Após essa aventura insana que tivemos em Águas Claras, aconteceu o início da fase mais intensa de shows, nesta minha segunda passagem pela banda. Entramos
em uma temporada longa através do Teatro Lira Paulistana, com o primeiro show ocorrido no dia 8 de março de 1984, perante um público com duzentas e oitenta pessoas. No
dia seguinte, 9 de março, atraímos trezentas e vinte pessoas. No sábado, dia 10 de
março: trezentas e oitenta pessoas passaram pela bilheteria, e no domingo, dia 11 de
março, trezentas pessoas.
Foi um começo promissor demais para essa temporada,
ao levar-se em conta que a capacidade oficial do teatro Lira Paulistana, batia na casa
dos duzentos espectadores. Dessa forma, conseguimos então superlotar as
dependências, em um ótimo sinal de que a temporada seria vitoriosa.
A perspectiva foi no sentido de se contar com um bom público em dias improváveis, e super-lotação
nos finais de semana. E o mais extraordinário, ao comparar-se aos dias
atuais (2015), foi que não houve um grande
esforço de divulgação. O prosaico método do "boca-a-boca" garantia esse sucesso, com pouco
suporte de material de cartazes, filipeta ou lambe-lambe. Nem cogitava-se anúncios pagos em jornais e revistas, tampouco chamadas de
rádio e claro, comerciais na TV, nem pensar pelos seus preços
proibitivos. Logo no começo dessa temporada, lembro-me que fomos
escalados para participar de um programa musical dito jovem, produzido pela hoje extinta, TV
Manchete.
A gravação foi realizada em locação, dentro de uma casa
noturna então "moderninha", localizada no bairro do Morumbi, zona sul de São
Paulo. Apesar de não conter característica de banda de Rock, o Língua
de Trapo estava naquele contexto, e eu recordo-me bem, participaram também daquela
gravação os grupos: Kid Abelha, Lobão e os Ronaldos, Paralamas do Sucesso, e
mais próximo da nossa realidade, o Premeditando o Breque, igualmente uma
banda de sátira e humor, e também egressa do movimento, "Vanguarda
Paulista".
Como de praxe, os membros da produção do tal programa, mostravam-se
bem afetados. Excepcionalmente, algumas pessoas chamaram-me a atenção
por serem altivas além da conta. Foi um festival de rispidez e nariz
empinado perpetrado por certas meninas produtoras, que impressionou-me pela empáfia em demasia.
Dava-se um
desconto por serem estagiárias, e estarem naturalmente inebriadas por
estarem a trabalhar na TV, e assim lidar com artistas que estavam na "crista
da onda", caso das bandas do BR-Rock oitentista, mas que foi exagerado,
isso foi, certamente.
O Língua de Trapo gravou a sua participação a dublar a música: "Vampiro
S/A", do primeiro LP. Se tratava de um simulacro de Heavy-Metal, com o Laert
a entrar em cena caracterizado como o Conde Drácula, e a traçar toda uma ironia em torno do
verdadeiro vampiro, que é o criminoso do colarinho branco, sugador do
sangue do povo etc. e tal.
Nos shows, essa encenação era engraçadíssima,
com o ator, Paulo Elias, a interpretar o assistente corcunda, muito genial como
escada da sketch. Como tudo isso fazia sentido no contexto da sátira,
claro que no show era incrível, mas jogado a mesmo como uma apresentação
normal de uma banda, causou estranheza naquele programa. Muita gente ali
não percebeu o caráter de sátira e ficou com aquela expressão facial de
desaprovação, por não entender como aquela apresentação estranha estava em meio aos Rockinhos
insípidos ao frescor em voga da "New Wave", apresentados pelos artistas do então em voga movimento "Br Rock 80's", ali presentes. Bem, isso não alterou a cotação do dólar, nem abalou as Nações Unidas, mas foi engraçado naquele
momento.
De volta à temporada no Lira Paulistana, a segunda semana foi assim, em termos de público: dia 14 de março de 1984, cem pessoas. Dia 15 de março de 1984, duzentas. Dia 16 de março de 1984: trezentas pessoas. Dia 17 de março de 1984, trezentas e vinte pessoas. Dia 18 de março de 1984, com quatrocentas pessoas.
Um fato curioso ocorreu no dia 17, um sábado. Nesse mesmo dia fizemos dois shows, pois cumprimos um show de choque no TUCA, no período da tarde, dentro de um evento com outros artistas. Nesse show extra, houve cerca de quatrocentos pessoas na plateia.
Um fato curioso ocorreu no dia 17, um sábado. Nesse mesmo dia fizemos dois shows, pois cumprimos um show de choque no TUCA, no período da tarde, dentro de um evento com outros artistas. Nesse show extra, houve cerca de quatrocentos pessoas na plateia.
Mais uma nota sobre a temporada no Teatro Lira Paulistana na Folha de São Paulo. Acervo e cortesia de Julio Revoredo
Fizemos essa apresentação rápida, e fomos direto ao Lira Paulistana, para a passagem de som, e pouco tempo depois, estávamos a realizar o show completo, para um ótimo público, composto por trezentas e vinte pessoas, conforme eu já descrevi acima. Tempo muito bom das chamadas, férias robustas, com shows todos os dias e as vezes, dois no mesmo dia...
Fizemos essa apresentação rápida, e fomos direto ao Lira Paulistana, para a passagem de som, e pouco tempo depois, estávamos a realizar o show completo, para um ótimo público, composto por trezentas e vinte pessoas, conforme eu já descrevi acima. Tempo muito bom das chamadas, férias robustas, com shows todos os dias e as vezes, dois no mesmo dia...
Na foto acima, Fausto Silva ainda não famoso como nos dias atuais, a conversar com Goulart de Andrade, o saudoso jornalista, nas dependências do Teatro Pimpão, no bairro de Santa Cecília, centro de São Paulo, onde apresentava ao vivo, o programa:"Balancê", da Rádio Excelsior/Globo, no início dos anos oitenta
Nessa época, continuamos a conceder muitas entrevistas para a imprensa escrita, e participar de programas de rádio e TV. Lembro-me de nossa primeira participação no programa de Rádio, "Balancê", da Rádio Excelsior/Globo de São Paulo. O programa era um misto de noticiário esportivo, com variedades artísticas, e acontecia de segunda a sexta, no horário do meio-dia, considerado nobre no Rádio e na TV, para típicos programas esportivos.
Nessa época, continuamos a conceder muitas entrevistas para a imprensa escrita, e participar de programas de rádio e TV. Lembro-me de nossa primeira participação no programa de Rádio, "Balancê", da Rádio Excelsior/Globo de São Paulo. O programa era um misto de noticiário esportivo, com variedades artísticas, e acontecia de segunda a sexta, no horário do meio-dia, considerado nobre no Rádio e na TV, para típicos programas esportivos.
Na foto acima, dos anos setenta, Fausto Silva a atuar como repórter de campo, da Rádio Jovem Pan AM de São Paulo, e a entrevistar o jogador, ponta-esquerda do São Paulo FC na ocasião, José Carlos Serrão, possivelmente antes de uma partida iniciar-se. Assisti muitos jogos em estádios nessa década, e vi sempre a presença do Faustão a entrevistar jogadores dentro do campo
O apresentador era um ex-repórter de campo de futebol, um sujeito robusto e desinibido, chamado: Fausto Silva. Às vezes o locutor esportivo, Osmar Santos também o apresentava.
O apresentador era um ex-repórter de campo de futebol, um sujeito robusto e desinibido, chamado: Fausto Silva. Às vezes o locutor esportivo, Osmar Santos também o apresentava.
O grande, Osmar Santos, locutor esportivo que brilhou muito nas décadas de setenta a noventa, principalmente
E todo o apoio era dado pela equipe esportiva da casa, com os típicos boletins de cada clube paulistano, gravados através das chamadas "sonoras". Esses boletins com novidades do cotidiano de cada clube, eram intercalados com as variedades artísticas. Geralmente haviam mais atrações musicais, e atores a divulgar espetáculos teatrais.
Mas tudo isso não acontecia no tradicional estúdio da Rua das Palmeiras, no bairro Santa Cecília, centro de São Paulo, e sim, direto de um pocket-teatro localizado a um quarteirão apenas dos estúdios da Rádio.
E todo o apoio era dado pela equipe esportiva da casa, com os típicos boletins de cada clube paulistano, gravados através das chamadas "sonoras". Esses boletins com novidades do cotidiano de cada clube, eram intercalados com as variedades artísticas. Geralmente haviam mais atrações musicais, e atores a divulgar espetáculos teatrais.
Mas tudo isso não acontecia no tradicional estúdio da Rua das Palmeiras, no bairro Santa Cecília, centro de São Paulo, e sim, direto de um pocket-teatro localizado a um quarteirão apenas dos estúdios da Rádio.
Esse pequenino teatro localizado na Rua
Apa, travessa da Rua das Palmeiras, e próximo da praça Marechal Deodoro,
chamava-se: "Teatro Pimpão", mas na década de setenta, tiver um outro nome ao denominar-se: "Teatro
de Bolso", e costumava realizar temporadas com artistas da MPB, dita
"maldita". Eu mesmo assistira um show do Jorge Mautner, em 1977, nesse mesmo teatro em uma "sessão
maldita", com o espaço completamente lotado, e aquele perfume de
patchouli, peculiar daquela década, fortemente manifestado no
ar...
De volta a falar sobre o "Balancê", tal programa, por ser apresentado dentro de
um teatro, tinha público ao vivo, como nos moldes dos velhos programas
de auditório, dos tempos de ouro do rádio brasileiro.
O humorista, Tatá e Fausto Silva, nessa foto, do Balancê do rádio, e que migrou direto para o "Perdidos na Noite", na TV
A diferença foi que não havia estrutura alguma para tocar-se ao vivo, a não ser pequenas apresentações acústicas, e sem compromisso com a qualidade sonora. Portanto, todo mundo que ali se apresentava, dublava como se estivesse na TV, mas com um público muito próximo, a constatar a constrangedora pantomima dos artistas. Fora tudo isso, o programa revelava-se completamente anárquico, e parecia fazer parte desse script, a completa improvisação da parte de todos.
A diferença foi que não havia estrutura alguma para tocar-se ao vivo, a não ser pequenas apresentações acústicas, e sem compromisso com a qualidade sonora. Portanto, todo mundo que ali se apresentava, dublava como se estivesse na TV, mas com um público muito próximo, a constatar a constrangedora pantomima dos artistas. Fora tudo isso, o programa revelava-se completamente anárquico, e parecia fazer parte desse script, a completa improvisação da parte de todos.
O
público cativo no auditório era sui generis. Era formado em 90% pelos funcionários
do Metrô que trabalhavam nessa época, na construção da Estação Marechal Deodoro,
localizada ali na praça de mesmo nome. Os outros 10%, eram preenchidos
por caçadores de autógrafos, ou por fãs específicos de um ou outro
artista anunciado.
No
dia em que fomos participar, lembro-me que uma das atrações musicais foi o cantor,
Markinhos Moura, que transitava pelo mundo popularesco de então.
Entre uma entrevista
com o jogador de futebol, Biro-Biro do Corinthians, e outra com Serginho Chulapa, do Santos FC, fizemos a
nossa apresentação, a dublar a canção: "Concheta". Os operários costumavam
assistir o programa enquanto alimentavam-se (pois era a sua hora do almoço, e o tempo, era exíguo para que pudessem aproveitar dessa pausa no trabalho), com as suas marmitas a deixar o aroma de comida no
ar, o que tornava tudo, ainda mais surreal.
E o Fausto Silva ainda não era famoso como nos dias atuais, e só quem acompanhava futebol (meu caso), lembrava-se dele como repórter
de campo da Rádio Jovem Pan, na década de setenta. Sendo assim, portava-se de forma
simples e atencioso para com todos.
O sonoplasta era um sujeito completamente
carismático, chamado, ou apelidado, como: "Johnny Black". Uma presença exuberante, era esperto e não
deixava a produção toda improvisada ali, cair. Demos o nosso recado, ao falar da temporada no
teatro Lira Paulistana, e após a dublagem, fomos embora, mas voltaríamos
em outras ocasiões, e posteriormente eu voltaria ainda mais vezes com A
Chave do Sol.
Mais ou menos na terceira semana de março, ou na primeira de abril, o
Língua de Trapo recebeu um convite para criar uma trilha sonora, para um programa
novo, que a TV Cultura de São Paulo pretendia lançar. O Laert compôs um
tema de abertura, e sob uma manhã de sábado, usamos o estúdio do MIS, Museu
da Imagem e do Som, para gravar.
Tratou-se de um tema de abertura com duração de
um minuto e meio, aproximadamente, com uma melodia alegre, inspirada
no estilo das canções da Vila Sésamo. Lembro-me apenas de uma frase que dizia: - "O jogo é
lúdico"...
Eu, Luiz, Naminha, e Lizoel estávamos nessa gravação. Não lembro-me
da participação dos demais, Serginho Gama, Pituco e João Lucas. O
programa não vingou, que eu saiba. Ficou apenas no piloto, pelo menos na
minha percepção, e corrijam-me se eu estiver equivocado.
Veio então a terceira semana da temporada no Teatro Lira Paulistana. Mas antes,
fizemos uma nova aparição no programa, "A Fábrica do Som ", da TV
Cultura. Ocorreu no dia tradicional das gravações do programa, em uma
terça-feira, desta feita no dia 20 de março de 1984.
Apresentamo-nos a tocar três músicas: "Concheta", "Pensamento Positivo e "Crocodilo". Apenas
"Crocodilo" e "Pensamento Positivo" foram ao ar, no sábado subsequente. Lembro-me que usávamos o
ridículo terno verde e amarelo com o qual usávamos como figurino que abria o nosso show, normalmente.
Still do vídeo do Língua de Trapo a executar "Crocodilo", com a minha figura em destaque
Há um
vídeo no YouTube justamente com a performance de "Crocodilo". Eu estou
em destaque nesse vídeo, por conta de quem o postou no YouTube, ser um fã
de outros trabalhos meus, e dessa forma, quis enfatizar essa participação da maneira
que o nomeou.
Foi uma
apresentação energética e quem não conhecia o Língua de Trapo, poderia até
confundir-nos com uma banda de Rock tradicional, e não perceber o caráter
satírico da performance. Já ouvi pessoas a dizer que associava o Língua
de Trapo ao "Sha-na-na", banda satírica norte-americana, mas acho que essa
comparação cabia mais ao "Joelho de Porco". Enfim, foi uma boa
apresentação, certamente a apoiar a divulgação da temporada no Lira
Paulistana.
Acima, o vídeo do Língua de Trapo na "Fábrica do Som", apresentando "Crocodilo"
Eis o link para assistir no YouTube:
http://www.youtube.com/watch?v=ynI0qI_H6PI
Como ocorrência de bastidores, lembro-me que os técnicos da TV Cultura enfrentavam algum problema técnico, e pediram para que esperássemos um pouco para começarmos a tocar.
http://www.youtube.com/watch?v=ynI0qI_H6PI
Como ocorrência de bastidores, lembro-me que os técnicos da TV Cultura enfrentavam algum problema técnico, e pediram para que esperássemos um pouco para começarmos a tocar.
Abaixo, o vídeo de Pensamento Positivo:
https://www.youtube.com/watch?v=3CdYCSyl18Q&feature=youtu.be
Eis acima, o link para assistir no YouTube.
Claro, em um show ao vivo com mais de mil pessoas na plateia, e a adrenalina a todo vapor, foi difícil controlar a expectativa do público. Então, inocentemente, enquanto aguardávamos a autorização dos técnicos da TV para iniciarmos, eu toquei alguns riffs do Led Zeppelin, e o teatro entrou em ebulição. O Laert ficou bravo comigo, e pediu para que eu parasse imediatamente. Claro, foi inconveniente atiçar a plateia dessa forma, e certamente abriria um precedente para que muitas pessoas desviassem o foco do Língua de Trapo, e ficar a pedir que tocássemos Led Zeppelin, ou covers de outras bandas. Parei imediatamente, é claro, e percebi que aquela atitude fora inadequada naquele instante.
Claro, em um show ao vivo com mais de mil pessoas na plateia, e a adrenalina a todo vapor, foi difícil controlar a expectativa do público. Então, inocentemente, enquanto aguardávamos a autorização dos técnicos da TV para iniciarmos, eu toquei alguns riffs do Led Zeppelin, e o teatro entrou em ebulição. O Laert ficou bravo comigo, e pediu para que eu parasse imediatamente. Claro, foi inconveniente atiçar a plateia dessa forma, e certamente abriria um precedente para que muitas pessoas desviassem o foco do Língua de Trapo, e ficar a pedir que tocássemos Led Zeppelin, ou covers de outras bandas. Parei imediatamente, é claro, e percebi que aquela atitude fora inadequada naquele instante.
Falo sobre a terceira semana da temporada no Teatro Lira Paulistana, a seguir.
No dia
seguinte à aparição no Teatro do Sesc Pompeia, onde gravamos nova
participação no programa: "A Fábrica do Som", seguimos com a nossa
temporada no Teatro Lira Paulistana. Na quarta-feira, dia 21 de março de
1984, tocamos para um público formado por cento e vinte pessoas, excelente para esse dia
da semana. Na quinta, dia 22 de março, cento e oitenta pessoas passaram pela
bilheteria. Na sexta-feira, dia 23 de março, duzentas pessoas, e no sábado,
trezentas e cinquenta pessoas.
Ao perceber o fluxo crescente, o Jerome Vonk, nosso empresário, negociou com a
direção do teatro Lira Paulistana para fazermos duas sessões aos domingos, para potencializar
a temporada. Dessa forma, faríamos o primeiro show às 18:00 horas e a sessão
regular das 21:00 horas. Logo no dia 25, na sessão das 18:00 horas, tivemos cento e vinte
pagantes e na segunda sessão, das 21:00 horas, trezentas pessoas nos assistiram.
Uma dessas sessões de domingo foi filmada por uma equipe da também extinta, TV Abril
Cultural. A TV Abril (ligada ao grupo Abril Cultural, da família Civita), pleiteava conseguir uma concessão do governo,
para abrir o seu canal próprio, mas enquanto isso não acontecia,
estabeleceu uma parceria com a TV Gazeta de São Paulo, e passou a ocupar
um espaço com quatro horas diárias na sua grade, desde o final de 1983. E sendo
assim, oportunidades surgiram para o Língua de Trapo, uma banda oriunda
de uma faculdade de jornalismo, e com simpatizantes a atuar dentro da mídia. No caso
dessa equipe de filmagem, o objetivo foi realizar um especial, a intercalar cenas
de shows, com entrevistas.
Lembro-me dessa equipe filmar mais de um show, e
realizar diversas entrevistas no camarim do Teatro Lira Paulistana.
E
mais ou menos nessa época, entre março e abril de 1984, esse especial do
Língua de Trapo foi exibido através da TV Abril/Gazeta.
Ainda a falar de TV Abril,
lembro-me que também nessa época fomos participar de um programa
que utilizava os estúdios da TV Gazeta, na Av. Paulista.
Foi uma espécie
de programa de variedades, a misturar cultura, política, e atualidades
sociais em geral. Era apresentado por um casal de jornalistas já famosos
na época, Silvia Poppovic e Paulo Markun, que nos anos vindouros
ficariam ainda mais famosos na TV.
Nesse dia em específico, a ideia foi
dublar a música: "Romance em Angra", mas a produção insistiu, e nós fomos
preparados para tocar ao vivo, no entanto, sob um formato acústico. Como tratou-se de um bolero, lembro-me que ao invés de tocar baixo, eu fui
convocado a tocar "clave", um exótico instrumento de percussão,
praticamente só usado nesse tipo de música.
Para quem não o conhece, trata-se de dois objetos de madeira
cilíndricos, que são normalmente executados na base do atrito entre um e outro,
a produzir um som com timbre incrivelmente agudo. É bastante fácil o seu
manuseio e para tal finalidade, basta o músico ter uma mínima noção
rítmica, mesmo não sendo um percussionista, de ofício. E o desenho rítmico típico do bolero é bastante fácil para
ser executado, portanto, eu fui confiante para o estúdio da TV Gazeta/Abril
Cultural. Uma particularidade exótica aguardara-nos,
contudo!
Justamente naquela noite, duas personalidades midiáticas
estavam no estúdio, prontas para serem entrevistadas, e ambos, foram convidados a assistir-nos.
O governador de São Paulo na ocasião, Franco Montoro, e o jogador do
Corinthians/Seleção Brasileira, Sócrates. Foi hilário apresentarmo-nos
com ambos a nos olhar, e a estabelecer expressão facial de "paisagem", pois eles sabiam que as
câmeras focalizavam-nos o tempo todo à cata de suas reações faciais e gestuais.
E como
sempre acontecia com o Língua de Trapo, pelo fato de que nem todo mundo detinha
o conhecimento de que o nosso trabalho era satírico, foi óbvio que
causaria estranheza nessas circunstâncias. No caso específico dessa
performance, será que o governador Franco Montoro, e o Dr. Sócrates ligaram-se que aquele bolero cafonérrimo fora uma gozação, ou acharam que nós
éramos representantes da fina flor da cafonália?
E nessa mesma época, uma produtora de vídeos, ainda não conhecida,
propôs-se a realizar um vídeoclip do Língua de Trapo.
Chamava-se, "H2O" essa
produtora, e era administrada por jovens, que fariam muito sucesso a seguir no
mercado publicitário, e na produção audiovisual em geral. Hoje em dia, a
H2O é uma potência no Brasil, com repercussão em muitos direcionamentos
internacionais, e um desses jovens em questão, é hoje um diretor de
cinema com acesso ao "cinemão blockbuster", um rapaz chamado: Fernando
Meirelles.
Hoje consagrado como diretor de cinema internacional, Fernando Meirelles deu-nos uma super ajuda em 1984, e sou-lhe grato por isso!
Mas entre março e abril de 1984, e longe desse prestígio que desfruta hoje em dia, tanto Meirelles quanto o seu sócio, cujo nome era, Fernando Rozzo, eram apenas jovens desconhecidos, a dar os seus primeiros passos na produção audiovisual. Claro que aceitamos, e em uma tarde de um dia de semana entre março e abril de 1984, participamos da filmagem desse clip, tendo como locação, a Praça da Sé, no centro velho de São Paulo.
Mas entre março e abril de 1984, e longe desse prestígio que desfruta hoje em dia, tanto Meirelles quanto o seu sócio, cujo nome era, Fernando Rozzo, eram apenas jovens desconhecidos, a dar os seus primeiros passos na produção audiovisual. Claro que aceitamos, e em uma tarde de um dia de semana entre março e abril de 1984, participamos da filmagem desse clip, tendo como locação, a Praça da Sé, no centro velho de São Paulo.
A
ideia do clip foi a mais simples possível. Ao fazer uso da locação natural da
praça, e com a banda a interagir sob improviso com populares, onde praticamente somente o vocalista, Pituco Freitas, teria uma atuação mais interpretativa, por
cantar a música.
A canção escolhida, aliás, foi: "Régui Espiritual",
uma brincadeira com os falsos Gurus, inspirada no "Tim Tones",
personagem criado pelo Chico Anysio. Então, várias cenas foram gravadas
com o Pituco a cantar nas escadarias da Estação Sé do Metrô, ou por
eventuais recantos da praça.
Existe uma cena, inclusive, onde ele canta perto de um
chafariz e crianças abandonadas, moradoras de rua, jogam-se no tanque
d'água, como se fosse uma piscina particular. A banda aparece em
vários momentos, a interagir com o personagem central, vivido pelo
Pituco.
É possível ver todos os membros, incluso o ator, Paulo Elias,
a jogar bolhas de sabão em cima do "Guru", como sugere a letra da música,
em dado instante. E também fizemos uma coreografia mezzo robótica, no
absurdo coral da música, que diz de forma nonsense: -"esse coral, não era
pra ter... a gente pôs porque ficou legal"...
Tudo foi feito de uma
forma super despojada, na base de "uma ideia na cabeça e uma câmera na
mão", sem roteiro e sem recursos.
E claro, populares agregaram-se paulatinamente e ao final, houve uma multidão a participar, mesmo sem entender nada. Há uma cena, ao final da música, onde veem-se muitos populares a pular
euforicamente conosco, sob uma alegria natural, e estrategicamente fora de
propósito.
Esse clip ficou engavetado por anos, mas recentemente, em
2012, veio à tona, sendo postado no YouTube, para resgatar uma parte
obscurecida da história da banda, e a reforçar o meu vídeofólio pessoal,
tão carente sobre material de minhas duas passagens pelo Língua de Trapo.
Assista acima o vídeoclip oficial de "Régui Espiritual", produzido em 1984.
Abaixo o link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=FZixFi7Y-74
E para encerrar, um fato exótico aconteceu na barraca de um camelô, que gentilmente deixou-nos usá-la como camarim improvisado de um set de filmagens. Dois garotos que seguiam-nos, quase roubaram a carteira do tecladista, João Lucas, quando foram surpreendidos pelo guitarrista, Sergio Gama em sua tentativa.
https://www.youtube.com/watch?v=FZixFi7Y-74
E para encerrar, um fato exótico aconteceu na barraca de um camelô, que gentilmente deixou-nos usá-la como camarim improvisado de um set de filmagens. Dois garotos que seguiam-nos, quase roubaram a carteira do tecladista, João Lucas, quando foram surpreendidos pelo guitarrista, Sergio Gama em sua tentativa.
Assim
que o clip foi postado no You Tube, nesse ano de 2012, um fórum de
opiniões foi alimentado por diversos ex-membros do Língua, incluso eu,
no Facebook, e esse episódio foi lembrado pelo próprio, João Lucas.
Frame do vídeoclip da música: "Régui Espiritual", filmado na Praça da Sé, de São Paulo, em 1984
Chegamos à conclusão de que, o que fora assustador com a criminalidade infantil que desde o final dos anos setenta preocupava a população, com os ditos "trombadinhas" a agir nas cidades brasileiras, nos dias atuais (2016), piorara muito. Alguém disse nessa discussão virtual: -"naquela época o pivete tentou furtar a carteira e ao ser surpreendido, disfarçou e saiu de cena. Hoje, ele provavelmente mataria, para depois pegar a carteira, e sairia a rir da cena do crime"... que decepcionante verificar que a sociedade retrocede à barbárie, trinta anos depois, ao invés de melhorar...
Chegamos à conclusão de que, o que fora assustador com a criminalidade infantil que desde o final dos anos setenta preocupava a população, com os ditos "trombadinhas" a agir nas cidades brasileiras, nos dias atuais (2016), piorara muito. Alguém disse nessa discussão virtual: -"naquela época o pivete tentou furtar a carteira e ao ser surpreendido, disfarçou e saiu de cena. Hoje, ele provavelmente mataria, para depois pegar a carteira, e sairia a rir da cena do crime"... que decepcionante verificar que a sociedade retrocede à barbárie, trinta anos depois, ao invés de melhorar...
Continua...
Nenhum comentário:
Postar um comentário