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sábado, 7 de fevereiro de 2015

Língua de Trapo - Capítulo 8 - A Volta ao Língua de Trapo, em 1983 - Por Luiz Domingues


Inicio aqui a narrativa sobre a minha segunda passagem pelo Língua de Trapo. 


Em setembro de 1983, eu estava feliz da vida com as perspectivas boas na carreira d'A Chave do Sol, mas financeiramente quebrado. Se por um lado a banda alavancava-se graças às aparições no programa: "A Fábrica do Som” (da TV Cultura de São Paulo e retransmitido em outros estados pelas suas respectivas TV's Educativas), isso ainda não estava a repercutir em termos de quantidade de shows e bons cachets decorrentes disso.

Como eu não fazia mais trabalhos paralelos com outros artistas, e também não ministrava aulas, precisava ganhar dinheiro. E foi em um show d'A Chave do Sol, realizado em um bar localizado em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, que eu tive uma surpresa muito agradável que proporcionar-me-ia uma grande oportunidade para sair desse sufoco, mas ao mesmo tempo, a colocar-me sob uma situação difícil. 

Eu chegava ao bar, quando vi uma multidão de pessoas. O fato é que havíamos apresentado-nos pela segunda vez no programa, "A Fábrica do Som", que detinha uma maciça audiência e lá divulgamos tal data a ser cumprida nesse bar, alguns dias depois.


Eu senti um forte pressentimento, já a partir da espinha quando ainda no carro do Rubens, avistei ao virarmos a esquina da Rua Maria Carolina, essa multidão aglomerada na porta da casa noturna. Falo sobre esse show no capítulo sobre A Chave do Sol, na sua devida cronologia. Mas vi também um pouco afastados dessas pessoas, dois velhos amigos, que esperavam-me: Laert Sarrumor e Pituco Freitas.


Pituco Freitas, em foto bem mais atual no Japão, onde vive e segue com a sua carreira artística 

    

Não suspeitei de nenhuma intenção a não ser a de cumprimentar-me, mas eles abordaram-me e foram direto ao assunto: o baixista, Luiz Lucas, havia deixado a banda após desentendimentos com os demais e a vaga estava aberta de novo. Foi um convite formal da parte de ambos para eu reassumir a minha vaga que deixara, curiosamente em 1981, para o próprio, Luiz Lucas assumir o meu lugar.

Foto promocional do Língua de Trapo, um pouco antes da saída do baixista, Luiz Lucas, ao dar a oportunidade para eu voltar à banda, no final de 1983. O Luiz Lucas é o primeiro da direita para a esquerda, a usar óculos.

       

Fiquei honrado com a lembrança deles e muito contente com a perspectiva, pois o Língua de Trapo mostrava-se naquele instante, uma banda estruturada profissionalmente, com possibilidade para oferecer-me uma renda segura e muito boa, fora a projeção na mídia. No entanto, fiquei também dividido, pois A Chave do Sol, embora estivesse kms abaixo desse patamar...


A minha reação na hora, foi de estupefação. Ao mesmo tempo, fui acometido por uma miríade de sensações contraditórias. Estava honrado e feliz por resgatar uma história mal interrompida do passado (a minha saída em 1981); feliz por estar a ser convidado a entrar em uma banda de sucesso; projeção; e com perspectiva concreta para ganhar muito dinheiro, mas preocupado em não deixar A Chave do Sol, primeiro por que eu fui um dos seus cofundadores, segundo, por que ela estava a dar sinais de expansão, e terceiro, pelo fato de ter enfrentado o duro período inicial com os companheiros, e não querer deixá-los à mercê de uma situação embaraçosa de retrocesso nesse instante em que deslumbrávamos a ascensão tão sonhada.


Comuniquei aos companheiros d'A Chave do Sol, logo após o show. Ficaram chocados, é claro, e não gostaram, certamente. Mas tiveram que resignar-se, pois eu não tive uma outra alternativa, visto que precisava ganhar dinheiro. 


Dei a resposta ao Laert já no dia seguinte, pois eles não podiam esperar. Já detinham outras opções em uma lista de baixistas. A banda tocava muito. Mantinha uma agenda igual à de duplas sertanejas de sucesso, de hoje em dia.

Tempo para assimilar? Nenhum... coloquei-me sob uma fogueira para poder escapar de um abismo...
Tentador? Poxa... um dia você está a tocar em um barzinho de pouca projeção, e no outro, está em turnê de quarta a domingo, com teatros lotados, todo dia.

Na rotina onde eu entraria dali em diante, toda segunda-feira, o empresário entregar-me-ia um montante robusto de dinheiro, proveniente do cachê ganho da semana anterior. Todo dia a sua face estaria na TV, jornais, e revistas.

Foi uma oportunidade de ouro, e com um trabalho artístico para orgulhar-se. Além do mais, onde eu fora um membro cofundador também, a voltar para a casa...

Fiz o show com A Chave do Sol, com toda a energia possível, pois esse foi o outro lado da moeda. Eu amava aquela banda, e não queria abrir mão dela, como não abri. 
Foram nove meses permeados por conflitos, mas ao final, eu deixei a segurança financeira e fama do Língua de Trapo, para ficar fixo com A Chave do Sol.

Tive outrossim, vários momentos difíceis, pois as duas bandas melindravam-se com essa divisão, e relatarei esses pontos de conflito nos próximos parágrafos e capítulos.

Já em plena administração de uma inevitável crise, o primeiro baque para A Chave do Sol, seria ter o seu ritmo de ensaios prejudicado. Aquela rotina com seis ensaios por semana das quinze às vinte e duas horas, seria modificada por um período. Eu precisava ensaiar com o Língua de Trapo, também sob um ritmo forte. A minha sorte, foi que a banda estava a encerrar a turnê do primeiro disco, e assim, os seus membros decidiram que seria desperdício de tempo eu decorar o show antigo, inteiro, para cumprir as últimas datas e ensaiar o show novo que eles estavam a preparar.

Então, eu comecei a ensaiar com o Língua de Trapo todos os dias do começo de outubro, quando eles não tinham shows marcados. A última turnê teria shows marcados em Curitiba (também em Belo Horizonte e alguns em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista), onde se cumpriria duas semanas no Teatro Paiol, na capital paranaense.

Para aproveitar essa brecha, eu comecei a ensaiar. Os ensaios foram realizados na residência do percussionista, Fernando Marconi. Ele (Fernando), Laert, Pituco e Lizoel, eram os únicos remanescentes da minha primeira passagem entre 1979 & 1981. Eu já conhecia o guitarrista, Sergio Gama, desde 1980, e o tecladista, João Lucas, desde 1982. Sobre o baterista, Nahame Casseb, popular "Naminha", também o conheci em 1980, durante a realização das sessões de gravação do LP do cantor de MPB, Leandro, onde eu gravei uma faixa.
O baterista, Naminha, também havia entrado na banda há pouco tempo, ao substituir o baterista, Ademir Urbina, mas já estava adaptado e a tocar na primeira turnê. Essa primeira turnê chamava-se: "Obscenas Brasileiras". As primeiras impressões foram de choque em todos os sentidos!

Tudo havia mudado radicalmente! O Língua de Trapo, agora se transformara em uma banda com empresário, expressão na mídia, agenda lotada, um portfólio já a se mostrar monstruoso, fãs em expansão, assédio, e organização para lidar com toda essa carga de sucesso. 
     Paulo Elias Zaindan, ator e oitavo membro da banda    
 

Além dos sete músicos, havia um oitavo membro, um ator chamado: Paulo Elias Zaidan. Ele fora nosso colega na faculdade, e assumira-se como ator, sendo peça fundamental no show, com diversas intervenções hilárias, que enriqueciam muito as piadas. Isso sem contar nos membros extra-palco tais como: Carlos Melo (Castelo) e Guca Domenico, que continuavam como compositores, e redatores de humor, embora não subissem ao palco mais nessa fase. Além de Cassiano Roda, Ayrton Mugnaini Jr. e Marcelo Moraes. 
Carlos Melo (Castelo), um dos compositores do Língua de Trapo


Continua...

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