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segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Patrulha do Espaço - Capítulo 14 - Nave em Pane - Por Luiz Domingues

Encerradas as sessões de mixagem e concluída a arte-final da capa, por volta do final de fevereiro e começo de março de 2004, não tivemos outras atividades marcadas, e aí, nos acometeu um desânimo geral e de minha parte, aquele grau de insatisfação generalizada que eu já vinha a apresentar, se acentuou ainda mais. 
 
Eu lastimo muito que tenhamos chegado nesse ponto, mas antes até da gravação do CD "Missão na Área 13", o clima estava em acentuada deterioração, no âmbito interno da banda e neste momento de 2004, com o disco novo em mãos, mas sem nenhum sinal de que ele em si, promoveria alguma mudança no campo gerencial, apesar de ser uma peça artística com inquestionável alto padrão, digo com pesar que o combustível da nossa nave espacial estava a se esgotar. 
 
Então, o que tivemos como algo mais concreto, de imediato, foram as manifestações da crítica, já a repercutir o novo CD.

Um bom exemplo, se deu com a ótima entrevista concedida à revista "Poeira Zine", que estava nessa ocasião, a começar a se firmar no mercado editorial e claro, detinha como leitor alvo, quem apreciava Rock retrô, vintage, classic Rock ou chame como quiser. 

Foi ótima, portanto, a entrevista concedida ao jornalista, Bento Araújo, que a valorizou certamente pelo quilate das perguntas formuladas. Que bom seria se todo entrevistador fosse um jornalista especializado e muito culto no assunto, a formular perguntas muito mais que pertinentes, mas com a devida profundidade e a demonstrar grande conhecimento de causa.

Mais uma boa entrevista foi publicada na mesma época, desta feita através da revista: "Batera e Percussão", conduzida pelo seu editor em pessoa, o jornalista Régis Tadeu, que nessa época ainda não era um personagem midiático, como tornar-se-ia, anos depois. 

Ao entrevistar o Rolando Castello Junior, falou-se nessa conversa bastante sobre o novo trabalho e assim como Bento Araújo, Régis Tadeu era (é) um grande conhecedor da matéria, e assim, ele deu verniz à entrevista. 

Atrasada na sua cronologia, mas válida, a resenha do disco anterior, ".Compacto", saiu publicada no Fanzine Mega Rock.

Eis o que o seu editor, Fernando Cardoso, escreveu:

"Neste novo álbum o Patrulha apresentou muita criatividade na concepção gráfica, pois a capa tem o mesmo tamanho de da capa de um compacto de vinil. E dentro tem um envelope do mesmo estilo que vinha nos LP's , isso além de ter dado um aspecto de originalidade para esse álbum, também fez com que ele ficasse com um certo requinte luxuoso. 

O nome também foi um primor de originalidade, pelos múltiplos significados que ele possui, pois ele se chama ".ComPacto" em homenagem aos compactos de vinil e também ao passado, o ".Com" faz uma referência à modernidade com a internet, o "P" maiúsculo no meio do nome forma a palavra "pacto", pois eles estão "compactuados" com o Rock, ou seja, utilizaram muita imaginação com uma única palavra.

Musicalmente a banda é esplêndida, com arranjos virtuosos e composições criativas, eles desenvolveram um álbum notável, fazendo Hard Rock estilo anos 70, cheio de energia. 

O baterista Rolando Castello Junior mantém a forma, tocando com muito virtuosismo e precisão, ele tem um estilo muito original. O Patrulha surgiu em 1977, e é muito bom ver uma banda se manter por tanto tempo, mesmo com as dificuldades que surgem pelo caminho. Para encerrar, também merece um elogio a bela ilustração da capa. Completam a formação: Luiz Domingues (BX/VZ), Rodrigo Hid (GT/VZ) e Marcello Schevano (GT/VZ).

Fernando Cardoso 

Mais matérias e resenhas sairiam, a partir de junho & julho. Nesse ínterim, uma canção da Patrulha do Espaço fora incluída em uma coletânea produzida pela gravadora, Baratos Afins, chamada: "Sim São Paulo". A ideia do produtor, Luiz Carlos Calanca, foi fazer menção à coletânea novaiorquina, "No New York", e assim, ao trocar o "Não", pelo "Sim", a deixou com uma conotação mais positiva. 

Mais que isso, a obra foi uma homenagem à cidade de São Paulo, que completara 450 anos de existência em 2004 e cada faixa desse álbum fez menção à cidade, através de diversos artistas ligados mais à MPB, por exemplo. A nossa banda participou com a faixa, "São Paulo City", tudo a ver com o espírito dessa coletânea, naturalmente, e o track utilizado, foi extraído do seu original, proveniente do CD ".ComPacto". 

Ao final de abril, uma luz surgiu ao final do túnel. Dois shows em Santa Catarina, foram marcados, sendo que um deles, sob a ambientação de um festival com grande proporção, a ser realizado ao ar livre.

O Rolando Castello Junior nos comunicou que teríamos shows, enfim. Foi um período difícil por termos tido um hiato tão grande em termos de apresentações ao vivo, pois a nossa última aparição pública em um palco, remontara a dezembro de 2003. 

Concomitante com o astral que não fora nada bom, desde o final de 2003, tal lacuna só contribuiu para desgastar ainda mais o clima em torno da corrosão interna na qual vivíamos.

Convocados então dois ensaios, pois estávamos enferrujados desde a gravação do álbum, "Missão na Área 13", em dezembro de 2003, fomos no final de abril de 2004, a nos reunirmos em um estúdio localizado no bairro da Chácara Klabin, um subdistrito na Vila Mariana, na zona sul de São Paulo. 

Tratava-se de uma casa imensa, com uma grande piscina e deck em sua parte externa, e segundo apurei, era conhecida informalmente por muitos músicos que a usavam, como "estúdio da piscina" e de fato, eu constatei que o proprietário deixava a sua clientela a vontade para esperar a hora de ocupar o estúdio, acomodada em quiosques montados pelo deck da tal piscina. 

Lá, o rapaz que cuidava da sala que usaríamos, me abordou e inocentemente, se pôs a falar sobre a nova banda do Marcello Schevano, chamada: "Carro Bomba", que estava a ensaiar há meses ali, e se admirou ao constatar que eu desconhecia completamente a informação de que o Marcello montara uma banda paralela e autoral.

Hoje em dia, eu tenho uma outra visão sobre essa questão de fidelidade a uma banda, mas naquela época, ainda mantinha o conceito romântico de outrora sobre o assunto e mesmo sabedor que o clima interno observado em nossa banda estava ruim, confesso que fiquei chateado por tomar conhecimento assim, dessa forma, com o fato consumado, e segundo me contou o rapaz do estúdio, tal banda já estava pronta para gravar o seu disco de estreia ou já estava a fazê-lo, não sei ao certo. 

Se o meu ânimo estava baixo nesses primeiros meses de 2004, depois dessa informação desalentadora, o desânimo me arrebatou de vez, pois se por um lado, tudo bem que o Marcello ou o Rodrigo saíssem da banda e formassem novas bandas, novos trabalhos em suas carreiras, por outro, eu me senti desalentado. Eles eram muito jovens e tiveram todo o direito de pleitearem buscar o seu caminho fora da Patrulha do Espaço, mas no aspecto subliminar, o que eu sentira de uma forma sutil, pareceu se concretizar com essa notícia "bomba" e perdão pelo trocadilho...

Ou seja, foi a finalização do sonho construído desde 1997, quando formamos o Sidharta. Enfim, que os ideais já haviam se diluído, desde meados de 2001, eu sentia tal predisposição claramente, mas neste ponto havia chegado ao plano concreto e isso me desanimou. 

Poucos anos depois, eu também estaria em uma outra banda com o Rodrigo, e nesse ponto do futuro, nós dois interagimos bastante com o Marcello e o seu pesado, "Carro Bomba", ao fazer nos shows compartilhados com as duas bandas e tudo bem, estaria tudo superado totalmente de minha parte, mas ali, ao ouvir o rapaz a falar de uma realidade que eu desconhecia completamente, foi bastante estranho absorver tal informação. 

Bem, ensaiamos por dois dias, e nos colocamos prontos para entrarmos em nosso ônibus e viajarmos para Santa Catarina.

Viajamos para o sul, com o objetivo de visitarmos de novo o estado de Santa Catarina, desta feita para apenas cumprirmos apenas dois shows em duas cidades. 

A primeira que visitaríamos foi nossa velha conhecida, Concórdia-SC, para mais uma apresentação no Tulipa Bar. A viagem foi tranquila e sem incidentes com o ônibus, como infelizmente houvera sido a última viagem ao sul, quando a barra de direção do veículo quebrara dramaticamente sobre a travessia de uma ponte relativamente longa sobre um rio, quando passávamos pela cidade de Registro-SP, ainda no Estado de São Paulo.

Se por um lado o ônibus e o seu desgaste costumeiro nos poupou de prejuízos e perigos advindos da estrada, ao nos conduzir sob uma jornada tranquila, o clima na banda não foi mais o mesmo. 

Mesmo com a certeza de que faríamos dois shows onde apresentar-nos-íamos para uma plateia super Rocker, e que amaria os shows, já não estávamos mais no clima de euforia de outrora, infelizmente. 

Essa seria de fato, a última viagem com o ônibus da banda, e pilotado pelo "seu" Walter, pois a seguir teríamos apenas shows em São Paulo e o derradeiro dessa formação, realizar-se-ia no interior de São Paulo, mas não o faríamos a usar o ônibus e no momento oportuno eu comentarei sobre isso. 

Nessa última viagem com o "azulão", além do "Seu" Walter na pilotagem, contamos também com a presença mais uma vez de Luiz "Barata" Cichetto a exercer função como "road manager" da banda, além dos roadies, Daniel "Kid", Samuel Wagner e James Castello. 

Chegamos em Concórdia-SC com tranquilidade e no início de maio, o frio se mostra ameno em nossa chegada, mas já a esfriar, para o nosso deleite, diga-se de passagem.

Hospedamo-nos no mesmo hotel onde estávamos habituados a usarmos e o velho som do riacho aos fundos, mais uma vez embalou o nosso repouso reconfortante. 

Todo o trâmite de montagem de equipamento e soundcheck foi tranquilo e as donas do estabelecimento mais uma vez nos receberam muito bem. No entanto, o show foi morno, pois não atraímos um grande público e o motivo determinante para tal, foi que o show que faríamos no dia seguinte, seria em Chapecó-SC, de onde vinha sempre aquela turma animada com Rockers para nos assistir. 

Portanto, com a nossa visita programada para a cidade deles, e pelo fato de que seria dentro de um festival com grande porte, ao ar livre, eles se abstiveram de organizar excursão para Concórdia, como costumavam fazer e assim, o show nessa cidade, se esvaziou, mesmo por que, Rockers de várias outras cidades vizinhas, também estavam mobilizados para nos assistir em Chapecó-SC, com uma estrutura de muito maior porte.

Rara foto do show no Tulipa Bar, de Concórdia-SC, em 7 de maio de 2004. Acervo e cortesia de Liza Bueno

Além de tudo isso, uma das proprietárias do próprio, Tulipa Bar, nos disse que a sexta-feira era tradicionalmente mais fraca no seu estabelecimento e dessa forma, não esperavam nem um grande contingente formado pelos jovens burgueses locais e que estes portar-se-iam alheios ao nosso show, se viessem. 

Dito e feito, tivemos um baixo contingente nessa noite em questão, e que mais serviu para um último ensaio, visto que o show em Chapecó-SC, prometia ser muito mais animado. 7 de maio de 2004, no Tulipa Bar, com cerca de setenta pessoas na casa e assim foi a última passagem da Patrulha do Espaço com essa formação, por Concórdia-SC. 

Alguns Rockers locais e que já conhecíamos desde a nossa primeira passagem por essa cidade, nos disseram que iriam a Chapecó-SC para nos assistir a tocarmos nesse grande festival, e assim, os convidamos para viajar conosco, no dia seguinte. 

Marcamos de sairmos após o almoço e a distância entre as duas cidades era (é) bem pequena (cerca de oitenta e dois Km), portanto haveria de ser uma viagem tranquila e rápida.

Viajamos para Chapecó-SC, no período da tarde, com muita tranquilidade. Conforme eu já disse anteriormente, fãs da banda, Rockers de Concórdia-SC, viajaram conosco em nosso ônibus, e tudo foi bastante amistoso, sob o frio vespertino moderado desse início de maio. 

Pelo caminho, ficamos bastante admirados por verificarmos que na encosta da estrada haviam muitas propriedades rurais, cuja atividade principal era a suinocultura e quase todas, para não dizer todas, ostentavam placas explicativas a dar conta que a sua produção se destinava a fornecerem a sua carga para indústrias frigoríficas renomadas, nacionalmente, e situadas na região de Chapecó-SC. 

Realmente era (é) a base da pujança daquela cidade do oeste catarinense, e de toda a região. Chegamos na cidade, e fomos direto ao pavilhão onde realizar-se-ia o "Festival Sonora" 2004, no qual seríamos uma das atrações. 

Seríamos o sub "Headliner" da noite, com a presença de uma banda "estourada" no mainstream e que era muitíssimo antagônica aos nossos ideais, princípios & estética. Tratou-se neste caso dos skatistas do grupo: Charlie Brown Jr, e o seu conceito deturpado do que era (é) o Rock.

Enfim, essa foi a dura realidade sob a qual fomos obrigados a conviver graças a uma difusão cultural equivocada, caso do Brasil, e para nós, Rockers outsiders dentro do que se habituou a se chamar como "Rock", desde os anos oitenta, portanto, foi bem desconfortável conviver com tais distorções históricas e inversão total de valores. 

Não tenho e nunca tive nada contra os componentes da banda citada e não haveria motivo algum para falar mal dos rapazes na época, e muito menos agora, tantos anos depois, e com dois de seus integrantes já a habitar uma outra dimensão nos dias atuais (2015), ainda mais. Contudo, o choque estético fora absoluto e institucional, naturalmente. 

Chegamos ao local do show, e verificamos que haviam dois palcos disponibilizados e ao conversarmos com os membros da produção local, soubemos que a montagem do segundo palco fora uma exigência da produção da banda dos skatistas, pois estes artistas haviam se recusado a usar o mesmo palco das demais atrações e sobretudo, o mesmo PA. 

Isento tal suposta soberba da parte dos rapazes em si, e creio ter sido uma resolução de seu gerenciamento, para valorizar o seu produto ao máximo e no afã de lhe conferir uma aura de exclusividade, ao fazer uso do seu equipamento próprio etc. e tal.

Acostumados a lidar com tal tipo de estrelismo, relevamos e nos concentramos sob a nossa alçada, ao realizarmos o soundcheck e neste caso, o equipamento do palco menor, que se mostrara com extrema qualidade, mediante uma pressão para suportar um mega festival em estádio de futebol, portanto, não tivemos queixas, nesse aspecto. 

Já com o nosso backline montado no palco e a ouvirmos o técnico a estabelecer os primeiros testes preliminares da timbragem da bateria, lembro-me de estarmos dentro do ônibus nesse instante e o som do bumbo fez a nosso carro trepidar. Foi uma pressão sonora impressionante e por alguns segundos, achamos que tal emissão sonora quebraria todas as vidraças do nosso carro...

Feito o soundcheck, fomos levados para o hotel e após o jantar, tivemos uma atividade agendada e ligada ao festival, antes do nosso show. Foi uma entrevista ao vivo, promovida pelos organizadores que desejavam que eu e Rolando, participássemos. 

Fiquei impressionado com a reverência com a qual fomos tratados, ao entrarmos em um galpão sob grande proporção e também por verificar que havia ali uma quantidade grande de pessoas presentes no auditório, visto que seria uma entrevista aberta ao público. 

Notei a presença de um mediador a fazer as vezes de um assessor de imprensa e muitos jornalistas da imprensa da cidade e de localidades vizinhas. Quando entramos no galpão, muitos gritos irromperam da parte do público, o que nos surpreendeu muito, pois esperávamos uma entrevista comedida para três ou quatro jornalistas e sem a presença de público. 

Por tal cenário, tivemos que nos comunicarmos no uso de microfones, ao usarmos um pequeno PA ali disponibilizado para se prover coletiva. Bem, as perguntas não surpreenderam e ficaram dentro do trivial sobre a carreira da banda e o panorama do show business naquele instante. 

Só achei demasiado, quando insistiram para que falássemos "mal" da banda dos skatistas que fecharia o festival naquela noite, e de fato, houve uma revolta na cidade, conforme verificamos assim que olhamos o jornal impresso local, no hotel, ao dar conta de que houvera uma denúncia em torno de um suposto super faturamento dos custos do Festival, perpetrados por um político municipal, provavelmente alguém ligado à secretaria de cultura da prefeitura, e pareceu que um vereador também estaria envolvido na falcatrua. 

Segundo a reportagem do jornal e pelas conversas das pessoas na entrevista, a banda dos skatistas faria (supostamente) parte dessa tramoia, por conta de uma tratativa a respeito do cachê que acordaram com a produção do festival ao ter sido declarado sob um valor e na realidade, secretamente revelara-se como um outro montante e sob um patamar milionário. 

Queriam então que nós entrássemos nesse mérito ao emitirmos opinião, mas como isso seria possível? Sem provas concretas, sem evidências... e além do mais, mesmo que fosse verdade, duvido que os componentes da banda tivessem ciência do imbróglio, portanto, qualquer declaração nossa, nesse sentido, seria no mínimo, leviana.

Mesmo quando a conversa partiu para uma seara mais leve, ao dar conta da possível soberba da parte de tal banda em se recusar a tocar com bandas "menores", nós incluso, tampouco acho que tal ideia partiria dos rapazes em si. 

Isso fora uma clara manobra do seu empresário e dentro da praxe do mercado, mesmo ao ter sido uma ação antipática perante os outros artistas, eu acho que teve uma certa guarida ética, no sentido de que não é nada fácil atingir o mainstream e quando se atinge tal patamar, o empresário da banda tem a obrigação de pleitear sempre as melhores condições para o seu artista trabalhar e ao ir além, a aproveitar todas as circunstâncias para capitalizar vantagens para o seu contratado, a realçar o seu produto. 

Claro que não falamos mal dos rapazes por conta disso, mas pessoas da plateia ficaram bem alteradas e se manifestaram contra os skatistas, contudo, nada poderíamos fazer para conter tais ânimos acirrados. 

Chegara a hora para irmos ao show, a última banda local ainda tocava, quando fomos conduzidos ao camarim improvisado, próximo ao palco.

Haveriam várias bandas locais a partir da tarde, porém, eu só conhecia uma, que aliás é muito boa, chamada: "Epopeia" e que era composta por músicos que faziam parte daquela turma sensacional de Freaks de Chapecó-SC, que viajaram a fretar ônibus para nos prestigiar várias vezes, na cidade vizinha de Concórdia-SC, em ocasiões passadas. 

Uma banda do Rio Grande do Sul, que colocava-se como "emergente da vez", por ostentar um esquema de divulgação fartamente bancado por um produtor mecenas e que possuía o seu nome em destaque nos cartazes e nos outdoors de rua, chamada, "Reação em Cadeia", estava em evidência também na divulgação do evento. 

Essa banda estava com uma música a tocar na Ipanema FM de Porto Alegre e detinha um clip a passar na grade da MTV etc. e tal, mas infelizmente pareceu, ao julgar pelo som em si, mais um embuste perpetrado pela ação predatória de marqueteiros. 

Não deu em nada (infelizmente para os seus componentes, e claro que lastimo pelo aspecto humano envolvido), e a tal "reação em cadeia" só se fosse uma rebelião de detentos, mesmo...

Com um som chinfrim situado entre o Indie e o Punk paupérrimo de sempre, claro que não levamos a sério e para ser bem realista, eu era (sou) mil vezes mais o "Epopeia" e uma ou outra banda local que tocou sem apoio e glamour algum. 

O "Ira" havia tocado na noite de sexta, como headliner, e a tal banda citada no parágrafo anterior, como o seu sub-headliner.

Enfim, após o debate sobre o panorama da música em 2004, e que tais, lá fomos nós ao palco para tocarmos. 

O local do evento devia conter naquele instante, cerca de vinte a vinte e cinco mil pessoas, aproximadamente. Mas aglomerados na frente do nosso palco, devem ter ficado apenas cinco mil, acredito, baseado na minha avaliação ocular, sem nenhuma informação concreta para apoiar-me, com a certeza matemática. Isso por que o grande contingente do público ficara aglomerado em frente ao palco da banda dos skatistas, a esperar pelo seu show. 

Nada contra os rapazes, pessoalmente, saliento isso mais uma vez, apesar do choque estético abissal, que nos separava na parte ideológica a dar conta do que é o Rock realmente. 

Contudo, ao mesmo tempo, foi triste constatar que a manobra de seus agentes para lhe fornecer um palco exclusivo, havia se tornado contraproducente, pois nós estávamos para entrar no palco, ao passar das 21 horas, e o caminhão que conduzia o PA exclusivo da tal banda, não havia nem chegado ao local. 

Ora, qualquer pessoa que milite na produção musical profissional, sabe que em um show sob multidão com grande porte, ao ar livre, a praxe é montar o equipamento de PA, um dia antes do evento (no mínimo, diga-se de passagem), pois é um trabalho pesado e que envolve muitos detalhes técnicos, que para se fazer apressadamente, sob a escuridão da noite e com vinte mil pessoas impacientes a urrarem, fica praticamente impossível de ser executado. 

Bem, isso foi um problema deles. O que nos concernia seria subirmos ao nosso palco e tocarmos, com tudo montado e checado, como deve ser.

A relação de rivalidade entre os nichos formados no próprio público ali presente, nos pareceu visível. Os cinco mil que estavam ali a nos prestigiarem, foi formado pelos Rockers da cidade e certamente oriundos das cidades vizinhas, também, e concomitante ao fato de nos apreciarem e vibrarem intensamente com o nosso som & performance, deu mostras igualmente de hostilidade (em tom de ironia) aos vinte mil que estavam amontoados sob aquele frio de rachar, a olharem para um palco vazio, sem uma caixa de PA sequer, como ornamento, do outro lado do complexo, à espera da banda mainstream. 

Seguimos a tocar o nosso show normal e a despertar a reação que sempre esperávamos nos pontos estratégicos da nossa apresentação.

Foi muito prazeroso tocarmos em um palco com grande proporção, sob iluminação e som de alto padrão e com o sistema de PA a conter pressão sonora de um show de Rock internacional. 

O nosso público foi maravilhoso até quando tocamos músicas desconhecidas ainda para eles, provenientes do repertório do novo disco que mal havia ficado pronto para a vendagem. 

Aliás, nos demos ao luxo de tocarmos peças progressivas desse disco e isso se constituiu de uma dicotomia para lá de interessante, pois ao tocarmos suítes desse grau de sofisticação musical para um contingente bem menos expressivo que a multidão que se espremera aglomerada para ouvir as canções daquela banda badalada no mainstream daquele instante, se revelou como algo dispare sob uma avaliação preliminar.

Enfim, existe até uma rápida filmagem da nossa banda a executar a canção: "Anjo do Sol" e que planejo postar no YouTube, assim que possível. 

Uma pena, se constitui de apenas um trecho e com imagem bem tremida, pois o cinegrafista em questão não dominava a técnica do manuseio da máquina e enquadramento correto. Valerá, hoje em dia, como um tesouro inédito e raro, mas não possui a qualidade que eu gostaria que tivesse. 

Por falar nessa música em específico, apesar da banda estar em seus momentos finais, com essa formação e sob um grau de ânimo bem baixo entre todos os componentes a minha lembrança é a de ter sido uma performance excelente e com muita energia, ao presentearmos o público Rocker de Chapecó-SC, tão fiel à Patrulha do Espaço e do qual, jamais sairá de minha lembrança. 

Quando encerramos o nosso show, um produtor do festival nos pediu que alongássemos a nossa apresentação, pois não houve naquele instante nem sinal da chegada do caminhão a transportar o equipamento de PA particular da atração maior do festival. 

Claro, atendemos o pedido e tocamos por quase quarenta minutos além do previsto para a nossa apresentação. Para nós foi um prazer duplo, pois o show estava com uma tremenda energia e sob a devida sinergia com o nosso público. E também por colaborarmos com a produção do festival, que fora solícita para conosco.

Contudo, o nosso esforço para manter o som ligado enquanto a banda headliner não chegava, não logrou êxito em 100%, pois a grande massa ali presente nos ignorava e onde estavam a esperar pela banda que gostavam, o nosso som para eles chegava como um radinho de pilhas com delay (atraso), mas acima de tudo, não lhes interessava em absoluto a nossa música e performance. 

Sorte do nosso público que se deleitou para valer e ficamos contentes também por isso, ou seja, esses Rockers verdadeiros de Chapecó-SC, mereceram esse presente de nossa parte. 

Encerramos o show e os organizadores nos agradeceram pela esticada estratégica da nossa apresentação. Os skatistas deveriam ter começado seu show, poucos minutos depois de encerrado o nosso, mas a sua equipe técnica começou a montar o seu PA, depois das onze da noite, e mesmo a toque de caixa, nem é preciso dizer que o show dos rapazes começou muito além disso e que o seu público chiou muitas vezes, ao gerar coros em tom de protesto, pela espera insuportável. 

Cada um com a sua estratégia e certamente que a equipe gerencial da referida banda deve ter conversado bastante a respeito, nessa madrugada e no dia seguinte.

Despedimo-nos de alguns dos nossos fãs, no camarim, e partimos para o hotel, ao buscarmos o cobertor quente a nos salvar da madrugada gelada do outono catarinense e nesse caso, me lembro que naquele instante o termômetro marcava: 5º...

Outdoor exposto nas ruas de Chapecó-SC a anunciar as principais atrações do Sonora Chapecó Music Festival em 7 e 8 de maio de 2004. Click, acervo e cortesia: Rodrigo Hid

No dia seguinte, viajamos após o almoço, e se a viagem não nos causou um grande transtorno mediante as costumeiras panes perpetradas pelo bólido azulado, estávamos todos taciturnos em seu interior. 

Chegamos em São Paulo quase sob um silêncio constrangedor, cansados da viagem, certamente, mas o cansaço verdadeiro fora outro. A nossa formação chegara ao limite. Sem perspectivas para darmos um passo maior na carreira e ao mesmo tempo, por não conseguirmos manter a sustentabilidade funcional para continuarmos a persistir no mundo underground ante os sofridos moldes esperados para esse patamar, estivemos exauridos. 

Tínhamos um ótimo novo disco em mãos, mas nem isso nos garantiu forças para enfrentarmos as adversidades, com um mínimo poder de otimismo. 

Entretanto, uma pequena luz surgiu à nossa frente e talvez fosse o último fio de esperança para acreditarmos em dias melhores. Uma pequena temporada no Centro Cultural São Paulo fora agendada e que o Rolando Castello Junior trataria por fornecer um verniz diferente, ao elucubrar uma ideia sensacional, eu diria. Nesses termos, e se gravássemos os três shows, ao visarmos lançar um disco ao vivo?

Continua...

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