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terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Língua de Trapo - Capítulo 1 - E a Vida Continuou...nos Corredores da Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero - Por Luiz Domingues


O Língua de Trapo começou assim em minha trajetória:

No início de 1979, eu e o Laert fomos os últimos remanescentes do "Boca do Céu", a nossa primeira banda, que tinha mudado de nome em 1978, para "Bourréebach", pretensiosamente progressivo e não condizente com nossos parcos recursos musicais. 

A última tentativa para essa chama viva, ocorrera em março de 1979, com uma formação que chegou a ensaiar com a minha presença no baixo, Laert a tocar teclados e cantar, Zé Claudio na bateria (nos anos 1980, ele foi baterista do "Violeta de Outono"), e um guitarrista chamado, Paulo Estevam, que o Laert conhecera na Faculdade Cásper Líbero, onde acabara de ingressar, e passara a cursar o 1°semestre de jornalismo. 



Com essa formação, houve a perspectiva em realizar um show em um festival estudantil (Colégio Claretiano no bairro Santa Cecília em São Paulo). Mas esse show culminou em não confirmar-se e como não houve mais intenção para prosseguir-se com esse trabalho, findou-se aí, a história do Boca do Céu/Bouréebach, iniciada em 1976, e curiosamente com a minha pessoa a ter sido o único remanescente original, já que o Laert entrara meses depois da fundação dessa banda.



Como o Laert já estava na faculdade e a enturmar-se com vários músicos que lá estudavam igualmente, logo se formou um grupo de música e poesia, para um recital a ser realizado no meio do ano. Ao não encontrarem nenhum baixista entre os alunos, ele sugeriu a minha inclusão, mesmo eu não sendo estudante da Cásper Líbero (eu era secundarista ainda, estava no 3° colegial em 1979). 

Dessa maneira, fui aceito, mas no início, houve um choque estético entre eles e eu. Pela primeira vez, eu tive contato com pessoas que não tinham formação Rocker e o estranhamento de parte a parte foi inevitável. Apesar desse início de estranhamento mútuo, musicalmente, adaptei-me rápido ao repertório com forte teor calcado na MPB e com acento a pender para a Bossa Nova. O ruim nesse início foram eram as ideias antagônicas e o preconceito inicial da parte deles.
Com forte caráter politizado, as conversas giravam em torno de Marx, Engels, Trotsky, Che Guevara, e eu pensava em The Beatles, Led Zeppelin, Timothy Leary...
Houve uma certa pressão até para que eu tocasse contrabaixo acústico, pois o elétrico seria em sua visão, "americanizado" e os incomodava, ainda a lembrar talvez o embalo da polarização dicotômica da política de direita/esquerda dentro do espectro da MPB, ao estilo dos clássicos festivais da TV Record nos anos sessenta. Senti-me, de certa maneira, no meio da ridícula "Marcha" contra a guitarra elétrica na MPB, nos anos sessenta...
Mas essa estranheza, foi logo superada, por que eu enturmei-me rápido e muito bem com eles a estabelecer amizade, e mesmo com a anuência da parte deles com minha formação Rocker, fui bem aceito nesse processo de adaptação. Mesmo por que eram jovens empolgados pela questão sociopolítica, e como o Brasil vivia aquele clima pesado em torno da ditadura, foi óbvio também que essa euforia pelos ideais esquerdistas de igualdade social, fossem o pano de fundo de toda a movimentação dentro de uma faculdade de jornalismo. 
Lembro-me que esse clima de "caminhando e andando e seguindo a canção", era ainda muito forte nos corredores da Cásper Líbero, como se estivéssemos em 1968, e não 1979, como foi o que ocorria de fato. Mas ao mesmo tempo, foram tempos de “anistia, ampla geral e irrestrita”, portanto, fazia sentido um certo clima sessentista nesse aspecto da política brasileira, ali dentro. 

E claro, no grupo, esses jovens podiam estar nessa vibração esquerdista mais sedenta pela justiça social, mas só havia gente inteligente e culta, ali, portanto, rapidamente perceberam que eu era Rocker; hippie, mas não alienado, como pensaram inicialmente.
Continua...

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