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terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Patrulha do Espaço - Capítulo 15 - Nos Últimos Estertores, o Sonho do Álbum ao Vivo - Por Luiz Domingues

 
O nosso foco doravante foi uma micro temporada no Centro Cultural São Paulo, a ser realizada em julho de 2004. E para incrementar tal perspectiva, foi de julho em diante, que mais matérias e resenhas sobre o novo álbum recém-lançado começaram a aparecer nas bancas de jornais. E também aconteceu uma exótica aparição em um programa exibido na TV aberta, mas sob um caráter absolutamente underground.

Chamado como: "Swing com Syang", tratou-se de um Talk-Show musical e que possuía uma nobre iniciativa, eu diria, pois, a sua proposta foi a de fornecer espaço para artistas ligados ao Rock, principalmente e no caso, sentenciados ao limbo do underground.

Portanto, para bandas de Rock em geral, fora do âmbito mainstream, passou a ser uma opção em termos de divulgação, válida. Claro, a despeito de ser realizado em uma emissora de TV aberta que o transmitia, realizava-se na alta madrugada, e tal emissora eximia-se de sua produção. 

Fora na verdade, um programa independente e que simplesmente alugava espaço na grade dessa emissora aberta. O canal em questão foi a TV Gazeta de São Paulo, que era (é) uma emissora pela qual eu nutro uma declarada simpatia, desde que entrou no ar, no longínquo ano de 1970, contudo, sempre foi a emissora aberta na cidade, com a menor audiência, infelizmente. 

Não obstante tal fato, por ser exibido durante a madrugada, o referido programa marcava um patamar de audiência tímida, mas dentro da realidade das emissoras abertas, bem entendido, ou seja, perto das líderes no setor, os seus números eram inexpressivos, porém para a nossa realidade como artistas a transitarmos pelo espectro underground, contar com um ponto na cotação de audiência, significara estarmos a atingir cerca de oitenta mil pessoas na cidade de São Paulo, um pouco menos na proporção do horário, mas a representar muita gente, enfim.

Syang era (é) uma guitarrista muito famosa no mundo do Rock underground, contudo, por ser uma mulher muito bonita, chamava bastante a atenção pela sua beleza física e claro que a despeito dela haver construído uma carreira no mundo do Heavy-Metal e do Punk-Rock, a tocar guitarra em bandas como o "Detrito Federal" e o "P.U.S.", foi um fato que a sua beleza e porte como autêntica "centerfold" da revista "Playboy", chamava muito mais a atenção e assim, o seu programa atraía alguns Rockers, mas certamente o grosso da audiência era formado por "solitários" de todas as faixas etárias, disso não houve dúvida. 

Para reforçar tal impressão, logo após a exibição do programa da Syang, entrava no ar, um outro programa ao vivo, realizado pela mesma produtora, e este sim, calcado na exploração da sensualidade, pois era um simulacro de gincana tola, na qual os telespectadores eram convidados a participarem e os telefonemas eram computados como receita para os seus realizadores. 

Mediante tais perguntas travestidas sob o falso, porém nobre interesse cultural, várias moças bonitas e trajadas de uma forma sensual, exibiam-se a dançar, caso o telespectador acertasse a resposta e claro, o objetivo seria capitalizar o máximo de telefonemas e a intenção dos participantes, certamente foi ver as moças a sensualizarem na TV.

Nossos amigos do Golpe de Estado, quando participaram do referido programa

Bem, sobre o programa da Syang, muitas bandas do métier underground estavam a ir tocar e quando recebemos o convite, claro que aceitamos, e veio a calhar para reforçar a promoção do novo disco e dos três shows que faríamos no Centro Cultural São Paulo, logo a seguir. E lá fomos nós, na noite/madrugada de 4 de julho de 2004...

Chegamos ao endereço aonde funcionava o estúdio em questão dessa produtora, por volta das 23 horas, com tal antecedência solicitada pela produção do programa. Ficava localizado em uma travessa da Avenida Washington Luiz, no caminho para o autódromo de Interlagos. 

Tratava-se de uma mansão, outrora residencial, muito ampla e bonita, e na parte de baixo do imóvel, instalara-se o estúdio/palco do programa da Syang e na parte de cima, funcionava o outro estúdio, onde se exibia o programa das moças mediante a sua gincana infame, conforme eu citei anteriormente.

Quando chegamos, fomos convidados pela produtora a nos dirigirmos a uma sala de maquiagem e esta a se mostrar montada sob uma estrutura parecida com um anexo estrutural ligado a um estúdio de TV, convencional. 

Sem dúvida que eles tinham uma estrutura boa, isso fora louvável. Quando chegamos na sala de maquiagem, encontramos com o guitarrista, Sérgio Dias, que estava a se preparar também e ele estava na companhia da sua simpática esposa, Lourdes, que eu conhecia também desde 2001, conforme já narrei em capítulos anteriores.

Simpáticos, ficaram a conversar conosco, bastante amigavelmente. Nessa altura, Sérgio ainda centrava seus esforços em prol da sua carreira solo e sua participação no programa foi marcada somente com uma entrevista, a discorrer sobre as suas ações naquele momento, em termos de carreira solo (os Mutantes só anunciariam uma "volta", em 2006, de fato). 

Quando já estávamos a nos prepararmos no estúdio, ao estabelecermos um rápido soundcheck com o técnico de áudio da TV, uma produtora nos informou que Syang sempre gostava de iniciar o programa a tocar com a banda convidada da noite, portanto, ela esperava que nós sugeríssemos alguma música para ela tocar conosco, preferencialmente uma música escolhida em meio ao cancioneiro do Rock internacional, conhecida por todos.

Sabedores que o seu apelido, "Syang" era (é) uma homenagem ao seu grande ídolo, o guitarrista escocês/australiano, Angus Young, do AC/DC ("Sy", de Simone e "Yang", como corruptela de "Young"), sugerimos que tocássemos qualquer música do AC/DC. 

Passados cinco minutos, a produtora voltou a nos abordar e dessa forma comunicou que a Syang estava cansada de tocar sempre canções do AC/DC, toda a noite, e gostaria, desta feita, de tocar: "God Save the Queen", do famigerado "Sex Pistols"... bem, não teve jeito, ela cismou e quis por que quis, tocar essa peça perpetrada por essa banda que abriu os portais do inferno e decretou a morte do Rock, mas, claro, são poucas as pessoas neste planeta que compreendem tal particularidade, e ali não seria o momento para fazer nenhum discurso sobre o assunto, por isso, lá estive eu a tocar a peça gravada por músicos de estúdio, pois os membros dessa bandinha infame, se orgulhavam por não saberem tocar... 

Bem, além da Patrulha do Espaço como atração musical, e o Sérgio Dias como entrevistado, três atrizes a divulgarem a sua peça teatral em cartaz, estiveram presentes, também. Quando o programa começou, nos caracteres ficavam a passar o tempo todo, observações feitas por telespectadores. 

Lamentavelmente, apesar de ser um talk-show cultural, sob uma primeira instância, as observações que líamos ali, foram em 99% dirigidas à pessoa da Syang, em tom de gracejos, cantadas, elogios baratos à sua beleza e sensualidade etc. 

De fato , ela era (é) linda, e tinha (tem), porte de uma "coelhinha da Playboy", mas foi lamentável verificar que ninguém prestava atenção nas bandas que ali tocavam, comentavam sobre os seus trabalhos, tampouco sobre os demais entrevistados, todos geralmente ligados à arte & cultura. 

Dentro dessa perspectiva, dos pouquíssimos comentários que surgiram a nos mencionar, estes foram observações somente pautadas por um conteúdo em torno de verdadeiras asneiras, perpetradas por autênticos incautos que não faziam nem ideia sobre quem nós éramos, ao mencionar nuances rasas do tipo: 

-"da hora, o som da banda"... ao que eu responderia, se fosse o caso

: -"obrigado e aproveite para acertar o seu relógio que está parado, garoto". 

Bem, a despeito disso tudo, demos o nosso recado e saímos contentes dali, fora a diversão que foi aquela aventura maluca, experimentada em plena madrugada gelada do inverno paulistano. 

Sobre o áudio ao vivo que ali produzimos, acho que saiu bem razoável e convenhamos, sempre foi um terror equalizar banda de Rock em estúdio de TV, ao vivo. Nesse quesito, quem mais sofreu ali foi o Rolando Castello Junior, pois a proposta desse programa foi para que ele usasse uma bateria eletrônica, e claro que um baterista do nível dele, ao ter se deparado com uma monstruosidade desse patamar, que mais assemelhava-se a um brinquedo, lhe causou constrangimentos e irritação. E claro que foi uma infâmia. 

Lembro-me de que logo no início, o pedal do bumbo desse artefato que os produtores do programa chamavam como "bateria" falhou e um esforço teve que ser feito para se adaptar um pedal tradicional, para fazê-lo funcionar dentro daquela estranha realidade. 

Não houve alternativa e por sorte, o Junior levara a sua bateria completa para o evento, já a prever uma possível pane a ocorrer e o bumbo normal de uma bateria foi adaptado ao restante do simulacro de bateria que ali existia. 

Ele tentou persuadir o técnico antes de que a bateria tradicional soaria melhor, mas o rapaz insistiu no conceito de que estava acostumado a lidar com a eletrônica e tudo mais... tudo bem, meninos com cinco anos de idade também são super aptos na pilotagem de "joysticks" se raciocinássemos como essas pessoas.

Tirante isso, o som saiu a contento, apesar desse simulacro de bateria e da amplificação fraca disponibilizada como backline, para os três homens das cordas. Ao assistir a filmagem disponibilizada no YouTube, acho que ficou até razoável. 

Tocamos as seguintes músicas ali ao vivo: "Rock Com Roll", "Vou Rolar", "One Nighter", "Ser", "São Paulo City" e "Olho Animal". Obviamente que optamos por músicas mais no limiar do Hard-Rock, com duas guitarras e sem pensar em teclados, para facilitar toda a logística. Tocamos em um cantinho do estúdio, como se fosse uma sala de estar, acomodados em "puffs", ao dar uma aura informal ao talk-show.

A Syang levava jeito para a condução de um programa, e por não usar de trejeitos para se valer do fato de ser "Rocker", tampouco a sensualizar para explorar a sua beleza feminina natural, ela conduziu o programa com bastante dignidade, ao estilo de um talk-show tradicional. 

Naturalmente que a produção deve ter filtrado intervenções impublicáveis, mas mesmo assim, ela driblava os telespectadores mais afoitos no uso de seus gracejos com insinuação sensual, com uma certa desenvoltura, mas ali no calor do estúdio, ficou nítido que isso a aborrecia muito, pois fora do foco da câmera ela reclamava acintosamente da situação para os seus assistentes. 

Recado dado, falamos sobre os shows que teríamos no Centro Cultural São Paulo, do novo disco, e foi isso o que importou. 

Ao final, na informalidade do momento pós-programa, a Syang nos disse que havia ficado impressionada quando nos viu a chegarmos ao estúdio, com aquela aparência de banda setentista, por nos assemelharmos aos membros do "Black Sabbath", segundo a visão dela.

Particularmente, como artista a militar a carreira inteira no underground da música, não fico incomodado quando constato a existência de material pirata de alguma banda minha, a ser vendido no mercado, porém, a se lastimar no caso da capa desse DVD, citado acima, são os erros ortográficos crassos na nomeação dos componentes da banda e no meu caso em particular creio ter sido o mais gritante. 

Uma versão mais centrada em nossa participação, com pouca conversa dos demais convidados, se tornou um "Bootleg" como DVD e foi vendido na Galeria do Rock e outros pontos de vendas para colecionadores em todo o Brasil. Trata-se exatamente do DVD que está postado no YouTube. Antes de falar sobre os shows do Centro Cultural São Paulo, abordo um pouco sobre as matérias e resenhas que foram publicadas nessa época...

Assista a participação da Patrulha do Espaço no referido programa "Swing com Syang", em 4 de julho de 2004:

Eis o Link para assistir no YouTube, diretamente do canal do Rogério Kiss, a quem eu agradeço pelo armazenamento do material:
https://www.youtube.com/watch?v=ou_TcIWDZNw
Eis algumas resenhas que foram publicadas a partir de junho e julho de 2004:

1) Jornal "Ponto Final" nº 314 - Semana 24 a 30 de junho de 2004

"Será que o Rock morreu? Não estou falando do desse estilo musical cheio de misturas que tocam nas rádios de hoje, mas sim daquele Rock 'n' Roll que encantou o mundo nos anos setenta, década na qual gigantes caminharam sobre a Terra. 

Se depender de Rolando Castello Junior (bateria), Rodrigo Hid (guitarra, vocal, teclados), Marcello Schevano (guitarra, vocal, teclados), e Luiz Domingues (baixo e vocal), esse estilo musical está longe de ser enterrado. 

Esses quatro rapazes formam uma das mais competentes bandas da atualidade: a Patrulha do Espaço, que está na estrada há 28 anos e chega ao seu 11º disco de forma espetacular. 

No álbum "Missão na Área 13", como o próprio grupo sugere, eles misturaram Rock com Roll e conseguiram realizar belo disco. Logo de cara, o grupo já manda um grande desabafo: "Rock com Roll" lembra da repressão da ditadura militar e de como é difícil fazer Rock tradicional no país do samba. 

'Quando surgiu o AI-5, nós brasileiros e roqueiros perdemos muita coisa. A censura era ferrenha e não havia espaço para as bandas de Rock. Até mesmo os discos das grandes bandas internacionais eram proibidos aqui', relembra Junior. 

Uma das surpresas é "Anjos do Sol", uma linda música instrumental - repleta de teclados progressivos- coisa que a Patrulha não fazia desde o seu quarto disco. 

Já em "Vou Rolar", além de ótimos vocais, traz uma homenagem a algumas cidades pelas quais a banda passou. Outro ponto interessante é que esse álbum foi gravado no estúdio 'Área 13', em São José do Rio Preto e segundo Júnior, o clima do local foi muito favorável. 

'Lá não havia as distrações de uma grande metrópole. Nós nos dedicamos ao disco em tempo integral', relata. Entretanto agora deve acontecer o contrário, como afirmou o próprio baterista. Nos dias 23, 24 e 25 de julho, a Patrulha se apresenta no Centro Cultural São Paulo, e os técnicos do Área 13 gravarão o que se tornará no primeiro disco ao vivo da banda. 

Para esse empreitada, Junior pede a ajuda dos fãs da Patrulha, pois eles podem sugerir ou pedir músicas através do novo endereço eletrônico (www.patrulhadoespaco.com.br). 'O legal é que poderemos tocar músicas que normalmente não fazemos ao vivo'

O próprio baterista diz que não será fácil fazer uma lista que abranja 28 anos da banda, que segundo ele, desde o início, está com sua missão traçada: 'manter vivo o sonho do eterno Rock'n' Roll'

Vladimir José Ribeiro


Foi muito boa análise do disco novo nesta visão do ótimo jornalista, Vladimir Ribeiro e ele também teve como apoio para a sua redação, ter mesclado o seu texto com uma entrevista concedida pelo Junior, já a conjecturar sobre os planos de gravação dos shows no CCSP, para visar gravar um disco novo.

2) Revista "Rock Brigade" nº 216 - Julho 2004

"Na ativa desde os anos setenta, a Patrulha do Espaço é aquele tipo de banda que prova como se faz Rock na base da raça e da paixão. Mesmo nestes tempos em que o Rock está meio que restrito a dois ou três gêneros - e nenhum deles, diga-se, é aquele Hard-Rock setentista com toques psicodélicos que a Patrulha faz -, é no mínimo admirável que Luiz Domingues (baixo), Rodrigo Hid (guitarra, voz e teclados), Marcello Schevano (guitarra, voz e teclados), e Rolando Castello Junior (bateria) continuem mantendo uma produção de, no mínimo, um disco por ano - e, já que ninguém contrata a banda, vai no esquema independente mesmo. 

Mais digno de aplausos ainda é quando o disco é tão legal quanto este. Difícil dizer se isso se deve ao fato de "Missão na Área 13" ter sido gravado num estúdio encravado no meio da natureza, no interior de São Paulo, mas o fato é que há muito que a Patrulha não registrava músicas tão boas. "Rock com Roll" (título aparentemente nada a ver, tem que ouvir a letra pra entender) e "Vou Rolar" são alguns exemplos disso que se tentou demonstrar, num álbum, num álbum movido a ótimas interpretações vocais e muitos riffs de guitarra. 

E nem o fato de a batera do Junior - ainda um dos melhores no Brasil em seu instrumento - estar incrivelmente baixa em relação ao restante da banda, estraga este disco"

ACM


Bem, uma crítica muito positiva, e é claro que o ótimo, Tony Monteiro, optou por uma linha de resenha diferente, ao enxergar a banda como um todo e não por se ater ao disco em si. Creio que essa linha foi plenamente válida, pois ele captou o esforço geral da banda nessa formação e quis salientar isso mais incisivamente.

3) Revista "Mosh" Nº 1

Nesta publicação publicada na revista "Mosh", ao entrevistar o Rolando Castello Junior, o jornalista, Arnaldo Bambini, fez uma projeção da situação da Patrulha do Espaço com o lançamento do disco: "Missão na Área 13", mas a avançar, ele falou também da produção independente no Brasil e a derrocada da indústria fonográfica, que se mostrava muito visível naquele instante de 2004.
Mais matérias nesse período...

1) Revista "Modern Drummer" Nº 22  

"Há 26 anos Rolando Castello Junior comanda a bateria da Patrulha do Espaço com competência e vontade de tocar. Neste CD, logo na primeira faixa, "Rock com Roll", Junior começa com uma batida precisa do bumbo fazendo o papel do metrônomo, e a levada da bateria já está pronta para conduzir a música. 

Nos espaços entre um verso dos vocais e um solo de guitarra, Junior coloca o seu entusiasmo para preencher o vazio e logo volta a apoiar o restante do álbum. 

Ele pode determinar o caminho rítmico no início da música como em "Vou Rolar"; entrar junto com o segundo verso do vocal em "Tão Perto, Tão Distante"; reforçar a tônica dos versos em "Universo Conspirante", ou dar apoio como percussionista em "Quando a Paixão te Alcançar". 

Enfim, uma demonstração de que o Rock dá espaço para o baterista expor suas levadas com criatividade e evoluir dentro de cada música".

PC

Esta foi uma resenha baseada na performance do Rolando Castello Junior como baterista e percussionista, pertinente portanto, pelo que se espera de uma revista especializada em bateria e percussão, caso da "Modern Drummer". Gostei do enfoque, apesar de que em uma lauda curta, o resenhista não tenha tido a chance para se aprofundar. Cabia uma análise mais pormenorizada, mas tudo bem, achei positivo.

2) Revista "Cover Baixo" Nº 24

"Neste ano, a banda Patrulha do Espaço completa 27 anos de existência, o que em terras brasileiras é uma raridade para quem tem uma proposta de fazer um Rock'n Roll de ótima qualidade.
Lançado de forma independente, 'Missão na Área 13' vem firmar o nome da banda como uma das pioneiras do estilo no Brasil. 

Esse disco não difere muito dos outros trabalhos da banda. O que se ouve é o bom e velho Rock'n' Roll, tocado por uma galera que entende do assunto. 

O baixista, Luiz Domingues, segura a onda da cozinha juntamente com o batera, Rolando Castello Junior, que juntos formam linhas bem coesas e precisas. 

Destaques para a pesada 'One Nighter', para a balada 'Tão Perto, Tão Distante' e para as roqueiras ' Vou Rolar' e 'Rock com Roll'. 

O único senão ficou por conta da foto do encarte, em que os membros da banda e seus amigos aparecem fazendo caretas e gestos obscenos, totalmente desnecessários".

PC

Ao contrário do que esperar-se-ia de uma resenha em uma revista especializada em baixos & baixistas, o resenhista quase não citou o meu trabalho em específico nesse disco, ao fazer um elogio bem discreto nesse quesito e mais a centrar a sua atenção no disco em si, em uma linha de resenha mais ampla e não setorizada. Neste aspecto, veio exatamente de encontro ao que eu mais desejaria, pois eu sempre me enxergo como uma peça da engrenagem, apenas.

Sobre o que observou a respeito da foto do encarte, concordo inteiramente com o ponto de vista dele e já havia comentado isso em capítulo anterior, ou seja, achei uma asneira que essa foto fosse a escolhida para figurar no encarte. E apesar de eximir-me dessa resolução impertinente ali adotada e na foto em si, ao estar acintosamente dentro desse enquadramento com os meus braços cruzados, em sinal de não aceitação dessa ideia idiota proposta na hora de se exibir-se o dedo médio em riste, claro que a observação do jornalista me incomoda, pelo fator da "vergonha alheia".

3) Revista da MTV Nº 39

"Grande banda que começou nos anos setenta e ainda continua na ativa fazendo um belo trabalho. O Rock'n' Roll levanta voo em sons como: "Vou Rolar", "Rock com Roll"; "Tão Perto, Tão Distante"/Tão Distante" e outras".

Como sempre, o excelente jornalista, Daniel Vaughan, teve um espaço mínimo para escrever, diametralmente oposto à sua boa vontade para falar com paixão sobre bandas sob orientação vintage, como a nossa. 

Mais uma nota que uma resenha, propriamente dita, mas super válida como força na divulgação. Na mesma edição da revista, houve a presença de uma outra nota a falar também sobre o disco e uma especulação em torno de um DVD oficial e quiçá, com a participação do Arnaldo Baptista. Pura especulação, mas foi interessante para nós, enquanto rumor a se espalhar.

4) Revista "Comando Rock" Nº 7

"Com mais de 25 anos de estrada, a Patrulha do Espaço é referência do Rock and Roll nacional. O novo trabalho mantém o nível dos antecessores. 'Rock com Roll' e 'Vou Rolar' são pura animação com batidas agitadas e refrães marcantes. 

Também há espaço para baladas - 'Trampolim' e 'Tão Perto/Tão Distante' - e outras mais virtuosas como as instrumentais, 'Anjo do Sol' e 'For Loonies Only'. Esta última apresenta um técnico solo de bateria e percussão'.

ARJ

É boa a resenha desse rapaz, cujas iniciais não consigo decifrar sobre de quem se trata. Sucinto, ele deu o seu recado com deferência à banda, pela sua trajetória completa e também pelo novo disco em si.
Foi interessante ele citar o tema: "For Loonies Only", uma vinheta instrumental executada só pela bateria do Rolando, e de fato, uma peça criativa e que poucos jornalistas citariam.

De volta à cronologia dos fatos, a ideia que o Rolando Castello Junior teve para esse show foi uma grande estratégia. Um antigo sonho da banda e de seus fãs, um álbum ao vivo sempre foi objeto de discussões internas entre nós e desde muito antes da nossa formação, aliás.  

Naquela altura dos acontecimentos, com uma carreira prolífica, em torno de quase vinte e sete anos de atuação, onze discos oficiais, e várias formações formidáveis registradas nos anais do Rock Brasileiro, o que não faltaria para a banda, seria um repertório longo, repleto com sucessos oriundos das suas várias fases na longa carreira.  

Contatou-se o pessoal do estúdio "Área 13", e assim, Rolando lhes formalizou o convite para que eles viessem com a máquina de gravação e demais componentes básicos para se gravar em regime de uma "unidade móvel" e eles aceitaram o desafio. 

Seria uma oportunidade de ouro para gravarmos ao vivo, justamente por se tratar de uma pequena temporada, portanto, haveria chance para termos no mínimo, três tomadas reais e ao vivo, de cada música, além de eventuais repetições e também, capturas eventuais durante as respectivas sessões de soundcheck, ao longo dos dias de shows. 

Não fora a primeira vez que eu gravaria um disco ao vivo, no entanto, desta vez a circunstância seria diferente, pois a minha experiência anterior, houvera sido com um compacto simples, portanto, mediante uma responsabilidade muito menor.

Nota publicada no site da Revista "Zero", já a prenunciar os planos de um novo disco a ser gravado ao vivo

Desta feita, a ideia foi gravar um CD inteiro e que sob uma conta grosseira, quase significaria o equivalente a um disco duplo de vinil, daqueles clássicos que quase toda banda setentista lançava no meio da carreira, quando já ostentava uma quantidade bem razoável de sucessos acumulados. 

Ao ir além na minha reflexão, digo que foi um alento para a banda, sob um momento de baixo ânimo generalizado e claro que a discussão sobre a escolha do repertório nos ofereceu um ânimo extra, e assim, foi prazeroso pensar nesse set list. 

A ideia seria montar um set list básico a ser tocado regularmente nos três dias e a pinçarmos algumas músicas diferentes para serem usadas mediante o uso de um pedaço do show em regime de rodízio, a estabelecer mudanças assim a cada dia. 

Dessa forma, tocaríamos músicas surpreendentes para o público e o estimularíamos as pessoas dessa forma a comparecerem nos três dias, por lhes oferecer opções diferenciadas a cada espetáculo. 

Portanto, a ideia foi ótima e dessa forma, nos preparamos através dos ensaios prévios, com cerca de trinta músicas para apresentar nos três dias da temporada no CCSP.

Recebemos os amigos de São José do Rio Preto-SP, com muita alegria. Tirante a amizade que já tínhamos sob longa data com Junior Muelas e Alberto Sabella, também nos tornáramos amigos de Gustavo Vasquez e Fabio Poles. 

Devidamente hospedados em um apartamento vago dos irmãos Schevano, situado no bairro do Paraíso, na zona sul de São Paulo e estrategicamente bem perto do Centro Cultural São Paulo, da parte deles esteve tudo certo para no primeiro dia fazermos o trabalho mais árduo, que seria de montar o seu equipamento e acoplá-lo ao equipamento de PA do CCSP.

Estiveram todos muito motivados com tal perspectiva alvissareira e se o CD "Missão na Área 13", já despertara muitas resenhas positivas no campo da mídia e a tecer elogios ao estúdio em em que o graváramos, por nos proporcionar o melhor áudio de disco oficial da nossa formação, e quiçá da carreira toda da Patrulha do Espaço até então, a perspectiva de se gravar um disco ao vivo da nossa banda se mostrara uma oportunidade de ouro para o estúdio "Área 13" poder ter em mãos, um segundo cartão de visitas sob alto padrão para alavancar o seu nome. 

Então, no primeiro dia de show, que foi o da sexta-feira, 23 de julho de 2004, o trabalho preliminar da montagem do backline e soundcheck ficou ainda mais pesado, com toda a parafernália da unidade móvel de gravação a ser montada e acoplada ao comando geral da mixagem ao vivo, na mesa do PA do Centro Cultural São Paulo.

Mesmo por chegarmos bem cedo, dentro das possibilidades da logística interna do CCSP, faltou tempo e de antemão os amigos de Rio Preto, já nos avisaram que não conseguiriam ter tudo pronto para gravar e que apenas fariam testes, no primeiro dia. 

Haviam muitas incompatibilidades entre as saídas e entradas para a conexão, observadas nas configurações dos dois equipamentos e que demandaria tempo para ser encontrada uma melhor solução técnica para o seu devido ajuste.

E assim fizemos o primeiro show, um pouco chateados por sabermos que nenhuma gravação dessa noite poderia ser aproveitada posteriormente e dessa forma, haveria de ser um cartucho a menos do qual disporíamos. 

Todavia, claro, foi um show oficial e o público teve que obter de nós, o máximo no palco, portanto, tal abatimento não poderia transparecer, de forma alguma. 

Ao enxergar pelo lado positivo, claro que foi um fortalecimento a mais da performance e por tocarmos ao vivo, diferentemente dos ensaios, teríamos um termômetro mais real de como as músicas soariam. 

Foi natural e esperado que os andamentos de todas as músicas notabilizar-se-iam como mais rápidos. A adrenalina do show ao vivo, fora um fator natural a fazer acelerar tudo, e de fato, 99% dos discos ao vivo, na história do Rock, seja com bandas internacionais ou brasileiras, apresentam esse fenômeno, pois é fator natural de todo ser humano empolgar-se em sua atuação, perante uma audiência. 

Foi uma boa estreia, apesar desse problema com a gravação do show e agradou ao público que ganhou uma performance boa da banda. Aconteceu no dia 23 de junho de 2004, uma sexta-feira e com oitenta pessoas na plateia.

No segundo dia da temporada, tudo ficou mais fácil, naturalmente, com todo o backline montado e a carecer de uns poucos ajustes pontuais para o segundo show. Mas sobretudo, houve tempo para o pessoal do "Área 13", poder adequar o seu equipamento ao do PA do CCSP, e a gravação foi a todo vapor.
Com um público muito maior, claro que a animação foi total para termos uma performance ainda melhor que a da noite anterior. Apesar da gravação do espetáculo da sexta-feira não ter sido proveitosa (no calor dos acontecimentos, algum material da sexta foi usado enfim, posteriormente no disco ao vivo, a contrariar a expectativa inicial dos técnicos), nós mantivemos a determinação de mantermos um repertório base e trocar apenas algumas músicas, dia após dia da temporada.
Camarim do CCSP, em julho de 2004, com Luiz "Barata" Cichetto e Rolando Castello Junior. Autor da foto, desconhecido

Com bastante assédio no camarim, o termômetro do show do sábado não poderia ter sido melhor, com muita empolgação. Assim foi em 24 de julho de 2004, com cerca de duzentas e cinquenta pessoas na plateia.

Camarim no show do sábado, dia 24 de julho de 2004. Em pé, da esquerda para a direita: Eu (Luiz Domingues), Rodrigo Hid, a terceira pessoa não tenho certeza absoluta, mas creio ser o tecladista, Guina Martins, Rolando Castello Junior, uma fã que sempre aparecia nos shows, mas cujo nome fugiu-me, criança não identificada e Claudia Fernanda, a produtora da banda. Agachados: Marcello Schevano, o webdesigner Michel Camporeze Teér e o baixista, Luiz Albano (a usar uma camiseta do Kiss), este último, aliás, foi o rapaz que criou a comunidade: "Luiz Domingues", na Rede Social Orkut, em 2006 e espaço esse em que eu iniciei a escrever o texto da minha autobiografia, a partir de 2011.

No domingo, seguimos a mesma cartilha e a empolgação foi total, igualmente. Em uma surpresa de ocasião, o vocalista, Percy Weiss, apareceu e culminou em ter uma participação, ao cantar duas músicas conosco. 

A sua voz tão potente, se imortalizou no disco, posteriormente com a sua performance em duas canções: "Columbia" e "Olho Animal". Sobre a gravação em si, falo mais para frente quando comentar sobre o álbum ao vivo. 

No domingo, dia 25 de julho de 2004, com cerca de duzentas pessoas na plateia, nós encerramos a micro temporada no Centro Cultural São Paulo e as gravações do material que comporia o álbum ao vivo.

Foto do show do dia 25 de julho de 2004. Click, acervo e cortesia de Marinho "Rocker"

Mas também significou a reta final para a banda, pois representou na realidade, o último show da nossa formação, na capital de São Paulo. Ainda não havíamos determinado isso oficialmente, mas os acontecimentos vindouros, de agosto e setembro, culminaram com tal resolução e assim, só haveria mais um show a cumprir na cidade de São Carlos-SP, em outubro. 

Mas em 25 de julho de 2004, foi o derradeiro na capital, a nossa cidade natal e o berço da Patrulha do Espaço, a São Paulo Rock City...

Fotos do Show do CCSP, em julho de 2004, são de Ana Fuccia, com exceção da creditada a Marinho Rocker, e as de camarim, com crédito desconhecido.

Continua...

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