que ele pensava sobre "palheteiros".

Está bem, então... não importo-me em "não tocar nada", mas falar isso sobre quem usa palheta, implica citar subliminarmente de forma negativa um músico como: Chris Squire, por exemplo. E claro, é de uma imbecilidade atroz, só para citar um baixista que ele chamava pejorativamente como "palheteiro". 

Não faço parte desse mundo em que o ego inflável é condição sine qua non para habitá-lo, definitivamente. Toco baixo com quatro cordas, vintage, com encordoamento 040. Uso palheta, odeio captação ativa, amplificadores Hartke e similares desse estilo, desenhados para serem usados por baixistas que tocam com "baixos" de cinco ou seis cordas, principalmente. Estou fora desse universo! Sou Rocker e não tenho vergonha alguma em assumir-me nessa condição.

Claro, no cômputo geral, considerei a entrevista positiva e certamente que foi bastante benéfica para engrossar os esforços em prol da divulgação da Patrulha do Espaço em torno do seu novo CD. 

Dois anos depois, essa revista procurar-me-ia novamente e desta feita, lançaria uma matéria ainda maior.


Um mês depois, a revista "Cover Guitarra" lançou uma matéria com os dois guitarristas da Patrulha do Espaço, a seguir a tendência iniciada comigo, um mês antes, na "Cover Baixo".

"Rodrigo Hill (sic) & Marcelo Schevano - Patrulha Setentista

"Nosso show é uma volta aos anos 70". É assim que Rodrigo Hid e Marcelo Schevano definem as apresentações da Patrulha do Espaço, antológica banda fundada pelo ex-Mutante Arnaldo Dias Baptista e pelo batera Júnior, que vem mantendo as tradições vintage num Rock 'n' Roll cada vez mais assolado pela música eletrônica. 

"Nós sempre escutamos um som mais antigo e só nos sentimos confortáveis tocando  instrumentos daquela época", afirma Marcelo. "No Brasil, há o mito que diz que uma banda só é boa quando está "antenada" com as últimas tendências, usando equipamentos ultra modernos. Besteira! No exterior, existe uma série de bandas especializadas em som vintage, acrescenta Rodrigo. Essa falta de tradicionalismo no país também acarretou muitas dificuldades para os músicos conseguirem os instrumentos. 

-"Você vai em uma loja e o vendedor nunca ouviu falar num pedal Ecoplex, por exemplo", afirma Rodrigo. "Achar instrumentos vintage no Brasil, é muito complicado. Você tem que ter dinheiro e garimpar muito, inclusive no interior de outros estados. Conheço até uma loja especializada em garimpar órgãos Hammond em pequenas igrejas espalhadas pelo país". 

Um dos detalhes mais interessantes de Chronophagia, o novo disco da banda, é o fato de que cada música é dedicada a grandes nomes, como Yes, Grand Funk Railroad e Paul McCartney. 

-"Isso surgiu durante a mixagem, já que sempre que alguém ouvia uma faixa, imediatamente se lembrava de algum músico ou banda. Decidimos então, prestar a devida homenagem não só a grandes nomes, mas também a figuras menos conhecidas, como o "Som Nosso de Cada Dia" (ótima banda brasileira dos anos 70), diz Rodrigo. Marcelo começou suas investidas pelo universo guitarrístico  aos quatorze anos, fazendo aulas particulares que duraram apenas oito meses. 

-"Não aguentei a rotina de aprender e decorar escalas. O meu negócio era compor e fazer os solos de meu próprio jeito". Já Rodrigo iniciou seu aprendizado no instrumento com seis anos, influenciado por uma longa lista de músicos na família. "estudei muito violão clássico e jazz, mas sempre soube que o meu negócio era o Rock'n' Roll. Então, larguei os estudos e passei a tirar músicas de ouvido, aprendendo com elas. Além da guitarra, ambos também tocam piano e órgão - Marcelo também é hábil na flauta transversal. 

-"Nós simplesmente compramos os instrumentos e aprendemos a tocar na "raça", de modo totalmente autodidata", confessa Marcello. "Valorizamos muito as músicas que compomos, e o processo de composição é muitas vezes facilitado pelo fato de você tocar mais de m instrumento. Você pode, ás vezes, expressar melhor algo que está em sua cabeça no piano do que na guitarra, por exemplo", conta Rodrigo. 

-"Você não tem que ser um virtuose em cada um deles, mas simplesmente saber colocar suas ideias"

RV


Não sei exatamente quem foi o jornalista que assinou só com as iniciais "RV", mas creio que ele fez um bom apanhado do que os dois guitarristas da Patrulha do Espaço representavam para a banda. Sobre as respostas que ambos emitiram, nota-se um pouco de imaturidade em algumas colocações, mas eu forneço o gigantesco desconto de que eles eram absolutamente jovens nessa ocasião.

Pelo contrário, relevo tudo e prefiro dizer que quando foi publicada essa matéria, além de comemorar o estupendo benefício que trouxe à banda, tal reconhecimento do talento dos dois, causara-me a sensação de orgulho. 

Mais que isso, tal tipo de manifestação pública, foi o triunfo de uma percepção que eu mantinha desde 1998, sobre o talento deles, e do quanto seriam enaltecidos no futuro, ou seja, de certa forma, ler uma matéria desse teor publicada em 2000, deu-me a impressão de que tal reconhecimento estava a chegar até que rápido demais, pois apenas dois anos antes desse acontecimento, eles eram adolescentes imberbes a tocarem comigo e José Luiz Dinola, no Sidharta, somente em estúdios de ensaio e agora, estavam enaltecidos em uma revista importante de/para guitarristas.  

Quanto ao teor da matéria, creio que o jornalista os deixou a vontade para expressarem-se livremente, sem pressioná-los com perguntas técnicas ou pior ainda, capciosas. A única ressalva que eu faço, foi na diagramação, detalhe em que o nome do Marcello foi sempre grafado com um "L", apenas e pior, na manchete em negrito, o sobrenome do Rodrigo foi grafado como "Hill" e não "Hid". Um erro crasso da revista, mas que gerou uma série de piadas internas que custaram a cessar, devo confessar. Por um bom tempo, as brincadeiras com o sobrenome errado, "Hill", ecoaram entre nós.

Nesse ínterim, além de resenhas específicas sobre o CD Chronophagia, concedemos boas entrevistas para jornais interioranos, e uma para a Revista Rock Brigade. Mais uma resenha ainda seria publicada a citar o álbum, já no avançar de 2001. 

Foi natural que um novo álbum repercutisse por meses após o seu lançamento, pois a morosidade da imprensa escrita naquela época, sob uma fase pré-massificação da internet, era uma praxe do mundo editorial. 

Muitas vezes visitávamos as redações de jornais e revistas no afã de provocarmos uma avalanche com matérias, mas o resultado só começava bem além do que esperávamos e de forma pulverizada. 

Eis a sintética resenha publicada na revista "Batera & Percussão", especializada nesse universo de instrumentistas:

"É uma grata surpresa ouvir esse CD onde apesar da nova formação, a banda conseguiu manter intacto o espírito setentista do som. É isso que o leitor interessado encontrará: Rock'n' Roll de primeiríssima qualidade que lembre bastante as bandas nacionais daquela época, como o Made in Brazil, por exemplo. 

O destaque fica, é óbvio, para o grande batera, Rolando Castello Junior, que sempre impressionou, desde os tempos em que participava do já citado MIB, Inox, entre outras e felizmente encontra-se em excelente forma".
 

João Gobo

Bem, o tal "João Gobo", que desconfio ser um pseudônimo de um jornalista famoso e que não quis assinar diretamente por alguma questão pessoal, falou bem, mas acintosamente afagou a sua clientela da revista. A despeito de também achar o Rolando Castello Junior, um excelente baterista (na verdade, eu o considero bem mais do que isso), e por ter feito um trabalho magnífico nesse disco, não acho que seja o "destaque óbvio", como assinalou o resenhista.

Penso que o disco é multifacetado e contém a colaboração dos seus quatro membros em igualdade de condições e se assim não o fosse, ficaria limitado como uma mera peça a serviço de um só instrumentista, ainda que ele fosse e continua a ser, excelente e a se colocar milhas acima da média. 

E não é o caso de Chronophagia, definitivamente, pois este é um álbum com grandes canções, muitas nuances conferidas da parte de cada um dos membros, com conceito e energia. Bem, não trata-se de uma queixa, mas apenas uma constatação de minha parte. 

Muitas outras matérias sobre shows e entrevistas seriam publicadas nos meses vindouros, e ainda a repercutir o lançamento do álbum Chronophagia, e nesse sentido, tivemos mais resenhas em abril de 2001, estampadas nas bancas de jornais e revistas.

Em abril de 2001, a Revista "Guitar Player" também abordou os dois guitarristas da Patrulha do Espaço, ao entrevistá-los e por extensão, a falar bastante sobre o CD Chronophagia.

Eis a íntegra dessa matéria:

"Patrulha do Espaço - Pegada

'Gostamos de tudo o que é vintage. Aliás, nós somos vintage', diz Marcello Schevano.  É algo natural que está no nosso som, no nosso equipamento, na maneira como a gente se veste. É a nossa vida', completa Rodrigo Hid. 

O nome Patrulha do Espaço talvez o leve a imaginar uma banda futurista e seus integrantes, vestidos em roupas prateadas, produzindo um som no estilo das trilhas sonoras de filmes de ficção científica. No entanto, tudo na Patrulha do Espaço é vintage. Músicas, letras, timbres, equipamentos e visual. A banda, que já possui em seu currículo oito LP's gravados, teve há dois anos, 75% de sua formação reformulada, e consta agora com os guitarristas Marcello Schevano e Rodrigo Hid, e o baixista Luiz Domingues (ex-A Chave do Sol). 

Da formação anterior, permaneceu Rolando Castello Junior. Mesmo com a inclusão dos novos membros, a sonoridade da banda permanece com sua característica própria, sem perder a referência dos bons trabalhos do passado. No mais recente CD da banda, Chronophagia, as tarefas de guitarra rítmica e solo, vocais e teclados são divididos pelos dois guitarristas. 'Somos amigos de infância e tocamos juntos há muito tempo, por isso temos um bom entrosamento musical', diz Marcello. 

Ambos são multi instrumentistas autodidatas, e dividem também as partes dos vocais e teclados. Por gostar muito de composição, Marcello decidiu aprender outros instrumentos. Hoje, também toca flauta transversal.

'O músico que toca vários instrumentos tem mais facilidade para compor, pois consegue concretizar melhor suas ideias', diz Rodrigo. O CD foi gravado ao vivo no Estúdio Camerati, em fita de rolo de 1 polegada, em 24 canais. 'A mixagem também foi analógica. Tudo foi gravado microfonado, nada direto', conta Marcello. 'Muitas coisas foram improvisadas, pois a banda tem a característica de fazer muitas jams e deixar as coisas bem livres'. Marcello usou uma Gibson SG e uma Fender Stratocaster, e Rodrigo, uma Gibson Les Paul Custom Black Beauty 1973 e uma Fender Stratocaster 1990, modelo Eric Clapton. 

As guitarras foram plugadas em um Fender the Twin; um Marshall JCM 900; Um Fender Bandmaster e um Meteoro MHA 100. De efeitos, Marcello usou um Cry Baby e um Roland Space Echo; e Rodrigo empregou um Wah Vox, e um pedal super phaser da Boss. Os violões foram Yamaha de 6 e 12 cordas e um Giannini de 12 cordas, dos anos 70. 

O Patrulha do Espaço conta com dois bons guitarristas, mas sem o conceito de virtuosismo individual. 'O que me chama a atenção numa música é uma guitarra bem aplicada. Gosto de músicas que tem canção, como as do Paul McCartney, com solos do George Harrison, que são simples e embelezam a música', declara Marcello. 'Outro exemplo é o solo do Carlini em 'Ovelha Negra'. É simples, mas é perfeito'."

Vera Kikuti


Boa matéria, sem dúvida. Parece que em relação à matéria da revista concorrente, "Cover Guitarra", os dois meninos amadureceram rapidamente, mas na verdade, houve um tempo muito pequeno entre uma entrevista e outra. Bom para eles e para a Patrulha do Espaço, que ganhara mais uma matéria boa nas bancas de jornais e revistas e com os dois a mostrarem-se mais preparados, desta feita. 

Claro, por tratar-se de uma revista técnica e destinada por conseguinte para guitarristas e aspirantes a, houve uma descrição de guitarras, violões, amplificadores e pedais usados nas gravações do álbum, questão pertinente para os apreciadores de técnicas e timbres, produção de áudio etc.

Na revista Dynamite, de abril de 2001, a resenha foi publicada, com esse teor:

"Janeiro de 1983, Ginásio do Ibirapuera: Lá estava o Patrulha do Espaço abrindo pro Van Halen. Esse foi apenas um dos voos do Patrulha pelo cosmos do Rock' n' Roll. 

Agora,  o Patrulha almeja voos mais altos e sob o comando de Rolando Castello Junior (bateria - o único  da formação original), vem com esse novo trabalho mostrar que o Rock nacional continua vivo. Junto com com o competente multi-instrumentista e vocal Marcello Schevano, Luiz Domingues (baixo,  Ex- A Chave do Sol), e Rodrigo Hid (guitarra, piano e Hammond). Chronophagia  é um CD que não pode faltar para quem curte ou vive o Rock. Destaque para 'Ser', 'Alma Mutante' e 'O Pote de Pokst'."

SK


Quase um depoimento de fã, essa resenha foi positiva, apesar de bem sintética. Infelizmente não faço ideia sobre quem seja o resenhista, devido ao uso lacônico das iniciais, em sua assinatura.

Em maio de 2001, outra resenha surgiu, desta feita por um fanzine chamado, "Megarock", editado por um rapaz chamado: Fernando Cardoso, e oriundo do ABC paulista, mas não lembro-me exatamente de qual cidade daquela região (talvez seja a cidade de Mauá).

"Mantendo o fôlego e o estilo, o Patrulha do Espaço vem ao longo dos tempos tentando manter as suas atividades, sempre procurando produzir um trabalho de alta qualidade, e o Chronophagia é uma amostra disso. Este álbum é um Hard Rock bem no estilo dos anos 70, com peso moderado e bastante ritmo, onde a produção ficou a cargo do Paulo Zinner (Golpe de Estado). 

De uma maneira geral, as músicas são criativas e virtuosas, tocadas por músicos de talento notável. Merece destaque também a parte gráfica do álbum,com belas tonalidades de cores, além do visual gráfico. O Patrulha do Espaço é um exemplo de persistência, de um grupo que trabalha muito para conseguir os seus objetivos."

Bem, como geralmente acontece entre resenhadores amadores de fanzines, a sinceridade decorrente pelo fato de não fazerem parte de grupos corporativos e com comprometimentos com estéticas ou questões obscuras, é nítida. Por falarem o que pensam e sem preocupação em estarem comprometidos sob um paradigma em se obrigarem a elegerem "hypes" e modismos trôpegos, fazem jornalismo melhor que muitos ditos, profissionais.

Volto a falar dentro da cronologia e o próximo compromisso foi um convite advindo da parte de uma casa noturna tradicional, localizada no bairro do Bexiga, próximo ao centro de São Paulo. Tratou-se do "Café Aurora", casa que existia há muitos anos na Rua 13 de maio, e que costumava privilegiar uma programação com bandas cover, predominantemente.
No entanto, como o convite partiu da casa, foi óbvio que haveria um cuidado especial de se produzir uma noite para o som autoral e dessa forma, aceitamos o convite. Ainda por cima, houve a boa companhia dos amigos do "Baranga", portanto, no mínimo, seria uma noitada do Rock, agradável. Isso ocorreu no dia 26 de julho de 2001 e cento e vinte pessoas foram computadas na plateia. 

Enquanto a gravação do novo álbum encerrava-se, um convite para participarmos de um programa de TV, surgiu, mas vale a pena estender-me um pouco nessa descrição, pois tal atividade rendeu uma boa história. 

Como foi muito comum nessa fase da Patrulha do Espaço, foram raros os programas de TV aberta ou mesmo paga, em que participamos. As raras oportunidades que tivemos, foram proporcionadas por programas obscuros de TV's Comunitárias e/ou universitárias, com pouca visibilidade, infelizmente. E quando surgiam, é claro que os aceitávamos de bom grado, pois a boa vontade expressa ao formular o convite, não poderia ser desprezada de forma alguma. 

Foi o caso desse convite que recebemos da parte de um grupo de estudantes universitários, que produziam um programa, como atividade curricular de seu curso de Rádio & TV, dentro de uma universidade privada, oriunda de uma cidade do Grande ABC. Foi no caso, a turma de estudantes de Rádio & TV da Universidade Metodista, de São Bernardo do Campo-SP, cidade da região do ABC paulista.

O convite surgiu através de uma amiga do nosso roadie, Samuel Wagner, chamada: Rosângela. Ela não era estudante desse curso, mas conhecia muitas pessoas que estudavam no curso de Rádio & TV daquela universidade e sugeriu-lhes a Patrulha do Espaço como pauta, exatamente pela proximidade por conhecer o Samuel e saber que o contato seria fácil, nesses termos. 

A ideia seria gravar um especial com uma hora de duração, com a banda a tocar ao vivo nos estúdios da Universidade e claro, com direito a uma entrevista para falar sobre o trabalho etc. Seria sem cachê, evidentemente, mas a estrutura da universidade nos foi oferecida e pelo menos a logística esteve garantida, com a cessão de vans para providenciarem o transporte do equipamento e da banda, desde São Paulo. 

Bem, foi aceito o convite e assim, no dia 10 de agosto de 2001, dirigimo-nos ao campus dessa referida Universidade, em Rudge Ramos, bairro daquela cidade, que faz divisa com a cidade de São Paulo.

Chegamos ao campus enfim e verificamos com pesar que o estúdio de TV dos estudantes do curso de Rádio & TV, ficava instalado no quarto andar de um prédio, sem a existência de um elevador sequer. 

Ora, diante dessa escadaria massacrante, e do fluxo gigantesco formado por estudantes a subirem e descerem pelos andares, deduzimos que os nossos roadies esgotar-se-iam nessa tarefa, e pior, essa logística atrasaria demais o trabalho de montagem do equipamento e consequente início dos trabalhos de gravação do programa.

Então, mais uma vez a contarmos com o poder da improvisação e camaradagem, com alguns alunos envolvidos nessa produção, a se disporem a ajudar, sob um ritmo de mutirão, pura e simplesmente. Conseguimos assim, escalar os quatro andares com aquela parafernália toda, inclusa a presença do pesado órgão Hammond, que demandava a presença de no mínimo, quatro homens fortes para carregá-lo. 

Claro, muita gente ali da Universidade teve um choque de realidade quando viu o tamanho do equipamento, pois talvez alguns desavisados, principalmente membros do corpo docente da instituição, devem ter imaginado a presença de uma banda despojada, com garotos a usarem bermudas, sem nenhuma preocupação mais acentuada com a qualidade sonora a ser empreendida etc.

Começamos então a montar tudo e nesse ínterim, eu acompanhei uma conversa travada por uma professora envolvida na produção do programa, com o técnico de som, e com tal orientadora a se mostrar preocupada, para que o áudio não saísse mal, com uma banda profissional desse nível. 

Ficara óbvio que ela estava mesmo surpreendida, pois esperava uma banda amadora, formada por alunos ou conhecidos dos mesmos, mas com um equipamento mais simples e certamente, completamente despojada. Diante disso, foi compreensível que ficasse preocupada, ao antever os alunos sob a sua responsabilidade pedagógica, intimidados com uma banda com tal bagagem e história. 

De fato, deu para perceber que estavam nervosos, principalmente a garota que seria a apresentadora do especial. Percebemos que a garota andava para lá e para cá, com a ficha de informações e perguntas na mão, ao tentar decorar alguns tópicos. Aliás, esse procedimento é comum entre profissionais de jornalismo televisivo, já vi repórter tarimbada a fazer isso, portanto, a professora ensinara corretamente a técnica, mas a garota era só uma estudante, bem nova e estava nitidamente intimidada com a nossa presença. Normal, ninguém nasce a saber...

E na medida do possível, solidarizamo-nos com ela, pois tratamos de quebrar o gelo, ao dar-lhe suporte emocional nos momentos anteriores da gravação, a iniciar-se, enfim. 

Houve também um pequeno público presente, que foi acomodado em uma minúscula arquibancada, dentro do estúdio. De última hora, o nosso roadie, Samuel Wagner, avisara alguns amigos seus e que misturaram-se aos alunos. Foi bem interessante essa participação, para trazer-nos um pouco de calor humano, fundamental para soltarmo-nos um pouco mais, pois é sempre intimidante tocar em estúdio de TV, só com a presença de técnicos.

O programa chamava-se: "Página Aberta", e era exibido no canal comunitário da cidade de São Paulo e também em um similar da região do ABC. Infelizmente, a audiência mostrava-se perto do ponto zero, mas não poderíamos e não desprezaríamos a oportunidade, sem dúvida. 

Tocamos diversas músicas e uma conversa foi intercalada em trechos. O programa foi dividido em dois blocos e exibido em duas datas de agosto, com meia hora cada um. A qualidade sonora da mixagem televisiva surpreendeu-nos, de certa maneira, quando o vimos no ar dias depois.

Uma postagem no YouTube, foi feita anos atrás, extraída de um trecho desse programa, mas a fornecer o credito errado, por afirmar se tratar de um programa da TV Cultura. Não é verdade e por isso deixei um comentário na página em questão, a estabelecer a correção. 

A iluminação deixou a desejar, mas acho que por falta de mais recursos. De fato, é um vídeo um tanto quanto escuro, por considerar-se ter sido feito em um estúdio de TV, no entanto, com  a ressalva de que não tenha sido produzido com condições 100% profissionais, mas em termos experimentais e didáticos, apenas razoavelmente aparelhado dessa forma. 

Essa postagem que eu citei, quando tocamos a nossa versão para a canção: "Ando Meio Desligado", dos Mutantes, obteve muitas "visualizações". Claro que o chamariz por ser uma música famosa dos "Mutantes" pesou, mas creio que a nossa performance tem o seu valor adquirido, ainda mais pelo improviso que fazíamos no meio da canção, com direito à citação da música: "In-a-Gadda-da Vidda", do "Iron Butterfly". 

O vídeo da nossa performance para a canção: "Ando Meio Desligado", dessa citada aparição no programa "Página Aberta", produção dos alunos do curso de Rádio & TV da Universidade Metodista, de São Bernardo do Campo-SP, no ABC Paulista. Exibido na TV Comunitária de São Paulo, em agosto de 2001.
Eis o Link para assistir no YouTube:
Eis o Link para assistir no YouTube:
Eis o Link para assistir no YouTube: 
 
Assista abaixo o vídeo de "Nave Ave", no mesmo programa citado acima. 

Eis o Link para assistir no YouTube:

http://www.youtube.com/watch?v=UYzqmDaqkgc

Tocamos outras músicas nesse dia, mas os vídeos que um fã/amigo (e que teve curta participação como roadie da banda em 2000, (Rogério André), disponibilizou no YouTube, são esses anteriormente citados. 

O programa era obscuro e evidentemente que teve um resultado de audiência quase zero na época de sua exibição. 

A despeito da qualidade de imagem ser precária, pela falta de recursos de iluminação de melhor qualidade existentes no estúdio daquela universidade, claro que foi válido participar. 

É uma pena a escuridão acentuada na sua fotografia, pois a performance da banda foi boa, com pouquíssimos erros musicais cometidos e isso deve ser creditado ao fato de que estávamos bem azeitados pela frequência boa de shows que fizemos nessa época.

Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário