Reta final desta parte da minha historia na música!
Como de costume, deixo a ressalva de que a qualquer momento o capítulo pode reabrir, caso hajam adendos para acréscimos, correções, material de áudio/vídeo inédito para acrescentar, fotos e/ou peças de portfólio nas mesmas condições etc.
E
também como de praxe, encerro a comentar sobre os personagens dessa história, e
sobretudo, a expressar sobre a minha gratidão para com essas pessoas, e pela
oportunidade de ter sido membro dessa banda.
Bem, o embrião primordial do Língua de Trapo, foi o Boca do Céu, a minha primeira banda, e do Laert Sarrumor. Portanto, se analisado pelo meu prisma pessoal, foi o início da história do Língua de Trapo, mediante o fim da história do Boca do Céu, portanto, está devidamente narrada tal continuidade lógica da minha história na música, através dos dois capítulos respectivos.
Sob o ponto de vista do Língua de Trapo, foi
fundamental a entrada do Laert na Faculdade de Jornalismo Cásper
Líbero, em 1979, quando através dessa instituição de ensino, ele conheceu colegas que foram essenciais para
a formação da banda.
Se por um lado, o nosso iniciante grupo de Rock, "Boca do Céu" foi uma raiz primordial, não podemos de deixar de considerar que o talento do Laert só pôde explodir para valer, quando encontrou-se com outros artistas emergentes e igualmente talentosos, como Guca Domenico, Carlos Mello (Castelo) e Pituco Freitas, sob um primeiro instante.
A
veia humorística dos três, que citei no início (excetuo o Pituco Freitas sob uma
primeira análise, pois logo no começo, a sua porção humorística não fora
explícita, visto que ele direcionara a sua carreira para tornar-se um
cantor "sério", e somente depois aflorou o cantor performático que ele viria a tornar-se).
O começo, como um despretensioso grupo musical e poético, a visar realizar um sarau para a recepção de calouros na Faculdade Cásper Líbero, foi o primeiro êxito musical de minha carreira (descontadas as apresentações do Boca do Céu no Festival do meu colégio, em 1977, que foram boas, para o nível que tínhamos).
Eu e Laert vínhamos de
uma labuta forte com a nossa primeira banda, o Boca do Céu, mas
tivéramos poucas ações concretas e positivas para comemorar com esse trabalho inicial de nossa carreira. Por
isso, quando ouvimos aquela saraivada de aplausos após o término do
sarau, cumprimentamo-nos com bastante euforia, pois ele e eu, sabíamos
que fora o nosso primeiro sucesso efetivo, enfim, após quase três anos, na soma com os esforços empreendidos com o Boca do Céu.
E
dali em diante, a veia humorística moldou aquele grupo, que passou a ser
chamado como: "Laert Sarrumor e os Cúmplices".
Guca e Carlos Melo (Castelo), eram (são), extremamente criativos, e alimentavam a banda com composições e ideias sensacionais para as piadas. Tudo amalgamado pela política, é claro. Vivia-se ainda os ecos da ditadura, e pelos corredores da faculdade, os debates eram acalorados.
Eu fui levado e "encaixado" na banda pelo
Laert, mesmo sendo ainda um estudante secundarista, e sobretudo por ser
um Rocker contumaz, o que em alguns aspectos, poderia ser considerado
um empecilho em um primeiro instante, dada a orientação bem diferente desse grupo, mas finquei raízes, e permaneci.
O começo, com shows ultra improvisados em salas de aulas, sob condições inóspitas de áudio, fazem-me ter orgulho de nossa tenacidade. A entrada de Lizoel Costa, depois Serginho Gama e Fernando Marconi, encorparam a banda de uma forma incrível. O pianista, Celso Mojola, também contribuiu bastante, com a sua sofisticação erudita/jazzística. Outra presença incrível, deu-se com Ayrton Mugnaini Jr., um gênio, sem dúvida.
Depois, a fase dos festivais de MPB pelo interior, e no circuito universitário, onde o crescimento foi muito animador, ao fazer com que a banda obtivesse um crescimento vertiginoso.
A minha primeira saída, em janeiro de 1981, por motivação financeira, foi triste, mas eu não tive alternativa, infelizmente. Tivesse
eu, uma estrutura mínima que garantisse-me financeiramente por alguns meses, teria sido a conta
certa para eu permanecer e acompanhar o Língua de Trapo no salto quântico, que já em 1982, a banda obteve, e assim mudado da água para o vinho, ao profissionalizar-se, em todos os
sentidos.
No entanto, não adianta lastimar pelas oportunidades desperdiçadas. Não foi assim que aconteceu, e tudo ocorreu conforme precisava ter acontecido, simples assim...
A minha volta em 1983, foi dramática, no sentido
de que voltei sem a chance exatamente para redimir-me de minha saída de 1981. Ou
seja, voltei com a data da nova saída já programada como um fato, somente ao faltar defini-la.
Foi maravilhoso ter tido a segunda chance de ser membro da formação dessa banda, ao voltar a ter convívio com velhos amigos e a estabelecer novas amizades, e também por haver tomado um autêntico banho de profissionalismo, pois quando eu voltei, de certa forma, eu ainda era o aspirante a artista de 1981, em muitos aspectos, mas os colegas haviam dado um salto enorme à minha frente.
Portanto, tirante o prazer inerente, eu tive uma escola (mais uma, visto que o grupo cover, Terra no Asfalto, teve esse papel pelo aspecto mais musical), que serviu-me, e muito, para a continuidade da minha carreira.
Nessa segunda fase, eu acumulei muitas histórias, que contei com prazer na narrativa, mas claro, omiti várias outras, por considerar que seriam inadequadas por expor pessoas publicamente, e a minha autobiografia é leve em essência. Não tenho nenhuma intenção de escrever uma autobiografia clichê a posar como um "Rock Star", por falar sobre excessos, mesmo por que (e quem conhece-me pessoalmente, sabe bem disso), eu não sou assim.
A
minha segunda saída da banda, em julho de 1984, foi bastante sofrida para
o meu aspecto emocional, mas acredito que essa cicatriz não exista mais, ainda bem.
Em suma, tenho um tremendo orgulho de ter sido um membro fundador do Língua de Trapo, ter participado de duas formações da banda, e possuir um registro fonográfico, peças de portfólio, fotos e alguns vídeos disponibilizados no YouTube. Cabe dizer que esse material que possuo, é ínfimo, pois na prática, eu deveria ter muito mais registros em mãos. Espero resgatar esse material e assim que conseguir obtê-lo, ainda que em doses homeopáticas, disponibilizo por aqui, de pronto.
Vida longa ao Língua de Trapo! Orgulho por fazer parte dessa saga!
Laerte Vicente
Laerte Vicente era (é) um bom roadie, amigo e munido de um talento para vender discos, fora do comum. Foi raro o dia em que ele não tenha vendido pelo menos uma caixa de LP's no ambiente de um show e naquela época, o padrão de uma caixa saída do estoque de uma gravadora, comportava 175 LP's. Divulgador, filipetador e colocador de cartazes experiente, além de ser roadie do Língua de Trapo, praticamente até hoje em dia (2015), ele tornou-se um divulgador de espetáculos, requisitado no mercado.
Na primeira aparição d'A Chave do Sol, no programa: "A Fábrica do Som", que está disponibilizada no YouTube, ele aparece como espectador da nossa performance, em destaque, pois estava sentado no chão, bem próximo ao palco e a tamborilar sobre ele. Também no YouTube, há um vídeo ao vivo do Língua de Trapo, acho que do ano 2000, em que ele aparece como personagem, a interpretar o "último Hippie do mundo", ou coisa que o valha, ao aproveitar-se o seu visual de Hippie da "velha guarda"...
Ayrton Mugnaini Junior
O Ayrton Mugnaini Junior, foi o músico que substituiu-me de imediato, assim que eu deixei a banda pela primeira vez, em 1981. Ele não efetivou-se na banda, mas sempre gravitou na sua órbita, como colaborador. É multi instrumentista, compositor, cantor, arranjador, jornalista e uma enciclopédia humana ambulante, sobre o quesito música. Quando criaram o Google, certamente inspiraram-se no Ayrton como modelo, pois ele é impossível. É inacreditável que um Ser Humano possa armazenar tanta informação em um cérebro fisiológico. Considero-o um gênio.
Cassiano Roda & Marcelo Moraes
Cassiano Roda e Marcelo Moraes também foram pessoas que ajudaram muito a banda. O Marcelo e seu talento nato para o Stand Up Comedy, a usar a improvisação para acomodar as pessoas nas arquibancadas do Lira Paulistana, foi inacreditável. E Cassiano Roda, como um colaborador com algumas parcerias em composições e ideias para piadas e "gags" para os shows.
Jerome Vonk
Jerome Vonk foi um empresário muito eficiente, mas que colocava-se sob uma posição de igualdade para conosco. Talvez por ser bem jovem, pouca coisa mais velho que o João Lucas que era o membro mais velho entre os componentes da banda.
Gostei muito de trabalhar com ele, e tanto foi assim, que por pelo menos duas vezes, tentei fazer com que ele se tornasse o empresário d'A Chave do Sol, tempos depois. A nossa banda crescia e justificava tal pretensão de nossa parte, contudo, ficou nítido que ele nunca enxergou tal potencial, pois não aceitou os nossos pedidos, em duas ocasiões. E lembro-me que ele ficou bastante embaraçado em falar-nos isso. Deve ter sido uma situação embaraçosa para ele, pois éramos amigos, e eu tinha muita esperança na banda, mas ele não devia enxergar dessa forma. Depois disso, o encontrei por acaso em um show do Jethro Tull, em São Paulo, no ano de 1988. Conversamos muito rapidamente, apenas, nessa ocasião em que esperávamos pela flauta de Ian Anderson entrar em ação.
Muitos anos se passaram, e em 1994, eu recebi um telefonema dele. Estava em outra empreitada musical, desta feita, a presidir o escritório de uma gravadora holandesa em São Paulo. Ele estava a montar o escritório da "Roadrunner", um selo especializado em Heavy-Metal e derivados, e queria um funcionário de confiança para assumir a posição de diretor artístico, para cuidar das contratações, e supervisionar as gravações de tais artistas em estúdio. Fiquei muito contente com o convite, mas o meu domínio do idioma inglês era abaixo do sofrível, e essa condição era sine qua non para assumir o cargo. Fora isso, o mundo do Heavy-Metal sempre foi um planeta distante e desinteressante para o meu gosto, por isso, declinei do convite.
Encontrei o Jerome várias vezes naquele escritório durante a década de noventa e uma vez ele brincou comigo, ao dizer-me que eu e ele devíamos ter sido as únicas pessoas naquele ambiente, sem ostentarmos tatuagens e piercings... éramos, pois, Rockers da velha guarda, do tempo em que tatuagem era coisa de presidiário ou marinheiro, enfim.
Estamos conectados no Facebook, também, mas falamo-nos pouco, atualmente.
Cida Ayres
Figura importantíssima durante a segunda passagem que eu tive na banda, Cida Ayres foi uma produtora exemplar. Braço direito do Jerome, e querida por todos nós, era uma mão na roda em todas as circunstâncias. Em meio ao turbilhão gerado por indisposições e melindres em que vivi na minha segunda passagem pela banda, por conta de estar em duas bandas autorais, simultaneamente, e com interesses conflitantes de agenda, para a minha sorte, ela afeiçoou-se à Chave do Sol, também, e deu-nos muita força, inclusive ao facilitar o fechamento de shows.
Em 2010, encontramo-nos através da extinta Rede Social Orkut, e ela gostou de alguns clips do Pedra, a minha banda na ocasião. Chamou-me então para uma conversa, e mostrou-se interessada em ajudar-nos. Uma segunda reunião foi agendada, e dessa vez eu levei comigo a sua xará, Cida Cunha, que estava a voluntariar-se para fazer produção para o Pedra. A conversa foi boa, a Cida Ayres passou inúmeros contatos fortes de Rádio e TV que detinha para a sua xará. Coisas grandes de TV aberta, inclusive. Contudo, nada logrou êxito, pois tratava-se de uma outra época, e nesses tempos de jabá institucionalizado, só o contato e a amizade, não bastavam. Ela deu o seu melhor, mas evidentemente que não teve culpa alguma por nada ter dado certo. Todavia, não teve mal algum, fiquei contente em vê-la bem, a trabalhar em uma produtora de vídeos, e ainda a tentar ajudar-me, tantos anos depois.
Louis Chilson
Louis Chilson foi uma figura sensacional para nós, ao acompanhar bem a trajetória da banda em 1983 e 1984. Produtor e diretor de cinema, foi o responsável pela produção, direção e edição da vinheta do vídeo, em película de Super-8, que fez parte do show.
Tremenda pessoa do bem, é um norte-americano meio brasileiro, por ser filho de mãe brasileira e portanto, falar português sem sotaque. Muito culto, cinéfilo e formado em cinema pela UCLA, tornou-se um ótimo amigo naqueles meses em que estive na banda, pela segunda vez. O seu conhecimento de cinema é enciclopédico, e tivemos muitas conversas sobre tal assunto, além das séries clássicas de TV, também uma paixão mútua. Depois dessa fase boa em que convivemos quase diariamente, reencontramo-nos no Facebook, em 2012 e conversamos com boa regularidade desde então.
Paulo Estevam Andrade/Saulo/Nilma Martins/Dico
Ao falar sobre quatro figuras da primeiríssima formação do "Grupo de Poesia e Arte da Faculdade Cásper Líbero", Paulo Estevam Andrade (também conhecido como "Paulo Sustenido"), Saulo, Nilma Martins e Dico, não tenho muito o que dizer, na verdade, pois foram pessoas que saíram da vida do Língua de Trapo, com muita rapidez.
Celso Mojola
Celso Mojola é um tecladista com sólida formação erudita, mas que gostava muito de Jazz, também. Estudante de música na USP, tinha ouvido absoluto, ou seja, percebia desafinações de instrumentos com uma precisão maior que a de afinadores eletrônicos. Participou da primeira fase da banda com bastante desenvoltura, inclusive ao gravar a primeira Demo-Tape do Língua de Trapo, em 1980.
Fernando Marconi
Fernando Marconi entrou na banda, ainda em 1979, e como era um músico com muito talento e sobretudo por ser muito estudioso, tinha pretensões a tornar-se um músico de alto nível, e portanto interessado em orbitar no mundo da música instrumental, Jazz-Fusion e similares. O que talvez nem ele suspeitasse, fora que detinha também uma veia humorística, e ele foi mais um trunfo para o Língua de Trapo. O Fernando é muito gentil, e sempre foi cordial comigo.
O Fernando saiu abruptamente da banda, pouco tempo depois que eu voltara, em 1983. Depois dessa saída repentina dele, nunca mais tive notícias, a não ser quando comecei a navegar na Internet, e então verifiquei que ele construíra uma carreira sólida no mundo da música instrumental. Mas como esse mundo é muito fechado, apesar de ser um grande músico, ele não é famoso, na mesma proporção de seu talento. Estamos conectados no Facebook, mas ele mostrou-se discreto ao meu contato, e eu respeitei essa postura dele, claro.
Falo por fim dos componentes mais regulares entre as minhas duas passagens pela banda, daqui em diante.
Guca Domenico
Guca Domenico era um jovem estudante de jornalismo, mediante muito idealismo, fervor pela política e com um talento nato para a música. Compositor, violonista, cantor e letrista de primeira linha, é autor de muitas músicas de sucesso da banda, fora as ideias para piadas, gags & sketchs, que sempre enriqueceram os shows do Língua de Trapo. Guca sempre foi um rapaz com alto astral no convívio da banda, e a sua presença tornava-se agradável nos shows, ensaios, reuniões etc.
Guca mantém a sua carreira solo com discos e também composições gravadas por outros artistas, além de muitos livros publicados e destacada atuação como professor, igualmente. No início, era um membro oficial e subia ao palco, cantava e tocava o seu violão. Mas chegou em um ponto onde tornou-se um membro honorário, sempre próximo e a alimentar a banda com o seu material de criação, mas a participar dos shows, apenas sazonalmente, como convidado especial. Vejo o Guca muito pouco atualmente. A última vez em que conversamos com calma, foi no camarim do Sesc Pompeia em 2005, no show de comemoração aos vinte e cinco anos da banda (vinte e seis na verdade).
Carlos Melo (Castelo)
Carlos Antonio Melo e Castelo Branco é outro genial compositor que muito contribuiu para o sucesso da banda. De uns tempos para cá, passou a assinar como "Carlos Castelo" ao invés de "Carlos Melo" como eu o conheci, daí eu fazer menção ao "Castelo", para deixar claro que é a mesma pessoa.
Carlos Melo (Castelo) prosseguiu firme no jornalismo, tendo trabalhado muitos anos no jornal, "O Estado de São Paulo", onde eu pude ler muitas matérias de sua autoria. Tremendo colega, sempre foi muito camarada comigo. Carlos foi o único membro que citou-me no documentário sobre a história do Língua de Trapo... (não estou a reclamar de ninguém, não melindrem-se os demais membros do Língua de Trapo, mas é apenas uma constatação). Também não falo com ele desde 2005, por ocasião em que também conversei com o Guca, nos bastidores de um show do Língua de Trapo.
Paulo Elias Zaidan
O Paulo Elias Zaidan foi um colega da faculdade, que acompanhou todo o começo da banda, mas não atuara em demasia nos primeiros momentos. Quando eu voltei à banda, ele estava super bem como ator no grupo, com a sua participação sendo vital para o desenvolvimento do show. Um dos amigos mais alto astral que eu conheci na música, foi um aglutinador por natureza. Onde ele estava, não havia lugar para o mau humor, pois sempre descontraia-nos com as suas brincadeiras.
Luiz Domingues e Paulo Elias na escadaria de acesso à saída de emergência do Teatro Lira Paulistana em 31 de julho de 1984. Click e acervo de Julio Revoredo
Nunca esqueço-me, certa vez estávamos em cartaz no Teatro Lira Paulistana, em meio a uma longa temporada. Estávamos no período da tarde e ainda faltava bastante tempo para realizarmos o soundcheck, portanto sem função a cumprir naquele momento, quando ele disse-me que faria uma performance inusitada na rua, por pura diversão. Foi o lado ator e lúdico dele que sempre aflorava.
Serginho Gama
Sergio Gama e Silva, o popular, "Serginho Gama", entrou para a banda praticamente quando eu saí pela primeira vez, em 1981. Ele é hoje em dia, o segundo membro mais antigo da banda, só a perder para o Laert, nessa longevidade. É igual a parceria do Ian Anderson, com o Martin Barre, no Jethro Tull, ou seja, um verdadeiro fiel escudeiro do Laert.
Além do Língua de Trapo, na atualidade, o Serginho mantém trabalhos paralelos, incluso um duo espetacular de violões com o baixista atual da banda, Cacá Lima, onde ambos fazem releituras sensacionais para clássicos do Rock 1960 & 1970, de forma instrumental, muito criativa e técnica.
Nahame "Naminha" Casseb
O Nahame Casseb, popular "Naminha", é um tremendo baterista, técnico e muito preciso. Sempre que ele detectava erro de andamento, ficava muito bravo no palco, pois não conformava-se com os demais músicos da banda, por não possuírem essa percepção tão precisa quanto a dele. Mas fora esse perfeccionismo compreensível, é, um tremendo amigo do bem, super brincalhão, alto astral.
Descendente de árabes, mas com olhos azuis, foi muitas vezes chamado como: "Lawrence da Arábia", uma brincadeira óbvia, e de cunho cinematográfico, aliás, um mote comum à quase todos os membros dessa banda, incluso eu, pois éramos uma banda formada por cinéfilos inveterados, sem dúvida.
Naminha morou muitos anos no Japão, onde acompanhou grandes artistas da MPB, em shows realizados naquele país. Encontramo-nos em 1996, por ocasião do show: "Tributo à Janis Joplin", organizado pelo Laert, e foi a última vez em que tocamos juntos. Falamo-nos pouco atualmente, mas estamos conectados no Facebook. Naminha é experiente side-man de artistas da pesada da MPB, por ter acompanhado vários astros, incluso o grande cantor, Cauby Peixoto, com o qual tocou até os últimos dias de vida desse estupendo artista.
João Lucas
João Lucas é um grande músico, compositor, arranjador e tem também uma veia para o humor, muito boa. Enquanto os demais eram mais escrachados, o João trazia à banda, o elemento do humor sarcástico, da verve britânica.
Outra paixão mútua nossa, era (é) a cidade de São Paulo. A contrariar a média normal das pessoas que adoram odiar São Paulo, eu e João Lucas somos apaixonados pela Pauliceia. Essa paixão da parte dele, expressava-se às vezes de forma muito engraçada.
O João Lucas deve tomar banho de formol. Fiquei anos sem vê-lo, e quando encontramo-nos em 2005, no camarim do Sesc Pompeia, ele pareceu ser o mesmo colega que tocava comigo em 1984! Falei-lhe sobre isso, é claro.
Lizoel Costa
Lizoel Costa era o mais engajado na música, quando o conhecemos no segundo semestre de 1979. Enquanto os demais eram estudantes de jornalismo a envolver-se com a música, ele já colocava-se como músico profissional, que estudava jornalismo. Através dele, eu tive oportunidades para ganhar dinheiro como músico, ao impulsionar-me por diversos trabalhos avulsos que realizei, através de suas indicações. Tais histórias inusitadas que vivemos juntos nesses trabalhos, estão relatadas nos capítulos dos "Trabalhos Avulsos".
O Lizoel era uma figura muito divertida no convívio, e certamente entre todos os membros, o que mais ligava-se em questões estratégicas de construção de carreira. Enquanto os demais divagavam a sonhar com o sucesso, mas sem procurar empreender uma planificação objetiva para chegar nesse patamar, ele enxergava na frente, sempre a pensar na estratégia, na importância de se aproveitar as raras oportunidades, os contatos etc.
Nessa época em que o conheci, décadas antes da Internet tornar-se aberta e popular, ele carregava na bolsa um caderno com centenas de nomes e números de telefones de músicos. Foi um cadastro que organizara, e do qual costumava consultar para indicar instrumentistas e cantores para diversos trabalhos. Sempre procuravam-no a perguntar-lhe: -"Lizoel, preciso de um guitarrista para tocar tal estilo de música". -"Preciso de um saxofonista para tocar Jazz". "Preciso de uma cantora de MPB".
Infelizmente, tivemos uma péssima notícia sobre o Lizoel em 2014. Com muito pesar, anuncio que ele faleceu no dia 7 de maio desse ano, em sua cidade natal, Campo Grande-MS, aos 58 anos de idade, vítima de um aneurisma cerebral.
http://www.radio.usp.br/programa.php?id=20
Abaixo, o Link do portal Uol da Folha de São Paulo, a noticiar sobre o seu falecimento:
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/05/1451596-morre-aos-58-anos-o-musico-lizoel-costa-da-banda-lingua-de-trapo.shtml
Abaixo, o Link da Revista Rolling Stone a noticiar também o falecimento do Lizoel:
http://rollingstone.uol.com.br/noticia/morre-lizoel-costa-da-banda-lingua-de-trapo/
Vá em paz, velho amigo e muito obrigado por tudo, "Bitcho!"
Pituco Freitas
Antonio "Pituco" Freitas, era um rapaz com potencial vocal espetacular quando o conheci em 1979. Mas no início, mostrava-se sério, compenetrado. Assim foi a apresentar-se nos primeiros tempos difíceis da banda, até que um fato inusitado do destino mudou a sua perspectiva artística. Graças ao nervosismo para enfrentar cinco mil pessoas em um festival universitário de MPB, na cidade de Bauru-SP, em 1980, ele se transformou completamente, e dali em diante, explodiu como um frontman de enorme desenvoltura cênica, praticamente a se revelar como um ator performático.
Como pessoa, é um colega excepcional, amigo, prestativo e solidário. Por meio indireto, foi o responsável por eu ter conhecido o baterista, José Luiz Dinola (por conta de seu irmão, o guitarrista Pitico Freitas), com o qual fundei e atuei com A Chave do Sol. Pituco vive no Japão há muitos anos, onde sedimentou uma carreira como cantor, violonista e compositor, de volta às suas raízes como um intérprete "sério", a deixar o humor de lado, mas a encantar os nipônicos com a sua Bossa Nova muito bem tocada e cantada.
Laert Sarrumor
Laert "Sarrumor", claro, sempre foi o centro irradiador, o grande dínamo de energia criativa da banda, e assim, tem sido até hoje, e sempre o será. Agradeço-o por ter levado-me ao "Grupo de Poesia e Arte da Faculdade Cásper Líbero", quando inseriu-me em um novo núcleo, de onde eu supostamente não fazia parte, inicialmente. De certa forma, graças a esse gesto de amizade, garantiu que a semente do Boca do Céu germinasse, ao dar início a uma nova cria, que só um ano mais tarde, tornar-se-ia assim o Língua de Trapo.
Como eu já disse, fomos a nos encontrar posteriormente nesses anos todos, após a minha saída do Língua de Trapo, em 1984, sob muitas circunstâncias. Ao divulgar trabalhos meus com outras bandas em que fui componente, no seu programa de Rádio (Rádio Matraca - USP FM) e também com encontros fortuitos em lugares inusitados (encontros de rua, como até em uma papelaria, certa vez), bastidores de shows e pelo fato dele ter afeiçoado-se ao trabalho do Pedra e ter assistido muitos shows dessa banda, da qual eu fui componente em duas fases, de 2004 a 2011 e 2012 a 2015.
Bem, é isso!
Falei sobre todos os músicos presentes nas duas passagens em que estive na banda, os membros honorários que muito contribuíram para o sucesso dela, e de todos os que estiveram mais diretamente ligados à sua produção. Agradeço a cada um pela oportunidade em ter feito parte dessa história.
A banda está em atividade até os dias atuais (no ano de 2016, quando encerrei o texto bruto da autobiografia, o Língua de Trapo estava prestes a participar da premiação do Grammy Latino, nomeado em várias categorias pelo seu último e ótimo álbum, lançado nesse ano, denominado: "O Último CD da Terra"). Espero que assim prossiga por muitos anos, a arrancar as gargalhadas sinceras do público, e também ao fazê-lo pensar, pois o humor proposto por essa banda não é o popularesco, mas sim o do poder reflexivo. Quando o Língua de Trapo provoca risadas nas pessoas, elas riem de si mesmas, refletidas no espelho, ao ver que a sociedade e o poder político e econômico, são meramente reflexos da nossa própria mentalidade. Riem, mas pensam a seguir. Eis o meu muito obrigado à todos que estiveram comigo nessas duas etapas de minha carreira.
Meu muito obrigado ao Laert "Sarrumor" Julio Pedro Jesus Falci, um artista genial que eu conheci em um dia de agosto, em 1976, e que graças ao seu talento e perseverança, deu-me a sua mão, e puxou-me de um sonho impossível para a realidade da música e da arte.
Vida longa ao Língua de Trapo!
Daqui, a minha autobiografia na música segue com os capítulos dos meus "Trabalhos Avulsos". São muitas histórias vividas fora das bandas autorais por onde atuei.
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