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domingo, 13 de dezembro de 2015

Patrulha do Espaço - Capítulo 13 - Missão Cumprida na Área 13 - Por Luiz Domingues

Disco gravado, missão na área 13, cumprida. De volta a São Paulo, não teríamos mais compromissos para os últimos dias de 2003.
Foi a hora para fazer um balanço final desse ano, que encerrara-se.
2003, foi o ano em que finalmente concluímos o projeto de lançarmos um novo álbum de nossa formação. Talvez tenha sido o grande feito desse ano para a banda, pois além de ter sido um ponto de honra desengavetar esse projeto, que fora tão sofrido para se concretizar, significou a consolidação de nossa formação.

Não que o CD Chronophagia não fosse marcante o suficiente para demarcar tal façanha para a história da banda, mas com um segundo disco, creio que tornou-se irrefutável o argumento de que nossa formação se garantia como histórica para a trajetória da banda, ao se colocar lado a lado com a fase inicial com Arnaldo Baptista e igualmente com a fase de ouro do trio Junior/Serginho/Dudu. Portanto, foi motivo de orgulho, certamente. 

Todavia, nós tivemos um ano mais difícil no tocante à agenda. Fizemos muito menos shows do que em 2002, isso foi um fato, e também se gerou um desgaste natural no âmbito interno, que toda banda atravessa, mais cedo ou mais tarde.

Marcello e Rodrigo já não demonstravam aquela garra inicial com a qual se moviam no auge da sua extrema juventude vivida nos tempos de suas respectivas atuações em prol do Sidharta. E não havia mais aquela firmeza toda em torno dos ideais aquarianos, que norteara a euforia inicial vista em 1999 e 2000, e claro, através do cotidiano, marcado pelos problemas prementes em se viver o tempo todo a pensarmos em viabilizar receitas e lidar com problemas nem sempre ligados a música, forjaram aborrecimentos múltiplos para todos os membros. 

Cuidar da manutenção de um ônibus não é nada agradável, por exemplo, e assim, toda vez em que eu me vi a lidar com borracheiros, mecânicos & afins, para tratar de assuntos que detesto desde sempre, eu pensei que a música passara ao largo, a arte se revelava como uma uma miragem e o Rock, se transformara em um sonho distante e apenas forjado no celuloide dos filmes que eu havia assistido no Cine Bijou, nos anos setenta...

Um alento seria o lançamento desse novo disco e a esperança por dias melhores, com mais oportunidades, portanto, quem saberia afirmar isso com absoluta certeza, afinal?

Não podíamos nos queixar da mídia especializada impressa, no entanto, que nos tratava com a devida reverência, é bem verdade, e de forma surpreendente, até com algumas ocasiões em que a mídia mainstream notou a nossa presença. 

Todavia, no cômputo final, foi pouco diante de nossas necessidades mais básicas. Sem empresário e a contar com os esforços do próprio, Rolando Castello Junior, que se desgastava tremendamente em arquitetar turnês, foi louvável que tenhamos tocado tanto entre o final de 2001 e até meados de 2003, mas nesse novo momento, estávamos a viver um período sob seca de oportunidades e isso gerava tensões múltiplas. 

Havia uma esperança em torno do novo disco, mas ao mesmo tempo, o desgaste estava grande e foi assim que encerramos, 2003, com uma certa esperança de que teríamos uma melhora em 2004, todavia, ao mesmo tempo, cansados das dificuldades que nos sobrepunham.

Quando 2004 amanheceu enfim no horizonte, tivemos a esperança de que o novo e ótimo disco que havíamos acabado de gravar, nos desses novas oportunidades. Mas por sermos realistas, sabíamos que o que necessitávamos verdadeiramente seria uma revolução por completo no panorama da difusão cultural mainstream, para termos espaço e isso foi um desejo utópico em um país como o Brasil e naquela época, a mísera fresta que havia em nossa frente, como pedaço desse quinhão, estava amarrada com um nicho de bandas da cena "emocore", formada por garotos incautos, muitos deles ainda adolescentes ou recém-saídos dessa fase da vida e certamente controlados por empresários sanguessugas que haviam construído um pequeno império, estruturado como uma autêntica linha de produção de fábrica para fomentar e explorar tal filão.

Foi monstruoso verificarmos tal panorama, mas esses pequenos "Frankensteins" estavam a fabricar bandas sob tais características em seus castelos fantasmagóricos e a lançá-las no mercado, devidamente amarradas com emissoras de Rádio FM, dispostas a fomentar tal cena fraquíssima sob o ponto de vista artístico, com a qualidade musical abaixo do aceitável e por ver tais bandas em ação, mas essa foi a realidade difícil de se lidar.

E isso tudo por considerar se tratar de uma cena minúscula, por que o cenário mainstream já estava dominado em 99 % pelas duplas sertanejas, o axé music, o Forró Techno Brega, o pagode romântico e o crescente "Funk" carioca etc.

Portanto, o estrangulamento foi total para artistas fora do mainstream do nosso tipo, e pior ainda, outsiders em nosso próprio nicho, por sermos considerados "dinossauros" dentro do pequenino espaço que o Rock ainda detinha. 

Bem, desde que sonhamos com toda a ideologia retrô, ainda nos anos noventa, e ao viver os primórdios do projeto Sidharta, sabíamos que seria uma luta inglória, mas as conquistas que tivemos, e neste caso graças a Patrulha do Espaço, que foi em frente, de peito aberto dentro dessa proposta estética e queimou a borracha do pneu na estrada, literalmente, e ante tal constatação, tivemos muitas alegrias, e o leitor mais atento, há de se recordar de que lhe contei inúmeras vitórias incríveis que tivemos entre 1999 e 2003.

Todavia, a despeito do prazer intelectual e subjetivo que tivemos através dessas conquistas, a realidade do cotidiano se forjara de uma forma massacrante quando a sobrevivência foi posta em cheque, e na ponta do lápis, bancar a manutenção de um ônibus, pagar funcionários, bancar a produção de discos & material promocional da banda e inúmeras despesas decorrentes de outros fatores análogos, nos atormentava no cotidiano. 

Como consequência natural, o desgaste interno na banda se acentuou e o clima se deteriorou, com cada componente a perder a paciência com os demais, por nos irritarmos com posicionamentos contrários em várias questões, notadamente no âmbito gerencial, e isso nos subtraiu a energia, paulatinamente.

Se em 2003, tocamos menos do que nos anos anteriores, creio que eu já tenha explicitado essa constatação nos capítulos anteriores, mas no desencadear dos acontecimentos, mesmo cônscios de que o processo fora inerente à nós e não causado por falha humana, claro que tal escassez gerou insatisfação. 

Sendo assim, mesmo ao se constituir de um disco sensacional e certamente gravado sob um clima muito bucólico, proporcionado pelos nossos amigos de São José do Rio Preto-SP, o fato foi que não estávamos 100 % bem, uns com os outros, e se o áudio desse novo disco ficara sensacional na captura, em comparação com os álbuns anteriores, o clima dentro da banda não se mostrara nem 30% igual à empolgação com a qual graváramos o CD "Chronophagia". 

Eu estava fatigado nessa época e começara a ganhar força dentro de minha mente, a ideia de me aposentar da música. 

Sentia-me sem forças, envelhecido (estava com quarenta e três anos e meio de idade, em janeiro de 2004), e absolutamente descrente de que uma banda como a Patrulha do Espaço, com aquela sonoridade pudesse ter esperanças de se manter ativa, sob um patamar digno de sobrevivência, que seria na prática, a sua inserção no universo do circuito Sesc/Senac, um verdadeiro porto seguro para qualquer artista basear e gerenciar a sua carreira. 

Se fôssemos uma banda norte-americana ou europeia, tranquilamente que poderíamos estender a carreira "ad infinitum" sob um patamar super digno, a lançar trabalhos novos regularmente e a realizar shows com qualidade artística, amparados pela infraestrutura que a nossa banda merecia e os seus fãs, igualmente.

Porém, apesar de termos feito muitos shows em unidades do Sesc, por São Paulo e cidades interioranas, entre 2001 e 2003, tal agenda não serviu como aquele "investimento de carreira" que achávamos que surtiria efeito, portanto, cada show, mesmo tendo sido bom (e todos foram, sem dúvida), não nos deu o passaporte para que pudéssemos gozar das benesses dessa instituição, de forma definitiva, como é o caso de muitos artistas medianos que conhecemos e se apresentam nesse circuito seguro, há décadas, e nem vou revelar os seus nomes para não comprometê-los, mas quem frequenta o Sesc, sabe sobre quem menciono, pois eles estão sempre agendados e anunciados na programação das unidades, a utilizar um rodízio gerencial e logístico, bem rotineiro. 

Enfim, creio que mesmo que ficássemos confinados ao circuito das pequenas casas noturnas e a empreendermos exaustivas turnês, como fizéramos entre 2001 e 2003, acho que ficaríamos mais firmes em termos de animação pelo trabalho, mas com a queda de agenda, em meados de 2003, foi difícil manter o ânimo. 

Bem, explicado o panorama da época, afirmo que 2004, começou com o nosso tanque de combustível mais baixo, mas alguns fatos ainda aconteceriam no primeiro semestre e as relatarei, certamente.

Nos meses de janeiro e fevereiro de 2004, o assunto foi a preparação da capa, e a expectativa para se marcar as sessões de mixagem do novo álbum. O Rolando Castello Junior tomou a dianteira de tudo e nos comunicou que o pessoal do estúdio, "Área 13", sinalizara que em janeiro não haveria a chance para haver brecha na sua agenda, para realizarmos as nossas sessões de mixagem. Portanto, a perspectiva seria apenas para fevereiro.

Cabe destacar que ao se comparar com os problemas que tivemos para concluir o álbum anterior, ".Com Pacto", uma espera desse porte não seria nada em tese. E por outro lado, ficamos contentes ao sabermos que o estúdio prosperava, a agendar outros artistas para gravar e mixar em suas dependências. 

Se a nossa participação fora estratégica no sentido da nossa gravação servir como propaganda para o estúdio, a fim de se alavancar os seus negócios, melhor ainda se já estava a dar os seus primeiros passos para a prosperidade e sem necessariamente depender do nosso disco ficar pronto, para lhe servir como vitrine no métier do Rock. 

Sobre a capa do nosso disco, o Rolando Castello Junior já detinha em mente o mote do título do álbum: "Missão na Área 13", seria o seu título.

Todavia, ao contrário do que esperar-se-ia, apesar de toda a insinuação ufológica que tal título poderia sugerir, ele teve outra ideia para a elaboração da capa e sob motivação bem diferente do que imaginar-se-ia, com a profusão de extraterrestres, naves espaciais e afins. 

Dessa maneira, a ideia proposta foi no sentido de retratar os membros da banda na capa, em meio a uma situação em torno da metalinguagem. Ao fazer alusão aos nossos esforços para nos mantermos na estrada do Rock, figurativa e literalmente a falar, a foto ilustrativa deveria passar tal mensagem. 

Então, essa discussão suscitou várias sugestões, até se chegar à resolução final ao nos representar sob uma situação de estratégia militar, ao simularmos uma reunião de cúpula de comandantes, a definir metas de ataque, mediante análise com mapa.

Para quem não sabe, o Rolando Castello Junior gosta muito do assunto, e é bastante versado pela história da Segunda Guerra Mundial, exatamente por conhecer muito a história do conflito e por conseguinte das suas nuances a respeito da estratégia geopolítica e militar de ambos os lados do embate, por ter lido inúmeros livros sobre o assunto. 

Eu conversei muitas vezes com ele sobre o tema, em momentos informais da convivência interna da banda e sabia que ele ostentava uma grande cultura sobre o assunto. Além do mais, ao se buscar um outro mote foi estratégico para quebrar uma rotina, haja vista que a Patrulha do Espaço já havia usado o mote da ufologia, muitas vezes anteriormente. No próprio CD "Chronophagia" essa referência fora clara, apesar de haver alguns signos díspares, simultaneamente, nessa obra.

Mas isso ficara explícito mesmo na coleção de coletâneas denominada como: "Dossiê", que o Rolando Castello Junior havia produzido e lançado, a conter quatro volumes e nesse caso, com todas as respectivas capas a aludiram ao universo Sci-Fi, com motivação interplanetária explícita, retratado em forma de Comics (História em Quadrinhos). 

Portanto, louvo a ideia dele, Rolando, em ter buscado uma outra solução de capa, ao fugir do tema, e ainda mais por se considerar que o título do novo disco se mostrava como uma tentação óbvia para se usar novamente o tema do Sci-Fi/Ufologia/Naves & ET's etc. 

Mais ou menos ao final de janeiro, o Rolando conversou com a nossa amiga, a fotógrafa, Ana Fuccia e começou a planejar a sessão de fotos para essa capa, que fatalmente serviria para se extrair também, fotos promocionais necessárias no processo de divulgação do álbum.

Para a sessão de fotos que comporia a capa do novo álbum, Rolando Castello Junior e Claudia Fernanda se esmeraram para criar as melhores condições possíveis para a fotógrafa, Ana Fuccia poder trabalhar, em uma locação ao ar livre.

Ambos providenciaram, portanto, guarda-chuva fotográfico, iluminação e rebatedores de luz, além de pensarem na direção de arte, com objetos de cena que fariam a composição da ilustração principal. 

Entre nós, os membros da banda, a orientação foi para nos vestirmos a vontade, no uso de figurino de show, mas a evitarmos a cor preta, justamente para quebrar a ideia do PB radical que norteou a concepção da capa do álbum anterior.

Tudo ocorreu em uma noite de um dia útil, creio que foi uma terça-feira, não anotei a data precisa. O ambiente usado como set da sessão de fotos, foi uma laje agradabilíssima que existia na residência de Junior & Claudia, que se tratava de um sobrado amplo, provavelmente uma edificação dos anos trinta ou quarenta do século passado, com vários patamares. 

Tal laje ao ar livre, se mostrara como um espaço livre, intermediário entre a entrada da residência e o portão que dava acesso à rua. Era possível para promover festas ali e de fato, o Rolando comemorou a data do seu aniversário em 2001, com uma festa ali realizada.

A ideia seria que a Ana Fuccia nos fotografasse através do andar de cima, ao nos mostrar em volta de uma mesa, a simular uma discussão em torno da estratégia militar, e na mesa, a conter um mapa ficaria em destaque.

Para buscar tal ângulo, Ana nos enquadrou da janela de um cômodo no primeiro patamar da residência e claro, ali fez inúmeros clicks dessa tomada básica, da qual sairia a ilustração principal da capa. Muitas fotos alternativas foram feitas e uma sessão para a obtenção de promocionais, foi realizada também, a aproveitar a ocasião.

Sobre os objetos de cena, o destaque obviamente foi o mapa do Estado de São Paulo, estilizado com a figura de uma moça (esta conhecida como: "a paulistinha", segundo a tradição do antigo Partido Republicano Paulista que ela representava), em que um suposto lenço e parte de sua própria cabeleira, ajudava a estabelecer o formato geográfico do nosso estado. 

Tratou-se de um mapa muito antigo, e pertencente ao extinto "PRP" (Partido Republicano Paulista), fundado em 1873 e que apoiou décadas depois a revolução constitucionalista de 1932, objeto de uso desse singelo mapa. 

Uma lupa, um par de baquetas, um pote, esquadro, palhetas de guitarra, uma chave de afinação de bateria, um pequeno castiçal com uma vela acesa... enfim, a ideia foi aludir à banda, mas com toda uma aura em torno da estratégia militar em campo de guerra.

A mesa em si, era de fato antiga, também, e nos fora emprestada de um bar temático e localizado no bairro vizinho, o Cambuci, cujos donos eram amigos do Rolando Castello Junior. Não sei precisar, mas acredito que se tratou de uma mesa dos anos 1940, como quase tudo que decorava tal estabelecimento, e portanto, foi uma boa ideia que o Rolando teve para compor a cena da ilustração. 

No cômputo geral, a capa do disco pendeu para o amarelo e o marrom, como tonalidades principais dominantes, muito pela concepção das fotos, a buscar o amarelado da luz diáfana. Foi uma opção da fotógrafa, Ana Fuccia, e acho que ficou bonito.

Sobre o encarte, toda a sua criação ficou a cargo do Rolando Castello Junior. Penso que ele escreve muito bem, e de fato, para quem já leu os livros que acompanham os quatro CD's da coleção, "Dossiê", em que toda a carreira da Patrulha do Espaço é retratada, do primeiro disco pós-Arnaldo Baptista, ao CD Chronophagia, há de se recordar que o texto a contar a história da banda é minucioso e mantém uma narrativa realizada com uma dose de poética e plena de emoção.

Acho esse texto tão bom, que acredito que mesmo quem não conheça a carreira da banda, fatalmente culmina por se interessar em conhecê-la, cativado por seu teor. 

Portanto, mesmo por ser público e notório que eu gosto de escrever e participei desse processo de preparar texto para encartes de quase todos os discos que eu gravei com outras bandas, acho que ficou em muito boas mãos, esse trabalho.

Rolando começa a falar sobre a missão da banda e toda a concepção desse disco que se galgara sob tal mote, ao exprimir um compromisso com o Rock, para espalhá-lo aos quatro cantos, daí a vocação pela estrada que essa banda sempre teve como meio para propagar a sua arte. 

Após comentar rapidamente sobre como fora o ano de 2003 para a banda, sob o ponto de vista do disco anterior, ele mergulhou em uma boa explicação sobre como surgira a oportunidade para se gravar o disco em si, e ainda teve presença de espírito para fazer várias conjecturas sobre a coincidência em torno do número "13", para fazer inveja ao "velho lobo", o mestre Zagallo.

Sob uma forma peculiar para citar a banda, ele usou uma nomenclatura não usual para descrever cada componente e no meu caso, escreveu: "Baixos soberbos, Rickenbacker, Fender e vocais"...

Tomei como um elogio duplo, ao estabelecer menção à minha criação pessoal e também relativa à performance em cada canção, mas também à qualidade de meus "meninos" com quatro cordas. No mais, o encarte contém as informações técnicas sobre o estúdio, seus técnicos, a produção da capa etc. 

Foi justa a menção ao "seu" Walter", o valente motorista/mecânico da nossa nave azul e também aos roadies da banda, Samuel Wagner e Daniel. Michel Camporeze Téer, que foi webdesigner da loja/gravadora Baratos Afins, e da banda "Dr. Sin", nos forneceu uma ajuda substancial na diagramação da capa. 

A seguir, eu analiso a parte musical, faixa a faixa.

Apesar de ter sido um material composto e arranjado às pressas, as canções que formam o álbum, "Missão na Área 13", são muito bonitas e dignificam o trabalho de uma forma muito contundente. Creio que mesmo sob uma situação de pressa e com o astral entre os componentes em franco processo de deterioração pelo desgaste natural que uma banda com cinco anos em atividade, apresentara, a parte artística não só manteve o nível dos trabalhos anteriores, mas creio que os superou em muitos aspectos. A despeito de achar o álbum anterior, ".ComPacto", muito bom, acho que "Missão na Área 13" o suplantou e chegou ao patamar do penúltimo, "Chronophagia".

E isso foi quase um fenômeno, na medida em que já expliquei amplamente que o disco "Chronophagia" fora concebido com toda uma aura plena em ideologia e sobretudo, com muito carinho. Isso sem mencionar que o grande bojo do repertório fora criado com um tempo elástico, ao ter tratado cada música como uma gestação de um filho, passo a passo, com planejamento etc. e tal. 

Portanto, ao atingir tal grau de excelência artística, o "Missão na Área 13" surpreendeu pelo fator da absoluta pressa com a qual fora concebido.

Sinto-me constrangido em falar, mas a despeito de estar a faltar com a ética e a modéstia, um aspecto não pode deixar de ser observado: o talento de Rodrigo Hid e Marcelo Schevano como compositores, foi (é) absurdo. Tanto quanto ambos são monstruosos na capacidade para dominar vários instrumentos e cantarem, é também o seu talento para compor, arranjar e igualmente para escrever letras.

Portanto, artistas completos que são, executam todas as funções da criação e performance musical com um grau de excelência inacreditável, e isso explica a razão pela qual, a toque de caixa, um repertório inteiro foi tirado de uma cartola de mágico, sob um espaço de tempo exíguo e pasmem, a se tratar de um apanhado de canções sensacionais e multifacetadas, bem ao estilo da proposta do álbum Chronophagia, pelo qual as nossas influências musicais calcadas em inúmeros aspectos de um enorme leque aberto, explodiram no disco. 

Falo sobre as canções, agora...

  Eis: "Rock com Roll" do áudio do disco

Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=yuGB3y3B3U0
 
1) Rock com Roll (Marcello Schevano/Rolando Castello Junior)
 
Riff  "ganchudo", lembra bastante o Hard-Rock setentista de bandas como o "Bachman Turner Overdrive", "Blue Oyster Cult", "Bull Angus" e "Foghat", ou seja, apesar do peso e da contundência instrumental absurda, tem um quê de Pop, por incrível que pareça...

As duas guitarras trabalham com uma composição de sobreposições, muito inteligente, como se a tivéssemos ensaiado a exaustão, ou mesmo se a tocássemos ao vivo nos shows, há tempos, mas como já esclareci antes, não foi o caso. 

Marcello e Rodrigo se acertaram em pouco tempo e ficou tudo espetacular, ao meu ver. Rolando Castello Junior arrebenta, como sempre, com uma condução mega inspirada em meio às suas costumeiras viradas impossíveis. Não gosto do som do bumbo logo no começo, ao fazer acentos ainda com a ausência dos demais, mas não pelo arranjo e muito menos pela performance dele, que é perfeita, mas pelo timbre que o deixou "latoso", ao exagerar muito na sensação do "kicking", mas creio que isso tenha ocorrido na masterização que trouxe uma sonoridade muita aguda para o disco inteiro e aí, prejudicou especificamente o bumbo, nessa música, justamente pelo fato dele ter ficado proeminente pela ausência da banda naquele trecho. 

No caso do baixo, usei o Fender Precision e assim como tudo ficou agudo ao extremo por conta da masterização, ele nunca soou tão agudo, em nenhum outro disco que gravei, a usá-lo. Alguns graus a menos, teria ficado melhor ao meu ver, mas também não posso queixar-me por ouvi-lo assim tão agressivo. Parece o baixo do Phil Lynott ("Thin Lizzy"), mas elevado ao cubo, a cortar como uma lâmina, de tão afiado que ficou. 

Sobre o meu arranjo pessoal, eu fiz uma frase com difícil execução na parte da introdução, que também serve ao refrão, e naquela rapidez e com aquele timbre agudo, impressiona, admito. No restante, fico mais comedido, em uma condução em torno do Rock'n' Roll tradicional, ao recorrer à escalas cinquentistas, mas acho que foi o que a música pediu e dei-me ao luxo de usar o recurso de passar pela 9ª; 9ª aumentada e décima, um requinte estilístico mais usado nos anos setenta, e que gosto muito (obrigado, Herbie Flowers!). 

Os solos e contra solos dos nossos guitarristas são ótimos, gosto muito. Tem um interlúdio com a base a deixar acordes soltos, muito bom e o solo é bastante melodioso. O slide no fim da canção é muito criativo, também. 

O vocal do Marcello é bem no seu estilo de voz, com aquele grave natural que ele tem, mas ao rasgar, quase chegou na rouquidão. Os backing vocals estão muito precisos e por incrível que pareça, a minha voz se sobressai de uma forma cristalina, e por força da natureza, eu, entre os três cantores da banda, fui o que tive menor emissão natural e por isso sempre evitei cantar solo, apesar do Rodrigo sempre ter me incentivado a fazê-lo. 

Sobre a letra, acho que se baseia em uma boa ideia e apesar de alguns clichês, que eu não escreveria se fosse o seu autor, acho o mote bom. Tal letra surgiu de una inspiração em uma fala minha, curiosamente, a se tratar de uma ideia extraída de uma resposta que eu emiti certa vez em um programa de TV, que gerou risadas generalizadas. Pois ao ter sido indagado sobre o que eu achava das bandas "moderninhas" que inventavam "misturas" inusitadas em sua obra, eu ironizei, ao responder que a Patrulha do Espaço também costumava fazer uma mistura insólita: misturávamos "Rock com Roll"... tal piada desconcertante em princípio, fora proferida muito tempo antes, mas o Rolando Castello Junior havia adorado a ironia implícita e que batia diretamente nos críticos que eram obcecados em vislumbrar artistas novos, não pela qualidade de seu trabalho, mas pela simples menção de serem estes os futuros "hypes", a demarcarem a próxima moda a ser exaltada.
 
2) Vou Rolar (Marcello Schevano/Rolando Castello Junior) 

"Vou Rolar", do áudio do Disco

Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=fPXEQ0q5LX4

Essa música contém uma letra que eu gosto bastante, pois ostenta um significado interno para todos nós que vivemos essa banda durante esses quase seis anos em que ficamos juntos na formação. Fala da estrada, e sobretudo do que fazia valer a pena todo o esforço e sacrifício pessoal de cada um de nós, para empreendermos turnês exaustivas e através de um patamar com estrutura para artista underground e não o padrão dos mega stars, ou seja, o prazer de se chegar em uma cidade e se deparar com a alegria dos fãs, que por desconhecerem os nossos problemas para podermos concretizar a chegada ali, nos respondiam com a sua emoção. 

Nela, são citadas as cidades de São Carlos-SP, São José do Rio Preto-SP, Chapecó-SC e São Leopoldo-RS, de forma explícita, localidades nas quais nós sempre fomos ovacionados por plateias Rockers quentíssimas. 

Sobre a parte musical, trata-se de um riff mega robusto, a remeter ao estilo do "AC/DC", em sua introdução, mas detém outras influências ali. Acredito que a intervenção do slide deixa algo do "Uriah Heep", claramente sugerido. A condução na bateria ao estilo "tribal", criada pelo Rolando Castello Junior, é sensacional e tem um peso mastodôntico, ao lembrar-me muito o som do baterista, Roger Taylor, em suas intervenções mais Hard-Rock, nos primeiros discos do "Queen". 

A passagem para a parte "A" traz um peso impressionante, ao lembrar o som do "UFO", e deixa-me com a impressão de que uma divisão "Panzer" está a passar por cima do peito. 

Gosto do interlúdio que traz uma dinâmica, e a intervenção do baixo a empreender um looping, com a cabeça do acorde sempre sob uma nota só, e as demais a se intercalarem em progressão sobre os intervalos da quinta justa, quinta diminuta e quarta justa. 

Sobre o baixo, neste caso o Fender Precision roncou forte mais uma vez. Menos ardido que o da faixa anterior, mas não muita coisa, ele rasga com um agudo impressionante, siderúrgico. Inevitável não se lembrar mais uma vez do som do baixo do saudoso, Phil Lynott. 

A opção por abrir o disco com duas músicas desse teor, no limiar do Hard-Rock, e ambas com a voz rasgada do Marcello Schevano, foi ousada, mas ao pensar em um público bem fã da banda, acho que agrada em cheio. Em termos comerciais, não teria sido uma boa escolha, mas uma banda como a Patrulha do Espaço nem pensava em agradar alguém que não fosse apenas o seu público cativo, portanto...

3) One Nighter (Marcello Schevano/Rolando Castello Junior)

"One Nighter", do áudio do disco

Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=itgjuo8yyW0

Nesta faixa, a opção é um Funk-Rock bem setentista e é inevitável não nos lembrarmos de bandas como "James Gang", "Aerosmith", "Trapeze", e o próprio "Deep Purple" em sua fase Mark III, e ainda mais a fase Mark IV. 

O riff inicial é bem no estilo do Aerosmith, com peso a la Hard-Rock, mas a fornecer o balanço irresistível da Black Music. O peso do baixo nesse riff é absurdo e com o brilho do Fender Precision, ficou matador. Nem mesmo o baixista do Aerosmith, Tom Hamilton, creio eu, tenha gravado com um Fender Precision nesses termos, embora geralmente nos discos do Aerosmith e principalmente nos primeiros, dos anos setenta, fosse algo próximo desse patamar. 

A parte "B" explicita o lado mais "Trapeze", e aí é a representação do real Funk-Rock setentista mesmo, sem concessões. Apresentam-se nessas condições, a boa incidência de uma guitarra "cutucada" e o baixo a balançar forte, com o Precision a roncar forte e a lembrar bastante o som do Glenn Hughes. 

O Rolando Castello Junior também balança forte, ao remeter bastante à quebradeira do saudoso, Pedrinho Batera ("Som Nosso de Cada Dia"), mas neste caso do Junior, a conter as suas costumeiras viradas violentas, é claro. 

Há um interlúdio para a aparição de um solo que é bastante dentro do molho do Funk-Rock, mediante um solo de uma delicadeza ímpar, extremamente melodioso. 

De minha parte, eu faço algumas evoluções inspiradas em bandas Funk-Rock setentistas como o "Funkadelic/Parliament", "Kool & the Gang", "Lafayette", "Mandrill", "Earth/Wind & Fire" e acho que ornou bem com o espírito da canção. 

Na parte "A", o Marcello canta, a rasgar como nas músicas anteriores e finalmente o Rodrigo intervém com uma voz solo, ao conduzir a parte "B". Ambos cantaram muito bem, cada um bem ao seu estilo pessoal. Eu não aprecio a letra, no entanto, pois acho que cai na vala comum de muitas bandas que insistem em temática sexista/machista etc. 

Neste caso, acho que tal linha de raciocínio destoa dos princípios que nortearam a determinação dos ideais expressos desde o álbum, "Chronophagia", mas fora o tal negócio: o clima já não se mostrara forjado pela união total no campo interno da banda em torno desses ideais e assim, escorregadas desse tipo foram até compreensíveis. 

Certo, garotas "One Nighter" são comuns nos bastidores de bandas de Rock, principalmente ao longo de turnês extensivas, mas do jeito que a canção desenvolveu-se, pareceu que éramos norte-americanos e o nosso ônibus carregava um harém conosco no desenrolar das turnês, e claro que isso não correspondia à nossa realidade, como Rockers tupiniquins, portanto, bem descapitalizados e assim, sem glamour inerente...

Apesar disso, é divertidíssima a intervenção vocal do Rolando Castello Junior ao final da canção, ao balbuciar a expressão: "One Nighter", em tom jocoso e com aquele vozeirão grave, de fato ficou engraçado por se parecer com a voz gutural do cantor, Barry White. Tanto que ele mesmo brincou com tal referência e citou tal cantor na ficha técnica ("vocal Barry White"). 

A risada em si foi absolutamente espontânea ao final da sua gravação. E durou muito mais que os poucos segundos que ficaram registrados no disco. Contagiou na verdade o estúdio inteiro e demorou para pararmos de rir, pois foi engraçado ao extremo, em sua espontaneidade.

4) Trampolim (Rodrigo Hid)

"Trampolim", do áudio do disco:

Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=VfhryfcA95w

Finalmente uma canção para abaixar a adrenalina, aqui sim, o clima "Chronophágico", renasceu. "Trampolim" trata-se de uma das mais belas canções da nossa formação inteira, ao meu ver. 

O Rodrigo sempre trazia uma canção "Beatle" pronta de casa, em todo disco, mas desta vez, se superou, e digo isso sem nenhum demérito às suas canções gravadas nos discos anteriores, que são belíssimas, mas "Trampolim" é realmente uma que poderia estar inserida em qualquer disco dos Beatles, ou do Paul McCartney solo, pois é de uma qualidade melódica e harmônica, incrível. 

Tudo é bonito nela. Desde a introdução, com a harmonia doce levada ao violão, apoiada pelo slide brilhante, a tecer uma voz de guitarra extremamente melodiosa, das mais inspiradas. 

A interpretação vocal do Rodrigo é perfeita. Lembra o estilo de Paul McCartney é claro, mas tem muito do Rock brasileiro setentista, e também da MPB hippie e maravilhosa dessa mesma década. 

Gravei a minha parte com o baixo Rickenbacker e isso acentuou ainda mais o estilo McCartney explícito, embora eu tenha recorrido à chave de captadores para baixo, para explorar o médio/agudo, mais ao sabor "Progger". Nesses termos, para os ouvidos mais atentos, vai lembrar o som do Beto Guedes, pode reparar o leitor/ouvinte. 

Gosto muito não apenas do timbre do "RK", como também das soluções que criei para compor a minha linha de baixo. E para realçar ainda mais o McCartney, a entrada do órgão Hammond ao final, lembra a canção desse grande meste: "Maybe I'm Amazed", e a interpretação vocal do Rodrigo, explode, inclusive com a aparição de um segundo canal com um vocalise a desenhar uma melodia diferente. 

O Rolando Castello Junior montou uma bateria perfeita, com apenas pontuais intervenções mais fortes, ao realçar a melodia. Marcello arrebenta no uso do slide à guitarra, ao realçar sem dúvida uma de suas melhores criações para contrasolos em todos os discos da Patrulha do Espaço em que ele gravou. 

A letra é linda, e aí sim no espírito com o qual nos unimos ainda fora da Patrulha do Espaço, eu (Luiz), Rodrigo & Marcello, quando criamos o projeto do Sidharta, com toda aquela atmosfera em torno dos ideais aquarianos das décadas de 1960 & 1970. 

Rodrigo usa da poesia e da metáfora com muita propriedade, para nos provar mais uma vez que também era (é) um poeta, e ali, no subliminar, há uma dose de espiritualidade sutil em algumas colocações que ele estabeleceu:

 "Estou chegando na ponta de um trampolim/O mergulho vai ser para dentro de mim/Na minha mente paira a eterna ideia da missão, pois cada passo é um passo e cada tropeço, a lição/A vida é um novelo de lã, e eu... o gato a brincar com moinho de vento"

5) Quando a Paixão te Alcançar (Marcello Schevano/Rodrigo Hid/Rolando Castello Junior)


"Quando a Paixão te Alcançar", do áudio oficial do disco:

Eis o link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=X2IBMkk47Do

A se tratar de mais uma canção com acento no Funk-Rock, no entanto, aqui está mais próxima da Soul Music. Há muito balanço, inegavelmente e uma sensualidade implícita também, que remonta de certa forma ao trabalho solo de Rod Stewart, nos anos setenta. 

A música começa com uma insinuação das duas guitarras como se fosse uma jam-session livre e nesse caso, com o som "apodrecido", como se estivesse a ser escutado em um radinho de pilhas, mediante frequências esmagadas pelos alto-falantes "liliputianos" desse tipo de aparelho sonoro. 

Porém quando a faixa começa para valer, tudo clareia e a banda entra com peso e timbre, naturalmente. Entrecortado ritmicamente, lembra bastante o som do "Santana", ainda mais com a presença de uma percussão descoladíssima que o Rolando Castello Junior concebeu e gravou com a apoio do nosso amigo, Junior Muelas. 

Com cowbell e o guiro (este último instrumento, no Brasil, costuma ser chamado como: "reco-reco"), o balanço que essa música ganhou foi impressionante, e tornou-se mesmo um atrativo e tanto para a banda. 

As guitarras "cutucam" o tempo todo e o baixo segue na linha da Soul Music, a buscar o máximo do balanço a despertar no ouvinte a vontade de dançar. Gravei com o Fender Precision para buscar o registro mais grave, aveludado, principalmente ao pensar nesse sabor da "Soul Music", mas o baixo ficou com um brilho agudo além do normal, graças à masterização, todavia não me queixo, por que ficou incrível, mesmo ao não ser exatamente o timbre que eu planejara. 

Portanto, tem o peso normal de um Precision tradicional, mas com um timbre metálico brilhante acentuado porém muito bonito, em minha opinião. Em alguns momentos, o Rolando Castello Junior improvisou uma batida bem ao estilo do "Deep Purple", a lembrar a canção: "You Fool no One". 

Foi improviso mesmo em sua gravação e quando eu gravei o baixo, separadamente, claro que realcei isso, ao fazer um desenho com proposital reforço rítmico a usar tônica e oitava. 

E acho que ficou muito bonito. Há um interlúdio para a intervenção de um solo de duas guitarras em duo, que é um primor, na minha opinião. Ali, se instaurou como uma incorporação de cunho mediúnico mesmo, o espírito do "Wishbone Ash", e é tão bonito que toda vez que eu escuto, fico a torcer para que se alongue tal parte, mas infelizmente é uma intervenção curta, mediante três módulos apenas, com direito a uma subida de tom, na terceira repetição. 

Sutil, mas linda, igualmente, é a presença de um piano Fender Rhodes nesse trecho. Ao final, o Marcello gravou um solo curto, mas eficiente com o saxofone. A sua incrível capacidade para dominar inúmeros instrumentos, mais uma vez trouxe esse brilho extra para a banda, certamente. 

A interpretação vocal do Rodrigo é boa, como sempre, porém mais uma vez acho que a letra deixa a desejar. Por tratar de sensualidade, ao falar sobre conquistas amorosas noturnas e que tais, não foi a melhor solução para se escrever, acredito, ao pensar no meu gosto pessoal e ainda mais por se imaginar os princípios que estavam a se esvaírem nessa fase da banda, infelizmente. Mas entendo que a música continha uma sensualidade implícita, e assim, por outro lado, falar a respeito de gnomos ou seres extraterrestres, talvez destoasse de sua intenção subliminar.

6) Tão Perto Tão Distante (Marcello Schevano)

Veja abaixo um vídeo montado por um fã, provavelmente para homenagear a sua namorada, pelo teor das fotos editadas, mas positivo pela iniciativa em usar a nossa música, como sua inspiração romântica.

Eis o Link para assistir no YouTube:

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=dUIrdHqi3u8 

E o áudio da canção, direto do CD oficial: 

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=3qz4PaJWF_U

Quando o Marcello nos mostrou essa canção nos ensaios, para definirmos o repertório desse disco, claro que a tratamos como a uma composição fortemente inspirada na escola do Prog-Rock setentista sob uma avaliação preliminar, porém em alguns aspectos, ela contém muito a influência do estilo Southern-Rock, e nessa junção bastante improvável, acho que acertamos a mão no arranjo, ao usarmos as duas influências tão distintas entre si, com coesão. 

Bem, assim como "Trampolim" do Rodrigo, "Tão Perto Tão Distante" é também uma canção belíssima, pela melodia, harmonia, letra e arranjo final. Considero-a, uma das melhores do disco, pela sua carga a conter muito sentimento e profundidade. 

Claro que para quem é fã de estéticas dos anos setenta, só por ouvir a introdução com um órgão Hammond pontuado pela caixa Leslie, já desperta a simpatia imediata. O piano acústico a desenhar por baixo, é belíssimo, igualmente. É uma sutileza mixada para ficar quase imperceptível, mas convido o leitor a prestar atenção nesse detalhe, quando ouvi-la novamente. 

O Rodrigo, desta vez, foi quem pilotou os contrasolos de slide à guitarra e brilhou muito. São muito lindos os desenhos que ele criou. E é na parte B que mais se parece com a escola do Southern-Rock norte-americano, ao lembrar bastante o som do grupo "The Allman Brothers Band". 

Gravei com o baixo Rickenbacker, mais a pensar em Prog-Rock inglês, do que Southern-Rock norte-americano, mas se tivesse optado pelo Fender Precision, acho que teria sido correto, também. 

Sobre o Rickenbacker, o timbre agressivo o deixou tão característico de si próprio, que nesse caso, acho que dei sorte com a masterização, que tratou de realçar os agudos no resultado final. Nem seria o caso pela docilidade da canção (com exceção do solo de Hammond, mais proeminente), mas ficou espetacular. 

Nos discos do "Pedra", o som do meu Rickenbacker ficou bom, mas acredito que neste disco da Patrulha do Espaço, eu alcancei o melhor resultado sonoro com tal instrumento, mesmo que tenha sido um golpe fortuito da sorte, graças ao efeito involuntário da masterização final. 

Um lindo solo de órgão Hammond executado pelo Marcello, lembra bastante o som de bandas Prog-Rock, britânicas. É o som do Rick Wakeman, em dose maciça, se pensado nesses termos de comparação livre. 

Intervenções pontuais com sintetizador, são sutis, mas estão lá, basta se prestar a devida atenção. A interpretação mais suave do Marcello, nesta peça, que mais contrastou com vocais mais rasgados de outras interpretações de sua parte, lembra bastante a voz do Tim Maia, em baladas Soul. Gosto bastante, portanto desse resultado. 

A letra contém uma certa intenção romântica, mas acho que o Marcello foi feliz e não correu nenhum risco em soar piegas, um perigo constante para quem se propõe a abordar tal tema.

7) Universo Paralelo (Marcello Schevano/Rodrigo Hid/Luiz Domingues/Rolando Castello Junior)

"Universo Conspirante", do áudio do disco:

Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=LDcfa4iB8i4


Essa foi a única música que tínhamos antes de nos reunirmos para definir o repertório do disco e até já a tocávamos nos shows, em 2003. Fruto de uma jam-session, foi fruto de uma criação coletiva, daí os nomes de todos na assinatura da composição, embora o riff primordial tenha sido uma ideia do Marcello Schevano. 

Bem, neste caso se trata de um Blues-Rock pesado, mais ou menos na linha de "São Paulo City" (esta, presente no disco anterior), mas com certos elementos do Jazz-Rock, em sua constituição. 

O riff é poderoso e as partes "A" e "B" são muito fortes, com uma intensidade impressionante. A linha melódica a costurar o riff e cantada em coro por nós três (eu/Luiz, Marcello e Rodrigo), no refrão, tem uma força dramática, enorme. Gosto bastante da parte "A" cantada pelo Rodrigo, também entrecortada no Riff. 

Tudo soa poderoso na música, com um peso incrível, e o solo tem uma parte feita em duo, mais uma vez a lembrar o trabalho do "Wishbone Ash", mas aqui com mais peso do Blues-Rock ao estilo do "Mountain", "Blue Cheer" e do próprio "Led Zeppelin" dos seus primeiros discos etc. 

A letra, como eu já revelei em capítulo anterior, foi escrita no último dia de nossa permanência no estúdio/chácara, "Área '13". Lembro-me do Rolando Castello Junior a finalizá-la ao ar livre, certamente para buscar inspiração em meio ao bucolismo ali presente. 

Contudo, a letra nada tem de "silvestre" e pelo contrário, é densa, super urbana e mantém como tema a teoria da conspiração, vista pelo prisma da visão generalizada sobre a questão do poder oculto e manipulação. Enfim, a considero como uma letra forte e que condiz com a densidade proposta pela música.

8) Phrâna (Marcello Schevano)

Eis o link para ouvir a canção no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=9yWjB_34YQ4 

Sobre essa canção ultra Prog-Folk e hippie ao extremo, o Marcello a havia composto, há muito tempo. Mas nós nunca havíamos tido tempo para nos dedicarmos à ela, anteriormente. 

Reputo ter sido uma ótima ideia incluí-la no disco, pois ela é de uma beleza incrível e super a ver com o espírito aquariano perdido na banda em termos de ideais.

O seu arranjo ficou maravilhoso. Canção em fórmula de compasso, 6/8, mais ou menos resgatou a linha de "Céu Elétrico", e tem aquele sabor Prog-Folk setentista, ao evocar também o Folk tupiniquim, com o Rock rural de: "Sá/Rodrix & Guarabyra", "Secos & Molhados", "Bendegó", "Flying Banana", "O Terço" e tantos outros exemplos setentistas sensacionais, que gostávamos (gostamos). 

O trabalho de violões feito por Rodrigo e Marcello é magnífico. Eles fazem tantos dedilhados inspirados que chega a lembrar o som flamenco e intrincado de Paco de Lucia e congêneres. 

O meu Rickenbacker falou alto mais uma vez. Aquele timbre médio/agudo e encorpado que ali gravei, é um dos melhores sons de com esse baixo que eu já gravei na carreira toda. 

Gosto muito das sutis percussões que estão ali inseridas, a auxiliar a bateria corretíssima que o Rolando Castello Junior criou. 

Marcello a cantou com intensidade e os backing vocals são muito bonitos. Há uma intervenção rápida da flauta do Marcello, sob um micro solo que passa ligeiro a demarcar um solo. 

A letra é toda calcada em espiritualidade pelo viés hippie e a buscar referências na Índia. Fala em "prana", a energia vital que se espalha no ar e através da respiração, segundo os yogis, é passível de ser absorvida por qualquer pessoa, ao promover o seu inerente bem-estar. 

Tenho, no entanto, uma séria dúvida sobre o título, em termos de sua correta maneira de ser escrita em português. Dessa forma, creio que deveria ser como: "prana", sem o "h" adicional e o acento circunflexo na primeira letra "a", como o Marcello a batizou (Phrâna). 

Em sânscrito, transcrito em caracteres ocidentais, existiria um acento exótico para nós, sobre a primeira letra "a", algo como um "underline", mas do jeito que o Marcello quis que ficasse, "Phrâna", receio não fazer sentido, e pode até induzir algumas pessoas a interpretar a junção "PH", com a fonética antiga da letra "F", ao chamar a música como: "Frana", erroneamente. Paciência...

9) Anjo do Sol (Rodrigo Hid)

Eis o áudio oficial de "Anjo do Sol" do disco "Missão na Área 13" e o seu link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=aZQsaGJ_vPg

Eis aqui um tema eminentemente Prog-Rock. O Rodrigo o trouxe praticamente pronto em sua concepção total e nós só o ajudamos a montar as partes da suíte, para arranjá-la, paulatinamente. 

Bem, como peça tipicamente Prog-Rock setentista, tem muitas imagens sobrepostas, como em um grande mosaico. A sua introdução ao piano é muito bonita, ao trazer uma harmonia um tanto quanto melancólica, ao estilo do "King Crimson", e eu sei o quanto a obra do grande Rei Escarlate influencia o Rodrigo muito bem e ainda bem. 

Segue-se daí uma parte de intensa massa instrumental. Logo de início, ao sair do piano solo, a banda mergulha em uma progressão com dois acordes sob aceleração total e que lembra bastante o trabalho da banda italiana Prog-Rock italiana, "Banco Del Mutuo Soccorso". 

A seguir, partes diferentes propõem mudanças frenéticas. Uma rápida intervenção que lembra o som de "Emerson/Lake & Palmer", se emenda em um passeio proposto pelo órgão Hammond, bastante ao sabor do "Focus" e do "Atomic Rooster". Convenções muito rápidas e precisas abrem o caminho para um final apoteótico que lembra muito o trabalho do "Genesis". 

Com um vocal muito emocionante, cantado por nós três, em vocalise, realmente é muito bonito e inspirador tal momento a denotar grandiosidade e eloquência. Acho que é uma das músicas mais emocionantes no disco, e foi uma pena que tenha sido tão pouco executada ao vivo, pois nos emocionava e nas poucas vezes em que a tocamos, causou comoção ao público, principalmente pelo trecho final com apelo tão emocional e muito melodioso. 

Gravei com o baixo Rickenbacker e mais uma vez o som ficou matador. Acho que já mencionei amplamente o fator que gerou essa carga a mais de agudos que se impregnou para o disco inteiro, mas no caso específico do Rickenbacker, que é um baixo que poucos técnicos sabem gravar no Brasil, acho que eu obtive uma sorte imensa, pois ele soa exatamente como deve soar. Sobre os demais instrumentos, todos brilham muito. 

O Rolando Castello Junior massacra na bateria, ao realizar levadas e frases que só bateristas dotados de um altíssimo nível técnico o fariam, e esse é o seu caso, naturalmente. 

Já o Marcello introduz um fraseado belíssimo à guitarra que realçou a parte final, ainda mais. É um item que ajudou decisivamente a criar a emoção que eu mencionei anteriormente. As intervenções com sintetizadores da parte do Rodrigo, também são muito boas. 

Em suma: mesmo em sendo uma música instrumental, acho que teve no vocalise algo tão significativo, que realmente dispensou a palavra cantada.

10) For Loonies Only (Rolando Castello Junior)  

Nessa versão acima, "For Loonies Only" traz também em anexo a faixa posterior, "Véu do Amanhã"

Eis o link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=NcLW2UkDAIQ 

Uma tradição iniciada no CD Chronophagia, o Rolando Castello Junior sempre gravava uma vinheta instrumental, somente com a bateria, geralmente um improviso gravado a esmo após encerrar a gravação de todas as faixas do disco. 

Desta feita, no entanto, ele planejou a sua performance e trabalhou com os técnicos em relação a obter alguns efeitos interessantes com delay. O título em inglês, diz tudo: "para lunáticos, apenas", ou seja, é uma boa menção à loucura, e entendido pela luz do desbunde contracultural sessenta-setentista, tal menção à loucura é um elogio, e não me refiro-me à filosofia de Erasmo de Rotterdam...

11) Véu do Amanhã (Marcello Schevano)

A) O Agora

B) A Confortante Incerteza do Futuro

  "Véu do Amanhã", do áudio do disco

Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=HmS9_xyHe1E


Bem, aqui temos mais um tema Prog-Rock do disco e desta feita a radicalizar ainda mais que "Anjo do Sol", pois a letra da canção mergulha em considerações subjetivas sobre a expectativa do homem em relação ao tempo/espaço em termos metafísicos, ou seja, um hermetismo nada Pop, mas que eu defendo enfaticamente enquanto peça artística, e que se danem os mercantilistas que enxergam a música como um mero produto de gôndola de supermercado. 

Sobre a parte musical, a simples menção a dois subtítulos, já deixa clara a intenção em se portar abertamente como uma peça "Prog Rock", sem concessões, ao rezar pela cartilha setentista clássica do gênero. 

Inicia-se com um belo prólogo comandado pelo piano, contém intervenções muito bonitas da guitarra do Rodrigo e entrecortadas pela bateria com o baixo Rickenbacker que mais uma vez rasga na carne, mediante o seu potencial natural em termos de peso e timbre, inigualáveis. 

Logo o apoio do órgão Hammond chega e o peso toma conta da música de forma total. Também existe o apoio de sintetizadores, ao estilo Moog, além de intrincadas partes permeadas por fraseados rápidos, a proporcionar que todos os instrumentistas brilhem bastante em seus arranjos pessoais. 

A referência ao "Emerson/Lake & Palmer", "Banco Del Mutuo Soccorso", "Triumvirat", "Trace" e "Omega", para citar algumas poucas bandas Prog-Rock com sonoridades parecidas e todas setentistas, é total. 

São partes bastante agressivas e que exigiram muita concentração dos quatro instrumentistas. A parte final tem uma particularidade engraçada, até. A despeito de sua beleza incrível, a frase contínua e ultra-melódica que o Rodrigo criou na guitarra, lembra de certa forma, a melodia da música: "Leãozinho", do Caetano Veloso. 

Não se trata de plágio, pois não caracteriza ipsis litteris tal semelhança, mas induz o ouvinte a lembrá-la vagamente e assim, claro que muitas brincadeiras surgiram já desde os ensaios que fecharam o arranjo da música a fazer menção ao fato. 

Independente disso, a parte final também executada em looping, tal qual "Anjo do Sol", emociona, e muito. 

Por fim, se nota uma intervenção robótica ao final que lembra a parte final da "Karn Evil 9/Third Impression", do Emerson/Lake & Palmer, é se mostra bastante interessante, portanto. 

Sobre o meu baixo, creio já ter dito que mais uma vez o som do Rickenbacker, ficou excelente, ao me deixar bastante satisfeito com o resultado. 

Em suma: isso é "Missão na Área 13", um disco gravado sem muito planejamento, mas que diante das circunstâncias, ficou muito melhor que os anteriores, no quesito do áudio. 

Agradeço muito a Fabio Poles, Gustavo Vasquez e Alberto Sabella, que nos proporcionaram tal oportunidade para usarmos o seu ótimo estúdio, e sobretudo pelo empenho que tiveram para operar essa gravação, com carinho e para torná-la, a melhor gravação que a Patrulha do Espaço teve em nossa formação e quiçá da sua carreira toda até aquele ponto da sua história. 

Agradeço também a Junior Muelas, que ajudou muito no processo todo.

Continua...

2 comentários:

  1. Nossa que bela trajetoria dessa grande Banda De Rock com Rollllll, PATRULHA DO ESPAÇO ,so mesmo voce escrevendo a gente como fã do lado de cá vai poder saber como foi toda essas Viagens Cosmicas na Nave Mãe ( como diz o Mestre Junior ), pilotadas por grandes Musicos que temos o prazer de conhecer aqui a Hisotira e Epopéia dessa Fase tão importante dentro do cenrario Musical do nosso bom e velho Rockroll, obrigado por mais uma ves por linda Autobiografia grande Mestre dos Baixo , nosso Amado Luiz Domingues .abraços .

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  2. Sensacional saber que está acompanhando, amigo Oscar ! Ainda vem mais alguns capítulos da Patrulha do Espaço, para a conclusão dessa etapa da minha autobiografia.

    Em breve !!

    Abraço !!

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