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sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Pedra - Capítulo 1 - Convite Inesperado em um Momento Difícil - Por Luiz Domingues

Eu estava esgotado no ano de 2004, pois a somatória da carreira, já bem longa na ocasião, gerou um tremendo desgaste para o meu corpo e mente. 

Por conta desse desalento, eu pensava seriamente em encerrar a carreira, por me sentir sem forças para prosseguir. Nesse contexto, logo que comuniquei ao Rolando Castello Júnior, a minha decisão de sair da Patrulha do Espaço, por uma absoluta coincidência, recebi um inesperado telefonema alguns dias depois, da parte do guitarrista, Xando Zupo, com o intuito da parte dele para me convidar a conhecer o seu novo trabalho, e se eu gostasse do teor do material e da proposta artística, vir a integrá-lo. 

Conhecia o Xando Zupo desde 1984, mas de uma forma superficial, pois dali até então, nós apenas nos cumprimentávamos em bastidores de shows, durante esses anos todos. Dessa forma, eu só fui tocar com ele, efetivamente, quando em 2002, este guitarrista fora convidado pelo Rolando Castello Júnior, a tocar duas músicas com a Patrulha do Espaço, no Centro Cultural São Paulo. E também em 2003, quando aí sim, foi quando tivemos um contato maior.

Isso por que ele estava a gravar um disco solo e por conta dessa intenção de sua parte, Xando Zupo convidara a Patrulha do Espaço a participar em duas faixas do seu álbum. 

Então, entre ensaios e gravações com tal finalidade, nós pudemos manter um convívio um pouco melhor. Nesse disco em específico, que culminou em ser lançado somente pela internet (pois não foi prensado em formato de um CD tradicional), a Patrulha do Espaço tocou um cover com ele, Xando ("Must Be Love", do grupo norte-americano, James Gang - LP "Bang", de 1973), e uma canção própria, composta em ensaio, a selar a parceria entre Xando Zupo e Patrulha do Espaço, chamada: "Livre como Você". 

Essa música, é de fato, um belo Hard-Rock, com fortes pitadas ao estilo do Southern-Rock, na qual o Xando e o Marcello Schevano fazem um ótimo trabalho de guitarras, mediante o bom apoio da parte do Rodrigo Hid a pilotar o órgão Hammond, e a cantar solo. 

Tal obra adquiriu uma dramaticidade muito grande, pois a mãe do Xando Zupo falecera repentina e precocemente, de uma forma chocante, pois ela era muito jovem, cheia de vida (e também muito querida por vários músicos do meio Rocker de São Paulo, visto que fora envolvida com publicidade e produção de shows, portanto conhecia muita gente do meio artístico, inclusive por ter produzido shows de artistas de alto calibre tais como: Hermeto Paschoal e Sivuca, nos anos oitenta). 

Dada a circunstância lamentável da sua perda súbita, para homenageá-la, o Xando criou uma nova letra, não prevista nos ensaios e acrescentou igualmente uma pequena participação da sua própria mãe a declamar um poema, ao final da canção, graças a uma fita K7 que ele manteve engavetada, desde os anos setenta, com tal locução espontânea de sua progenitora.

Nestes termos, sim, a hipótese da música própria que citei anteriormente (a parceria entre Xando Zupo & Patrulha do Espaço), ser regravada pelo Pedra, foi ventilada logo no começo das atividades dessa nova banda, no entanto, nós chegamos à conclusão de que o material novo que estava a ser composto, deveria predominar (leia toda a história dessa parceria entre Xando Zupo & Patrulha do Espaço, a visar gravar o seu disco solo "Z-Sides", lançado em 2003, no capítulo: "Trabalhos Avulsos", do livro e no arquivo do meu Blog 3, postado no mês de fevereiro de 2015). 

Mais tarde, por ocasião das gravações do CD Pedra II, a música foi lembrada de novo, mas o repertório já estava praticamente definido nessa ocasião, e portanto, foi descartada a sua regravação.

A música "Livre Como Você" é muito boa, mas particularmente, eu tendo a pensar que música gravada não deve ser reaproveitada. Assim, ela já está lá naquele contexto de 2003, e eu não enxerguei o propósito dela ser recolocada em outro álbum, com outra roupagem. 

No mesmo caso, a música, "Trampolim", do disco: "Missão na Área 13", da Patrulha do Espaço, foi sugerida várias vezes como opção de regravação pelo Rodrigo Hid, seu autor. Mas eu sempre votei contra, exatamente por seguir a mesma linha de raciocínio. 

De volta à cronologia, poucos dias após ter me desligado oficialmente da Patrulha do Espaço (comuniquei a minha decisão oficial ao Júnior, em 6 de setembro de 2004), ficou acertado que eu ainda faria um último show marcado para outubro com a minha ex-banda (em São Carlos, no interior de São Paulo, no diretório acadêmico do campus da USP, naquela cidade). 

E cerca de duas semanas depois desse comunicado oficial do meu desligamento da Patrulha do Espaço, emitido em 6 de setembro de 2004, eu recebi o telefonema do guitarrista, Xando Zupo, a me convidar para um novo projeto que estava a iniciar. 

E antes que eu formulasse algum juízo de valor, ele se antecipou ao salientar que esse trabalho que planejava, seria algo aberto a várias tendências, e não fechado no Hard-Rock, como eu talvez assim deduzisse. Afirmou também que já possuía cinco ou seis músicas já finalizadas e que na formação dessa nova banda havia um outro guitarrista além dele, baterista, vocalista e se eu entrasse no time, ele ainda pensava na hipótese de colocar um tecladista fixo nessa formação, a se configurar como um sexteto.

Apesar de estar cansado e descrente na música, após tantos dissabores vividos pelo somatório da carreira, além dos quarenta e quatro anos de idade a pesar sobre os ombros, fiquei contente com a lembrança dele em pensar na minha pessoa e vir a me convidar e por ter sido assim, nesses termos, resolvi ir à sua residência, para conhecer melhor o projeto. 

Ele já estava a ensaiar há uns dois ou três meses na ocasião e a sua escolha inicial para o baixo, houvera sido o músico, Fábio Mulan, com quem ele tocava há anos na noite paulistana, em trabalhos cover. Mas o Fábio resolvera não permanecer, e daí, ao saber através do Marcello Schevano, que a Patrulha do Espaço estava a se dissolver inteiramente em sua formação chronophágica, ele arriscou me abordar.

Foto promocional do grupo de Rock, Big Balls, em 1996. Alex Soares é o primeiro à direita, com as mãos na cabeça. Click: desconhecido

O baterista que já estava na formação a ensaiar fora o Alex Soares. Este, muito bom músico e companheiro na banda autoral que ambos mantiveram em 1996, o Big Balls.
                       O ótimo vocalista, Marcelo "Mancha"                

Marcelo "Mancha", foi o vocalista inicial. Cantor versátil e experiente também com forte currículo adquirido na noite paulistana, ele igualmente tocara em bandas cover com o Xando por anos. Marcelo cantou em várias faixas do disco solo do Xando, "Z-Sides", inclusive na versão de "Must Be Love", canção do grupo norte-americano, "James Gang", que a Patrulha do Espaço atuou a tocar.

                         O excelente guitarrista, Tadeu Dias

E na outra guitarra, houve a presença de Tadeu Dias, experiente side-man do cantor & compositor, Simoninha e de vários outros artistas desse ambiente da gravadora "Trama". 

Para início de observação de minha parte, se tratou de um ótimo time que já estava ali formado, sem dúvida, e capaz de empreender um trabalho com um nível excelente. Isso me animou, além do fato do trabalho não estar fechado na concepção de ser apenas centrado no âmbito do Hard-Rock. 

Convite aceito de minha parte, os ensaios começaram a partir de outubro de 2004.

E assim, foi essa a dinâmica estabelecida nos meses de outubro e novembro de 2004. Ensaiávamos às segundas, no estúdio "Overdrive", e nesses primeiros ensaios, como o Xando vinha a trabalhar com esse grupo desde julho, mais ou menos, já haviam algumas músicas bem adiantadas. Foram os casos de: "O Dito Popular", "Sou Mais Feliz", "Vai Escutando", "Se Agora eu Pulo Fora" e "Me Chama na Hora".

Xando Zupo & Tadeu Dias em um ensaio do Pedra, realizado em janeiro de 2005. Foto de Grace Lagôa            

A minha primeira impressão geral, já a participar dos ensaios, foi que o Alex Soares se mostrava um baterista técnico, firme e bom de andamento e assim, eu gostei da sua pegada. 

Já no caso do Tadeu Dias, notei que ele detinha grande conhecimento teórico e se mostrava como um especialista na execução de temas influenciados pela escola da Black Music, justamente por estar acostumado a acompanhar artistas que flertavam com tal tendência, como: Simoninha e Max de Castro, entre outros. 

E o Marcelo "Mancha", continha uma excelente impostação vocal, ao denotar ser um cantor de grande potencial. 

Sobre o Xando Zupo, este apresentava um nível técnico excelente e não foi novidade pois eu já o conhecia e o que realmente eu passei a notar doravante foi que ele era minucioso na questão da escolha de seus timbres, ao demonstrar muito requinte no preparo de cada guitarra para ser usada em ocasiões diferentes, a buscar sonoridades através do posicionamento de angulações das caixas dos amplificadores e sobretudo, no uso detalhista de seus pedais.

Pus-me a criar as linhas do meu baixo com total liberdade e isso me agradou, pois na verdade foi (é) a única maneira com a qual eu sei interagir em uma banda, pois me sinto inibido a criar, quando tolhido e limitado a seguir opiniões alheias e que não me tome como arrogante o leitor, por favor, que fique bem entendido. 

As minhas melhores linhas sempre foram criadas dessa forma, sem interferência da parte de outrem e que por conta disso, não vibra a música pela minha percepção muito pessoal, apenas isso. Se alguém sugerir algo e que eu sinta ser um encaixe bem, não tenho problema algum em acatar a sugestão, portanto, se trata de uma questão de sintonia.

Os ensaios transcorreram sob um clima de absoluta cordialidade, enquanto o Xando nos dizia que teria um contato muito bom para viabilizar a produção de um vídeoclip e assim que tivéssemos um quórum mínimo de músicas preparadas, poderíamos usar o estúdio para gravar o primeiro CD.

No entanto, a despeito dessas oportunidades boas aventadas, o que mais me agradara nesses instantes iniciais, além do clima leve da banda em termos de convívio social, foi a característica que se delineara no tocante ao estilo proposto para ser trabalhado. 

Agradou-me sobremaneira a ideia desse trabalho soar Pop o bastante para pleitear o espaço mainstream, contudo, sem me violentar com apelações, no afã de se buscar tal colocação no mercado, a todo custo.

A formação nos primeiros ensaios do Pedra, ainda ao final de 2004, da esquerda para a direita: Alex Soares, Xando Zupo, Marcelo "Mancha", Tadeu Dias e eu (Luiz Domingues). Foto de Grace Lagôa

Estávamos a criar ali, uma música sob alta qualidade, com variantes que vagavam pelo Rock, Soul, MPB etc. Ou seja, a se mostrar como uma sonoridade aberta e pronta para angariar um público mais abrangente, fora do nicho do Rock underground, onde eu insistira tanto em atuar com bandas anteriores, pelas quais eu fui componente.

Eu diria que logo no primeiro instante, nós tratamos tal diversidade sonora alardeada em termos de meta, como o nosso maior trunfo. O fato dessa banda se propor a buscar espaço artístico aberto a várias sonoridades, nos deu muita esperança de alcançarmos o mainstream, pois o nosso espectro artístico estava aberto a um público muito mais abrangente, em comparação ao que as nossas bandas pregressas mais recentes tiveram (Patrulha do Espaço e Big Balls, só para citar duas), essas sim fechadas em um nicho restrito ao Rock underground. 

No início, almejávamos agregar os fãs menos radicais de nossas bandas de Rock, mais recentes, mas também poder nos atingir fãs de artistas tais como o Jota Quest, Skank, Nando Reis, ou seja, todos com proximidade com o Rock, porém centrados no Pop mainstream, também uma certa parcela do público jovem adulto, seguidores de MPB "moderna" de então (Lenine, Zeca Baleiro, Marisa Monte etc) e até a Black Music.

Com o passar do tempo, ao contrário do que projetamos inicialmente, essa extrema abertura nos estrangulou-nos.

Ironicamente, sob um outro sentido, eu diria (não artístico, nem midiático, mas no setor empresarial), tal fato ocorreu, pois sem conseguirmos alavancar voos mais altos, os espaços possíveis a serem usados no patamar underground se mostraram mínimos para a nossa sonoridade. 

Esse fator foi decisivo para sufocar a banda e matá-la por inanição, em um momento futuro, no entanto, uma volta seguir-se-ia mais para a frente (está muito longe para falar sobre tudo isso, ainda, portanto, foi só uma observação por enquanto). Todavia, acredito que no decorrer da narrativa, isso ficará ainda mais claro. 

Nesses primeiros ensaios o clima foi pautado pela cordialidade e descontração. Foi um bálsamo estar dentro de um ambiente de trabalho, bem leve.

Convencionou-se que os ensaios dessa nova banda seriam às segundas, por que três de seus cinco membros, atuavam em trabalhos musicais paralelos. Ou como side-man de artistas da MPB, caso do guitarrista, Tadeu Dias (com Simoninha e outros), ou a atuarem em bandas cover pela noite, caso de Alex Soares e Marcelo "Mancha". 

Eu já era bem experiente na época, e sabia que isso seria um problema e uma verdadeira bomba relógio ativada para explodir na logo na frente, mas levantar tal questão ali, seria causar um tumulto desnecessário, visto que todos os que detinham esses impedimentos sentir-se-iam incomodados e negariam que essa vida dupla poderia refletir negativamente no destino da banda autoral que estávamos ali a montar, porém, na minha ótica, seria e o foi, inevitável nos depararmos com tal conflito de agendas.

Além do mais, eu fui o último a chegar e ao ir além, não tenho essa característica pessoal de fazer cobranças veementes, pois quem me conhece, sabe bem que eu sou razoável e paciente. 

As primeiras músicas que praticamente já estavam prontas, se fecharam enfim com a minha entrada na banda e a decorrente definição das linhas de baixo. 

Os arranjos foram definidos e logo a seguir, eu pude mostrar uma ideia de balada que eu tinha da minha parte e que deveria ter sido aproveitada pela Patrulha do Espaço, mas não aconteceu a oportunidade para se incorporar àquele trabalho. 

Neste caso em favor do Pedra, o Xando gostou da ideia e criou letra para ela e nasceu assim: "Amanhã de Sonho".

O baterista, Alex Soares, em foto de Grace Lagôa, ao final de 2004

Poxa... tratou-se de uma balada Pop, com condições para tocar no rádio, ser peça para constar de trilha de novela, mas ao mesmo tempo de um nível acima de qualquer suspeita, para provar a nós mesmos, que nós poderíamos trilhar um caminho interessante, ao almejarmos voos maiores na carreira, sem precisarmos apelar ao abaixar o nosso nível. 

No entanto, o clima ameno dos primeiros ensaios ficou um pouco tenso quando o Xando me ligou após um determinado ensaio em algum dia do final de novembro de 2004, para expor uma situação que estava a incomodá-lo, em relação ao vocalista, Marcelo "Mancha". 

Essa situação não fora pessoal, tampouco técnica, mas de ordem artística, no tocante à identidade delem Marcelo, com o trabalho. Após expor os seus motivos, eu entendi e concordei com a argumentação.

A questão que envolvera o Marcelo Mancha, não foi de ordem técnica em absoluto. Ele era (é) um excelente vocalista, com diversas qualidades como cantor, tais como: afinação, alcance de oitavas, emissão, boa dicção, bom intérprete, tem ritmo, bom ouvido, divisão rítmica bem desenvolvida e excelente presença de palco. 

Tampouco fora de ordem pessoal, pois ele era (é) um rapaz bom, honesto e trabalhador. O problema detectado pelo Xando, ocorreu no tocante à criação desse artista, na parte da sua interpretação, pois em todas as canções até ali desenvolvidas, ele apresentara uma certa dificuldade para criar sua própria linha de interpretação.

Isso ocorrera devido aos anos e anos em que ele atuara pela noite a cantar covers. Infelizmente, essa rotina tende a viciar o músico que perde o traquejo da criação, quando se limita a repetir a criação alheia. 

Diante desse argumento, não houve como não pensar no melhor para a banda naquele instante, e por ter sido assim, eu fui convencido pelo Xando e dei o meu aval para que ele conversasse com o Marcelo e daí se tomasse uma resolução sobre tal questão. 

O Xando ficou com a incumbência de falar com ele, por ser seu amigo e companheiro de bandas pela noite, há anos e portanto, com uma óbvia amizade bem solidificada para manter uma conversa delicada dessa natureza. 

E o Marcelo, aceitou a situação e melhor ainda, sem ressentimento, pois não estava mesmo a se encaixar no trabalho, mesmo por que, talvez também nutrisse uma outra expectativa sobre o trabalho a se direcionar mais para o Rock do que o em favor do espectro Pop. 

Marcelo saiu com serenidade da formação e prosseguiu a sua carreira a atuar na noite, até hoje em dia (2016), com o seu brilhantismo habitual.

Então o Xando teve uma ideia que de certa forma foi ousada, mas que poderia dar certo. Que tal convidar Rodrigo Hid? Ele poderia cantar, tocar teclados e eventualmente, teríamos três guitarras, ao unir-se ao próprio, Xando e Tadeu Dias. 

E o que eu poderia achar dessa ideia? Ora, eu conhecia o Rodrigo desde 1992, eu mesmo o convidara para fundar o Sidharta comigo e tal banda se desenvolvera a posteriori com a formação "chronophágica" da Patrulha do Espaço. 

Quem mais poderia conhecer tanto o talento dele, após tantos anos, do que eu mesmo, portanto, ser signatário sem restrições sobre tal ideia?

Rodrigo Hid, na época mais ou menos em que veio conhecer a proposta do Xando Zupo, sobre a nova banda, em dezembro de 2004. Foto de Grace Lagôa

O Rodrigo estava desanimado para voltar a fazer parte de uma banda, desde que deixara a Patrulha do Espaço, junto comigo, e Marcello Schevano. 

E desde então, se dedicara a ensaiar um material que possuía para gravar um possível disco solo que pretendia lançar. Estava a ensaiar com dois músicos jovens, ex-membros do excelente grupo: "Quarto Elétrico": Thiago Fratuce, no baixo (ex-aluno meu) e Ivan Scartezini, na bateria (algum tempo depois, este tornar-se-ia baterista do próprio Pedra). 

Ele aceitou conversar conosco, mas em princípio relutou sobre a proposta. Após um pouco de insistência do Xando e da minha parte, ele decidiu enfim participar, inicialmente como vocalista e com alguma intervenção aos teclados. Talvez assumisse a guitarra, ocasionalmente, visto que já tínhamos dois guitarristas na formação. 

E assim, nos últimos dias de dezembro de 2004, nos tornamos um quinteto, com a entrada de Rodrigo Hid para a formação do Pedra.

Aqui, eis a presença de Rodrigo Hid em um ensaio da banda, já no avançar de 2005, e com ele a assumir inicialmente a postura como vocalista e tecladista da banda. Foto de Grace Lagôa

Essa situação de se contar eventualmente com três guitarristas fora apenas uma hipótese (pois afinal de contas, apesar de ser um multi instrumentista, a guitarra sempre foi na verdade, o instrumento principal do Rodrigo, portanto a sua maior especialidade), mas não queríamos cometer excessos. 

Outro ponto importante, é que em tese, esse tipo de formação com três guitarras, funcionaria bem se a banda fosse fechada no estilo do "Southern Rock". Em qualquer outra escola de Rock, ou de outros gêneros musicais, é difícil concatenar três instrumentos harmonizadores de uma forma criativa, a observar o cuidado para que um guitarrista não atrapalhe o outro e a banda soe confusa, por conseguinte na formulação dos seus arranjos.

E logo a seguir, em uma questão de apenas dois meses, o Rodrigo estaria a assumir o seu posto de uma forma natural, com a saída do guitarrista, Tadeu Dias, todavia, narro tal fato no momento adequado. 

Um detalhe para constar e não dar margem de dúvida ao leitor, a escola do "Southern Rock", também é uma influência do Pedra, ainda que mais remota. A música "Estrada", por exemplo, tem alguns aspectos desse estilo em vários momentos, principalmente nos desenhos das guitarras e da linha do baixo.

A ensaiar com o Rodrigo Hid, e este já a fazer parte da banda, e nos primeiros ensaios, mais a adaptar-se à vocalização das canções que tínhamos até então. Foto de Grace Lagôa

Então, o Rodrigo veio conhecer o trabalho. Ele rapidamente aprendeu as primeiras músicas que tínhamos preparadas e já trouxe ideias de sua parte, como por exemplo o riff da canção: "Estrada", que logo no início de 2005, seria concretizada, por exemplo.

Nos primeiros ensaios, ele apresentara o semblante cansado, exatamente como eu estive no início, quando comecei a ensaiar em outubro. O que ele estranhara no começo, fora apenas tocar teclados, e em determinadas músicas, só com a presença das guitarras, ter que atuar apenas como um vocalista, sem um instrumento à mão. 

Definitivamente, ao se pensar em linhas gerais, ele sentiu essa falta, pois apesar de ser um excelente cantor, não estava acostumado a atuar com as "mãos vazias". Deu para sentir esse desconforto nos primeiros ensaios, mas essa situação seria consertada em apenas dois meses, sem que precisássemos fazer nada, pois o guitarrista, Tadeu Dias deixaria a banda, infelizmente.

Interrompemos os ensaios por ocasião das festas de final de ano e entramos em 2005, com tudo, animados com a entrada do Rodrigo e por verificarmos a incidência de novas músicas a surgirem e assim a proverem o aumento significativo do repertório. 

De pronto, vimos que a voz e o jeito para interpretar do Rodrigo, foi o que melhor se encaixara, perfeitamente, aliás, ao som do Pedra. O segundo ponto foi que os seus dotes como tecladista, agregaram muita qualidade ao trabalho. O Xando conhecia e o admirava à distância, mas eu conhecia muito bem o potencial do Rodrigo, como tecladista por haver trabalhos com ele em duas bandas anteriormente.

Ele pilotava órgão Hammond, sintetizador Mini Moog, piano Fender Rhodes e piano acústico, com desenvoltura, a moda dos tecladistas dos anos sessenta-setenta, ou seja, a agregar valor, e não ao estabelecer as sofríveis bases harmônicas, que tecladistas medíocres faziam, principalmente nos anos oitenta.

A formação do Pedra, no início de 2005, em foto de Grace Lagôa, nas dependências do estúdio Overdrive. Da esquerda para a direita: Xando Zupo, Alex Soares, eu (Luiz Domingues), Tadeu Dias e Rodrigo Hid

Contudo, mesmo assim, nós sabíamos que seria um desperdício ele não tocar guitarra e violão acústico, outras de suas potencialidades múltiplas como multi-instrumentista. 

Nessa altura, músicas como: "Vai Escutando" e "Me Chama na Hora", ficaram muito sofisticadas com o acréscimo dos teclados do Rodrigo. Neste caso, há momentos brilhantes de pura Soul Music nelas, graças aos seus arranjos criados, aos teclados.

Rodrigo Hid no início de 2005, em seu início como componente da nossa banda. Foto de Grace Lagôa

Então, no virar de 2004 para 2005, o clima na banda foi de muita euforia em torno dessa nova formação. Logo fomos a tratar de retomarmos os ensaios, após o enfadonho período das festas de fim de ano. 

Surgiu a inevitável questão de se estabelecer o nome oficial para a banda e assim, mediante sugestões da parte de todos, escolhemos o nome: "Pedra", para designá-la. Em uma lista não tão comprida assim (como é a praxe desse tipo de ocorrência, no começo de uma banda), afinal, "Pedra" e "Carranca", foram os títulos mais cotados a grosso modo.

Entretanto, eu certamente considerei o nome, "Pedra" mais apropriado. Isso por que a sugestão para "Carranca", que viera da parte do baterista, Alex Soares, me pareceu regional demais em minha opinião. Esse foi o meu argumento para convencer os demais, visto que o Rodrigo que adora tendências regionalistas de raiz, estava propenso a votar nele. O Xando gostava dos dois, e o Tadeu Dias, também demonstrar isso, inicialmente.

Da esquerda para a direita: eu (Luiz Domingues), Rodrigo Hid e Tadeu Dias, nos primeiros ensaios de 2005, com a nova formação da banda. Foto de Grace Lagôa

Ao final da votação, eu consegui convencer os indecisos, com o argumento de que "Carranca" realmente remetia a um tipo de espectro regionalista, que definitivamente, o nosso som não possuía. 

Depois do lançamento do CD Pedra II, em 2008, o Rodrigo imprimiu um pouco dessa vertente, sem dúvida, na sonoridade da nossa banda, mas a grosso modo, nós sempre fomos muito urbanos para estigmatizar o nosso nome com algo tão regionalista.

E de fato, "Carranca", caberia melhor para uma banda pernambucana indie, oriunda do dito movimento, "Mangue Beat" e que tais. 

Definido o nome como "Pedra", nós já imaginamos a questão da redação do release a explicar sobre tal denominação e as inevitáveis perguntas dos jornalistas que seriam formuladas em breve: Por que "Pedra?" 

Porque se tratava de uma palavra com fácil assimilação, pronúncia, memorização e transmitia a ideia da solidez, coesão, e a designar a matéria bruta primordial com a qual se faz tudo ou quase tudo na construção da civilização etc. 

Claro, eventualmente eles poderiam perguntar se haveria alguma conotação com as drogas. Pedra de ácido, pedra de crack, pedra de cocaína?

Nesse caso, a resposta seria a negativa, naturalmente, ou a se deixar dúbia a resposta, ao convidar ao indagador pensar o que desejasse. 

Eu fiquei satisfeito com a escolha desse nome, pois aprendera com a experiência adquirida ao longo de uma carreira extensa, que o ideal seria se evitar nomes compostos, ou com preposição e/ou artigo na sua formulação. E também me passou a ideia de um nome forte, sucinto e sonoro. 

Logo a seguir, saiu publicada uma nota na revista: "Batera e Percussão", a citar a formação da nova banda e tal ocorrência nos causou espanto, pois estávamos a manter a construção dessa banda em sigilo, até então.

Todos os membros dessa formação continham história pregressa na música, essa fora a verdade e diante desse fato inexorável, estávamos sujeitos às especulações da mídia, mesmo ao sermos, todos nós ali envolvidos, artistas que a vida toda orbitaram pelo patamar do underground da música exercida fora do padrão mainstream.


Notas publicadas em sites como: Wiplash e Rock Brigade, começaram a especular sobre a criação da banda e reitero, guardáramos sigilo absoluto sobre a formação do nosso grupo e tais manifestações, foram evidentemente frutos de um vazamento involuntário da informação, portanto.

Sim, com certeza, que essa informação vazou de forma involuntária. A ideia inicial foi manter sigilo do projeto até que tivéssemos ao menos um nome definitivo para a banda, mas como todos nós (Alex Soares e Tadeu Dias, bem menos), mantínhamos carreiras longas e com passagens por trabalhos anteriores significativos, foi natural que houvessem especulações. 

E de fato, essa nota que foi publicada na revista: "Batera e Percussão" foi a primeira na imprensa escrita tradicional, mas já estavam a surgirem outras em sites da internet, a conter várias notas com a manifestação de boatos & rumores.

No caso do site, Wiplash, o infeliz título que usaram ("ex-Patrulheiros montam nova banda"), nos causou um certo mal-estar, pois o baterista, Rolando Castello Júnior, da Patrulha do Espaço, foi induzido a pensar que estávamos a alardear tal informação propositalmente, para visar nos aproveitarmos do nome da nossa ex-banda, quando isso não fora a verdade, absolutamente.

Nessa foto acima da autoria de Grace Lagôa, o Pedra está representado na formação como quinteto, reunido na sala da técnica do estúdio Overdrive, em janeiro de 2005, sob um momento de ensaio

Pelo contrário, de certa forma, queríamos deixar claro que o Pedra continha uma outra proposta artística, muito mais ampla e desvinculada do nicho do Rock pesado. 

Mas foi natural que houvessem mesmo tais boatos. Após tantos anos marcados pela luta, com tantas bandas, foi um consolo constatar que o meu nome em particular, provocasse especulações através da imprensa especializada, pelo menos isso, se eu nunca conseguira militar no mainstream da música...

Continua...

2 comentários:

  1. Iniciando minha aventuras pelo Planeta Pedra com as ja grandes narrativas desse grande Musico , Luiz Domingues, do qual somos um grande fã.Da propria Banda Pedra que ja conhecemos muito bem , obrigado por existirem. .Obrigado mais uma vez pela Historia da sua grande Trajetoria e Jornada no Planeta Agua digo Rock.Ate as proximas leituras .

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  2. Exatamente, amigo Oscar !

    Quase encerrando o texto dessa minha narrativa, estou tratando do Pedra nesse momento e logo mais, entro nas bandas onde estou na atualidade, e portanto, com histórias ainda vivas sendo construidas no cotidiano.

    Muito feliz por saber que está acompanhando !!

    Grande abraço !!

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