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terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Patrulha do Espaço - Capítulo 1 - A Preparar uma Armadilha em Nome do Sonho - Por Luiz Domingues

Para eu poder falar sobre a minha história construída com a Patrulha do Espaço, é preciso recuar no tempo e relembrar os acontecimentos a respeito do final do ano de 1997, inicialmente, quando deixei o Pitbulls on Crack e criei juntamente com Rodrigo Hid, o Sidharta. 

Tal projeto não culminou em uma banda propriamente dita, com a sua carreira isoladamente consolidada com feitos concretizados, entretanto foi um período da minha vida que eu relembro com muito carinho, pois foi uma fase norteada pela extrema euforia, a gerar-se muita criatividade e sobretudo, a confirmar o desabrochar de dois jovens talentos (Marcello Schevano e Rodrigo Hid), além de proporcionar o meu reencontro com José Luiz Dinola, grande baterista com quem eu não tocava desde 1987.

Então, posto isso, o Sidharta foi o embrião da volta da Patrulha do Espaço oficialmente à cena artística sob o aspecto da minha participação e de Rodrigo e Marcello, porém, há uma complexidade a ser bem analisada dentro dessa afirmativa e daí se faz mister uma explicação mais minuciosa. 

Toda a história do Sidharta está contada no seu capítulo específico, portanto, por aqui, sob um âmbito diferente, vou resumir este preâmbulo da minha história com a Patrulha do Espaço. 

Em fevereiro de 1999, o Zé Luiz decidiu não permanecer mais na banda, por sentir-se descontente com o direcionamento que o Sidharta teve ao fazer um som retrô, radical e propositalmente baseado na estética Rocker dos anos 1960 & 1970. Como se deu esse rompimento dele com tal banda é um assunto especifico naturalmente e essa história encontra-se disponível com detalhes através daquele capítulo, é lógico. 

O que interessa destacar aqui é que por isso nós pensamos em recrutar um novo baterista que encaixasse-se nessa mentalidade em 100%. Pensamos em alguns bateristas, quando surgiu a ideia de Rolando Castello Júnior, famoso e grandioso baterista da Patrulha do Espaço. 

Como a Patrulha do Espaço, como banda, vivia uma fase em que estava a cumprir shows sazonais e mediante formações improvisadas há anos e desde os anos 1980, não lançava um álbum com material inéditos (a descontar-se o fato de que o LP "Primus Inter Pares", de 1992, foi praticamente um disco a conter regravações e a apresentar uma ou duas músicas novas, apenas), eis que eu mesmo, Luiz Domingues, comecei a sondar o paradeiro do Rolando Castello Júnior, com o intuito de fazer-lhe essa proposta sobre o nosso projeto, para que ele conhecesse o nosso trabalho.

E finalmente eu o achei, pois ele estava a voltar para São Paulo, após ter morado por alguns anos em Curitiba. Feito o contato telefônico, convidei-o para uma Jam-Session a ser realizada no estúdio onde o Sidharta estava a ensaiar, no bairro da Aclimação, na zona sul de São Paulo, onde eu e o Rodrigo, morávamos. 

Essa estratégia foi uma armadilha, um ardil que criamos. Sabíamos que ele talvez recusasse uma oferta direta para entrar em uma banda em seu estágio inicial e com dois integrantes tão jovens e inexperientes como foi o caso de Rodrigo e Marcello, naquele ano de 1999.

Nesse específico momento em que o Zé Luiz Dinola deixou o Sidharta e nós convidamos o Rolando Castello Júnior para a Jam em que aplicamos-lhe o "bote" estratégico para cativar a sua simpatia ao projeto, estávamos a ensaiar no estúdio "Alquimia", local onde bandas amigas como o "Supernova" e o "Soulshine" (o "pré-Tomada"), também ensaiavam. Tal estúdio ficava situado no bairro da Aclimação, onde eu e o Rodrigo morávamos naquela época, igualmente. O Marcello morava no Paraíso, um bairro vizinho. 

Aliás, o Rolando Castello Junior narrou essa mesma passagem sob o ponto de vista dele, no texto do encarte que acompanha o CD "Dossiê Volume 4", que foi lançado em 2001.Sobre tal álbum, trata-se daquela série de coletâneas da Patrulha do Espaço, que ele lançou, a contar a história da banda, através de um ótimo texto, no livro de cada respectivo volume. Falarei sobre esse volume 4 no momento oportuno da cronologia, e com detalhes, naturalmente. 

De volta ao cerne da questão, por que não o convidamos direta e francamente a assumir o projeto Sidharta? 

Por que sabíamos que ele, Rolando, estava descrente e cansado, a se levar em conta os anos de luta e dissabores na música que enfrentara e não sei se aceitaria começar a luta da estaca zero, como nós estávamos a fazer. 

A seguir, esclarecerei na narrativa, como foi essa ideia de contatá-lo, e a estratégia que arquitetamos para impressioná-lo, visto que seria a única maneira em que poderíamos persuadi-lo.

Sabíamos que se o convidássemos, simplesmente a usarmos como argumento a criação de uma banda iniciante, sem empresário, sem esquema e sem dinheiro, ele recusaria de pronto, pois já estava cansado dos dissabores enfrentados no mundo da música, a contar com as idas e vindas inerentes, com todas as dificuldades. 

E tudo agravar-se-ia se eu dissesse-lhe tudo o que citei acima, acrescido do fato por termos dois garotos muito jovens e inexperientes no time.

A Patrulha do Espaço vinha de anos e anos sob formações efêmeras para cumprir shows sazonais. A última tentativa de uma volta para valer, houvera sido ao final de 1990 e que logo foi frustrada com a morte do baixista, Serginho Santana. 

Então para convencê-lo, nós só teríamos uma chance: impressioná-lo com o repertório excelente que o Sidharta havia preparado e sobretudo para fazê-lo ver in loco o talento dos dois garotos. Porém, seria preciso uma estratégia diferente, pois abordá-lo para que ele ouvisse as nossas músicas gravadas precariamente nos ensaios ou convidá-lo a tocar conosco, seria infrutífero. 

No final de fevereiro, eu o encontrei no Centro Cultural São Paulo, onde assistimos o show da banda, "Cheap Tequilla", e daí ele disse-me que faria na semana seguinte, um show tributo ao baterista do The Who, Keith Moon, em uma casa noturna.

Fui então com os garotos para assistirmos esse show em tal casa noturna de Rock, na zona leste de São Paulo, onde curiosamente cinco meses depois, nesse mesmo palco, músicas do Sidharta estariam a serem executadas! Mas isso eu conto na cronologia dos fatos, logicamente. 

Não falei nada com ele sobre tal assunto nesse show tributo que presenciamos, onde eu movimentei comigo pelo menos vinte agregados do meu exército de Neo-Hippies, oriundos da minha sala de aulas, incluso Rodrigo e Marcello. Isso ocorreu no dia 5 de março de 1999. 

No dia 7, liguei para o Júnior e disse-lhe que gostaria de marcar uma jam-session com a sua participação. Ele quis saber o porquê dessa iniciativa e eu esquivei-me, ao dizer-lhe que desejava apenas produzir um som para descontrair. Ele aceitou, um tanto quanto desconfiado, mas quis saber o que tocaríamos. Fui lacônico, e disse-lhe apenas que tocaríamos clássicos do Rock das décadas de 1960 & 1970. 

E assim ficou marcado para o dia 12 de março de 1999, essa jam-"bote" que preparamos para impressioná-lo.

Fui buscar o Júnior onde ele estava hospedado na ocasião, em um apartamento situado no bairro de Santa Cecília, perto da estação do Metrô de mesmo nome e claro que eu notei que ele mostrara-se ressabiado, mas eu limitei-me a responder suas perguntas investigativas, com evasivas. 

No caminho para o estúdio, falei sobre os garotos, que ele não impressionasse-se com a pouca idade deles etc. Nesse ínterim, os garotos ficaram com a incumbência de preparar o estúdio "Alquimia", ao montar o nosso "set" com guitarras e teclados.

No percurso de Santa Cecília até a Aclimação, o Júnior pôs-se a questionar-me à cata de melhores informações, durante tal deslocamento. No entanto, eu respondi-lhe com evasivas, pois a nossa estratégia fora montada para deixá-lo fazer-se cativar pela qualidade sonora da banda, espontaneamente, sem que entrássemos incisivamente no assunto, por que sabíamos que ele estava desanimado e descrente da música e do Rock.

Chegamos ao estúdio "Alquimia", quando eu o apresentei aos garotos e ele de imediato mostrou-se mais ambientado ao verificar que o Marcello usava uma camiseta cuja estampa mostrava o segundo álbum do "Grand Funk Railroad". 

Certamente foi um ponto a mais para confirmar o que eu dissera no carro, sobre ambos ser adolescentes, mas 100% antenados no som retrô. Quando estávamos prontos e afinados para começar, a inevitável pergunta dele foi: -"o que vamos tocar?" 

Então, o Rodrigo antecipou-se e disse: -"Atenção"... essa sacada o desconcertou, pois tratou-se de uma música da Patrulha do Espaço, que nem ele tocava, há anos!

Sem transparecer emoção ou estupefação, no entanto, ele tocou, mas certamente deve ter impressionado-se com a performance afiada de nossa parte e o esmero nas passagens intrincadas daquela música cheia de riffs e convenções, sendo executadas à perfeição. 

Seguiram-se: "Columbia", "Bomba", "Meus 26 anos", "Ruas da Cidade", quando ele quebrou o gelo, ao brincar, quando disse que havíamos preparado somente o repertório da Patrulha do Espaço. 

Então nós tocamos vários clássicos do Rock internacional, com aquela estratégia para fazê-lo analisar os dois meninos a empreenderem solos e bases de guitarra, cantarem e a revezarem-se aos teclados com grande desenvoltura.

Até uma canção do Jethro Tull nós tocamos, para ele poder se impressionar com o Marcello à flauta. Todavia, o auge dessa performance foi quando tocamos as músicas: "Inside Looking Out", e "Footstompim' Music" do Grande Funk, pois foi nesse momento em que ele soltou-se de vez e teve o contato com o potencial dos meninos.
Lembro-me em termos executado além das já citadas, outras tais como: "Rock'n Roll" do Led Zeppelin, "A New Day Yesterday" do Jethro Tull, "Can't Get Enough" do Bad Company, "21 Century Schizoid Man" do King Crimson, "Roundabout" do Yes, "Badge" do Cream, "Day Tripper" dos Beatles, "Baba O'Rilley" do The Who, "Let's Spend the Night Togheter" dos Rolling Stones, as da Patrulha do Espaço, além de "Hey Amigo" d' O Terço.

O Rolando Castello Júnior era experiente há tempos e disfarçava as suas emoções de forma deliberada. Não demonstrava nenhuma comoção especial, ao término de cada música e limitava-se a checar as posições das peças de sua bateria e perguntar a seguir qual seria a próxima. 

Essa jam não foi gravada, mas o Rodrigo possui algumas poucas fotos da ocasião. Ele deve ter os negativos guardados dessas fotos da jam. Mas não mostra nenhuma de nós a tocar. Deve ter umas duas ou três do final da sessão, com a namorada do Rolando na ocasião, a capturar-nos sob confraternização, quando estávamos por ir embora. Não há filmagem ou gravação de áudio e por ter sido um evento histórico, nos faz falta como um documento.

Tocamos por duas horas, ou seja, o tempo em que alugamos o estúdio, mas pela sinergia criada, poderia ter virado a madrugada. 

E depois de encerrado, eu fui levar o Rolando Castello Júnior ao apartamento onde ele estava hospedado e "estrategicamente", os meninos foram juntos, conosco. Deixamos o equipamento e os instrumentos em minha residência, e fomos levá-lo ao bairro de Santa Cecília, portanto.

A estratégia foi não falar nada diretamente e tratar a Jam como uma atividade meramente recreativa, sem nenhuma segunda intenção, exatamente para despertar nele a vontade espontânea para abordar-nos com um outro enfoque. 

Falamos muito laconicamente que estávamos juntos (eu e os dois garotos), sob um projeto centrado na formação de uma nova banda e que tínhamos já disponíveis, vinte e uma músicas compostas e arranjadas. 

Então o deixamos na porta do apartamento onde estava hospedado e ele caiu na primeira isca, pois propôs que estendêssemos a noitada em um bar, localizado ali perto.

Ficamos até as 4:00 horas da manhã a conversarmos, e claro, após todos ficarem "alegres" além da conta (menos eu, naturalmente que sou abstêmio), a conversa descontraiu-se e ele ficou a contar-nos histórias da sua vida, sobre o início da Patrulha do Espaço, Made In Brazil, as suas andanças pela Argentina e México etc. 

Mesmo assim, não forçamos nada sobre o Sidharta, nem mesmo ao convidá-lo a ouvir as gravações caseiras das nossas músicas. Ficamos somente a confraternizar e falar sobre os anos sessenta e setenta e ao final, despedimo-nos sem combinar nada. 

Um fator sintomático, no entanto, foi quando sob um horário bem avançado, ele ficou um pouco depressivo, ao repetir que não acreditava mais na música, no Rock etc. Foi exatamente por esse sintoma de desilusão da sua parte, que não abrimos mão de mudarmos a nossa estratégia e não forçar a barra em nenhum momento. 

Fomos embora e no caminho, os meninos e eu comemoramos a jam que fluiu musicalmente de uma forma soberba, mas tivemos dúvida se ele voltaria a procurar-nos, por sabermos que só funcionaria para a nossa banda se ele tomasse a iniciativa. 

A Jam ocorrera sob uma sexta-feira e passado o sábado, eis que eu recebi o telefonema dele, no domingo a noite. Nesse contato, ele desejou saber se eu poderia encontrá-lo na quarta-feira posterior, na hora do almoço, em uma loja de xerox, localizada na Rua Augusta, onde estaria presente. 

Para tal contato, ele pediu-me que eu não comentasse com os garotos e isso intrigou-me. Temi por um instante que talvez fizesse restrições sobre a pouca idade deles, inexperiência etc.

Na ligação em si, ele foi seco, só a marcar o encontro e sem mencionar mais nada. Já naquele encontro no bar, pós-jam, ele também não deixou transparecer nenhuma emoção e não havia como falar reservadamente sobre os meninos, pois estes estavam presentes na mesa.
Mas eu sabia que fora tudo uma estratégia da parte dele, pois é claro que havia impressionado-se com a banda. Tanto foi assim, que o jogo foi aberto na hora em que encontramo-nos na quarta-feira, subsequente. Não falei nada aos meninos, para não criar expectativas.

Fui encontrar-me com o Rolando Castello Júnior e quando ali adentrei, ele já estava loja da xerox na Rua Augusta, a copiar material de portfólio pessoal, com o objetivo de buscar patrocínios para um show que faria, a visar comemorar os seus então trinta anos de carreira, que completaram-se em 1999. 

Com a estratégia de sua parte de não demonstrar emoções, ele pôs-se a falar que estava a precisar formar uma banda para servir de apoio em tal show comemorativo e perguntou-me se eu considerava que os garotos estariam prontos para tal tarefa. 

Eu disse que sim, apesar da inexperiência de ambos, tudo seria superado pelo talento dos dois. Então ele começou a perguntar sobre o Sidharta, como conheci os dois rapazes, quantas músicas tínhamos compostas etc. Respondi-lhe tudo o que questionou-me, mas sem esboçar até então de uma forma clara a nossa intenção de pleitear a sua participação em nosso projeto.

Então, espontaneamente, ele perguntou-me se possuíamos as gravações dessas músicas, ainda que precárias, feitas em ensaios. Eu disse-lhe que sim. Então ele pediu para ouvi-las. 

Dessa forma, marcamos para o sábado seguinte, uma audição dessas fitas K7, onde ele as analisaria. Fomos eu e o Rodrigo, dessa vez à sua habitação. 

Nesse dia, ele começou a ouvir e mediante caderno e caneta, ouvia e fazia anotações enigmáticas e cujo teor que não nos deixou ver. Limitara-se a perguntar-nos o nome de cada canção. Muitas vezes parava a gravação para anotar algo, voltava a fita, e ouvia um trecho em específico, ao passar para a música seguinte. 

Ao final, agradeceu a nossa atenção e disse-nos que faria contato na segunda-feira. Antes disso, ele chamou-me novamente reservadamente para uma outra conversa, ocasião em que fez mais perguntas sobre os dois garotos.

Estava impressionado, mas forçava para não transparecer. Fazia parte de sua estratégia manter esse mistério todo. Então, finalmente ele ligou-me e fez uma proposta: se nós aceitaríamos ser a banda de sua festa e depois do evento, que tornássemo-nos a nova Patrulha do Espaço, ao incorporarmos esse material do Sidharta, ao repertório clássico dessa banda tão grandiosa. 

Ele usou o argumento de que começar um trabalho da estaca zero, seria muito difícil e que com a marca, "Patrulha do Espaço", seria muito mais fácil para arregimentarmos shows, mídia e chance de gravar um CD, mais rapidamente. Ele teve razão, é claro.

Assim que eu cheguei em casa, liguei para os meninos e pedi para que viessem visitar-me, imediatamente. Comuniquei-lhes a proposta do Rolando Castello Júnior e eles animaram-se. 

O fato do Rolando primeiro insistir com essa ideia da tal festa, foi mais uma questão de prevenção. Apesar de tê-los visto em ação, mediante o seu potencial imenso, no entanto manteve dúvidas, exatamente como eu tive no início dos trabalhos com o Sidharta. Eu já estava acostumado com os dois meninos e no meu caso, na contrapartida eu havia adquirido a confiança absoluta em ambos. Mas ele só os avistara na jam-session daí, a colocar os dois em cima de um palco para um show oficial, seria algo muito mais preocupante em sua ótica, eu posso entender.

Desta forma, marcamos uma nova reunião para fecharmos o compromisso e já a discutirmos a questão do repertório a ser escolhido. 

Enquanto isso, o Júnior fazia esforços para concretizar essa festa que chamar-se-ia: "Rolando Castello Júnior - 30 anos de bateria". 

Eu mesmo fui com ele em vários locais possíveis para a realização da festa e muitos contatos com potenciais patrocinadores, mas as negativas mostraram-se em quase 100%. Conseguimos fechar apenas um patrocínio para realizarmos ensaios, gratuitamente, no mesmo estúdio em que estávamos a ensaiar nos últimos momentos do Sidharta, e onde fizemos a Jam com ele, Júnior, dias antes.

Com a definição do repertório básico, marcamos o primeiro ensaio para o dia 2 de abril de 1999, no estúdio Alquimia, no bairro da Aclimação, zona sul de São Paulo. 

Havíamos combinado ensaiarmos diversas músicas da Patrulha do Espaço, mais algumas possíveis músicas de apoio para convidados que ele traria à festa e algumas novas do repertório do Sidharta, agora oficialmente incorporadas ao repertório da Patrulha do Espaço. 

Entretanto, logo nos primeiros ensaios, essas novas ficariam de lado, sob um primeiro instante. 

Sobre o primeiro ensaio oficial, foi um dia histórico, pois o projeto Sidharta que nascera timidamente ao final de 1997, mais por uma vontade imensa de minha parte para romper com todas as concessões feitas através de anos a fio marcados por lutas e assim retomar o sonho primordial de 1976, fora cercado por dúvidas, em seu nascedouro. 

O primeiro tijolo fora construído por eu mesmo e um garoto mal saído da adolescência, chamado: Rodrigo Hid. Portanto, mostrava-se algo muito insípido, em tese. Tornar-se tal esforço a força motriz para fazer com que a Patrulha do Espaço saísse do hangar para voar destemidamente de novo, ao agregar essa história adquirida por tal banda histórica, foi um grande passo.
     A ensaiar no Estúdio Alquimia, 1999. Acervo de Rodrigo Hid

Creio que o Júnior não teve receio quanto à musicalidade dos meninos. A grande questão foi o temor em torno da pouca experiência de ambos. Preocupação natural para ele que era muito experiente e mal conhecera os dois, mas eu detinha uma outra visão, pois com quase um ano e meio sob convívio com ambos no Sidharta, apesar dessa banda não ter feito shows ao vivo, eu sabia que os dois não desapontar-nos-iam diante de uma responsabilidade maior.
Primeiros ensaios da Patrulha do Espaço, em abril de 1999. Rodrigo Hid & Marcello Schevano em ação. Acervo de Rodrigo Hid

Além do mais, eles eram garotos, mas já haviam tocado ao vivo em bares, festas, festivais colegiais etc. Por outro lado, eu fiquei eufórico por ter dado esse destino ao projeto Sidharta, pois tornar essa semente primordial, uma flor colhida com uma história relevante na História do Rock Brasileiro, foi um grande passo.
Luiz Domingues a ensaiar com a Patrulha do Espaço, em abril de 1999. Acervo de Rodrigo Hid

O que fora um sonho incerto em 1997 (e de certa forma representava a retomada do fio da meada de 1976, no meu caso), estava a revelar-se um triunfo, ao precipitar a volta de uma banda com história e além do mais, pertencente à árvore genealógica dos Mutantes. 
 
Portanto, se analisarmos sob o ponto de vista do garoto, Luiz Domingues, que sonhava ser Rocker em 1976, entretanto sem saber tocar uma única nota musical sequer, foi significativo demais.
Patrulha do Espaço em seus primeiros ensaios. Abril de 1999. Acervo de Rodrigo Hid

Na verdade, se algum vidente houvesse previsto isso em 1976, eu não acreditaria. Teria sido inimaginável ter a certeza de um dia estar em uma banda desse porte, descendente direta da árvore genealógica dos Mutantes.
Rodrigo Hid a ensaiar com a Patrulha do Espaço em abril de 1999. Acervo do Rodrigo Hid

Evidentemente que os anos passaram, tornei-me um homem de meia-idade e mediante a experiência acumulada por anos e anos, e somada a toda a gama de vivências pelas quais passei, positivas e negativas, claro que a minha visão tornara-se diferente em 1999. Portanto, houve sim essa reflexão com regozijo, mas também a cautela de saber que essa visão edulcorada não caberia mais no frescor daquele momento.

Marcello Schevano a ensaiar com a Patrulha do Espaço, em abril de 1999. Acervo de Rodrigo Hid 

Nós havíamos abandonado o Sidharta, no entanto, apenas simbolicamente, pois todo o repertório e principalmente o conceito do projeto se mantivera intactos, apenas a incorporar-se a uma outra realidade. 

Nesse sentido, o fato do Sidharta ter precipitado a volta da Patrulha do Espaço poderia ser interpretado como uma fusão que deu a possibilidade do Sidharta subir um degrau (no caso, mais de um), sem ter feito nenhum show em sua história.

Marcello Schevano & Rodrigo Hid a praticarem o revezamento total nos instrumentos, uma marca registrada de nossa formação, doravante na Patrulha do Espaço. Acervo de Rodrigo Hid 

E pelo lado da Patrulha do Espaço, a se tratar de uma banda há anos a viver sob o ostracismo forçoso pelas circunstâncias e apenas a se movimentar através de aparições sazonais, sem criar nada novo desde a metade dos anos oitenta (tirante alguns singles, é bem verdade), a possibilidade de injetar sangue novo, com vinte e uma músicas inéditas na bagagem, contar com dois multi-instrumentistas jovens e ambos sensacionais, além de toda uma evocação sessenta-setentista que não mantinha desde a época de sua fundação em 1977 (com Arnaldo Batista), na tripulação da nave. Foi portanto, uma fusão muito boa para ambos.

Momento de descontração no ensaio com Rodrigo Hid; Marcello Schevano e Rolando Castello Junior. Acervo de Rodrigo Hid 

Quanto aos meninos, eles estiveram eufóricos. Claro, eles já eram ultra talentosos por natureza, mas completamente desconhecidos na cena musical. 

A sua experiência resumia-se a participações em apresentações amadorísticas com bandas de garagem em festinhas, festivais colegiais e bares onde a audiência era predominantemente formada pelos seus amigos, apenas. 

Neste caso, em poucos meses a atuarem como membros de uma banda de porte como a Patrulha do Espaço, os seus rostos já começaram a aparecer em jornais e revistas, além dos shows etc. Mas aí se trata de um assunto a ser comentado nos próximos capítulos.

Eu previra dificuldades, sim, mas estava muito confiante no fato dessa formação vir a ser a redenção da Patrulha do Espaço, que não mantinha regularidade artística desde a saída do Dudu Chermont, em 1985. 

Eu confiava muito no potencial dos garotos e mantive a certeza de que eles seriam um estouro. E também no enfoque que evocava a vibração 1960 & 1970, para resgatar a Patrulha do Espaço de volta às suas próprias raízes, pois desde 1985, eis que estava sob uma aura sombria, quase centrada no Heavy-Metal por conta de adequações que precisou fazer em sua rota.

Eu não via a hora de lançarmos um novo disco e exorcizar esse estigma pesado da banda. Queria dar um fim às camisetas pretas e o baixo astral generalizado inerente, e trazer incensos, batas coloridas, e o som do Sidharta a propor esse alto astral, sob uma vibração aquariana e Woodstockeana, veio a calhar na contrapartida que poderíamos ofertar à Patrulha do Espaço. O Júnior também sonhara com esse direcionamento, mas não reunira meios para promover isso até então, graças aos rumos que a banda tomou, após 1985.
Ao ter que manter a banda como alicerce de sua própria sobrevivência, foi a levá-la na base do som pesado, a improvisar formações e sem pensar mais detidamente em criar nada novo. Portanto, ele adorou esse pacote que surgira-lhe inesperadamente.
Rolando Castello Junior a iniciar a fase Chronophágica da banda que mantinha viva desde 1977. Acervo de Rodrigo Hid
Apesar de toda essa confiança na banda e no projeto, não tínhamos infraestrutura alguma. Sem empresário, sem dinheiro, sem produtor para buscar as oportunidades. Como nos meses de abril e maio, o Rolando Castello Júnior ainda focara os seus esforços em prol da sua festa de comemoração de seus trinta anos de bateria, os esforços em prol da Patrulha do Espaço permaneceram em segundo plano, inicialmente.

Seguíamos a ensaiar e nesse sentido foi bom, pois preparamos um repertório enorme da Patrulha do Espaço, com músicas de todos os seus discos prontas para serem executadas. 

E paralelamente ensaiávamos as novas peças que eram do repertório do Sidharta e passaram a ser o novo material da Patrulha do Espaço. Nesse quesito, o Rolando Castello Júnior foi o artista certo para essas músicas concebidas para soar tão 1960 & 1970, quanto sonhávamos. De fato, logo nos primeiros ensaios, ele imprimiu toda a sua técnica, experiência e apreço pelas estéticas sonoras que amávamos.

Uma música como "Ser", por exemplo, passou a soar exatamente como desejávamos, ou seja, com a sonoridade do Grand Funk. 

Os ensaios então começaram a acontecer no estúdio Alquimia, na Aclimação, zona sul de São Paulo. Estávamos a tocar diversas músicas da Patrulha do Espaço, inclusive canções provenientes dos dois primeiros discos, fator que a Patrulha do Espaço não exercia desde que Arnaldo Baptista saíra da banda, pois nunca mais a banda teve formação com os teclados inseridos de uma forma fixa. 

Se houve a presença de teclados nos anos posteriores, foi como mero apoio ocasional, graças a um convidado ou outro e de forma esporádica, não como parte da formação oficial.

Assim que começamos a ensaiar, ainda que o foco fosse para a tal festa, já havíamos incorporado músicas como: "Sexy Sua", "Sunshine" e "Raio de Sol", do primeiro disco, com o Marcello a pilotar o piano com desenvoltura. 

É claro que o Rolando Castello Júnior gostava desse resgate para a banda. Na estratégia dele em não demonstrar emoções, assim deixava escapar involuntariamente a sua felicidade por verificar que não seria uma simples volta, mas sim uma volta em grande estilo, para resgatar as sementes primordiais da banda, plantadas pela formação primordial com o Arnaldo Baptista inserido nesse contexto.

Rodrigo Hid a evocar o Museu de Cera da Madame Tussauds...   Acervo de Rodrigo Hid 

E as músicas novas estavam a encaixarem-se perfeitamente, também.
Portanto não tratara-se de uma volta nostálgica e caça-níqueis, mas sim, uma volta para valer, com material inédito e muito contundente, além dos dois jovens talentos para tirar o fôlego de qualquer Rocker. 

Nessa altura dos primeiros ensaios, o Rolando Castello Júnior trouxe a sua nova namorada, chamada: Claudia Fernanda, para trabalhar como produtora da banda. Ela não tinha muito conhecimento com a música, mas continha experiência como produtora de eventos no ramo das artes plásticas, como exposições e vernissages. Portanto, tinha bastante proximidade com a arte.

Rolando Castello Junior a comandar a sua usina de criatividade rítmica, nos nossos primeiros ensaios em 1999. Acervo de Rodrigo Hid

Os primeiros ensaios foram animados, cheios de gente a assistir-nos. O meu exército de Neo-Hippies apoiou em massa a fusão do Sidharta com a Patrulha do Espaço e se tornou público certo nos primeiros shows. 

Lembro-me até de reações engraçadas nesses primeiros ensaios, como palmas e gritinhos em passagens mais elaboradas que executávamos. Um ex-aluno meu, chegou a provocar risadas quando de um breque brusco de uma música, foi flagrado a gritar euforicamente e observe o leitor que tratou-se de que fora um aluno da minha primeira safra de 1987, ou seja, nessa altura, em 1999, já havia passado dos trinta anos de idade e chamou a atenção por sua manifestação infantojuvenil.

Acompanhei o casal Júnior e Claudia em algumas tentativas feitas a visar fechar um lugar para a tal festa comemorativa dos trinta anos de carreira dele, Junior, mas as negativas foram constantes. Em termos de patrocínios, o mesmo fenômeno ocorreu, infelizmente. 

Isso tratou por minar as esperanças do casal em torno desse projeto, até que o Júnior finalmente o descartou. 

Então, sob uma reunião com a banda, ele comunicou-nos que havia desistido da festa e que focaria na retomada da carreira da Patrulha do Espaço, doravante. 

O objetivo passou a ser arrumar um lugar para fazermos a estreia da nossa formação. Então, ensaiávamos firmes e tentávamos acertar logo essa data, concomitantemente.

Nesse ínterim, o Rodrigo conseguiu sob caráter gratuito o estúdio e o laboratório fotográfico de sua faculdade. Um colega dele prontificou-se a produzir fotos promocionais por cortesia e assim, só pagaríamos pelos filmes e o material da revelação.

Essa foto acima foi dos bastidores da primeira sessão de fotos que estou a narrar. Mas realmente, as fotos clicadas não ficaram melhores do que essa, bastante prejudicada na revelação...

Isso ocorreu mais ou menos em junho de 1999. Fizemos uma quantidade absurda de fotos, para aproveitar bem o caráter gratuito da empreitada, mas nenhuma foto foi aproveitada, pois realmente não ficaram boas. O rapaz teve boa vontade, mas não clicou nada que agradasse-nos. 

Acima, dois clicks dessa sessão que cito, como primeira tentativa de promocionais da nova formação da banda, em junho de 1999

As fotos ficaram caricatas, ao retratar-nos com o figurino supostamente sessentista em seu estilo, mas não conseguiu tirar o ranço do que mais pareceu uma festa a fantasia (e bem equivocada), sobre os anos sessenta.

Imprimir uma imagem autêntica seria importante para o projeto e não usarmos uma caricatura patética para depor contra o nosso mote. 

Em junho, o Júnior começou a fazer negociações com um salão tradicional de Rock na zona leste de São Paulo e após diversas reuniões, resolveu-se então por uma data.

Tivemos enfim, uma data de estreia aventada para o dia 14 de agosto de 1999, um sábado. Mas essa negociação contém histórias engraçadas. Chegou-se em um ponto onde tornou-se quase um acontecimento folclórico negociar com os donos do salão. 

O fato, foi que os donos do estabelecimento não depositaram confiança no potencial da Patrulha do Espaço, como uma banda capacitada para arregimentar um público interessante e pasmem, ao não se considerar a sua tradição e nome construído nas páginas da história do Rock brasileiro. 

Costumava ser rara a incidência de shows ao vivo ali naquela casa e para a sua alta cúpula, tornara-se muito mais cômodo que se produzissem as suas tradicionais noitadas sob a ação do som mecânico. Mas enfim, tais mandatários foram convencidos de que poderia dar certo a produção do nosso show e assim, finalmente fecharam a data para a nossa banda.

Continua...

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